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de todas
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Antes de travar contato com Bandidolatria e democídio: ensaios sobre garantismo penal e a
criminalidade no Brasil, obra de autoria dos prezados promotores de Justiça gaúchos Diego
Pessi e Leonardo Giardin de Souza, em terceira edição ampliada pela SV Editora, é
possível imaginar preconceituosamente que o livro seja um “desfile de juridiquês”. A
especulação, folgo em dizer, não poderia estar mais equivocada.
Em texto que exibe desenvoltura filosófica e profundidade teórica, os autores não recorrem
apenas, sequer majoritariamente, a doutrinadores do Direito ou a artigos jurídicos para
atacar os problemas sobre que se debruçam. Ao contrário: as duas referências mais
recorrentes na obra vêm da filosofia: ninguém menos que Olavo de Carvalho e o cientista
político Eric Voegelin. O livro ainda reúne contribuições de autores como Theodore
Darlymple e Mário Ferreira dos Santos, todos nomes facilmente reconhecíveis pelo público
liberal e conservador.
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A escolha permite que a abordagem, conquanto algumas vezes inevitavelmente e
oportunamente densa, traga ao alcance de um público menos restrito à área de formação e
atuação de Diego e Leonardo uma temática que não poderia ser de maior interesse para
qualquer brasileiro. Afinal, trata-se, sem exageros, da questão mais importante de todas
para o país, porque é a mais urgente: como, quando e por que “naturalizamos” uma
realidade dramática em que sessenta mil compatriotas perecem violentamente todos os
anos? Tudo o mais, por importante que seja, está alguns degraus abaixo em relevância; não
há como tratar de todos os outros problemas sem se preocupar primeiro com o fato de que
você tem cada vez menos convicção de que voltará ileso para casa.
Em sua metade do livro, Diego Pessi se esforça por desnudar, recorrendo com riqueza a
pesquisadores, notícias e dados estatísticos, o engodo do criminoso como um produto mais
ou menos inocente das circunstâncias sociais, no pior estilo da máxima rousseauniana “o
homem é bom, mas a sociedade o corrompe”, que está por trás das ideologias criticadas no
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livro. Ele sustenta que prevalecem imensamente a subjetividade e a prerrogativa decisória
do indivíduo na hora de cometer um crime, muito mais que as injunções do meio ou as
condições socioeconômicas.
Uma posição polêmica para liberais mais radicais e para libertários, defendida pelos dois
autores com riqueza de argumentos e dados, é a oposição à legalização ou
descriminalização das drogas, tais como a maconha e o crack. As drogas são apontadas,
com base em textos originais que atestam a intenção de líderes socialistas de distintas
origens nesse sentido, como instrumentos de desestabilização das sociedades ocidentais,
bem como são mostradas declarações de poderosos traficantes favoráveis à legalização.
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A maior parte do texto de Giardin, contudo, é uma análise minuciosa da ideologia do
“garantismo penal” – análise que começa, aliás, com uma das exposições mais objetivas
e didáticas que já vi do conceito de “ideologia” na acepção negativa e original da palavra,
que surge na França, com o deboche de Napoleão aos teóricos políticos de sua época,
associando o termo à devoção abstrata a uma ideia que se deveria impor ao mundo
concreto.
Com riqueza de detalhes, ele mostra como essa ideologia nasceu a partir de um movimento
de juristas politizados à esquerda na Itália conturbada dos anos 70, a Magistratura
Democrática Italiana, em especial com base nas ideias do jurista Luigi Ferrajoli. O apelo
oportunista ao positivismo jurídico disfarçou, na obra de Ferrajoli, as intenções políticas de
seu apelo às “garantias dos direitos” do criminoso como preocupação máxima do julgador, a
ponto de precisar ter sempre por disposição aplicar a pena mais leve. Essa corrente
politizada procura se travestir de neutra para “adocicar” o caminho dos meliantes, ocultando
uma sub-reptícia desconfiança da aplicação contundente da justiça e do “direito burguês”.
Ferrajoli chegou a dizer às claras que “o socialismo é o projeto de uma sociedade para a
qual a destruição dos lugares antissociais do nascimento dos delitos – sobretudo a
instituição carcerária – é um efeito de sua própria estrutura”, devendo-se buscar a
superação da “ética cristã-burguesa”. Comparando-se esse discurso com muito do que se
vê por aqui, deve-se no mínimo levar a sério a denúncia de Giardin quanto à hegemonia
dessa corrente no Brasil, algo que tem marco histórico com uma reunião de magistrados no
Sul em 1986, idealizando “a resistência política revolucionária em que a Justiça fosse
uma força ativa na luta de classes, através de uma hermenêutica constitucional
visando ao que alardeavam ser ‘um direito melhor e mais justo’”.
As consequências ficam mais evidentes através de exemplos nas últimas páginas, um deles
o caso de um projeto de lei influenciado por essa ideologia que propunha extinguir sem
julgamento qualquer processo com mais de um ano de duração – modelo explícito de
desconexão da realidade, já que isso somente preservaria os casos com réus e
investigados menos abastados, incapazes de financiar recursos e mais recursos antes da
condenação.
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