RESUMO
Este artigo descreve a importância de se seguir os requisitos e objetivos que a norma NR 10
apresenta, objetivando medidas de controle e sistemas preventivos, para garantir a segurança e
a saúde dos trabalhadores que interajam direta ou indiretamente em instalações elétricas e
serviços com eletricidade. Descreve também o perigo que um técnico ou eletricista está
exposto à corrente elétrica, o risco a sua vida em caso de, acidentalmente ou não, conduzir
corrente elétrica sobre seu corpo. Focar no papel de todo profissional do setor elétrico em
garantir uma intervenção segura no local, não se esquecendo de proporcionar segurança em
suas proximidades, tais como zona controlada e zona livre, sempre obedecendo a
procedimentos para que sistemas energizados possam sofrer manutenção, desde que
desenergizados conforme sequencia segura, garantindo energia zero.
ABSTRACT
This article describes the importance of following the requirements and objectives that the
standard NR 10 describes the objective measures of control and prevention systems, to ensure
the safety and health of workers who interact directly or indirectly in electrical installations
and services with electricity. It also describes the danger that a technician or electrician is
exposed to electrical current, risk your life in case of accidentally or not, conduct electric
current over her body. Focusing on the role of all professionals in the electricity sector to
ensure a safe intervention in place, not forgetting to provide security in its vicinity, such as the
controlled area and free zone, always obeying procedures for powered systems can be
serviced, since de-energized as safe sequence, ensuring zero energy.
1. INTRODUÇÃO
dentro dos limites de segurança, basta que este profissional conheça e reconheça as principais
fontes de perigo, saiba analisar estes riscos e se mantenha permanentemente alerta a esses
perigos em potencial. Deve tomar as necessárias precauções e praticar as regras básicas de
segurança, não importando se elas possam parecer tolas. Ele deve desenvolver uma
consciência de segurança permanente que deve ser, para ele, uma espécie de segunda natureza.
Muitas informações de segurança específica são encontradas nos próprios manuais de
máquinas e equipamentos.
A maioria dos acidentes que ocorrem em condições normais pode ser evitada se
houver um mínimo de cooperação das pessoas e se forem eliminadas certas condições de
insegurança. Essas regras se aplicam a todos os tipos de atividades e devem-se observar
estritamente as precauções conforme aplicáveis ao seu trabalho ou responsabilidade:
2. CHOQUE ELÉTRICO
Nas instalações elétricas onde a rede de alimentação é acima dos valores de extra
baixa tensão3, ou seja, igual ou acima de 50 volts em corrente alternada e igual ou acima de
120 volts em corrente contínua, existe o risco do choque elétrico com danos ao ser humano.
O choque elétrico é um estímulo rápido no corpo humano, ocasionado pela passagem
da corrente elétrica. Numa diferença de potencial suficiente para vencer a resistência elétrica
imposta pelo corpo, esta corrente circulará tornando parte do circuito elétrico. Mas o que vai
determinar a gravidade do choque elétrico será a intensidade da corrente que circula.
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Tensão de segurança originada de uma fonte segura.
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O caminho percorrido pela corrente elétrica no corpo humano é outro fator que
determina a gravidade do choque, sendo os choques elétricos de maior gravidade aqueles em
que a corrente elétrica passa pelo coração, podendo ocasionar contrações violentas dos
músculos, a fibrilação ventricular4 do coração, lesões térmicas e não térmicas, podendo levar
a óbito como efeito indireto as quedas de alturas elevadas e batidas em estruturas que por
ventura existirem no local.
A figura abaixo demonstra os caminhos que podem ser percorridos pela corrente
elétrica no corpo humano.
A morte por asfixia poderá ocorrer, se a intensidade da corrente elétrica for de valor
elevado, normalmente acima de 30 mA e circular por um período de tempo relativamente
pequeno, normalmente por alguns minutos. Isso gera a necessidade de uma ação rápida, no
sentido de interromper a passagem da corrente elétrica pelo corpo. O risco de morte por
asfixia advém do fato do diafragma da respiração se contrair tetanização,5 cessando assim a
respiração. Se não for aplicada a respiração artificial dentro de um intervalo de tempo inferior
a três minutos, podem ocorrer sérias lesões cerebrais e possível morte.
A fibrilação ventricular do coração ocorrerá se houver intensidades de corrente da
ordem de 15 mA que circulem por períodos de tempo superiores a um quarto de segundo. A
fibrilação ventricular é a contração disritimada do coração que impossibilita a circulação do
sangue pelo corpo, resulta na falta de oxigênio nos tecidos do corpo e no cérebro. O coração
raramente se recupera da fibrilação ventricular sozinho. No entanto, aplicando um
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Corrente elétrica atinge diretamente o músculo cardíaco, podendo perturbar o seu funcionamento regular.
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Paralisia muscular provocada pela circulação de correntes elétricas através dos tecidos nervosos que controlam
os músculos.
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desfibrilador, a fibrilação pode ser interrompida e o ritmo normal do coração pode ser
restabelecido.
Não possuindo tal aparelho, a aplicação da massagem cardíaca permitirá que o sangue
circule pelo corpo, dando tempo para que se providencie o aparelho e que a vítima receba
socorro especializado.
Além da ocorrência destes efeitos, a vítima pode ter queimaduras tanto superficiais
como profundas, na pele e nos órgãos internos.
Por último, o choque elétrico poderá causar simples contrações musculares que, muito
embora não acarretem de uma forma direta, lesões fatais, poderão originar, de uma maneira
indireta a contração do músculo levando a pessoa a movimentos involuntários provocando
choques com alguma superfície, sofrendo contusões ou mesmo queda de local com altura
elevada.
A ABRACOPEL (Associação Brasileira de Conscientização dos perigos da
Eletricidade) levantou dados de apenas uma fonte e chegou a números alarmantes. Palavras
como ‘curto-circuito’, eletrocutado’, e ‘choque elétrico’ pesquisadas no Google geram um
número total de acidentes com a origem na eletricidade em 2012 de 278 mortes, com 41
notícias de choque elétrico sem mortes. Entretanto, somente 232 óbitos foram possíveis de
identificar as origens.
Uma grande parcela dos acidentes por choque elétrico conduz a lesões provenientes de
batidas e quedas.
Existem duas formas de choque elétrico, o choque por contato direto e o por contato
indireto. No sentido literal, o choque por contato direto se dá em pessoas ou animais quando
tocam em partes vivas energizadas e desprovidas de proteção, já o choque por contato indireto
se dá em pessoas ou animais que através de partes metálicas (equipamentos) ou elementos
condutores ficam acidentalmente energizados por falha de isolação.
Para proteger o profissional de choques por contato direto, partes vivas de uma
instalação, condutores nus ou descobertos, terminais de equipamentos elétricos, deve-se
assegurar a proteção por meio de isolação das partes vivas, barreiras ou invólucros,
obstáculos, colocar a área energizada fora do alcance. A isolação de uma parte viva deve
impedir todo e qualquer tipo de contato através de recobrimento total da parte energizada
formando uma isolação que possa ser removida somente através de sua destruição.
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Uma boa sinalização indicativa deve ser providenciada para identificar que o local
possui riscos com eletricidade, que existe uma equipe trabalhando no local, que o dispositivo
está bloqueado e não pode ser rearmado, obedecendo ao disposto na NR-26 – Sinalização de
Segurança. Abaixo um exemplo de sinalizações em sistemas elétricos.
Sabendo que existe o risco desta instalação ser energizada, ou por alguma falha,
indução, ou outro motivo, é muito importante fazer uso de ferramentas que possuam
isolamento elétrico6 adequado para a classe de tensão existente no local.
A definição de ferramentas isoladas se dá para aquelas que possuem isolação
totalmente ou parcialmente de sua área metálica, sendo que é muito importante, sempre que
possível, dar preferência para ferramentas com isolamento completo.
As ferramentas manuais devem ter isolamento para proteção dos trabalhadores contra
choques elétricos. Para instalações em níveis de baixa tensão, as ferramentas sào de faixa de
isolação até 1000V em corrente alternada ou 1500V em corrente contínua. É importante
lembrar que acidentes com eletricidade, choques elétricos, podem ser causados por falhas no
isolamento dessas ferramentas. Estas ferramentas devem satisfazer as condições às quais
foram fabricadas, não podendo ter defeitos de isolamento, ser impróprias para o serviço a ser
executado, nem estar em mau estado de conservação, devendo ser empregadas de acordo com
sua finalidade e não constituir risco aos trabalhadores que a utilizarão e à instalação. Elas
devem ser sempre inspecionadas visualmente de modo a não apresentarem defeitos de
isolação, como trincas, bolhas, má aderência.
Ferramentas parcialmente isoladas são aquelas fabricadas com material condutor e que
e têm um revestimento de material isolante, com exceção da parte atuante, como exemplo um
alicate universal.
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Processo destinado a impedir a passagem de corrente elétrica, por interposição de materiais isolantes.
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Figura 4 – Capacetes de aba frontal, aba total e aba frontal com viseira.
Os óculos de segurança destinam-se à proteção dos olhos conta impactos mecânicos,
partículas volantes, raios ultravioletas decorrentes de irradiação solar ou arco elétrico7.
Figura 5 – Óculos de proteção dos olhos, com lente incolor e lente escura.
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Resultante de uma ruptura dielétrica de um gás produzindo uma descarga de plasma, similar a uma fagulha
instantânea, proveniente de um fluxo de corrente elétrica em meio normalmente isolante tal como o ar. Gerado
acidentalmente devido à falha de equipamentos em curto circuito liberando grande quantidade de energia
calorífica em um curto intervalo de tempo, capaz de provocar a fusão de metais, provocar explosões lançando
metais fundidos contra as pessoas nas proximidades causando queimaduras severas e combustão.
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realizar intervenção. Esta luva não deve ser utilizada isoladamente, ou seja, ela precisa ser
usada em conjunto com sua proteção chamada de luva de cobertura em vaqueta, onde esta
proteção evitará que ferimentos, perfurações e cortes ocorram na luva isolante abrindo um
caminho para a corrente elétrica chegar ao corpo humano causando danos como foi descrito
no item 2- Choque Elétrico deste artigo.
Os pés do profissional é uma região propícia, no caso de circular corrente elétrica pelo
corpo, para fechar o circuito com a terra e escoar toda a energia elétrica para o potencial zero,
gerando fluxo contínuo de corrente pelo corpo, queimaduras provenientes de alta temperatura
e até a morte. Para prevenir este tipo de acidente, é utilizado botinas de couro com o solado
isolante. Este solado, sobre uma superfície energizada ou corpo energizado, é capaz de isolar
o contato entre corpo humano e terra, impedindo que o circuito a ser percorrido pela corrente
elétrica tenha continuidade. Estes calçados feitos para aplicação de profissionais do setor
elétrico em geral, não deverão possuir componentes metálicos. Portanto, regiões das botinas
como a biqueira que possui maior resistência a impactos são fabricadas de PVC e outros tipos
de materiais com características isolantes.
Figura 8 – À esquerda botina de cano curto, ao centro botina de cano médio, e a direita botina
de cano longo.
Na proteção contra os efeitos térmicos do arco elétrico e do fogo repentino8, o uso de
vestimentas para esta proteção é necessário. Construída com tecidos especiais para garantir
um desempenho satisfatório quando expostos à energia incidente e à chama, estas vestimentas
estão disponíveis com tecidos naturais e sintéticos associados a diferentes tecnologias dando o
resultado de material com propriedade ignífuga (antichama). Alguns destas roupas são
confeccionados com fios especiais que garante aos tecidos esta propriedade e outros são
tecidos tratados com substâncias que resultam este atributo.
Além do aspecto primordial de máxima proteção dos trabalhadores contra os efeitos
térmicos gerados por arco elétrico e do fogo repentino, as vestimentas devem possuir
características que garantam sua manutenção ao longo do uso, suportar resistências mecânicas,
fortes linhas de costura e boa retenção de cor.
Assim, cabe ao profissional de segurança do trabalho avaliar a melhor tecnologia para
a proteção dos trabalhadores aos riscos a que estarão expostos. Para auxiliar nesta avaliação,
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Reação de combustão acidental extremamente rápida devido à presença de materiais combustíveis ou
inflamáveis desencadeada pela energia de uma centelha ou fonte de calor.
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as vestimentas são caracterizadas pelo valor retardante de calorias que elas suportam.
As vestimentas adequadas para trabalhos em instalações elétricas e serviços com
eletricidade, que segundo o subitem 10.2.9.2 da NR 10 devem ser adequadas às atividades,
devendo contemplar a condutibilidade, inflamabilidade e influências eletromagnéticas.
Para determinar qual o nível de proteção calorífera esta vestimenta necessita atender, é
necessário um estudo de curto-circuito das instalações elétricas presentes. Com este estudo em
mãos, é possível determinar até qual temperatura um curto ocorrido nestas instalações em
questão pode atingir, e assim concluir qual a faixa de proteção que esta roupa deverá atender.
Com base nos cálculos da energia incidente (cal/cm²) determina-se o nível de proteção
necessário, e quanto maior a gramatura do tecido maior será a proteção.
Apesar da seriedade e da importância vital que isso representa para os trabalhadores
que executam serviços em eletricidade, o uso da roupa resistente ao fogo ainda não é uma
prática constante na segurança industrial.
O ATPV – Arc Thermal Performance Value, é o valor em calorias por centímetro
quadrado da proteção conferida pelo tecido ao efeito térmico proveniente de um arco elétrico.
Este valor de ATPV está diretamente relacionado às características do tecido que compõe a
vestimenta e sua tecnologia de fabricação, e é uma estimativa da barreira conferida pelo
tecido e pela vestimenta que foi confeccionada.
5 – RESPONSABILIDADES
No que tange a responsabilidade civil e criminal no acidente de trabalho, não se pode
ter os devidos cuidados apenas porque há o risco de uma penalização ao infrator, mas que se
tenha esta obrigação porque se está lidando com a vida, com o homem, com o cidadão, que na
prática é o verdadeiro patrimônio da empresa e deve ter seus direitos individuais respeitados.
Cada trabalhador deve ser exemplo no trato dessa questão, zelando não só pela sua
saúde física e mental, mas também pela de seus colegas, pautando por atitudes
prevencionistas.
O legislador, aquele que aplica as leis, ao definir as consequências aos responsáveis
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pelo acidente do trabalho, não teve outro intuito senão o de impor a obrigação de exercer as
atividades com o senso de responsabilidade mínima para não expor a integridade física e
mental do próprio trabalhador e daqueles que o cercam.
5.1 – EMPRESA
Conforme o Art. 157 da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas, cabe às empresas:
cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho; instruir os
empregados através de ordens de serviço, quanto às precauções a tomar no sentido de evitar
acidentes do trabalho e doenças ocupacionais; adotar as medidas que lhes sejam determinadas
pelos órgãos competentes; facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.
5.2 – EMPREGADOS
Conforme o Art. 158 da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas cabe aos
empregados: observar as normas de segurança e medicina do trabalho, bem como as
instruções dadas pelo empregador; colaborar com a empresa na aplicação das leis sobre
segurança e medicina do trabalho; usar corretamente o EPI quando necessário.
6 – PRECAUÇÕES DE SEGURANÇA
Não se pode precipitar ao trabalhar em circuitos elétricos ou eletrônicos. É necessário
estudar cuidadosamente os esquemas e diagramas de fiação do sistema por completo,
anotando quais os circuitos devem ser alimentados além do circuito de alimentação geral.
Lembrar sempre que os equipamentos podem possuir mais de uma fonte de energia, devendo
certificar que todas estas fontes estão desenergizadas antes de iniciar o reparo e nunca realizar
a intervenção com presença de tensão elétrica.
Uma tensão de alimentação em 115 V não é baixa e relativamente pouco perigosa que
possa ser desprezado o seu risco, pois somente a classe de extra baixa tensão compreendida de
0 V a 50 V em corrente alternada e 0 V a 110 V em corrente contínua, pode garantir através
da Lei de Ohm (U= R.I, onde U é tensão, R é resistência e I é corrente elétrica) corrente
elétrica com intensidade no corpo humano insuficiente de causar a morte.
O profissional não deve trabalhar sozinho em sistemas elétricos. Tenha sempre ao lado
um auxiliar que seja autorizado e possua conhecimentos em instalações elétricas, com
condições de prestar socorro em caso de emergência. Conservar as roupas, mãos e pés secos,
e caso a atividade seja em área úmida, fazer uso de luvas, tapetes e ferramentas isolantes. Os
calçados devem ser totalmente de materiais isolantes, e suas vestimentas não devem ser
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folgadas para não correr o risco de uma parte da roupa entrar em contato com os circuitos
elétricos. É muito importante lembrar que é expressamente proibido o uso de anéis, relógios,
braceletes, correntes e quaisquer adornos quando se trabalha em sistemas elétricos.
Uma boa comunicação é essencial e salva vidas. Portanto é dever do profissional em
instalações elétricas em comunicar a todos as instalações que estão sendo reparados, os riscos
presentes, as distancias seguras e as devidas proteções.
A segurança é responsabilidade de todos. É obrigação de cada homem exercer as
precauções no sentido de que ninguém seja ferido e nem os equipamentos e instalações sejam
destruídas.
As informações de segurança podem ser apresentadas de diversas formas: material
escrito, boletins de segurança, leituras em diálogos de segurança, filmes, aulas e cartazes.
Nas oficinas deve ser enfatizada a necessidade de plena segurança. Uma das maneiras
é por meio do emprego de cartazes educativos. Alguns são de natureza geral e outros se
referem a tipos específicos de serviços. Estes devem ser fixados em áreas frequentadas
constantemente pelo pessoal e substituídos periodicamente.
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4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_____. NBR 9699: Isolação para Ferramentas Manuais até 1000V. Rio de Janeiro: ABNT,
1987.
BITICINO; PIRELLI. Proteção de pessoas contra choques elétricos. [São Paulo], 1978.
REIS, J.S.; FREITAS, R. de. Segurança em eletricidade. São Paulo: Fundacentro, 1985.