Você está na página 1de 10

DA PREPARAÇÃO DO

PROCESSO PARA JULGAMENTO


EM PLENÁRIO.
Artigo Científico

Resumo
O presente artigo visa abordar com mais clareza os pontos deste assunto que é de suma
importância no processo de julgamento pelo júri [...]

Ana Vitória e Karolina de Sousa


Resumo.

O processo de julgamento pelo tribunal do júri é, de longe, um dos assuntos mais


aguardados a ser abordado pelos professores, por parte dos estudantes de Direito, e mais
ainda, pelos amantes de Direito Penal. Como dito acima, a preparação do processo para
julgamento em plenário é um assunto de suma importância nessa esfera processual, pois aqui
já se tem passado a fase inicial do processo do júri (1º fase), ou seja, houve uma sentença de
pronúncia no processo que já não cabe mais recurso, assim, ocorreu a preclusão, e os autos
devem ser encaminhados para serem julgados pelo Tribunal do Júri. No entanto, para chegar
no dia do julgamento, é necessário que sejam obedecidos alguns quesitos, estes estão
elencados nos artigos 422 ao 424 do Código de Processo Penal. Serão explanados os pontos
que tocam estes artigos, afim de esclarecer eventuais questionamentos sobre o tema. Também
serão abordados os temas de Pronúncia, Impronúncia e Absolvição Sumária, posto que só a
partir de um desses institutos é que será partida para segunda fase do processo, a preparação
do processo para julgamento em plenário.
Palavras chave: processo; tribunal do júri; plenário.

SUMMARY: The jury trial process is, by far, one of the most awaited subjects to be
addressed by professors, by law students, and even more, by lovers of criminal law. As stated
above, the preparation of the case for judgment in plenary is a matter of paramount
importance in this procedural sphere, as the initial stage of the jury process (1st stage) has
already passed here, that is, there was a sentence of pronouncement in the process that there is
no longer any appeal, thus, the preclusion occurred, and the records must be forwarded to be
judged by the Jury Court. However, to arrive on the day of the trial, it is necessary to obey
some requirements, these are listed in articles 422 to 424 of the Code of Criminal Procedure.
The points that touch these articles will be explained, in order to clarify any questions on the
subject. The topics of Pronunciation, Pronunciation and Summary Acquittal will also be
addressed, since only from one of these institutes will the second phase of the process be
started, the preparation of the process for judgment in plenary.

KEYWORDS: process; court of jury; plenary.


Introdução.

Como visto, para chegar na preparação para que o processo seja julgado em plenário
é necessário que tenha havido uma sentença de pronúncia, para relembrar o leitor do que se
trata a pronúncia no processo, o promotor de Justiça e Autor renomado de livros de Direito,
Renato Brasileiro de Lima leciona que:
“1. Pronúncia: a decisão de pronúncia encerra um juízo de admissibilidade da acusação de
crime doloso contra a vida, permitindo o julgamento pelo Tribunal do Júri apenas quando
houver alguma viabilidade de haver a condenação do acusado. Assim, se o juiz sumariante
estiver convencido da existência do crime e da presença de indícios suficientes de autoria ou
de participação, deve pronunciar o acusado, de maneira fundamentada. Há na pronúncia um
mero juízo de prelibação, por meio do qual o juiz admite ou rejeita a acusação, sem qualquer
valoração acerca do mérito. Julga-se admissível o ius accusationis. Restringe-se à verificação
da presença do fumus boni iuris, admitindo todas as acusações que tenham ao menos
probabilidade de procedência. Em regra, a decisão de pronuncia é proferida após a
apresentação das alegações orais pelas partes, ao final da l° fase do judicium accusationis.”
A pronúncia é tida como a “única saída” para o réu que não foi impronunciado ou
que não foi absolvido sumariamente.
Sobre a impronúncia, o artigo 414 do CPP demonstra que: “Não se convencendo da
materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o
juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado.” Sabendo que as provas e indícios
servem para o convencimento do juiz, se o mesmo não estiver convicto da existência de
requisitos para que o processo seja levado adiante, cabe a ele fundamentar e impronunciar o
acusado, fazendo com que os autos voltem para o MP ou para o querelante.
Renato Brasileiro esclarece sobre a Absolvição Sumária que: “para que o acusado
seja absolvido sumariamente, é necessário um juízo de certeza. De fato, como se pode
perceber pela própria redação dos incisos do art. 415 -provada a inexistência do fato, provado
não ser ele autor ou partícipe, o fato não constituir infração penal, ou demonstrada causa de
isenção de pena ou de exclusão do crime - a absolvição sumária, por subtrair dos jurados a
competência para apreciação do crime doloso contra a vida, deve ser reservada apenas para as
situações em que não houver qualquer dúvida por parte do magistrado. Como bem esclarece
Badaró (op. cit. p. 88), "a prova, quanto à existência ou materialidade do fato, poderá gerar no
juiz três estados de convencimento. O magistrado poderá ter certeza de que o fato material
existiu, caso em que estará presente um dos requisitos da pronúncia. No caso de haver dúvida
se o fato existiu ou não, deverá impronunciar o acusado, porque não estará convencido da
materialidade do fato (CPP, art. 414, caput). Por fim, poderá o juiz ter certeza de que o fato
material não existiu, quando deverá aplicar a nova hipótese de absolvição sumária”

DA PREPARAÇÃO DO PROCESSO PARA


JULGAMENTO EM PLENÁRIO.

Com a reforma da lei 11689 de 2008, os artigos referentes ao Tribunal do Júri


tiveram mudanças precisas, objetivando, entre outros, a celeridade processual. Antes da
reforma, a 2º do processo do Tribunal do Júri iniciava-se com a apresentação do chamado
libelo acusatório, que consistia no fato de o Ministério Público fazer um resumo de todo o
conteúdo do processo, desde a denúncia e diligências cumpridas, à indicação das
circunstâncias agravantes, expressamente definidas na lei penal, e de todos os fatos e
circunstâncias que deviam influir na fixação da pena e na indicação da medida de segurança
aplicável. O Código de processo Penal também previa que o MP deveria listar no libelo todas
as circunstâncias agravantes, do contrário poderia ter como pena a preclusão. Depois da
reforma, abriu-se a oportunidade de o Ministério Público listar as essas circunstâncias
agravantes em plenário. Guilherme de Souza Nucci, sobre o que era o libelo acusatório,
discorre que:
“No procedimento do Júri, enquanto a denúncia tem por fim expor o fato delituoso para provocar um
juízo de admissibilidade da acusação (pronúncia), sem invasão do mérito da causa, o libelo-crime
acusatório era justamente a peça formal da acusação, que visava à exposição do fato criminoso, filtrado
pela denúncia, ao Tribunal Popular, constituindo a pretensão punitiva do Estado e pretendendo um
julgamento de mérito.”
Atualmente, a 2º fase desse processo, inicia-se imediatamente após a preclusão da
denúncia. De acordo com o artigo 422 do Código de Processo Penal, o juiz “presidente do
Tribunal do Júri, determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante, no
caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco) dias, apresentarem rol de
testemunhas que irão depor em plenário, até o máximo de 5 (cinco) [...]”
Sobre o arrolamento de testemunhas, é importante salientar que qualquer testemunha
pode ser arrolada na fase de preparação do processo. Sendo assim, independentemente de a
testemunha ter sido ouvida ou não, no inquérito ou na primeira fase do procedimento do júri,
é perfeitamente possível que a mesma seja arrolada para depor em plenário. No número
máximo de testemunhas, não se contam os informantes, as testemunhas referidas e o
ofendido.
Ainda de acordo com o art. 422 do CPP, a parte final do referido artigo expõe “ oportunidade
em que poderão juntar documentos e requerer diligência”. Renato Brasileiro leciona sobre
esse ponto:
“o art. 422 do CPP prevê o momento procedimental adequado para as partes indicarem as
provas que pretendem produzir no plenário do júri. Enfim, podem não apenas arrolar
testemunhas que irão depor perante os jurados, mas também juntar documentos e requerer
diligências (v.g. reconstituição do crime, complementação do laudo pericial, etc.). Apesar do
caráter facultativo dessa manifestação, é bom lembrar que, não se pronunciando a parte nesse
momento, estará preclusa a oportunidade de requerer a produção de provas no plenário do
júri, sem que se possa objetar eventual cerceamento da acusação (ou da defesa).”

Art. 423 do Código de Processo Penal.

O artigo ora citado, tem um caráter “organizador” no processo. De acordo com ele, o
processo deve está devidamente sanado, ou seja, com todas as diligências cumpridas, provas
devidamente apresentadas, para que possa ser levado a julgamento pelo Tribunal do júri.
O caput do artigo 423 do CPP, juntamente com o inciso I expõe que:
“Art. 423.  Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem produzidas ou exibidas no
plenário do júri, e adotadas as providências devidas, o juiz presidente:
I - ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou esclarecer fato que
interesse ao julgamento da causa.”
Assim, o juiz determinará que a realização de diligências requeridas pelas partes
interessadas ou mesmo determinadas de ofício pelo próprio juiz, tanto para sanar qualquer
nulidade, quanto para esclarecer qualquer fato que seja relevante para o julgamento da causa.
Neste sentido, Renato Brasileiro leciona que:
“Diante do indeferimento de diligência que não seja manifestamente irrelevante, impertinente
ou protelatória, a parte poderá impugnar a matéria em preliminar de futura e eventual
apelação. Nesse caso, diante de resultado adverso na sessão de julgamento, afigura-se cabível
apelação sob o argumento de que ocorrera nulidade após a pronúncia, consubstanciada em
cerceamento da acusação ou da defesa (CPP, art. 593, II, "a"). Proclamada a nulidade pelo
juízo ad quem, o processo terá que ser renovado a partir da decisão de indeferimento da
diligência, a qual, desta vez, terá que ser realizada.”
O inciso II, do mesmo artigo, expõe que:
“II - fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em pauta da reunião do
Tribunal do Júri.”
Têm-se previsto que o juiz fará um relatório suscinto do processo. Vale salientar que
antes da reforma da processual em 2008, o relatório feito pelo juiz era lido logo após o
interrogatório do acusado. Com o advento da reforma (lei 11.689/08), esse resumo do
processo passa a ser feito pelo juiz com o fim de preparação do processo para julgamento em
plenário, que deve ser entregue aos jurados logo após a formação do Conselho de Sentença,
assim determinado pelo artigo 472, parágrafo único do CPP.
Sobre o mesmo assunto, autor Renato Brasileiro leciona que:
“Como se percebe, antes das mudanças, os destinatários desse relatório eram não apenas as
partes, como também os jurados e o público. Com a nova sistemática, que visou imprimir
maior celeridade ao julgamento, evitando-se a leitura da peça em plenário, o relatório passa
ser entregue aos jurados após a formação do conselho de sentença, permitindo, assim, que os
jurados possam conhecer as teses de acusação e defesa apresentadas até aquele momento, bem
como as provas constantes do processo.”
Salienta-se também que, no relatório em questão, é proibido ao juiz, que exponha suas
opiniões pessoais sobre o caso, sob risco de exercer influência indevida no animus judicandi
dos jurados.”
Neste mesmo sentido, Guilherme de Souza Nucci também adverte:
“deve constar deste relatório: a) resumo do conteúdo da denúncia ou queixa; b) resumo da
resposta à acusação apresentada pela defesa, com suas alegações preliminares e/ou exceções:
c) elenco das provas (basta enumerar e não detalhar uma por uma) colhidas ao longo do
inquérito, em especial as periciais, que não são refeitas; d) elenco das provas (basta enumerar
e não detalhar uma por uma) colhidas na fase de formação da culpa; e resumo do conteúdo do
interrogatório do réu, em especial se levantou e qual foi a sua tese de autodefesa (se preferiu
valer-se do direito ao silêncio, basta mencionar o fato, sem valoração alguma); f) resumo do
conteúdo das alegações finais das partes; g) resumo do conteúdo da pronúncia, acolhendo
e/ou rejeitando as teses das partes (se houve impronúncia, desclassificação ou absolvição
sumária, expor o resumo do seu conteúdo, fazendo menção à reforma pelo Tribunal; h)
exposição de pontos excepcionais, como, por exemplo, se houve decretação da prisão
preventiva ou prisão em flagrante, concessão ou negativa de liberdade provisória, cumulada
ou não com medidas cautelares diversas da prisão, recurso contra a pronúncia e resultado do
acórdão; i) se houve aditamento à denúncia e alteração da pronúncia, após a preclusão; j)
quais as provas requeridas e, eventualmente, realizadas na fase de preparação do plenário.”

Art. 424 do Código de Processo Penal.

Este artigo trata da competência para o preparo do processo para julgamento. Assim diz o
referido:
Art. 424.  Quando a lei local de organização judiciária não atribuir ao presidente do Tribunal
do Júri o preparo para julgamento, o juiz competente remeter-lhe-á os autos do processo
preparado até 5 (cinco) dias antes do sorteio a que se refere o art. 433 deste Código.
Paragrafo único. Deverão ser remetidos, também, os processos preparados até o encerramento
da reunião, para a realização de julgamento.
O que acontece é que, às vezes, em tribunais em que a demanda de processos são
maiores que em outros, é comum que nestas ocasiões o juiz que “organiza” o processo é
diferente daquele que vai julga-lo. Sendo assim, o juiz que organiza o processo, deve remetê-
lo ao juiz presidente do Tribunal do Júri até 5 dias antes do sorteio dos jurados. Por exemplo,
no dia a dia de uma Vara Criminal tem-se muitos processos, principalmente naquelas em que
funciona um Tribunal do Júri. Nessas situações, geralmente existe um juiz que cuida do dia a
dia, de audiências corriqueiras, e há também um juiz que cotidianamente preside um júri.
Neste caso, o juiz que organizou o processo, que presidiu a instrução criminal, a investigação
em primeiro grau, não é o mesmo que vai julgar o processo no Tribunal do Júri, então por isso
há a necessidade dessa transição.

Princípio da Plenitude de defesa.

É um princípio explicitamente assegurado pela Constituição Federal em seu artigo


5º: XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei,
assegurados: a) a  plenitude de defesa;
Como bem exposto, trata-se de um princípio que resguarda ao acusado o direito de
defender-se e ser defendido de maneira plena, ou seja, absoluta, que não se prendem apenas a
argumentos jurídicos. Trata-se de um princípio exclusivo ao Tribunal do Júri, visto que nessa
esfera são julgados apenas crimes dolosos contra a vida. É possível levar argumentos
totalmente desprendidos do mundo jurídico, sejam eles religiosos, sociológicos, políticos,
morais, etc. já que o alvo a ser convencido, como se sabe, são pessoas leigas de
conhecimentos técnicos, não seria possível limitar à técnica a ferramenta desse
convencimento.
No mesmo artigo, também se encontra o princípio da ampla defesa:
“LV - Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e  ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”, que
não se confunde com o princípio acima citado. Aqui trata-se de uma defesa garantida tanto
nos processos judiciais como nos administrativos, e ao contrário da plenitude de defesa,
prende-se aos meios técnicos de provas, dando o direito de produzi-las, de contraditar
testemunhas, de conhecer os documentos anexados no processo, enfim, é um princípio que
tem sua atuação especificada/limitada.

Considerações finais.

É importante falar sobre o princípio da plenitude de defesa pois no ordenamento


jurídico brasileiro, tem-se um leque de possibilidades muito vasto para acusar alguém de
determinado crime. Por isso, o legislador procurou uma maneira de balancear esta balança,
que as vezes, não é tão justa assim, então, nada mais coerente que dar a plenitude a quem quer
e precisa de uma defesa não limitada.
Como dito no início, este artigo tem o intuito de nos trazer maiores esclarecimentos
sobre um assunto que, ao mesmo tempo parece de fácil compreensão, também possa que seja
confuso em alguns detalhes.
Foi importante exemplificar o instituto da pronúncia porque a partir dela que se dar
início a segunda fase do processo no tribunal do júri, processo este que requer o cumprimento
a risca de cada um de seus requisitos, visto que se trata de julgamento de crime doloso contra
a vida, tanto para dar uma resposta a sociedade sobre este determinado crime, quanto para
aquele que está sendo levado à julgamento.
O Tribunal do Júri é um importante veículo de participação popular no sistema de
justiça criminal, uma vez que os jurados são cidadãos comuns selecionados para decidir sobre
a culpa ou não do réu. Essa participação é vista como um meio de garantir a imparcialidade e
a representatividade no julgamento de crimes dolosos contra a vida.
Como bem leciona Marcio Schelee Gomes: “o Tribunal do Júri representa a Justiça
realizada pelos próprios cidadãos. Tem sua origem na luta do povo contra os poderes
imperiais, soberanos, impondo que os julgamentos fossem resultado de um processo analisado
pelos próprios membros da comunidade”

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Lima. Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal: comentado. 6º Edição. ver., atual. e
ampl. – Salvador: Juspodivm, 2021.
GOMES, Márcio Schlee – Júri: Limites Constitucionais da Pronúncia. 1º ed. Porto Alegre:
Sergio Antônio Fabris Editor, 2010.
NUCCI, Guilherme de Souza – Tribunal do Júri. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2008.

Você também pode gostar