Você está na página 1de 5

Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas

Processo
AREsp 2458752

Relator(a)
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA

Data da Publicação
DJe 29/01/2024

Decisão
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2458752 - SP (2023/0312257-0)
DECISÃO
Trata-se de agravo em recurso especial interposto por ITAU UNIBANC O S.A.
contra decisão (fls. 183-185) que inadmitiu recurso especial com
fundamento na ausência de violação a dispositivo legal e incidência da
Súmula n. 7 do STJ.
Alega a parte agravante que os pressupostos de admissibilidade do recurso
especial foram atendidos.
O recurso especial fundado no art. 105, III, a, da C onstituição Federal,
foi interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo em agravo de instrumento interposto nos autos de ação de execução
de título extrajudicial (Agravo de Instrumento n. 2141251-
06.2022.8.26.0000).
O julgado foi assim ementado (fl. 131):
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXEC UÇÃO. AUSÊNC IA DE TÍTULO EXEC UTIVO
EXTRAJUDIC IAL. ARTIGO 784, III, DO C PC . C ONTRATO ELETRÔNIC O. DOC UMENTOS
JUNTADOS PELO AGRAVANTE QUE NÃO C OMPROVAM A C ERTEZA, LIQUIDEZ E
EXIGIBILIDADE DO TÍTULO. INEXISTÊNC IA DE ASSINATURA DIGITAL ATRIBUÍDA AO
DEVEDOR. INTELIGÊNC IA DO DISPOSTO NA MP 2.200-2/2001. PREC EDENTES.
DEC ISÃO MANTIDA. REC URSO NÃO PROVIDO.
Os embargos de declaração opostos foram rejeitados (fls. 168-172).
Nas razões do recurso especial, a parte recorrente alega negativa de
vigência dos seguintes dispositivos:
a) art. 1.022, II do C PC , uma vez que o Tribunal a quo não enfrentou
todos os argumentos deduzidos no processo, especialmente no que se refere
à demonstração de que a ação de execução tem amparo em contrato de
abertura de conta corrente assinado pela representante legal da empresa e
também devedora solidária, onde consta disposição expressa a respeito da
possibilidade de contratação de crédito pré-aprovado para capital de giro
por via eletrônica, como efetivamente realizado em operação efetivada com

Página 1 de 5
Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas
o uso de senha e token por meio do uso da plataforma Bankline, contendo
informações sobre data e horário do aceite e número de autenticidade do
documento;
b) arts. 783, 784, III e XII, do C PC e art. 10, §§ 1º e 2º, da MP n.
2.200-2/2001, haja vista que são considerados títulos executivos
extrajudiciais todos os títulos aos quais, por disposição expressa, a lei
atribuir força executiva, a exemplo dos documentos eletrônicos produzidos
com a utilização de processo de autenticação.
Argumenta que o negócio jurídico foi celebrado por meio eletrônico com o
uso de tecnologia de autenticação capaz de atribuir ao documento
presunção de validade e veracidade e, assim, constituir obrigação certa,
líquida e exigível para efeito do disposto no art. 783 do C PC .
Requer o provimento do recurso para anular o acórdão, ou,
alternativamente, a sua reforma para reconhecer a força executiva do
documento que ampara a pretensão.
Não foram apresentadas contrarrazões.
É o relatório. Decido.
I - Negativa de prestação jurisdicional Afasta-se a alegada ofensa ao
art. 1.022, II, do C PC , visto que a C orte de origem examinou e decidiu,
de modo claro, objetivo e fundamentado, as questões que delimitam a
controvérsia, não ocorrendo nenhum vício que possa nulificar o acórdão
recorrido.
Esclareça-se que o órgão colegiado não está obrigado a repelir todas as
alegações expendidas no recurso, pois basta que se atenha aos pontos
relevantes e necessários ao deslinde do litígio e adote fundamentos que
se mostrem cabíveis à prolação do julgado, ainda que, relativamente às
conclusões, não haja a concordância das partes.
II - Executividade de contrato de mútuo realizado por meio eletrônico A
execução para cobrança de crédito deve fundar-se em título de obrigação
certa, líquida e exigível (art. 783 do C PC ).
Extrai-se dos autos que a parte a recorrente ajuizou execução de título
extrajudicial embasada em contratação realizada por meio eletrônico (fls.
14-24).
As instâncias ordinárias (fls. 111 e 132-138) consideraram que a
contratação realizada, na forma como foi celebrada, não preencheria os
requisitos previstos nos arts. 783 e 784, III, do C PC , por ausência do
título executivo.
O Tribunal de origem lastreou seu entendimento nos princípios da
taxatividade e da tipicidade dos títulos executivos, assinalando que o
contrato em questão, além de não se enquadrar no rol legal, não possui

Página 2 de 5
Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas
assinatura do contratante ou de testemunhas. C onfira-se (fls. 132-138,
destaquei):
Trata-se de Ação de Execução movida pelo agravado em face dos agravantes,
no valor histórico de R$ 114.775,54.
Sobreveio decisão agravada nos seguintes termos:
"A mera alegação de que "A assinatura eletrônica, vale destacar, confere
segurança à operação de crédito, constituindo prova da manifestação da
vontade mais fidedigna que a assinatura das testemunhas." não tem o
condão de suprir a formalidade legal estabelecida pelo artigo 784 do
CPC/2015, razão pela qual deverá ser emendada a petição inicial para ação
de conhecimento, sob pena de extinção, nos termos do artigo 321,
parágrafo único, do C PC /2015."
O entendimento adotado deve ser mantido. Explico Em que pese a
instituição financeira defender a força executiva dos documentos
apresentados, observo que o "comprovante de empréstimo giro" (fls. 49)
juntado pela agravante não constitui título executivo extrajudicial à luz
do artigo 784, III, do C PC , malgrado a alegação de contratação por meio
eletrônico. [...] Da análise do julgado acima, destaco que a força
executiva dos contratos eletrônicos exige a presença de assinatura
digital do contratante, o que não se verifica nos documentos apresentados
pela instituição financeira agravante. [...] No presente feito, o banco
agravante trouxe "comprovante do empréstimo Giro" (fls. 49), dando conta
de que a operação financeira teria sido celebrada por meio de assinatura
do executado agravado de forma eletrônica, mediante digitação de sua
senha eletrônica, vinculada à sua conta corrente.
Todavia, inexistem no documento assinatura eletrônica atribuída ao
devedor, existindo apenas um "código de autenticação", insuficiente para
atender aos parâmetros da MP nº 2.200-2/2001. [...] Diante de tais
elementos, necessária a manutenção do entendimento adotado em 1º Grau,
porque não atendidos os requisitos legais do art. 784, do CPC, em relação
ao título que lastreia a execução.
O entendimento adotado encontra amparo na jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça.
Embora seja possível excepcionar a regra de que o instrumento particular
possa ter o atributo executivo ainda que não tenha sido assinado por duas
testemunhas, é indispensável que o documento seja assinado pelo devedor,
devendo ser "observadas as garantias mínimas acerca de sua autenticidade
e segurança" (REsp n. 1.495.920/DF, relator Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 15/5/2018, DJe de 7/6/2018).
C orroborando essa orientação, o § 4º do art. 784 do C PC , recentemente

Página 3 de 5
Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas
incluído pela Lei 14.620/2023, estabelece que, "nos títulos executivos
constituídos ou atestados por meio eletrônico, é admitida qualquer
modalidade de assinatura eletrônica prevista em lei, dispensada a
assinatura de testemunhas quando sua integridade for conferida por
provedor de assinatura".
No caso, segundo delineado pelo Tribunal de origem (fl. 171), ficou claro
que o documento apresentado não possui qualquer assinatura eletrônica,
mas apenas um código sem certificação e cuja integridade não pode ser
aferida.
Nesse contexto, sem garantias mínimas acerca da integridade e segurança
da alegada contratação, inviável atribuir ao documento apresentado a
força de título executivo extrajudicial.
Caso, pois, de incidência da Súmula n. 83 do STJ.
Ademais, rever a conclusão do acórdão recorrido acerca das
características do documento apresentado exigiria necessário reexame do
conjunto fático-probatório, o que é vedado em recurso especial em razão
do óbice da Súmula n. 7 do STJ.
Nesse sentido, destaco os seguintes precedentes:
AGRAVO INTERNO NO REC URSO ESPEC IAL. EXEC UÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDIC IAL.
MÚTUO. C ONTRATO ELETRÔNIC O. ASSINATURA DIGITAL. FORÇA EXEC UTIVA.
PREC EDENTE. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. Esta Corte Superior possui jurisprudência no sentido de que, diante da
nova realidade comercial, em que se verifica elevado grau de relações
virtuais, é possível reconhecer a força executiva de contratos assinados
eletronicamente, porquanto a assinatura eletrônica atesta a autenticidade
do documento, certificando que o contrato foi efetivamente assinado pelo
usuário daquela assinatura (REsp 1.495.920/DF, Rel. Ministro Paulo de
Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 15/5/2018, DJe 7/6/2018).
2. Havendo pactuação por meio de assinatura digital em contrato
eletrônico, certificado por terceiro desinteressado (autoridade
certificadora), é possível reconhecer a executividade do contrato.
3. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp n. 1.978.859/DF, relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, julgado em 23/5/2022,
DJe de 25/5/2022.)
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL.
EMBARGOS À EXEC UÇÃO. PRELIMINAR. NULIDADE DA EXEC UÇÃO. DOC UMENTO
PARTIC ULAR. ASSINATURA DE DUAS TESTEMUNHAS. ASSINATURA LANÇADA.
POSSIBILIDADE DE IDENTIFIC AR OS SIGNATÁRIOS. PRETENSÃO DE REEXAMINAR A
INTEGRIDADE DAS ASSINATURAS VISANDO À DESC ONSTITUIÇÃO DO TÍTULO.
VEDADO. SÚMULAS 5 E 7/STJ. NÃO PROVIDO.

Página 4 de 5
Jurisprudência/STJ - Decisões Monocráticas
1. Pressuposto pelas instâncias ordinárias que o documento teria sido
assinado por duas testemunhas; a pretensão de reexaminar a integridade da
assinatura, para o efeito de infirmar o atributo executivo, demandaria o
reexame de fatos, provas e das disposições contratuais. Incidência das
Súmulas 5 e 7/STJ.
2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp n.
2.165.838/DF, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma,
julgado em 25/9/2023, DJe de 28/9/2023, destaquei.)
Ante o exposto, nego provimento ao agravo em recurso especial.
Deixo de majorar os honorários recursais nos termos do § 11 do art. 85 do
CPC, em razão da inexistência de prévia fixação na origem.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília, 26 de janeiro de 2024.
Ministro João Otávio de Noronha Relator

Página 5 de 5

Você também pode gostar