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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Guilherme Avelar Marques

Trabalho
Jurisdição

Professor: Ezio Frezza Filho

Poços de Caldas
2023
1
2

Sumário

Sumário....................................................................................................................... 2
Introdução................................................................................................................... 3
Do documento público (Art. 405 - Art. 407)..............................................................4
Do documento particular e do documento eletrônico (Art. 408 - Art. 414) (Art.
439 - Art 441)............................................................................................................... 5
Das cartas, registros domésticos e livros empresariais (Art. 415 - Art. 421)....... 6
Das reproduções (Art. 422- Art. 425)........................................................................ 7
Da cessão da fé e do ônus probatório (Art. 426 - Art. 429).................................... 8
Da arguição de falsidade (Art. 430 - Art. 433).......................................................... 9
Da produção da prova documental (Art. 434 - Art. 438):...................................... 10
Conclusão................................................................................................................. 11
Referências............................................................................................................... 12
3

Introdução
A prova documental, refere-se à utilização de documentos escritos, gráficos
ou digitais como meios de comprovar ou elucidar questões fáticas. Estes
documentos podem abranger uma variedade de materiais, como contratos, registros,
correspondências, fotos, e-mails, etc.
São peças fundamentais em processos judiciais, investigações, transações
comerciais e outras situações em que é preciso estabelecer a autenticidade,
veracidade ou existência de informações relevantes.
A validade de uma prova documental requer procedimentos específicos,
incluindo autenticação e manutenção adequada, para que possa ser aceita como
evidência em um processo legal ou em qualquer outro cenário que requeira sua
apresentação.
“É o resultado de uma obra humana que tenha por objetivo a fixação ou
retratação material de algum acontecimento. Contrapõe-se ao testemunho,
que é o registro de fatos gravados apenas na memória do homem. Em
sentido lato, documento compreende não apenas os escritos, mas toda e
qualquer coisa que transmita diretamente um registro físico a respeito de
algum fato, como os desenhos, as fotografias, as gravações sonoras, filmes
cinematográficos etc. Mas, em sentido estrito, quando se fala da prova
documental, cuida-se especificamente dos documentos escritos, que são
aqueles em que o fato vem registrado através da palavra escrita, em papel
ou outro material adequado.” (Júnior, 2008, p. 625)1

Em síntese a prova documental objetiva registrar permanentemente fatos e


eventos transeuntes para que esses possam ser apresentados em juízos, podendo
ocorrer de diversas formas e sempre obrigada a manter um conteúdo fidedigno com
a realidade para que sua alegação se manifeste no direito processual.

1
JÚNIOR,Humberto Theodoro. CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL. Vol 2. 49. Ed. Rio de
Janeiro. Editora forense,2008
4

Do documento público (Art. 405 - Art. 407)


A prova documental pode ser representada em juízo por documento público
ou particular, sendo uma importante ferramenta para comprovar fatos relativos à lide.
Não obstante, é necessário lembrar que não há uma hierarquia de provas, com a
força probante dos documentos sendo definida pelo próprio juiz, durante a busca
pela verdade real.
O documento público é aquele cuja formação se dá por funcionários públicos
no exercício da função, sendo necessária a observação de ritos processuais, a
competência do funcionário público formador e a assinatura das partes, caso
contrário a eficácia legal terá a mesma capacidade probatória do documento
particular. O documento público faz prova dos fatos e da formação dos fatos nele
descritos.
Existem situações onde a existência do documento público é fundamental
para a validade do ato, com o art. 406 CPC determinando que nenhum outro tipo de
prova poderá suprir-lhe a falta. Instaura-se um interessante questionamento
doutrinário em relação ao princípio processual da não hierarquização das provas e a
exigência de um meio de prova em específico:

“Não se trata de uma relação de hierarquia entre as provas, mas apenas de


reconhecer a existência de limitação ao princípio do livre convencimento
motivado, imposta pelo direito material. Tal interpretação harmoniza-se com
a regra segundo a qual a ausência de contestação não implica a presunção
de veracidade dos fatos afirmados pelo autor se “a petição inicial não estiver
acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do
ato (CPC, art. 345, inciso III)" (AMARAL, 2019, p. 688).2

A imposição do direito material vence a hierarquização das provas, pois esse


princípio visa garantir o livre convencimento do juiz, que no modelo juspositivista
brasileiro não se sobrepõe à norma jurídica.

2
AMARAL, Paulo Osternack. Novo código de processo civil. OAB-PR. 2019
5

Do documento particular e do documento eletrônico (Art. 408 -


Art. 414) (Art. 439 - Art 441)
O documento particular não possui interferência de um funcionário público em
sua formação, mas é escrito pelas partes ou terceiro. O valor probatório desse
documento não terá a mesma eficácia dos documentos públicos, pois não ocorre a
presunção de veracidade para o assinante. Resultando, quando assinado, na prova
da formação dos fatos e não dos fatos em si.
Caso a parte o escreva mas não o assine, esse documento não terá valor
probatório relativos ao fato ou à formação, pois segundo o CPC a confecção do
documento não se equipara à assinatura, excetuando-se aqueles que
costumeiramente não são assinados como os livros empresariais e os assentos
domésticos.
A autenticidade do documento particular é essencial para seu caráter
probatório, garantindo que o responsável pelo documento é o indicado. Essa
autenticidade pode ocorrer de diversas formas: reconhecimento de firma; autoria
identificada por qualquer outro meio legal de certificação; não havendo impugnação
da parte contra quem foi produzido.
O reconhecimento de firma ocorre quando o agente público atesta como
verídica a assinatura da parte, através da comparação com outras assinaturas ou
com a subscrição presencial do documento; a autoria identificada por qualquer outro
meio legal ocorre quando a parte utiliza meio eletrônico para a autenticação; na
inexistência de impugnação da parte o documento é presumido verdadeiro.
A força da prova do documento não é diminuída com a expedição por
telegrama ou radiograma, pois a cópia do documento terá a mesma força do original,
desde que provada a data de expedição e recebimento, bem como a autenticidade
daquele que o remeteu. Caso ocorra a impugnação, a validade jurídica cessa até
que seja comprovada sua veracidade.
No caso dos documentos eletrônicos é obrigada a sua transcrição em papel,
com o valor probante do documento não convertido sendo estabelecido pelo
magistrado, conforme a situação fática do processo.
6

Das cartas, registros domésticos e livros empresariais (Art. 415


- Art. 421)
Cartas são registros que expõem uma declaração ou pensamento de uma
pessoa, registros domésticos são anotações informais feitas por um único autor com
o fim de rememorar ou organizar determinada ideia ou fato. Ambos os documentos
são feitos unilateralmente e sua validade jurídica, quando não assinados, é restrita a
três hipóteses: recebimento de crédito; documento que visa suprir a falta de título em
favor do credor; caso expressem conhecimento de fatos para os quais não se exija
prova.
Lembrando que essa interpretação deve sempre ser feita em consonância
com a presunção da veracidade em relação aos signatários dos documentos, as
hipóteses citadas anteriormente valem apenas caso esses não estejam assinados,
pois se estiverem podem ser válidos independentemente do teor.
Livros empresariais são registros particulares unilaterais, mantidos por
empresas para registrar fatos e eventos inerentes à atividade comercial. São
indivisíveis, portanto não é possível a adulteração ou alteração parcial do documento
pelo autor, pois os fatos favoráveis e desfavoráveis serão considerados em conjunto.
A exibição desse documento pode ser feita de ofício pelo juiz, parcialmente
quando for possível extrair as partes relevantes ao litígio, ou totalmente nas três
hipóteses do art. 420: liquidação da sociedade; sucessão por morte de sócio;
quando e como determinar a lei.
Na não exibição do documento requerido ocorrerá a presunção da veracidade
dos fatos cuja comprovação é pretendida com a requisição, em conformidade com o
entendimento do Superior Tribunal de justiça:

“A não exibição do documento requerido pelo autor na via judicial implica a


admissão da presunção da verdade dos fatos que se pretendem comprovar
por meio daquela prova sonegada pela parte ex adversa, restando este fato
a única sanção processual cabível” (FUX; 2009)3

3
STJ, 1ª T., REsp nº 845.860/SP, Rel. Min. Luiz Fux, por maioria, j. em 7/5/2009, DJe de 10/6/2009.
7

Das reproduções (Art. 422- Art. 425)


Qualquer reprodução mecânica do documento original poderá ser
considerada prova sobre determinados fatos da lide, desde que seu conteúdo não
seja impugnado pela parte contrária. Essa reprodução pode se dar por diversos
meios, tais quais: fonográficos, fotográficos e até mesmo cinematográficos.
Necessário lembrar a obrigatoriedade do Art 422 § 2º em trazer exemplar do jornal,
caso a prova fotográfica derive de algum periódico. A reprodução terá a mesma
força probatória do original nas hipóteses do Art. 425.
As peças dos autos ou formadas pelo judiciário são aquelas expedidas por
funcionários públicos no exercício da função, estas cópias terão o mesmo caráter
probatório independentemente de não pertencerem ao processo original, pois a
possibilidade da “prova emprestada” é garantida pelo Art. 372.
Lembrando que a “força probatória” não significa um parâmetro base de
valorização da prova, pois cada processo terá suas peculiaridades e a relevância da
evidência no contexto de um determinado processo pode ser mitigada em razão das
circunstâncias que o definem. Define-se que a “força probatória” em questão,
estabelece apenas a utilização do fato como meio de prova.
As reproduções não se limitam a documentos particulares, o Art. 425 III
estabelece a possibilidade da cópia do documento público ser autenticada pelo
escrivão, ou comparada com o original no cartório, o que permitiria a utilização desta
no decorrer do processo.
O advogado também poderá juntar cópias de documentos do processo
judicial, que certificará como autênticos gerando o mesmo efeito probatório do
original. Caso as cópias juntadas não sejam autênticas ou possuam divergências
com o original o advogado será responsabilizado pessoalmente, além das
consequências processuais como a impugnação da prova.
Dados digitais dos bancos públicos e privados, bem como documentos
públicos e particulares juntados pelos órgãos da justiça também terão capacidade
probatória. No caso dos bancos, pode ocorrer a responsabilização da instituição,
caso os dados solicitados difiram do original ou estejam corrompidos.
8

Da cessão da fé e do ônus probatório (Art. 426 - Art. 429)


A cessão da fé do documento ocorre quando esse é impugnado pela parte,
declarado falso judicialmente, ou quando em ponto substancial ocorra rasura,
entrelinhas, borrão ou cancelamento. Na última hipótese ficará facultado ao
magistrado definir, justificadamente, o quanto o documento poderá ser utilizado no
processo.
A impugnação do documento apenas cessa a fé dos documentos particulares,
esta é a única hipótese onde a cessão da fé poderá ser restaurada, pois caso seja
provada a veracidade do documento, ele retornará para o conjunto probatório.
Documentos públicos não passam por esse fenômeno, pois a fé destes apenas
cessa com declaração judicial de falsidade.
Ainda sobre os documentos particulares existe a possibilidade da entrega do
documento assinado “em branco”, fenômeno onde uma parte entrega o documento
já assinado para que a parte contrária o preencha com informações pré
estabelecidas. O Art. 428 II define que caso o preenchimento ocorra de maneira
diversa da acordada, com cláusulas abusivas para a parte que o assinou
anteriormente, o documento perderá sua validade.
O documento declarado falso judicialmente não pode ser utilizado sobre
hipótese alguma, seus efeitos incidem tanto sobre o documento público quanto ao
particular. A falsidade ocorre quando o documento original é alterado no todo ou em
parte.
O ônus da prova é dado pelo Art. 429, que define o ônus para a parte que o
arguir nos casos de falsidade e para a parte que o produziu nos casos de
impugnação da autenticidade. Importante destacar que o ônus da prova poderá ser
redistribuído pelo magistrado conforme o caso concreto, como disposto pelo Art. 373
§ 1º “poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso, desde que o faça por
decisão fundamentada”.
9

Da arguição de falsidade (Art. 430 - Art. 433)


Documentos, independentemente de serem de natureza pública ou privada,
podem ser submetidos ao procedimento de verificação de autenticidade conhecido
como "incidente de falsidade", sempre que desempenharem um papel na resolução
da disputa em questão. O incidente também poderá ser tratado como questão
principal, caso a parte faça um requerimento, nesta hipótese ocorrerá coisa julgada
material, fazendo com que a decisão incida sobre outros processos.
O incidente de falsidade objetiva identificar quaisquer problemas materiais no
documento, como a autenticidade das assinaturas ou possíveis alterações físicas. A
falsificação ideológica, que se refere ao conteúdo do documento, não pode ser
abordada por meio do incidente de falsidade, especialmente quando o documento
versar sobre uma relação jurídica. Questões relacionadas ao conteúdo do
documento, como diferentes versões dos eventos ou informações incorretas, devem
ser tratadas por outros meios de prova.
A arguição de falsidade pode ser apresentada na contestação, em relação a
documentos da parte autora, na réplica em relação a documentos juntados na
contestação e no prazo de 15 dias para aqueles documentos juntados
supervenientemente. Instaurada a arguição a parte contrária será ouvida também no
prazo de 15 dias, após isso o Art. 432 define a obrigatoriedade em realizar o exame
pericial, desde que a parte produtora do documento não concorde em retirá-lo.
10

Da produção da prova documental (Art. 434 - Art. 438):


A produção dos documentos ocorrerá na petição inicial pela parte autora e na
contestação pelo réu, sendo lícito às partes produzirem documentos posteriormente,
caso a parte tome conhecimento do documento após o período ideal de produção;
caso a natureza do documento derive de fato superveniente ao período da juntada;
caso o documento julgado apenas contraponha fato ou depoimento utilizado na
defesa do réu. Na não produção no momento pertinente poderá ocorrer a preclusão,
se a escusa para o atraso não se enquadrar em qualquer uma das hipóteses
citadas.
A possibilidade de preclusão tem como objetivo evitar a má fé processual,
caracteristicamente ilustradas em dramas estrangeiros onde no final do processo um
fato crucial é apresentado, alterando completamente a relevância das provas no
conjunto probatório e conferindo ganho de causa ao astuto protagonista. No direito
brasileiro tal episódio é impossível, pois a apresentação de provas fora do prazo
depende de exceções legais e da boa fé processual.

“É ônus do autor juntar a integralidade de prova documental na inicial e, do


réu, com a contestação ou defesa, sob pena de preclusão. Ultrapassada
essa fase, sem que haja justificativa ou que não se enquadre em qualquer
exceção legal, (...) é vedada às partes a juntada de quaisquer documentos
nos autos, (...) o processo não pode servir de palco para artimanhas
processuais que objetivem surpreender as partes ou alcançar algum
objetivo ilegal. Assim, desde que não decorrente de má-fé ou deslealdade,
bem como seja respeitado o princípio do contraditório pela intimação para a
parte contrária se manifestar no prazo legal, doutrina e jurisprudência
tendem a permitir a juntada de documentos no processo a qualquer
momento.” (SILVA, 2019, p. 723)4

A arguição de falsidade deve sempre ser feita em consonância com a


distribuição do ônus da prova Art. 429, e no prazo de 15 dias para que a parte
realize os atos processuais necessários à impugnação.

4
SILVA, João Paulo Hecker. Novo código de processo civil. OAB-PR. 2019
11

Conclusão
A prova documental é um instrumento vital em todos os contextos onde uma
evidência escrita é necessária, sua utilização deve sempre ser pautada pela boa fé
processual, obedecendo os procedimentos necessários para que a sua utilização
possua validade.
Durante a resolução da lide todo o conjunto probatório deve ser considerado,
não havendo uma hierarquia entre as provas nele contidas, mas uma valoração feita
pelo magistrado para que o processo se ajuste na busca pela verdade real. A
verdade real é o objetivo final de todo processo, o formalismo é relevante para a
ordem e efetividade da tutela, mas não pode se tornar o fim do processo.
Necessária uma importante deferência para normas e doutrinas que facultam
ao juiz acolher medidas que se excedam ao formalismo para que a verdade seja de
fato revelada. Em especial nos capítulos relativos à produção de provas, onde
mesmo fora do prazo o juiz poderá acolher provas não apresentadas no prazo
descrito, mas envoltas pela boa fé.
12

Referências
SILVA, João Paulo Hecker. AMARAL, Paulo Osternack. et, al. Novo código de
processo civil. OAB-PR. 2019

JÚNIOR, Humberto Theodoro. CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL. Vol 1.


Ed. Rio de Janeiro. Editora forense,2008.

STJ, 1ª T., REsp nº 845.860/SP, Rel. Min. Luiz Fux, por maioria, j. em 7/5/2009, DJe
de 10/6/2009. Disponível em: https://processo.stj.jus.br

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