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INTRODUÇÃO

Havendo necessidade de se elaborar um Trabalho de Fim de Curso para obtenção do


grau de Licenciatura em Direito pelo Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola,
a temática do Prova Por Inspecção Judicial foi a eleita para tal efeito, pela sua relevância e
impacto dentro do processo civil angolano.

O Direito surge na sociedade como um instrumento de controle, um freio à selvageria.


Os tribunais surgem como o elemento fiscalizador da legalidade que buscar corrigir as
anomalias, condenar os culpados, absolver os inocentes e conferir direitos à quem os merece.
Para que exerça, entre outras, a sua função de agente fiscalizador da legalidade, de forma a
que o povo nele se reveja, este precisa assentar as suas decisões em bases firmes. Por isso
precisa e exige que os factos a ele apresentados sejam devidamente provados. As provas
representam assim, do ponto de vista social, um instrumento de certificação de que as
decisões proferidas pelos tribunais são realmente justas. Mas infelizmente nem sempre as
provas indirectas clarificam os factos. Nesses casos e noutros o tribunal tem de recorrer à
análise directa desses factos, tem de recorrer à inspecção judicial. É com base neste raciocínio
que parte a motivação pessoal e justificativa deste estudo: é necessário que a sociedade
compreenda que os factos alegados devem ser provados e que o tribunal pode, naquelas
situações de incerteza sobre os factos alegados ou insatisfação com as provas apresentadas,
usar alguns instrumentos para se verificar a veracidade desses factos, como é o caso da
inspecção judicial. O estudo do tema em análise neste trabalho é de suma importância
académica, servindo de subsídio à imprescindível compreensão do Direito Probatório e,
especialmente, da Inspecção Judicial delimitada a realidade do ordenamento jurídico
angolano.

Em algumas situações, no âmbito da busca da verdade por meio das provas, o relato
das testemunhas, os documentos apresentados pelas partes ou os laudos dos peritos não
transmitem confiança ou não clarificam na totalidade o facto. Sabendo que o Direito busca
sempre a solução mais justa para todo o litígio, levando em consideração este problema,
levanta-se aqui a seguinte questão: de que forma a inspecção judicial pode ajudar a melhor
formar a convicção do juiz sobre os factos alegados?

O presente trabalho tem como objectivo geral: depreender o alcance e a importância


da inspecção judicial enquanto mecanismo oferecido pelo ordenamento jurídico angolano ao
juiz para o apuramento directo da veracidade dos factos. Forma ainda delineados os seguintes

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objectivos específicos: identificar as principais características do Direito Probatório;
compreender o papel das provas na busca da verdade em sede de processo civil; explorar as
peculiaridades da Inspecção Judicial; descrever a actuação do juiz na inspecção judicial.

Parte-se da hipótese de que a inspecção judicial pode ser um dos meios de prova mais
adequados para formação da convicção do juiz, nas situações em que as provas apresentadas
pelas partes não se mostram suficientes, pois lhe permite ter o contacto directo com os factos
a provar. Levanta-se também hipótese de que o valor probatório das diligências pode ser
reforçado com a deslocação do juiz ou do tribunal ao local e com o contacto directo com o
facto a provar

O presente trabalho é composto por três capítulos: No primeiro capítulo procurou-se


estudar o Direito Probatório de forma mais ampla, abordando os aspetos mais gerais desta
temática como o conceito de prova e suas possíveis classificações, os aspetos gerais do direito
probatório e dos meios de prova. No centro do segundo capítulo está o estudo da Inspecção
Judicial, estudando com maior exaustividade amplitude por explorar a especificidade da
matéria em estudo; No terceiro capítulo são apresentados e analisados os dados recolhidos por
meio de entrevistas e inquéritos.

Foram muitas as dificuldades e obstáculos encontrados durante a elaboração do


presente. Tendo maior realce o difícil acesso às bibliotecas e de aquisição de bibliografia e
dados por causa das limitações impostas pela COVID-19.

Buscando dar resposta ao problema de pesquisa e a quaisquer indagações emergentes


dos objectivos que orientam o presente trabalho, bem como para viabilizar o teste da hipótese
levantada e sobretudo para recolha de dados foram definidas questões metodológicas que
serviram com vetores na coleta desses dados do trabalho através de métodos com base num
conjunto de procedimentos técnicos para a concretização dos objectivos traçados para o
presente trabalho. Assim apresentam-se na tabela abaixo a descrição metodológica desta
pesquisa:

Tipo de estudo Bibliográfico e Documental


Método de investigação Indutivo
Natureza da pesquisa Básica
Método de abordagem Quali-Quantitativa
Objectivo da pesquisa Exploratório
Amostra Representativa: 2 juízes, 4 advogados, 2 docentes e 7 estudantes
Técnica de pesquisa Entrevista, questionários, análise documental e inquérito
Procedimentos técnicos Bibliográfica, entrevista e documental

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Fonte: Elaboração própria.

CAPÍTULO I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


1.1. DEFINIÇÃO DE TERMOS E CONCEITOS

Neste ponto procura-se apresentar a definição de direito probatório, inspecção judicial


e prova para que se possa compreender com maior fluidez os pontos que se seguem.

Direito Probatório: Para Varela, Bezerra e Nora (2004, p.443) denomina-se direito
probatório o “conjunto de normas reguladoras das provas, ou seja, da demostração da
realidade dos factos juridicamente relevante.

Inspecção judicial: pode ser definida como sendo “a observação directa que o juiz da lide
faz sobre factos, pessoas e coisas para formar a sua convicção. É um meio de prova, quando em vez de
se apresentarem ao juiz, deve este fazer a inspecção sobre pessoas que não podem locomover-se ou
sobre coisa intransportável.” (GUIMARÃES, 2016, p. 423)
Pode assim ser entendida como sendo o exame, feito directa e pessoalmente pelo juiz,
em pessoas ou coisas, destinado a esclarecer os factos que interessam à causa.

Prova: A palavra prova tem a sua origem etimológica no latim probatio que pode ser
entendido como prova, argumento ou razão. A este vocábulo estão relacionados outros
também do latim: Probus que significa honesto, correto; O verbo probare implica julgar com
honestidade ou demostrar/testar que algo tem valor;

Assim, prova é “um conjunto de actividades que as partes e o Tribunal realizam para
demonstrar a existência dos factos constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos que
hão de buscar a convicção do Juiz.” (BERNABÉ, 2014, p. 11)

1.2. A FASE DA INSTRUÇÃO


Antes de se fazer qualquer estudo exaustivo, profundo e directo sobre a matéria
referente à prova por inspecção judicial é fundamental que se aborde, mesmo que de forma
breve, a matéria referente à Fase da Instrução do Processo. Porquanto é nesta fase em que,
como veremos abaixo, a maior parte dos meios de prova são recolhidos e apresentados no
processo.

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Sobre esta matéria Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 429) definem a Instrução do
Processo como sendo “o período da acção que se destina à assunção dos meios de prova
relativos aos factos quesitados1.”

A instrução pode assim ser entendida como sendo a fase do processo destinada
especialmente à produção de provas. Sendo o momento do processo em que as partes devem
demonstrar que os factos ocorreram conforme alegaram nas peças processuais.

A fase da instrução do processo começa após a fixação do questionário 2, quando a


secretaria do tribunal notifica as partes para que apresentem o rol de testemunhas, requeiram
quaisquer outras provas ou alterem o requerimento das provas que tenham sido feitos na fase
dos articulados, vide: 512º CPC. E, por via de regra, esta fase termina com a inquirição das
testemunhas, na audiência de discussão e julgamento.

Segundo o entendimento de Varela, Bezerra a fase da instrução do processo não


compreende toda a actividade probatória desenvolvida na acção. Isso porque a prova
documental deve ser oferecida na fase dos articulados, como impõe o nº 1 do art. 523º CPC.
Os autores justificam ainda o seu posicionamento pela possibilidade de a instrução ser
prolongada para além do encerramento da discussão sobre matéria de facto.

Se o tribunal, depois de encerrada a discussão e de ter


recolhido à sala das conferências para reunir, não se
julgar suficientemente esclarecido, poderá não só voltar à
sala de audiências para ouvir as pessoas que entender,
como ordenar todas as diligências (probatórias)
necessárias (art. 653º, 1). (VARELA; BEZERRA;
NORA, 2004, p. 431)
Poderão ainda existir casos em que no processo não haverá a fase da instrução, como
sucede e houver indeferimento liminar (474º) ou se houver julgamento à revelia do réu (484º).

1.3. PROVA
Chega uma fase deste trabalho em que para se dar seguimento se torna imperioso
abordar os aspetos gerais da prova para compreender o que é a prova de um facto.

Como introduz Taborda (2012, p. 12) “pode se dizer que, a história da prova se
confunde com a própria história da humanidade. A necessidade de indicar ou encontrar
culpados de um crime ou de uma desavença acompanha o homem desde os primórdios.” A
1
todo o facto alegado pelas partes que não tenham sido respondidos ou esclarecidos no questionário e, pro
conseguinte, precisam ser provados.
2
O questionário é constituído pelos quesitos sobre os factos articulados que, interessando à decisão da causa,
necessitam de ser provados, quer por serem controvertidos, quer por não ser admitido acordo ou confissão
sobre eles. É um elemento fundamental do processo, porque nele se concentra toda a instrução da causa.
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prova evoluiu com o homem. Desde os tempos mais primitivos em que se recorria à meios
místicos para comprovar a realidade de um facto, como os oráculos, passando pela época da
inquisição, em que se fazia de tudo para ouvir a confissão do arguido, aos tempos de hoje em
que a prova, para a nossa realidade, deve ser legalmente prevista e admitida para produzir
efeitos sobre a decisão.

“A prova é um conjunto de actividades que as partes e o Tribunal realizam para


demonstrar a existência dos factos constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos que
hão de buscar formar a convicção do Juiz.” (BERNABÉ, 2014, p. 11)

Ainda neste ponto Sérgio Cruz e Luiz Guilherme (apud BORGES, 2015, p. 14)
consideram prova “todo meio retórico, regulado pela lei, e dirigido, dentro dos parâmetros
fixados pelo direito e de critérios racionais, a convencer o Estado-juiz da validade das
proposições, objecto de impugnação, feitas no processo.”

Do ponto de vista processual, a prova pode ser definida como sendo “a actividade
tendente a criar no espírito do juiz a convicção (certeza subjectiva) da realidade de um facto.”
(VARELA; BEZERRA; NORA, 2004, p. 436)

O artigo 341º do C.C. define como sendo função das provas “a demostração da
realidade dos factos.” Da análise deste artigo pode se depreender que esta função típica da
prova pode assumir dois sentidos diversos e simultaneamente convergentes: Sentido
subjectivo - a actividade persuasiva da veracidade de certos juízos de facto. Aqui
compreende-se por prova, toda a diligência realizada para que se demostre a realidade de um
facto, para formar a convicção do juiz; Sentido objectivo - os meios através dos quais se
procura demostrar a realidade dos factos. Neste sentido, a prova compreende todos
documentos, respostas dos peritos, coisa danificada, vídeo ou áudio com depoimento e demais
meios que ajudam a demonstrar a realidade de um facto.

A prova busca criar um espírito de convicção ao juiz, por ser a este juiz que se procura
convencer sobre a realidade do facto - judici fit probatio, o juiz é o destinatário da prova -
para que este facto seja considerado provado e a ele possa ser aplicado o respetivo imperativo
legal.

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1.3.1. Enquadramento Jurídico-legal Da Prova
Com respeito à pirâmide normativa3 é fundamental que se faça o enquadramento do
tema ao nosso ordenamento jurídico.

Não existe na CRA uma referência explícita ao Direito Probatório, mas pode se colher
uma declaração implícita à matéria do Direito Probatório fazendo uma interpretação dos arts.
29º nº1 e 174º nº 2. Pode se colher da interpretação destes que a todos é assegurado o acesso à
justiça podendo estes lançar mãos a todo mecanismo para salvaguardar dos seus direitos e
interesses legalmente protegidos. Os tribunais, por sua vez, devem dirimir os conflitos e
assegurar que haja na acção o respeito pelos princípios do acusatório e do contraditório.

A nível ordinário destaca-se a previsão da matéria da prova pelo CC nos arts 341º e
segs. assim como pelo CPC nos arts 513.º e segs. A prova por inspecção judicial é regulada
nos arts. 612.º e segs do CPC e 342.º e 390º e 391º do CC.

1.3.2. Objecto Da Prova


Compreendido o conceito e função da prova é importante que se passe ao estudo do
seus objecto, i.e., dos factos sobre os quais deve recair a prova. Da análise do texto do artigo
513º pode se entender que a prova tem por objecto mediato os factos quesitados

“O objecto da prova são os factos relevantes, sem a distinção de os mesmos serem


essenciais ou instrumentais, para a solução da lide, ou seja, os factos litigiosos e
controvertidos e importantes para o deslinde.” (BERNABÉ; 2014, p. 29)

Bernabé (2014, p. 29) reafirma ainda que objecto de prova é “toda a circunstância,
facto ou alegação referente ao litígio sobre os quais pesa a incerteza e que precisam de ser
demonstrados perante o juiz para o deslinde da causa.”.

A necessidade de se provarem os factos é de suma importância para o processo e para


a formação da convicção do juiz. O juiz não se pode apegar à sinceridade da testemunha, por
exemplo. Isso por que é possível que o testemunho sincero não seja verdadeiro. Imaginemos
que Kiama Ngongo (pastor conhecido por nunca mentir, homem idóneo e bastante confiante)
afirme sinceramente que viu Bantu Nzola a comprar o telemóvel de Caxito Nkuna, mas na
verdade, depois de feitas todas as diligências, constatou-se que esse testemunho não era

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A Pirâmide de kelsen é uma teoria criada por Hans Kelsen, que nos ajuda a entender a hierarquia existente
entre as normas legais. Um sistema em que no topo está a Constituição, e abaixo dela as outras normas
(tratados internacionais, leis orgânicas, leis ordinárias, etc.), sempre respeitando a ordem de poder e
importância.
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verdadeiro. As provas demostram que quem comprou foi Dondo Nzola, irmão gémeo de
Bantu. Kiama não mentiu, mas confundiu Bantu e Dondo pela semelhança física.

A instrução do processo recai sobre os factos e não sobre as regras de Direito. Daí os
brocardos “Iura novit curia” (o tribunal conhece a lei) e “da mihi factum, dabo tibi ius” (dê-
me os factos, e eu te darei o direito), isto é, as partes em uma disputa judicial não precisam
provar a lei que se aplica ao seu caso, basta que elas apresentem e provem os factos que as
levou ao tribunal e o juiz, por seu turno, dar-lhe-á a solução legal corresponde.

1.3.3. Classificação Da Prova


1.3.3.1. Classificação Legal
Do ponto de vista legal é possível classificar as provas em 7 espécies, com a sua
distinção residindo especialmente no meio de prova utilizado para que o juiz apreender a
realidade do facto: A prova por apresentação de coisas móveis ou imóveis: compreende a
coisa que se apresenta (arts. 518º do CPC); A prova por presunções: o a facto que serve de
base para a presunção (arts. 349º e segs. do Código Civil); A prova por confissão: o
depoimento da parte (arts. 352º e segs. do Código Civil e 552º à 567º do CPC); A prova
documental: o documento escrito, a fotografia, o outro que reproduz ou refere o facto (arts.
362º e segs. do CC e 523º à 551º do CPC); A prova pericial: o laudo pericial que aprecia o
facto (arts. 388º e 389º do CC; 568º à 612º do CPC); A prova testemunhal: o depoimento de
terceiro sobre o facto (arts. 392 e segs. do CC; 616º e segs. do CPC); A prova por inspecção
judicial: o da pessoa ou da coisa pelo próprio juiz, para que directamente possa compreender
o facto (arts. 390º e 391º do CC; 612º e segs. do CPC).

1.3.3.2. Classificação Doutrinária


Existe também, ao lado da classificação legal, a classificação doutrinária das provas.
Neste ponto são descritos ou formulados três grupos de classificações, a saber:

a) Se olharmos para o momento da sua produção teremos as provas pré-


constituídas e as provas constituendas: As provas pré-constituídas são as produzidas antes de
existir a necessidade da sua apresentação no processo. Destaca-se aqui a prova documental e
as provas antecipadas (ad perpetuam rei memoriam) por receio da impossibilidade da sua
produção durante a instrução. Têm como principal vantagem a prevenção do litígio, pois
proporcionam às pessoas certeza sobre a realidade de certo facto e sobre a existência de
determinado direito. Por seu turno, as provas constituendas são aquelas que, como se pode
imaginar, são produzidas após o surgimento da necessidade da sua apresentação, da

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demostração da realidade do facto. É o que sucede com o depoimento das testemunhas e com
a inspecção judicial, deslocação do juiz para averiguar in loco a realidade do facto. A sua
vantagem assenta no facto de serem melhor adaptáveis à necessidade concreta da prova a
produzir.
b) Provas imediatas (directas) e provas mediatas (indirectas): São imediatas as
provam através das quais o juiz, juiz ou tribunal colectivo, tem ao seu alcance a percepção
directa do elemento que apresenta o facto quesitados. Temos como exemplo a inspecção
judicial sobre a casa numa acção em que um senhorio alega mal uso da mesma por parte do
inquilino. São directas, na medida em que permitem o contacto imediato. Já as provas
mediatas ou indiciárias são aquelas em que o juiz pode apenas tirar ilações sobre o facto
quesitado, i.e., o juiz pode apenas ter conclusões por inferência ou dedução, partindo de
indícios sobre o facto. Tal como acontece com a prova por presunção. São indirectas na
medida em que o contacto tem de permeio outra pessoa ou coisa.
c) Se olharmos para o elemento ou sujeito utilizado para formar a convicção do
juiz, teremos as provas pessoais e provas reais: A prova pessoal é aquela que se origina do ser
humano, na revelação consciente feita pela pessoa. É o caso, por exemplo, do depoimento da
testemunha, da confissão da parte e do parecer do perito. Por outro lado, as provas reais são
aquelas que têm por objecto uma coisa. Como sucede com os documentos usado para
averiguar a veracidade de um facto ou o local em que o facto ocorreu.

1.4. AMBITO DO DIREITO PROBATÓRIO


É agora relevante que se abram alguns parágrafos para abordar o Direito Probatório,
por ser este o conjunto de normas jurídicas e princípios reguladoras da prova dos factos que
interessam à decisão da causa.

Pode ainda ser definido como sendo “um conjunto de normas jurídicas que
estabelecem a disciplina relativa à prova” (BERNABÉ, 2014, p. 4). O essencial a se colher é
que este é o ramo do Direito que estabelece e define toda a matéria relativa à prova, seja ela
de natureza substantiva ou adjetiva, como veremos nos parágrafos que se seguem.

1.4.1. Natureza Jurídica


Um exercício frequente dentro do mundo jurídico é o de, antes de desenvolver
qualquer tema, identificar a sua natureza jurídica 4. O que nunca é um exercício fácil. O
Direito probatório não foge à essa regra,de tal modo que não existe unanimidade entre os
4
A natureza jurídica busca explicar a essência de um instituto jurídico. Permitindo que sejam identificadas
classificações como: A qual ramo do Direito pertence uma determinada matéria Direito (Civil, Penal) e se a
matéria pertence ao âmbito do Direito Privado ou do Direito Público.
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autores quanto à definição da natureza jurídica do Direito Probatório. Existindo
essencialmente duas alas: A ala dos civilistas, que consideram que o Direito probatório é de
natureza substantiva pertencendo deste modo ao Direito Civil. Predominando a ideia de que
as provas são um instrumento de certeza e segurança do Direito substantivo, sendo por meio
dela que se pode demostrar o prejuízo causado ao lesado; E a ala dos processualistas, que
considera que este é de natureza adjetiva, pertencendo deste modo ao Direito Processual. Esta
ala baseia-se na máxima jurídica judici fit probatio, segundo a qual “o juiz é o destinatário da
prova. O que predomina aqui é a ideia de que as provas visam formar a convicção do juiz.

Da análise destas duas alas ou correntes nota-se que é imprudente tomar um


posicionamento absolutista à favor de uma delas, pois entende-se que tanto os civilistas como
os processualistas têm a sua parcela da razão, pois o Direito Probatório acarreta na sua
essência, simultaneamente, normas de Direito Substantivo e de Direito Adjetivo.

1.5. DIREITO PROBATÓRIO MATERIAL


Pela especificidade do tema em estudo, não se pretende abordar de forma exaustiva a
temática do Direito Probatório Material. Mas por se tratar de uma matéria incontornável para
a compreensão do Direito Probatório e da Prova por Inspecção abordaremos os pontos
relevantes dentro da matéria do Direito Probatório Material.

Para Bernabé (2014. p. 70) “o direito probatório material, são as normas substantivas
que regulam o ônus da prova, a admissibilidade dos meios de prova e a sua força ou valor,
arts 349º-392º e segs do CC.”

1.5.1. Ónus Da Prova


O processo é um jogo de partes em que uma alega determinados factos constitutivos
procurando extrair uma consequência jurídica e a outra parte, por regra, nega tais alegações
apresentando factos extintivos, impeditivos e modificativos, surgindo assim uma litigiosidade
no processo e gerando a dúvida no espírito do juiz. É neste ponto do processo que surge a
necessidade de se fundamentarem essas alegações, isto é, surge o ónus da prova.

Este problema da necessidade de prova está muito pouco consciencializado


pelo cidadão. As pessoas quando pretendem defender os seus direitos
esquecem que não basta ter razão, é necessário demonstrá-la. Não fazendo
tal demonstração a demanda é perdida, pois não há direito sem prova. É
muitas vezes esta falta de consciência que faz com que, com frequência, o
cidadão comum “incitado” pelos media apelide as decisões dos tribunais
como injustas e disfuncionais. Todavia, a causa de “tais decisões” resulta
muitas vezes da apontada falta de demonstração da verdade relatada pela
parte que recorre à justiça e que tem o ónus da prova dessa verdade.
(CARVALHO, 2016, p. 9)
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Is quid probare non potest, nihil habet (quem não pode provar, nada pode ter). Essa
exigência legal não foge ao que é norma nas nossas convivências socais em que não basta
falar, tem que fundamentar: se diz que matou a cobra, tem que mostrar o pau.

Para que determinada pretensão seja atendida é necessário que se prove que a alegação
condiz com a verdade. É o que descreve também Bernabé (2014, p. 73):

A prova constitui o instrumento por meio do qual se forma a convicção do


juiz a respeito da ocorrência dos factos controvertidos no processo e o ónus,
a ferramenta de lógica usada para definir quem é a pessoa responsável por
sustentar uma proposição ou conceito. O ónus, é um encargo atribuído à uma
das partes, de demonstrar a existência ou inexistência dos factos
controvertidos no processo, necessários para a formação da convicção do
juiz.
O ónus da prova é utilizado em direito sobre a pessoa
responsável por sustentar uma afirmação de facto
constitutivo e modificativo de direito, oferecer as provas
necessárias para sustentá-las. É o argumento das
afirmações de facto. A afirmação sem argumentação não
tem valor, é como que falar sem dizer, é um boato.
(BERNABÉ, 2014, p. 74)
Àquele que invocar um direito caberá fazer prova dos factos constitutivos do direito
alegado, vide: 342º nº 1 do CC. Na mesma linha de raciocínio o nº 2, art. 342º define que “a
prova dos factos impeditivos, modificativos e extintivos do direito invocado compete àquele
contra quem a invocação é feita.”

1.5.1.1. Repartição do Ónus da Prova


Em sede do processo procura-se sempre pela verdade material, por isso pode se
afirmar que o ónus da prova, apesar de começar partidário, termina apartidário, pois a verdade
é uma realidade objetiva. O ónus da prova é uma faca de dois gumes: Num gume estarão os
factos constitutivos e no outro estarão os factos extintivos, impeditivos e modificativos. O que
se aplica é o critério legal estabelecido nos artigos 342º do CC e 516º do C.P.C.

O ónus da prova cabe, em regra, à parte que alegou o facto. Sendo uma das maiores
expressões do princípio do dispositivo dentro da instrução do processo. Deste modo, caberá a
cada uma das partes deste jogo procurar convencer o tribunal da realidade dos factos que lhe
favorecem. Enquanto autor buscará, por exemplo, convencer o juiz apresentando provas de
que o réu não pagou a dívida para que a sua pretensão proceda, o réu agirá em contraposição,
procurando convencer o juiz provando que pagou, para que a pretensão do autor não proceda.

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1.5.1.2. Inversão do Ónus da Prova
Por regra, quem alega um facto é quem deve prova-lo. Mas existem situações em que
há um desvio à essa regra, invertendo-se o ónus da prova. Entres as várias inversões merecem
destaque as previstas pelos arts. 343º, 344º e 345º do C.C: Nas ações de simples apreciação ou
declaração negativa: compete ao réu a prova dos factos constitutivos do direito que se arroga;
Nas ações proponíveis dentro do prazo, a contar da data em que o autor teve conhecimento do
facto: cabe ao réu a prova de o prazo ter já decorrido, salvo se outra for a resolução
especialmente consagrada na lei; Nas presunções legais, dispensa ou liberação do ónus da
prova: quem tem a seu favor presunção legal escusa de provar o facto a que ela conduz. A
posse presume-se de boa-fé, cabendo ao “não possuidor” provar o contrário – vide: 1260º CC;

1.5.2. Admissibilidade Dos Meios De Prova


Quando se fala em “admissibilidade dos meios de prova” o que quer tratar é sobre que
elementos a lei admite que possam ser utilizados como instrumentos para persuadir o juiz
sobre a existência de um determinado facto positivo ou negativo.

Sobre a admissibilidade dos meios de prova, os conceituados autores Varela, Bezerra e


Nora (2004, p. 467) esclarecem que “a tendência do nosso ordenamento direito, à medida que
no processo se tem evoluído, em laços sucessivos, do sistema da prova legal para o regime da
prova livre, é no sentido da livre admissibilidade dos meios de prova.”

Esta visão tem as suas bases no facto de que ao ser consagrado o princípio da livre
convicção do juiz, no nosso ordenamento jurídico, como se depreende da análise do nº1 do
artigo 655º do CPC – “o tribunal colectivo aprecia livremente as provas, e responde segundo a
convicção que tenha formado acerca de cada facto quesitado” – o legislador admitiu para que
se forme a convicção do juiz, as partes possam socorrer-se de todos os elementos capazes de
demostrarem a realidade do facto. Mas não podemos entender isso em absoluto.

Como sabemos, em Direito, para toda a regra deve se admitir a existência de, pelo
menos, uma excepção. Neste sentido haverão situações de limitação à regra da livre
admissibilidade dos meios de prova. As limitações que provêm da lei substantiva,
propriamente normas de cunho excecional que estabelecem a observância de formalidade ad
substantiam para certos atos. Isso sucede, por exemplo, o contrato de compra e venda de
imóvel (art. 875º), para o qual a lei só permite a sua celebração se houver escritura pública.

Tudo quanto se mostre capaz de testemunhar a existência de um facto com


interesse para a decisão da causa, pode, em princípio, ser admitido como
meio de prova. Tratando-se de elementos que, como os imóveis, não possam

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ser levados à presença do tribunal, nada impedirá, como regra, se promova a
deslocação do tribunal, até junto deles, mediante inspecção judicial
(art.612º). Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 467

1.5.3. Força probatória dos meios de prova


Como vimos no ponto anterior, a regra do nosso direito processual vigente é o da livre
apreciação e graduação do valor da prova. O que significa que não deve haver, por via de
regra, hierarquia entre as provas. É neste sentido que complementa Carvalho (2016, p. 11):

As provas são apreciadas livremente, sem nenhuma escala de hierarquização,


de acordo com a convicção que geram no espírito do juiz acerca da
existência do facto, sendo que, o que torna provado um facto é a íntima
convicção do juiz, gerada em face do material probatório trazido ao processo
e de acordo com a sua experiência da vida e conhecimento dos homens.
1.6. DIREITO PROBATÓRIO FORMAL
Apresentados os elementos essenciais do Direito Probatório Material é fundamental
que se passe à abordagem da temática do Direito Probatório Formal adentrando com maior
precisão ao nosso tema pesquisado.

Como explicado acima, no ponto distintivo entre o Direito probatório material e


formal, ao Direito probatório formal pertencem as normas de natureza adjetiva que definem
como as provas devem ser requeridas, produzidas e recolhidas dentro do processo.

1.6.1. Princípios Orientadores Do Direito Probatório Formal

1.6.1.1. Princípio Inquisitório5


Etimologicamente inquirir vem do latim inquirire que significa procurar obter
determinada informação, pondo questões, fazendo perguntas. Cujo substantivo é inquisição,
do latim inquisitio significando: procura de informação, interrogatório, investigação.

A aplicação do princípio do inquisitório, elucida Bernabé (2014, p. 92), tem a sua


origem no período negro da história da Humanidade, a que se denomina de sistema
inquisitório clássico, e teve como características marcantes o sigilo processual, a falta de
contraditório (dispositivo6), de ampla defesa e a presunção de inocência.

Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 489) descrevem com nitidez que “o juiz goza do
poder de realizar directamente ou ordenar todas as diligências necessárias ao descobrimento
da verdade. Vigora assim o princípio fundamental correspondente ao sistema inquisitório.”
5
O inquisitório é o sistema processual em que o juiz procede de ofício na procura, investigação e a avaliação
das provas, produzindo um julgamento após uma instrução inscrita e secreta no qual são excluidos ou limitados
o contraditório e os direitos de defesa.
6
O princípio dispositivo: elemento estrutural do nosso sistema processual, exige que o tribunal só pode servir-
se dos factos fundamentais alegados pelas partes, vide: art. 664º segunda parte.
23
Sobre este mesmo aspeto, o professor Cachimbombo (2018, p. 192) acrescenta que
“vigora o princípio da oficiosidade ou inquisitório, significando que ao tribunal, adentro do
objecto da lide delimitado pelas partes, é lícito realizar oficiosamente todas as diligências que
julgar necessárias para a descoberta da verdade.”

A consagração do princípio inquisitório referente à instrução dentro do nosso CPC nos


remete ao número 3 do artigo 264º: o juiz tem o poder de realizar ou ordenar oficiosamente as
diligências que considere necessárias para apuramento da verdade, quanto aos factos de que
lhe é lícito conhecer. Exemplo disso é o que sucede com o reconhecimento da competência do
tribunal para ordenar a realização da inspecção judicial (art. 612º do CPC).

Por forma a conferir utilidade prática a esse poder reconhecido ao tribunal o legislador
estabeleceu o dever de colaboração das partes e de terceiros, nos termos dos artigos 265º e
519º do CPC. Assim, todas as pessoas têm o dever de colaborar para a descoberta da verdade,
devendo comparecer sempre que para isso forem notificados e a prestar os esclarecimentos
que, nos termos da lei, lhes forem pedidos, responder ao que lhe for perguntado, submeter-se
às inspecções necessárias, facultar o que lhe for requerido e praticar o que lhe for
determinado.

A lei sanciona a sua violação com a condenação em multa, nos termos das
disposições conjugadas do nº 2 do art. 519º do CPC e do art. 140º Código de
Custas Judiciais (CCJ), sem prejuízo da faculdade de se lançar mãos aos
meios coercitivos que possam viabilizar a realização dos objectivos que se
pretendem alcançar com a diligência. (CACHIMBOMBO, 1997, p. 193)
O nº 3 do artigo 519º CPC dá legitimidade à recusa do cumprimento do dever de
cooperação quando a obediência importar violação do sigilo profissional ou causar grave dano
à honra e consideração da própria pessoa, de um ascendente, descendente, irmão ou cônjuge,
ou grave prejuízo de natureza patrimonial a alguma dessas pessoas.

1.6.1.2. Princípio Da Audiência Contraditória


Tradução do princípio do contraditório, trave-mestrado moderno processo
civil e do Direito em geral. Vem, essencialmente, expresso no art. 3º e 517º
do CPC, quanto ao direito probatório. Segundo o qual, salvo disposição em
contrário as provas não serão admitidas nem provadas sem audência
contraditória da parte a quem haja de ser oposta. Significa que em relação às
provas constituendas a parte deve ser notificada, quando não seja revel, para
todos os actos de preparação e produção de prova e deve ser admitida a
intervir nesses actos em conformidade da lei. (BERNABÉ, 2014, p. 101)
O princípio da audiência contraditória tem dois grandes objectivos conexos: busca
conferir às partes meios que lhes ajudem a acautelar os seus interesses durante a instrução,
permitindo-lhes a fiscalização das actividades desenvolvidas pela contraparte; e busca
24
concretizar a realização do interesse público da descoberta da verdade, evitando que se
manipulem os meios de prova carreados aos autos.

Na prática, este princípio pode adotar à duas formas de aplicação: Quanto às provas
constituídas, define que a contraparte seja notificada para, se quiser, impugnar a sua admissão
ou a sua respetiva força probatória; Quanto às provas constituendas, define que a contraparte
deve ser notificada para todos os atos de preparação e produção da prova.

Este princípio é um dos mecanismos de defesa, tendo em conta os amplos poderes


versados no princípio do inquisitório. O princípio do contraditório é um freio e um contrapeso
ao princípio do inquisitório, por forma garantir igualdade e a imparcialidade processual.

1.6.2. Procedimentos Probatórios


O procedimento probatório é, nos dizeres Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 495), o
“esquema metodicamente ordenado dos actos processuais destinados a permitir a utilização
dos diferentes meios de prova.” Nestes termos, podemos definir, conforme a sistematização
de Varela, Bezerra e Nora, quatro fases, sendo o principal critério para tal sistematização a
função que cada uma dessas fases desempenha dentro da finalidade global da diligência:

a) Proposição ou requerimento da prova

Esta fase do procedimento probatório consiste na proposição ou oferecimento da


prova. É nesta fase em que uma das partes requer ao tribunal a admissão de certa prova ou
ainda a produção de prova. Noutros termos, é nesta fase em que as partes pedem ao tribunal
que aprecie uma prova já existente ou que as autorize a produção de uma prova nova. São
várias as referências legais à esta fase, a destacar as seguintes: 512º do CPC – Notificação das
partes para a instrução: fixado o questionário, a secretaria notificará as partes para
apresentarem o rol de testemunhas por via do requerimento de prova testemunhal ou
requererem quaisquer outras provas; Art. 570º do CPC – Quando podem ser requeridos os
exames e as vistorias: podem ser requeridos nos cinco dias seguintes à notificação das partes
para a instrução.

b) Admissão da prova

A segunda fase é a da admissão da prova. Nota que esta fase só se concretiza se a


diligência não for indeferida por ser impertinente ou meramente dilatória, como se vê no
artigo 266º do CPC. Os meios de prova aqui admitidos pelo Tribunal devem ser, em princípio,
sobre os factos constantes do questionário.

25
“Propostas as provas, o juiz deverá resolver sobre a sua admissibilidade quando
passarão as provas por um juízo de avaliação preventiva de sua necessidade, utilidade e
cabimento. Trata-se de ato do juiz, que faz parte do conteúdo da decisão saneadora.”
(BORGES, 2015, p.16)

Várias são as referências essa fase, a destacar as seguintes: Art. 637º, nº 2 – Sobre a
prova testemunhal: o tribunal decidirá imediatamente se a testemunha deve depor; Art. 612º -
Sobre a prova por inspecção judicial: o tribunal pode, sempre que julgar conveniente,
inspecionar coisas ou pessoas buscando esclarecer qualquer facto que interessa a decisão da
causa.

c) Produção da prova

É o momento do procedimento probatório mais importante para as provas


constituendas. É aqui que se extrai da fonte oferecida (a testemunha, o perito, etc.) o respetivo
meio probatório.

A produção da prova pode desdobrar-se em vários atos e prolongar-se por


um período maior ou menor de tempo (interrogatório preliminar e
interrogatório substancial ou factual da testemunha ou da parte; formulação
de quesitos aos peritos pela parte contrária ao requerente e pelo juiz;
reclamações das partes; pedidos de esclarecimento do tribunal; etc.).
(VARELA; BEZERRA; NORA,, 2004, p. 496)
A fase da produção das provas tem uma função mais mitigada nas provas pré-
constituídas, porque o meio probatório é, como a designação faz entender, formado fora do
contexto do processo. Mas isso não deve servir de argumento para se dizer que a produção da
prova é, no caso das provas pré-constituídas, suprimida no seu todo. Nas provas documentais,
por exemplo, como se vê no esclarecimento de Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 497):

A parte contrária à que se oferece o documento é desde logo chamada


(art. 526º), antes da discussão da causa, a pronunciar-se não só quanto
à admissibilidade do meio probatório oferecido, mas também no que
respeita à sua força probatória. E essa discussão contenciosa prévia do
valor probatório do documento não deixa de integrar-se na fase típica
da produção da prova.
d) Assunção da prova

Esta é a última e derradeira fase do procedimento probatório. É nela em que se busca


incorporar ao processo o meio de prova produzido ou oferecido. É nessa fase em que: Se faz a
junção dos documentos: para a prova documental; Se faz a incorporação do auto de respostas
dos peritos e dos esclarecimentos ou aditamentos (nº 2 do art. 596º): para a prova pericial; Se

26
faz a junção ao processo da deprecada com o depoimento da testemunha mandada ouvir por
carta precatória ou ainda do depoimento escrito da testemunha que não tenha sido ouvida
perante o tribunal colectivo.

1.7. MEIOS DE PROVA


Um dos pontos centrais do presente trabalho é, como se deixou claro nas notas
introdutórias, o estudo da inspecção judicial que é um dos meios de prova admitidos pelo
nosso ordenamento jurídico. Por isso é fundamental que se estudem também, mesmo que de
forma não exaustiva, os outros meios de prova.

Designam-se meios de prova os instrumentos utilizados pelas partes no processo para


demostração da verdade dos factos, isto é, para o convencimento do juiz. Instrumentos estes
que serão as bases para a decisão que será tomada pelo juiz. Pode ainda ser entendido como o
“elemento utilizado para que o juiz possa apreender ou intuir a realidade do facto.”
(VARELA; BEZERRA; NORA, 2004, p. 441)

1.7.1. Prova Por Apresentação De Coisa


Prevista no artigo 518º CPC, “consiste na exibição, pela parte, da coisa (móvel ou
imóvel) que, não sendo um documento, ela pretende utilizar como meio de prova de um facto.
Muitas vezes trata-se da coisa que é objecto mediato do facto.” (VARELA; BEZERRA;
NORA, 2004, p. 498). Como sucederia se numa acção em que o autor se queixa de ter pedido
à ré (estilista) que produzisse um calção, mas a ré produziu uma calça. O autor poderá
entregar a calça à secretaria do tribunal para que se confronte com o calção projetado.

É distinta da prova documental porquanto a coisa utilizada como meio de prova não é
um documento e não pode ser junta ao processo. Nota que o facto de certa coisa ser objecto de
prova por apresentação de coisa não obsta que esta mesma coisa seja alvo de inspecção ou
arbitramento.

Para compreendermos o procedimento probatório deste meio de prova devemos


analisá-lo nas suas duas vertentes:

a) A prova por apresentação de coisa móvel: quando o instrumento utilizado para


demostrar a realidade do facto for uma coisa móvel que possa ser posta à disposição do
tribunal, sem inconvenientes nem embaraços (art. 518º, 1 CPC). A contraparte pode examinar
a coisa na secretaria do tribunal e colher a fotografia 7 dela. Deve ser entregue à secretaria do
7
Permitindo a lei a junção de fotografias ao auto estamos em crer que nada impede a utilização de outras
tecnologias para registo dos factos observados, pois é certo que nem todos os factos são suscetíveis de registo
através de fotografia. (CARVALHO, 2016, p.19)
27
tribunal dentro do prazo estipulado para a apresentação da prova documental (arts. 523º e
524º do CPC); Para que o juiz possa conhecer do cabimento da prova, o requerente deve
indicar os factos que pretende comprovar por meio da coisa entregue.

Quando a este ponto, lê-se na obra de Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 499) que:

O juiz, se não houver necessidade de notificar a parte contrária (porque esta


tenha conhecimento do requerimento da prova através do articulado ou da
alegação), não necessita de produzir despacho de admissão da prova. Mas
poderá indeferi-la (por entrega fora do prazo, por considerar a diligência
impertinente ou dilatória), tal como poderá mandar entregar a coisa ao
requerente, se, não obstante admitir a prova, entender que a coisa não deve
ficar depositada na secretaria.
b) A prova por apresentação de coisa imóvel: quando o instrumento utilizado para
a demostração da realidade do facto for uma coisa imóvel ou coisa móvel que não possa ser
depositada na secretaria sem embaraços nem inconvenientes. Notificar-se-á a contraparte para
que esta possa examinar a coisa, podendo esta colher a fotografia da coisa a fim de rebater as
conclusões do requerente sobre o facto, se quiser e puder (518º, 2). Devendo esta notificação
ser requerida dentro do prazo em que pode ser oferecido o rol de testemunhas, 512º CPC. “O
juiz terá então de lavrar despacho, admitindo ou indeferindo a prova, ou mandando que a
coisa seja entregue no tribunal se, tratando-se de coisa móvel, entender que ela pode ficar
depositada na secretaria judicial.” (VARELA; BEZERRA; NORA, 2004, p. 499).

1.7.2. Prova Por Presunção


Prevista no art 349º do CC, diz-se prova por presunção a que, partindo de determinado
facto, chega por mera dedução lógica à demostração da realidade de um ou outro facto.
Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 500 e 501) esclarecem sobre este meio de prova:

O detentor de uma coisa não consegue demostrar que, ao adquiri-la, ignorava


estar lesando o direito de outrem, ou seja, em boa terminologia jurídica, a
sua boa fé (1260º,1 CC), Mas demostra que a sua posse é titulada, exibindo o
instrumento jurídico da sua aquisição e constituindo o documento adquirido
um modo legítimo de adquirir. Como a própria lei presume que a posse
titulada é de boa fé (1260º, 2 CC), dir-se-á que o possuidor, exibindo o título
legítimo de aquisição do direito, provou a sua boa fé por meio de presunção.
Nesse caso, chama-se “base da presunção” à existência de justo título e chama-se
presunção à conclusão sobre o facto. A presunção consiste na dedução, na inferência, no
raciocínio lógico por meio do qual se parte de um facto certo, provado e conhecido, e se chega
a um facto desconhecido.

As presunções são muito importantes para o processo, porquanto haverão factos com
interesse decisivo para a procedência da acção que raramente serão objecto de prova directa,
28
como sucede com o adultério numa acção de divórcio. Nesses casos, o juiz tem de contentar-
se com meras presunções, para evitar a denegação de justiça.

Nos termos dos artigos 340º e 341º, as presunções podem ser leais e judiciais:

Presunções legais: nessa primeira modalidade a base da presunção está firmada na lei.
Aqui é a norma legal que dá por provado um facto, depois de verificado outro. Aqui
compromete-se, de certa forma, a liberdade de apreciação do juiz. Quando a lei admitir que a
presunção possa ser destruída através de prova do contrário, a presunção designar-se-á
relativa ou iuris tantum8. É o que sucede com a posse presuntiva de boa fé. Por outro lado,
quando a lei não admitir prova em contrário a presunção será designada absoluta ou iuris et
de iure9. É o que sucede com a norma do nº3 do artigo 1029º do CC, sobre exigência de
escritura pública – no caso de arrendamentos para comércio, indústria ou exercício de
profissão liberal, a falta de escritura é sempre imputável ao locador.

Presunções judiciais: são aquelas que se fundam nas regras práticas de experiência,
ensinamentos hauridos através da observação (empírica) dos factos. Só são admitidas nos
casos e termos em que é admitida a prova testemunhal.

À prova por presunções não corresponde nenhum procedimento probatório


específico. E assim se explica que, ocupando embora uma secção especial
(II) – artigos 349º e segs. - no capítulo (II) que, dentro do Código Civil,
regula a matéria das provas, a presunções não constituam objecto de
nenhuma secção própria no capítulo que, dentro do Código de Processo
Civil, trata da instrução do processo (arts. 513º e segs.). A prova por
presunção não tem autonomia processual. A presunção assenta sobre uma
base (um facto) que tem de ser provada. E a prova deste facto há de ser feita
por qualquer dos procedimentos probatórios regulados na lei processual.
(VARELA; BEZERRA; NORA, 2004, p.503).
1.7.3. Prova Por Documento

O documento é qualquer escrito, instrumento ou papel, público ou privado, que possua


relevância jurídica e possa servir como prova. A palavra documento vem do latim
documentum (docere + mentem = ensinar a mente ou doctus + mentem = mente treinada).

Carnelutti10 (apud Bernabé, 2014, p. 123) define o documento como “todo o objecto
material elaborado pelo homem para representar uma coisa ou facto.” Para Betti 11 (apud

8
Trata-se de uma expressão oriunda do latim cujo significado literal é: apenas de direito. Presunção “juris
tantum”, consiste na presunção relativa, valida até prova em contrário.
9
De direito e por direito. É a presunção legal tida como expressão absoluta da verdade, que não admite prova
em contrário.
10
FRANCESCO CARNELUTTI, Sistema lº, pág. 690.
11
BETTI, Diritto Processuale, 2ª ed. pág. 157.
29
Bernabé, 2014, p. 123) o documento é “uma coisa formada sobre um facto e destinada a fixar
de modo permanente a sua percepção ou a sua impressão física para o representar no futuro.”

Dentro do Direito, o termo documento pode assumir dois sentidos: Na primeira


perspetiva, lato sensu12, a do Direito Substantivo, entende-se por documento, como se vê no
artigo 362º do CC, todo o objecto elaborado pelo homem que seja capaz de reproduzir ou
representar de forma não-verbal uma pessoa, uma coisa ou um facto. Na segunda perspetiva,
essa mais restrita, mais ligada ao Direito Probatório Formal e mais popular entre os imperitos
em Direito, apenas entende-se por documento o escrito que exprime uma declaração de
ciência (as cartas trocadas entre as partes, por exemplo) ou uma declaração de vontade (como
sucede com o contrato promessa de compra e venda). Por ser esta perspetiva mais relevante,
tendo em consideração o tema deste trabalho, será a que merecerá maior atenção.

Na prática as regras que caracterizam a prova documental, com especial relevância


para as regras sobre a sua força probatória, só se aplicam aos documentos em stricto sensu,
como abaixo veremos na segunda perspetiva. Os documentos em lato sensu na maior parte
das vezes constituem prova por apresentação de coisas móveis.

1.7.3.1. Classificação Da Prova Documental

A prova documental, stricto sensu, podem ser classificados segundo dois critérios:

1. Segundo o seu conteúdo os documentos podem ser:


a) Documentos narrativos: estes caracterizam-se por conterem uma simples
declaração de ciência, limitam-se a narrar um facto, a descrever uma coisa ou uma
situação.
b) Documentos constitutivos: têm incorporados em si uma declaração de vontade que
visa introduzir qualquer alteração na esfera jurídica das pessoas.

Importa deixar claro que existirão documentos que terão incorporadas em si


declarações que serão simultaneamente de ciência e de vontade, ou seja, que serão narrativos
e constitutivos ao mesmo tempo, como ocorre com a perfilhação.

O homem recorre ao documento para comunicar o seu pensamento: umas


vezes, porque o destinatário está ausente e a escrita é o meio mais fácil de
comunicação com ele; outras vezes, porque pretende dar à declaração
condições de durabilidade, de precisão ou de facilidade de prova que a
declaração oral, pela peculiaridade do seu meio, não possui. Razões muito

12
Consideram-se documentos os escritos declarativos (ex. contrato, declaração de compromisso) e também
todo os demais objectos com a capacidade acima descrita (as fotografias, os discos, as plantas topográficas, as
árvores genealógicas, os desenhos e os esboços).
30
próximas, por conseguinte, das que levam o legislador, em muitos casos, a
sacrificar o princípio da liberdade de forma nas convenções negociais e a
exigir certas solenidades de forma na celebração de alguns atos jurídicos.
(VARELA; BEZERRA; NORA, 2004, p. 507)
Com isso quer se esclarecer que existirão casos em que o documento é indispensável à
realização do ato jurídico. Como sucede no contrato de compra e venda de imóvel (art. 875º
do CC – o contrato de compra e venda de bens imóveis só é válido se for celebrado por
escritura pública) e com o contrato de doação de bens imóveis (art. 947º do CC – a doação de
coisas imóveis só é válida se for celebrada por escritura pública). Noutros casos, finalmente, o
documento, não sendo essencial à validade do ato, serve apenas para facilitar a prova,
eliminando o recurso a meios probatórios de natureza mais falível. Diz-se, quando assim seja,
que a documentação corresponde a uma formalidade ad probationem . enão ad substantiam.

2. Segundo a fonte de onde procedem e conforme o nº 1 do art. 363º do CC:


a) Documentos autênticos: são os exarados por uma autoridade ou pública com
competência para tal efeito em razão da matéria e do lugar e não estiver legalmente
impedido de o lavrar (arts. 369º e segs do CC).

Nos termos do nº 2 do artigo 363º do CC, os documentos autênticos “são os exarados,


com as formalidades legais, pelas autoridades públicas nos limites da sua competência ou,
dentro do círculo de actividade que lhe é atribuído, pelo notário ou por outro oficial público
provido de fé pública. Devendo se entender que todo o documento que não carregue essas
características é particular.

É ainda importante que se distingam os documentos autênticos em oficiais e extra-


oficiais como descreve Alberto dos Reis, citado por Bernabé (2014, p. 125):

Os oficiais são os que foram exarados ou expeditos pelas repartições do


Estado ou das Autarquias locais, e bem assim os actos judiciais e os
documentos lançados nos registos de todas as repartições públicas, quer
existentes, quer extintos; os autênticos extra-oficiais são os documentos
exarados por notários ou com a sua intervenção, destinados à declaração da
vontade dos outorgantes.
Corroboram com essa afirmação Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 509):

Entre os documentos autênticos também se destacam, pela importância


prática excepcional que assumem no comércio jurídico, os documentos
lavrados pelo notário. Aos documentos autênticos lavrados pelo notário, ou
por outros oficiais dotados de fé pública, no círculo de actividade que lhe é
atribuído chamar-se-ão documentos autênticos extraoficiais, para os
distinguir da primeira categoria mencionada no nº 2 do artigo 363º do
Código Civil, a dos documentos provenientes das autoridades públicas
(documentos autênticos oficiais).

31
b) Documentos particulares: consideram-se documentos particulares, como se
depreende da interpretação da parte final do nº 2 do artigo supracitado, todos os
documentos que não se caracterizem como autênticos.

Sobre este mesmo aspeto corroboram Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 509) ao afirmar
que “documentos particulares são todos os restantes, avultando entre os lavrados pelos
particulares (indivíduos que não exerçam nenhum cargo de autoridade, nem desempenhem
qualquer função certificadora, dotada de fé pública.”

c) Os documentos autenticados: existe um meio termo entre as duas categorias


mencionadas nas alíneas a) e b) desse critério de classificação, a dos documentos
autenticados. Pertencem a esse tertium genus os documentos que nasceram com
características particulares mas trazem consigo um reconhecimento especial do
notário.

Sobre essa terceira categoria, nos esclarecem Varela, Bezerra e Nora (2004, 510):

O reconhecimento especial do documento autenticado resulta de um termo


notarial de autenticação no qual, além do mais, figura a declaração das
partes, perante o notário, de que leram o documento, estão cientes do seu
conteúdo e que este exprime a sua vontade (arts. 162º e 163º, a), do Cód.
Notariado).
Esta categoria colhe a natureza do seu reconhecimento, em detrimento da natureza
particular da sua origem, sendo assim equiparado aos documentos autênticos quanto à sua
força probatória, como se vê nos artigos 46º al. b) e 50º nº 1 do CPC e 377º do CC,

Lê-se no texto do artigo 377º do CC que “os documentos autenticados nos termos da
lei notarial têm a força probatória dos documentos autênticos, mas não o substituem quando a
lei exija documento dessa natureza para a validade do ato.”

1.7.3.2. Força Probatória Da Prova Documental

Estudar a força probatória dos documentos é descrever que relevância que esse meio
de prova terá dentro da acção. O exercício acima feito, da distinção entre as várias categorias
dos documentos é fundamental para que se compreenda a força probatória dos documentos,
pois cada uma delas tem uma força probatória própria.

Tratando-se de documento autêntico, o documento faz prova por si mesmo a


cerca da sua proveniência ou paternidade, desde que esteja subscrito pelo
autor e a assinatura se mostre reconhecida por notário ou coberta com o selo
do respetivo serviço. A prova da autenticidade do documento assenta, deste
modo, na aparência formal por ele próprio criada. (VARELA; BEZERRA;
NORA, 2004, p. 510)
32
O essencial a se compreender sobre a força probatória dos documentos autênticos é
que estes fazem prova plena de factos que referem como praticados por entes investidos de fé
pública, bem como dos factos que neles são atestados com base na perceção da entidade
documentadora. Como se lê no nº 1 do artigo 372º do CC, a força probatória dos documentos
autênticos só pode ser ilidida com base na sua falsidade. Considera-se falso o documento
quando nele se atesta como tendo sido objecto de perceção da autoridade ou oficial público
qualquer facto que na realidade não se verificou, ou se ateste como tendo sido praticado pela
entidade responsável qualquer ato que na realidade não foi praticado.

Do mesmo modo os documentos autenticados , aqueles cujos conteúdos são


confirmados pelo notário, arts 363-3 do CC e 150º-1 do Cod. Notariado.
Mercê do termo de autenticação de que se reveste, equivale por esta razão a
um documento autêntico, quanto à sua força, art. 377º do CC.
Por fim e de forma diversa à que sucede com a força probatória dos documentos
autênticos, ocorre com os documentos particulares, que não fazem prova plena por si mesmos
em consequência da sua proveniência. Para os documentos particulares haverá sempre a
necessidade de provar a sua autoria ou autenticidade, mesmo quando obedeceram à forma
escrita e estiverem assinados pela pessoa à quem seja imputado. Vide: artigos 373º, 374º, 375º
e 376º do CC.

É ainda importante destacar que a força probatória dos documentos pode ser formal e
material. A força probatória formal trata sobre a proveniência do documento (o sujeito que a
emana, a data, com o tempo e lugar da sua formação). Já a força probatória material tem a ver
com o conteúdo, trata sobre a medida em que os atos referidos no documento, bem como os
factos nele mencionados correspondem com a realidade.

1.7.4. Prova Por Inspecção Judicial

Outro dos meios de prova admitidos no nosso ordenamento jurídico é a Inspecção


judicial. Sendo regulada nos termos dos artigos 390º e 391º do CC e 612º e segs do CPC. E
tem como a principal caraterística ser uma prova directa em que o tribunal examina por seus
próprios sentidos os factos a provar. Por se entender que este meio de prova mereça maior
destaque pela especificidade do tema deste trabalho nos limitaremos, por agora, aos conceitos
acima expostos.

1.7.5. Prova Por Confissão

Etimologicamente a palavra confessar tem origem no latim confiteri que pode ser
traduzido para “admitir, reconhecer uma falta”. Como elucida Bernabé (2014, p. 115)

33
confissão “é o reconhecimento formal por parte do arguido da culpa por delitos que lhe são
imputados pela acusação. Confessar é dar a mão à palmatória, é reconhecer-se sem razão para
pleitear.”

Betti13, citado por Bernabé (2014, p. 116) define a confissão como “a declaração pela
qual a parte reconhece como verdadeiro, o facto contrário ao seu interesse.”

O Código Civil, define, no seu 352º artigo, a confissão como sendo o reconhecimento
que a parte faz da realidade de um facto que lhe é desfavorável e favorece a parte contrária.

Na cultura Umbundu, embora com maior pendor religioso, vem da palavra


okulitavela, significando reconhecer-se sem razão, culpado, dar a mão à
palmatória, dar razão a outra parte, reconhecer que o direito é do outro. É
uma declaração de reconhecimento que a parte faz contra si dos factos contra
ele alegados.Muitas vezes com o significado de rendição, no intuito de que,
nem sempre quem se rende não teve razão para guerrear (BERNABÉ, 2014,
p. 117)
Capacidade e legitimação. Nos termos do artigo 353º do C.C. a confissão só é eficaz
quando feita por pessoa com capacidade e poder para dispor do direito a que o facto
confessado se refira. A confissão feita pelo litisconsorte é eficaz, se o litisconsórcio for
voluntário, embora o seu efeito se restrinja ao interesse do confitente; mas não p é se o
litisconsórcio for necessário.

O artigo 354º do CC define que a confissão não faz prova contra o confitente nas
situações em que: esta for declarada insuficiente por lei ou recair sobre factos cujo
reconhecimento ou investigação a lei proíba; esta recair sobre factos relativos a direitos
indisponíveis; o facto confessado for impossível ou notoriamente inexistente.

Procurando prevenir eventuais erros de interpretação ou atos de astúcia de uma das


partes, o legislador estabeleceu no artigo 360º do C.C. a indivisibilidade da confissão. Nos
dizeres de Bernabé (2014, p. 122) “a indivisibilidade da confissão consiste em a parte que
dela se aproveite, aceitá-la na sua totalidade. Trata-se como se tem dito na gíria, em aceitar o
mel, sem rejeitar a consequência das picadas das abelhas.”

Do texto desse artigo depreende-se que as declarações confessórias que forem


acompanhadas de uma narração de outros factos ou circunstâncias capazes de informar a
eficácia do facto confessado ou ainda de modificar ou extinguir os seus efeitos, a parte que
dela quiser aproveitar-se como prova plena tem de aceitar também como verdadeiros os
outros factos ou circunstâncias, salvo quando for provada a sua inexatidão.

13
BETTI, Diritto Processuale, 2ª ed. pág. 141.
34
1.7.5.1. Modalidade De Confissão

Nos termos do artigo 355º do C.C. a prova por confissão pode assumir duas
modalidades: judicial e extrajudicial. A confissão judicial é a feita em juizo, competente ou
não, mesmo quando arbitral, e ainda que o processo seja de jurisdição voluntária. A confissão
feita num processo judicial, só vale como judicial nesse processo. A realizada em qualquer
procedimento preliminar ou incidental vale como confissão judicial na acção correspondente.
A confissão extrajudicial é, em contrário sensu, a feita por algum modo diferente da confissão
judicial.

1.7.5.2. Força Probatória

Para avaliarmos a força probatória da prova por confissão temos que a analisar através
de diferentes ângulos e sentidos (vide: art. 358º): A confissão judicial escrita tem força
probatória plena contra o confitente; A confissão extrajudicial constante em documento
autêntico ou particular, considera-se provocada e nos termos aplicáveis à esse documento e se
for feita à parte contrária ou a quem a represente, tem força probatória plena; A confissão
extrajudicial que não conste em documento, não pode ser provocada por testemunhas nos
casos em que não é admitida a prova testemunhal, mas quando esta é admitida, a força
probatória da confissão é livremente apreciada pelo tribunal; A confissão judicial que não seja
escrita e a confissão judicial feita a terceiro ou contida em testemunho são livremente
apreciadas pelo tribunal.

1.7.6. Prova Testemunhal


Para Varela, Bezerra e Nora (2004, p. 609), “a prova testemunhal é considerada, sob
vários aspectos, a prova mais importante de entre aquelas que são admitidas por lei.” O
principal elemento característico deste meio de prova é a presença da testemunha que é a
pessoa que, não sendo parte na acção nem seu representante, é chamada a narrar as suas
percepções de factos passados (o que viu, ouviu ou que sentiu), sendo por isso uma prova
pessoal.

A prova testemunhal distingue-se da prova por confissão, porquanto neste meio de


prova prende-se com uma pessoa estranha ao processo. A estranheza da testemunha, como
característica essencial desta prova, muitas vezes desvirtua a prova, porque psicologicamente,
a pessoa não aparece para testemunhar, narrando apenas o que viu sem um outro interesse.

35
Quem pode depor? Podem depor como testemunhas todas as pessoas que, não sendo
parte da causa, estejam inábeis por incapacidade natural 14 ou por motivo de ordem moral,
como se vê no texto do artigo 616º do CPC.

Esta prova é admissível em todos os casos em que não é afastada (392º CC). Bernabé
(2014, p. 142) aborda o outro polo, o da inadmissibilidade da prova testemunha, afirmando
que:

A inadmissibilidade da prova consta do art. 393º e 394º do CC: a prova


testemunhal não é admitida nos casos em que a declaração negocial, por
disposição da lei ou estipulação das partes, houver de ser reduzida a escrito
ou necessitar de ser provado por escrito, ou quando o facto estiver
plenamente provado por documento. Se a lei exige apenas que a declaração
se prove por documento, está expressamente afastada a prova testemunhal.
A prova testemunhal é normalmente apresentada dentro do prazo de dez dias após a
notificação subsequente à fixação do questionário, como se vê no artigo 512º do CPC. O
requerimento da proposição faz-se mediante a apresentação do rol15 de testemunhas.

Força probatória. Segundo o art. 396º do CC o depoimento testemunhal é livremente


apreciado pelo tribunal. Bernabé (2014, p. 145) elucida sobre este ponto afirmando que:

Pode dar-se por provado um facto certificado pelo testemunho de uma única
pessoa, embora contra ele tenham deposto, várias testemunhas. Na valoração
da prova testemunhal, é irrelevante o número de testemunhas, duma ou
doutra parte. O que é relevante para o Juiz é o seu convencimento. O
inverso, dificilmente se conceberia, neste regime de prova livre, que fosse de
igual força a prova testemunhal de uma e de outra parte.
1.7.7. Prova Pericial

Eventualmente poderão surgir no processo litígios sobre os quais o juiz não possui
entendimento suficiente para resolver tal litígio, só podendo ser resolvido por pessoa
especializada e qualificada sobre o assunto. É nessas situações que surge um dos vários meios
de prova regulados pela lei processual, a prova pericial, com previsão nos artigos 568º e segs.

A prova pericial “é aquela pela qual a elucidação do facto se dá com o auxílio de um


perito, especialista em determinado campo do saber, devidamente nomeado pelo juiz, que
deve registrar sua opinião técnica e científica no chamado laudo pericial.” (DIDIER;
BRAGA; OLIVEIRA, 2011, p. 227).

14
São inábeis por incapacidade natural: os interditos por anomalia psíquica, os cegos e os surdos, no
depoimento cujo testemunho exija o sentido que carecem, os menores de sete anos. Vide: art. 617º do CPC
15
Lista em que se indicam os nomes, profissões, moradas das testemunhas e quaisquer outros dados para fim
de identificação. Vide: art. 619º do CPC.
36
O seu principal traço característico é a figura do perito, que é um técnico nomeado
pelo juiz, levando em conta a sua qualificação com o objectivo de efetuar um trabalho técnico,
em que deverá analisar factos e circunstâncias apresentadas pelos litigantes no processo (um
engenheiro em construção civil, por exemplo, para avaliar se a obra desabou por mal uso ou
erro de engenharia).

Lê-se no texto do artigo 388º do CC que “a prova pericial tem por fim a perceção ou
apreciação de factos por meio de peritos, quando sejam necessários conhecimentos especiais
que os juizes não possuem, ou quando os factos relativos a pessoas não devam ser objecto de
inspecção judicial.”

O perito pode, efetivamente, ser chamado a pronunciar-se no caso da


especificação de boa fé (art. 1336º do CC), por exemplo, sobre questões
como a de saber qual o valor da coisa móvel e qual o valor da especificação,
ou de saber se a coisa pode ou não ser restituída à primitiva forma, ou se a
restituição envolve, e em que medida, a perda do valor criado pela
especificação. (VARELA, BEZERRA E NORA, 2004, p. 576 e 577)
A prova pericial faz-se mediante arbitramento, revestindo-se de diversas modalidades:

Exame: é a perícia propriamente dita, pois consiste no trabalho que o perito


faz de inspecionar coisas ou pessoas, procurando desvendar os aspetos
técnicos ou científicos que, ocultamente, não se encontram visíveis. Vistoria:
sob essa denominação entende-se a mesma actividade do exame, mas restrita
aos bens imóveis. Avaliação: é a atribuição de valores para bens jurídicos
(coisas, direitos ou obrigações). (WAMBIER, 2007, p. 458)
Nos termos do art. 568º, a prova pericial é requisitada pelo Tribunal a estabelecimento,
laboratório ou serviço oficial apropriado ou, quando tal não seja possível ou conveniente por
um único perito, nomeado pelo juiz pessoas de reconhecida idoneidade e competência na
matéria em causa. Para o efeito do artigo supracitado as partes são ouvidas sobre a nomeação
do perito, podendo sugerir quem deve realizar a diligência.

O perito é obrigado a desempenhar com zelo a função pela qual for indicado,
apresentando no prazo indicado o relatório pericial. Uma vez que a função do perito é de
colaborar com a justiça, deve ser imparcial, podendo declarar-se impedido se for necessário,
devendo pedir escusa da intervenção ou invocando impedimentos, nos termos do art. 580º e
582º do CPC.

1.7.7.1. Força Probatória

Nos termos do artigo 389º do CC, a força probatória do resultado a perícia é


livremente apreciada pelo Tribunal. Rege-se pelo princípio da livre apreciação da prova.
Sobre este mesmo ponto, elucida Bernabé (2014, p.136) que:
37
No tocante ao valor da primeira ou segunda perícia, vale por inteiro,de
harmonia com a máxima segundo a qual o juiz é o perito dos peritos,
regendo-se, desta feita, pelo princípio da livre apreciação da prova. Decidiu
nestes termos o acórdão da Relação do porto de 29 de abril de 1993,
conforme conta do BMJ nºs 425, pág 627 e 441. Para traduzir a ideia de que
os resultados da perícia não vinculam o Tribunal, todavia, por esta razão, não
significa que o tribunal a possa considerar arbitrária ou discricionariamente.
Complementam ainda Varela, Bezerra e Nora (2004, p.583) ao afirmar que:

A liberdade de apreciação e de determinação dos factos sujeitos a perícia


desdobra-se num duplo aspeto. Por um lado, reconhece-se a plena liberdade
dos peritos na formulação dos seus laudos, rejeitando mesmo a figura do
chamado árbitro de desempate (art. 595, 2). Por outro lado, reconhece-se
abertamente a possibilidade de o tribunal, no julgamento da matéria de facto
ou na aplicação do direito aos factos, se afastar do laudo (ainda que
unânime) dos peritos, por mais qualificada que seja a perícia.

CAPÍTULO II – A PROVA POR INSPECÇÃO JUDICIAL


Neste segundo capítulo procurar-se-á compreender da forma mais profunda possível
os aspectos gerais e específicos que envolvem a matéria da inspecção judicial, de modos a
compreender-se de que forma este meio de prova pode ajudar a formar a convicção do juiz
sobre os factos a serem provados.

2.1. ASPETOS GERAIS


Deste modo e por ser o grande escopo deste trabalho salientar o benefício da adopção
da inspecção judicial na formação da convicção do juiz durante a fase da instrução, dar-se-á
total exclusividade neste capítulo ao estudo deste meio de prova que tem a sua previsão legal
nos arts. 390º e 391º do CC; 612º e segs. do CPC.

Na maior parte dos casos, o juiz conhece os factos em conflito de forma indirecta,
através das partes, peritos, testemunhas ou documentos, mas em vários casos, as provas
produzidas em sede de sala de audiência do tribunal não são suficientes nem capazes de
esclarecer factos ao juiz. Nestes casos e outrosm, somente a observação ocular 16 do juiz é
capaz de sanar esse tipo de situação. É o que sucede, p. ex., numa acção em que se alega que o
cheiro do esgoto da casa do réu polui o ar da casa do autor.

Em linhas gerais a inspecção judicial poderá ser compreendida como sendo o meio de
prova caracterizado pelo exame da coisa ou da pessoa pelo tribunal de forma directa.

16
Dá-se primazia a esse sentido por uma questão de simplificação. Mas na prática a inspecção não se limitar à
análise ocular.
38
Para Carvalho (2016, p.13) “a inspecção é uma espécie de prova que confere ao
decisor o contacto directo com o lugar, a coisa ou a pessoa. É o próprio juiz, quem realiza o
exame, objectivando verificar as características e situações das pessoas ou coisas.”

De forma tão clara quanto a explanação de Carvalho, elucidam também Varela,


Bezerra e Nora (2004, p. 601 e 602):

Diz-se inspecção judicial (da raiz latina in spe, que significa, ver por dentro
ou ver para dentro) judicial o exame de coisas, quer imóveis, quer móveis,
ou de pessoas, feito pelo juiz ou pelo tribunal, que poderão deslocar-se ao
local da questão, a fim de possibilitar a perceção directa das qualidades (ou
defeitos) corpóreas, do estado ou da situação, tanto das coisas como das
pessoas (arts. 390º do Cód. Civil e 612º, 1, do Cód. Proc. Civil).

“A inspecção judicial pode ser requerida por qualquer das partes, de acordo com o
pensamento fundamental do princípio do dispositivo, tal como pode ser determinada ex
officio pelo juiz ou pelo tribunal, na sequência do princípio do inquisitório”. (VARELA;
BEZERRA; NORA, 2004, p. 605)

2.2. FINALIDADE

Nos termos do artigo 612º do CPC, a finalidade primária da inspecção judicial é a


perceção directa de factos pelo tribunal, i.e., esclarecer o juiz sobre facto que interesse à
decisão da causa quando esteja em causa a perceção de coisas ou pessoas. E tem ainda como
finalidade, esta secundária, habilitar o juiz a organizar a especificação e o questionário.

“O juiz colhe, por si próprio, a prova, toca, por assim dizer, o facto a provar, nada se
interpõe entre a sua percepção e o facto que se pretende averiguar, na expressiva e clara
definição deste meio de prova” apresentada por Alberto dos Reis, citado por Carvalho (2016,
p.12).

Ainda sobre este mesmo ponto, corrobora Bernabé (2014, p.137) ao dizer que:

A prova por inspecção tem por finalidade, a percepção directa dos factos
pelo Tribunal, cujo resultado está sujeito ao princípio da livre apreciação.
Trata-se de uma prova directa e real, dentro dos poderes cognitivos,
resultante do ónus de afirmação das partes, de forma a que uma vez
adquiridos relevantemente, segundo o juízo da livre apreciação, sejam
objecto de juízo interpretativo e valorativo em sede normativa.
2.3. BREVE DISTINÇÃO COM OS OUTROS MEIOS DE PROVA

39
A inspecção judicial é distinta dos outros meios de prova, na medida em que carrega
uma caraterística que lhe é muito particular: a inexistência de intermediário entre o juiz e o
facto a provar. Pode por isso se afirmar que não existe inspecção judicial indirecta.

Ainda nesse sentido, a inspecção judicial difere-se da perícia, porquanto nesse meio de
prova o exame é feito por um técnico que apresenta um laudo, devendo o tribunal assumir
uma função meramente burocrática, isso porque são os técnicos que trazem para os autos as
conclusões, que serão as bases para a decisão do tribunal. Mas na inspecção judicial acontece
de forma diferente. Na inspecção judicial é o próprio tribunal que extrai as suas conclusões
pela perceção obtida pela inspecção directa da pessoa ou da coisa.

A prova por inspecção judicial em muito se assemelha à prova por apresentação de


coisa. Na verdade a prova por apresentação de coisa, refere se sempre a uma coisa móvel a ser
depositada na secretaria do tribunal. A inspecção referir se à sempre de coisa imóvel ou móvel
que não se apresenta na secretaria pela parte. Na inspecção, o juiz vai ao encontro do objecto
litigioso, ou se põe a coisa à disposição da outra parte.

No caso de colisão entre a prova testemunhal e a inspecção judicial, há que


ter em consideração o âmbito desta porquanto o juiz, através dos seus
próprios sentidos, examina um local ou objecto. Trata-se de uma prova
directa por excelência, e que, por isso poderá gerar um grau de convicção
superior aos meios de prova indirectos. Nessa medida, em princípio deverá
prevalecer a prova por inspecção face à prova testemunhal. (CARVALHO,
2016, p. 20 e 21)
2.4. INTERVENÇÃO DAS PARTES

Depreende-se da análise do artigo 613º do CPC que assim que for definida a data da
realização da inspecção, as partes serão notificadas sobre o dia, a hora e o local em que se
realizará a inspecção judicial. As partes têm direito a assistir a inspecção, mas não é um dever.
É dever somente para as partes que sejam objecto da inspecção judicial.

A presença das partes é fundamental, na medida em que estas poderão fornecer


informações importantes ao juiz, que poderão contribuir para o esclarecimento dos factos.

2.5. INTERVENÇÃO DO TÉCNICO ASSESSOR

Infelizmente o juiz nem sempre terá conhecimento técnico suficiente da por si só


compreender os factos sujeitos à inspecção judicial. Nesses casos, como se pode compreender
da análise do artigo 614º do CPC, ao juiz é permitido fazer-se acompanhar de uma pessoa
com cpmpetência técnica para elucidar sobre a averiguação e interpretação dos factos que o
juiz se propôs observar.
40
Segundo Carvalho (2016, p.14):

É legitimo que o juiz mediante a complexidade técnico-


científica de certos factos sinta a necessidade de ser
assessorado por alguém habilitado tecnicamente para o
efeito. Na verdade existem factos complexos que
merecem esclarecimentos mais aprofundados,
potenciando a correta indagação desses mesmos factos
pelo juiz sob pena de, se não for assistido tecnicamente,
limitar-se ao conhecimento superficial desses factos, que
muitas vezes não é suficiente para o bom julgamento da
causa. A assistência técnica destina-se assim a suprir as
insuficiências reveladas pelo juiz - homem comum, que
revela “insipiência” em certas áreas que sugerem
conhecimentos mais aprofundados. Ora como se pode
concluir é fundamental que em certos casos o juiz seja
assessorado por um Assistente Técnico.
O técnico assessor designado, à semelhança do que sucede com os peritos, devem
comparecer na audiência de discussão e julgamento para prestar os esclarecimentos verbais
que sejam necessários, como se deve na previsão do nº2 do artigo 614º e nº 6 do artigo 652º,
todos do Código de Processo Civil.

Apesar de ser possível a intervenção de um técnico, nos termos do artigo 614º, não
retira a sua caraterística básica: a inexistência de intermediário entre o juiz e o facto a provar,
i.e., a análise directa.

O técnico é, nesse caso, um assessor técnico do tribunal, tendo a função de elucidar


sobre a averiguação e interpretação dos factos que se propõe observar, i.e., elucida o tribunal
sobre o objecto e conteúdo que este observa, chamando atenção ao tribunal para o que
interessa observar, explicando o significado do que ele está a observar – não emite laudos
periciais.

É importa que se esclareça que juiz não pode ver tudo. O limite para a inspecção
judicial é a ressalva da intimidade da vida privada e familiar e da dignidade humana. A perícia
pode nessa eventualidade, ser realizada em alternativa ao abrigo do disposto na segunda parte
do artigo 388º do Código Civil.

2.6. MOMENTO PROCESSUAL


Depreende-se da leitura da parte final do nº1 do artigo 612º que o tribunal pode
realizar inspecção judicial “quando a entender necessária”, i.e., sempre que o tribunal achar
conveniente poderá realizar-se a inspecção a todo o tempo, enquanto não houver decisão
sobre a matéria de facto.

41
“Se a iniciativa partir do tribunal, por julgar necessária ou conveniente a diligência, a
inspecção judicial pode realizar-se a todo o tempo, enquanto não for proferida decisão sobre a
matéria de facto.” (VARELA; BEZERRA; NORA, 2004, p.606)

As partes, sendo as requerentes da inspecção podem indicar no seu


requerimento os factos sobre que a diligência deve recair. Mas se o não fizer
não ficam impedidas de no acto de inspecção apontarem os factos que
pretendem ver esclarecidos e com interesse para a decisão da causa. Deve,
porém, o requerente da diligência no seu requerimento convencer o tribunal
da necessidade ou vantagem da inspecção, para que o seu requerimento não
seja indeferido, por o requerente não justificar devidamente o interesse da
diligência. (Carvalho, 2016, p.17)
O que está no centro da decisão sobre quando se deve realizar a inspecção é a
necessidade que esta representará para a descoberta de realidade dos factos. Deste modo,
sempre que se julgue conveniente e necessária realizar-se-á inspecção judicial. Podendo o
tribunal examinar in loco ou mandar proceder à reconstituição dos factos.

A inspecção judicial é para muitos doutrinadores uma prova complementar, isso por
que busca o esclarecimento dos factos que não foram totalmente elucidados pelos outros
meios de prova. Mas nada impede que o juiz realize a inspecção judicial antes da proposição
de outros meios de prova. Isso porque poderão haver situações em que a inspecção judicial
tornará dispensável outro meio de prova mais demarado ou dispendioso para a solução do
litígio.

2.7. REALIZAÇÃO DA INSPECÇÃO JUDICIAL


Se a inspecção for requerida pelas partes, o tribunal deverá pronunciar-se sobre o
requerimento, recusando ou admitindo a inspecção. conforme julgue necessária ou não.
Aceitando o requerimento ou quando for ex officio se emitirá o despacho: este deve conter o
dia e a hora da inspecção, a nomeação do técnico se a sua intervenção for necessária, a
descrição dos factos que hão de constituir objecto da diligência.

Por ser um acto judicial de caráter público, pode, como se explanou anteriormente,
haver intervenção das partes e de técnicos, devendo este assessor (técnico) ser nomeado no
despacho que ordena a realização da diligência. Mas poderá o tribunal impedir a presença de
certos intervenientes (partes, técnicos ou terceiros) se entender que a presença destes for
capaz de colocar em causa o que se procura com a diligência.

As partes devem, nos termos do artigo 613º do CPC, ser notificadas do dia e hora da
inspecção e podem, por si ou por seus advogados, prestar ao tribunal os esclarecimentos de

42
que ele carecer, assim como chamar a atenção para os factos que consideram de interesse para
a resolução da causa.

Mas na verdade o que se entende na prática é que as partes não só “podem” prestar os
esclarecimentos que o tribunal solicitar, elas “devem”. Essa afirmação é consequência do
dever de colaboração17 das partes que foi anteriormente desenvolvido neste trabalho, com
base legal nos artigos 265º e 519º do CPC. O mesmo sentido deve ser dado a possibilidade de
o tribunal realizar a inspecção. O certo, numa boa interpretação da norma é depreender que o
juiz deve realizá-la, não o fazendo somente quando esta se mostre desnecessária ou
inconveniente.

Quanto ao local da realização da inspecção, esclarece Carvalho (2016, p.18):

No local da inspecção o tribunal não se deve limitar à captação de algum


facto integrável nos temas de prova, antes pode e deve observar, recolher e
apreciar quaisquer factos relevantes para a decisão da causa. A lei não exige
unidade da diligência de inspecção nem afasta que se suspenda para
continuar no dia seguinte, nos dias seguintes ou em dias marcados”, tudo
dependendo da coisa ou da pessoa a ser inspecionada, sendo perfeitamente
compreensível que determinadas diligências demandem uma sintonia com o
tempo, a distância, o volume e as especificidades próprias de cada coisa ou
pessoa a ser inspecionada. Mais agora que esta “distribuição da justiça”
tornou mais distante do juiz a coisa ou pessoa a ser inspecionada.
Quando quem estiver com a coisa ou a pessoa que é objecto da inspecção recusar ou
obstar a realização desta aplicar-se-á devida sanção legal, estabelecida nos termos das
disposições conjugadas do nº 2 do artigo 519º do CPC e do artigo 140º CCJ:

Se o recusante for um terceiro será o mesmo condenado em multa, sem prejuízo da


utilização dos meios coercivos que foram possíveis para viabilizar a realização dos objectos
que se pretendem alcançar com a diligência;

Se o recusante for parte (o requerente da diligência ou a parte contrária) será a mesma


condenada em multa, sem prejuízo da utilização dos meios coercivos possíveis para viabilizar
a realização dos objectos que se pretendem alcançar com a diligência.; além disso o tribunal
apreciará livremente o valor da recusa para efeitos probatórios, sem prejuízo da inversão do
ónus da prova.

17
Todas as pessoas devem colaborar para a descoberta da verdade, devendo comparecer sempre que para isso
forem notificados e a prestar os esclarecimentos que, nos termos da lei, lhes forem pedidos, responder ao que
lhe for perguntado, submeter-se às inspeções necessárias, facultar o que lhe for querido e praticar o que lhe
for determinado.
43
2.8. AUTO DE INSPECÇÃO
Depois de concluídas a inspecção judicial, o juiz mandará lavrar auto de inspecça. Na
prática, a única solenidade especial a se observar na produção deste meio de prova é a
elaboração do auto de inspecção (art. 615º CPC) que é indispensável sempre que as
diligências não tenham sido feitas pelo tribunal colectivo.

O conteúdo legal do auto de inspecção está no artigo 615º do Código de Processo


Civil: quando a diligência não seja feita pelo tribunal colectivo, será lavrado auto em que se
registem todos os elementos úteis para o exame e a decisão da causa, podendo o juiz
determinar que se tirem fotografias para serem juntas18 ao processo.

Sobre o conteúdo desse auto, fazendo uma expansão do conteúdo do artigo


supracitado, nos esclarece Carvalho (2016, p. 19):

O auto deverá recolher o maior número possível de observações a serem


consignadas pelo juiz, até mesmo porque não podem ser desconsiderados
alguns factores de excepcional importância, sendo um deles o facto de que,
para plena utilidade da sentença, convém, (e assim é pretensão da lei) que do
auto lavrado conste tudo quanto for útil ao julgamento da causa, não
devendo o juiz inspetor poupar informações por ele extraídas ao tempo da
diligência. Por outro lado porque sempre terá que ser considerado que os
factos verificados também precisam de ser cientificados às partes, para que
possam concordar ou discordar com o auto e com as conclusões judiciais.
Acresce que deve ser considerada a possibilidade de ocorrer a substituição
do juiz que fez a inspecção por outro que julgará o processo, quer por sua
promoção ou outra circunstância qualquer. É certo que neste caso nada
impede a realização de uma nova diligência, pelo novo juiz, se assim reputar
importante e não se sentir suficientemente esclarecido com o auto
anteriormente lavrado.
2.9. FORÇA PROBATÓRIA DA INSPECÇÃO JUDICIAL
A matéria da força probatória da inspecção judicial vem regulada nos termos do artigo
391º do Cód. Civil, baseando-se no regime da livre apreciação da prova: o resultado da
inspecção é livremente apreciado pelo tribunal.

Afirma Carvalho (2016, p. 20) que “o juiz atribuirá ao resultado da inspecção o valor
que em sua consciência ela deva merecer em conjugação com as restantes provas e todos os
elementos de ponderação no caso em análise.”

Neste mesmo espírito, ilustram Varela, Bezerra e Nora (2004, p.608):

18
A junção pode ajudar o tribunal causa a elaborar a reconstrução mental da inspecção, na altura do
julgamento da. Poderá ainda servir de subsídio às partes para que possam reforçar suas alegações baseadas
nesses elementos.33 A existência do auto também permite um melhor e mais efetivo exercício dos poderes de
controlo, em matéria de facto, se sobre ela vier a recair recurso.
44
O resultado da inspecção, não obstante a força da fonte donde provém, é
livremente apreciado pelo tribunal (art. 391º do Cód. Civil). Os membros do
tribunal viram as infiltrações de água existentes na parede de um dos
apartamentos do imóvel, que naturalmente não podem negar. Mas serão
livres de, em consciência, decidirem sobre a causa das infiltrações, a sua
proveniência e a imputabilidade dos factos que as provocaram.
Entende-se deste modo que o valor probatório assenta no facto de esta ser uma prova
directa. Mas quanto a isso abre-se uma vexata quaestio: nos casos em que o juiz que realizou
as diligências não seja o mesmo que julga a matéria de facto há uma quebra deixa esta de ser
uma prova directa? Perde, por isso, a sua força probatória?

Como vimos o que distingue de forma geral a inspecção judicial dos demais meios de
prova é o facto de possibilitar a perceção direita. Nesse sentido só poderia decidir sobre a
matéria de facto o juiz que realizou as diligências. Nessa visão perder-se-ia a sua essência se a
inspecção for, como é possível, realizada por um juiz diverso ao que decidiu sobre a matéria
de facto.

Sobre essa vexa quaestio, Carvalho (2016, p. 21 e 22) elucida de forma tão exaustiva
quanto nítida que:

O problema que aquela possibilidade traz imbricada é, portanto, o do valor


do auto lavrado para documentar a produção daquela prova. Se a inspecção é
realizada pelo mesmo juiz que deve decidir a questão de facto 19, o princípio
da imediação vale em toda a sua extensão, de modo que a convicção do juiz
se forma não de harmonia com o plasmado no auto – mas com a perceção
obtida pelo juiz com os seus sentidos. Tratando-se de dados intrínsecos
objectivos, a convicção do juiz que não produziu essa prova – por exemplo,
do tribunal de recurso – pode basear-se no auto: se neste se fez constar, por
exemplo, que distância existente entre dois pontos era de 10 m, o segundo
juiz pode partir desses dados objectivos, dando-os como certos. Quando se
trata de dados intrínsecos subjectivos, quer dizer, apreciações, conclusões ou
deduções, é mais que duvidoso que o auto que documenta a inspecção possa
ser usado por um juiz distinto para decidir a matéria de facto ou para
controlar essa decisão.
Deve se depreender dessa elucidação que os dados objectivos raramente serão negados
pelas partes ou por outro tribunal, pois são meras constatações. Mas quanto aos dados
subjectivos acontece o oposto, por consistirem em apreciações. Apesar de ser objectivo das
provas forma a convicção do juiz, este pode ser induzido em erro pelos seus próprios sentidos:
o juiz afirma que o cheiro do esgoto da casa do réu não polui o ar do quintal do autor da
acção, mas teve essa perceção porque estava engripado.

19
Neste caso, o auto não é o fundamento da convicção, embora, claro, possa cumprir o papel de auxiliar de
memória daquilo que foi percecionado no ato; a convicção do juiz forma-se com o ato – e não com o auto.
45
Esse discurso revela que não se deve olhar para a inspecção judicial como um meio de
prova que sempre deve prevalecer de forma absoluta sobre os restantes meio de prova, não
sendo por isso prova plena. O que se pretende aqui é haver o máximo de prudência na
actuação do juiz.

A força probatória do resultado da inspecção deve ser atribuída com a máxima


prudência, levando em atenção os restantes meios de prova. Contudo e apesar do que foi aqui
apresentado não se pode esquecer que: a prova por meio de inspecção ou reconhecimento
judicial é frequentemente idónea para convencer o juiz, de modo extraordinariamente simples,
da existência ou inexistência de um facto; e o juiz que a realiza está em condições, melhor que
ninguém, de determinar o seu alcance probatório.

Complementa ainda de forma muito categórica Carvalho (2016, p. 21 e 22):

Estas características da prova por inspecção tornam particularmente difícil a


substituição da Relação à 1ª instância no julgamento de um facto cuja
realidade tenha sido estabelecida a partir desse meio de prova, não faltando
mesmo quem sustente a insindicabilidade da convicção do juiz a quo,
formada com base nessa prova. Estando fora de dúvida que a inspecção
judicial é assinaladamente eficaz para esclarecer um facto que interessa à
decisão da causa e, portanto, para exercer a maior influência no ânimo do
juiz, ainda assim não deve excluir-se, por inteiro, a possibilidade de se
censurar o erro do juiz da audiência na apreciação dessa prova, opondo-lhe
outros meios idóneos para retificar perceções individuais inexatas e para
corrigir equívocos ou a violacão, na valoração dos resultados a que a
inspecção conduziu, de regras de ciência, de lógica ou de experiência. Em
suma, quando o juiz forma a sua convicção acerca dos factos deve ter
presente todos os meios de prova trazidos à lide, só assim potenciando o
bom julgamento da causa.
2.10. PROIBIÇÃO DO NON LIQUET DO TRIBUNAL
O non liquet é máxima latina, que, nos dizeres de Bernabé (2014, p. 77), trata-se da
abreviatura da frase iuravi mihi non liquare, atque iudicatus sum, com o significado de “jurei
que o caso não estava claro suficientemente e, em consequência, abstive-me de julgar.”

O uso desta máxima nos remete, do ponto de vista histórico, ao Império Romano em
que o juiz ao declarar o non liquet abstinha-se do dever de julgar por existir alguma
obscuridade da lei ou mesmo incerteza sobre a realidade do facto.

Mas para a realidade hodierna o que deve imperar é o oposto, como se vê na


imposição legal dos arts. 179º da CRA, 8º, 1 do CC e 3º do Estatuto dos Magistrados: “o
tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da lei ou alegando
dúvida insanável acerca dos factos em litígio.”

Esse dever de obediência à lei não pode ainda ser afastado sob o pretexto de que a lei
tem um conteúdo injusto ou imoral. Se o juiz continuar na dúvida sobre a ocorrência e
46
veracidade dos factos, o non liquet do juiz se converterá no espírito do art. 8º CC, num liquet
contra a parte a quem incumbe o ónus da prova do facto.

O princípio da proibição do non liquet é um princípio basilar do processo, porquanto o


juiz, estando preenchidos os pressupostos processuais positivos, deve julgar todos os conflitos
que lhe forem submetidos. Havendo obscuridade da lei, os magistrados angolanos têm ainda à
disposição um outro instrumento para dirimir os conflitos: o costume. O artigo 7º da CRA
estabelece que “é reconhecida a validade e a força jurídica do costume que não seja contrário
à Constituição nem atente contra a dignidade da pessoa humana.”

2.11. DISCRICIONALIDADE E IMPUGNAÇÃO


O texto do artigo 612º do CPC ao dizer que o juiz realiza inspecção judicial “sempre
que achar necessária” pode fazer parecer que se trata de um poder discricionário. Contudo o
que se deve entender é que não se trata de um poder discricionário. Mas sim de um poder-
dever, que segundo Carvalho (2016, p.25):

Só poderá deixar de ser exercido no caso da diligência


requerida se mostrar de todo desnecessária ou inútil para
a descoberta da verdade, o que deverá constar de
despacho fundamentado e suscetível de recurso, sob pena
de o direito à prova por inspeção, reconhecido no art.º
390º do Cód. Civil, ficar na dependência da livre vontade
do juiz.
No direito processual civil vigente em Angola é determinante a questão do ónus da
prova para quem pretende ver reconhecido um direito em juízo, já que a sua pretensão fica
dependente da prova que fizer sobre os elementos constitutivos do direito que quer fazer
valer. Nenhum facto relevante para a decisão da causa deve ficar por se esclarecer.

Seja por essa dependência à necessidade de prova ou ainda pela proibição do non
liquet do juiz, impõe-se que seja sindicada a decisão que rejeita as provas requeridas, como
sucede, neste caso, com a inspeção judicial.

2.12. A INSPECÇÃO JUDICIAL NA PRÁTICA JURÍDICA


Do ponto de vista prático, poderão existir conflitos em que a inspecção judicial ao
local pode ser o mais apropriado para o apuramento da verdade. Isso por que permite
examinar os factos in loco.
São os direitos reais a vertente jurídica por excelência em
que a prova por inspeção, assente na percepção directa
dos factos pelo próprio tribunal, se mostra muito útil.
Nestas ações em que se discutem fatos relacionados com
o estado ou a configuração física de determinados locais

47
ou bens imóveis, procura-se através da perceção direta
dos fatos pelo tribunal, obter um melhor visionamento da
realidade e evitar delongas de aspetos a ela ligados.
(CARVALHO, 2016, p.36)
Para entender isso é necessário abrir aqui um caso hipotético: Suponhamos que existe
um procedimento cautelar de embargo de obra nova em que o autor alega que a obra que o
seu vizinho está a realizar está a causar algumas fissuras na parede do seu imóvel e pede que a
obra seja suspensa. O autor apresenta as suas testemunhas que confirmam o alegado facto.
Mas quando o juiz decide ouvir o reu e as suas testemunhas, notou que estes afirmam
que apesar de não terem visto ainda a casa do autor, não acreditam que seja verdade, porque
os engenheiros tomaram o máximo cuidado, mas desconfiam que seja pura inveja porque
existe uma velha competição entre as partes para ver quem tem a melhor e mais lucrativa loja
da região.
O juiz diante disso fica em dúvida sobre o que realmente está a se passar, então para
ver por si próprio decide realizar inspecção in loco para, com o auxílio de um técnico
assessor, verificar se tais fissuras realmente existem e se, existindo, estão mesmo a ser
causadas pela obra do reu.
É neste sentido que a Juiz Maria da Purificação Lopes de Carvalho (2016, p.37)
elucida:
Quantas vezes na sala de audiência, considerando a prova
já produzida a localização do muro (por ex) parecia
situar-se à direita e já no local afinal constata-se que o
murro está à esquerda? A janela, a porta, os beirais do
telhado, a vedação; o portão afinal é bem mais alta do
que a prova testemunhal parecia indicar; sendo a sua
localização no espaço diferente da que se visualizava
com a audição da prova testemunhal? A ausência de
demarcação alegada afinal não existe, pois no local
existem sinais físicos que permitem estabelecer a
definição entre os prédios? A descrição fatual nos
articulados é por vezes difícil de perceber para elaborar o
despacho saneador (na altura não se falavam em meios de
prova), e torna-se simples ao visualizar o cenário do
litígio.
Nestes e outros casos a inspeção judicial pode permitir o reforço da convicção que os
outros meios de prova não dão ou deram, assim como permite prescindir de prova pericial.
Assim se entende que a realização da inspecção judicial, nas situações que se mostre
necessária, deve ser a via mais certa com observância dos princípios do contraditório e da
ampla defesa, de resto assegurados pelas normas processuais que regem a sua produção.

48
CAPÍTULO III – APRESENTAÇÂO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÂO DOS DADOS
RECOLHIDOS
Neste capítulo do presente trabalho de fim de curso serão apresentados de forma
sintética os resultados recolhidos da pesquisa de campo, realizada por meio de um inquérito e
um questionário, a fim de se obterem informações cruciais para que se alcancem os objectivos
almejados para o presente estudo.

Tendo em conta a especificidade e tecnicismo da temática aqui desenvolvida,


utilizando o método quali-quantitativo, foram inqueridas 15 pessoas suficientemente
capacitadas e dotadas do conhecimento necessário para fornecerem respostas e dados

Distribuição dos CARACTERIZAÇÃO9


inqueridos por DO UNIVERSO
sexo DE INQUERIDOS
6
5
4 4
40%
3 3
60% 2 2 2 2
1 1
49
0 0 0
Masculino Feminino

Masculino Feminino
credíveis sobre o Direito Probatório nos seus aspectos mais genéricos e sobre a inspecção
judicial.

Gráfico nº1

Como se depreende da observação do gráfico nº1 foram inqueridos no total 15


pessoas. Havendo maior interação com o público do género masculino (9) em detrimento do
público do género feminino (6). Quanto ao grau académico houve maior interação com
inqueridos licenciados (7) em detrimento de mestres (1) e bacharéis (7). Sobre a profissão ou
ocupação, estiveram mais disponíveis estudantes (7) em detrimento de advogados (4),
magistrados judiciais (2) e docentes (2).

Natureza jurídica do Direito Probatório

Substantiva
20%
Adjetiva
Híbrida
60% 20%

Gráfico nº2
Quando questionados sobre a natureza jurídica do Direito Probatório, 50% dos
inqueridos afirmou que este é de natureza híbrida, outros 25% afirmou que é de natureza
adjectiva e do mesmo modo os restantes 25% atribuem-no uma natureza substantiva. O
sustenta a dinâmica verificada no presente trabalho onde se verifica que há sobre uma vexata
quaestio sobre essa matéria, existindo duas alas (dos processualistas e a dos civilistas) e um
centro ao qual Antunes Varela se posiciona afirmando que este tem traços híbridos das duas
alas.

Gráfico nº3

Regime predominante para a admissibilidade dos meios de prova


Prova Legal 29% 7%
Prova livre
Fase de transição
64%

50
Depreende-se da análise da terceira ilustração que há ainda muita diversidade de ideias
sobre o regime predominante da admissibilidade dos meios de prova. Porém predomina a
ideia de que o regime predominante é o da livre admissibilidade dos meios de prova, mas há
ainda algumas reminiscências do sistema da prova legal.

QUESTÕES OPÇÃO DE RESPONTA EM: SIM, NÃO, TALVEZ.

TALVEZ

NÃO
Gráfico nº4

SIM

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Questão 10 Questão 82 Questão 7 Questão 6 Questão 3

Questão 3. Quando questionados se a inspecção merece algum destaque entre os meios


de prova, 87% dos inqueridos afirmou que sim. O que acaba por comprovar a hipótese de
partida deste trabalho pois, apesar de não haver hierarquia entre elas e de haver possibilidade
de erro durante a inspecção, este ainda é um meio de prova de alto valor probatório porquanto
permite ao tribunal a perceção directa dos factos, sem intermediação.

Questão 6. 8 dos inqueridos afirma pode se afirmar que existe hierarquia entre os
meios de prova pelo facto de o legislador ter oferecido um número maior de artigos regulando
a prova documental em detrimento da inspecção judicial. 3 Afirmaram que não, considerando
que o número de artigos ilustrados não é argumento suficiente para tal suposição. O restante 3
inqueridos afirmou que talvez haja hierarquia por isso.

Questão 7. Quando questionados sobre a existência em tribunal de decisões cuja


resolução se tenha baseado em uma inspecção judicial, 93% dos inqueridos afirmam que
existem em tribunal decisões que se tenham como fundamento a inspecção judicial. Deve se
entender que de forma geral, apesar da falta de dados estatísticos, existem em tribunal aqueles
litígios que não são resolvidas pelos meios de prova mais populares, havendo necessidade de
o juiz se deslocar para averiguar a ocorrência ou não do facto alegado. O que sustenta a
hipótese de partida deste trabalho de que a “a inspecção judicial pode ser o meio mais
adequado para formação da convicção do juiz, nas situações em que as provas apresentadas
pelas partes não se mostram suficientes, pois lhe permite ter o contacto directo os factos a
provar.”

51
Questão 8. Quanto à possibilidade ou não da intervenção de terceiro durante a
inspecção, os inqueridos afirmam de forma quase unânime (87%) que “sim, podem intervir na
inspecção”. A base para este entendimento dos inqueridos é o texto do artigo 615º do CPC.

Questão 10. A totalidade dos inqueridos afirmou que “sim”, quando questionados se,
dentro das providencias cautelares em que não existe contraditório como a de restituição
provisória da posse, a inspecção pode ser vista como a guardiã da verdade e o equilíbrio na
balança. Como vimos no trabalho, a inspecção judicial, assim como os demais meios de
prova, busca a demostração da realidade dos factos e a verdade é sempre imparcial. No
procedimento cautelar de restituição da posse ela acaba por ajudar o juiz a perceber o que
realmente aconteceu, evitando que o juiz se prenda às alegações da única parte ouvida.

Momento da Inspecção

7%
Depende da proveniência
Somente durante a instruçao
Quando for necessária

93%

Depreende-se da análise do gráfico nº5 que a maior parte dos inqueridos (14)
considera que a inspecção pode ser realizada a qualquer momento. Como se vê no artigo 613º
do CPC, ela é realizada “sempre que se mostre conveniente e necessária”. 1 dos inqueridos
considera que depende da proveniência, o que se baseia nas inspeções requeridas pelas partes
que precisam preencher os requisitos para merecerem o provimento. Tudo isso afirma, como
vimos no segundo capítulo que ela não se limita à fase da instrução.

Finalidade específica da Inspeção Judicial


7%
13% Demostrar a realidade dos factos
A perceção direta dos factos pelo
tribunal
Elucidar o tribunal sobre a
averiguação dos factos
80%

Gráfico nº6

Quando questionados sobre a finalidade específica da inspecção judicial, 80% dos


inqueridos (13) afirmaram que este meio de prova busca oferecer ao tribunal a perceção
52
directa dos factos. Esta resposta está em conformidade com o texto do artigo 390º em que se
define a finalidade específica deste meio de prova. 7% dos inqueridos (1) afirmou que este
tem a finalidade de demostrar a realidade dos factos. Na verdade essa é a finalidade das
provas no geral, sendo também uma finalidade da inspecção judicial enquanto meio de prova
mas não é a específica. 13% dos inqueridos afirmou finalmente que esta tem a finalidade
elucidar o tribunal sobre a averiguação dos factos. A resposta configura a finalidade dos
auxiliares técnicos e não a finalidade específica da inspecção judicial.

Papel dos auxiliares técnicos durante a inspeção

7% Elucidar o tribunal sobre as


7% questões de que este não tenha
conhecimento
Apresentar perícias e conclusões
sobre os factos a que se propõe
observar
Outro

87%

Finalmente quando questionados sobre qual é o papel dos auxiliares técnicos durante a
inspecção judicial, 17 dos inqueridos (87%) responderam que estes, como se vê no artigo 615º
do CPC, actuam no processo elucidando o tribunal sobre as questões de que este (o tribunal)
não tenha conhecimento.

Foi ainda realizada um estudo de campo, no dia 12.10.21, pelas 15h, na II Sessão da
Sala do Cível e administrativo do Tribunal Provincial de Luanda com o objectivo de se
realizar uma entrevista para a coleta de dados: A entrevistada responde pelo nome de Miryan
Macedo, 43 anos de idade, casada, Juiz de Direito, exerce a função há 4 anos, trabalha na II
Sessão da Sala do Cível e Administrativo do Tribunal Provincial de Luanda. Em forma de
pergunta de partida, foi apresentada a seguinte questão ao entrevistado: As provas de forma
geral buscar a demostração da realidade dos factos, nos termos do artigo 341º do CC. E a
prova pericial por sua vez é caracterizada por permitir o contacto directo entre o Tribunal e os
factos. Com base nisso, podemos afirmar que a prova por inspecção merece algum destaque
entre os vários meios de prova?

A entrevistada respondeu de forma categórica: Não. A importância ou irrelevância de


uma prova varia muito conforme o caso.

Foi em seguida apresentada a seguinte pergunta: Se olharmos par a lei e para a


doutrina, nota-se que há muito mais matéria que aborda a prova documental e a pericial, por
53
exemplo, do que a abordar a prova por inspecção judicial que, por exemplo, no CC só tem
dois artigos a regulando. Podemos afirmar, com base nesse facto, que existe uma hierarquia
entre as provas?

A entrevistado respondeu que: Não, no meu ponto de vista a prova a adotar é aquela
que o juiz achar mais convincente. Não há uma hierarquia entre elas. Ao dizer que sim,
estaria a dizer que uma prova é melhor que a outra. E para determinadas ações a prova
documental é fundamental. Imaginemos uma acção de reivindicação de propriedade, se não
houver um título de propriedade a pretensão não recebera o provimento desejado, mesmo
que tragam testemunhas ou peritos, ou ainda que se faça inspecção. Dará lugar à
improcedência da acção, será uma acção inepta por falta da causa de pedir. Então o facto de
algumas serem mais abordadas não quer dizer que há uma hierarquia. A importância
depende do tipo da acção. Assim, podem haver ações em que a inspecção será mais importe.

Na sequência perguntou-se se: a meritíssima já esteve diante de uma acção em que os


meios de prova apresentados não clarificaram os factos e somente a inspecção clarificou a
realidade dos factos?

Sim, já. Por exemplo, já tive uma acção de embargo de obra que analisei e decidi fazer
inspecção judicial e depois de feita a inspecção não houve mais necessidade de inquerir testemunhas.
A inspecção foi suficiente para perceber que os senhores estavam a se aproveitar de um documento
que tinham que declarava quer era proprietário ou possuidor para tirar a ex mulher da casa em que
ela vivia com os filhos do senhor. É muito recorrente também nas ações de restituição provisória de
posse. Normalmente as testemunhas são muito instrumentalizadas. Eu prefiro fazer uma inspecção
judicial.

Perguntou-se à entrevistada: De que modo a inspecção judicial pode ajudar a formar a


convicção do juiz? A entrevistada esclareceu: A aproximação do juiz com os factos, como
acontece muito no embargo de obra nova, dá, sem dúvidas, uma melhor decisão à situação. Na prova
por inspecção o juiz se coloca na posição daquele homem médio, simples para entender melhor a
situação. A ideia que a inspecção deve trazer ao processo é essa. O juiz vai lá e tenta entender “por
que é que ele fez essa e aquela alegação”

Foi de seguida perguntado à entrevistada: Qual é a natureza do Direito Probatório?

Dizer que é misto, seria o mesmo que dizer que vem do civil e do processual. Mas
creio que não. Eu creio que é de natureza substantiva e é aplicada ao direito adjetivo. A
prova nasce no Direito Civil e depois é transformada no processo.

54
Dando continuidade, perguntou-se à entrevistada: a inspecção judicial poder vista
como a guardiã da verdade naquelas providências cautelares em que não há contraditório,
como a de restituição provisória da posse?

Não, não necessariamente. Isso depende sempre do que posso chamar “o faro do juiz”, da
análise das testemunhas. Já decidi improcedente uma providência cautelar em que se notava
claramente que havia alguma coisa a mais. A princípio a minha tendência era para realizar a
inspecção, mas pelo faro pude notar que havia muita estranheza depois de notar que as testemunhas
eram suspeitas e que afinal a requerente tinha mesmo um título de registro de propriedade. Tudo
depende muito do faro do juiz.

Sobre a intervenção dos auxiliares técnicos na inspecção judicial foi ainda indagado ao
entrevistado o seguinte: Qual é o papel dos auxiliares técnicos dentro da Inspecção Judicial?
O entrevistado explicou que: Os auxiliares técnicos surgem naquelas situações me que se
precisa de um parecer técnico. É o que acontece por exemplo que haver a necessidade de se
fazer a restituição da situação de facto. e haver necessidade de o técnico ajudar o juiz a
entender como ocorreu e que danos o facto pode causar e se pode haver reposição da coisa
na sua forma original ou na restituição por espécie.

Por sim, foi perguntado à entrevistada: qual é o limite alcance da inspecção judicial?

O 612º faz pensar assim. Mas segundo a doutrina e a própria lei, por ser um meio de prova o
juiz deve estabelecer quais são os quesitos que quer perceber na inspecção judicial. Definir as
questões que vai analisar in loco e apresenta-los às partes: “tendo em conta que me falta A, B e C, eu
preciso saber 1, 2 ou 3, pelo que marco inspecção judicial para o dia X e que se notifique. As partes
saberão o que o juiz foi lá fazer, porque “o processo civil não é um mar de surpresas”. Poderão
ainda aparecer outras questões que por causa desses quesitos apareceram outras questões.

CONCLUSÃO
É com sentimento de dever cumprido que se chega a esta fase conclusiva do presente
trabalho. O estudo foi exaustivo e ao longo da recolha de dados muito foram os obstáculos
enfrentados, especialmente pelas limitações impostas pela situação pandémica que se vive.

O estudo do Direito probatório é, como se viu, ao longo desse trabalho, muito


desafiador por conta da complexidade do seu conteúdo e pela sua amplitude. Especialmente
se olharmos na perspetiva em que muitas foram as limitações, desde o insuficiente número
limite de páginas ao difícil acesso às bibliotecas e de obtenção documentos oficiais.

55
A pergunta de partida foi respondida pela entrevistada ao afirmar que: “este meio de
prova permite retirar a frieza do julgamento e dar ao juiz a visão mais próxima da realidade,
como um homem comum por formas a entender o “porquê” das alegações e pretensões
apresentas pelas partes.”

No mesmo sentido, com base no texto do artigo 390º e 391º do CC, 80% dos
inqueridos afirmam que este meio de prova visa oferecer ao juiz a perceção directa dos factos.
A primeira hipótese foi parcialmente comprovada pela entrevistada ao afirmar que: “isso
dependerá do tipo de processo, haverão aqueles como o embargo de obra nova, normalmente
vou logo para a inspecção.

Mas noutros tipos de processo a chave poderá ser outro meio de prova. A relevância
varia de caso para caso.” A segunda foi totalmente comprovada pelo texto do artigo 390º do e
pelas afirmações da entrevistada que afirma que: “A aproximação do juiz com os factos dá,
uma melhor decisão à situação.

Na prova por inspeção o juiz se coloca na posição daquele homem médio, simples
para entender melhor a situação. A ideia que a inspecção deve trazer ao processo é essa. O
juiz vai lá e tenta entender “por que é que ele fez essa e aquela alegação.”

Os objectivos forma alcançados na sua plenitude pois foi possível compreender os


traços característicos do Direito probatório, seja o formal como material ao longo do presente
trabalho. Foram ainda estudados os aspetos gerais da prova, o que permitiu fazer a sua
caracterização e classificação, bem como o seu escopo na busca da demostração da realidade
dos factos. Foi ainda abordado de forma exaustiva a inspecção judicial, estudando as suas
peculiaridade e generalidades. Por ser notória a necessidade de análise das caracteristas que
compõem este meio deprova, deve ser feito sempre um estudo frequente e constante.

As provas são para processo a peça chave para qualquer decisão. E a inspecção
judicial serve assim como uma ferramenta para dar a percepção directa dos factos ao juiz da
causa.

Acha-se apropriado concluir esclarecendo que a realização da inspecção judicial


permite transformar um julgamento distante, sujeito às imperfeições inerentes às provas
indirectas, num julgamento muito mais próximo da realidade, permitindo ao juiz maior
segurança na formação do respetivo convencimento. Por ser uma observação ocular do
próprio magistrado acerca dos factos, coisas e pessoas envolvidas no litígio, a inspecção

56
judicial contribui de maneira diferenciada para a instrução e, consequentemente, para a
prolação de sentenças comprometidas com a verdade real.

SUGESTÃO
Na sequência das pesquisas feitas ao longo da elaboração do presente Trabalho de Fim
de Curso e em consequência das conclusões delas retiradas acha-se oportuna a formulação de
algumas sugestões:

É necessário que o legislador e os doutrinadores ofereçam maior amplitude ao estudo


da inspecção judicial, pois apesar de ser um meio de prova que, em algumas situações, pode
ser a única solução para a lide não lhe é oferecida a atenção que se entende necessária do
ponto de vista doutrinal;

O estudo frequente, amplo e actual deste meio de prova pois, porquanto nota-se ainda
alguma falta de domínio entre os operadores de Direito:

57
A criação de mecanismo que permitam a substituição da Relação à 1ª instância no
julgamento de um facto cuja realidade tenha sido estabelecida a partir da inspecção judicial,
por forma a evitar que se sustente a insindicabilidade da convicção do juiz a quo, formada

com base nessa prova;

A adoção sempre que necessária da inspecção para que o aplicador do Direito tenha o
contacto directo com os factos por forma a cumprir-se a função geral de demostração da
realidade dos factos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2019.
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melhor verificação ou interpretação dos factos. Data Venia Revista Jurídica Digita. Portugal,
5ª Edição, p. 5-32, Janeiro, 2016. Disponível em: https://www.datavenia.pt/edicoes/82-
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58
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Edição. Lisboa. Edições Colibri, 2009.
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual
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“Normatização de trabalhos académico no IMETRO”. 1ª Edição. Luanda, 2014.
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de acordo com o Dec. Lei 242/85. 2ª Edição, Coimbra: Coimbra Editora. 2004.
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LEGISLAÇÕES:
1. Constituição da República de Angola. 1ª Ed. Luanda. Imprensa Nacional. 2010.
2. Código Civil Angolano (decreto-lei nº 47 344 de 15 de Novembro de 1966).
3. Código de Processo Civil (decreto-lei nº 44 129 / 1961 de 28 de Dezembro)
4. Estatuto dos Magistrados Judiciais e do Ministério Público (Lei nº 7/94 de 29 de
Abril)

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