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CADERNO DE FORMAÇÃO Nº 39

Organização e
Trabalho de Base

Organização e Trabalho de Base

Setor de Formação - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 1


Expediente
O Caderno de Formação nº 39: “Organização e Trabalho de
Base”, é uma publicação do Setor de Formação do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Diagramação: Secretaria Nacional MST

Pedidos:
Secretaria Nacional
secgeral@mst.org.br

1ª edição - dezembro de 2015


Atualizado em julho 2019
Sumário
I – Como fazer uma reunião------------------------------------------07

II – Como formular e encaminhar uma proposta----------------17

III – Como se constrói um movimento de massas---------------23

IV – Trabalho de Massa e trabalho de grupo----------------------33

V – Elementos teóricos para subsidiar a


construção da organicidade do MST ------------------------47
Capítulo I

Como fazer uma reunião1

1
Texto de Ademar Bogo elaborado no ano 2000 para facilitar a realização das reuniões.
É normal nos depararmos com uma situação, em
que não sabemos mais como seguir em frente em uma
reunião. Isto ocorre por diferentes razões que podem
estar na deficiência de preparação, na colocação dos
assuntos sem a definição de objetivos claros, ou até
mesmo por ser o coordenador de baixa capacidade e
não conseguir dinamizar a reunião.
Neste sentido é que se torna importante, sempre
que alguém convocar ou coordenar uma reunião, deve,
além de preparar-se, convocar outras pessoas para
ajudá-lo.
Para que uma reunião alcance êxitos devemos
nos propor a entender três aspectos: o que é, como se
prepara e como se conduz uma reunião.

1. O que é uma reunião


A reunião é um momento onde um grupo se
encontra para discutir, avaliar e tomar decisões. Isto
se quisermos tratar apenas do aspecto racional da
organização e do ser humano.
Se quisermos valorizar de fato as pessoas que
compõe o grupo e a organização, devemos considerar
outras dimensões da vida humana que procuram através
da reunião, buscar satisfações para os aspectos que
não dizem respeito simplesmente ao lado político, mas
também sentimental, emotivo etc.
Muitos militantes e dirigentes acreditam que a
reunião se resume na parte do encontro e discussão
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dos pontos previstos, mas se enganam profundamente.


Isto porque, para se fazer uma reunião de duas horas,
provavelmente se necessite trabalhar cinco e até dez vez
mais na sua preparação. Há estudiosos que afirmam que
as razões para uma boa reunião se encontram: 50% no
que se faz antes dela começar. Mais um percentual de 6
30% cabe ao bom coordenador e apenas 20% está sob
responsabilidade dos participantes, para que a reunião
seja de fato um sucesso.
Poderíamos destacar sete linhas específicas para que
se faça uma boa reunião.
- Definir os objetivos da reunião e preparar a pauta
- Convocar antecipadamente os participantes
- Preparar o local que sempre deve ser confortável, de
fácil acesso e que cause boa impressão.
- Prever o horário certo de iniciar e de terminar evitando
desgastes
- O coordenador deve manter a ordem dos pontos a
serem discutidos e dar oportunidade a todos para
emitirem sua opinião dentro do prazo estabelecido.
- Encaminhar corretamente as definições com
distribuição de tarefas
- Avaliar o desempenho para saber o que se deve
melhorar.

2. Como se prepara uma reunião


A reunião para ser bem realizada precisa ser
preparada com antecedência. Não basta marcar a data
da reunião na agenda e ficar a espera de que chegue o
dia e o horário marcado.
Reunir uma equipe de preparação
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A equipe de preparação será responsável e a


garantia de que a reunião sairá bem feita. Para isto
deverá seguir determinados passos.
1 o Retomar ou definir os objetivos a serem
alcançados com a reunião.
7
Não podemos entrar em uma reunião sem termos
clareza do que queremos alcançar com ela, embora
muitas vezes o resultado alcançado seja diferente do
que pensamos, mas o importante é chegarmos a um
resultado concreto. Poderíamos dizer que temos dois
tipos de objetivos em cada reunião: o primeiro podemos
chamar de objetivos gerais que são amplos e atendem
as linhas políticas da organização. O segundo, podemos
chamar de objetivos específicos que são aqueles
determinados pela reunião ou para cada ponto de pauta.

2o Preparar a pauta da reunião


A pauta nada mais é do que o alinhamento dos
pontos que queremos discutir com todos os itens, de
preferência com os objetivos a serem alcançados e a
metodologia a ser utilizada para se fazer a discussão
e aprovação de cada ponto, inclusive com tempo
determinado.
Sempre deve-se prever um espaço para que os
presentes na reunião possam acrescentar algum assunto
que por ventura não se possa adiar. Isto é feito no
momento da apresentação da pauta.

3o Definir data, local e as equipes de trabalho


Definido a data, deve-se pensar no local que seja
de fácil acesso e tenha condições adequadas para se fazer
uma boa reunião. Não precisa ser um lugar luxuoso, é
importante que seja confortável ou pelo menos que tenha
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as condições mínimas, como: bancos para sentar, sala


ou local ventilado, banheiros próximos, luz, se a reunião
for à noite, água potável para beber etc.
Visto isto, deve-se pensar nas equipes que irão
contribuir para a realização da reunião. Para isto é
necessário distribuir tarefas entre todos. Inicia-se pelo 8
estabelecimento das tarefas:
a) Confecção e distribuição dos convites
b) Impressão da pauta e demais materiais
c) Ornamentação e preparação do local
d) Animação da reunião
e) Alimentação, hospedagem, lanches no caso da
reunião ser prolongada
f) Segurança para garantir tranquilidade aos participantes.
g) Recepção e transporte, se necessitar
h) Contatos com assessorias, se precisar e acompanhá-las
i) Preparação de pastas e materiais didáticos, se
necessitar, dependendo do caráter da reunião se é
mais de estudo ou de decisões práticas.
j) Definição de quem irá coordenar e secretariar a
reunião. Nas reuniões rápidas que impossibilita esta
preparação, deve-se como primeiro passo, definir
quem coordenará a reunião.
Para cada atividade destas citadas ou outras que
necessariamente surgirão, deve-se responsabilizar
pessoas ou equipes para realizá-las, quanto mais
distribuirmos ás tarefas, maior será a participação e a
capacitação das pessoas envolvidas.

3. Como realizar uma reunião


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A reunião como vimos tem diferentes momentos.


Podemos dizer que ela já inicia no momento da
definição dos objetivos, muito tempo antes das pessoas
se encontrarem sentadas em uma sala ou em outro lugar.
A realização da reunião trata-se deste momento
do agrupamento das pessoas em um lugar determinado. 9
Para facilitar a explicação deste momento separamos
por passos.
1o Recepcionar as pessoas
Geralmente as pessoas não chegam todas no
mesmo momento, vão chegando aos poucos. Sendo
um grupo conhecido, não há problema, pois as pessoas
espontaneamente irão encontrar formas de integrarem-
se e utilizar o tempo, enquanto aguardam o início da
reunião. Mas se for um grupo de pessoas estranhas ainda
não há um relacionamento franco, é natural que fiquem
dispersas, por isso é importante que se constitua uma
equipe para recepcioná-las e dar atenção antes de iniciar
a reunião.
2o Fazer a abertura da reunião
A abertura deve ser uma cerimônia previamente
preparada que se adapte ao ambiente e ao número de
pessoas que participarão da reunião. Muitos classificam
este momento como de mística, ou seja, é uma forma
de trazer presente aspectos da realidade e da utopia que
todos possam observar e sintonizar os sentidos em busca
da unidade e da antecipação dos aspectos estratégicos
que queremos alcançar.
A abertura pode seguir a seguinte divisão:
a) Animação inicial e mística
Este é o momento forte da abertura onde se
movem os sentimentos e destaca-se o valor da alegria
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com o fundamental. Pode-se homenagear lideranças


ou mártires, cantar o hino da organização ou o hino
Nacional Brasileiro.
b) Apresentação dos objetivos da reunião
Neste momento é que são apresentados os 10
objetivos da reunião. Se for uma reunião grande, deve-
se pensar em compor mesa com diferentes pessoas,
possivelmente hajam lideranças de outras organizações
que poderiam utilizar a palavra. No caso de ser reuniões
pequenas, basta que alguém faça a explicação rápida
dos objetivos da reunião.
c) Apresentação dos presentes
Se na reunião tivermos pessoas que não se
conhecem é importante reservar um momento para
que todos possam dizer seus nomes, de onde vêem e
o que fazem para tranquilizar e também para se criar
uma identidade afetiva no grupo.
Se as reuniões são de pessoas conhecidas, pode-
se reservar este momento para destacar aspectos das
virtudes que cada um tem, do que gosta de fazer, do
que fez durante a semana, expressar o que cada um
vê no símbolo colocado à frente, declamar poesias
espontaneamente, cantar, enfim, destacar qualidades
das pessoas. Há grupos que se reúnem há anos e as
pessoas não se conhecem e se espantam quando
por ventura vêem algum membro despontar em uma
atividade, pois ninguém acreditava ou não havia se
dado conta destas qualidades escondidas.

3o Preparação e início das discussões


Após ter-se feito esta sessão de abertura, mais
prolongada ou menos, de acordo com o caráter da
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reunião, dá-se início aos encaminhamentos para se


fazer às discussões.
a) Apresentação dos pontos a serem discutidos
Isto somente pode acontecer se já tivermos
coordenador escolhido e a pauta elaborada. Caso
contrário deve-se escolher o coordenador e secretário 11
e alinhar os pontos que serão discutidos.
A forma de apresentar os pontos de pauta,
depende da capacidade e iniciativa do coordenador.
Pode ser através da leitura dos pontos que estão
impressos em uma folha, pode ser através de cartazes
ou outras formas, o importante é fazer com que todos
entendam o que vai ser discutido.
Aprovar a pauta, prever o tempo para cada ponto,
e definir o horário do término da reunião.
O coordenador pode fazer algumas combinações
com os presentes ou pedir para que os responsáveis pela
segurança o façam, como horários, disciplina, cuidados
e demais orientações.

4o Colocação para debate de cada ponto


O coordenador tem a tarefa de apresentar o ponto
juntamente com os objetivos que se queira alcançar
com esta discussão, estabelecer a forma metodológica
da discussão, se será em plenária ou em grupos ou de
outras formas. E inicia obedecendo a seguinte ordem.
a) Abre a discussão
Orienta para que as falas sejam feitas por ordem
de inscrição limitando o tempo se for necessário.
O coordenador deve ficar atento para anotar
as propostas de encaminhamentos que já vão sendo
colocadas durante as falas.
b) Colocação e aprovação das propostas
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Esgotado o tempo de discussão do ponto


específico, o coordenador intervém colocando as
propostas de encaminhamentos expressas por quem
as colocou. Se são contraditórias, deve pedir para que
os respectivos responsáveis esclareçam mais sobre o
12
que significam e, na medida que estiver claro, coloca
em aprovação; permanecendo a vontade da maioria.
No caso de serem complementares, as propostas, o
coordenador deve ter a habilidade de reunir em uma
só, e encaminhar.
c) Distribuição das tarefas
Toda discussão deve dirigir-se para encaminha-
mentos concretos, e estes encaminhamentos exigem
definições de atividades que poderão dar início a um
novo planejamento ou então a simples execução de uma
tarefa encerra o ciclo deste ponto da reunião. Podemos
usar como exemplo: se a discussão concluir que se
deve fazer uma mobilização de massas, significa que há
necessidade de elaborar um plano com detalhes para
que a mobilização aconteça, isto pode ser iniciado na
reunião como também delegar para um grupo, elaborar
o plano para ser discutido em uma próxima reunião.
Mas se a discussão encaminhou para o fechamento do
assunto, como por exemplo: pagar o aluguel da sede.
É somente definir quem irá efetuar o pagamento.
Assim se procede com todos os pontos. Um a um
ir sendo eliminado com os encaminhamentos devidos
e com a distribuição das tarefas.

5o Fechamento da reunião
Para encerrar a reunião é importante que o
coordenador estabeleça a seguinte ordem para que se
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tenha possibilidade de saber se a reunião valeu a pena.


a) Solicitar ao secretário que leia as conclusões
O secretário deve retomar os pontos, relatar as
conclusões alcançadas e os responsáveis pelas tarefas.
A forma de destaque das conclusões o coordenador
13
pode estabelecer se é através de aplausos ou através
de uma palavra de ordem etc.
O coordenador deve observar se os objetivos estão
sendo atingidos e alertar os participantes para que
também observe este aspecto.
b) Avaliar a reunião
Pode-se reservar um breve momento para avaliar
a reunião e recolher sugestões para a próxima.
c) Marcar a próxima reunião
Sendo um grupo organizado deve-se prever no
caso de não se ter um calendário definido, a data e local
da próxima reunião, ou então, alertar que será feito um
convite posteriormente para que todos possam voltar a
se reunir.
d) Encerrar a reunião
Sempre deve haver o encerramento da reunião.
Este deve ser alegre e por isso a pessoa ou equipe
encarregada deve assumir o comando de encerrar
a reunião. Podendo entregar lembranças para cada
participantes, cantar hinos, prever falas e discursos etc.
Uma reunião, na medida em que vai encerrando,
é importante que deixe uma sensação de saudade em
seus participantes para que sintam vontade de retornar
na próxima.
Organização e Trabalho de Base

14
Capítulo II

Como formular e
encaminhar uma
proposta2

2
Os próximos três capítulos foram publicados originalmentena cartilha “ Como organizar a
massa”.
Em nossas reuniões e encontros, estamos acostuma-
dos a fazer grandes discussões mas encontramos muitas
dificuldades em formular e encaminhar uma proposta
até o final. Na maioria das vezes, aquilo que pensamos
ser uma proposta é apenas uma sugestão que indica
somente o que tem que ser feito, mas não detalha
como deve ser feito e quem deve fazer. É importante
aprofundar esta discussão para que possamos discutir,
formular e executar corretamente nossas propostas.
Para facilitar a exposição, vamos seguir três passos
fundamentais:

1- Apresentação da idéia
Em todas as reuniões, para que elas aconteçam,
necessitamos ter alguns pontos de pauta que nada mais
são do que idéias que precisam ser discutidas entre
todos. Para se fazer a discussão, necessita-se:
a) Que alguém apresenta a idéia
Apresentar a idéia significa explicar para os
demais companheiros que estão na reunião, o que,
de fato, significa aquele ponto de pauta.
b) Colocação dos objetivos
É fundamental que sejam colocados os objetivos,
ou seja, o que se quer alcançar com tal idéia, para
que todos tenham claro na hora de discutir e possam
aprofundar as vantagens e desvantagens, avanços ou
recuos e o que significará para a organização, se for
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tomada determinada decisão.


c) Esclarecimento das dúvidas
Deve-se reservar um espaço, antes de iniciar a
discussão propriamente dita, para que os participantes
da reunião possam perguntar ou pedir esclarecimento 16
sobre algum aspecto da idéia apresentada.

2 - Discussão e Formulação da proposta


Após ter apresentado a idéia, colocado os
objetivos e esclarecido as dúvidas, deve-se iniciar a
discussão do assunto, para que todos pos.sam colocar
seu ponto de vista, falando a favor ou contra, ampliando
ou mudando partes da idéia inicial.
É nesta fase que vão aparecendo sugestões e
a proposta vai sendo formulada, passando a ter um
caráter coletivo. O coordenador deverá ir anotando
todas as sugestões, emendas e propostas para, no
final do período determinado, apresentar um resumo
da discussão, colocar as contradições e encaminhar
votações, caso não haja consenso em torno da questão
central.
Para se fazer esta discussão e formular a
proposta, deve-se levar em consideração três questões
fundamentais.

a) Análise
É preciso analisar profundamente o assunto que está
em discussão, para ver se está de acordo com nossas
linhas políticas e se isso mesmo que precisamos fazer
para solucionar tal problema ou avançar com nossa
luta. A análise bem feita é que garante que a proposta
não esteja desvinculada da realidade no momento de
sua execução.
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b) Viabilidade
Na discussão, é necessário compreender se é
viável tomar tal decisão, ou se apenas resultará em mais
trabalho para onúcleo ou para a organização. Istojá
deve estar claro na definição dos objetivos. É preciso 17
tomar cuidado em relação às prioridades definidas
anteriormente por toda a organização, para saber se tal
proposta se encaixa dentro destas prioridades.

d) Condições
É preciso saber se estamos em condições políticas,
organizativas e econômicas, para tomar determinada
decisão. Nem sempre, porém, necessitamos ter todas as
condições preparadas, mas é de fundamental importância
que se levee m consideração, para que se possa
complementá-las nesta fase de formulação da proposta.
3 - Planejamento e Execução da Proposta
Após ter-se encerrado o tempo determinado para
a formulação da propoista , deve-se partir para o terceiro
passo, que é planejar a execução da proposta. Para isso,
toma-se necessário seguir novamente alguns passos:
a) Retomar os Objetivos
Retomar os objetivos significa definir as metas em
termos de quantidade e tempo para atingir tais objetivos.
b) Alinhar todas as atividades correspondentes
É necessário que sefaça a relação completa de
todas as atividades que deverão ser realizadas para
alcançar todos os objetivos definidos anteriormente. As
atividades devem levar em conta a realidade objetiva
e as possibilidades de concretização das mesmas.
Nunca devemos definir atividades que não tenhamos
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possibilidades de executá-las.
c) Nomear responsáveis para cada atividade
Cada atividade necessita de um responsável para
execute-la. Quando a atividade necessitar mais de um
militante para coordenar e articular tal atividade. 18
d) Discutir e encontrar meios para a execução
Cada atividade, para ser realizada, exigirá meios
e condições financeiras para tanto. Não basta definer
as atividades e nomear os responsáveis. Se não
buscarmos conjuntamente os recursos e materiais
necessários, o planejamento ficará prejudicado.
É preciso prever tudo, mesmo que nem tudo seja
utilizado.
e) Avaliar o desenvolvimento das atividades
A avaliação faz parte do planejamento das
atividades pois possibilita analisar se o trabalho está
sendo realizado ou não. A avaliação faz parte do
controle coletivo da execução das atividades. Por isso,
ela precisa ser permanente para que se tenha condições
de retificar a tempo os desvios cometidos.
Neste sentido é importante preparar-se para
enfrentar novas situações que surgirão durante a
execução das atividades. Embora tudo esteja claro,
definido e organizado, não podemos fechar os olhos
e achar que tudo sairá como planejamos. Como tudo
se modifica muitas vezes, alguns detalhes levam ao
fracasso de toda a proposta. Organização e Trabalho de Base

19
Capítulo III

Como se constrói um
movimento de massa
A massa cresce em movimento. As motivações
para a mobilização nascem das necessidades que a
massa tem.
As mobilizações de massa podem acontecer por
diferentes motivos, basta interpretar as necessidades
da massa e criar as motivações para que esta participe.
Não basta porém mobilizar a massa, é preciso
encontrar formas para que esta se organize.
As mobilizações podem ser apenas esporádicas
e temporárias, a organização deve ser permanente.
A organização da massa se faz através de
uma estrutura orgânica que dê corpo e forma de
movimento de massa.
A organização de massa não se dá de forma
espontânea, é um processo de construção. Para que
isto aconteça necessita-se de duas coisas fundamentais:
— primeiro – que haja alguém que se proponha a
pensar e a construir o movimento de massa.
— segundo – criar as condições para que isto aconteça.
Ou seja, definir objetivos, estabelecer metas e buscar
os meios para construir a organização de massa.
A construção da organização de massa é um
processo que vai se desenvolvendo, às vezes de
forma rápida, às vezes de forma lenta. É um caminho
a ser percorrido. A mobilização é um elemento
fundamental mas existem outros elementos que não
podem faltar.
Organização e Trabalho de Base

1- Estudo das necessidades


A partir da organização de um grupo que se
disponha a pensar e a organizar a massa, é indispensável
que se domine o conhecimento da realidade em que a
massa vive. Sem estudo e conhecimento científico da
22
realidade é impossível saber por onde começar e por
onde conduzir o movimento. É preciso impor-se este
desafio.
O conhecimento da realidade deve estar
relacionado com vários aspectos como: situação
de exploração e miséria em que a massa vive,
problemas que enfrenta, atividade produtiva que
desenvolve, quan tidade e qualidade da massa,
história das lutasdesenvolvidas eseus resultados, forças
que dominam e controlam a massa (de dir;eita e de
esquerda), quem são suas referências, disposição
de lu ta, estado de espírito, cu lt u ra prodominante,
símbolos e crenças, sentimentos, tabus, diversões,
grau de alfabetização, localização geográfica,
possibilidade de articulação e ampliação do movimento.
A partir do recolhimento dos dados é possível
elaborar uma análise detalhada da realidade e identificar
as necessidades que a massa tem.
2. A convivência
Do conhecimento da realidade deve resultar a
convivência com a massa. Não basta ler nos livros ou
elaborar teses, a organização de massa também tem seu
lado afetivo. Só é possível ganhar o reconhecimento da
massa :;e estivermos junto dela.
Esta convivência pode demorar mais ou menos
tempo, dependedo da capacidade deaglutinação
erelacionamento que os militantes tiverem.
Organização e Trabalho de Base

A convivência que é o contato direto com a


massa pode sedar de diferentes formas, basta estar
atentos e aproveitar as oportunidades que a própria
massa oferece. E preciso aiar as formas e os meios
para construir o relacionamento e estabelecer contatos
permanentes. 23
Os contatos com a massa não podem ser
esporádicos e oportunistas que só favoreçam os
interesses dos outros. Não podemos fortalecer o erro e a
dominação, mas temos que partir deles para chegarmos
à consciência e à organização da massa.
3. A formulação da proposta
A massa pode não ter consciência dos problemas
que tem, mas “sabe de cor e salteado” as dificuldades
que enfrenta. Ela sabe tudo o que falta, não sabe das
causas e quem são os culpados por tudo isso, por isso
tem dificuldades em se organizar por si própria.
A massa se agrupa em torno de propostas
concretas que visam resolver seus problemas
imediatos, sejam, econômicos, de saúde, educação,
moradia, terra etc.
Os dirigentes precisam saber formular propostas
e ter capacidade de convencer a massa de que estas
propostas são as melhores. Portanto a proposta tem que
ser:
1. Concreta - Ligada diretamente ao problema que a
massa enfrenta.
2. Compreensível - A massa precisa compreender o
que está sendo proposto, caso contrário nunca se
sentirá motivada em participar.
3. Justa - A proposta tem que ser feita no momento
certo. Não pode ser atrasada demais, que já esteja
Organização e Trabalho de Base

superada e nem tampouco avançada demais, que


cause desconfiança.
O convencimento da massa não se dá pela
imposição das propostas, se dá pela explicação,
pela discussão e pela compreensão de que chegou o
momento esperado. 24
A proposta, para ser elaborada, deve levar em
consideração ·a realidade e as possibilidades para
sua execução.
4. O Planejamento
A formulação e apresentação da proposta devem
vir acompanhadas do planejamento para sua execução.
Todo planejamento deve ter cinco partes
constitutivas:
a) Definir os objetivos
Os objetivos são as determinações do que se
quer fazer e alcançar. Por isso eles não podem ser
tão “estreitos”, que não visem alcançar resultados
satisfatórios e nem tão amplos, que nunca se consiga
atingí-los.
Os objetivos podem ser colocados como metas
de curto, médio e longo prazo para serem atingidos.
b) Definir as atividades e buscar os meios
As atividades devem ser definidas de acordo com
os objetivos visando sua realização.
Não basta definir as atividades é preciso buscar
os meios necessários: prever materiais, carros, telefone,
dinheiro etc., e saber onde conseguí-los.
As atividades devem ser definidas no conjunto.
Distinguindo as mais e as menos prioritárias, mas tendo
o entendimento de que todas elas, por mais simples
que sejam, são importantes para a realização do plano
como um todo.
Organização e Trabalho de Base

c) Definir as tarefas e os responsáveis


A definição das atividades deve culminar na
distribuição das tarefas e na responsabilização dos
militantes que irão executá-las.
25
Existem tarefas para todos. Na distribuição das
mesmas deve-se levar em consideração a capacidade
dos militantes onde cada um deve assumir a tarefa que
melhor se adapte às suas capacidades e qualidades
individuais.
As tarefas devem mobilizar muitos militantes. Não
pode haver centralização e sobrecarga de atividades
em poucos companheiros.
A capacitação dos militantes para assumir as
tarefas deve fazer parte da programação, tendo em
vista que todos tem o dever de saber fazer bem todas
as tarefas que assumem.
É importante multiplicar os conhecimentos, os
militantes e as atividades.
d) Definir as metas e o tempo
O planejamento deve prever metas a serem
alcançadas. As metas não podem ser ousada demais,
que sejam irreais em seu cumprimento, nem tão tímidas
que desestimule os militantes.
As metas podem ser divididas a curto, médio e
longo prazo; depende dos objetivos e do planejamento.
Deve-se porém distinguir as tarefas que levam mais e
menos tempo para serem executadas.
Um militante nunca pode ficar ocioso. Se algumas
tarefas forem de curta duração e o planejamento prevê
mais tempo para sua execução, é necessário que
sejam distribuídas novas tarefas para que os militantes
continuem contribuindo em tempo intensivo.
Organização e Trabalho de Base

e) Prever avaliações constantes


As avaliações constantes não devem apenas ser
efetuadas no final da realização do planejamento.
As avaliações servem para corrigir os erros e
retificar a prática, bem como avaliar o desempenho dos 26
militantes no cumprimento das tarefas.
As avaliações devem ser realizadas constantemente
visando as partes e o todo do planejamento.
5. A Mobilização permanente
Para que um movimento de massa se imponha
como uma força social é preciso que haja mobilizações
e lutas permanentes.
A massa cresce e se educa quando se mobiliza.
Qualifica os militantes e atrai os indecisos.
A força da massa está no seu potencial de
mobilização e organização.
As mobilizações não podem ser distanciadas
umas das outras. Quanto mais a massa se mobiliza,
mais se educa e se disciplina na participação.
As mobilizações sempre devem trazer ganhos
materiais. Não basta alcançar vitórias políticas. Isto é
importante para a organização e para os militantes. A
massa precisa de conquistas econômica para manter-
se estimulada e continuar na luta.
6. A organização e a estruturação orgânica
Mobilizar é diferente de organizar. O Movimento
de massa além de mobilizado deve estar profundamente
organizado. Sem mobilizar é dificil organizar. Uma
coisa depende da outra.
Para manter a massa organizada é necessário que
a mesma esteja mobilizada de forma permanente.
Dois fatores unem a massa: a “festa” e as
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“dificuldades”. A festa, que pode ser entendida como,


celebra, caravanas, comemorações, passeatas etc., onde
a massa entende que é impórtante estar presente. As
dificuldades que podem ser entendidas como, catástrofes,
falta de água, luz, remédios, terra, salários etc...
27
O movimento ele massa para se organizar
necessita de uma estrutura orgânica com: direção,
coordenação, comissões, departamentos, núcleos etc.
A direção deve ser constituída com os melhores
companheiros. Os mais capacitados que consigam
formular propostas, elaborar métodos de trabalho, fazer
análises, colocar os militantes, orientar-se por conta
própria no trabalho fazer crítica e auto-crítica e ser
exemplo para os militantes. Enfim, “o dirigente deve
ser a imagem e semelhança da organização” e vice-
versa.
Os dirigentes devem ser bem selecionados para
que possam trabalhar de forma coletiva e desenvolver
bem as atividades individualmente.
Temos vários tipos de dirigentes que estão
dispei:sos dentro das organizações. Poderíamos fazer
a seguinte diferenciação:
a) Militante dirigente
São os companheiros que carregam consigo
muitas deficiências e militam em algumas atividades
da organização, mas ainda estão num níveI de
militante. Estão na direção por indicação mas não
conseguem pensar e dirigir o todo da organização.
b) O dirigente militante
É militante na prática por desenvolver atividades,
mas tem a capacidade política de dirigente. A própria
prática e a referência na massa o reconheceu como
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dirigente.
Este nem sempre está na direção oficial, mas a
massa o reconhece como tal.
c) O funcionário dirigente
Este gosta da burocracia. Geralmente se faz
passar de sabedor e conhecedor de tudo, mas não sai 28
de trás da mesa nem empurrado. Quer sempre estar
informado de tudo o que acontece, porque passando as
informações, coloca-se numa posição de que “somos
nós” que estamos fazendo.
d) O dirigente funcionário
Desenvolve tarefas burocráticas e administrativas
como prioridade mas não se atém a elas simplesmente.
Procura estar vinculado de uma forma ou outra ao
movimento de massa como um todo.
e) O assessor dirigente
Toda assessoria indica a direção, porque são
através das análises que se tomam as decisões. Muitos
dirigentes sempre se colocam como assessores,
passam as informações, mas são incapazes de dar
um passo na programação e na execução das tarefas.
f) O dirigente “assessor”
Faz parte da direção, é reconhecido como tal,
e procura subsidiar todas as discussões com novas
informações. Procura capacitar e qualificar os demais
dirigentes que fazem parte da direção.
g) O formador dirigente
Dirige através da formação, mas não se envolve
com o todo da organização. Geralmente desenvolve
atividades desligadas do movimento de massa. Ocupa
cargos na direção porém de forma incompleta e
insuficiente.
Organização e Trabalho de Base

h) O dirigente formador
Consegue, através da prática, capacitar os
militantes e orientá-los sem ser um simples professor.
Por conhecer o todo da organização desenvolve tarefas
de formação relacionadas com a programação do
movimento de massa. No próprio curso de formação 29
consegue distribuir tarefas e colocar os quadros em tarefas
certas. ·
O Movimento de massa sem estrutura orgânica é
um movimento sem sustentação.
Dentro do movimento de massa deve-se nuclear
os militantes para que as discussões e decisões sejam
tomadas de forma coletiva e participativa. Os militantes
também participam da direção na medida em que par
ticipam das discussões.
7 - Articulação das lutas
Nenhum movimento, por mais forte que seja, pode
sobreviver sem articulação com outros movimentos ou
com outras forças importantes.
Esta articulação deve visar acumular mais força para
desgastar e bater com mais força no inimigo.
A articulação não pode criar dependência ou trair
os princípios da organização, satisfazendo interesses
individuais ou de grupos oportunistas.
A articulação das diversas lutas desenvolvidas
por diferentes forças deve primar pelo caráter classista
procurando atingir objetivos táticos, imediatos e
estratégicos, a longo prazo.
8 - Combinação das diferentes formas de luta
A organização de massa não deve bitolar-se em
desen­ volver uma forma de luta edepressão apenas.
Deve buscar a combinação das diferentes formas para
confundir o inimigo e atacar em diferentes frentes.
Organização e Trabalho de Base

Para cada situação concreta deve-se eleger


diferentes formas de luta e de pressão.
As formas de luta devem ser combinadas com as
situações e interesses internos e as situações e interesses
de outras forças que lutam para buscar garantir seus
direitos. 30
Embora os objetivos táticos sejam diferentes
devemos sempre unificar e eombinar os objetivos
estratégicos com outras organizações.
As lutas devem ser desenvolvidas nas diferentes
frentes, seja na terra, nas fábricas, nas escolas, nos
bancos, no parlamento ou na luta mais avançada.
O importante é que haja uma combinação entre si e
busque a participação da massa como um todo.

Organização e Trabalho de Base

31
Capítulo IV

Trabalho de massa e
trabalho de grupo
Muito se ouve falar em “movimento de massa”,
que “quem tem força é a massa”, que “tudo deve ser
feito com a massa”, e assim por diante.
Este princípio de organizar e manter vinculação
com a massa está correto, pois, se algo deve ser feito
visando a transformação da sociedade, só acontecerá se
a massa estiver organizada, participando ativamente do
processo de libertação. Esta é uma tarefa que ninguém
poderá fazer pela massa. Ela deve ser parte integrante
desta história.
Mas, por outro lado, existe tam bém o trabalho
de grupo que, sem estar dissociado da massa, é tão
importante quanto o primeiro, pois nesta luta contra a
dominação, existem tarefas para todos. Quem só faz um
não faz o outro trabalho, quer andar com uma perna só.
E, para andar corretamente, sabemos que é importante
ter as duas pernas em perfeita forma, para caminhar a
passos lentos se for preciso, mas também correr se o
momento exigir.
1- O trabalho de organização da massa
Entendemos por “massa” o conjunto de pessoas
de uma determinada categoria ou classe, que está
dispersa ou organizada em torno de uma proposta e que
pode desen­volver atividades diversas. Os trabalhadores
rurais sem terra do Brasil, podem ser considerados
a grande massa dos Sem Terra, como também os
assentados organizados e que já conquistaram a terra,
podem ser considerados massa dos sem terra que
Organização e Trabalho de Base

participa do MST.
O trabalho de organização de massa terá
complicadores se não tiver alguns princípios que
norteem esta organização. Podemos citar alguns de
fundamental importância.
34
2 - A massa por si só se mobiliza mas não se
organiza
É comum vermos mobilizações de massa. Isto não
é difícil de ocorrer porque a massa tem necessidade e
é em torno destas necessidades que ela se mobiliza até
espontaneamente.
Mas mobilizar é diferente de organizar.
A mobilização pode apenas visar o imediato e,
após ter realizado ou não este intento, a massa
se dispersa novamente. A organização da massa
parte do imediato, por isso se mobiliza, mas visa a
continuidade desta mibilização e isto só será possível
se houver organização.
3 - A massa quer resposta aos seus problemas
A massa não precisa de perguntas, isto ela tem demais.
Ela precisa de respostas que visem resolver ou solucionar
seus problemas. Estas respostas, geralmente são dadas
em forma de propostas que visam a participação da
massa para que ela mesma tome parte das resoluções
destes problemas. Portanto, querer organizar massa
sem respos tas concretas, é cair no vazio, pois ninguém
luta por achar bonito ou por satisfação. Todos querem
resultados concretos para seus problemas.
4. A massa tem níveis de entendimento
diferenciados
A massa não é um corpo sólido que possui o
mesmo ntendimento sobre as coisas. A origem de
Organização e Trabalho de Base

cada um in­dividualmente, influi na forma de pensar


e analisar as coisas de forma diferenciada.
Na organização de massa, podemos dizer
que en­contramos três tipos de comportamento
diferenciados:
35
a) Tipo que se convence com a proposta
Existem companheiros que, para seu
convencimento, basta a formulação de uma proposta
que vise resolver os seus problemas. Para este nível
de companheiro, não há necessidade de outras
formas de convencimento, pois já entendeu e só
espera para o chamamento final.
b) Tipo que quer também uma explicação
Existem companheiros que ouvem a proposta,
concordam com ela, mas querem saber outras coisas,
pois a simples proposta não lhes convenceu. Neste
sentido, é­preciso buscar novos elementos que visem
dar maior informação para este nível que tem dúvidas
sobre ajusteza da proposta.
c) Tipo que quer também um exemplo
Para muitos companheiros, a proposta apenas
não convence, querem também explicação sobre
detalhes da proposta e ainda um exemplo concreto
para comprovar a justeza da proposta.
Sem isto, passam a se distanciar da organização
e procuram desmerecer a proposta, intimidando
outros, que acreditam no primeiro momento. É
importante levar em consideração estes elementos,
para não simplificar a proposta pensando que todos
entenderam.
5 - A massa tem necessidades e aspirações
Organização e Trabalho de Base

A massa tem necessidades e aspirações próprias.


As propostas devem sempre partir das necessidades
para que sejam justas e ir em direção às aspirações que
a massa tem. Muitas vezes as aspirações do Dirigente
não são as mesmas aspirações da massa. Neste caso, é
preciso desenvol­ver um trabalho ideológico para fazer 36
com que as aspirações da massa adquiram um caráter
político e revolucionário.
6 - Tudo se extrai da massa
A massa é fonte inesgotável de tudo o que se
necessita para a organização. Depende apenas da
capacidade e da criatividade dos dirigentes.
7 - A massa não gosta de discussão!
Gosta de ação!
A massa quando se mobiliza sente prazer por
isso. Portanto, ela quer ir direto ao assunto, que é
resolver seus problemas imediatos. As discussões que
a massa topa fazer são em torno das suas próprias
propostas e não se detém por muito tempo em
discussões que ela sente que não lhe trarão resultados.
As lideranças e dirigentes precisam saber o
momento exato de encerrar um ato para não tomá-lo
demasiado longo ou esvaziá-lo por completo.
8 – A massa precisa de vitórias
Ninguém se mobiliza de forma permanente
se estas mobilizasnão trazem resultados concretos.
As vitórias, mesmo que pequenas, devem ser
comemoradas e des­tacadas para que isto sirva de
estím ulo para dar con­tinuidade às mobilizações.
As vitórias precisam ser tam bém materiais. Não
podem serapenas políticas porque as reivindicações
sãoconcretas e é por elas que ocorrem as mobilizações.
Organização e Trabalho de Base

9 - A massa necessita de referências


A massa gosta de seu líder, de seus símbolos,
de sua organização etc., e isto precisa ser destacado e
colocado ao alcance das mãos. Tem muitas coisas que
a massa não se satisfaz apenas vendo; precisa tocar,
abraçar, carregar etc... 37
Os dirigentes precisam criar as condições para
que isto aconteça. O gosto pelo símbolo é o gosto pela
libertação. Quando mais a massa se apega aos símbolos,
aos líderes e à organização, mais luta, mais se mobiliza
e mais se organiza.
10 - A massa organizada é base permanente
A massa organizada passa a ser base permanente
de mobilização. Isto ocorre quando as reivindicações
não são apenas imediatas, mas obrigatoriamente
necessitam de mobilização contínua para suas
conquistas serem garantidas.
A massa organizada estabelecerá algumas
referências, não apenas em torno da proposta
formulada, mas em torno de seu líder, seus símbolos, e
sua organização como tal.
Para manter a massa orgnizada e permanente
mobilização, necessita-se:
a) Ter uma organização
Esta organização é a que possui uma estrutura
orgânica, reconhecida pela sociedade ou por aquela
categoria. Além disso, deve ter:
• Um programa - que são as análises sobre a situação
geral da sociedade, e a identificação dos principais
problemas e necessidades da massa. A partir disso,
são formuladas as propostas apontando para o que
se quer e como se quer realizar.
Dentro do Movimento de massas o programa baseia-
Organização e Trabalho de Base

se nas avaliações políticas que a organização faz da


realidade e nas linhas políticas que são tiradas por
ela, visando alcançar as mudanças necessárias.
• Estratégia - que é o caminho definido visando o
ajustamento das lutas e ações imediatas e o que se 38
quer alcançar a longo prazo.
Movimento de massas não pode apenas fixar-se no
imediato. Deve perceber e se propor metas mais
abrangentes para serem atingidas num período mais
longo.
A estratégia pode também ser entendida como o
desfecho final de um programa caracterizado como o
ajuntamento de todas as lutas e pressões desenvolvidas
em um determinado período.
• Táticas - são as ações realizadas no dia-a-dia, visando
atingir a estratégia. Ou seja, elas estão direcionadas
para a estratégia.
No movimento de massas, as táticas são todas
as formas de luta utilizadas e combinadas entre si e
realizadas constantemente num determinado período.
A realização das linhas políticas será possível se o
movimento de massas conseguir desenvolver um plano
tático a ser concretizado nas ações diversas.
b) Ter uma Direção
Esta díreção é importante porque tem que ::issumir
a responsabilidade de dirigir a organização, elaborar
métodos de trabalho, formular propostas, analisar a
realidade, buscar recursos, programar .as atividades,
colocar bem as lideranças ou quadros, formar mais com­
panheiros para a luta, distribuír as tarefas de acordo
com as capacidades, controlar a organização e aplicar
Organização e Trabalho de Base

todos os princípios revolucionários.


c) Ter um plano de lutas
A organização não pode viver do imediato e
apenas mobilizar-se quando os problemas já estão
avançadíssimos e dificilmente conseguirá resultados
positivos. 39
O plano de lutas deve ser feito anteriormente
prevendo na execução a sua continuidade. Para fazer
este plano de lutas é necessário seguir alguns passos:
- Definir as atividades que serão feitas: detalhar que
tipo de atividades serão feitas de acordo com cada
objetivo, e como serão executadas.
- Definir quem serão os executores: para cada atividade
é importante que tenha alguém encarregado de
executá-la. É preciso também definir o tempo
necessário para a execução de cada parte. O tempo
é o período necessário para que se possa executar as
tarefas.
- Prever avaliações: todo trabalho, por mais perfeito
que seja, deve ser avaliado para dar-lhe continuidade,
revisar os erros ou fazer as modificações necessárias.
d) Multiplicação e seleção de quadros
A massa precisa de canais de comunicação diretos
e permanentes com a direção, assim como a direção
necessita estabelecer vínculos diretos e permanentes
com a massa.
A forma correta é ter m uitos quadros atuando
conjuntamente com a direção dentro da organização
de massa. Só é possível interpretar e assimilar os
conhecimentos e aspirações da massa se os dirigentes
e lideranças estiverem atuando junto com a massa.
Esta participação ativa tende a criar referências
com credibilidade perante a massa e perante a
Organização e Trabalho de Base

sociedade.
A própria massa projeta suas lideranças. É
necessário, porém, que ela demonstre coerência e
assuma as responsabilidades impostas por ela mesma
e pelo processo politico.
40
Os quadros se multiplicam de acordo com as
necessidades. Não existem lideranças auto-nomeadas,
elas são reconhecidas de acordo com a atividade que
desenvolvem. Há necessidade, porém, de multiplicar
a quantidade de companheiros na distribuição das
tarefas e garantir a formoção política para que todas
as ·lideranças tenham condiçoes de se apropriarem da
cultura política para ter condições de contribuir com
profissionalismo na organização da massa.
e) Desenvolver uma mística revolucionária
A massa, por mais problemas que tenha e por
mais difildades que sinta, sempre reserva um espaço
para a alegria e festividade. Por isso, o trabalho de
massa não pode ser frio e desmotivado. É necessário
que se desenvolva uma mística adequada às condições
concretas, utilizando elementos da própria realidade.
A mística deve ser desenvolvida em cima dos
dois elementos básicos, contemplando as necessidades
e as aspirações da massa. É adequar o presente com o
sonho de liberação futura, ou seja, antecipar o futuro
sem perder de vista as condições reais do momento
atual.
11 - A educação e a formação da massa
A massa se educa em movimento. Ela cresce
e seforma nas ações concretas. As mobilizações
permanentes pos sibilitam uma convivência política e
as massas aprendem a gostar de sua organização e de
Organização e Trabalho de Base

suas propostas. A dis­ciplina de participação constante


faz parte do aprendizado coletivo.
Não é raro encontrar-se grandes concentrações
de massa, indisposta, “pacífica”, sem iniciativa para
lutar. Para esta massa não basta a convocatória para que
participe É preciso desenvolver o método que possibilite 41
despertar o interesse pela participação.
A massa não é ignorante. Ela pode ser desinfonnada
e desmobilizada ou servir como massa de manobra de
espertalhões. Mas isto não significa que não possa as­
similar conhecientos e elevar seu nível de consciência.
A massa se forma e se educa a partir das
necessidades que tem, participando ativamente das
lutas, das mobilizações, das assembléias, de atos
públicos, caravanas etc.
O conteúdo ideológico e político a ser passado
para as massas deve ser planejado e repassado para as
massas nos momentos de mobilização ou através dos
meios de comunicação de massa.

Trabalho de grupo
O trabalho de grupo ao mesmo tempo que tem
características próprias, também faz parte do trabalho
de massa. Porque não basta reunir pessoas e dizer que
ternos um grupo. E preciso que se tenha três elementos
básicos para considerarmos um grupo de forma
pennanente:
a) Ter objetivos claros
Saber porque estamos reunindo este grupo e o que
se quer alcançar com ele, caso contrário, ele será um
grupo momentâneo ou se reunirá apenas quando for
conveniente para seus membros.
b) Ter um plano de trabalho
Organização e Trabalho de Base

Este plano de trabalho e discussão, é que garantirá as


atividades do grupo em sintonia com o trabalho de
massa.
c) Estar de acordo com o projeto político dos
trabalhadores.
42
Não importa quais serão as atividades do grupo, o
importante é que estas atividades complementem as mi-
lhares de atividades que são desenvolvidas ao mesmo
tempo para fortalecer a proposta e o projeto político da
classe trabalhadora.
1- Tarefas de grupos e tarefas de massa
Existem tarefas que só um grupo pode fazer.
Existem tarefas que só a massa pode fazer. A diferença
que existe entre um e outro é que as tarefas de massa
devem ser preparadas e discutidas no grupo e com
todos os seus membros. As tarefas de grupo devem ser
discutidas no grupo simplesmente e executadas por ele.
Toda mobilização de massa que for preparada
através dediscussões preliminares no grupo, terá maior
eficiência, porque isto possibilita:
a) Discutir detalhadamente a proposta;
b) Unificar os entendimentos;
e) Eliminar as dúvidas;
d) Ir para as ações conscientemente;
e) Distribuir tarefas entre os militantes.
Quem deve sustentar a mobilização de massa é
a organização e discussão de grupo.
2- Ninguém destrói o trabalho de grupo
O trabalho de massa, se for feito apenas com a
massa, terá enormes riscos de desagregar-se. Muitas
Organização e Trabalho de Base

vezes, por uma simples contra-informação ou ameaça,


coloca-se tudo a perder.
O trabalho de grupo é mais seguro, porque
a referência das pessoas passa a ser o seu grupo.
Qualquer dúvida pode ser esclarecida aí, junto com os
companheiros. 43
No trabalho de massa, a distância entre a dúvida
e o esclarecimento é muito grande, pois quem deve
esclarecer na hora certa não se encontra e isto leva a
fortalecer ainda mais a dúvida, e a mentira passará por
verdade.
O trabalho de grupo somente se desintegrará se
houver infiltração do inimigo, mas mesmo assim, ele
destruirá aquele grupo, mas não conseguirá atingir o
conjunto dos mesmos.
3 - Agilidade e eficiência
O trabalho de grupo imprime maior agilidade
e eficiência às mobilizações e discussões dentro do
trabalho de massa, além de proporcionar garantias
que o sim ples trabalho de massa tem dificuldades de
estabelecer.
O trabalho de massa é perfeito quando é preparado
com antecedência e avaliado posteriormente. Neste
sentido, é que os grupos podem assumir este desafio,
pois têm facilidade e agilidade em se reunir e fazer as
discussões.
4 - Organicidade ao trabalho de massa
Os grupos dão forma e corpo ao trabalho de
massa. Eles sustentam o trabalho de massa.
A repressão pode e tem, facilidades em dissolver
mobilizações de massa, mas dificilmente desmobiliza o
trabalho e a organização de grupos, pois a mobilização
de massa é, neste caso, o ajuntamento de todos os
Organização e Trabalho de Base

grupos.
5 - Trabalho permanente
O trabalho de grupo dificilmente entra em crise
ou em refluxo porque é possível, em períodos em que
não haja mobilizações de massa, desenvolver atividades 44
apenas para os grupos.
Estas atividades podem ser relacionadas a futuras
mobilizações de massa ou ser atividades caracterizadas
como específicas dos grupos, sem visar a mobilização
de massa.
O trabalho de grupo e o trabalho de massa são
duas faces da mesma moeda. Um depende do outro
para ser perfeito. Ambos se complementam.
Dentro do MST, o trabalho de massa refere-
se às mobilizações e às ações programadas visando
a conquista da terra e demais reivindicações que
complementam esta atividade. O trabalho de grupo,
para nós, deve ser enten­dido como a organização dos
núcleos, os grupos-motores e a organização dos setores,
mas fundamentalmente, a organização dos núcleos
dentro dos assentamentos onde está constituída a base
do MST.
Nem o trabalho de massa, nem o trabalho de
grupo, se organizam espontaneamente. É preciso muita
dedicação e persistência para que haja continuidade,
do contrário, isto passa a ser apenas uma concepção
política infrutífera que jamais produzirá resultados.
Organização e Trabalho de Base

45
Capítulo IV

Elementos teóricos para


subsidiar a construção
da organicidade do
MST
1. A organização de massas
Se analisarmos a história de lutas dos trabalhadores,
vamos perceber que o movimento de massas é fun-
damental para a realização das lutas e obtenção de
conquistas imediatas. Sem a mobilização do povo,
não é possível arrancar vitórias para uma categoria
ou mesmo para o conjunto da classe trabalhadora.
No entanto, fica também evidente nos processos
históricos, que o movimento de massa apresenta li-
mites. Não basta nos movimentarmos, é preciso es-
tarmos organizados. Sejam nas lutas por conquistas
imediatas, sejam nas lutas para transformar a socie-
dade, sempre se requer organização.
Ou seja, o Movimento de Massas é necessário para
impulsionarmos as vitórias e a organicidade, o pro-
cesso de organização, tem a função de diminuir a
espontaneidade e as fragilidades do movimento de
massas. A organicidade tem a capacidade de colo-
car a massa em movimento, como também mantê-la
agrupada através dos núcleos. Desta forma, é a or-
ganicidade quem garante a permanência, a sobre-
vivência, histórica do movimento de massas. Esta
engenharia política necessita de muita habilidade e
clareza do que se tem e o que se quer alcançar.
Apresentamos a seguir, alguns elementos que fun-
damentam a necessidade de darmos esse salto de
qualidade, construindo a Organização no Movimen-
Organização e Trabalho de Base

to de Massas, como forma de avançar nos processos


de lutas e conquistas.
a) Organicidade e movimento de massa
Um movimento, embora mobilize, articule e agite a
massa, não pode sobreviver se for só de massa. Se-
48
ria o mesmo que querer construir um prédio só com
cimento. É o elemento fundamental, mas as colunas
não se sustentam só com o cimento.
Portanto, já chegou o momento de darmos um sal-
to além da mobilização de massa. É preciso agora
saber organizar esta massa mobilizada para que ela
permaneça e resista ao tempo.
Mas, a mobilização só não resiste ao tempo, é repen-
tina, não tem como permanecer por muito tempo e
se deteriora. Por isso, a massa deve permanecer or-
ganizada de outra forma para que esteja concentra-
da para quando for preciso novamente mobilizá-la.
Podemos dizer que movimento e organização são
dois lados da mesma estrutura organizativa que com-
põe um grande movimento de massa. Isto, levado a
sério, cria uma infinidade de tarefas e obriga a multi-
plicar quadros para que ocupem seus diferentes pos-
tos de coordenação.
Alguns elementos são a base de sustentação do Mo-
vimento de massa: as próprias massas, a mobili-
zação, a agitação, a experiência, as formas de
luta, os objetivos gerais. Com estes elementos fun-
ciona um Movimento de massa. Mas não garante sua
organicidade. Logo é necessário acoplar-lhe o outro
lado da estrutura, a organização. São elementos or-
ganizativos: o grupo, a estrutura, a conspiração,
a consciência, a estratégia, o programa.
Organização e Trabalho de Base

É possível atuar com uma parte apenas da estrutura,


ou seja, atuar apenas com a mobilização de massa,
como também, criar uma estrutura apenas de grupo,
sem a mobilização de massa.
De modo geral, o Movimento de massa funciona
com objetivos imediatos e concentra sua atenção no 49
campo da tática e a Organização de massa funciona
já com estratégia e orienta-se por um programa.
Não é incompatível a separação dos dois e nem,
tam- pouco, o ajuntamento dos dois. Basta saber
como construir e como conduzir este processo.
Portanto, é necessário combinar trabalho de massa
com trabalho de grupo ou mobilização com estrutu-
ra, para que o movimento de massa tenha consistên-
cia e garantias de sobrevivência no futuro.
Sendo Movimento e Organização partes de um mes-
mo corpo, é importante que haja harmonia entre
estas partes. Caso contrário, um produzirá as con-
tradições contra o outro. As contradições sempre
existem e sempre existirão, mas elas precisam ser
equacionadas ou então se transformarão em anta-
gonismos, que podem provocar uma ruptura e esta
ruptura destruir o próprio corpo. Por exemplo, não
é contraditório que uma organização possua massa
mobilizada e também estrutura. Mas se a estrutura
ganhar mais peso e importância do que as massas,
essa contradição irá matar aos poucos o movimento
de massas e transformá-lo num movimento de gabi-
nete, burocrático.
b)Organicidade e Espontaneidade
Na teoria da organização, encontramos definições
que caracterizam de espontâneos todos os movi-
mentos que não vão além da luta econômica. Mas,
Organização e Trabalho de Base

nem por isso, estes movimentos são dispensáveis


dentro da luta pela transformação. Na medida em
que o processo está em andamento, qualquer tipo de
mobilização é importante, pois mesmo reivindican-
do melhorias salariais, a pressão que o movimento
de massa exerce sobre a burguesia é muito grande e 50
obriga o inimigo a buscar alternativas urgentes para
conter os movimentos.
Porém, apenas com movimentos espontâneos, não
se fará a transformação da sociedade. É necessário
ter movimentos mais organizados e uma força que
capitalize e canalize todas as lutas para um mesmo
rumo, fazendo com que as lutas possam dar sua con-
tribuição mesmo através da espontaneida- de ou das
reivindicações econômicas.
Dificilmente conseguiremos eliminar totalmente a
espontaneidade do Movimento de massa, isto por-
que reunimos pessoas de diferentes níveis de en-
tendimento e com diferentes interesses. Mas através
da organicidade é possível ir eliminando algumas
características, na medida em que a militância e os
elementos mais avançados vão sendo organizados, e
passam a se articular através de uma estrutura inter-
na que lhes faça vislumbrar, além do horizonte ime-
diato, os objetivos estratégicos estabelecidos através
do estudo e da análise concreta da realidade em que
vivemos.
Quanto menos imediatista e espontâneo, quanto
mais organizado, mais forte é um movimento.
A organicidade, ao contrário da espontaneidade,
fará com que a militância olhe para fora do movi-
mento de massa e sinta indignação pela perseguição
e derrota de outras categorias que também lutam
Organização e Trabalho de Base

por seus direitos. Esta revolta irá se transformar em


consciência e esta criará iniciativas para combinar
as lutas, pois aos poucos se vai percebendo que, em-
bora com nomes diferentes, os inimigos se situam to-
dos na mesma esfera e atuam de forma organizada,
pertencem a mesma classe dominante, comandados 51
por interesses comuns e tutorados pelo Estado.
c) Organicidade e consciência social
Um movimento de massa diminui a espontaneidade
quando adquirem consciência de classe e, portan-
to, consciência de sua existência, sabendo de onde
veio e para onde vai. Este estágio dificilmente será
alcançado na totalidade por um movimento de mas-
sa. Dificilmente, apenas por um movimento de mas-
sa espontâneo ou imediato, se chega na totalidade
à consciência socialista, isto porque a prioridade do
Movimento é buscar conquistas imediatas e porque
a própria burguesia estabelecerá a pauta que limita-
rá os objetivos.
Mesmo assim, estes movimentos são importantes
para que a massa possa fazer sua experiência histó-
rica e, através disso, criar uma consciência primária
do que significa o coletivo.
Segundo os fundadores do marxismo, a consciência
social depende da estrutura e da convivência social
em que o indivíduo se relaciona. Logo, a consci-
ência vem das relações que o indivíduo estabelece
com seus semelhantes.
No entanto, não basta “conviver” para criar consci-
ência e produzir ações e iniciativas consequentes.
É preciso, dentro do Movimento de massas, criar
estruturas para que o indivíduo participe, estude e
faça desenvolver sua consciência. Para que através
Organização e Trabalho de Base

da luta, da experiência e do conhecimento científico


passe de uma consciência ingênua para uma cons-
ciência social. E que neste processo de participação,
as pessoas compreendam o objetivo principal de sua
participação.
52
Portanto, mesmo num amplo Movimento de massa,
é obrigatório criar instâncias de participação, pro-
curando aglutinar os indivíduos para que unifiquem
os entendimentos e direcionem sua atenção para o
mesmo ponto que a direção estabeleceu.
É necessário lembrar que nada de consistente se faz
na dispersão ou apenas através da agitação. É preciso
envolver o indivíduo em uma estrutura socialmente
compatível com seu nível de compreensão para que
esta lhe sirva de orientação e coordene seus movi-
mentos.
A organização de massa é fundamental dentro de
um movimento de massa, mesmo que esta estrutura
organizativa às vezes seja temporária. Mas é impor-
tante criá-la.
Vejamos um exemplo simples e importante. Os gru-
pos de famílias criados nos acampamentos, muitas
vezes, são momentâneos e dependendo dos enca-
minhamentos e dos avanços conseguidos nas nego-
ciações, sobrevivem por poucos dias. Mas são de
fundamental importância, tendo em vista que o indi-
víduo tem como referência em meio a tantos tumul-
tos e encaminhamentos, o seu grupo. Isto funciona
como um suporte e uma segurança individual, fa-
zendo com que ele recorra ao seu grupo sempre que
não entender algum encaminhamento. Estes peque-
nos ensinamentos no movimento de massas facilita-
Organização e Trabalho de Base

rá outros encaminhamentos maiores posteriormente.


d) A organicidade e o acúmulo de forças
Na luta política e na luta social pesa um elemento
muito forte, principalmente quando se fala em obje-
tivo estratégico: o acúmulo de forças.
53
É difícil compreender o acúmulo de forças e medir
seu crescimento se não tivermos objetivos estratégi-
cos bem definidos.
Chama-se acúmulo de forças a conquista de espa-
ço social e geográfico e sua manutenção, através da
participação e da elevação do nível de consciência
da população envolvida.
O que interessa, então, não é apenas ganhar uma
prefeitura ou um sindicato, mas é fazer com que a
população que foi atingida por aquela determinada
ação, se envolva e se mantenha como defensora de
tal proposta, mesmo que em pouco tempo venha a
mudar o coordenador da entidade.
Na luta pela reforma agrária precisamos detectar
quais são os espaços fundamentais fora do latifúndio
que contribuem com a luta pela efetivação da refor-
ma agrária e aí devemos estabelecer nossas bases,
com o objetivo de acumular força e mantê-la de for-
ma permanente.
Neste sentido se uma prefeitura, um colégio, um sin-
dicato, um hospital etc., for importante para levar em
frente a luta pela reforma agrária, devemos considerar
como espaços prioritários onde passaremos a atuar
com dedicação, procurando envolver a população
local para que entenda e contribua na garantia deste
espaço e fazer a luta pela reforma agrária avançar.
Garantir que este espaço tenha controle progressivo,
Organização e Trabalho de Base

dependerá de estabelecermos formas de manter a


unidade política e ideológica. Para isto, é necessária
a criação de uma estrutura orgânica que envolva
os indivíduos em torno destes e outros objetivos e
se estabeleça um método de trabalho eficiente, que
transforme cada indivíduo em um militante, naquele 54
espaço, da luta pela reforma agrária.
Inicialmente este acúmulo de forças estará voltado
para a luta pela reforma agrária, fazendo com que
toda, ou parte da sociedade, também se envolva
nesta luta. Posteriormente este acúmulo de forças
poderá contribuir com objetivos estratégicos mais
amplos.
Por último cabe dizer o seguinte: a organicidade de
um movimento de massas é tão fundamental quanto
os pilares de uma ponte. Não basta agitar e reunir
massa se esta não se organizar através de núcleos,
pois na primeira investida da re- pressão, este movi-
mento se dissolverá como um pedra de gelo exposta
ao sol.
É necessário que se envolva a massa em uma es-
trutura orgânica, para que tenha participação efeti-
va e não apenas esporádica. Movimento de Massa
e estrutura orgânica são dois lados de um mesmo
movimento que só se manterá vivo se houver com-
binação de ambas as partes. Uma é a sustentação da
outra e nenhuma poderá sobreviver isoladamente.
Portanto, nosso grande desafio está em dar um salto
de qualidade orgânico, isto é, avançar na estrutura-
ção de uma Organização de Massas.
O atual estágio da luta de classes exige cada vez
mais qualidade do nosso Movimento, ou seja, cada
vez mais precisamos ter capacidade para desenvol-
Organização e Trabalho de Base

ver as lutas de massas (manter e ampliar o movimen-


to de massas), mas, isto somente não é mais suficien-
te. Portanto, precisamos construir uma organização
de massas, isto é, adotar uma estrutura orgânica que
permita a participação de forma permanente e cada
vez mais consciente dos trabalhadores que partici- 55
pam das lutas de massa. Somente assim, poderemos
ampliar a capacidade de enfrentamento e de dar res-
postas aos grandes desafios postos pela classe domi-
nante na luta de classes.
2. Método de direção e planejamento
O método de direção tem a ver com o jeito, a forma
como dirigimos a organização, o coletivo ao qual
coordenamos, podendo ser uma instância, uma coo-
perativa ou associação, um núcleo de base. Ou seja,
esse jeito de conduzir, de coordenar, de dirigir, está
presente em todos os níveis da organização, desde
os núcleos de base até a direção nacional, passando
por todas as instâncias e coletivos que funcionam,
tanto em nível estadual, como na Brigada/ Regional
e nacional.
É importante perceber que o método é a capacidade
de se colocar no lugar certo os elementos e requisi-
tos para se construir o caminho que nos leva a um
determinado objetivo. Este caminho faz-se ao andar,
como já disse o poeta. Mas, é preciso partir de al-
guns princípios para iniciar a caminhada. O método
também está relacionado ao jeito como se faz, como
se caminha, como se dirige uma organização, um
coletivo.
Portanto, o método é algo dinâmico que vai sendo
elaborado e implementado por uma organização e
por seus militantes, para enfrentar e superar desafios
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que surgem na realidade; para superar as contradi-


ções inerentes a qualquer processo de luta; para to-
mar e encaminhar decisões, posições políticas.
Nesse sentido, não existe um único método e não
existe método que dura para sempre. Com o passar
56
do tempo, precisamos revê-lo, pois, se a realidade
está em permanente mudança, o método deve estar
atento, aberto para enfrentar e dar conta das novas
questões colocadas pela prática na luta de classes.
Por isso, o método nunca é uma receita, nem uma
mágica. Exige a criatividade, o esforço coletivo, a
ousadia, o estudo, a análise concreta das situações
concretas, para criar novos métodos, ou, aperfeiçoar
os que exercitamos. Esse é o momento que vivemos
em nossa organização. Passado trinta anos acumu-
lou experiência, conhecimento, mas, também incor-
poramos elementos negativos que por vezes podem
atra- palhar o exercício de um método participativo,
dinâmico que avança na capacidade de mobilização
e utilização das forças de que o Movimento dispõe.
Alguns elementos sobre o método de direção:
a) O método de direção deve ser coletivo/participativo
Um dos princípios dos quais partimos para organizar
e conduzir nosso Movimento, é a Direção Coletiva
Este é um princípio e por isso é mais do que uma
forma de tomar decisões e encaminhá-las. Ele envol-
ve: respeito, humildade, reconhecimento, incentivo,
conhecimento, articulação, controle, disciplina, uni-
dade e mística, dentre outros aspectos.
A direção coletiva é um dos elementos essenciais do
método de direção, que busca reunir num coletivo,
os dirigentes e quadros melhor preparados e capazes
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de cumprir com profissionalismo essa tarefa. Os in-


divíduos são extremamente importantes, mas, o fun-
damental é a capacidade de reuni-los num coletivo
capaz de levar adiante as tarefas que a organização
e o momento político exigem.
57
A direção coletiva é a principal arma para combater
o personalismo, o “caciquismo”, o estrelismo, a au-
to-suficiência individual e, deve estar presente em
todas as instâncias e níveis da organização. Deve se
concretizar nos espaços de tomada de decisões e de
construção da organização como um todo.
Não basta dizer que não temos presidente, se na
prática não conseguimos estruturar coletivos capa-
zes de refletir, analisar, tomar decisões adequadas e
encaminhá-las de forma consciente e formativa.
Para o exercício do método coletivo de direção, é
necessário a reunião, o debate das idéias, o aprofun-
damento das análises, o que não significa a prática
do “reunionismo”, que emperra a passagem da refl
para a ação, pois, em cada reunião deverá ser feito o
planejamento com a distribuição de tarefas e respon-
sabilidades para todos os integrantes da instância.
Portanto, a direção coletiva não se limita a reunir um
grupo de dirigentes para tomar as decisões. Isso é
parte do método, mas, é necessário que as instâncias,
em todos os níveis, incluindo as de base também se-
jam envolvidas no processo de análise e tomadas de
decisões. Esse é um dos elementos centrais do Mé-
todo de Direção. Ou seja, para dirigir coletivamen-
te, precisamos de uma estrutura orgânica horizontal,
participativa e comprometida com os objetivos e tá-
ticas da organização como um todo.
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b) O método de direção e a estrutura orgânica


Outro elemento importante do método de direção é
vínculo dos militantes e dirigentes com a base. Na
nossa concepção não pode existir dirigente e mili-
tante desvinculado da base. E e esse vínculo se dá
através do processo organizativo dos núcleos de 58
base, dos círculos de direção e dos coletivos dos se-
tores.
Foi com esse intuito que ao propor a nova organi-
cidade, vimos que a melhor forma de dirigir seria a
forma na qual o dirigente representasse uma certa
quantidade de famílias, que passamos a denominar
de “Brigadas” ao invés das regionais (área geográfi-
ca). Há diversos tamanhos de brigadas, mas variam
entre 200 e 500 famílias e, pode ter mais de uma Bri-
gada numa determinada área geográfica (regional).
Nessa estrutura orgânica, o dirigente estadual jun-
to com um coletivo de mais um dirigente para
cada 50 famílias, tem a função de organizar e co-
ordenar a brigada estruturada em núcleos onde re-
sidem homens, mulheres, jovens, idosos e crianças.
Os setores são compostos da mesma forma, tendo
um que representa a brigada a nível estadual e mais
um para cada 50 famílias, ou 5 núcleos.
Essa estrutura permite que o militante e o dirigente
esteja vinculado ao Núcleo, ao Setor e a Brigada de
forma permanente, pois, tem a responsabilidade de
acompanhar determinado número de famílias, atra-
vés dos coordenadores e núcleos de base. Assim, o
método de direção que concebemos, é aquele que,
para tomar decisões, necessita articular a participa-
ção dos membros da organização, através dos Nú-
cleos de Base e das instâncias de base e não apenas
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um dirigente ou um pequeno grupo decide tudo.


c) O método de direção e o centralismo democrático
Esse princípio busca combinar a direção central úni-
ca com a discussão democrática em todos os níveis.
O centralismo democrático é saber combinar a to-
mada das decisões com a participação consciente 59
da Base, onde todos têm o direito de opinar e poste-
riormente de se submeter à decisão. Temos, portan-
to, dois aspectos: centralismo e democracia.
Requer, portanto, a ampla discussão, debate em tor-
no da elaboração das linhas políticas da organiza-
ção; a participação das bases na tomada de decisões
se dá através da estrutura orgânica, núcleos de base,
como vimos anteriormente.
Por isso, é necessário espaço para a discussão e de-
bate dos diferentes pontos de vista dos dirigentes,
garantindo a ampla liberdade de participação e ar-
gumentação das suas posições políticas, mas exige
a Unidade de ação após a tomada das decisões. Os
interesses da organização devem estar acima dos
interesses individuais, mesmo que isso exija sacrifí-
cios por parte dos dirigentes. É necessário combinar
mecanismos de cobrança em torno da execução das
tarefas assumidas por cada dirigente, por cada mili-
tante, pois, as decisões são coletivas, mas, as respon-
sabilidades são individuais.
Esses aspectos compõem o estilo de direção demo-
crática, e são essenciais para assegurar a unidade na
linha política, a disciplina e a unidade na ação. Os
aspectos da unidade e da disciplina são fundamen-
tais para a luta de classes. Sem unidade e disciplina
consciente, não vamos a lugar nenhum, pois, são
entradas fáceis para a divisão e fragmentação das or-
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ganizações.
d) O método de direção e a divisão de tarefas e res-
ponsabilidades (planejamento)
Como já vimos anteriormente, não existem métodos
permanentes que se possa utilizar sem mudanças, 60
complementos, tendo em vista que a realidade sem-
pre está em movimento, e por isso os métodos não
podem ser transplantados mecanicamente de uma
realidade para outra.
A realidade é complexa e está em permanente movi-
mento, provocado pelas contradições que nela sur-
gem e se desenvolvem. Muitos elementos que usamos
em um determinado momento, já não se adaptam
ao momento seguinte, por isso é que uma das prin-
cipais qualidades de um dirigente é saber formular
métodos de acordo com a realidade concreta para
poder transformá-la. Quanto maior for a capacidade
de alguém formular métodos de trabalho, maior será
sua capacidade de intervenção na transformação da
realidade.
O planejamento é outro elemento essencial do mé-
todo de direção. Sem planejamento, acabamos nos
guiando pelo espontaneísmo, pelo voluntarismo, pe-
las questões conjunturas e temos dificuldade de ava-
liar e medir os avanços e limites que temos nos pro-
cessos de lutas e da organização da base. Ou seja,
sem um planejamento adequado, podemos realizar
muitas ações, mas, qual o acúmulo político delas?
Planejar é prevenir, é organizar os passos a serem da-
dos. É a garantia da eficiência naquilo que vamos
fazer de acordo com os objetivos preestabelecidos.
Planejar é antecipar. É verificar no presente as con-
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dições e os meios que serão adotados para alcançar


aquilo que ainda é futuro. No planejamento é que se
definem as prioridades e se distribui as tarefas. Cada
militante terá a sua parte por fazer a través de equi-
pes, ou, individualmente.
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Nesse sentido, combina-se a habilidade com a res-
ponsabilidade. De acordo com as capacidades de
cada militante, se delegam as responsabilidades.
Contrário ao planejamento está a improvisação. Im-
provisar é atuar espontaneamente sobre a realidade
de acordo com o momento, sem uma análise mais
sistemática e profunda dessa realidade. Dessa ma-
neira, quase sempre se utiliza os mesmos métodos e
meios, que não contribuem com a construção orgâ-
nica do Movimento.
Com o planejamento, o imediato é superado pelo
tempo de amadurecimento e preparação do que será
feito e do que têm que ser feito. O tempo de prepa-
ração além de propiciar a participação, permite a
assimilação das intenções, dos objetivos, dos fun-
damentos metodológicos para a realização da ação.
As pessoas se tornam sujeitas do processo quando
participam das análises e das definições do que será
feito.
Sempre que planejamos, democratizamos as deci-
sões. Elas podem ser particulares ou, envolver várias
ações ao mesmo tempo. O que importa é determinar
em que período e como vamos realizar essas ações
e, que atividades temos que realizar em cada mo-
mento para avançar no processo e superar os desa-
fios políticos e organizativos.
Em relação ao planejamento, ao menos cinco aspec-
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tos são fundamentais:


• Definir objetivos: Diz respeito ao específico da
ação que se quer realizar ou do programa que se
quer executar, ou seja, nada mais é do que definir
onde queremos chegar, que meta alcançar com esse
planejamento? 62
• Estabelecer as perspectivas: Dizem respeito aos
vários aspectos do planejamento, onde procura se
fazer um levantamento e uma estimativa do que será.
Por exemplo: determinar prazo, tempo e dividi-lo
em início, meio e fim (fases). Fazer uma estimativa
da quantidade, ou número em caso de mobilização,
quantos queremos mobilizar? Prever as necessidades
(de todos os tipos) que teremos durante este período,
prever os momentos para avaliar e replanejar se for
o caso.
• Definir as ações e tarefas prioritárias: É preciso
saber distinguir o principal do secundário e estabele-
cer critérios para a eleição das prioridades para que
se consiga ver o todo da organização e do planeja-
mento, não perdendo tempo nos detalhes e questões
secundárias.
• Divisão de tarefas e responsabilidades: Todas as
tarefas a serem realizadas, devem ser bem discutidas
e os responsáveis devem entender, assimilar a tarefa.
Quanto mais tarefas forem estipuladas no planeja-
mento, mais militantes estarão envolvidos no pro-
cesso, para, para cada tarefa devem ter militantes
preparados para assumir. Quem? Quando? A distri-
buição de tarefas é fundamental para a formação e o
crescimento político dos militantes e dirigentes. São
as tarefas políticas que qualificam e projetam novos
militantes.
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• Avaliação: Os momentos de avaliação devem ser


previstos no planejamento e, realizadas durante o
processo de execução e não apenas no final. São as
avaliações bem preparadas, tanto individual como
coletiva, que permitem acompanhar o desenvolvi-
mento das ações e no sindicam se estamos acumu- 63
lando, ou, nos desviando dos objetivos estabeleci-
dos. Aqui, precisamos resgatar o princípio da Crítica
e Autocrítica como mecanismo eficiente de avalia-
ção e formação de militantes.

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