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Curso de
SENTENÇA
PENAL
Técnica • Prática • Desenvolvimento de habilidades
6ª
edição
revista e
atualizada
2023
C apítulo II
ESTRUTURAÇÃO E
DESENVOLVIMENTO DA SENTENÇA
(Fabrício Castagna Lunardi)
1. R
EQUISITOS DA SENTENÇA
1. “Na relação processual o juiz é o eixo do procedimento penal. A lei regula sua atividade, pro-
curando torná-la capital. Mesmo falha a atividade das partes principais – o Ministério Público,
o réu ou seu defensor –, se o juiz cumprir realmente, com rigor, suas atribuições na relação
processual, a apuração da verdade – objeto do processo – será quase sempre conseguida.”
(BITTENCOURT, Edgard de Moura. O juiz. 3. ed. Campinas, SP: Millennium, 2002. p. 87)
CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende
2. F
ORMA DE EXPOSIÇÃO DOS ELEMENTOS DA SENTENÇA
A divisão entre relatório, fundamentação e dispositivo pode ser feita
em itens separados ou subentendida em um só texto. Neste caso, existem
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Capítulo II • ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SENTENÇA
Forma 1:
I. RELATÓRIO
II. FUNDAMENTAÇÃO
III. DISPOSITIVO
IV. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
V. DISPOSIÇÕES FINAIS
Forma 2:
Trata-se de [...]
É O RELATÓRIO. DECIDO.
[...]
ANTE O EXPOSTO, [...]
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CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende
3. PREÂMBULO
O preâmbulo, também chamado por alguns autores de cabeçalho5, é a
indicação sintética do órgão julgador, do número do processo, do tipo de
ação e das partes processuais.
Há autores que afirmam que também devem constar no preâmbulo o
nome do representante do Ministério Público e dos advogados ou defensores
do réu6, embora isso seja mais comum em decisões de tribunais.
Por não se apresentar, no Código de Processo Penal, como requisito da
sentença, não gera nulidade a ausência de preâmbulo.
De qualquer forma, na praxe judicial, a colocação do preâmbulo é re-
corrente, porque, mediante fácil visualização, qualquer um pode rapidamente
identificar o processo.
Em alguns tribunais, o sistema informatizado já formata o preâmbulo, a
exemplo do que ocorre no TJDFT. O preâmbulo formatado pelo sistema deste
Tribunal é o seguinte:
5. JANSEN, Euler. Manual de sentença criminal. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. pp. 9/10.
6. JANSEN, Euler. Manual de sentença criminal. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. p. 10.
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Capítulo II • ESTRUTURAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SENTENÇA
4. EMENTA
7. Naturalmente, será preciso avaliar o histórico de cada certame, bem como eventual preferência
do examinador responsável pela elaboração e correção da prova. Além disso, na eventualidade
de ser exigida a sua elaboração, é preciso evitar sempre a identificação do candidato (inserção
de informação não prevista no enunciado ou alocação de grande variedade de elementos do
feito etc.). Ademais, deve se considerar a limitação de linhas para a resolução da prova de
sentença. Por fim, comumente se trata de parte que não é pontuada nos espelhos de correção
dos examinadores.
8. Nos enunciados recentes das provas de sentença penal, nenhum concurso da magistratura
estadual e federal exigiu a elaboração de ementa.
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CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende
5. R
ELATÓRIO DA SENTENÇA CRIMINAL
5.1. Funções do relatório
5.2. Questões redacionais
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1. FURTO
A aposta na apresentação de questionamento envolvendo o crime de
furto é uma das mais conservadoras a se fazer quando da preparação para a
prova de sentença penal2, ainda mais ante a expressiva produção jurispru-
dencial recente não só sobre a sua consumação, mas também a respeito da
incidência ou não de suas qualificadoras e figura privilegiada.
Com efeito, após a devida afetação de vários recursos à sistemática dos
repetitivos (CPC/73, art. 543-C; CPC/15, art. 976), o Superior Tribunal de
Justiça assentou várias teses jurídicas em alinhamento com a jurisprudência
do STF, sendo necessário realçar que a fixação do momento consumativo do
crime de furto certamente foi a mais relevante delas.
Seguindo orientação plenária do Supremo Tribunal Federal, o STJ con-
solidou a adoção da teoria da apprehensio (ou amotio), segundo a qual se
considera consumado o delito de furto quando, cessada a clandestinidade, o
agente detenha a posse de fato sobre o bem, ainda que seja possível à vítima
retomá-lo, por ato seu ou de terceiro, em virtude de perseguição imediata,
afastando-se, assim, a obrigatoriedade de verificação da posse mansa e pací-
fica ou desvigiada da res furtiva3.
Em outro julgado também importante, fixou-se a rejeição da tese de cri-
me impossível para o caso de furto em localidade guarnecida por sistema de
segurança e vigilância eletrônica, sob o argumento de que tais sucedâneos de
proteção não implicam impedimento absoluto à prática do crime, que poderia
se consumar ante falhas técnicas do equipamento ou dos responsáveis pela
vigília e análise das imagens gravadas4.
2. Crime cobrado na última prova do concurso do TRF 1ª Região, com provas realizadas no ano de
2015, e no concurso promovido pelo Tribunal de Justiça da Paraíba no ano de 2015. Também
foi objeto da última prova de sentença do TJMG.
3. Desse modo, quando for levantada tese defensiva no sentido de se considerar o crime em sua
forma tentada pelo fato da posse mansa e pacífica da res furtiva não ter se materializado, essa
deve ser rejeitada com fundamento na orientação trazida pelos Tribunais Superiores, de maneira
a se considerar que a consumação do crime depende apenas da simples inversão da posse, após
cessada a clandestinidade da conduta delitiva – teoria da amotio ou apprehensio (REsp 1524450/
RJ, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 29/10/2015).
4. STJ. REsp 1385621/MG, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/05/2015, DJe 02/06/2015. Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 567: “Sistema de vigi-
lância realizado por monitoramento eletrônico ou por existência de segurança no interior de
estabelecimento comercial, por si só, não torna impossível a configuração do crime de furto”.
De igual modo, quando a tese de crime impossível for levantada pela defesa, sua rejeição
depende apenas dos argumentos acima plasmados, especialmente a falta de subsunção da
hipótese à previsão legal trazida no artigo 17 do CP.
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Capítulo III • ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS
5. STJ. REsp 1193932/MG, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, jul-
gado em 22/08/2012, DJe 28/08/2012. Nesse sentido, o STJ editou a Súmula 511: “É possível
o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do artigo 155 do CP nos casos de crime de
furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da causa
e a qualificadora for de ordem objetiva”. Assim como nas hipóteses anteriormente descritas,
caso a defesa apresente pedido no sentido de reconhecimento do privilégio para o delito em
sua forma qualificada, o magistrado poderá deferir o pleito, fazendo uso, por certo, e à luz
do caso concreto, dos argumentos e requisitos delineados pelo STJ. Confira-se ainda recente
precedente nesse sentido: (AgRg no REsp 1825972/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 27/08/2019, DJe 10/09/2019).
6. Atenção para o fato dessa figura ser considerada crime hediondo, conforme previsão da Lei n.
13.964/19.
7. Art. 155, § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver empre-
go de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018); (...) § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração
for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem
sua fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018).
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CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende
à sua vigência, por força do artigo 5º, XL, da CF (somente é admitida a retro-
ação da lei penal em benefício do réu)8.
No que tange às novidades jurisprudenciais, importante mencionar dois
julgados recentes do STJ, sob a sistemática dos recursos repetitivos. O pri-
meiro se refere à impossibilidade de uso da causa de aumento prevista no §1º
do artigo 155 do CP (prática do delito no período noturno) no caso de crime
de furto qualificado (CP, art. 155, § 4º)9. Segundo consignado, por ser uma
norma incriminadora, a regra do artigo 155, §1º, do CP tem sua extensividade
vedada, sendo vedado o uso de raciocínio analógico integrativo no Direito
Penal quando a situação de prejuízo ao acusado for verificada.
Por sua vez, o segundo julgado sedimentou a orientação no sentido
de que no crime de furto praticado durante o repouso noturno, o fato de as
vítimas estarem ou não dormindo no momento do delito, é irrelevante, assim
como o local da ocorrência do ato criminoso (em estabelecimento comercial,
via pública, residência desabitada ou em veículos), sendo exigido apenas,
nesse último caso, que seja cometido à noite e em situação de repouso10.
Por fim, colaciona-se abaixo quadro esquemático com algumas alegações
passíveis de questionamento quanto ao crime de furto, com a consequente
resposta ao lado, devidamente acompanhada da citação jurisprudencial apli-
cável para fins de resolução do problema.
8. Questão interessante sobre a nova dicção legal diz respeito à falta de diferenciação das pe-
nas (4 a 10 anos) nas hipóteses de furto com explosivos e de explosivos, situação essa não
repetida no crime de roubo, onde há diferença entre as causas de aumento para o roubo
de explosivos (1/3 até a metade) e com explosivos (2/3) – Art. 157, § 2º, VI, e § 2-A, II.
9. STJ, REsp n. 1.888.756/SP, relator Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Seção, julgado
em 25/5/2022, DJe de 27/6/2022.
10. STJ. REsp n. 1.979.989/RS, relator Ministro Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, julgado em
22/6/2022, REPDJe de 30/06/2022, DJe de 27/6/2022.
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Capítulo III • ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS
11. Sobre o ponto, confira-se o seguinte aresto do STJ: (...) A jurisprudência desta Corte Superior não
admite a aplicação do princípio da insignificância se o valor da res furtiva equivale a mais de 10 %
do salário mínimo vigente à época do fato, isso porque a lesão jurídica provocada não é inexpres-
siva (AgRg no AREsp 1062163/MS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado
em 04/10/2018, DJe 19/10/2018). Em recente precedente o STJ assentou que “não se aplica o
princípio da insignificância ao furto de bem de inexpressivo valor pecuniário de associação sem fins
lucrativos com o induzimento de filho menor a participar do ato” (RHC 93.472/MS, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 15/03/2018, DJe 27/03/2018).
12. STF. HC 128130, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em 08/09/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-189 DIVULG 22-09-2015 PUBLIC 23-09-2015.
13. Agravo regimental em habeas corpus. 2. Furto. Insignificância. No julgamento conjunto dos HC
123.108, 123.533 e 123.734, o STF fixou orientação sobre a aplicação do princípio da insignificância
aos casos de furto – Rel. Min. Roberto Barroso, Pleno, julgados em 3.8.2015. Decidiu que, se a coisa
subtraída é de valor ínfimo (i) a reincidência, a reiteração delitiva e a presença das qualificadoras do
art. 155, § 4º, devem ser levadas em consideração, podendo acarretar o afastamento da aplicação
da insignificância; e (ii) nenhuma dessas circunstâncias determina, por si só, o afastamento da in-
significância, cabendo ao juiz analisar se a aplicação de pena é necessária. Além disso, conclui que,
(iii) uma vez aplicada pena privativa de liberdade inferior a quatro anos de reclusão ao reincidente, o
juiz pode, se considerar suficiente, aplicar o regime inicial aberto, afastando a incidência do art. 33,
§ 2º, “c”, do CP. 3. As instâncias ordinárias têm margem larga para avaliação dos casos, concluindo
pela aplicação ou não da sanção e, se houver condenação, fixando o regime. Essa atividade envolve
análise do conjunto das circunstâncias e provas produzidas no caso concreto. Apenas em hipóteses
excepcionais a via do habeas corpus será adequada a rever condenações. 4. Aplicação do princípio
da insignificância. Subtração de aparelho celular, avaliado em R$ 72,00 (setenta e dois reais). Rein-
cidência específica. O paciente registrava uma série de condenações e antecedentes, indicando que o
furto em questão não fora uma ocorrência criminal isolada em sua vida. 5. Agravo regimental a que se
nega provimento. (STF. HC 126174 AgR, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado
em 26/04/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-092 DIVULG 06-05-2016 PUBLIC 09-05-2016).
14. No STJ, vários arestos caminham em sentido oposto, no sentido de barrar a possibilidade
de aplicação do princípio da insignificância para o caso de furto qualificado pela escala-
da, destreza, rompimento de obstáculo ou concurso de agentes, ao argumento de que a re-
provabilidade da conduta seria óbice não contornável na espécie. Nesse sentido: AgRg no
REsp 1899462/DF, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 09/02/2021, DJe 12/02/2021; AgRg no AREsp 1511333/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
SEXTA TURMA, julgado em 13/08/2019, DJe 27/08/2019; AgRg no AREsp 1272319/PR, Rel.
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Teses passíveis de cobrança Argumento para resolução
Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe 10/10/2018. Igual
argumento é utilizado pelo STJ para manter o entendimento da inviabilidade de se reconhecer
a insignificância na hipótese de habitualidade delitiva e reincidência. Nesse sentido: AgRg no
HC 627.232/RS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 09/02/2021, DJe
12/02/2021; AgRg no HC 455.694/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 11/12/2018, DJe 04/02/2019; STJ. AgRg no REsp 1558235/MG, Rel. Ministro ROGERIO
SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 24/05/2016, DJe 06/06/2016; STJ. AgInt no AREsp
905.030/ES, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 28/06/2016,
DJe 01/08/2016. Todavia, alguns arestos já sinalizam a adoção do entendimento do STF. Nesse
sentido: HC 445.784/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 09/10/2018,
DJe 29/04/2019; STJ. HC 360.863/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 30/06/2016, DJe 01/08/2016.
15. PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. FURTO QUALIFICADO TENTADO. ESCALA-
DA. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. RECONHECIMENTO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PROVA
PERICIAL. FURTO SIMPLES TENTADO. CONDENAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO.
1.No julgamento do REsp n. 1.320.298/MG, a Sexta Turma desta Corte Superior examinou a
possibilidade de, em razão das particularidades do caso concreto e em respeito ao sistema de
livre apreciação da prova, reconhecer a incidência da qualificadora da escalada nos delitos de
furto quando sua ocorrência for incontroversa nas provas colhidas nos autos, a despeito da
ausência de laudo pericial que a ateste. Na oportunidade – na qual fiquei vencido -, firmou-se
o entendimento de que o exame pericial é imprescindível para a configuração da qualificadora
da escalada. 2. Em relação à qualificadora do rompimento de obstáculo, não é diferente a
conclusão das duas Turmas que compõem a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça. Pre-
cedentes. (AgRg no AREsp 644.717/PA, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA,
julgado em 10/05/2016, DJe 19/05/2016). E também: HC 521.617/SC, Rel. Ministro RIBEIRO
DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 10/10/2019, DJe 15/10/2019; AgRg no AREsp 1318701/
RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 02/10/2018,
DJe 11/10/2018; AgRg no REsp 1735124/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
julgado em 20/09/2018, DJe 28/09/2018.
16. STJ, AgRg no REsp n. 1.895.487/DF, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma,
julgado em 26/4/2022, DJe de 2/5/2022.
268
Capítulo III • ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS
17. STJ. REsp 1395838/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em
20/05/2014, DJe 28/05/2014.
18. STJ. AgRg no AREsp 230.117/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
24/02/2015, DJe 03/03/2015. Nesse caso, considerando que esse entendimento é mais recen-
te, e da mesma turma, sua adoção se mostra mais acertada para a hipótese.
19. Para a hipótese de quebra de vidro do veículo para o furto do aparelho de som, o STJ assentou
que mostra-se aplicável a qualificadora do rompimento de obstáculo, pois o vidro danificado
dificultava a ação do autor, e, ademais, não era parte integrante da res furtiva visada, no caso,
o som automotivo (HC 328.896/DF, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado
em 05/04/2016, DJe 15/04/2016). E também: AgRg no AREsp 783.675/SP, Rel. Ministro RO-
GERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe 09/03/2016.
20. Súmula 442 do STJ: “É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a
majorante do roubo”. Nesse sentido: STJ. AgRg no REsp 981.990/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 29/05/2008, DJe 30/06/2008.
21. STJ. RHC 92.194/MG, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado
em 08/02/2018, DJe 21/02/2018; HC 400.041/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 26/06/2018, DJe 02/08/2018; HC 227.474/MG, Rel. Minis-
tra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/PE), Rel. p/ Acór-
dão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 02/04/2013, DJe
01/07/2014.
269
Teses passíveis de cobrança Argumento para resolução
22. STJ. HC 267.447/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 25/06/2013,
DJe 06/08/2013.
23. STJ. REsp 1503548/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
06/08/2015, DJe 26/08/2015.
24. Entendimento também aplicável ao crime de roubo.
25. STJ. AgRg no CC 161.363/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
24/04/2019, DJe 30/04/2019; STJ. CC 143.045/CE, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FON-
SECA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe 06/11/2015.
26. STJ. AgRg no CC 161.363/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
24/04/2019, DJe 30/04/2019; CC 133.751/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Rel. p/
Acórdão Ministro NEFI CORDEIRO, Terceira Seção, julgado em 24/9/2014, DJe 4/12/2014.
27. STJ. AgRg no HC 469.005/SP, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em
06/11/2018, DJe 13/11/2018; STJ. REsp 77.218/SP, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TUR-
MA, julgado em 12/03/1996, DJ 02/06/1997, p. 23864; STJ. HC 325.703/SC, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 15/09/2015, DJe 01/10/2015.
270
Capítulo III • ASPECTOS ESSENCIAIS DOS CRIMES MAIS COBRADOS NOS CONCURSOS
2. ROUBO
28. STJ. AgRg no REsp 1799613/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, jul-
gado em 28/04/2020, DJe 30/04/2020; RHC 101.299/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Rel.
p/ Acórdão Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2019, DJe
04/04/2019.
29. STJ. REsp 1499050/RJ, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
14/10/2015, DJe 09/11/2015. Nesse sentido, o STJ editou a súmula n. 582: “Consuma-se o
crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante o emprego de violência ou grave
ameaça, ainda que por breve período e em seguida à perseguição imediata ao agente e recu-
peração da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada”.
271
C apítulo V
PROVAS SIMULADAS
(Luiz Otávio Rezende)
mais comumente apreciados tanto na praxe forense quanto nos certames para
o ingresso na magistratura.
Não há nenhum exercício simulado de alta dificuldade, pois o objetivo
dessas formulações é tão somente permitir treinamento qualificado aos lei-
tores desse manual, visando lhes auxiliar a obter a técnica básica de feitura
da peça prática penal.
1. ENUNCIADOS
1.1. E
xercício 01 – crime contra a pessoa em situação de violência
doméstica
O Ministério Público ofereceu denúncia contra Julio Castro, dando-o
como incurso nas sanções do art. 129, § 9º, c/c o art. 61, I, (1º fato) e
do art. 147, caput, c/c o art. 61, I e II, “f”, (2º e 3º fatos), todos do CP,
na forma do art. 69, caput, do Estatuto Repressivo, e nos termos na Lei nº
11.340/06. Assim foram narrados os fatos:
“1º FATO: No dia 11 de novembro de 2021 (quinta-feira), por volta das 9
horas, nas dependências da residência situada na Rua Quadra X, nº 29, Bairro
Getúlio Vargas, em Ijuí/RS, o denunciado Julio Castro, ofendeu a integrida-
de corporal da vítima Thayane Silva, sua companheira, ocasionando-lhe as
lesões corporais de natureza leve descritas no auto de exame de corpo de
delito da fl. 21/IP, que refere “ao exame verifica-se na face externa do braço
esquerdo área de coloração arroxeada (equimose) com dois e meio centí-
metros de diâmetro máximo. Em região fronto-temporal esquerda, no couro
cabeludo verifica-se presença de área de infiltração subcutânea (edema) com
dois e meio centímetro de diâmetro médio”. Na oportunidade, o denunciado,
na condição de companheiro da vítima, ao chegar à residência do casal com
o comportamento alterado (possivelmente pelo consumo de substâncias en-
torpecentes), e após breve desentendimento com a vítima, razão de que ela
pediu a ele que comprasse fraldas para a filha do casal, agindo com violência
de ordem física contra a mulher (art. 7º, I, da Lei nº 11.340/06), passou a
agredi-la fisicamente, desferindo-lhe socos, tapas e pontapés, ocasionando-
-lhe, assim, as lesões corporais de natureza leve supramencionadas. Sinala-se
que, ao que consta, o denunciado e a vítima conviviam maritalmente por cer-
ca de dois anos. O denunciado é reincidente, conforme se verifica na Certidão
Judicial Criminal acostada às fls. não numeradas do IP.
2º FATO: Nas mesmas circunstâncias de tempo e local, logo após a prá-
tica do 1º fato, o denunciado Julio Castro ameaçou, mediante palavras, de
causar mal injusto e grave contra a vítima Thayane Silva, sua companheira.
366
Capítulo V • PROVAS SIMULADAS
367
CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende
que fazer, temendo por sua integridade física e psíquica”; (iii) autor do fato:
“que não desobedeceu a medida protetiva e não tentou se aproximar da víti-
ma, e que permanecerá em silêncio”.
Foram deferidas medidas protetivas em favor da vítima no dia 11/11/2021,
cumpridas no mesmo dia. Notícia pela vítima de descumprimento das medidas
do dia seguinte, o que ensejou decreto de prisão preventiva do réu.
Designada audiência nos termos do artigo 16 da Lei Maria da Penha, a
vítima compareceu e reiterou a representação manifestada perante a autori-
dade policial. O MP solicitou o recebimento da denúncia.
A denúncia foi recebida pelo MM. Juiz.
O acusado foi citado e apresentou resposta à acusação, pleiteando a
absolvição pelo fato de ter inexistido o crime narrado. A resposta foi apresen-
tada pela Defensoria Pública, e não foram arroladas testemunhas. A Defesa
pleiteou a gratuidade de justiça.
Ausente qualquer hipótese de absolvição sumária, foi designada audi-
ência de instrução e julgamento, na qual foi ouvida a vítima e tomado o
interrogatório do réu. Apesar de intimado (certidão de fl. XX e ciente aposto
à fl. XX), o representante do MP não compareceu à assentada, sendo que as
perguntas foram feitas pelo MM. Juiz e pela Defesa constituída.
Assim foram consignados os depoimentos:
Vítima: “que reitera o depoimento perante a autoridade policial; que
conviveu com o réu por quase três anos; que foi agredida pelo réu; que ele
saiu de casa e retornou no dia seguinte; que, no dia anterior, disse para ele
comprar fraldas para a filha, mas o réu retornou sem dinheiro para comprar as
fraldas, com outro indivíduo, e com drogas; que o réu fumou a droga e passou
a praticar os fatos, lhe agredindo na cabeça e na perna; que, além disso, lhe
ameaçou de morte, alegando que se fosse à Delegacia iria lhe matar; que não
visitou o réu na prisão, mas não sabia se iriam retomar o relacionamento; que
ficou com lesões no braço; que, no dia seguinte, também foi ameaçada, sendo
que o réu ficou em sua casa, de modo que teve que sair do local; que o réu
ameaçava sua mãe, a qual lhe telefonava e lhe contava; que o réu dizia que
colocaria fogo na sua casa, que lhe mataria, tendo inclusive colocado fogo
em um colchão; que somente sua mãe viu alguns fatos; que sua irmã Eleusa
somente lhe acompanhou à Delegacia; que não quer mais representar contra
o réu, mas disse não saber sobre a manutenção das medidas protetivas; que
não sabe se retomarão o relacionamento”;
Interrogatório: “que é inocente e, no mais, se reserva ao direito de per-
manecer em silêncio”.
368
Capítulo V • PROVAS SIMULADAS
2. ESPELHOS PADRÃO
2.1. Exercício 1
RELATÓRIO
– Exposição
sucinta da narrativa da denúncia e capitulação, bem
como teses defensivas e fatos processuais relevantes.
405
C apítulo VI
1. Vale o agradecimento aos colegas Débora Valle de Brito, Juíza Federal da Justiça Federal da 2ª Região – TRF
2ª Região, Paulo Augusto Moreira Lima, Juiz Federal da Justiça Federal da 1ª Região – TRF 1ª Região, e Ser-
gio Fernando Moro, à época Juiz Federal da Justiça Federal da 4ª Região – TRF 4ª Região, que gentilmente
enviaram várias peças por eles elaboradas envolvendo crimes submetidos à competência da justiça federal.
2. Quanto às sentenças cedidas envolvendo casos de competência da Justiça comum, cabe o especial agradecimen-
to aos amigos Ana Claudia Barreto, Aragonê Fernandes, Carlos Bismarck Piske de Azevedo Barbosa, Fabriziane
Figueiredo Stellet Zapata, Germano Oliveira Henrique de Holanda, Jorgina de Oliveira Carneiro e Silva Rosa, Maria
Graziella Barbosa Dantas, Ricardo Rocha Leite e Paulo Rogério Santos Giordano, todos Juízes da Justiça do Dis-
trito Federal e Territórios, e a Edison Ponte Burlamaqui, Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
1. ART. 140, § 3º, DO CP
452
Capítulo VI • SENTENçAS DE CASOS REAIS
1 – DA MATERIALIDADE
Compulsando os autos, verifico que a materialidade se encontra comprovada
pelos documentos juntados aos autos, mais especificamente pelo Ocorrência Poli-
cial (ID 90825054), bem como pela prova oral produzida ao crivo do contraditório e
da ampla defesa.
2 – DA AUTORIA
No que tange à comprovação da autoria, os elementos colhidos pela Auto-
ridade Policial, em cotejo com os depoimentos prestados na fase inquisitorial e
durante a instrução criminal, apontam que a acusada é a autora do crime de injúria
qualificada praticada contra as vítimas.
A acusada, por ocasião de seu interrogatório, exerceu o direito constitucional
de permanecer calada.
A vítima JOANA DA SILVA, em juízo, narrou os fatos conforme constam na
denúncia, dizendo que a ré, na presença de outras pessoas, disse que eram capeta,
demônio, satanás, e que jogaria sabão em pó e água sanitária. Afirmou que os
xingamentos foram proferidos em razão da religião, uma vez que é mãe de santo do
Candomblé e do Umbanda.
A versão da vítima foi corroborada pelas demais vítimas, bem como por Pe-
dro, que informou que são espíritas e estavam vestidos de roupas típicas da ati-
vidade religiosa quando foram xingados pela ré e outras pessoas. Afirmou que a ré
foi a que mais xingou, sendo que inclusive a acusada estava gravando a cena.
De acordo com o art. 140, do Código Penal, o crime de injúria é aquele que
ofende a dignidade e o decoro da vítima, sendo um crime cometido normalmente
por meio de xingamentos, que acabam por atingir a honra subjetiva da vítima (sua
autoestima).
Em algumas situações específicas, o legislador entendeu por bem qualificar a
conduta delitiva, prevendo uma pena maior para a injúria cometida em razão da
religião, como é o caso dos fatos em apuração.
Pelos depoimentos prestados em juízo, a acusada, na presença de outras pes-
soas, inclusive outros agressores e diante de várias vítimas, proferiu xingamentos
relacionados à religião das vítimas, qual seja, Candomblé e Umbanda.
453
CURSO DE SENTENÇA PENAL • Fabrício Castagna Lunardi | Luiz Otávio Rezende
Não são raros os casos em que os praticantes da religião das vítimas sofrem
com esse tipo de constrangimento à honra subjetiva, de modo que a conduta da
acusada, ao contrário do alegado pela Defesa, se amolda perfeitamente ao tipo
em questão. Vejamos o posicionamento deste E. TJDFT, em caso análogo: (Acór-
dão 1197781, 20170710085674APR, Relator: JOÃO TIMÓTEO DE OLIVEIRA, Revisor:
JAIR SOARES, 2ª TURMA CRIMINAL, data de julgamento: 29/8/2019, publicado no
DJE: 2/9/2019. Pág.: 289/304)
Dessa forma, não há se falar em ausência de provas. Passo a analisar as de-
mais teses defensivas.
3 – ATIPICIDADE DA CONDUTA
A Defesa, em alegações finais, requer a atipicidade da conduta ao argumento
de que “a vítima JOANA DA SILVA é conhecida na Candangolândia e todos sabem
das práticas realizadas por essa, e como mencionado acima, se houvesse perda na
honra subjetiva, a que as vítimas têm em relação a si mesmas, buscariam outros
locais para procurar as ervas e evitariam os transtornos causados”.
Dito de outra forma, a Defesa requer que seja reconhecida a atipicidade da
conduta ao argumento de que é notória a prática religiosa da vítima, dizendo que
se a vítima se sentiu ofendida, deveria buscar outro lugar para a prática religiosa,
para evitar transtornos.
Entendo, porém, que não se pode imputar à vítima a responsabilidade
pelos fatos narrados na denúncia.
Em um Estado laico, como o que vivemos, não é dado aos praticantes de
determinados segmentos religiosos achacarem, constrangerem ou embaraçarem a
prática religiosa diversa. Para defender sua crença, a pessoa não é autorizada a
hostilizar quem pensa de modo diferente. Também não se pode alegar liberdade
religiosa ou de expressão, na medida em que, como já decidiu a Corte Suprema, a
conduta mais se amolda ao chamado hate speech (discurso de ódio).
A convivência harmônica, sem preconceitos de qualquer ordem, é objetivo
fundamental de nossa República, plasmado no artigo 3º da Constituição Federal.
Aceitar comportamento diverso seria o mesmo de exigir a segregação de gru-
pos religiosos, cada qual em uma parte da cidade, o que não se compatibiliza com
o Estado Democrático de Direito.
Não há como admitir a tese de uma espécie de “exceção de notoriedade”,
autorizando que a acusada obrigue as vítimas a praticarem sua religiosa em local
diverso, caso não queira ser incomodada ou vítima de atos injuriosos.
Por outro lado, o crime de injúria é crime formal, sendo praticado com dolo
de dano, pouco importando, inclusive, se a vítima se sente ou não ofendida. Basta
que o agente, com intenção de causar dano à vítima, profira xingamentos, con-
sumando-se o delito com o conhecimento dos xingamentos pela vítima, que foi
exatamente o ocorrido, conforme consta na denúncia.
454
Capítulo VI • SENTENçAS DE CASOS REAIS
Dessa forma, ainda que a vítima não se sentisse ofendida – o que não parece
ser o caso –; que ela já tenha sido xingada anteriormente pelo mesmo motivo; que
todos na região saibam a respeito de sua prática religiosa; ou mesmo que todos na
região estranhem a referida prática religiosa, o crime de injúria qualificada pela
prática religiosa se consumou no momento em que a vítima tomou conhecimento
dos xingamentos que a acusada, com dolo de dano, proferiu.
Pelo mesmo motivo, não acolho o pedido de atipicidade em relação à vítima
Lucas, ao argumento de que “a vítima não se sentiu ofendida”.
6 – DO DISPOSITIVO
Ante o exposto, julgo procedente a pretensão acusatória para CONDENAR
a acusada MIRIAM SOUZA SILVA, vulgo “NEGA”, nas penas do art. 140, § 3º, c/c
art. 141, III, por seis vezes, na forma do artigo 70, todos do Código Penal.
455
7 – DA DOSIMETRIA
Destaco que, em relação à primeira fase da dosimetria, considerando que não
há quantum de aumento de pena previsto em lei, cabe ao juiz, na análise do caso
concreto, definir o critério a ser utilizado para majoração da pena em caso de
circunstância judicial valorada negativamente.
Dessa forma, adotando o entendimento pacífico neste E. TJDFT, utilizarei,
para cada circunstância judicial valorada negativamente, a fração de 1/8 a ser
aplicada sobre o intervalo entre a pena máxima e a pena mínima prevista em
abstrato para o delito respectivo, critério este que será utilizado no cálculo da
dosimetria de todos os condenados.
Já na segunda fase da dosimetria, pelo fato de também não haver previsão
legal em relação ao quantum de pena a ser majorado para cada agravante, ou para
ser reduzido para cada atenuante, utilizarei a fração de 1/6, a ser aplicada sobre
a pena-base fixada na primeira fase, conforme orientação jurisprudencial deste E.
TJDFT.
Passo a dosar a pena, o que faço observando o princípio da individualização
da pena.
Destaco inicialmente que não há circunstância a diferenciar a sanção
relativa a cada um dos crimes. Assim, procedo a apenas uma dosimetria, com
o acréscimo relativo ao concurso formal ao final.
Na primeira fase, a culpabilidade não extrapola o tipo penal.
Com relação aos antecedentes, verifico que a condenada não ostenta anota-
ções em sua folha penal.
Não há maiores informações nos autos no que diz respeito a sua
personalida-de e conduta social. Não acolho, nesse ponto, o pedido ministerial
de valoração negativa da personalidade em razão de a acusada ficar rindo durante
o depoimento da vítima, por se tratar de fato posterior aos fatos narrados na
denúncia.
Os motivos, as circunstâncias e as consequências do crime são as comuns
para o delito de injúria qualificada.
Dessa forma, não havendo circunstâncias judiciais desfavoráveis, fixo a pe-
na-base no mínimo legal, a saber, 1 (um) ano de reclusão, além de 10 (dez)
dias-multa, à razão mínima.
Na segunda fase da dosimetria, não há agravantes e atenuantes, motivo pelo
qual mantenho a pena intermediária em 1 (um) ano de reclusão, além de 10
(dez) dias-multa, à razão mínima.
Por fim, na terceira fase da dosimetria, considerando que a ofensa foi pro-
ferida na presença de várias pessoas, aumento a pena em 1/3, equivalente a 4
(quatro) meses, tornando a pena definitiva em 1 (um) ano e 4 (quatro) meses
de reclusão, além de 13 (treze) dias-multa, à razão mínima.
456
Capítulo VI • SENTENçAS DE CASOS REAIS
8 – PROVIDÊNCIAS
Custas processuais pela condenada. Registro que compete ao juízo de execu-
ções penais o exame das condições de miserabilidade da ré para fins de concessão
dos benefícios da justiça gratuita, de modo que eventual suspensão da cobrança
das custas deve ser pleiteada juízo competente.
Com o trânsito em julgado, expeça-se a carta de guia definitiva.
Certifique a secretaria a existência de bens apreendidos. Transcorrido o prazo
do art. 123 do Código de Processo Penal, sem qualquer manifestação, determino
o PERDIMENTO dos referidos bens em favor da União. Oficie-se à CEGOC para a
adoção das providências necessárias à destinação que lhe for cabível.
A Secretaria deverá promover as diligências cabíveis e necessárias, e anota-
ções e comunicações de praxe.
Sentença registrada eletronicamente nesta data.
Publique-se. Intimem-se.
BRASÍLIA-DF, data.
Juiz de Direito.
I – RELATÓRIO
O Ministério Público Federal, por seu representante legal, ofereceu denúncia
em face de ELCÍDIO OLIVEIRA, DULCE SILVA e MARLENE ROSA, qualificados e repre-
sentados nos autos, imputando-lhes a prática de fatos descritos no art. 171, § 3º,
c/c os artigos 69 e 71, todos do Código Penal.
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