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Organização e
Trabalho de Base
Pedidos:
Secretaria Nacional
secgeral@mst.org.br
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Texto de Ademar Bogo elaborado no ano 2000 para facilitar a realização das reuniões.
É normal nos depararmos com uma situação, em
que não sabemos mais como seguir em frente em uma
reunião. Isto ocorre por diferentes razões que podem
estar na deficiência de preparação, na colocação dos
assuntos sem a definição de objetivos claros, ou até
mesmo por ser o coordenador de baixa capacidade e
não conseguir dinamizar a reunião.
Neste sentido é que se torna importante, sempre
que alguém convocar ou coordenar uma reunião, deve,
além de preparar-se, convocar outras pessoas para
ajudá-lo.
Para que uma reunião alcance êxitos devemos
nos propor a entender três aspectos: o que é, como se
prepara e como se conduz uma reunião.
5o Fechamento da reunião
Para encerrar a reunião é importante que o
coordenador estabeleça a seguinte ordem para que se
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Capítulo II
Como formular e
encaminhar uma
proposta2
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Os próximos três capítulos foram publicados originalmentena cartilha “ Como organizar a
massa”.
Em nossas reuniões e encontros, estamos acostuma-
dos a fazer grandes discussões mas encontramos muitas
dificuldades em formular e encaminhar uma proposta
até o final. Na maioria das vezes, aquilo que pensamos
ser uma proposta é apenas uma sugestão que indica
somente o que tem que ser feito, mas não detalha
como deve ser feito e quem deve fazer. É importante
aprofundar esta discussão para que possamos discutir,
formular e executar corretamente nossas propostas.
Para facilitar a exposição, vamos seguir três passos
fundamentais:
1- Apresentação da idéia
Em todas as reuniões, para que elas aconteçam,
necessitamos ter alguns pontos de pauta que nada mais
são do que idéias que precisam ser discutidas entre
todos. Para se fazer a discussão, necessita-se:
a) Que alguém apresenta a idéia
Apresentar a idéia significa explicar para os
demais companheiros que estão na reunião, o que,
de fato, significa aquele ponto de pauta.
b) Colocação dos objetivos
É fundamental que sejam colocados os objetivos,
ou seja, o que se quer alcançar com tal idéia, para
que todos tenham claro na hora de discutir e possam
aprofundar as vantagens e desvantagens, avanços ou
recuos e o que significará para a organização, se for
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a) Análise
É preciso analisar profundamente o assunto que está
em discussão, para ver se está de acordo com nossas
linhas políticas e se isso mesmo que precisamos fazer
para solucionar tal problema ou avançar com nossa
luta. A análise bem feita é que garante que a proposta
não esteja desvinculada da realidade no momento de
sua execução.
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b) Viabilidade
Na discussão, é necessário compreender se é
viável tomar tal decisão, ou se apenas resultará em mais
trabalho para onúcleo ou para a organização. Istojá
deve estar claro na definição dos objetivos. É preciso 17
tomar cuidado em relação às prioridades definidas
anteriormente por toda a organização, para saber se tal
proposta se encaixa dentro destas prioridades.
d) Condições
É preciso saber se estamos em condições políticas,
organizativas e econômicas, para tomar determinada
decisão. Nem sempre, porém, necessitamos ter todas as
condições preparadas, mas é de fundamental importância
que se levee m consideração, para que se possa
complementá-las nesta fase de formulação da proposta.
3 - Planejamento e Execução da Proposta
Após ter-se encerrado o tempo determinado para
a formulação da propoista , deve-se partir para o terceiro
passo, que é planejar a execução da proposta. Para isso,
toma-se necessário seguir novamente alguns passos:
a) Retomar os Objetivos
Retomar os objetivos significa definir as metas em
termos de quantidade e tempo para atingir tais objetivos.
b) Alinhar todas as atividades correspondentes
É necessário que sefaça a relação completa de
todas as atividades que deverão ser realizadas para
alcançar todos os objetivos definidos anteriormente. As
atividades devem levar em conta a realidade objetiva
e as possibilidades de concretização das mesmas.
Nunca devemos definir atividades que não tenhamos
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possibilidades de executá-las.
c) Nomear responsáveis para cada atividade
Cada atividade necessita de um responsável para
execute-la. Quando a atividade necessitar mais de um
militante para coordenar e articular tal atividade. 18
d) Discutir e encontrar meios para a execução
Cada atividade, para ser realizada, exigirá meios
e condições financeiras para tanto. Não basta definer
as atividades e nomear os responsáveis. Se não
buscarmos conjuntamente os recursos e materiais
necessários, o planejamento ficará prejudicado.
É preciso prever tudo, mesmo que nem tudo seja
utilizado.
e) Avaliar o desenvolvimento das atividades
A avaliação faz parte do planejamento das
atividades pois possibilita analisar se o trabalho está
sendo realizado ou não. A avaliação faz parte do
controle coletivo da execução das atividades. Por isso,
ela precisa ser permanente para que se tenha condições
de retificar a tempo os desvios cometidos.
Neste sentido é importante preparar-se para
enfrentar novas situações que surgirão durante a
execução das atividades. Embora tudo esteja claro,
definido e organizado, não podemos fechar os olhos
e achar que tudo sairá como planejamos. Como tudo
se modifica muitas vezes, alguns detalhes levam ao
fracasso de toda a proposta. Organização e Trabalho de Base
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Capítulo III
Como se constrói um
movimento de massa
A massa cresce em movimento. As motivações
para a mobilização nascem das necessidades que a
massa tem.
As mobilizações de massa podem acontecer por
diferentes motivos, basta interpretar as necessidades
da massa e criar as motivações para que esta participe.
Não basta porém mobilizar a massa, é preciso
encontrar formas para que esta se organize.
As mobilizações podem ser apenas esporádicas
e temporárias, a organização deve ser permanente.
A organização da massa se faz através de
uma estrutura orgânica que dê corpo e forma de
movimento de massa.
A organização de massa não se dá de forma
espontânea, é um processo de construção. Para que
isto aconteça necessita-se de duas coisas fundamentais:
— primeiro – que haja alguém que se proponha a
pensar e a construir o movimento de massa.
— segundo – criar as condições para que isto aconteça.
Ou seja, definir objetivos, estabelecer metas e buscar
os meios para construir a organização de massa.
A construção da organização de massa é um
processo que vai se desenvolvendo, às vezes de
forma rápida, às vezes de forma lenta. É um caminho
a ser percorrido. A mobilização é um elemento
fundamental mas existem outros elementos que não
podem faltar.
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dirigente.
Este nem sempre está na direção oficial, mas a
massa o reconhece como tal.
c) O funcionário dirigente
Este gosta da burocracia. Geralmente se faz
passar de sabedor e conhecedor de tudo, mas não sai 28
de trás da mesa nem empurrado. Quer sempre estar
informado de tudo o que acontece, porque passando as
informações, coloca-se numa posição de que “somos
nós” que estamos fazendo.
d) O dirigente funcionário
Desenvolve tarefas burocráticas e administrativas
como prioridade mas não se atém a elas simplesmente.
Procura estar vinculado de uma forma ou outra ao
movimento de massa como um todo.
e) O assessor dirigente
Toda assessoria indica a direção, porque são
através das análises que se tomam as decisões. Muitos
dirigentes sempre se colocam como assessores,
passam as informações, mas são incapazes de dar
um passo na programação e na execução das tarefas.
f) O dirigente “assessor”
Faz parte da direção, é reconhecido como tal,
e procura subsidiar todas as discussões com novas
informações. Procura capacitar e qualificar os demais
dirigentes que fazem parte da direção.
g) O formador dirigente
Dirige através da formação, mas não se envolve
com o todo da organização. Geralmente desenvolve
atividades desligadas do movimento de massa. Ocupa
cargos na direção porém de forma incompleta e
insuficiente.
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h) O dirigente formador
Consegue, através da prática, capacitar os
militantes e orientá-los sem ser um simples professor.
Por conhecer o todo da organização desenvolve tarefas
de formação relacionadas com a programação do
movimento de massa. No próprio curso de formação 29
consegue distribuir tarefas e colocar os quadros em tarefas
certas. ·
O Movimento de massa sem estrutura orgânica é
um movimento sem sustentação.
Dentro do movimento de massa deve-se nuclear
os militantes para que as discussões e decisões sejam
tomadas de forma coletiva e participativa. Os militantes
também participam da direção na medida em que par
ticipam das discussões.
7 - Articulação das lutas
Nenhum movimento, por mais forte que seja, pode
sobreviver sem articulação com outros movimentos ou
com outras forças importantes.
Esta articulação deve visar acumular mais força para
desgastar e bater com mais força no inimigo.
A articulação não pode criar dependência ou trair
os princípios da organização, satisfazendo interesses
individuais ou de grupos oportunistas.
A articulação das diversas lutas desenvolvidas
por diferentes forças deve primar pelo caráter classista
procurando atingir objetivos táticos, imediatos e
estratégicos, a longo prazo.
8 - Combinação das diferentes formas de luta
A organização de massa não deve bitolar-se em
desen volver uma forma de luta edepressão apenas.
Deve buscar a combinação das diferentes formas para
confundir o inimigo e atacar em diferentes frentes.
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Capítulo IV
Trabalho de massa e
trabalho de grupo
Muito se ouve falar em “movimento de massa”,
que “quem tem força é a massa”, que “tudo deve ser
feito com a massa”, e assim por diante.
Este princípio de organizar e manter vinculação
com a massa está correto, pois, se algo deve ser feito
visando a transformação da sociedade, só acontecerá se
a massa estiver organizada, participando ativamente do
processo de libertação. Esta é uma tarefa que ninguém
poderá fazer pela massa. Ela deve ser parte integrante
desta história.
Mas, por outro lado, existe tam bém o trabalho
de grupo que, sem estar dissociado da massa, é tão
importante quanto o primeiro, pois nesta luta contra a
dominação, existem tarefas para todos. Quem só faz um
não faz o outro trabalho, quer andar com uma perna só.
E, para andar corretamente, sabemos que é importante
ter as duas pernas em perfeita forma, para caminhar a
passos lentos se for preciso, mas também correr se o
momento exigir.
1- O trabalho de organização da massa
Entendemos por “massa” o conjunto de pessoas
de uma determinada categoria ou classe, que está
dispersa ou organizada em torno de uma proposta e que
pode desenvolver atividades diversas. Os trabalhadores
rurais sem terra do Brasil, podem ser considerados
a grande massa dos Sem Terra, como também os
assentados organizados e que já conquistaram a terra,
podem ser considerados massa dos sem terra que
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participa do MST.
O trabalho de organização de massa terá
complicadores se não tiver alguns princípios que
norteem esta organização. Podemos citar alguns de
fundamental importância.
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2 - A massa por si só se mobiliza mas não se
organiza
É comum vermos mobilizações de massa. Isto não
é difícil de ocorrer porque a massa tem necessidade e
é em torno destas necessidades que ela se mobiliza até
espontaneamente.
Mas mobilizar é diferente de organizar.
A mobilização pode apenas visar o imediato e,
após ter realizado ou não este intento, a massa
se dispersa novamente. A organização da massa
parte do imediato, por isso se mobiliza, mas visa a
continuidade desta mibilização e isto só será possível
se houver organização.
3 - A massa quer resposta aos seus problemas
A massa não precisa de perguntas, isto ela tem demais.
Ela precisa de respostas que visem resolver ou solucionar
seus problemas. Estas respostas, geralmente são dadas
em forma de propostas que visam a participação da
massa para que ela mesma tome parte das resoluções
destes problemas. Portanto, querer organizar massa
sem respos tas concretas, é cair no vazio, pois ninguém
luta por achar bonito ou por satisfação. Todos querem
resultados concretos para seus problemas.
4. A massa tem níveis de entendimento
diferenciados
A massa não é um corpo sólido que possui o
mesmo ntendimento sobre as coisas. A origem de
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sociedade.
A própria massa projeta suas lideranças. É
necessário, porém, que ela demonstre coerência e
assuma as responsabilidades impostas por ela mesma
e pelo processo politico.
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Os quadros se multiplicam de acordo com as
necessidades. Não existem lideranças auto-nomeadas,
elas são reconhecidas de acordo com a atividade que
desenvolvem. Há necessidade, porém, de multiplicar
a quantidade de companheiros na distribuição das
tarefas e garantir a formoção política para que todas
as ·lideranças tenham condiçoes de se apropriarem da
cultura política para ter condições de contribuir com
profissionalismo na organização da massa.
e) Desenvolver uma mística revolucionária
A massa, por mais problemas que tenha e por
mais difildades que sinta, sempre reserva um espaço
para a alegria e festividade. Por isso, o trabalho de
massa não pode ser frio e desmotivado. É necessário
que se desenvolva uma mística adequada às condições
concretas, utilizando elementos da própria realidade.
A mística deve ser desenvolvida em cima dos
dois elementos básicos, contemplando as necessidades
e as aspirações da massa. É adequar o presente com o
sonho de liberação futura, ou seja, antecipar o futuro
sem perder de vista as condições reais do momento
atual.
11 - A educação e a formação da massa
A massa se educa em movimento. Ela cresce
e seforma nas ações concretas. As mobilizações
permanentes pos sibilitam uma convivência política e
as massas aprendem a gostar de sua organização e de
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Trabalho de grupo
O trabalho de grupo ao mesmo tempo que tem
características próprias, também faz parte do trabalho
de massa. Porque não basta reunir pessoas e dizer que
ternos um grupo. E preciso que se tenha três elementos
básicos para considerarmos um grupo de forma
pennanente:
a) Ter objetivos claros
Saber porque estamos reunindo este grupo e o que
se quer alcançar com ele, caso contrário, ele será um
grupo momentâneo ou se reunirá apenas quando for
conveniente para seus membros.
b) Ter um plano de trabalho
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grupos.
5 - Trabalho permanente
O trabalho de grupo dificilmente entra em crise
ou em refluxo porque é possível, em períodos em que
não haja mobilizações de massa, desenvolver atividades 44
apenas para os grupos.
Estas atividades podem ser relacionadas a futuras
mobilizações de massa ou ser atividades caracterizadas
como específicas dos grupos, sem visar a mobilização
de massa.
O trabalho de grupo e o trabalho de massa são
duas faces da mesma moeda. Um depende do outro
para ser perfeito. Ambos se complementam.
Dentro do MST, o trabalho de massa refere-
se às mobilizações e às ações programadas visando
a conquista da terra e demais reivindicações que
complementam esta atividade. O trabalho de grupo,
para nós, deve ser entendido como a organização dos
núcleos, os grupos-motores e a organização dos setores,
mas fundamentalmente, a organização dos núcleos
dentro dos assentamentos onde está constituída a base
do MST.
Nem o trabalho de massa, nem o trabalho de
grupo, se organizam espontaneamente. É preciso muita
dedicação e persistência para que haja continuidade,
do contrário, isto passa a ser apenas uma concepção
política infrutífera que jamais produzirá resultados.
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Capítulo IV
ganizações.
d) O método de direção e a divisão de tarefas e res-
ponsabilidades (planejamento)
Como já vimos anteriormente, não existem métodos
permanentes que se possa utilizar sem mudanças, 60
complementos, tendo em vista que a realidade sem-
pre está em movimento, e por isso os métodos não
podem ser transplantados mecanicamente de uma
realidade para outra.
A realidade é complexa e está em permanente movi-
mento, provocado pelas contradições que nela sur-
gem e se desenvolvem. Muitos elementos que usamos
em um determinado momento, já não se adaptam
ao momento seguinte, por isso é que uma das prin-
cipais qualidades de um dirigente é saber formular
métodos de acordo com a realidade concreta para
poder transformá-la. Quanto maior for a capacidade
de alguém formular métodos de trabalho, maior será
sua capacidade de intervenção na transformação da
realidade.
O planejamento é outro elemento essencial do mé-
todo de direção. Sem planejamento, acabamos nos
guiando pelo espontaneísmo, pelo voluntarismo, pe-
las questões conjunturas e temos dificuldade de ava-
liar e medir os avanços e limites que temos nos pro-
cessos de lutas e da organização da base. Ou seja,
sem um planejamento adequado, podemos realizar
muitas ações, mas, qual o acúmulo político delas?
Planejar é prevenir, é organizar os passos a serem da-
dos. É a garantia da eficiência naquilo que vamos
fazer de acordo com os objetivos preestabelecidos.
Planejar é antecipar. É verificar no presente as con-
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