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SEMANAL
A NEWSMAGAZINE MAIS LIDA DO PAÍS WWW.VISAO.PT
FUGAS INESQUECÍVEIS
PARA AVENTUREIROS, FAMÍLIAS, GASTRÓNOMOS E APAIXONADOS
IDEIAS DE MINIFÉRIAS EM PORTUGAL + oS LIVRoS PARA LEVAR NA BAGAGEM
C. M. ODEMIRA
VISÃO
8 FEVEREIRO 2018 / Nº 1301
RADAR
16 Imagens da semana VÍTOR RIOS/GLOBAL IMAGENS
22 Raios X
24 A semana em 7 pontos
26 Holofote
27 Almanaque
28 Inbox
29 Transições
30 Próximos capítulos
32 Rui Rangel, juiz sem causa própria
Suspenso pelo Conselho Superior de Magistratura, Rui Rangel é o alvo
central da Operação Lex, que investiga crimes de corrupção relacionados
FOCAR com a “venda” de decisões judiciais. Conhecido dos portugueses do mundo
62 Consequências do “crash” da televisão e do futebol, o juiz é muito mais do que um magistrado.
Retrato fiel
bolsista
66 Escolas com currículos
alternativos 42 “Make” América nuclear outra vez
70 Dar à luz em tempo de guerra O braço de ferro entre os EUA e a Coreia do Norte será apenas um
dos pretextos para a “renuclearização” da América. Num ambicioso e
72 Cuba, o senhor que se segue dispendioso programa a 30 anos, os americanos pretendem “reconstruir”
74 As curiosidades das e modernizar a sua capacidade bélica. Será uma nova corrida aos
Olimpíadas de inverno armamentos?
76 A nova estrela da moda
48 Os oito escolhidos de Rui Rio
VAGAR A uma semana do congresso do PSD, a VISÃO revela oito nomes
imprescindíveis no universo do novo líder. Conheça as surpresas, as
78 Foi você que escreveu isto?... origens e os projetos dos novos protagonistas do “processo de renovação
84 Os sonhos também em curso”
se vestem
88 Pessoas
90 Tendências:
56 Alemanha: Volta, Marx, estás perdoado?
Num momento em que o impasse político se arrasta sem que seja formado
Airbnb da comida um novo Governo, os alemães voltam às ruas e às lutas laborais nunca
vistas no passado recente. E ainda se fala da Autoeuropa...
VISÃO SETE
94 Programas diferentes
para as miniférias Online W W W.V I S A O . P T
Últimos artigos na BOLSA DE ESPECIALISTAS VISÃO
OPINIÃO
6 António Lobo Antunes
8 Rui Tavares Guedes
40 Adolfo Mesquita Nunes
65 José Carlos de Vasconcelos Carmo Machado Pedro Graça Viviane Aguiar
92 Miguel Araújo ENSINO NUTRIÇÃO BLOGGER
130 Ricardo Araújo Pereira Sou alvo de bullying Uma estratégia A contagem crescente
alimentar para para os 50
Portugal
À boleia da internet
arrasta-se muito lixo.
É, por isso, necessário proteger
as crianças desta invasão
aleatória, ensiná-las
Escapadelas perfeitas a lidar com este fenómeno
e, acima de tudo, mentalizá-las
Com as miniférias do Carnaval à porta, quatro jornalistas foram procurar –
e encontraram – os melhores locais para passar alguns dias, seja a desfrutar de que há alternativas
com a família, a namorar, a apreciar a gastronomia ou simplesmente a aven- para lá dos ecrãs.
turar-se. O resultado da descoberta está na VISÃO Se7e desta semana, em José M. Carvalho, Chaves
que ao longo de 16 páginas fica a saber onde pode dormir numa casa-árvore
com os filhos, como percorrer o Alentejo através da gastronomia, quais os
roteiros ideais para caminhar e os sítios mais românticos para partilhar. DE COSTAS PARA O PAPA
Depois de ler o artigo senti que isto é
Manuel Gonçalves da Silva, que além de jornalista é gastrónomo, dedicou- algo que se passa em todas as religiões,
-se a escolher a viagem ideal para quem aprecia comer, e Miguel Judas, com os fundamentalismos, e espero que
autor de um livro sobre os 200 melhores caminhos pedestres do País, fez não leve a nada mais grave, quando tanto
as sugestões para os aventureiros. Já as jornalistas Florbela Alves e Susana se lutou pela liberdade de expressão e de
género. Fiquei assustada e lembrei-
Lopes Faustino foram descobrir os locais certos para as famílias – com -me de quando tinha 7 ou 8 anos e me
visitas a castelos e dormidas em iurtes, por exemplo – e os mais indicados proibiram de entrar na igreja de calças.
para os casais, onde podem ver o pôr do Sol de sonho ou fazer um Quirina Dias, Amadora
piquenique entre vinhas. Para cada tipo de viagem, a VISÃO dá-lhe dicas OBRIGADA LOBO ANTUNES
de sítios onde comer, beber e dormir — pelo meio, são deixadas algumas Ninguém como ele arranca as palavras
sugestões de livros para ler no cenário que escolher. Ideias a não perder. das entranhas do corpo. Exorcizar
Nesta edição da VISÃO, conta-se também a história de Rui Rangel, o juiz do os sentimentos e expurgar o que de
melhor ou pior existe nele é magnifico e
Tribunal da Relação de Lisboa que é suspeito de ‘‘vender’’ sentenças judiciais admirável. A honestidade e sensibilidade
num processo que tem também Luís Filipe Vieira entre os 14 arguidos. fazem dele um autor sem medo e sem
Os jornalistas José Plácido Júnior e Sílvia Caneco falaram com quem o escrúpulos de usar o português para
rodeou nos últimos anos e relatam a vida deste juiz, 62 anos, que viveu a se regenerar com a vida. Mesmo sendo
médico não terá acesso a nenhum
sua juventude em Angola, de onde fugiu com os três irmãos mais velhos, elixir que lhe prolongue a existência,
quando tinha 20 anos, por a sua família estar conectada com o MPLA e mas o exercício orgânico que pratica
por a UNITA estar a chegar à zona onde residiam. Lembram ainda seu acrescenta-lhe de certeza algum tempo
regresso-relâmpago a África, onde foi jornalista da Rádio Nacional de mais neste planeta.
Dinora Ferreira, Massamá
Angola e chegou a ser preso em 1977, e contam os sucessos e fracassos
da carreira em Portugal que começou em 1982, depois de Rui Rangel se CORREÇÃO
licenciar em Direito. Todos lhe apontam o jeito para comunicar e a tentação Por lapso, na secção Gosto dos Outros
para se envolver em polémicas. (V1299), a Praça de Santiago, em
Guimarães, foi ilustrada com uma
fotografia da Praça da Oliveira.
Aos leitores, as nossas desculpas.
O
meu ouvido esquerdo morreu hoje, dia 3 óculos escuros, ele que nunca usava óculos escuros.
de Janeiro de 2018, por volta da uma hora A frase
da tarde. Esperava que durasse ainda mais – Quem é que não gostava dele?
algum tempo, uns anos, uns meses. Estava nunca se apagou em mim. Era uma pessoa
enganado: metade de mim desapareceu silenciosa e discreta, de grande beleza física.
num estalar de dedos, para sempre. Não Demorei anos a perceber que sofria muito.
é trágico: é só horrível. E isso a gente A minha mãe, também surda, adorava-o. Passou
aguenta. A otoesclerose é um problema pela vida sem nunca incomodar ninguém.
hereditário: recebi-o da minha mãe, do Herdei-lhe a surdez: infelizmente não lhe herdei a
meu avô, por aí fora. Dos Almeida Lima, bondade. Nunca o vi zangado, nunca o vi ralhar fosse
porque sou Almeida Lima, de que tanto gosto. Não com quem fosse. A minha mãe
me lembro de ver o meu avô Almeida Lima sorrir. – O teu pai gosta mais da minha família que da
Quase não falava, também. Uma ocasião, em criança, dele
perguntei ao meu pai se gostava dele. Respondeu e era verdade. Ele, que quase nunca saía, passava
– Quem é que não gosta dele? sempre o mês de Setembro em Nelas, na casa dos
ILUSTRAÇÃO: SUSA MONTEIRO
Morreu novo, tinha eu treze anos Almeida Lima, na varanda para a serra. Quando
(não, doze) o nosso pai morreu o meu irmão Joãozinho, que é
sou o filho mais velho de dois filhos mais velhos como continuo a tratá-lo dentro de mim, estava em
e foi a única vez que vi o meu pai chorar apesar dos Bragança, numa dessas comemorações do
10 de Junho, e veio logo para Lisboa mas pela Beira Alta, esquisito, parvo, com uma ferida enorme cá dentro
claro, em homenagem ao pai, e quando chegou e nos que não entendia, fechado num mundo de angústia,
abraçámos agradeci-lhe tê-lo feito, respondeu-me contraditório, violento, a tremer de um amor que me
(nunca esquecerei a sua cara) consumia e não era capaz de comunicar a ninguém.
– Os teus direitos de primogenitura Depois melhorei ao começar a escrever. Como se pode
ele que tinha muito mais qualidades de primogénito estar cheio de paixão e não conseguir transmiti-la?
do que eu, que vivo num mundo que nem sei bem E não sou má pessoa, palavra. Quer dizer: acho que não
qual é. Adiante. Anda-me lá com isto, Almeida Lima. sou má pessoa. Depois hoje fiquei sem metade
Por volta dos quinze anos, a minha mãe começou do corpo. A que sobra irá desaparecer por seu turno,
a ensurdecer. Os meus avós levaram-na ao médico. é uma questão de tempo. Continuarei sozinho dentro de
Contava ela que lhe disseram mim. Como o meu avô. Como o meu avô mas sem a sua
– Não caia na asneira de ter filhos para não lhes bondade, a sorrir vagamente num canto da varanda para
transmitir esta doença. a serra, fechado na redoma de silêncio que me deixou.
Perguntei Lembro-me do seu sorriso. Herdei-o: é meu agora. Pode
– O que fez a mãe? ser-se feliz assim. Pode ser-se feliz assim? Que pena não
Respondeu-me conseguir perguntar-lhe. Como se sentem os senhores
– Chorei uma semana e depois arranjei seis rapazes. como você, porque foi sempre um senhor, e os palermas
Acrescentou como eu nunca lhe chegarão aos
– Desafio qualquer mulher calcanhares? Queria tanto vê-lo
no mundo a ter filhos tão bonitos Como se pode estar agora na vindima, de casaco de linho
e tão inteligentes como os meus
num movimento orgulhoso
cheio de paixão e não entre os cachos de vinho branco. Por
mais moucos que estejamos os dois
e tranquilo. Apesar de fisicamente conseguir transmiti- e por muito pouco que falássemos
frágil era dura como aço. O meu pai, -la? E não sou má havíamos, palavra de honra, de
quase no fim da vida
– A tua mãe é uma pessoa
pessoa, palavra. Quer conversar todo o tempo: une-nos
a menina dos olhos da sua filha,
extraordinária dizer: acho que não que o avô plantou com paixão neste
sempre sem uma queixa, uma
pieguice. Quando o Pedro morreu
sou má pessoa. Depois mundo enquanto eu sou apenas
o produto mais rebelde dela. Mas
fomos os cinco a casa dela. Disse hoje fiquei sem metade por acaso vi-lhe o rosto quando foi
apenas duas frases. A primeira foi do corpo. A que sobra da história do meu cancro. Olhe,
– Tenham misericórdia de mim
e a segunda
irá desaparecer por não se aborreça comigo mas nunca
dei por tanto amor num rosto de
– Uma mãe não tem o direito seu turno, é uma mulher. Agora multiplique isto por
de estar viva com um filho morto.
E foi logo ter com ele, resoluta,
questão de tempo. seis e junte-os ao pai deles.
A primeira vez, depois da partida
sem uma queixa, sem uma lágrima, Continuarei sozinho do meu pai, que entrei na sua casa,
sem um sobressalto sequer. Pegámos dentro de mim disse
no seu caixão na igreja e levámo- – Isto sem o pai fica vazio.
-lo aos ombros. Fui uma besta de Ele que estava sempre fechado no
incompreensão e violência para com ela quando lhe escritório. A mãe respondeu, de mansinho
disse anos antes – É que o teu pai tinha uma presença muito forte.
– Quis fazer de nós uns aleijados, não foi? E agora, avô, diga-me lá como se vai aguentar com
E ficou calada a olhar-me. Assim, que tempos tantos rivais ao mesmo tempo?
a olhar-me em silêncio. Eu era o grande problema dela: Lembra-se do verde dos olhos dela? Lembra-se que
indisciplinado, desobediente, mau aluno, cercado pelo até os seus pés eram perfeitos? Mãe, mãe, não nos deixe
mimo todo da família. A minha mãe, entrevistada num nunca. Posso não mostrar porém amo-a tanto. Desculpe
livro espanhol, acerca de mim: lá a mariquice eu que uma ou duas vezes
– Foi sempre recebido por todos como um deus na (talvez três)
terra. a sentei ao meu colo. Não imagina como me senti
Era verdade: tratavam-me tão bem. E eu insaciável, feliz.
A
unidade de Portugal, com as cafés apinhados de jovens em amena cava-
fronteiras políticas mais estáveis queira, além de um movimento constante
e duradouras da Europa, não se de pessoas nos largos fronteiros às igrejas.
deve à geografia mas à obra hu- Agora, muitos desses cafés estão fechados,
mana, conforme Orlando Ribeiro a maior parte das casas mostra-se de jane-
tão bem enunciou e explicou, na las trancadas e sem luz, e é preciso espe-
primeira metade do século XX, rar pela hora da missa para se ver alguns
quando revolucionou as bases (poucos) idosos a saírem da igreja. Em vilas
do estudo da geografia em Portugal. Num e cidades do Interior, algumas delas ainda
território de contrastes, “disposto de través há pouco tempo com um dinamismo inte- Temos sugestões
na zona mediterrânica, bem engastado ressante, tem sido praticamente impossível diferentes de
escapadas para
numa península que é como a miniatura encontrar um restaurante aberto nas noites
um fim de semana
de um continente”, segundo as palavras do de sábado – não há clientes suficientes,
prolongado, para
geógrafo, o território português tinha tudo, dizem. Lembro-me também, e não foi as- aventureiros,
na verdade, para ser cultural e politicamen- sim há tantos anos, de passar várias noites comilões,
te muito dividido e fragmentado. Nomea- de Consoada numa aldeia beirã, no meio namorados
damente, como sabemos, entre o Norte e o de centenas de pessoas, em volta de uma ou em família.
Sul, em que o primeiro possui caracterís- imensa fogueira de Natal que aquecia os
ticas atlânticas e sempre foi mais povoado, corpos e os espíritos. Regressei, no último
enquanto o segundo é mais mediterrânico Natal, à mesma aldeia e ao mesmo ritual
e menos habitado.
Nos últimos anos, no
da fogueira: mas desta vez
éramos só algumas de-
2
entanto, tem-se acentuado É gritante ver zenas. E quase todos nós
outro contraste e, novamen- o estado com idades compreendi-
te, em consequência muito das entre os 35 e os
mais de opções humanas
de abandono 65 anos – os mais velhos
do que da própria especifi- a que estão estavam enclausurados
cidade da geografia. É uma devotadas aldeias em lares de idosos, e os
divisão entre o País habitado e povoações onde, mais novos, simplesmente,
e o País desertificado. É a já não existem por ali ou
divisão entre o País que está ainda há cerca de perderam os laços familia-
continuamente no centro uma década, era res que, no passado, ainda Esta solução com
da atenção mediática e o
outro que apenas conse-
possível encontrar os agarravam ao local.
Este abandono
uma imagem da
gue chamar a atenção por cafés apinhados intensificou-se, ao que
serra da Estrela
pode funcionar...
causa das tragédias que se de jovens parece, nos últimos anos,
abatem sobre as suas gentes. quando, curiosamente,
É a divisão entre o País que o Interior até ficou mais
concentra o poder e o País que tem sido
esquecido por todos os poderes.
próximo do Litoral, graças à rede de
autoestradas que rasgou o País em todas
3
Basta voltar a percorrer os territórios do as direções. O problema é mesmo esse:
Interior para perceber a lenta agonia em passou a ser fácil sair de lá. O êxodo
que caíram as regiões mais afastadas das tornou-se mais simples, eficaz e rápido,
grandes cidades do Litoral. Tenho-o feito, até porque, apesar das declarações
com alguma frequência, nos últimos meses, grandiosas ou das retóricas eleitoralistas,
por razões pessoais, em viagens de car- pouco ou quase nada se fez de significativo
ro que, umas a seguir às outras, me fazem que permitisse fixar as pessoas no
despertar para a dimensão de uma realida- Interior, dar-lhes qualidade de vida e criar
de que, sinceramente, não imaginava que vantagens competitivas para as empresas
pudesse ser já tão grande e devastadora. que lá queiram investir e instalar.
É gritante ver o estado de abandono a A unidade do País devia ser um desígnio ... mas esta capa
que estão devotadas aldeias e povoações nacional. Todos o sabemos, é verdade, mas com a Costa
Vicentina é muito
onde, ainda há cerca de uma década, era também todos rapidamente o esquecemos
apetecível. O difícil
possível estacionar o carro e encontrar – como fazemos ao Interior. rguedes@visao.pt
é escolher!
‘‘A cúpula da Basílica de Superga, em ‘‘Um pormenor da enorme estrutura ‘‘Modelo geocêntrico: a Terra no centro do
Turim, é umas das minhas justaposições circular do Grande Colisor de Hadrões, Universo, rodeada pelos quatro elementos
de círculos preferidas porque contrasta a maior experiência científica alguma e os 11 “céus” (onde podemos observar
religião com ciência’’ vez realizada’’ planetas como Mercúrio, Vénus e Marte)’’
Visions of Heaven, David Stephenson, 2005 Compact Muon Solenoid, Maximilien Brice e Figure of the Whole World, Thomas Blundeville,
Michael Hoch, 2008 1613
na Nova Escócia, no Canadá, estava ver meio vazio. E sou também um termos uma população tão carente
quase a desaparecer. Houve uma ação humanista, na medida em que acredito de informação. Isso existe em várias
imediata para matar a foca, que se no bem da Humanidade e na nossa zonas dos Estados Unidos da América.
julgava ser era o principal predador do capacidade de fazer coisas muito boas. E eu posso estar sentado num café de
bacalhau. Assistimos ao extermínio de A visualização de dados pode Brooklyn a ver um manuscrito medie-
imensos animais, até que um biólogo conduzir a melhores democracias, val de um museu alemão.
se decidiu a fazer uma visualização na medida em que permite dispor E também não é um paradoxo que
do ecossistema (um mapa lindíssimo, de mais informação? seja muito mais fácil consultar a
em rede, no qual se vê o número de A visualização de dados traz mais reprodução de uma gravura secular
espécies e de subespécies de que o transparência às democracias, do que ter acesso a uma imagem de
bacalhau se alimenta) e descobriu-se desmistifica mitos e, à partida, é de 2002?
que era uma subespécie que estava esperar um maior conhecimento do Do ponto de vista digital, existe quase
a conduzir ao desaparecimento público em geral sobre determinadas um laissez-faire: estamos a perder um
do próprio bacalhau. Em suma, a temáticas que anteriormente estariam sem-número de artefactos digitais.
visualização de informação permite escondidas até de modo intencional. Muitos deles já desapareceram,
eliminar certos tabus e certas Tudo isso produz efeitos no poder não há sequer como reavê-los.
maneiras de pensar simplistas. do cidadão comum. Na Idade Média, Outro dos paradoxos é o facto de
Obriga-nos a ter mais literacia dizia-se muitas vezes que devíamos essa informação ser extremamente
visual? cingir essa informação à produção efémera. Houve imagens que não
Há aquela frase que diz que “lemos de livros sobre certos temas e a consegui reproduzir no livro porque
melhor aquilo que lemos mais”, mas determinadas pessoas. foram retiradas do site, o plug-in
as pessoas terão, de facto, de ter uma Tem medo que isso volte a deixou de existir ou a reprodução já
certa flexibilidade mental para se acontecer? não tinha qualidade suficiente.
ajustar a novas metáforas. Sim, tenho sempre receio em relação É a nossa idade das trevas?
Do ponto de vista da privacidade, a esses modos de filtrar a informação, E corremos o risco de os nossos filhos
que consequências pode ter essa que deve estar acessível a todos. olharem para trás e verem uma era
quantidade de dados? E também tenho medo de que o volu- digital negra, em que está muita coisa
Sou um tecnocrata porque acredito me de informação seja de tal maneira a acontecer, mas que, como não foi
que a tecnologia, desde que bem avassalador que conduza a uma apatia documentada, é como se não tivesse
orientada, pode conduzir a coisas geral: a de que as pessoas prefiram existido. Empresas privadas como
boas. viver a sua vida à margem de tudo. o Facebook são detentoras de uma
Isso não é um tecnocrata, é um Isso já acontece? riqueza imensa do ponto de vista
otimista. Julgo que o maior paradoxo de sempre cultural, mas, a qualquer momento,
Sou um tecnocrata otimista. Por é vivermos nesta época que possui o podem abrir falência, fechar os
defeito, sou um otimista, vejo sempre maior volume de informação que al- servidores e nunca ninguém mais vai
o copo meio cheio em vez de o guma vez tivemos e, ao mesmo tempo, ter acesso a nada. sbluis@visao.pt
T E R E S A C A M P O S tcampos@visao.pt
Na Apple, o valor acrescentado Já a Amazon está focada na A Google está por de trás de
assenta muito nos pedidos de automatização dos seus processos patentes consideradas prioritárias
patentes, vinculados a inovações de armazenamento e logística. para diversas áreas, como a
para o iPhone e seus dispositivos Recentemente, inaugurou a Inteligência Artificial em robôs,
periféricos. Além disso, está a Amazon Go, em Seattle, o seu a visão computacional, drones e
tentar desenvolver as experiências conceito de futuro do comércio de carros autónomos – para não falar
de realidade aumentada para os bairro. Só tem de escolher o seu do armazenamento na nuvem, os
utilizadores do iPhone e do iPad produto e sair, sem passar pela dispositivos móveis
– e é ainda a que fez o maior caixa – um conjunto de sensores e as tecnologias sem fios.
esforço para se posicionar faz o resto.
€80
no mundo da saúde digital.
67 €1 500
MILHÕES
MIL MILHÕES
MIL MILHÕES O seu lucro foi o maior de sempre
A receita da Alphabet, dona da
Google, foi muito impulsionada
A Apple bateu o recorde na registado pelo considerado líder pelo aumento das vendas de
faturação, superando as próprias mundial do comércio eletrónico. anúncios online. Só pelo acesso
expectativas. Ao todo, são 1,3 A empresa está também na frente e manutenção da Cloud fez quase
milhões de fiéis, número que no campeonato dos assistentes 1 milhão.
explica o seu sucesso, dada a pessoais – e eletrónicos, claro.
quantidade de aparelhos da marca
a funcionar no planeta. Mais:
os adeptos da marca da maçã
cresceram 30 por cento. Há dois
anos, eram apenas um milhão.
POR
FILIPE LUÍS*
‘MADAGÁSCAR’, A SEQUELA
António Costa e Vieira da Silva tenham sido a pedra de toque da
estiveram, esta semana, na expressão primeira fase do consulado de António
feliz de um título no site da VISÃO, Costa...)
“entre a espada de Bruxelas e a parede Na mesma semana, a Direção-Geral
parlamentar”: entre os que exigem para os Assuntos Económicos e
a revisão do código laboral, de modo a Financeiros da Comissão Europeia,
reforçar o pendor garantístico, para os que aplaude os progressos contra
trabalhadores, da respetiva legislação, e a precarização, pede o reverso da
os que veem numa maior liberalização medalha, ou seja, despedimentos mais
dos despedimentos a solução para a flexíveis – o que, no limite, mantém
circulação entre postos de trabalho e, a “precarização por outros meios”,
portanto, para o fomento do emprego. reforçando o habitual cinismo e
É uma velha dicotomia que perpassa hipocrisia da tecnocracia de Bruxelas...
as doutrinas de várias escolas opostas Perante estes inputs exteriores, o que
de Economia. A esquerda parlamentar fazem o ministro do Trabalho, Vieira da
subiu o tom das exigências, nesta Silva, ou o primeiro-ministro, António
semana, perante o Governo do PS. Costa? Seguem a regra dos pinguins
E se o acelerar do processo de dos conhecidos filmes de animação da
valorização das carreiras contributivas saga Madagáscar: “Sorrir e acenar.”
longas, de forma que os trabalhadores No fundo, a postura do Governo, face
nessas condições se possam reformar quer às recomendações de Bruxelas
sem penalizações, é um compromisso quer às exigências dos seus parceiros,
a que o Governo não pode escapar é a de fazer-se desentendido. Perante
– mas que o PCP quer ver cumprido a Europa, António Costa vai tendo, para
ainda este ano –, a revisão do código apresentar, o cumprimento do défice,
laboral, exigida pelo Bloco de Esquerda, o crescimento e a descida do
já fia mais fino: nas posições conjuntas desemprego. Para quê mexer? E perante
assinadas com os partidos apoiantes, os parceiros, a letra dos acordos
o PS compromete-se a tomar medidas assinados – e nem mais uma vírgula.
contra a precariedade e relativamente à Ainda por cima, exibindo a medalha
contratação coletiva – mas em nenhum da resistência à... Comissão Europeia!
lado se fala de reversão do código, E ainda por cima, o País não está muito
no seu todo (ainda que as reversões virado ao protesto. Até quando?
*Editor-Executivo
fluis@visao.pt
incontornável no futuro do
partido. Parece muito cedo
POLUIÇÃO – Rui Rio nem sequer ainda
JULGAMENTO tomou posse – mas é agora
PRÉMIO
‘Nobel da Educação’
em versão portuguesa
M O D É S T I A À PA R T E
o que acho
a comentar, pela primeira vez,
o facto de não ser reconduzido
para um novo mandato
que tem
valor
MAITÊ PROENÇA
Atriz brasileira, a festejar
60 anos e 40 de carreira, a
assumir que foi muitas vezes
vítima de assédio – mas
sobreviveu
Queremos deixar
de contribuir para
as ilhas de lixo
PAN PESSOAS-ANIMAIS-
-NATUREZA
Partido escreveu a Al Gore, na
véspera da discussão do projeto
que quer limitar o uso do plástico FRASE DA SEMANA
na restauração
A crise dos
Passar o fim de
semana a passear refugiados não
com a família num C H O Q U E F R O N TA L
é sobre eles,
hipermercado é um
sintoma de atraso
mas sobre
cultural todos nós
JOÃO VIEIRA LOPES AI WEIWEI
Presidente da Confederação do Artista e ativista chinês que, nos seus últimos
Comércio e Serviços de Portugal trabalhos, se tem empenhado em chamar
a atenção para aquela que é considerada a
maior crise humanitária que
o planeta enfrenta, desde
Quando desci do a II Guerra Mundial
Fonte: Diário de Notícias, Jornal de Negócios, Jornal i, Público, The Guardian, TSF
28 VISÃO 8 FEVEREIRO 2018
TRANSIÇÕES
MORTE
Professor emérito de
Ciências Políticas, Gene
Sharp era conhecido
como motor intelectual da
resistência não-violenta.
Nos anos 1950 foram-lhe
impostos nove meses
de prisão por se recusar
a cumprir o recrutamento
para a guerra da Coreia.
Em 1983, fundou o Instituto
Albert Einstein, organização
não-governamental para
fomentar a não-violência e,
em 1994, publicou o famoso
guia prático Da Ditadura
à Democracia, um manual
de contestação viral antes
de haver internet. Dia 28,
aos 90 anos.
3 P E R G U N TA S A . . .
Salvador Malheiro
“Não me importo de ser
o mártir de Rui Rio”
No início, foram as histórias de arregimentação
de militantes, suspeitas de irregularidades e de
viciação de resultados nas eleições internas,
em Ovar. Seguiu-se a suspeita de favorecimento
autárquico à empresa Safina, propriedade de Pedro
Coelho, líder da concelhia do PSD, que levou o
Ministério Público a abrir um inquérito. Salvador
Malheiro, um dos homens a quem Rio deve a sua
chegada à liderança e ao qual se augurava um
E S PA N H A
lugar relevante na futura direção, está na berlinda.
#BrillianceForAll
COM A COLEÇÃO
DO DIA DOS NAMORADOS
Celebre o brilho do amor com a coleção do Dia dos Namorados disponível nas lojas Swarovski e em Swarovski.com
RANGEL
O MAL-AMADO
NAS MUITAS FACES DE RUI RANGEL, CABE O JUIZ
MEDIÁTICO A QUEM É CRITICADA A VAIDADE
E A EXPOSIÇÃO; O ADEPTO DO BENFICA QUE SE
CANDIDATOU À PRESIDÊNCIA DO CLUBE; O RAPAZ
QUE FUGIU DE ANGOLA NUM HONDA CIVIC; O “BON
VIVANT” APRECIADOR DO LUXO... AS HISTÓRIAS
DO POLÉMICO DESEMBARGADOR SOB QUEM
PENDEM SUSPEITAS DE CORRUPÇÃO
J O S É P L ÁC I D O J Ú N I O R E S Í LV I A CA N E C O
A
subornos para redigir ou influenciar decisões
judiciais favoráveis – quase não há coragem
nem amizade que cheguem para defendê-lo
sem pedir o anonimato.
Esses, os amigos, são os que agora quase
em surdina dizem que “os outros” sempre
o invejaram. “Ele é brilhante, e um sedutor.
Se entra numa sala e começa a falar prende
toda a gente. Até pode ser um bandido, mas
os outros nunca perdoaram que fosse uma
estrela”, diz um advogado que com ele pri-
vou e o admira. Outros gabam-lhe a garra, a
capacidade para se envolver em projetos cí-
vicos e os seus talentos para a comunicação.
Rangel, o bon vivant, o boémio, o noc-
tívago, que gosta de viagens, de festas e
de bons restaurantes, sempre acompanhado
de mulheres vistosas. Ele é o comentador de
televisão, é o juiz que se candidatou à presi-
dência do Benfica, sofrendo uma humilhante
derrota infligida por Luís Filipe Vieira… que
agora é arguido no mesmo processo, por
suspeitas de troca de favores.
As muitas facetas de Rui Rangel – de
que aqui se levanta o véu – parecem ine-
vitavelmente marcadas por aquele verão
quente de 75.
Angola, julho de 1975. Um Honda Civic, car-
regado de bidões cheios de gasolina, corre DE JORNALISTA A “REVOLTOSO”
contra o tempo, fugindo do cenário de guerra Em agosto de 1975, os irmãos Rangel aterram
que ameaça Sá da Bandeira (hoje Lubango). em Lisboa, sem emprego e sem perspetivas.
A proximidade dos guerrilheiros da UNITA O mais velho, Emídio – que viria a ser diretor
apressa os ocupantes do carro. Os quatro da TSF, da SIC e da RTP, e que faleceu em
irmãos de apelido Rangel – Emídio, Ernâni, 2014 –, chegou a vender livros de porta em
Jorge e Rui, todos confessos simpatizantes porta. Rapidamente, o “caçula” Rui decide
do MPLA – deixavam para trás casas, pro- que esta vida não é para ele e regressa a An-
fissões, amigos, os encontros no café Fló- gola. Com o país a iniciar uma guerra civil,
rida ou as férias nas praias de Moçâmedes. nenhum dos irmãos pensara em voltar. Muito
E também as recordações do Liceu Diogo menos os pais, Emídio, técnico de máquinas
Cão – o mesmo onde, por ironia, andou reformado da Companhia Mineira do Lobito
Jonas Savimbi –, cujos estudantes vestiam e da Junta Autónoma de Estradas, e Edwiges
capa e batina no ano final do Secundário. Augusta.
Sá da Bandeira era a única cidade angolana Após chegar a Luanda, Rui Rangel arranja
“autorizada” por Coimbra a usar esse traje. emprego como jornalista na Rádio Nacional
Na fuga no Honda Civic, os irmãos reve- de Angola. Até que rebenta, a 27 de maio
zam-se na condução, evitando os campos de 1977, a “Revolta Ativa”, uma dissidência
de refugiados, dominados pela UNITA. Dias OS QUATRO pela extrema-esquerda encabeçada por Nito
depois chegam a Windhoek, capital da atual Alves, que as forças afetas ao Presidente
Namíbia. “Só levávamos a roupa que tínha- IRMÃOS RANGEL Agostinho Neto reprimem sem misericór-
mos vestida”, costuma lembrar Rui Rangel, o
mais novo dos irmãos, à época com 20 anos.
FUGIRAM DE dia. Milhares de pessoas foram torturadas
e assassinadas.
Rui Manuel de Freitas Rangel, hoje com ANGOLA EM Neste cenário, foi um “milagre” Rui Ran-
62 anos, mais de três décadas no exercício da
magistratura, agora suspenso, nunca venceria
JULHO DE 1975, gel. Numa entrevista ao site DW, contou
que, naquele dia, quando saía da rádio, foi
um concurso de popularidade entre os seus AO VOLANTE DE “preso por indivíduos que se intitularam da
pares. É o mal-amado. A maioria dos juízes DISA-Direção de Informação e Segurança
não lhe perdoa a vaidade, o protagonismo, UM HONDA CIVIC, de Angola, a polícia política”. Seguiram-se
os traços de juiz superstar que ousou fugir
dos padrões cinzentos do mundo judiciário.
LEVANDO APENAS violentas agressões: “Partiram-me um braço
e fraturaram-me quatro costelas.” Rangel diz
Se, aos poucos, Rangel, se foi tornando “uma “A ROUPA QUE que “tinha algumas pessoas amigas de um
espécie de pária”, de quem a maioria dos ma-
gistrados queria distância, agora – depois de
TÍNHAMOS lado e do outro”, o que explicará o que lhe
aconteceu, mas afirma que “não tinha nada
tornar-se oficialmente suspeito de receber VESTIDA” a ver com a linha mais radical” liderada por
OCTÁVIO CORREIA
As ligações dos arguidos ao juiz BERNARDO ANDRÉ PROENÇA MARTINS
Os inspetores da PJ que vigiavam José Veiga De uma conta de Veiga saíram cerca de 300
apanharam este escrivão da 9ª secção mil euros para este jovem de 24 anos, filho de
da Relação de Lisboa a transportar processos José Santos Martins. O MP suspeita que uma
para o ex-agente de futebolistas e colocaram-no parte terá sido o pagamento de uma alegada
logo sob escuta. Suspeito de ser um intermediário interferência de Rangel num processo em que
de Rangel, é um dos cinco detidos. Veiga foi absolvido (caso João Pinto).
A dicotomia esquerda
versus direita
P O R A D O L F O M E S Q U I T A N U N E S / Dirigente do CDS
A
dicotomia esquerda/direita é hoje insu- como os manuais de ciência política ordenam.
ficiente para se organizar politicamente Há incoerência ideológica em muita gente, dirão.
o eleitorado, e talvez por isso os partidos Incoerência que os partidos não devem aceitar,
políticos, um pouco por toda a Europa, insistirão. Será? Ou será que essa dicotomia é que,
enfrentem dificuldades na atualização do sendo relevante, se tornou insuficiente para organi-
seu discurso ou do seu posicionamento. zar o eleitorado? Será que essa dicotomia, uma vez
Desde logo, essa dicotomia tem sido alcançado um consenso ocidental pela economia
atenuada pela realidade. O consenso de mercado, responde às questões do nosso tempo?
sobre a superioridade do capitalismo, Tendo a considerar que a grande questão
sobre a economia de mercado, esten- do nosso tempo, nesta vertigem de mudança que a
deu-se da esquerda à direita. Com certeza que há globalização empresta, neste caminho de inovações,
diferenças, espaços para discussão, mas essas dife- novidades, concorrência, nesta existência veloz, glo-
renças são cada vez mais acessórias ou de pormenor. bal, é sobretudo aquela que nos posiciona face a essa
Esquerda e direita estão de acordo sobre a necessi- vertigem, a essa mudança. Como reagir ao novo, ao
dade de vivermos numa economia de mercado, no estrangeiro, ao que nos desafia, ao que concorre, aos
capitalismo. Não é de estranhar que muitas das caras novos produtos e novos serviços e nova economia?
que associamos à austeridade sejam de esquerda. Como reagir à mudança, à velocidade? Essa talvez
O tão odiado Dijsselbloem, agora já menos odiado seja a questão do nosso tempo, e para a qual estão
porque Centeno passou para o lado de lá, é socialis- a organizar-se duas respostas. De um lado, os que
ta, é de esquerda, isto para dar só um exemplo. aceitam a mudança, a concorrência, as novas empre-
Haverá exceções, com certeza, a este consenso, sas, os novos trabalhadores que procuram adaptar-
mas elas são raras e, em muitos casos, começam -se, aclimatar-se, aproveitar as vantagens, mitigan-
a ser episódicas, porque a realidade tem muita força. do os custos de transição, convictos de que não há
Veja-se o Bloco de Esquerda que aprova orçamen- outra forma de subir na vida, de cumprir projetos de
tos que deixam o investimento público em mínimos felicidade, senão entrar no comboio. De outro lado,
históricos, ou o Governo Syriza, que só entusiasmou os que receiam a mudança, que procuram preservar
as redações na oposição e de que agora não se houve a realidade, protegendo empresas e pessoas de novas
falar, orientado em fazer da economia da Grécia uma empresas e novos trabalhadores, fechando frontei-
economia competitiva de mercado. Estes exemplos ras, tentando atrasar o que possa perturbar a ordem
confirmam a tendência, por mais folclore utilizado estabelecida, sempre preferível.
no seu disfarce, de consensualização, por convicção É esta a dicotomia do nosso tempo, penso, que
ou imposição da realidade, de que sem contas certas, separa os que defendem uma sociedade aberta e uma
credíveis, não é possível atrair investimento massivo. sociedade fechada. E esta é uma divisão transversal.
Mas não é só. O eleitorado há muito deixou de Temos direita que defende uma sociedade aberta e
conseguir rotular-se em dois grandes grupos, o da direita que defende uma sociedade fechada. O mes-
esquerda ou o da direita, coerentemente alinhados. mo sucede com a esquerda. Talvez por isso haja tanto
Basta olhar à nossa volta, entre amigos e conhecidos, em comum nos populistas: por mais diferentes que
cada pessoa uma mescla nem sempre coerente de sejam as suas histórias e inspirações, há muito a unir
ideias e sentimentos, umas vezes concordando com os populistas de esquerda ou os de direita, e por isso
partidos de esquerda, outras de direita. a sua atratividade de largo espetro. Da mesma forma,
Haverá espaço para os ferrenhos de um lado ou há muito a unir socialistas que aderem ao liberalismo
para os ideólogos de serviço do outro, mas o eleito- e conservadores que há muito o adotaram, cientes
rado há muito que vai fazendo as sínteses com que de que só numa sociedade aberta poderemos crescer.
se sente confortável. Não é por acaso que os populis- Não há nada de errado em continuar a falar de
tas vão buscar votos a todo o lado, mesmo ao que se direita ou de esquerda. Eu sou de direita. O que se
supunha o oposto. Aconteceu com Trump ou Le Pen. passa é que falar de direita ou de esquerda deixou de
Mas não são só os populistas, porque as variações ser suficiente para se perceber as tendências sociais,
eleitorais na Europa mostram uma flutuação que não o eleitorado, o que é sempre grave para partidos po-
encontraria explicação se o eleitorado se organizasse líticos que não prescindem de eleitores para existir.
AMÉRICA
DO NORTE
EUROPA
ÁSIA 270
OGIVAS
MÉDIO CHINA
ORIENTE
6 800 Conta instalar um
novo ICBM móvel,
OGIVAS este ano. Renova
EUA ÁFRICA submarinos e aviões
para transportarem
Reconstruir AMÉRICA
os três pés da 300 DO SUL 80 130 mísseis,
possivelmente
chamada tríade OGIVAS OGIVAS OGIVAS nucleares
nuclear, AUSTRÁLIA
reequipando FRANÇA ISRAEL ÍNDIA
laboratórios de Renovar os submarinos Não reconhecem publicamente o seu Desenvolve um míssil
armas, custaria classe Triomphant para programa nuclear. Negam relatórios de cruzeiro supersónico.
uns 1,2 biliões transportarem o míssil que indicam estarem a armar as suas Primeiro submarino
de dólares nos M51, melhorado em frotas de submarinos diesel-elétricos nuclear ficou FONTE FEDERATION
OF AMERICAN
próximos 30 anos alcance e segurança com mísseis nucleares operacional em 2016 SCIENTISTS; SIPRI
INFOGRAFIA VISÃO
de um conflito nuclear é hoje mais elevado da Força Aérea Paul Selva, vice-presidente
do que era durante a Guerra Fria.” do Estado Maior conjunto, diz à Time que o
A Administração Trump planeia dar em presidente precisa de opções. Trump e os seus
breve um passo em frente no desenvolvi- sucessores, afirma, não podem ter de escolher
mento de uma nova geração de armas na sua entre matar milhões de civis e recuar com-
Revisão da Postura Nuclear, um documento pletamente. “As pessoas sentem desconforto
de estratégia. Desde o fim da Guerra Fria quando se fala de travar uma guerra nuclear e
que os EUA não designam qualquer nova em dar opções ao Presidente, seja lá ele quem
arma nuclear enquanto tal e a Rússia tem for,” diz Selva. “A estabilidade estratégica no
trabalhado para diminuir a escala dos seus mundo entre os nossos concorrentes nucleares
arsenais estratégicos. Um primeiro esboço do e os nossos pares nucleares foi conseguida.
documento, de 64 páginas, publicado em ja- Não é um direito de nascença”.
neiro pelo Huffington Post, incluía duas novas O RISCO DE UM O novo plano de Trump também alarga o
armas instaladas em submarinos, uma delas “uso em primeiro” de armas nucleares por
equipada com uma pequena ogiva atómica
CONFLITO NUCLEAR parte do presidente, estendendo-o a circuns-
para utilização em teatro de guerra. É HOJE MAIS tâncias que incluem “ataques estratégicos
A nova ogiva, conhecida como arma nuclear não-nucleares” contra os Estados Unidos ou
tática, seria disparada de um submarino. Difere
ELEVADO DO QUE ERA seus aliados. Isso pode significar ciberataques
de uma arma estratégica, que está concebida DURANTE A GUERRA contra os sistemas de comando e controlo
para destruir cidades e grandes alvos militares. nucleares ou contra infraestruturas civis,
A América precisa de armas nucleares de com-
FRIA, AVISA O ANTIGO como a rede elétrica ou o sistema de controlo
bate, diz a equipa de Trump, para deter os ar- SECRETÁRIO aéreo, concluíram especialistas em controlo
senais táticos dos adversários. Numa escalada de armas. As anteriores administrações li-
de guerra com a Rússia ou a China, o exército
DE DEFESA DOS EUA, mitaram a ameaça de uma resposta nuclear
norte-americano poderia lançar uma “guerra WILLIAM PERRY a acontecimentos com um número massivo
nuclear limitada” em vez de arrasar cidades de vítimas, como ataques com armas quí-
inteiras com armas estratégicas. O general micas ou biológicas. Stephen Schwartz, um
APREENSÃO GENERALIZADA
O plano de Trump também traz uma nova
abordagem, cética, aos acordos de controlo
das armas nucleares. No orçamento do Pen-
tágono para 2018, Trump incluiu fundos para
o desenvolvimento de um novo míssil. Se for
testado ou instalado, o míssil violará um pacto
de há 30 anos com a Rússia, o INF - Tratado
de Forças Nucleares de Alcance Intermédio.
Ao contrário dos seus predecessores, Trump
confronta diretamente a prévia violação
do tratado por parte da Rússia, diz David
Trachtenberg, subsecretário de Defesa, que
ajudou a supervisionar o plano. “O mundo
não é tão benigno como muitos esperavam Imagens reais Controvérsias sobre as relações nucleares
que fosse”, remata. O poder destruidor EUA-Rússia não são coisa nova. Os estra-
Os avanços de Trump em termos de nu- de uma bomba tegas discordam há muito sobre se se deve
clear, expressos tanto em documentos de atómica foi captado, contrariar a ameaça nuclear de Moscovo com
orientação política como em encontros se- em marco de 1953, uma escalada ou com contenção. É um jogo
cretos ao longo do último ano, geraram res- pelos cientistas de póquer nuclear com apostas muito altas.
postas no estrangeiro que vão da preocupação norte-americanos, A Administração Trump, na sua abordagem
silenciosa até à indignação. durante um teste agressiva, está a apostar na coação. “Temos de
A 8 de novembro, quase cinco semanas realizado no deserto ter esta posição de força para trazer a Rússia
depois de Trump aprovar o desenvolvimento do Nevada de novo à mesa das negociações”, diz Laura
do novo míssil, o secretário da Defesa James Cooper, uma especialista do Pentágono. “Mas
Mattis reuniu-se com os ministros da Defesa não estamos a rasgar os tratados que nos ser-
dos países da NATO. Realizado numa sala de viram tão bem nas últimas décadas”.
conferências de máxima segurança e sob a mais Se não conseguir alterar o INF, dizem à
alta classificação, conhecida por “Top Secret Time fontes oficiais, a administração Trump
cósmico”, o briefing de Mattis revelou as infor- não está interessada em entrar em novos
mações da espionagem americana que indicam acordos com a Rússia. Isso é um problema
violação do tratado INF por parte da Rússia. particular porque o novo START, um acor-
As agências de informação dos Estados do de controlo do armamento fundamental,
Unidos reuniram imagens de satélite e infor- vai expirar dentro de três anos. O acordo de
mações adicionais que indicam que Moscovo 2010 limita cada lado a 1550 ogivas nucleares
anda há anos a testar um míssil de cruzeiro instaladas. Se desaparece, seria a primeira vez
que viola o tratado, no campo de testes de que o esforço para limitar os stocks estraté-
lançamento de foguetes de Kapustin Yar no gicos da Rússia e dos Estados Unidos ficaria
leste da Rússia, disseram fontes do Pentágono em suspenso desde 1991.
à Time. O míssil foi agora instalado em duas Os antigos senadores Sam Nunn e Richard
bases militares russas, colocando em risco as Lugar, cuja ação foi crucial para se conseguir a
capitais da Europa. ratificação dos tratados sobre armas nucleares
O míssil de cruzeiro russo, que violou o nos anos caóticos que se seguiram à Guerra
tratado, pode ser lançado sem dar aos aliados Fria, temem o fim do controlo das armas
muito tempo de avanço para determinar o que por junto. “Temos uma erosão severa”, diz
foi disparado contra eles. O líderes teriam de Nunn. “Vamos entrar num período de muito
interpretar rapidamente o bip nos seus ecrãs maior risco na arena nuclear”. Lugar afirma:
de radar e decidir a resposta. O acordo INF, “A tendência é para nos afastarmos deste tipo
assinado pelo Presidente Ronald Reagan e o de acordos internacionais, o que é profunda-
líder soviético Mikhail Gorbachev, em dezem- mente preocupante… e francamente perigoso.”
bro de 1987, foi o único acordo de controlo
das armas nucleares capaz de eliminar uma COMPETIÇÃO ESTRATÉGICA
classe inteira de armas. Forçou as superpo- O resto do mundo, por seu lado, não está de
tências a abater mais de 2600 mísseis, que olhos fechados perante o acelerar da com-
podiam lançar um ataque nuclear na Europa petição EUA-Rússia. Embora os dois países
em menos de dez minutos. tenham quase 93% do arsenal nuclear mun-
A
equipa que vai escolher
para liderar o PSD é
tão difícil como entrar
na caixa-forte do Tio
Patinhas. Mas depois
começa a perceber-se:
Rio preza a lealdade, tem em conta quem se
esgadanhou por ele e desvaloriza carreiris-
mos. Mas, para ter mão na gestão quotidiana
da casa, também precisa de pacificar a fa-
mília social-democrata à custa de “primos e
afilhados” de várias origens e sensibilidades.
Óbvios, na nova geometria “laranja”, serão
o ex-ministro David Justino e o deputado
Feliciano Barreiras Duarte – onde, ver-se-á.
Mas a dupla, além da cumplicidade com o
presidente eleito e de ter sido decisiva para a
vitória, é garantia de experiência política, co-
nhecimento profundo do partido e currículo
em áreas que irão marcar a agenda do PSD.
Do mix que a VISÃO apresenta nas páginas
seguintes estão mais alguns que darão
cartas no partido que Rio está a idealizar, na
frente interna e externa. E ainda haverá es-
paço para premiar a dedicação, compromis-
so e fidelidade histórica de Maló de Abreu e
de Paulo Mota Pinto.
Junte-se a esses um conjunto de notáveis,
dirigentes, deputados ou autarcas que andou
com Rio ao colo e está debaixo dos holofo-
tes. Estes são os casos de Carlos Peixoto
(Guarda), Nataniel Araújo (Vila Real), Adão
Silva (Bragança), Rui Rocha (Leiria), Nuno
Martins (Almada), Pedro Alves (Viseu), Álva-
ro Amaro (Guarda), Cláudia Aguiar (Madeira),
Fernando Ramalho (Maia), Regina Bastos
(Aveiro), Nunes Liberato (ex-chefe da Casa
Civil de Cavaco), Rui Quelhas (Gondomar)
e António Tavares (Porto). O terreno autár-
quico é onde Rio poderá recuperar apoian-
tes de Santana, na presunção de optaram
sem calculismos e de boa-fé. Telmo Faria
(Óbidos), Nuno Freitas (Coimbra) e Paulo
Cunha (Famalicão) serão esses casos. Para o
fim, deixamos Salvador Malheiro, presidente
da Câmara de Ovar e diretor nacional de
campanha de Rio. Com o Ministério Público à
perna, passará ele de estrela do firmamento
a personagem ofuscada? À VISÃO, o autarca
garante que será sempre solução, nunca
problema (ver entrevista na página 30).
A última palavra, em todo o caso, cabe ao
novo inquilino.
2
par do ex-ministro David Justino na a candidatar-se a líder, quando ele era
elaboração da moção de estratégia do presidente da Câmara. A chamada da
novo líder. “Partimos muita pedra, foi minha mãe foi ao contrário. Disse-me:
uma experiência riquíssima”, confessa, ‘O Rio é de palavra, não deve aceitar.
depois de passagens pela Assembleia C A R VA L H O M A R T I N S Se aceitar é igual aos outros’.”
Municipal do Porto no último manda- 63 anos Falar do homem que “guarda re-
to de Rio e pelo Conselho de Jurisdi-
ção Nacional do partido. Apoiante de AMIGO, COM CHUVA gisto de tudo o que ganhou, gastou
ou depositou” até hoje, incluindo os
Paulo Rangel, seu antigo professor,
no congresso de 2010, considerou um OU COM SOL canhotos dos cheques, é fácil para o
ex-deputado. “Tem um controlo rigo-
passo natural apoiar Rio. “É persis- “Sou de Ponte de Lima e, por lá, o roso sobre essa área desde o primeiro
tente, honrado, pensa na política para PSD procurou sempre ter o melhor depósito. Está liberto de tudo, mais
o bem comum e é exímio a conseguir empresário, o melhor carpinteiro, o do que as pessoas pensam.” Carvalho
o impossível. Com ele, até acredito na melhor dentista e por aí adiante. Não até já tinha anunciado a sua reforma
maioria absoluta em 2019!” Catarina tenho dúvidas de que, nesse sentido, antecipada destas andanças, mas, no
desafia o PSD a antecipar debates so- a escolha de Rui Rio é um regresso seu caso, será a decisão... irrevogável?
bre evolução tecnológica, Inteligência do partido às origens.” Para António “A política ativa acabou, mas o Rui
Artificial, cibersegurança e ecologia. “O Carvalho Martins, deputado entre sabe que pode contar comigo, sobre-
imediatismo não responde aos grandes 1991 e 2001, e antigo governador civil tudo numa missão como esta.”
problemas da sociedade. É preciso um de Viana do Castelo, “basta que Rio
novo 25 de Abril. Com mais liberda- seja igual a si próprio” para fazer jus
de, mais mobilidade e conhecimento”, à matriz fundadora do velho PPD. E
reclama a ex-presidente da Associação antecipa: “Muita gente ficará sur-
Europeia de Estudantes de Direito. preendida com a sua sensibilidade
Praticante de ioga, domina três para as fragilidades sociais. É algo
línguas e vai a caminho no árabe. Na que mexe muito com ele, embora seja
memória, guarda “o ano espetacular” uma faceta pouco conhecida”, revela
em que se juntou ao projeto Up With o economista e empresário que Rio
People e percorreu o planeta. “Queria escolheu para secretário-geral-ad-
fazer coisas diferentes e o Porto era junto no PSD, em 1996.
pequeno para mim.” Os direitos hu- Estudaram ambos na Faculdade de
manos são a sua praia, Gandhi a refe- Economia do Porto, a relação fez o seu
rência. Um dia, alguém a recomendou caminho e é hoje blindada. “Temos uma
a Arianna Huffington, fundadora do amizade fortíssima”, reconhece o em-
site de notícias The Huffington Post, presário minhoto, guardião de episó-
que a desafiou a escrever para a publi- dios que, segundo ele, atestam o caráter
5
pelouros que tornaram a cidade pre-
miada internacionalmente nas áreas
do digital e da inovação tecnológica.
“A este nível, os partidos continuam
arcaicos. Em parte, isso explica que L I N A LO P ES
um jovem questione porque há de 56 anos
filiar-se num PS ou PSD”.
Vladimiro tem ideias para re- A SINDICALISTA
solver isso. Melhor: tem um plano.
Garante que, “no espaço de um QUE QUER
DESENFERRUJAR
DIANA TINOCO
7
manhas adversárias adquiridos nas
lutas internas do seu distrito, mas
sobretudo no tempo em que foi
secretário-geral da JSD. Em Torres
Vedras, chegou ao pormenor de HUGO CARNEIRO
contar as 31 cadeiras da sede do 35 anos
PSD para desmontar propaladas
enchentes santanistas. De print “PEQUENO RIO”,
screen em print screen, foi iden-
tificando outras matreirices, além CATÓLICO E FÃ
de pôr ao serviço de Rio a rede de
contactos intergeracionais que cul-
DE SARAMAGO
tivou no partido. Chamam-lhe “Pequeno Rio” e já
Membro de uma “orgulhosa e perceberá porquê. Nas eleições
tradicionalista família numerosa”, internas, este quadro do Banco de
pai babado, sportinguista e com Portugal na área da supervisão foi
percurso sólido na área empresarial o homem das contas. “Se não tiver
ligada ao ambiente, Bruno garante: dinheiro para uma campanha digna,
“Não preciso da política.” No Parla- vou no meu carro. Não fico a dever
mento, passou um mau bocado por a fornecedores”, disse-lhe Rui Rio.
causa do apoio a Rio, mas mante- Hugo Carneiro levou a missão à
ve-se firme. “Quero contribuir para migalha. “Consigo identificar o rasto
desconstruir a ideia de um PSD de cada verba que entrou. E ainda
que só pensa em salvar os anéis e devolvi um donativo de 2 mil euros.
os dedos”, assume. Da política com Não estava como eu queria.” As
6
adrenalina a viciado em Dan Brown contas finais serão apresentadas em
e Daniel Silva – “gosto de page-tur- breve, mas “gastámos abaixo dos 90
ners, livros excitantes, tenho pressa mil euros orçamentados”, assume.
de chegar ao fim” –, Bruno tem Hugo foi ao pormenor de criar um
BRUNO COIMBRA gostos musicais que vão do compo- carimbo para inviabilizar as subscri-
36 anos sitor Einaudi a Pearl Jam, passando ções não conformes. “O Hugo não
O GIN LOVER por Caetano Veloso. “Gasto muito
dinheiro em duas coisas: viagens e
deixa pontas soltas. E é mais forreta
do que o Rio. Até guarda os talões
“TODO O TERRENO” gin.” Consta que a garrafeira de gin
é de meter respeito. Estaria horas a
de desconto do Continente”, asse-
gura quem o ajudou na logística.
Dirigiu a “Volta” de Rio ao país do falar sobre “destilações”, “tónicas” Portuense de origens humildes,
PSD profundo que ajudou a des- e “botânicos”, mas o tempo, agora, formou-se em Economia na mesma
montar “meias verdades” sobre o “é de separar as águas”. faculdade de Rio. A trabalhar no
candidato. “Muita gente, depois de BES, licenciou-se em Direito, na
o conhecer, filiou-se no partido”, Católica, em horário pós-laboral.
atesta o deputado Bruno Coimbra, Aderir ao PSD, em 2000, tinha sido
natural do Luso, engenheiro am- o mais fácil: “Fui às Páginas Ama-
biental e ex-mandatário de Passos relas, liguei para as sedes, mas nin-
em Aveiro. O abraço emocionado guém atendeu. Depois lá consegui,
e firme de Rio, no final da campa- sem padrinho.” Integrou as listas à
nha, selou uma amizade construí- Câmara do Porto nas autárquicas
da on the road. Bruno foi mesmo de 2009 em 10º lugar. Rio pedi-
um todo o terreno ou não tivesse ra nomes de jovens com currícu-
ele a experiência e o olho vivo para lo meritório, nada de carreiristas
8
FELICIANO BARREIRAS DUARTE
51 anos
INCANSÁVEL,
“À VELOCIDADE
LUÍS BARRA
DOS AVIÕES”
Corria 2004, era ele secretário de de resto, distinguido pela comu- seu confronto com a direção foi
Estado com a “pasta” da integração nidade chinesa em Portugal –, pu- público e ruidoso, acusando-a de
de imigrantes, quando o chefe de blicou vários livros e, dizem, é um caucionar a postura “trumpista” e
Governo, Durão Barroso, decidiu trabalhador incansável, “à velocida- xenófoba de alguns protagonistas.
fazer um Conselho de Ministros de dos aviões”, para usar a expres- “Chamei a atenção, inclusive de
sobre o tema em Óbidos. O assunto são com que ele próprio ilustrou Passos, para o facto de o partido
nunca foi pacífico no PSD e, no fi- a vida de governante. Foi chefe de estar a resvalar. O PSD feriu
nal da reunião, um colega chamou- gabinete de Pedro Passos Coelho, e violou grosseiramente o seu pa-
-lhe esquerdista. “Respondi que mas não demorou a desiludir-se. trimónio em áreas como
ficaria preocupado se me chamas- As entranhas do partido, nos a imigração, cujo maior exemplo
sem racista ou fascista.” Esquerdis- seus vícios e virtudes, são-lhe é o discurso populista e demagó-
ta, ele? Feliciano Barreiras Duarte, familiares e, também por isso, foi gico de André Ventura. Até nestas
natural do Bombarral, autoprocla- de utilidade extrema na campanha matérias, tenho grande sinto-
ma-se republicano, católico e não interna para identificar maçãs po- nia com Rio”, assume. Encerrada
socialista. Já agora, conservador dres. “Conhecemo-nos há muitos a disputa interna, “é chegado o
nos costumes, liberal na economia anos, mas o seu perfil de estadista momento para convergir de boa-
e social-democrata nas responsabi- aproximou-nos. -fé”. Do lado de fora, o PSD tem
lidades sociais. Feliciano tem lugar A vitória de Rio encerra o ciclo à sua espera o combate com “um
reservado no universo Rio. Depu- do Portugal negativo, do qual o Governo preocupado em satisfa-
tado, com experiência governativa PSD ainda não tinha feito o luto. zer clientelas e protestos de rua.
– fez parte de três executivos –, É preciso assumir uma oposição Quando se está com os pés acima
tem um pensamento estruturado credível, combativa e esclareci- do chão, algo de errado deve estar
sobre políticas de imigração – foi, da”, desafia. Nos últimos anos, o a acontecer”.
27,5%
Eleito em 2015, as preocupações centrais produzem na sua máxima capacidade e a eco-
deste sindicalista, membro do SPD (partido nomia cresce consecutivamente desde 2011
socialista) alemão, retratam bem a situação (subiu 2,2% em 2017), o Bundesbank anun-
confortável em que se encontra o operariado DO SALÁRIO ciou também que em 2018 deverá registar-se
germânico (ver caixa). Mão de obra barata, Prémio anual o maior crescimento dos últimos sete anos.
eles não o são, nem aceitam ser – já bastam 28h de trabalho, As reivindicações salariais continuam a
os 2,7 milhões de precários que se sujeitam a com a redução fazer parte da cartilha sindical, claro. Neste
remunerações de miséria, como identificou o do horário braço de ferro era reclamado um aumento de
Instituto das Ciências Económicas e Sociais comparticipada 6%, mas as prioridades são – e serão cada vez
(WSI). O que os distingue é precisamente pelas empresas mais –, as relacionadas com as condições ge-
a sua qualificação, e a IG Metall conseguiu no caso de rais de trabalho e a promoção de um melhor
recentemente mais investimento das em- trabalhadores com equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
presas na comparticipação dos estudos de filhos ou idosos Como escreveu Marx, há mais de 150 anos,
trabalhadores que pretendam especializar-se, a cargo, durante n'O Capital, “quanto menos comes, bebes,
bem como a criação de um grupo de estudos dois anos compras livros, vais ao teatro e ao café, pen-
A ALEMANHA
xemburgo, Hofmann
é uma personagem
sempre capaz de
surpreender: é gran- ENTRA EM 2018
de fã da banda punk
Die Toten Hosen (Os
COM A TAXA DE
Calças Mortas) e o DESEMPREGO
MAIS BAIXA DE
seu perfil oficial diz
que fala fluentemen-
te francês, inglês e
português. Como SEMPRE E COM
se não bastasse, é
ainda membro dos
A ECONOMIA EM
Conselhos de Super- CRESCIMENTO
RECORDE
visão da Volkswagen
e da Bosh.
E, de repente,
veio o crash
“Investir devia
ser mais como ver
a tinta a secar ou
a relva a crescer.
Se queres O inverno ainda vai a meio mas os índices
bolsistas já resfriaram. Com os olhos no
excitação, agarra termómetro da economia nos Estados Unidos
em 800 dólares da América, a ameaça de uma febre de subidas
dos juros deixou os investidores com arrepios.
e vai a Las Vegas” O contágio atravessou o mundo e os mercados
Paul Samuelson caíram a pique. O que vem aí?
Economista norte-
-americano e vencedor PA U L O Z A C A R I A S G O M E S
do Nobel da Economia
(1915-2009)
31-10-2017
23377,24
I
pela atuação das máquinas
26-01-2018
magine que está em plena au-
26616,71 toestrada e que, apesar de alguns
avisos que vai encontrando pelo
caminho, continua a conduzir a
120 à hora e a apreciar a paisagem,
como se nada fosse. Até que, do
meio do nada – e apesar dos si-
nais ao longo da viagem – avista
a lomba. O mais certo é travar a
fundo, correto?
O exercício pode ser um pa-
ralelo para o que aconteceu nos
últimos dias nas bolsas mundiais. Me-
ses de valorizações alimentadas por li-
quidez abundante nos mercados e por
promessas de reduções de impostos
levaram os preços das ações a valores
historicamente altos. Boa parte sem que
se encontrasse uma lógica económica
na base dessas avaliações tão otimistas.
E, de repente, a cavalgada de meses deu
lugar a dias de quedas abruptas.
Vamos a contas: em Nova Iorque,
mais de um bilião de dólares perdidos
em valor em menos de uma semana,
os índices com perdas recorde – no
caso do industrial Dow Jones a maior
perda nominal de sempre, mais de mil
pontos num dia. O “banho de sangue”
estendeu-se à Europa e depois à Ásia,
onde os investidores acusaram o con-
tágio com quedas superiores a 3% nos
índices. Lisboa não escapou ao derrame
05-02-2018 e os investidores viram eclipsar-se em
24345,75 poucos dias todos os ganhos conquis-
tados em 2018.
“No último ano, desde a eleição de
Donald Trump e até agora, os merca-
dos tiveram subidas consecutivas du-
rante um ano sem grandes correções.
Isto deve-se a níveis muito baixos das
taxas de juro e a incentivos dos bancos
centrais”, argumenta Gualter Pacheco,
trader da GoBulling – Banco Carregosa,
referindo-se aos 11 biliões de dólares
de liquidez injetados nos mercados
pelos bancos centrais, como parte dos
estímulos para recuperar as principais
economias mundiais depois da grande
recessão de 2008. Quando o dinheiro
é barato, os investidores tornaram-se
menos seletivos na hora de investir e,
pior, mais insensíveis aos sinais de risco
que já vinham sendo apontados.
No centro das preocupações está a
maior economia mundial, onde o ritmo
de recuperação começa a surtir efeitos
na inflação. Com os EUA próximos do
pleno emprego e os salários a come-
çarem a subir há mais disponibilidade
para gastar e, por isso, maior proba-
O
s qualificativos mais o concedera. De imediato concluin-
usados para designar do que o benefício fora concedido
o inquérito do Ministério pela Câmara de Lisboa; e nem era
Público a Centeno foram benefício, mas simples aplicação
“ridículo” e “absurdo”. da lei.
E também lhe ouvi chamar Ora, face a tudo isto, como foi
“envergonhante”. Sem possível o Ministério Público (MP)
divergir do acerto de tais abrir um inquérito a Centeno e
classificações, prefiro não qualificar fazer até uma busca no Ministério
e seguir por outro caminho. Como das Finanças? Sabendo, claro, além
desgraçadamente vem sendo usual de tudo o resto, a repercussão que
não poucos media, com flagrante o (inexistente) “caso” teria a nível
intenção política, interesseiro sen- nacional e, pior, internacional
sacionalismo ou manifesta incom- – com o potencialmente suspeito
petência, ou as três coisas, os factos acabado de ser eleito presidente
apareceram por vezes desvirtuados, do Eurogrupo? Ou seja, sabendo os
mal contados ou apresentados de danos causados a um governante
forma a insinuar relações de causa- – na circunstância, de um inqué-
lidade inexistentes. Sintetizarei rito, mesmo que logo arquivado,
o que julgo essencial. alguns danos sempre ficam – e até,
O ministro das Finanças, lá fora, ao país.
Mário Centeno, benfiquista sócio Conheço a autonomia de que
e parte para Portugal isso trará procura de bancada, que- goza cada magistra-
adicional. De repente ficamos com um rendo assistir a do do MP – no qual,
problema de preço,” avisa. um jogo de risco, o Impõe-se como em toda a par-
Para já, se a queda no preço das ações Benfica/Porto, por saber quem, te, há do bom e do
parece excessiva, não são de afastar novas
descidas. “Foi uma correção bastante exa-
razões de segurança
foi aconselhado a ir
em concreto, mau, há muito quem
se paute pelo escru-
gerada por toda a exposição alavancada para o camarote do foi responsável puloso cumprimento
– a volatilidade tão baixa no ano passado, presidente do clube, pelo inquérito da lei e dos objetivos
o uso da alavancagem e de estratégias o que implicava um a Centeno, nela consignados,
[de investimento] mais exóticas,” afirma convite. Feito por ele, e pode haver quem
Steven Santos. “É difícil prever se vai con- ou por alguém em qual o seu não se paute só por
tinuar. O que ajudou o mercado a subir seu nome, o convi- fundamento isso… Ora é preciso
desde 2014 foram as políticas dos bancos te, lá foi para o sítio e resultado que se saiba, para
centrais. Se a política for invertida, não em que é habitual o bem e para o mal,
me espantaria que houvesse correções”, verem-se numerosos quem, em concreto,
diz por seu lado Gualter Pacheco. políticos, empresários, governantes, é responsável pelo quê, não deven-
Na terça-feira os índices europeus etc. Meses depois, houve uma “no- do ficar tudo sob o “manto” pouco
tocaram novos mínimos de três meses tícia” num diário digital de marcada diáfano de MP. Que ou corresponde
e Lisboa acumulou a sétima queda (há orientação política, a que se seguiu a anonimato ou a atribuir respon-
dois anos que não caía de forma tão uma manchete num diário sensa- sabilidades a quem tem nele ocupa
prolongada). “Os grandes abanões têm cionalista, que noutra peça noticiou a posição cimeira, Joana Marques
sempre este padrão – esticão e subida. haver sido depois concedido um Vidal, que muito prezo e no caso
É o normal, mas não me deixa descan- benefício fiscal ao filho do presi- não terá responsabilidade concreta
sado,” define João Duque, para quem dente dos “encarnados”. Logo… nenhuma.
ainda assim o tropeção dos últimos dias Logo, nada. Nada, concluiria Enfim, impõe-se saber quem to-
foi “supersaudável”. qualquer pessoa com isenção e mou a iniciativa da “operação”, com
“O corrigir para a verdade [dos preços] bom senso. Porque não lhe passaria que fundamento, o que justificou e
não é mau. O que é pena é que suceda de pela cabeça um ministro das Finan- visou a busca ao Ministério, qual o
uma forma tão dramática,” acrescenta. ças “vender-se” por um convite seu resultado, que elementos novos
Por mais sinais que vejam no caminho, para ir para o camarote em vez de levaram ao imediato arquivamento
os mercados parecem esperar até estar ficar no seu lugar na bancada… E, se do inquérito a Mário Centeno… É
em cima dos obstáculos para desligar passasse, no mínimo iria verificar uma questão de transparência. De
o piloto automático. zgomes@exame.pt que benefício fiscal seria e quem Justiça. De defesa do próprio MP.
O que fazer
com a
liberdade?
As escolas deixaram de ser
todas iguais. Pelo menos, as
223 envolvidas num projeto-
-piloto do Ministério da
Educação. Fomos a Estarreja
ver como se constrói este
mundo novo
JOANA LOUREIRO
E
D I O G O B A P T I S TA / N FA C T O S
squeçam o rato de laborató- O 10º ano anda num entusiasmo com e os alunos estão muito entusiasmados.”
rio ou qualquer outra espécie isto de aprender com o que acontece à Mas o que é que se passa naquele
anónima de um ensino mais nossa volta. E de interagir com a comu- agrupamento de escolas, com mais de
académico. Na Escola Se- nidade nem que seja para mudar uma três mil alunos (desde o nível pré-escolar
cundária de Estarreja (ESE), vírgula à realidade. Há quem avance, por ao secundário)? O edifício onde apren-
o estudo de três turmas do exemplo, com a ideia de visitar idosos dem – cuja requalificação foi concluída
10º ano, do curso de Ciências em lares ou em centros de saúde. Ou em 2012 –, com a sua arquitetura de
e Tecnologias, focou-se no com um concerto solidário cujas recei- linhas arrojadas, enquadra-se bem na
lagostim-vermelho-do-Lou- tas possam reverter para os Bombeiros imagem de “escola do século XXI”.
isiana, uma praga invasora Voluntários de Estarreja. Estarreja foi uma das instituições de
vinda dos EUA para os arro- “Uma coisa é falar da investigação do ensino a aderir ao Projeto de Autono-
zais do Baixo Vouga Lagunar, ponto de vista teórico, outra coisa é vi- mia e Flexibilidade Curricular (PAFC),
com um impacto no ecossistema. “Foi venciar o processo de construção do co- a experiência pedagógica lançada pelo
a professora quem sugeriu o tema, mas nhecimento, como eles vão fazer agora”, Ministério da Educação, em 223 escolas
pensámos que seria interessante porque sublinha Dorinda Rebelo, 56 anos (32 de (públicas e privadas) de todo o País, o
é um problema da nossa comunidade”, ensino), coordenadora do departamento que representa um quinto do total. Por
conta Mariana Matos, uma das alunas de Matemática e Ciências Experimentais enquanto, apenas nos anos iniciais de
envolvidas no projeto. da ESE. “Acaba por ser muito mais rico cada ciclo (1º, 5º, 7º e 10º anos). A medida
implica que até 25% do programa curri- que permite autonomizar do programa
cular possa ser gerido autonomamente aprendizagens que são transversais”,
pelos estabelecimentos de ensino, com explica Dorinda Rebelo. Para Maria-
traduções concretas muito distintas. na, “damos os conceitos que apren-
Como é que isso se faz? Numa en- díamos na sala de aula, mas de forma
trevista recente à VISÃO, João Cos- mais interessante e motivadora”. Afinal,
ta, secretário de Estado da Educação, “a maioria [dos alunos] não vê a utilidade
exemplificou: “Temos de garantir que das matérias fora da escola, no dia a dia.
todos os alunos, no final do 2º ano, estão Damos a matéria porque é obrigatória,
a ler com fluência, sem hesitação, sem mas ninguém liga. Aqui sabemos que
soletrar. Se o professor chega lá pelo este estudo vai servir para alguma coisa”,
método A, B ou C, lendo o livro A, B ou acrescenta a professora. Neste caso, re-
C, isso tem de ser gerido em função das colhidos e trabalhados os dados no Baixo
necessidades específicas dos alunos que Vouga Lagunar, será possível aplicá-los
tem à frente – e não a partir de uma me- no controlo da reprodução do lagostim,
todologia que é prescrita centralmente sem destruição dos arrozais.
pelo Ministério da Educação.” Outros projetos extracurriculares
Este é o ponto central a partir do qual desenvolvidos em outros anos letivos
se constrói a escola idealizada por este pela ESE, como o das eco-escolas ou
Governo, com um “ensino orientado um outro relacionado com o empreen-
para a vida” e nem tanto para o exame. dedorismo, foram agora integrados no
currículo. “Sempre fomos uma escola
A CONTAR PARA A NOTA ativa, mas os alunos trabalhavam nes-
Aos alunos de Estarreja foi-lhe apre- tes projetos e não havia no quadro uma
sentado um guião no início do ano es- forma de os avaliar numa disciplina,
colar, com uma série de tarefas a seguir, enquanto agora já podemos fazê-lo”,
desde as saídas de campo para recolha adianta Dorinda Rebelo.
de exemplares do dito no lagostim-ver- Em convergência com esta estraté-
melho-do-Louisiana, conversas com gia transdisciplinar está também uma
agricultores, a intensas pesquisas. Várias nova componente de currículo intro-
disciplinas foram incluídas neste DAC duzida pelo Ministério da Educação,
(Domínio de Autonomia Curricular): a Cidadania e Desenvolvimento (CD),
a Biologia e a Geologia, mas também em todas as escolas que aderiram ao
a Físico-Química, a Matemática (para PAFC. Uma experiência de promoção
as medições dos lagostins e sua repre- de uma sociedade mais justa e inclu-
sentação gráfica), o Português (irão tra- siva, trabalhada transversalmente, em
balhar a comunicação em ciência, com todos os anos iniciais de ciclo e em todas
a elaboração de um poster) e a Filosofia as disciplinas. No ensino secundário,
(numa abordagem às questões da ética divididos por grupos, os alunos têm de
e da sustentabilidade). definir um projeto de intervenção na
“Há uma abordagem interdisciplinar, sua comunidade e o plano para o exe-
OS PROJETOS
DOS ALUNOS EM PROL
DA COMUNIDADE,
COMO AS VISITAS
A IDOSOS OU EVENTOS
BENEFICIENTES,
PASSAM A CONTAR
PARA A NOTA FINAL
Rankings há muitos
A SUBVERSÃO DAS TURMAS é claramente tradutora de uma ação
A libertação de espaço curricular para suportada no compromisso, na com-
que, em cada escola, se possa promover petência e no rigor”, sublinha.
o trabalho articulado entre as Apren- A Escola Secundária de Foi este universo tão lato de alunos
dizagens Essenciais (documentos de Estarreja aparece em 51.º que levou a escola a avançar, neste se-
orientação curricular, em contraponto (entre 633) no ranking de gundo período, com as aulas de Gestão
aos programas, que elencam os conhe- escolas elaborado pelos Autónoma do Currículo, depois de co-
cimentos, as capacidades e as atitudes jornais Diário de Notícias nhecerem bem o perfil dos alunos do 10º
a desenvolver obrigatoriamente pelo e Jornal de Notícias. ano. Subvertendo o conceito ortodoxo
aluno) e outras aprendizagens, com Nesta classificação são de turma, distribuíram os alunos por
aprofundamento de temas, explorações consideradas as médias três grupos, de acordo com as maiores
interdisciplinares e componentes locais das notas dos alunos ou menores dificuldades manifestadas
do currículo, é um dos objetivos Projeto nos exames nacionais de na aprendizagem. Assim, “podemos
de Autonomia e Flexibilidade Curricular. Português e de Matemática, dar mais atenção àqueles que se ex-
Daí o interesse em participar mani- seja no ensino público ou põem menos e têm mais dificuldade na
festado pelo Agrupamento de Escolas no privado. O ordenação interpretação dos textos, ao passo que
de Estarreja, envolvendo 742 alunos e desta informação em forma aqueles que têm melhores resultados e
134 professores (cerca de 80% do cor- de tabela qualificativa, são mais rápidos no raciocínio podem
po docente é efetivo), de todas as áreas. feita por vários órgãos de ir mais além”, entende a professora Do-
comunicação social, têm
Para Jorge Ventura, 48 anos, o diretor do rinda Rebelo.
gerado intensa discussão.
agrupamento, a decisão foi óbvia. Afinal, segundo Jorge Ventura, “de-
Primeiro porque há escolas
Por estes dias, o diretor não conseguia que inflacionam as notas
vemos adequar o serviço educativo para
conter o entusiasmo pela classificação dos seus alunos para se que a igualdade de oportunidades seja
da secundária como a 6ª melhor escola posicionarem melhor; depois efetiva e passe de uma mera intenção.”
pública, segundo a leitura do ranking porque a classificação não Numa das primeiras aulas de Gestão
das escolas feita pelo Jornal de Notícias reflete a diversidade do meio Autónoma do Currículo, cada aluno
e pelo Diário de Notícias. “Somos a úni- escolar, a escolaridade dos ainda se sentava a medo, espreitando
ca secundária do concelho, não temos pais dos alunos, nem a sua pelo canto do olho para os colegas de
qualquer mecanismo de segregação no localização em meios mais outras turmas e hesitando perante as
ato de matrícula, por isso esta posição ou menos desfavorecidos. perguntas da professora. Divididos em
O que dizem
os números
Aprovado em julho e
implementado neste
ano letivo, o Projeto de
Autonomia e Flexibilidade
Curricular visa dar mais
independência às escolas.
Esta sexta-feira, 9 de
fevereiro, um encontro
nacional a ter lugar na
Faculdade de Medicina
Dentária de Lisboa fará um
primeiro balanço
223
Escolas envolvidas (167
públicos e 56 privados)
EM VEZ DE COLOCADOS
NUMA TURMA
CLÁSSICA, OS ALUNOS
culação entre as diferentes disciplinas.
Este quebrar de barreiras tem sido um
dos pontos positivos realçados pelo cor-
po docente da ESE. “São momentos de
reflexão conjunta que favorecem o tra-
balho colaborativo”, aponta a professora.
Como nota negativa, apenas o facto
46 910
Alunos abrangidos (a maioria
no 1º, 5º e 7º anos)
SÃO DISTRIBUÍDOS de o Ministério da Educação não ter
2 278
disponibilizado mais atempadamente
POR TRÊS GRUPOS, os documentos das Aprendizagens Es-
DE ACORDO COM AS senciais (só o fizeram no início do ano
letivo). As queixas quanto à extensão
MAIORES OU MENORES do programa continuam a existir, “mas
precisamos de o ler de modo correto,
DIFICULDADES NA porque ele tem redundâncias tremen-
das, que a nossa autonomia permite
APRENDIZAGEM contornar”, esclarece Jorge Ventura. O total de turmas incluídas
Afastarem-se dos manuais é o primei- a nível nacional
6 832
ro passo. “O manual está como nota de
rodapé, é uma fonte de pesquisa como
pares, procuravam pesquisar e sistema- qualquer outra”, defende Dorinda Rebe-
tizar informações sobre as biomoléculas, lo. “Agora isto não é fácil, é quebrar com
um pouco perdidos no novo método. o que estava definido e construir novos
“Muitos ainda não me conheciam, mas materiais”, acrescenta.
depois começaram a falar mais e a colo- O diretor da ESE sabe que ainda há
car dúvidas”, conta Dorinda, no final da muito por fazer. “Estamos no ano zero,
aula. “É uma experiência nova.” as pessoas têm de perceber qual o es-
Todas as semanas a equipa pedagógi- paço e latitude de intervenção. Mas o Professores implicados
ca adstrita à aplicação do PAFC, dividida caminho da autonomia e da flexibilidade (dos quais 3 280 a receber
por anos, reúne-se para discutir a arti- é irreversível”, assegura. jloureiro@visao.pt formação sobre o projeto)
LUÍS BARRA
Dar à luz em tempo de guerra
Com o perigo sempre à espreita, a médica Maria Afonso já fez nascer uns inesperados
trigémeos, mas também sofreu trágicas derrotas nas suas missões no Afeganistão
A
VÂ N I A M A I A
campainha da Maternidade de cabeça para baixo. Depois de respirar Maria Afonso, especialista em gineco-
de Khost, no Afeganistão, fundo, foi necessário inverter a posição logia e obstetrícia no Hospital de Santa
soou perto da meia-noi- ainda dentro do útero. O segundo rapaz Maria, em Lisboa, realizou a sua primeira
te. “Parto no carro!”, gritou nascia, também, cheio de vitalidade. missão humanitária em 2013, ao servi-
alguém. Enquanto calçava Contudo, a barriga da mãe continuava ço da organização não-governamental
as luvas cirúrgicas, Maria enorme… “Voltei a fazer um exame vaginal Médicos Sem Fronteiras (MSF). Passou
Afonso corria para a entrada e senti outro par de pezinhos!”, conta a dois meses no Paquistão e outros três no
principal do hospital, acom- obstetra. Invertida a posição do terceiro Afeganistão. A médica encaixa no perfil
panhavam-na duas parteiras bebé, nascia mais um rapaz saudável. mais procurado pela instituição: “mulhe-
afegãs. Quando chegaram Inesperadamente, Maria Afonso fazia, res de nacionalidade neutra”. Regressou à
junto do automóvel, o bebé já estava assim, o seu primeiro parto de trigémeos, Maternidade de Khost, a 230 quilómetros
cá fora e o cordão umbilical tinha sido no final do ano passado. “Também acon- de Cabul, em outubro do ano passado, de
cortado por uma familiar, mas a grávida tecem coisas maravilhosas!”, exclama a novo integrada numa equipa da MSF. E
avisou-as de que esperava gémeos. jovem médica de 34 anos, contrastando ficou surpreendida com a alegria dos an-
Levaram-na imediatamente para a esta história feliz com o choque da che- tigos colegas no momento do reencontro.
sala de partos e prepararam-se para o gada: “Nunca tinha visto tantos bebés Nascem neste hospital, em média,
segundo nascimento. O bebé não estava mortos in utero. Foi assustador”, confessa. 2 mil crianças por mês (quase tantas
TRIGÉMEOS
PREMATUROS A médica
Muitas mulheres portuguesa ajudou
recorrem a clínicas três rapazes
para induzirem saudáveis
o parto antes do a nascer,
termo da gravidez, na Maternidade
por pressão da de Khost,
família para saber no Afeganistão
o sexo do bebé
quantos os partos em Santa Maria no ano passou por três mortes maternas. A mais estão a tirar o curso de Medicina: estu-
inteiro). Desta vez, Maria Afonso passou marcante foi a de uma jovem de 20 anos, dam de manhã, tratam da casa à tarde e
seis semanas a tentar contrariar as esta- grávida do primeiro filho. Há três dias que trabalham na maternidade à noite.
tísticas que colocam o Afeganistão entre a rapariga sofria de síndrome de HELLP, “A MSF não tem armas ou proteção
os países com a mortalidade materna uma doença com afeção multissistémica. das Forças Armadas, a segurança decorre
mais alta do mundo. De acordo com a A ida à maternidade gerida pela MSF foi inteiramente da aceitação da população.”
Organização Mundial de Saúde, em 2015, sendo adiada porque vivia longe e o acesso Todas as pessoas – incluindo as pacientes
sucumbiam 396 mulheres por cada 100 aos transportes era difícil. Passou as suas – têm de ser revistadas à entrada e passar
mil nascimentos de bebés vivos. A mor- últimas horas com convulsões mas, devi- pelo detetor de metais. A delegação de
talidade neonatal também é elevada, com do ao risco de viajar à noite, a família só a Jalalabad da ONG britânica Save the Chil-
o óbito de 35 recém-nascidos por cada levou ao hospital depois de o Sol nascer. dren foi alvo de um atentado do Daesh
mil nascimentos. A falta de cuidados Chegou em estado de falência multior- há duas semanas, que provocou mais de
pré-natais, o difícil acesso a cuidados gânica. Era tarde demais. O bebé tinha uma dezena de vítimas e deixou todas
primários de saúde e o hábito de induzir 24 semanas e também não sobreviveu. as organizações em alerta. Dias depois,
o parto intempestivamente, são alguns Quando aterrou no Paquistão, em também foi perpetrado um ataque em
dos principais motivos para a alta taxa. 2013, e deparou com temperaturas acima Cabul com uma insuspeita ambulância
“A pressão da família é tão grande que dos 40 graus, Maria Afonso questionou- armadilhada. O último balanço ultrapassa
muitas mulheres recorrem a clínicas pri- -se se conseguiria trabalhar com a cabeça a centena de mortos. “Quando acontece
vadas para induzirem o parto às 32 ou 35 coberta. Hoje, já se tornou um hábito. algo assim, ficamos apreensivos”, admite.
semanas”, explica. Uma das razões para Também se acostumou a que os colegas As reuniões de segurança fazem parte
provocar o nascimento prematuro dos interrompam o trabalho para irem rezar. do quotidiano da maternidade. “Não há
bebés é a ansiedade por saber o sexo da “De vez em quando, era preferível que rotina fora do hospital e do complexo
criança. Dar à luz um rapaz é muito mais não parassem imediatamente o que estão onde dormimos.” Mas é preciso ocupar
celebrado do que dar à luz uma rapariga. a fazer, é importante estarmos lá também as folgas ao fim de turnos de 24 horas:
por isso”, diz. Algumas parteiras afegãs “Faço ginástica, cozinho, vejo cinema ao
O VALOR DA VIDA ar livre... E até montámos uma parede de
As mulheres têm uma posição extrema- escalada!” No contentor onde dorme não
mente enfraquecida na sociedade afegã. falta eletricidade, água potável e internet,
A gravidez é vista como um estado de mas o seu conforto é outro. “Dormimos
vergonha, já que resulta da relação sexual. bem à noite porque vemos o efeito ime-
“Um dos motivos do atraso na procura de
cuidados de saúde é o pudor de dizerem A GRAVIDEZ É VISTA COMO diato do nosso trabalho.” Mesmo depois
de regressar a casa, Maria Afonso sente
à sogra que estão com contrações ou a
perder sangue”, sublinha a médica.
UM ESTADO DE VERGONHA, o impacto da experiência: “Lido com as
emergências de forma mais tranquila. Sou
“A coisa boa da obstetrícia é que lida
maioritariamente com a vida. O proble-
JÁ QUE RESULTA DA uma médica mais completa e corajosa.”
E, em 2019, espera contribuir para salvar
ma é quando corre mal…” Maria Afonso já RELAÇÃO SEXUAL as esperanças de outro país. vfmaia@visao.pt
N
PAT R Í C I A F O N S E C A
ela tem sido preparada para assumir o 1967 nas comparável à dos anos 1990, na
papel de primeira-dama. ADEUS, CHE
sequência da queda do Muro de Berlim
Ernesto Guevara é morto na Bolívia, e da desagregação da URSS. Severa-
O LÍDER NA SOMBRA onde organizava uma nova guerrilha mente atingido pelo furacão Irma, em
A ascensão de Miguel Díaz-Canel foi para levar os ideais revolucionários a setembro passado, a ilha caribenha viu
lenta, gradual e discreta, ao contrário toda a América Latina. as suas receitas com o turismo caírem
do percurso meteórico de outros jovens a pique. Além disso, as dificuldades na
no PCC, apontados como delfins dos 1975 Venezuela levaram a cortes radicais na
irmãos Castro. Carlos Lage, que che- PARA ANGOLA, EM FORÇA transferência de petróleo barato para
gou a secretário do Comité Executivo Cuba começa a enviar tropas para Cuba, e as restrições novamente impos-
do Conselho de Ministros (um cargo Angola, apoiando o MPLA (até 1988). tas por Donald Trump – retrocedendo
equiparado a primeiro-ministro, no no caminho de abertura iniciado por
sistema presidencial), ou Felipe Pérez 1991/94 Barack Obama – ameaçam seriamente
Roque, a quem foi entregue a pasta dos CRISE DOS ‘BALSEROS’ uma economia demasiado débil para
Negócios Estrangeiros, são exemplos Com o colapso da URSS, a economia suportar mais restrições.
de políticos de uma nova geração (hoje de Cuba cai a pique e milhares Será imperativo fazer reformas, mas
nos 50-60 anos) afastados pelos “erros de cubanos fazem-se ao mar em poucos acreditam na possibilidade de
cometidos” – segundo Raúl Castro, pequenas balsas, rumo aos EUA. Miguel Díaz-Canel avançar com uma
devido à sua “sede de poder”. Também perestroika em Cuba, a curto prazo, até
2000
Alejandro Castro Espín, de 52 anos, filho porque Raúl Castro, apesar dos seus 86
ESTABILIZAÇÃO
mais velho de Raúl e figura de proa no anos, deverá manter-se como secre-
Bill Clinton autoriza a venda de
gabinete do pai, foi apontado como pos- medicamentos e alimentos a Cuba.
tário-geral do Partido Comunista até
sível sucessor. Este coronel, que perdeu Fidel e Chávez assinam um acordo 2021 – controlando, assim, as decisões
um olho na guerra de Angola, terá sido para trocar petróleo venezuelano por do comité político e cada vírgula da linha
afastado da “corrida” precisamente pelo serviços médicos cubanos. O turismo ideológica do governo.
pai, com a justificação de que “Cuba não dá algum alento à economia. Para já, estas são mudanças que pa-
pode ser, e não quer ser, uma segunda recem ser feitas para que tudo fique na
Coreia do Norte”. 2008/16 mesma. Mas o impulso está dado e, uma
Miguelito, como Raúl Castro o tra- FIDEL SAI DE CENA vez em movimento, a dinâmica de uma
ta na intimidade, é apenas cinco anos Depois de dois anos hospitalizado, ‘el nova geração no poder (a primeira d.C.)
mais velho que Alejandro e acabou por comandante’ dá lugar ao irmão Raúl. pode revelar-se difícil de travar. A His-
ser apadrinhado pelo velho revolucio- Morre aos 90 anos. tória o revelará. pfonseca@visao.pt
Cromos 2
e números ATLETAS
olímpicos
Vão representar Portugal
em PyeongChang: Arthur
Hanse, em esqui alpino,
e Ke Quyen Lam,
Temperatura esperada em esqui nórdico
36
na cerimónia de abertura,
em PyeongChang. Estes
prometem ser os jogos
Depois de duas candidaturas falhadas, olímpicos de inverno mais
frios desde 1994, ano em
a cidade sul-coreana de PyeongChang que Lillehammer, na Noruega,
recebe entre 9 e 25 de fevereiro foi a cidade anfitriã.
a família olímpica e promete converter
150 MIL
os jogos num “festival de paz”.
Apesar dos escândalos de doping e
do afastamento dos atletas russos,
MIL
Estrangeiros foram
o evento servirá ainda de pretexto impedidos de entrar
na Coreia do Sul por
para promover o diálogo entre Seul, constituírem uma ameaça
Pyongyang e Washington Sul-coreanos inscreveram-se durante as olimpíadas
para receber pouco mais de
FILIPE FIALHO
200 convites de acesso aos
36mil
95
dois espetáculos da banda
norte-coreana Samjiyon,
em Seul e Gangneung
60 MIL
impedidos de entrar
Participam nestes Jogos. na Coreia do Sul por
No total, há 6500 atletas constituírem uma
divididos por 15 modalidades Polícias, militares e outros ameaça durante as
agentes vão ser responsáveis olimpíadas
pela segurança dos Jogos
1 1 0 M I L P R E S E R V A T I V O S
Vão ser distribuídos na aldeia olímpica até ao final da competição – dá uma média de 37 por atleta.
Mikaela Shiffrin
EUA
Começou a ganhar títulos
mundiais aos 17 anos.
Agora, com mais cinco,
promete ser umas das
figuras do esqui alpino,
a par da sua companheira
e grande rival,
Lindsey Vonn
OS RECORDES
DAS DERRAPAGENS
Valores em milhares de milhões de dólares
OS RECORDES Orçamento Custo final
51,0 51,0
DAS DERRAPAGENS 45,0
OS RECORDES
Valores em milhares de milhões de dólares 23,7 51,0
Orçamento DAS
Custo final DERRAPAGENS 45,0 16,0
Valores em milhares de milhões de dólares 15,2
Orçamento Custo final 6,9
23,7 3,6 4,
20,0 1,2 3,2 2,5
2,420,0 3,0 1,4
18,0
15,2 23,7 16,0 14,0 12,9
20,0 10,3 18,08,02004
6,9 15,2 7,6
16,0 1996 1998 2000 2002 2006
3,6 3,2 2,4 2,5 3,0 4,5 2,0ATLANTA
5,0NAGANO SYDNEY SALT LAKE CITY ATENAS 14,
TURIM
1,2 1,4 Austrália 7,6
10,3
6,9 EUA
4,5
Japão EUA
5,0
Grécia Itália
1,2
3,6 3,2 2,4 2,5 3,0
Verão
1,4
Inverno Verão
2,0
Inverno
FONTE Council on Foreign Relations, Korea Times, Le Monde, Time, CNN
Verão Inverno
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
ATLANTA NAGANO SYDNEY SALT LAKE CITY ATENAS TURIM PEQUIM VANCOUVER LONDRES SOCHI RIO DE JANEIRO PYEONGCHANG
EUA Japão Austrália1996 EUA 1998 Grécia 2000 Itália 2002 China 2004 Canadá2006 Reino Unido
2008 Rússia 2010 Brasil 2012 Coreia do Sul
2014 2
Verão Inverno Verão Inverno
Inverno Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno
FONTE
FONTE Council
Council on
on Foreign
Foreign Relations,
Relations, Korea
Korea Times,
Times, Le
ATLANTA
Le Monde,
Monde, Time,
Time, CNN
CNN
NAGANO SYDNEY SALT LAKE CITYVerão ATENAS TURIM PEQUIM VANCOUVER LONDRES SOCHI
AR/VISÃO
AR/VISÃO
RIO DE
EUA Japão Austrália EUA Grécia Itália China Canadá Reino Unido Rússia B
Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno Verão Inverno V
FONTE Council on Foreign Relations, Korea Times, Le Monde, Time, CNN
8 FEVEREIRO 2018 VISÃO 75
MODA
T
ROSA RUELA
“Escrever
é sempre ocultar
algo de modo
a que possa
ser descoberto”
Italo Calvino
Escritor
(1923-1985)
“ Pedras
no caminho?
Guardo todas ,
um dia
vou construir “
um
castelo...
Fernando Pessoa
disse isso!
O MUNDO DAS CITAÇÕES É UMA SELVA CHEIA
DE ARMADILHAS. MUITAS FRASES QUE NOS HABITUÁMOS
A VER ENTRE ASPAS ESTÃO ERRADAMENTE ATRIBUÍDAS
− E A INTERNET AMPLIFICOU UM FENÓMENO TÃO ANTIGO
COMO A ESCRITA... CUIDADO COM O QUE PESQUISA
PEDRO DIAS DE ALMEIDA
“
Nunca foi tão fácil chegar a citações de denunciá-las. Pessoa nunca escreveu
inspiradoras, lapidares, motivacionais “Existe no silêncio, uma tão profunda
e à medida de quem as procura. O pro- sabedoria que às vezes ele se transforma
blema é que também nunca foi tão fácil
cair em enganos e amplificá-los, par-
na mais perfeita resposta”; Pessoa nunca
escreveu “Conserva a vontade de viver. Não
concordo
tilhando pelo mundo frases atribuídas Não se chega a parte alguma sem ela”;
a autores que nunca as disseram ou as Pessoa nunca escreveu “O importan-
escreveram. A internet tornou-se uma te pra mim é saber que eu, em algum
poderosa máquina não “de emaranhar
paisagens”, citando um já clássico texto
momento, fui insubstituível e que esse
momento será inesquecível.” com o que
poético de Herberto Helder (que, por
sinal, é construído a partir de um con-
Mas, sejamos justos: a internet é
tão poderosa que podemos dizer que, dizes, mas
defenderei
junto de citações...), mas de emaranhar ao mesmo tempo que é a principal
frases e autorias. “A internet não criou responsável pela ampliação dos erros,
o problema, apenas multiplicou expo- também é a melhor ferramenta para
nencialmente a divulgação de citações
e estórias erradamente atribuídas”, diz
os descobrir, denunciar e divulgar.
O autor da tal frase sobre as “pedras até à morte “
à VISÃO Onésimo Teotónio Almeida, o
académico e escritor açoriano há muito
no caminho” − que, por misteriosos de-
sígnios, foi muitas vezes acrescentada a o teu direito
a dizê-lo
residente nos EUA, mas sempre atento um poema de Augusto Cury, resultando
às pequenas e grandes histórias da lite- num híbrido erradamente atribuído a
ratura portuguesa. Pessoa −, um brasileiro que assinava o
seu blogue (Por um Punhado de Pixels) Voltaire
POBRE PESSOA como Nemo Nox, escreveu em março
A principal vítima de apócrifos (fra- de 2006 um post sobre o assunto: “No
ses que não são dos autores a que são início de 2003, chateado com os obs-
atribuídas, citações falsas) na nossa táculos que encontrava e tentando ser
literatura parece ser Fernando Pessoa. um pouco otimista, escrevi aqui estas
Como se alguns heterónimos desconhe- três frases: 'Pedras no caminho? Eu
cidos tivessem sobrevivido à morte do guardo todas. Um dia vou construir
escritor, em 1935, e espalhassem, ainda um castelo.' Não pensei mais nisso até
por aí, a sua inspiração (ou falta dela). que recentemente comecei a receber
Uns versos, em particular, têm-lhe sido emails pedindo que eu confirmasse ser
atribuídos um pouco por toda a parte o autor do trechinho. Aparentemente,
(epígrafes, grafites e, claro, blogues e o trio de frases tomou vida própria e
redes sociais): “Pedras no caminho? espalhou-se pela internet lusófona com
Guardo todas. Um dia vou construir variações na pontuação e na atribui-
um castelo.” Quem está mais familia- ção da autoria. (...) Cheguei eu mesmo Uma crónica inteira,
rizado com o estilo do poeta e seus a duvidar da minha autoria. Poderia com o título Quase, circula
heterónimos torce o nariz. Mas, apa- ter cometido um plágio inconsciente, pela internet como se fosse
rentemente, há muita gente que não está recolhendo da memória alguma coisa de Luis Fernando Verissimo.
nada familiarizada com o assunto... As lida no passado e achando que se tra- Ele nunca a escreveu
atribuições erradas são tantas que existe tava de material original? Revirei os mas chegou a vê-la impressa
uma página no Facebook (Apócrifos de poemas pessoanos em busca de pedras em seu nome e traduzida
Fernando Pessoa) com o único objetivo e castelos mas não consegui encontrar para francês
mandos me convidou para ser seu patro- de libertação à Argélia, um estudante right to say it', was his attitude now”).
no e na última página do caro catálogo argelino, irritado, confrontou Albert Neste caso, a célebre frase apócrifa não
da formatura, como uma homenagem Camus com a sua suposta indiferença. trai o espírito autor, podemos dizê-lo.
a mim, lá estava, inteiro, o Quase. Não O escritor francês nascido em Orão, Ar- Mas muitas vezes, demasiadas, isso
tive coragem de desiludir a garotada. Na gélia, em 1913, terá respondido: “Neste acontece.
internet, tudo se torna verdade até prova momento lançam-se bombas sobre os “A citação tem triplo poder mágico:
em contrário e como na internet a prova elétricos de Argel. A minha mãe pode legitima, enobrece e desresponsabili-
em contrário é impossível, fazer o quê?” estar num desses elétricos. Se é isso za”, escreve Rui Zink à VISÃO a partir
E a cereja no topo deste amontoado de a justiça..., eu prefiro a minha mãe.” de Calcutá, onde participa num festival
mal-entendidos: “No Salão do Livro Para a posteridade ficou uma frase literário. “Sempre houve citações-boato
de Paris, na semana passada, ganhei da simplificada, e com sentido diferente, (assim começavam muitos linchamentos)
autora um volume de textos e versos que ainda lhe é atribuída muitas vezes: mas o corta-e-cola de agora tornou tudo
brasileiros muito bem traduzidos para “Entre a justiça e a minha mãe, prefiro mais fácil. Gostamos de alguém? Cola-
o francês, com uma surpresa: eu estava a minha mãe.” Ele nunca a disse. E tam- mos-lhe bela frase. 'Avante, camarada',
entre Clarice Lispector, Carlos Drum- bém Voltaire nunca proferiu uma das assinado: Prof. Cavaco Silva. Não gos-
mond de Andrade, Manuel Bandeira e citações que mais vezes lhe é atribuída tamos? Bota-lhe frase odiosa. 'Detesto
outros escolhidos, adivinha com que (muito recordada nos dias que correm): portugueses', assinado: Maria Vieira”,
texto. Em francês ficou Presque.” “Não concordo com o que dizes, mas acrescenta, em tom irónico.
defenderei até à morte o teu direito a
INJUSTIÇAS dizê-lo.” Até o pode ter pensado, mas CLARICE, A “MAIS MALTRATADA”
Como tudo começa? Na maior parte quem escreveu essa frase, precisamente Na praga de citações na internet, mui-
dos casos, é difícil de saber. Mas é certo para explicar a atitude do pensador e tas vezes em sites construídos só para
que muitos mal-entendidos são bem escritor francês, foi uma sua biógrafa, esse fim, acontece muitas vezes que
anteriores à internet e que podem ter Evelyn Beatrice Hall, no início do sé- uma qualquer frase, inspiradora ou
diversas motivações, mais ou menos culo XX (escreveu, no livro The Friends anedótica, que até já ouvimos em qual-
casuais, com má-fé ou inocência. Numa of Voltaire: “'I disapprove of what you quer lado e faz parte do imaginário
conferência na Suécia, durante a guerra say, but I will defend to the death your coletivo, é atribuída a imensas pessoas.
Um exemplo entre muitos: “Algumas
“
pessoas sentem a chuva. Outras ape-
nas ficam molhadas” é uma frase que
sentem a chuva.
Quem a disse primeiro? Nenhum deles.
Outras apenas,
“ O site norte-americano QI (Quote In-
vestigator, uma espécie de Sherlock
Holmes à procura das origens de to-
das as citações) pesquisou e concluiu
ficam molhadas
que quem a popularizou primeiro foi
o cantor country e ator Roger Miller
num programa de televisão, em 1972.
Em Portugal, o site Citador.pt é dos
Bob Marley / Bob Dylan mais populares. Foi lançado em 2003
por Paulo Neves da Silva, também autor
de vários livros com citações.“Na altura
não havia nada do género na internet.
Senti que era interessante partilhar”,
diz à VISÃO. “O tempo das pessoas é
limitado, não dá para ler tudo. Por outro
lado, há autores e livros pouco divul-
“ Não se preocupe
em entender, viver
ultrapassa qualquer
“
entendimento
Clarice Lispector
gados que, desta forma, podem chegar O catalão Enrique Vila-Matas é um o que escreveríamos se escrevêssemos”
a mais leitores, nem que seja de forma dos grandes cultores da arte da citação é atribuída a Nathalie Sarraute; em Paris
parcial. E a ideia é essa: dizer às pessoas na literatura atual. Usa-as, livremente, e nunca se Acaba, a mesmíssima cita-
que vale a pena lerem e refletirem sobre não garante nem o seu rigor nem a sua ção é de Marguerite Duras. Por email,
este autor, esta frase, este poema, este autenticidade. “Trabalho com as cita- Vila-Matas explica-se à VISÃO: “De
livro, mesmo quando eu próprio estou ções como se fossem uma sintaxe para Nathalie Sarraute não é, certamente.
em desacordo com o sentido da frase”, construir o que quero dizer. Na metade O que acontece é que a personagem Mac
acrescenta. Paulo sabe que nem todos das vezes, as citações são inventadas, ou se engana, como é um principiante na
os sites do género (e há mesmo mui- transformadas para dizer o que quero escrita faço com que se engane. Podia
tos...) são de confiança: “Há muitos que dizer; ou seja, metade delas são falsas”, ser de Marguerite Duras, mas a frase
são pouco confiáveis, sem validação. disse em entrevista ao jornal Folha de de Duras, do seu livro Escrever, é mais
Procura-se ganhar alguns trocos com São Paulo. Exemplo? No seu mais recen- complexa: 'Escrever é tentar saber o que
anúncios... Na maior parte dos casos, te romance, Mac e o seu Contratempo, escreveríamos se escrevêssemos − só o
as pessoas colocam citações sem se a bela frase “escrever é tentar saber sabemos depois − antes.' É uma frase
preocuparem com a autoria ou o rigor.” algo complicada por isso simplifiquei-a.”
E, bom conhecedor do meio, afiança: Liberdade acima de tudo.
“A autora que vejo mais maltratada nas Em Portugal, atualmente, Afonso
citações, com muitas delas inventadas, Cruz é um dos mais destemidos uti-
é a [brasileira] Clarice Lispector. Talvez lizadores das citações como elemento
porque apresenta, nas crónicas, uma literário. Não hesita em confessar que
escrita mais terra a terra, que alguns muitas das citações presentes na sua En-
confundem com uma escrita corrente, ciclopédia da Estória Universal, já com
vulgar, fácil de imitar.” vários “volumes”, pertencem ao mundo
da ficção, mesmo quando são acompa-
A ARTE LITERÁRIA DA CITAÇÃO nhadas de nomes bem conhecidos.
No outro extremo da negligência gros- A propósito deste mundo de erros
seira na atribuição de autorias encon- e enganos, Onésimo recorda-nos uma
tramos a arte da citação, ou a citação cena do filme Annie Hall, de Woody
como arte. Há escritores que potenciam Allen. Passa-se numa fila para comprar
mal-entendidos, misturando conscien- bilhetes de cinema. Atrás da personagem
temente realidade e ficção. Onésimo de Woody Allen alguém fala, em voz
Teotónio Almeida recorda um caso pas- muito alta e petulante: cita abundante-
sado com o escritor açoriano Daniel de
Sá. Dele, recorda Onésimo: “Tinha uma
O ESCRITOR CATALÃO mente as teorias do filósofo e teórico da
comunicação Marshall McLuhan. Irri-
rara capacidade de imitar a escrita de
escritores portugueses famosos.” Entre
ENRIQUE VILA-MATAS tado, Woody Allen afasta-se um pouco
e vai buscar o próprio McLuhan (então
amigos divulgou, a certa altura, dois be- USA LIVREMENTE com 66 anos) que desmente o presumido
los sonetos escritos ao estilo de Natália professor: “Não sabe nada sobre o meu
Correia (Auto-Retrato Alexandrino e Ao CITAÇÕES COMO trabalho, é absolutamente incrível como
Amor). Foi com surpresa que Daniel os
encontrou reproduzidos em vários sites,
PARTE DA SUA ARTE conseguiu tirar um curso para dar au-
las.” Woody Allen vira-se, então, para a
nesse mundo sem fronteiras chamado
internet, como se de originais de Natália
LITERÁRIA. MUITAS câmara e diz aos espectadores: “Ah, se a
vida fosse assim...” Não é. palmeida@visao.pt
Correia se tratasse... DELAS SÃO FALSAS *Com Luís Ricardo Duarte
Sonhos que
se vestem
O luso-canadiano Luís Sequeira pode ganhar
o Oscar de Melhor Guarda-Roupa pelo filme
A Forma da Água. À VISÃO, contou como
Portugal é fundamental para recuperar energias.
E revelou segredos de Hollywood
VÂ N I A M A I A
Q
uando era criança, xicano Guillermo del Toro soma 13 no- Normalmente, viaja duas vezes por
Luís Sequeira costu- meações. A 4 de março, saber-se-á se ano para Portugal, mas chega a passar
mava brincar aos pés o luso-canadiano irá levar a estatueta temporadas de dois ou três meses, de
da mãe enquanto ela para casa à primeira – e se o filme será cada vez, no País. Adora Lisboa e o Porto.
costurava. Divertia-se um dos grandes vencedores (ou um dos “No Canadá, há quem vá descansar para
com os tecidos, botões grandes derrotados) da 90ª cerimónia cottages no Norte do país; vão de carro e
ou dedais. Apesar de dos Oscars. demoram quatro horas. Eu, em vez de ir
trabalhar num hospital em Toronto, O designer optou por não ver o anún- de carro, vou de avião!”, brinca, antes de
no Canadá, a mãe continuava a fazer cio dos nomeados em direto. Só quando soltar uma gargalhada. Às vezes, no dia
roupa, relembrando os tempos em que o seu telefone começou a vibrar inces- seguinte a terminar um filme já está no
tinha meia dúzia de mulheres às suas santemente percebeu que era candidato. aeroporto: “Chego a Portugal e passados
ordens num atelier em Lisboa. Ainda Habitualmente, reunia-se com os ami- dois dias sou outra pessoa.”
hoje, Luís Sequeira guarda os catálogos gos e acompanhava a cerimónia pela
com os vestidos de noiva criados por televisão, mas este ano vai estrear-se na ALMA LUSITANA
ela, nos anos 50, na capital portuguesa. passadeira vermelha do Dolby Theatre, As visitas regulares ajudam-no a man-
Quando nasceu, na década seguinte, em Los Angeles. “Tudo isto foi um enor- ter a fluência no português. “Tenho
a família já estava bem integrada na me presente. Desde ser convidado para um sotaque que faz as pessoas sorrir.
comunidade portuguesa de Toronto. fazer o filme até à nomeação”, afirma. E gostava de ter mais vocabulário, mas
“A minha mãe era uma senhora muito “É maravilhoso estar entre candidatos consigo explicar-me mais ou menos...”
bonita, tinha uma grande paixão pela com trabalhos fantásticos, precisamente
moda e também pelo cinema”, recorda, por fazer aquilo de que gosto; quantas
aos 53 anos, ao telefone a partir dessa pessoas vivem a vida inteira sem fazerem
cidade canadiana onde nasceu e vive o que realmente gostam?”
atualmente. Apesar de a mãe ter sido Mas quem corre por gosto também
determinante no despertar do seu in-
teresse pela moda, a verdade é que ela
cansa. E é em Portugal que Luís Sequeira
recupera energias entre os filmes e as sé-
LUÍS SEQUEIRA JÁ
torcia para que o seu único filho fosse ries de televisão dos quais é responsável PERDEU A CONTA AO
contabilista. “Queria que eu escolhesse pelo guarda-roupa. O pai era originário
uma profissão que desse dinheiro, em do Estoril e a mãe de Lisboa, mas a sua NÚMERO DE PESSOAS
vez de ir para a área artística. Mas a
minha escolha deu resultado...” Quanto
geografia mais terna fica perto de Aveiro.
“Tenho muito boas memórias dos tem- QUE NOS ÚLTIMOS
a isso, não há dúvidas.
Luís Sequeira está nomeado para o
pos em que íamos a Portugal quando era
garoto. Os meus avós maternos viviam
TEMPOS LHE PEDIU
Oscar de Melhor Guarda-Roupa pelo
seu trabalho em A Forma da Água.
numa casinha em São João de Loure
[Albergaria-a-Velha]”, recorda. “Ainda
RECOMENDAÇÕES
A longa-metragem do realizador me- tenho essa casa e adoro ir lá.” SOBRE PORTUGAL
APENAS
Segundo romance
da atriz brasileira,
A Glória e seu
Cortejo de Horrores
(Companhia das
Letras, 224 págs.,
€15,99) explora
mais, e de forma bem
sucedida, a “porta
imensa” da segunda
carreira que se
abriu a esta “leitora
voraz” que, confessa
à VISÃO, “via a
literatura como algo
para além do meu
alcance”
FERNANDA
TORRES
“O equívoco é o pior fantasma de um artista”
C
onhecemo-la bem seus equívocos e sinto-me mais livre venta-nos. Não é o meio que garante
como a cómica Vani para exercer essa acidez com os ho- a seriedade de um projeto artístico,
da série Os Normais. mens. As mulheres estão passando por mas a qualidade da obra e essa rara
Fernanda Torres, um momento de afirmação de seus capacidade de tocar o público.
52 anos, filha de direitos, seria mais delicado apontar A “sinfonia de Morfeu”, a indife-
Fernanda Montenegro, as falhas e os maus caminhos numa rença sonolenta do público, é o pior
é atriz com A maior... mulher. fantasma para um criador?
que surpreendeu com um belo O romance espelha um dilema dos É a prova de que você fracassou em
romance de estreia, Fim (2013). Este atores: telenovelas versus projetos comunicar com a plateia, em chegar ao
segundo romance corresponde às sérios, aqui Shakespeare. Escolher outro. Ou não. Van Gogh só foi reco-
expectativas, uma história desenvolta um lado é a “morte do artista”? nhecido depois de morto, A Montanha
sobre um ator em decadência. A televisão não é o fim da ambição Mágica é um livro extraordinário mas
“Catástrofes vêm em cardume”, lê-se. do artista. Conheço muitos atores, eu pesado, pode agir como um poderoso
A vida é uma telenovela, é o que é. incluída, que encontram aí um vasto sonífero, embora isso não diminua a
Porque adotou, aqui, uma outra voz campo de experimentação e de reali- grandeza de Thomas Mann. Este Lear
masculina, a de Mario Cardoso, ator zação. A televisão é a única indústria é ridículo e insuportável para a sua
de meia-idade caído em desgraça? de entretenimento do Brasil, só ali há diminuta plateia. O equívoco é o pior
Desde Fim, a voz masculina sur- um mercado de trabalho sólido. Isso fantasma de um artista.
giu naturalmente. Os personagens é uma conquista. Mas a arte é uma A Glória... é uma visão desencanta-
masculinos afastam-me de mim, da profissão de risco. A acomodação que da sobre a vida de ator, e o mundo.
escrita confessional. Como sou atriz, leva Mario para o buraco é culpa dele, O que há, aqui, de autobiográfico?
e escrevo na primeira pessoa para jor- que confunde profissão com emprego, O próprio livro é o antídoto do de-
nais e revistas, a alteração de género torna-se cínico e vazio. Este Rei Lear sencanto. Fala de uma certa distância
ajuda-me a entrar na ficção, salva-me de shopping center é absurdo, mais que o público tem, hoje, da arte. Até
da identificação direta. Uma segunda equivocado do que a novela O Quinze ao século XX, a arte era instrumento
razão é o facto de eu ter uma tendên- que o levou ao estrelato. Eu sempre de transformação da sociedade, mas o
cia ácida, quase cruel, na maneira de procurei trabalhar em teatro, cinema terceiro milénio apresentou-se como
tratar os meus personagens. Gosto de e TV: um veículo salva do outro, rein- estatístico, tecnológico, e parte desse
Airbnb da comida
Depois de desenvolver aplicações para arranjar dormida
e meios de transporte mais baratos, a economia de partilha
virou-se para as refeições em casa de anfitriões locais
Q
LUÍSA OLIVEIRA
MEAL SHARING
virem aqui jantar é muito mais do que Esta plataforma compromete- estrangeiros. Por enquanto, a plataforma
isso, é estarem em casa de um português”, -se a ligar as pessoas através da só existe em Lisboa e no Porto, mas ele
nota José Esteves. Jessica avisa que, para comida e tem anfitriões em muitos planeia que cresça para o Algarve.
elas, este tipo de marcação, feita há duas países, Portugal incluído. Os anfitriões passam por uma en-
semanas, em New Jersey onde vivem, se trevista e uma formação em higiene e
trata de uma absoluta estreia. E só o fize- 4 segurança alimentar. Depois, prova-se a
ram porque um amigo lhes recomendou BON APPETOUR ementa para se ver, na realidade, se esta
esta espécie de Airbnb da comida. Apesar de estar bem estabelecida sabe tão bem como as fotografias, envia-
Se percebessem a língua em que canta na Europa, tem forte presença na das no ato da inscrição, fazem parecer.
Amália, entenderiam melhor o espírito Ásia e oferece 20% de desconto na João Paulo, 36 anos, e Marta, 42,
com que José Esteves as recebe. A ban- primeira experiência. percorreram este caminho. No aparta-
da sonora, ouvida na sala de jantar, não mento onde vivem, em Almada, servem
deixa margem para dúvidas: “Numa casa 5 uma ementa vegetariana, baseada nas
portuguesa fica bem pão e vinho sobre WITH LOCALS tradições portuguesas, como as bifanas
a mesa. E se à porta humildemente bate Tem presença em 26 países, nos (de seitan caseiro) ou a salada de orelha
alguém, senta-se à mesa com a gente.” vários continentes, mas Lisboa de porco (com algas a imitar a mesma
aparece como destino de topo. textura). Um grupo de cinco amigas
UM JANTAR 'BLIND DATE'
6 alemãs, na casa dos vinte, invade a sala
Não se pense que o nervosismo só está de jantar decorada ao estilo vintage. Das
FOOD FRIENDS
do lado de quem vai comer à casa de Há quem lhe chame o Tinder
colunas, sai o som indiscriminado da
desconhecidos. “No dia anterior, quando da comida. Esta aplicação não Rádio Amália, mas ninguém lhe presta
começo a preparar a refeição, sinto-me reserva jantares em casa, mas põe atenção. As amigas preferem ouvir os
como se fosse para um blind date”, em contacto desconhecidos para conselhos para passeios turísticos – ser
compara José. E nem a experiência que irem a um restaurante juntos. anfitrião também é gostar de revelar o
ele já ganhou atenua esse sentimento, melhor do seu País.
transformado em adrenalina. A refeição já está pré-preparada, mas
Foi há cerca de um ano que este a cadência entre os pratos tem pouco rit-
engenheiro do território profissionali- mo. As alemãs não se importam, porque
zou os jantares que sempre gostou de vão enchendo os copos de vinho por-
organizar em sua casa, com amigos... tuguês e soltando gargalhadas cada vez
e amigos de amigos. Inscreveu-se na mais sonoras. E no final, brindam o casal
plataforma, enviou uma descrição da com um sentido “delicious”. loliveira@visao.pt
U
Jesus lhes disse: “Só em sua própria terra, entre seus parentes e em
sua própria casa, é que um profeta não tem honra”. Marcos 6:3,4.
Santos
verdadeiras e verdadeiro arvoredo”, como diz o
velhinho Bernardo Soares no seu desassossego.
É próprio do nosso pendor desconfiado. O que nos
da Casa
é familiar vem-nos deformado pela proximidade, vem em forma de
espelho. Os que nos são próximos parecem-se demasiado com a nossa
própria reles e pálida existência, a sua natureza mundana irmana por
demais com a nossa própria, apanham constipações, aborrecem-se
a ver o preço certo em euros, bebem cerveja portuguesa pela garrafa
e vão ao cinema ao Arrábida Shopping ao domingo. O Sting foi visto
no Dolce Vita das Antas, na véspera de atuar no Marés Vivas, em Gaia,
e estava sozinho numa Pans & Company e eu, com estes próprios
olhos que a terra há de tragar como se fossem os de um comum
mortal, digamos por exemplo os olhos de um não-cantor famoso, vi
uma pessoa inteligente argumentar que não, nem pensar, não podia
ser o Sting porque o Sting não come sandes de delícias do mar num
centro comercial nas Antas. Muito recentemente uma pessoa que eu
conheço bem foi promovida a um alto cargo de administração de
uma grande empresa e o coro dos indignados cantou o seu estribilho
de incredulidade em uníssono de forma automática e imediata, em
forma de sussurro surdo e à boca pequena, porque como é que era
possível. E eu acho mesmo que não é inveja. É simplesmente isso: nós
não toleramos ver um de nós levantar a garimpa simplesmente porque
achamos impossível, como é que é possível se andou comigo na escola.
O diagnóstico é definitivo: desconfiamos demasiado de nós próprios
para achar sequer possível ou tolerável um dos nossos sair da casca.
Nós somos as pessoas normais, não somos de aparecer na televisão
nem em listas do jornal Expresso nem em nada disso. Acontece às vezes
comigo: encontro um amigo de há 20 anos e de repente digo que estou
na música, e que agora sou cantor e que até não me tenho dado mal e
o olhar de incredulidade não tem nunca qualquer vestígio de inveja, é
sempre o ar de um incrédulo “tu??? mas andavas na minha turma”. Ou
então o contrário, ainda hoje um condutor do Uber que me apanhou
achou impossível ser eu, o famoso astro, no carro dele. “O que é que
você está a fazer no Porto?” Quando digo que moro aqui e que sou
mesmo daqui, a surpresa é sempre total. É tudo natural. Eu também
sou assim. Há certos cargos que eu não admito que sejam ocupados por
pessoas de carne e osso, da minha criação, da minha escola, da minha
igualha. Há certos postos de alta responsabilidade que eu só confio a
Vi uma pessoa desconhecidos, a seres mitológicos criados desde sempre para aquela
inteligente digníssima, inacessível e inatingível função: pilotos de avião, condutores
argumentar que não, de veículos pesados e cirurgiões. Se algum amigo meu decide ir a
esgazear no seu carro comigo a bordo, peço imediatamente para sair
nem pensar, não podia e ameaço que vou de autocarro. Só porque não conheço o condutor do
ser o Sting porque autocarro. Se conhecesse, já não queria. Se vou ser operado a seja o que
for, nunca na vida ninguém me apanha no bloco, prostrado e inerte,
o Sting não come à mercê do bisturi de alguém das minhas relações. Até posso ter ido a
sandes de delícias uma consulta antes da operação, mas Deus me livre de saber que aquela
do mar num centro douta entidade de bata branca e plaquinha na porta do consultório vai
ao Arrábida Shopping, bebe cerveja pelo gargalo e tem qualquer espécie
comercial nas Antas de vida que se assemelhe à minha.
A andar também
se descansa
Algures em Portugal, longe das cidades, ainda há sítios onde
o tempo continua a correr ao ritmo da natureza: um roteiro
que começa no Gerês e termina na Costa Vicentina,
não sem antes passar pela serra da Lousã
É
M I G U E L J U D A S visaose7e@visao.pt
Costa
1 NO PARQUE NATURAL 3 Vicentina num ciclo que teve o seu fim na década de 70
Mas o que atrai cada vez mais pessoas é a beleza N120 A2 do século passado, quando uma discussão sobre
dos vários percursos pedestres que cruzam estas a partilha da água acabou em tragédia para os
serras, dando a conhecer não só a paisagem mas últimos habitantes da Cerdeira, numa história
DO SOAJO SOAJO 2 LOJA DO SENHOR
Parque de
FALCÃO
Campismo de Entre MIRANDA DO CORVO
Av. 25 de Abril, 1425,
Ambos-os-Rios
Soajo > T. 258 576 136
> Lugar de Igreja, Inaugurada em
Entre Ambos-os-Rios, 1878 por Lourenço
Ponte da Barca >
1 SABER AO
Falcão, hoje
T. 258 588 361/96 496 BORRALHO SOAJO é a sua bisneta,
9309/92 650 3332 >
€50 e €60 (glamping) Filomena Falcão,
Av. 25 de Abril, Costa a responsável pela
2 CERDEIRA Velha, Soajo > centenária taberna
VILLAGE LOUSÃ T. 93 320 4718 e mercearia, onde
/96 370 8986 há regularmente
noites de
Cerdeira, Lousã
2 O BURGO LOUSÃ fado, tertúlias,
> T. 239 994 621 lançamentos de
/92 540 1432 > casas
Ermida da Senhora da
livros ou sessões
a partir de €70 de leitura.
Piedade, Lousã
>T. 239 991 162
C. M. ODEMIRA
2 HOTEL PARQUE
SERRA DA LOUSÃ 2 TI LENA LOUSÃ R. José Falcão, 105,
MIRANDA DO CORVO Pereira, Miranda do
A ementa é fixa e Corvo > T. 91 416
há que escolher 3323
Outro troço obrigatório é o que tem início Parque Biológico mal se faz a
em Almograve, embora neste caso em direção a da Serra da Lousã, reserva, porque 2 PARQUE BIOLÓGICO
Miranda do Corvo a casa é pequena
sul. Pela estrada de terra batida paralela à praia > T. 239 095 054
DA LOUSÃ
e os pratos, MIRANDA DO CORVO
chega-se ao porto de pesca de Lapa das Pombas, > a partir de €64 cabrito no forno,
seguindo-se, a partir daí, pelo trilho na falésia. (quarto duplo)
bacalhau assado Este parque de vida
A dada altura, o percurso afasta-se da costa, em 3 CASAS ou chanfana, são selvagem dedica-
direção ao Medo Amarelo, um pinhal junto a uma confecionados -se em exclusivo
DO MOINHO ODECEIXE apenas por a espécies
duna móvel, que avança e recua consoante os
Distribuída por encomenda. autóctones
caprichos do vento. A chegada à aldeia do Cava- vários núcleos nacionais.
leiro, já bem perto do cabo Sardão, é finalmente junto ao moinho de
assinalada pelo majestoso voo das cegonhas, que vento de Odeceixe, Talasnal, Lousã
aqui nidificam nas falésias. A caminhada é longa, esta unidade de > T. 93 383 2624 Miranda do Corvo
mas vale bem esta recompensa. turismo de aldeia /91 193 2948 > T. 239 538 444
Porque os miúdos
– e os pais! – merecem
Dias em que se dorme numa casa da árvore, num hotel com um “skate
park” ou numa iurte como as da Mongólia. Pelo meio, as crianças ainda
montam a cavalo, visitam castelos e brincam ao faz-de-conta
F L O R B E L A A L V E S * falves@visao.pt
E
m Trás-os-Montes, o frio pode ser que liga Pedras Salgadas a Vila Pouca de Aguiar.
gélido, mas nada que atrapalhe uns Já no Minho, em Viana do Castelo, visite-se o
bons dias de descanso e de diversão, interior do navio Gil Eannes e o que resta deste
porque os miúdos merecem (e nós antigo hospital que apoiava a frota portuguesa
também!). Escutam-se os pássaros do bacalhau nos mares da Gronelândia e da
logo que se atravessa o portão do Terra Nova. Para as famílias que gostam de
Pedras Salgadas Spa & Nature férias ativas, o Feel Viana tem um sports center
Park, na antiga vila termal, onde nos que aluga equipamentos para a prática de stand
esperam 20 hectares de flora – ou up paddle, surf, bodyboard, vela, running,
oito quilómetros de caminhadas trekking e ciclismo. O hotel, com 46 quartos no
– e de arborismo para quem não tenha vertigens edifício principal e nove bungalows de madeira
nem medo de atravessar pontes suspensas. As 16 construídos sobre estacas, no pinhal da Praia do
eco-houses – 14 em terra e duas tree houses – Cabedelo, inclui um parque de skate. Enquanto
descobrem-se entre árvores centenárias. O spa os miúdos estão entretidos, os pais podem
termal, com piscina interior, deixa a luz natural relaxar no spa, estúdio de ioga, ginásio ou piscina
entrar no edifício do século XIX, renovado pelo interior.
arquiteto Siza Vieira. Lá fora, há minigolfe, Sigamos pela A25 rumo à Covilhã, ansiosos
parque infantil e bicicletas disponíveis para quem por ver a serra da Estrela com neve. Se não
queira esquecer o frio e percorrer a ciclovia podermos escorregar no manto branco, a
cachena braseado
POUSADA DA SERRA com ensopado de CENTRO CIÊNCIA VIVA
DA ESTRELA COVILHÃ feijão terrestre DE LAGOS LAGOS
A PA RT e mandioca com
IR DE molho chimichurri
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€ 1 39 Saúde, Covilhã
são alguns pratos
da chefe Mariana
R. Dr. Faria e Silva,
34, Lagos > T. 282
bung
alow > T. 21 040 7660 770 000 > ter-dom
> a partir de €120 Parra. 10h-18h > €1,50 a €3
Vale da Aguieira
> T. 231 927 060 12h-15h, 19h30-22h,
dom 12h-15h > menu Fonte Santa,
> a partir de €141/
Hotel Feel Viana, na Praia do Cabedelo pessoa executivo €12 Manteigas > T. 275
981 113 > ter-sex
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molho da Covilhã. Abelheira, Lourinhã
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10h-17h > €9,50
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> T. 244 447 000 > a FIALHO ÉVORA MONTEMOR-O-NOVO
Hotel Vila Galé, em Lagos partir de €159/noite
Restaurante de
D.R.
E
is o programa da viagem que vos pro- das Furnas, que tem um miradouro fabuloso, o
pomos: percorrer o Alentejo e visitar cabo Sardão, que está num dos mais belos trechos
alguns restaurantes representativos da costa portuguesa, a albufeira de Santa Clara e
da gastronomia regional com os seus aldeias típicas vizinhas.
produtos, os seus cheiros e os seus sa- Atravessamos o Baixo Alentejo para ir dar ao
Solar do Forcado
bores. Mas nem só a cozinha nos atrai. Portalegre restaurante 3 Molhó Bico, em Serpa. Respira-se
O viajante encontrará também no seu N119 7 Alentejo: fachada branca, arcos e abóbadas, quadros
8
percurso o cante alentejano e outros Páteo Real de artistas plásticos locais, talhas de barro, arte-
motivos de interesse que reforçarão os Alter do Chão sanato regional. Saboreiam-se iguarias regionais,
desejos de conhecer melhor e de voltar Gadanha Mercearia 6 como queijo de Serpa, paio alentejano, torresmos
Estremoz A6
sempre ao Alentejo. Evitámos os grandes centros, do rissol, espargos com ovos e fígado de porco de
Adega Velha
como Évora, lugar de culto da gastronomia, é certo, A6
Mourão coentrada, nas entradas; migas com carne de porco
mas já bem conhecido e regularmente visitado. País das Uvas 5 preto frita, açordas de bacalhau e de pescada, caldo
Indo pelo litoral, impõe-se uma paragem no res- Vila de Frades 4 de cação, ensopado de borrego, cozido de grão e
taurante 1 Arte&Sal, em São Torpes. Está assente Arte&Sal N206 caça, nos pratos principais. Doçaria conventual e
São Torpes
no areal com um letreiro sugestivo que acrescen- 1 3 tradicional. Vinhos do Alentejo.
Molhó Bico
ta ao nome a sua vocação: “Casa de peixe”. Uma 2 Serpa Em redor, outros lugares inspiradores, como as
oportunidade para saborear robalo do mar, sargo, Tasca do Celso duas rouparias (queijarias) do centro da cidade, onde
Vila Nova
salmonete, garoupa e outros peixes da costa muito de Milfontes também se pode visitar oficinas de artesãos, vê-los
frescos e bem grelhados, ou a açorda de ovas e de N120 A2 trabalhar e comprar as suas obras; as várias adegas
camarão e o esparguete com mariscos. Sines tem de Pias; o Museu do Relógio; e o quadro natural
praias admiráveis, umas com grandes areais, outras único do Pulo do Lobo, no Guadiana. Novo percur-
pequenas, enquadradas por rochedos, como as de so, agora em sentido ascendente, para a adega-res-
Porto Covo, que importa visitar. Também há muito taurante 4 País das Uvas, em Vila de Frades. A sala
para admirar em terra, como o Badoca Safari Park, principal é muito pitoresca com enorme pé-direito
no caminho para Santiago do Cacém. Prosseguindo, e sete grandes talhas de barro, nas quais ainda se faz
no rumo ao sul, vamos dar à 2 Tasca do Celso, em vinho. Cozinha alentejana com ementa diversificada:
Vila Nova de Milfontes. Está numa casa branca com nas entradas, enchidos da terra, torresmos de rissol
barra azul, cozinha regional, culinária sólida e carta e silarcas com ovos; nos pratos principais, cozido de
extensa. Excelentes amêijoas à Bulhão Pato, lulinhas grão, que é o ex-líbris, feijão com cardos, migas de
fritas, espargos com ovos e pica-pau de porco preto, espargos com carne de alguidar e açordas de tomate
nas entradas; e açorda de gambas, cherne com e de perdiz. Boa doçaria tradicional. Só vinhos da
massinha ou grelhado (divinal, a cabeça), cataplana Vidigueira.
de peixe, bife “à la Planch” e naco de vitela grelhado, O cante alentejano solta-se, por vezes, nas
nos pratos principais. Doçaria tradicional. Boa gar- vozes de clientes locais ou de grupos, como os de
rafeira. É obrigatório um passeio a pé pelo centro Vila de Frades e os da Vidigueira. Outra tradição
histórico para ver o Forte de São Clemente, ex-líbris rural e antiga é o vinho de talha, cuja história tem
FILIPE POMBO
da vila (só por fora, dado ser propriedade privada), especial relevância na Vidigueira, podendo ser
e a Igreja de Nossa Senhora da Graça, entre outros conhecida numa visita às ruínas romanas de São
monumentos, tal como visitar as praias, como a Cucufate, seguida de outra à Adega Tradicional de
Tasca do Celso
FILIPE POMBO
aberta ao público. temático, fazem-se
Adega Velha País das Uvas R. dos Aviadores, 32, safaris, veem-se
Vila Nova de Milfontes aves de rapina e
D.R.
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Lg. António José visita-se a ilha dos
817 5726 > ter- dom
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Vila Nova de Sto.
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e está disponível no
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pequena piscina VILA DE FRADES espólio com mais
no terraço. de 2300 peças
expostas em dez
Arte&Sal R. General Humberto salas, uma oficina
Delgado, 19, Vila de de restauro e uma
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Frades > T. 284 441 biblioteca com
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Molhó Bico
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Convento do Mosteiri-
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alguns têm lareira 12h30-15h, 19h30-
e vista para a serra -21h, dom 12h30-15h
> €15 (preço médio) RUÍNAS ROMANAS
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Estremoz > T. 268 333
CASA DA PALMEIRA SERPA 262/96 992 9540 e 96 MUSEU DA LUZ MOURÃO
517 1521 > ter-dom
É um solar com 300 12h30-15h, 19h30-
Inaugurado em
metros quadrados, -22h30 > €30 (preço 2003, o museu dá
quatro quartos, médio) a conhecer, através
cinco salas e terra- de vários suportes,
ço panorâmico. SOLAR DO FORCADO vídeo, fotografia,
A ocupação máxima PORTALEGRE objetos e documen-
é de nove pessoas. tos, as mudanças
ocorridas na região.
R. Cândido Reis, 14, O edifício possui
Portalegre > T. 245 uma janela através
Centro da cidade,
330 866/93 812 7033 da qual é possível
Serpa > €120/noite
> seg-sex 12h-15h,
19h-22h, sáb 12h-15h
ver a localização da
> €20 (preço médio) antiga aldeia da Luz.
PÁTEO REAL
ARTE&SAL S. TORPES ALTER DO CHÃO Lg. da Igreja de Nossa
Senhora da Luz, Luz,
Mourão > T. 266 569
Praia de Morgavel, Av. Dr. João Pestana, 257 > ter-dom 9h30-
D.R.
S. Torpes > T. 269 869 37, Alter do Chão 13h, 14h30-17h30 > €2
De mão dada
Um piquenique entre vinhas, ver o pôr do Sol na planície
alentejana, ou olhar as estrelas lá no alto da colina,
são algumas sugestões para passar uns dias a dois
– sem pressas e isolados de tudo e de todos
S U S A N A L O P E S F A U S T I N O slopes@visao.pt
C
om o IP2 renovado, o trajeto até entre a Massagem Malhadinha de Casal (de
Albernoa, onde fica a Herdade origem sueca, composta por várias técnicas)
da Malhadinha Nova, faz-se ou o piquenique romântico entre as vinhas que
com relativa facilidade. A cidade rodeiam o edifício, com sete quartos duplos
mais próxima, Beja, fica a uns e três suítes. Há ainda que fazer uma refeição
escassos 22 quilómetros, por no restaurante de cozinha de autor, que tem
isso sugere-se um passeio pelo o chefe Joaquin Koerper como consultor.
centro histórico, nem que seja só Mais a sul, ainda no Alentejo, fica o Campo
para subir à torre de menagem Branco, região de cultivo de cereais de sequeiro
do castelo. A 40 metros de e habitat de várias espécies de aves, virada para
altura, a vista sobre a planície do Baixo Alentejo uma planície a perder de vista, e onde o pôr
é ampla e vale por si só, ainda que não chegue do Sol é imperdível, está a Casa dos Castelejos.
para ver a entrada da Herdade da Malhadinha Não é fácil lá chegar, mas vale a pena o sossego
Nova, onde o serviço é de luxo, mas tem a e a paz proporcionados por este recanto do
calma e a simplicidade alentejanas. A chegada pequeno Monte do Guerreiro, na zona de Castro
faz-se por uma alameda ladeada de vinhas e Verde, onde se pode passear à descoberta desta
aproveitar o melhor da propriedade é visitar a aldeia perdida no tempo. As três casas têm
adega, conhecer a coudelaria ou aproveitar o nove quartos e várias zonas de estar interiores
spa. Sem imposições, é o hóspede que decide que convidam a serões à lareira. Durante o dia,
EN 514, Monsaraz
> T. 266 247 140
VOVÓ JOAQUINA BEJA Courela da Coutada,
Monsaraz > T. 96 036
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Manuel Lino, uma > €12, €8 (10-17
PARAÍSO ESCONDIDO nova carta com pra- anos), €30 (bilhete
SÃO TEOTÓNIO tos como rabanada família)
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gema e saladinha MUSEU REGIONAL DE
Casa Nova da Cruz, de coentros. BEJA – MUSEU RAINHA
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D. LEONOR BEJA
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> a partir de €135
R. do Sembrano, 57,
Lg. da Conceição, Beja
COMPANHIA DAS Beja > T. 96 130 2815
> T. 284 323 351
CULTURAS CASTRO MARIM > ter-qui 12h30-
-14h30, 19h-22h,
> ter-dom 9h30-
-12h30, 14h-17h15
sex-sáb até 22h30
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Fazenda Núcleo Visigótico)
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Monte Grande, Castro S. TEOTÓNIO MIRADOURO
Marim > T. 281 957
062/ 96 036 2927 O arroz de DO CASTRO
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especialidade, mas PONTE DE LIMA
COLMEAL COUNTRYSIDE há sempre peixe
A 143 metros de
D.R.
J O A N A L O U R E I R O jloureiro@visao.pt
D.R.
As latas de tomate de conserva, em chili, alho e salsa, servidas com maionese de alho
cima da mesa, causam estranheza. Pelo (€7,75). Mas guarde-se apetite para as massas
O Jamie’s Ita- peso, percebe-se que estão cheias e, um frescas, feitas todos os dias com as farinhas 00
lian de Lisboa olhar mais atento, revela estarem e de trigo, ovos free range (de galinhas criadas
é o número 64 dentro da validade. Antes que se faça ao ar livre) e muito amor, conforme pode ler-
da cadeia de um disparate, aguarde-se pela justifica- -se num quadro perto da mesa. À escolha há
restaurantes ção. Esse momento acontece quando as tábuas de spaguetti nero com lulas fritas, mexilhões, polvo,
de Jamie Oli- carnes frias e a vegetariana (€7,50 por pessoa) são alcaparras, chili, anchovas, tomates e vinho branco
ver, proprie- servidas no novíssimo e (muito) aguardado (€13,95), e tagliatelle com molho ragú de carne de
tário também restaurante Jamie’s Italian, do conhecido chefe vitela, preparado em cozedura, com vinho tinto e
do Barbecoa, britânico Jamie Oliver, aberto há duas semanas no coberto com pão ralado e parmesão (€11,95). Das
em Londres. Príncipe Real, em Lisboa. São uma espécie de base oito pizzas da ementa, o destaque vai para a truffle
O chefe britâ- para elevar, ao olfato mas também aos olhos, as shuffle com molho branco, queijo Cantal, cebolas
nico é ainda tábuas compostas por salami de funcho, mortade- aromatizadas em balsâmico, ovo e trufa negra
responsável la com pistácio, vegetais grelhados e marinados (€15,95), e nas carnes, as costeletas de borrego
pela Jamie em alho e azeite de ervas aromáticas, queijo grelhadas (€17,95) – e que o chefe britânico
Oliver Food Pecorino, entre outros ingredientes. apregoa como sendo responsáveis pelos dedos
Foundation É com estas iguarias que se pode começar queimados de alguns clientes, que não esperam
e o Food a refeição neste restaurante, especializado na que estas arrefeçam para as comer à mão. Para
Revolution
cozinha italiana, com 500 metros quadrados, terminar, sugere-se um brownie com molho
Day que têm
distribuídos por três pisos e dois terraços. Ainda de chocolate, com gelado de caramelo salgado
por objetivo
melhorar a
nas entradas, há que provar o pão brioche, com e pipocas caramelizadas. Muita coisa com a mão
qualidade de manteiga de ervas caseira, alho tostado, alecrim de Jamie Oliver para ser saboreada, portanto,
vida das pes- e parmesão (€4,75) e as lulas fritas crocantes com só o próprio é que nem vê-lo. Sandra Pinto
soas através
de uma boa u
alimentação. Pç do Príncipe Real, 28A, Lisboa > T. 92 530 1411 > dom-qui 12h-16h, 19h-23h, sex-sáb até às 24h
POR
MANUEL
G O N ÇA LV E S
D A S I LVA
comer&beber@visao.pt
LUCÍLIA MONTEIRO
Oficina Porto
A arte da gastronomia
O nome completo do restaurante é Oficina Arte.Gastronomia e diz o essencial sobre o sonho
de um galerista e de um chefe de cozinha que se concretizou neste projeto
Cozinha baseada Faltava, naquela zona da cidade do e meio, embora com diferenças na combinação de
na tradição Porto, o Quarteirão das Artes da ingredientes e/ou na apresentação. Nas entradas
portuguesa, Avenida Miguel Bombarda, um destacam-se as favas, agora com outra apresen-
com os seus restaurante como este, contemporâneo tação: um estufado com chouriço, ovo escalfado,
produtos, e capaz de representar condignamente tomate assado e queijo; as vieiras frescas, também
receitas a nona arte – a gastronomia. O galerista sempre presentes, aqui numa confeção simples na
e até modos Fernando Santos tinha o espaço adequado numa chapa com ervilhas de quebrar, presunto cro-
de confeção, antiga oficina de restauro de automóveis, e o chefe cante e pó de azeite; e o fresco e guloso canelone
mas atualizada de cozinha Marco Gomes procurava um lugar de algas com recheio de sapateira, camarão e
com a
onde pudesse dar outra expressão à sua cozinha berbigão. Nos pratos principais – seis de peixe,
criatividade,
profundamente enraizada na tradição portuguesa, um vegetariano e seis de carne, a que acrescem
a experiência
e a técnica do
mas com rasgos de modernidade, para levar mais cinco medalhões de lombo de boi maturado – há
chefe Marco longe a experiência do Foz Velha. Juntaram opções que se impõem, como o polvo no forno
Gomes vontades e transformaram a oficina velha num com batata-doce, pimentos assados e crocante de
restaurante moderno. O arquiteto Rodrigo mandioca; o lombo de atum fresco laminado com
Patrício e o designer Paulo Lobo ajudaram a criar puré de ervilha e gravilha de legumes; o lombo de
um local moderno e belíssimo que preserva traços bacalhau tradicional com broa, coentros e grão-
e até materiais de origem. Ficou espantoso. -de-bico, que é um clássico; o cordeiro de leite
Motivo de admiração é também a cozinha, com arroz de carqueja e couve ao vapor; o mil-fo-
baseada na tradição portuguesa, com os seus pro- lhas de perdiz vermelha com legumes e molho da
dutos, sabores, receitas e até modos de confeção, mesma, num estufado à moda antiga com a massa
mas atualizada com a criatividade, a experiência folhada artisticamente intercalada, e o lombinho
e a técnica do chefe Marco Gomes. A ementa, de porco bísaro com castanhas, cogumelos, chalo-
que muda de quatro em quatro meses, realça, tas e ervas do campo. Para sobremesa, as rabana-
agora, produtos da época, como as castanhas, os das de sempre, numa versão mais sofisticada com
cogumelos ou as carnes de porco bísaro. É fácil gelado de caramelo salgado e redução de vinho do
reconhecer pratos que vêm do Foz Velha ou das Porto. Excelente garrafeira com um bom leque de
cartas anteriores do Oficina, que abriu há um ano vinhos a copo. Serviço eficiente e simpático.
R. Miguel Bombarda, 273-282, Porto > T. 22 016 5807 / 93 671 2384 > ter-sáb 12h30-15h, 19h30h-23h, seg 19h30-23h
> €40 (preço médio)
Namorar o vinho
poético, está o Tico Tico macios, acidez
e Novo Rio, à esquina das correta, final longo
avenidas do Rio de Janeiro e muito agradável.
e da Igreja, no Bairro de €14,99
Patacos de
Gulden Draak Bierhuis Porto Monchique
A casa das belgas O que resta do Mosteiro de
Monchique fica no bairro de
Miragaia, junto ao rio Douro.
A parte da igreja está agora
Vai abrir o primeiro bar de cerveja Gulden Draak, em obras, para ser convertida
em hotel, segundo parece.
com 12 referências de pressão artesanal e 65 em garrafa Este convento ficou célebre
porque Camilo Castelo
Três anos depois de abrirem o bar Pausa, no Branco localizou nele aquele
Porto, os irmãos Abílio Vinha e José Monteiro lance dramático de Amor
juntaram-se a Rafael Lopes e Rita Castro e, de Perdição em que Teresa
sem olhar para trás, viraram-se para a cerveja. de Albuquerque se despede
O número 82, da Rua José Falcão, reabre este de Simão e ainda o vê a
sábado, 10, como Gulden Draak Bierhuis. embarcar no veleiro que o
“Aceitámos o desafio da Gulden Draak para abrir a sua levará para o exílio. O que
primeira casa em Portugal e a segunda no mundo”, realça
Abílio Vinha. Depois de Praga, na República Checa, a marca
belga de cervejas instala-se na cidade do Porto. Para isso,
e como nos últimos meses quase todos os dias ficavam
clientes à porta, mudaram-se as mesas e os sofás para
acomodar 60 pessoas.
Entre loiras, ruivas, morenas e pretas, há 12 referências
de cerveja de pressão artesanal (€2,50 a €6,50) e 65 em
garrafa (€4,50 a €7,50). Embora a maioria seja de origem
belga, claro, ali também se encontram produções alemãs,
inglesas, americanas e portuguesas, como a Gyroscope, pouca gente saberá é que,
da marca OPO74, ou a Wonderlust, da Colossus. Serve-se no Mosteiro de Monchique,
ainda vinho a copo (€3) e alguns licores e whiskies (€5 a também funcionou uma Casa
€9). Para partilhar há pão de alho, pratos de queijo com da Moeda. Aconteceu na
mostarda artesanal belga Tierenteyn Verlent (€3,95). segunda metade do século
Por cima do balcão brilham cerca de 300 copos, XIX, já depois da extinção das
de 15 modelos diferentes e adequados a cada estilo de ordens religiosas, durante
cerveja. As paredes estão mais despidas, mas nem por isso a guerra da Patuleia. Uma
se vai deixar de conversar ao ritmo do jazz, do blues ou do comissão nomeada pela
rock. Sempre numa onda tranquila. Susana Silva Oliveira Junta Provisória do Governo
foi incumbida de formar a tal
Casa da Moeda de Monchique
para nela “serem cunhadas,
Nas mesas do
diariamente, 240 moedas
Gulden Draak
em patacos e moedas de
Bierhuis está
dez réis…” Precisando de
disponível um
matéria-prima para o fabrico
jornal mensal
das moedas, a Comissão
com notícias
Instaladora da Casa da
do mundo
Moeda de Monchique pediu
cervejeiro e
às autoridades que lhes
ainda infor-
entregassem “dois morteiros
mações sobre
do ano de 1733 que por não
cada uma
serem bombas próprias
das cerve-
do seu calibre se acham
jas (estilo,
inutilizadas no trem [quartel
aroma, sabor)
– arrecadação] do Ouro…”
que ajudam a
Os patacos que foram feitos
escolher.
em Monchique tinham
gravada a punção a letra “P”
que queria dizer Porto.
D.R.
LUCÍLIA MONTEIRO
A Zoo in my Wall Porto
Arca de Noé
Das mãos de Márcia Barbosa saem animais para decorar a parede lá de casa, feitos em papel
maché e pintados com tinta acrílica
A designer Surgiu por acaso o coelho Nico, A constatação de que o seu trabalho poderia
gráfica gosta o primeiro animal feito por Márcia fazer parte de um negócio maior só surgiu, no
que se sinta Barbosa, há dois anos e meio, com a entanto, quando a Zoo in my Wall saltou frontei-
a textura e a intenção de “decorar uma parede ras. “Um turista americano passou na livraria e
irregularidade vazia” da sua livraria infantil Index, comprou os animais que havia para uma loja de
das suas peças. no Centro Comercial de Bombarda, decoração em Los Angeles”, conta Márcia.
“Nunca foi no Porto. No entanto, com o passar do tempo, A americana Harbinger, fundada pela designer de
minha intenção foram aparecendo outros, todos eles, com nome interiores Sally Bennett, passou assim a ser uma
fazer animais próprio: o leão Sebastião, o gato Félix, o tapir das suas clientes, tal como a loja inglesa Liberty, a
ultrarrealistas”,
Nestor, o lobo Óscar, a girafa Cecília, a raposa The Conran Shop, em Londres e em Paris, a The
diz
Franklin. O sapo Romeu foi o último a chegar, Store, em Londres e Berlim, ou a Galleria Mia,
que, tal como todos os outros bichos (a partir de em Roma. Por cá, e além da Index – onde o leão
€30) que fazem parte desta espécie de arca de Sebastião, o gato Félix, o sapo Romeu ou a girafa
Noé, é feito à mão com papel maché e pintado Cecília passaram a tomar conta da livraria e atelier
com tinta acrílica, ali mesmo, na Index. –, os animais d'A Zoo in My Wall estão à venda no
Um animal levou a outro, os pedidos foram Armazém 66 (Viana do Castelo), O Risco (Aveiro),
aumentando e Márcia Barbosa decidiu dar nome ao A Venda (Caldas da Rainha) e Kare (Lisboa).
projeto. A Zoo in my Wall é inspirado no livro Os Lo- Tal como no livro que a inspirou, também
bos nas Paredes, de Neil Gaiman, sobre uma menina Márcia imagina os seus animais “a morarem atrás
que se convence de que há lobos dentro das paredes das paredes da loja e a virem, de vez em quando, ter
da sua casa. A designer gráfica gosta que se sinta a com as pessoas”. E são clientes de todas as idades.
textura e a irregularidade das suas peças. “Nunca foi É que tanto se vendem para decorar a sala ou o es-
minha intenção fazer animais ultrarrealistas”, diz. critório, como o quarto das crianças. Florbela Alves
Index > Centro Comercial de Bombarda > R. Miguel Bombarda, 285, loja 2, Porto > T. 93 903 3344 > seg-sáb 12h-20h
GNRation > Pç. Conde de
Agrolongo, 123, Braga
DANIEL DELANG
> T. 253 142 200 > 9 fev,
sex 22h > €7 > Salão
Brazil > Lg. do Poço, 3, 1º
Andar, Coimbra
> T. 239 837 078 > 10 fev,
sáb 22h > €10 > Musicbox
Já começa a ser uma tradição, a cada início do ano, a iniciativa > R. Nova do Carvalho, 24,
Lisboa > T. 21 347 3188
Em paralelo Portas Abertas de entrada gratuita, na qual, ao longo de um dia > 12 fev, seg 22h > €10
com os inteiro, o público é convidado a vivenciar uma atmosfera
concertos, a musical em ambiente festivo e informal. No programa destaca-
programação
dos Portas
-se uma vez mais o ciclo Rising Stars, uma ação desenvolvida
pela ECHO – European Concert Hall Organisation, rede
Samuel Úria Sintra
Abertas
inclui ainda
europeia, composta por algumas das mais prestigiadas salas de concertos,
da qual faz parte a Fundação Gulbenkian, que anualmente seleciona um
e Castelo Branco
a exibição do
conjunto de “jovens músicos de excecional talento” para receberem O “trovador das
documentário
Op.ção e
formação na gestão dos respetivos percursos artísticos e atuarem nos patilhas” continua a
conta com diversos palcos pertencentes a esta organização. Assim, ao longo de todo apresentar o disco
diversas o dia, o público pode assistir às atuações de seis jovens músicos, que neste Carga de Ombro (de
atividades domingo terão por sua conta o Grande Auditório da Gulbenkian. 2016) desta vez com
musicais para O primeiro a subir ao palco, logo pelas 11 horas, é o trompetista húngaro um concerto de cele-
toda a família, Tamás Pálfalvi, de 25 anos, que surgirá acompanhado do compatriota bração. Não só por re-
como o Eu Marcell Szabó ao piano para interpretar obras de autores tão diversos como gressar ao local (C.C.
Compositor Albinoni, Bartók, Debussy ou Gershwin. Às 13 horas, é a vez do violinista Olga Cadaval) onde se
ou o austríaco Emmanuel Tjeknavorian mostrar porque é, aos 22 anos, um dos estreou ao vivo, mas
conSertar mais premiados e aclamados músicos da sua geração, enquanto às 15 horas também por partilhar
o palco com dois
conCertando. a cantora holandesa Nora Fischer, neste caso na companhia de Mike
convidados: Camané e
Fentross no alaúde e de Daniël Kool ao piano, interpreta um alinhamento
Tiago Bettencourt. Em
que percorre vários séculos de música. As cordas estarão representadas Castelo Branco, vai
pelo quarteto francês Quatuor Van Kuijk, liderado pelo violinista francês apresentar-se a solo.
Nicolas Van Kuijk, de apenas 31 anos, com atuação marcada para as
17 horas, e pela violista sueca Ellen Nisbeth, que chega duas horas mais
tarde. O programa fica concluído, pelas 21h, com a atuação do percussio- Centro Cultural Olga
nista luxemburguês Christoph Sietzen, que aos 25 anos é considerado Cadaval > Pç. Dr.
um dos melhores executantes de marimba da atualidade. Miguel Judas Francisco Sá Carneiro,
9353B, Sintra > T. 21 910
7110 > 9 fev, sex 22h > €15
> Cine-Teatro Avenida
> Av. Gen. Humberto
Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45 A, Lisboa > T. 21 782 3000 > 11 fev, Delgado, Castelo Branco
dom 10h30 > livre > T. 272 349 560 > 10 fev,
sáb 21h30 > €10
Lagoa, Viana do Castelo, Évora, Beja > 10 fev, sáb 22h > Lisboa, Porto, Vila do Conde, Castelo Branco, B.Leza > Cais da Ribeira Nova,
Setúbal, Aveiro, Faro, Leiria > 14 fev, qua 22h > €12 a €35 Armazém B, Lisboa > T. 21 010
6837 > 8 fev, qui 22h30 > €10
Cabarética Lisboa
Um ciclo de home-
nagem ao teatro de
vaudeville pela Nova
Companhia, Cabaré-
tica está em cena no
Teatro do Bairro, em
Lisboa, e é composto
por três espetáculos:
a reposição de Kiki
(desta vez com Carla
Bolito), a estreia de
Bas Fond e a perfor-
mance de burlesco
Lady M, de Marlyn
Ortiz (que já dançou
em concertos de Ma-
FREDERIC IOVINO
Teatro do Bairro > Rua
Luz Soriano, 63, Lisboa
São Luiz Teatro Municipal > R. António Maria Cardoso, 38, Lisboa > T. 21 325 7640 > 9-10 fev, sex-sáb 21h > T. 21 347 3358 > até 25
> €5 a €10,50 fev, qua-dom 21h30
> €10 a €12,50
Libertação Coimbra
A última criação da Hotel Europa
reflete sobre a Guerra do Ultramar,
considerada pela companhia “o
episódio mais traumático da História
recente de Portugal”, seguindo o
ponto de vista da luta pela liberdade
em Angola, Guiné e Moçambique e
o consequente impacto na ditadura.
Além das pesquisas sobre os conflitos
e do recurso a entrevistas a antigos
combatentes, o espetáculo de teatro
documental socorre-se dos discursos
políticos de protagonistas de ambos
os lados das trincheiras, como António
Oliveira Salazar, Amílcar Cabral, Jonas
Savimbi e Samora Machel. Este é o
terceiro capítulo (após Portugal não
é um País Pequeno e Passa-Porte) do
ciclo que a Hotel Europa, formado pelo
duo André Amálio (Portugal) e Tereza
Havlíčková (República Checa), dedicou
ao fim do colonialismo português,
tentando rebater narrativas formatadas
e ideias feitas. Em palco, a perspetiva
autobiográfica de André Amálio junta-
-se à da atriz moçambicana Lucília
Raimundo e à do dj angolano Nelson
Makossa. J.L.
Teatro Académico Gil Vicente
> Pç. da República, Coimbra > T. 239 855 636
> 8 fev, qui 21h30 > €7
VER
Museu Calouste
D.R.
Gulbenkian – Coleção
do Fundador > Av. de
Berna, 45A, Lisboa
Museu de Arte Contemporânea de Serralves > Rua D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > 9 fev-13 mai, > T. 21 782 3000
seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-20h > €10 > 9 fev-21 mai, qua-
-seg 10h-17h30 > €3
Efémero, eterno
através de um precioso
espólio de imagens de
arquivo até aqui inéditas,
este documentário dá-nos
a conhecer uma das mais
Um filme que é uma história de paixões e uma deambulação sobre o amor influentes e controversas
no regresso de Jorge Cramez, dez anos depois de “Capacete Dourado” figuras da arte alemã do
século XX. Joseph Beuys
foi um vanguardista que
explorou formas alternativas
de expressão artística, como
a instalação, o vídeo e a
performance, em busca
de um sentido mais profundo
e global da arte. É um
daqueles casos em que
a arte se confunde com a
vida, pois havia uma certa
atitude performativa em
todo o seu quotidiano e
até mesmo na silhueta
iconográfica que o tornou
uma figura mítica. Tudo isso
é bem expresso no filme,
em que se confundem os
dois campos (do homem e
do artista), prevalecendo um
D.R.
constante questionamento
A infância e a adolescência Pierre Corneille (La Place Royale), sobre a definição da própria
“arte”. Beuys, de resto,
têm sido temas recorrentes dramaturgo francês do século
assume-se, ele próprio,
dos filmes de Jorge Cramez. XVII, e coloca em confronto duas
um provocador, como se a
Em Amor Amor, o regresso posturas antagónicas sobre o amor: reação positiva ou negativa
às longas-metragens dez o amor eterno e o amor vadio. E é a ao seu trabalho/atitude
anos depois de Capacete atitude ou definição das personagens completasse verdadeira-
Dourado, avança um pouco na idade perante o amor que dita a ação e mente a obra. Tal como
das personagens, mas o espírito suas consequências – o que se revela o trabalho de Beuys,
mantém-se semelhante. Em muitos de forma clara e inequívoca logo no o documentário é
pontos, é uma espécie de aventura diálogo inicial, entre Marta e Lígia. estruturado de forma
de liceu protagonizada por homens Esteticamente Cramez é cuidado, relativamente desorganizada
e mulheres adultos, imberbes e sem mas não esconde a sede de aproveitar e livre, cheio de imagens
grandes responsabilidades, que passam ao máximo a beleza da cidade de Lisboa fascinantes que apelam
o tempo entre conversas de café, como cenário (abusando de lugares ao gosto por uma arte
bebedeiras e dissertações sobre o amor. comuns, como os miradouros). Serve-se interventiva e fazendo do
Em geral, fica a sensação de que as também de alguns expedientes de forma próprio filme um objeto
personagens de Amor Amor preferem bem-sucedida, como o uso exógeno de artístico. M.H.
falar sobre o quanto estão apaixonadas música clássica sobre a pista de dança,
do que realmente se apaixonarem. oferecendo-nos uma leitura mais
Passa a ideia de que há um problema emocional daqueles momentos. De Andres Veiel, documentário
> 107 minutos
de casting: a história encaixaria mais O melhor que o filme tem são
naturalmente em atores e personagens as atrizes (os atores são medianos).
mais novos. Ana Moreira e Margarida Vila-Nova
O filme parte de um argumento com interpretações deslumbrantes
muito antigo. Talvez por aí também sustentam o filme e ganham cada cena,
se possa explicar essa perceção de concedendo-lhe emoção e naturalidade
deslocamento etário. Inspira-se em na justa medida. Manuel Halpern
De Jorge Cramez, com Ana Moreira, Jaime Freitas, Margarida Vila-Nova, Nuno Casanovas, Guilherme
Moura > 107 minutos
Um Quarto em Atenas
Tatiana Faia
Uma nova voz
confirmada numa
coleção que tem
minerado poetas-
-pepitas como a de
Tatiana Faia (1986),
residente em Oxford,
cenário propício
às referências
clássicas que a
autora manuseia
com a displicência
da familiaridade
D.R.
na sua condição de
Todas as expedições arriscadas têm guias. Para entrar neste estrangeirada. Pedro
Mexia, coordenador
livro, lugar incerto que baralha as bússolas literárias, aposte-
da coleção, evoca
-se nas palavras de Enrique Vila-Matas, outro desbravador
Jorge de Sena e Ruy
de territórios ficcionais instáveis: “Neste assombroso Irmão Belo a propósito
de Gelo [Alicia] Kopf narra como nos expomos ao risco e à dos poemas de
solidão de uma expedição polar, quando tentamos abrir Um Quarto em
novos caminhos na escrita. Para Kopf, a arte contemporânea distingue- Atenas (Tinta da
-se pela necessidade de ampliação de fronteiras e limites, algo que não China, 156 págs.,
acontece, por exemplo, no limitado âmbito narrativo espanhol.” Artista €14,90), dizendo-os
Irmão de Gelo plástica e escritora (premiada em ambas as disciplinas), criou uma “quase narrativos
(Alfaguara, narrativa-processo, em que a própria caminha sobre uma película de ou quase cifrados,
224 págs., gelo fino − um estado de espírito confessado. O leitor, esse, atravessa intensos, irónicos,
€17,50) culmina uma paisagem de elementos díspares, distante de uma narrativa descontentes”.
o projeto convencional: Irmão de Gelo tem desenhos, notícias, entradas diarísti- Entre trânsitos e
multidisciplinar cas, imagens meteorológicas, fotografias, apontamentos científicos, afetos, há referências
de Alicia Kopf, frases desgarradas – e uma candura límpida. Como se não bastasse a Kafka e Chagall,
que incluiu uma a ventania formal, a autora navega entre o ensaio narrativo e o álbum Sophia e Fedra,
exposição feita autoficcionado – mas Kopf garante que esta não é uma obra autobio- gravatas e trabalho
com o material arqueológico...
gráfica. Há, aqui, um irmão autista, alguém encerrado num mundo
recolhido para “Entrando e saindo
subterrâneo, como nessa teoria de John Cleve Symmes, descrita nas
a sua tese de de livrarias de arte/
doutoramento
primeiras páginas: a de que a Terra tinha dois buracos nos extremos
que comunicavam entre si. “Se fosse possível chegar ao polo, ter-se-ia tenho-me julgado
transformada, civilizada”, escreve
aqui, numa ao alcance todo um universo interior”, lê-se. E as metáforas continuam:
em Alguns Poemas
narrativa sobre “Os exploradores polares do início do século XX eram místicos à
Portáteis − uma
as históricas procura do Santo Graal.” E ainda: “Como tornar visível o invisível é uma pátina civilizacional
explorações pergunta pouco frequente para um explorador e muito frequente para que desconstrói com
aos polos um artista.” A criação do objeto arte, a compreensão de um autista, mestria. S.S.C.
as primeiras expedições aos polos? Há em todas um mesmo gesto
cristalino – a conquista de algo fugidio. S.S.C.
DIANA TINOCO
WC by The Beautique Hotels Lisboa
Dormir numa casa de banho?
No novo hotel de quatro estrelas, decorado pela designer Nini Andrade Silva, recria-se o universo
dos banhos de espuma, com banheiras na receção e azulejos nos quartos
Quando se lê WC, numa fachada, fica-se até à conceção, contou com a ajuda do gabinete de
O grupo The a imaginar se o significado destas duas arquitetura Nuno Leónidas.
Beautique letras, escritas em tamanho gigante, é “Queremos oferecer todas as comodidades
Hotels vai aquele que pensamos ser. No caso deste como se os nossos hóspedes estivessem realmente
abrir mais prédio no número 35 da Avenida a dormir numa enorme casa de banho, apostando
dois hotéis Almirante Reis, juntam-se outras em pormenores que fossem capazes de trazer essa
em Lisboa: palavras, deixando perceber que se trata de um mesma sensação, com espaços alusivos ao uni-
o Madalena hotel pertencente ao grupo The Beautique Hotels verso da água e aos banhos de espuma”, diz Karim
Beautique (proprietário também do Figueira Beautique Rajaballi, diretor do hotel quatro estrelas, aberto em
Hotel, na Rua
Hotels, na Praça da Figueira). outubro.
da Madalena,
Antes de se fazer qualquer julgamento, é com Os 41 quartos, de diferentes tamanhos e vistas,
com decora-
ção a remeter
curiosidade, e (algum) espírito critico, que entra- têm todos uma decoração sóbria e baseada na
para o univer- mos no WC para perceber que é lá dentro, afinal, mesma palete de cores, com os tons azul-água
so feminino, que tudo o que pensámos inicialmente se concre- e verde a predominar. É no último piso, que se
até final deste tiza. Logo à entrada, os hóspedes são brindados encontra o mais cobiçado de todos: o quarto 601
ano; e o Dos com uma banheira, frascos de perfumes e uma tem banheira ao fundo da cama e uma varanda
Reis Beau- rececionista que veste uma espécie de pijama e uma virada para esta Lisboa multicultural, com o Cas-
tique Hotel, touca. Um olhar mais atento descobre ainda, dentro telo de São Jorge a rematar a paisagem. No piso
também na de uma vitrina, rolos de papel higiénico e cotonetes, -0, mas com janelas para a avenida, fica O Banho,
Avenida Al- e, através de uma cortina transparente, espreita- o restaurante do hotel. Com uma ementa baseada
mirante Reis, -se uma secretária e um computador, para uso de no receituário português, com apontamentos de
em frente ao quem ali pernoitar. outras cozinhas do mundo, à prova estão bife da
WC, previsto A ideia de fazer a decoração de um hotel em vazia angus com migas de feijão frade (€18),
para 2020. torno de uma casa de banho, há muito que passava e cabrito, chalotas confitadas, castanhas e cogu-
pela cabeça da designer de interiores Nini Andrade melos salteados (€16), entre outras sugestões.
Silva. A madeirense acredita que se vê a qualidade Aos almoços, de segunda a sexta, aproveite-se
de um hotel por esta assoalhada, muitas vezes o menu completo por €11. De resto, sinta-se à
menosprezada. Para a ajudar neste projeto, que de- vontade, como se estivesse numa casa de banho
morou cerca de quatro anos, desde a sua aprovação em ponto grande. Sandra Pinto
Av. Almirante Reis, 34, Lisboa > T. 21 053 7001 > a partir €180 (quarto duplo, época baixa)
Espiral – Divulgação
de Alternativas Lisboa
É ao diretor da Espiral, Manuel
António, que Teresa Ricou agradece
existirem lugares como este, onde
destaca os sabores da cantina
e a biblioteca. “O corpo
e a mente em
constante
Café das Patrícias Sintra
stresse, Neste restaurante, perto das Azenhas
projetos do Mar, a fundadora do Chapitô
profundos de é sempre acolhida com uma boa
vida, precisam refeição “cheia de carinho e graça”.
de carinho e uma “É uma cozinha com alma, feita pela
boa comidinha”, diz. mão de mulheres”, elogia.
Palavras cruzadas O S T E R M O S - C H AV E D A AT U A L I D A D E
>> HORIZONTAIS >> 1. Quem quer um salmão transgénico? – a primeira maçã gene-
ticamente modificada, já disponível nos EUA, está a ser duramente atacada pelos am-
bientalistas, mas a maior revolução aconteceu quando um salmão chegou ao mercado
(…). // 2. Espaço de 12 meses. Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de
povo, raça. Avenida (abrev.). // 3. Parte do templo destinada aos fiéis. Palavra havaiana
que designa lavas ásperas e escoriáceas. A pessoa ou coisa masculina de que se fala.
// 4. E assim por diante. Espécie de pato selvagem que tem o peito, as asas e o lombo
escuros. // 5. O m. q. belo. Ação de alimpar árvores, campos. // 6. Agente ou advogado
que legaliza propriedades territoriais com títulos falsos (Brasil). // 7. Assalto ao “(…)” –
investigação VISÃO: como a maçonaria, a família do presidente Emanuel Martins e os
políticos de Oeiras tomaram conta da Fundação, com suspeitas de má gestão e uso
de dinheiros públicos para fins pessoais. // 8. Qualquer abertura circular. Desmontar.
// 9. Pessoa que coleciona selos postais. // 10. Insignificância (fig.). Planta herbácea da
família das umbelíferas. A unidade. // 11. Esteva. Sermão ou prédica de pouco valor.
>> VERTICAIS >> 1. Os projetos de lei para que os médicos possam receitar (…) vão
ser discutidos em comissão parlamentar – a VISÃO falou com dois médicos – João Se-
medo, do BE e Isabel Galriça Neto do CDS, que nos dão as suas razões a favor e contra
a medida. Telecópia. // 2. Nome próprio feminino. Acrónimo de Imposto sobre o Valor
Acrescentado. // 3. Inexperiente. Sensação que se experimenta na proximidade de um
corpo quente. // 4. Extraterrestre (abrev.). Barrete dos gondoleiros venezianos.
// 5. Designa diferentes relações, como posse, matéria, lugar, proveniência (prep.). Va-
riedade de oliveira. // 6. Pedra (Bras.). Atilho. Aqui está. // 7. Antiga trombeta mourisca.
Serra ou monte. // 8. Contr. da prep. em com o art. def. o. Designativo da pedra constituí-
da por sulfato de alumínio e potássio hidratado. Mais mau. // 9. Falha de segurança no
WhattsApp permite (…) nas suas conversas – foi descoberta uma falha de segurança
que permite que alguém se infiltre nas suas conversas sem autorização e sem que o
utilizador perceba. // 10. Arbusto da família das cistáceas, vulgarmente chamado erva-
-das-sete-sangrias. Trato por tu. // 11. Camada pigmentária da íris. Muito oiro.
// 4. Et, Gura. // 5. De, Carlota. // 6. Ita, Lio, Eis. // 7. Anafil, Alpe. // 8. No, Ume, Pior. // 9. Espiões, // 10. Alcar, Atuo. // 11. Úvea, Oirama.
8. Aro, Apear. // 9. Filatelista. // 10. Avo, Aipo, Um. // 11. Xara, Sermoa. >> VERTICAIS >>1. Canábis, Fax. // 2. Ana, IVA. // 3. Novel, Calor.
>> HORIZONTAIS >> 1. Canadiano. // 2. Ano, Etno, Av. // 3. Nave, Aa, Ele. // 4. Etc, Fusca. // 5. Bel, Alimpa. // 6. Grileiro. // 7. Século. //
T
odos os anos prometo o mesmo: desta meses anteriores. É contabilidade e nostalgia. Um ál-
vez é que eu não vou deixar a validação de bum de recordações do consumo. Depois de um ano
facturas para o fim do prazo. Vou ser um a pedir facturas e a fornecer números de contribuin-
cidadão responsável e validar facturas dia te, dedico-me agora a verificar facturas e a reintro-
a dia. É rápido e fácil. Ou então semana a duzir números de contribuinte. É pena que o sistema
semana. Assim é que é. Tiro um bocadi- fique por aqui. Gostaria muito de manter o convívio
nho ao fim-de-semana e valido, não custa com estas facturas por mais algum tempo. Tenho
nada. Se calhar é melhor mês a mês. Sim, a certeza de que, com um pouco de imaginação, o
mês a mês é mais sensato. E depois chega Ministério das Finanças conseguiria encontrar uma
Fevereiro e tenho as facturas todas por va- maneira de, depois do pedido e da validação, obrigar
lidar. Sou, ao mesmo tempo, um daqueles políticos o cidadão a realizar mais duas ou três operações
aldrabões e o eleitorado traído. fiscais com estas mesmas facturas. Uma revisão da
Esta semana tenho estado a dar o meu passeio validação, por exemplo. Ou a verificação da revisão
anual pelos bens e serviços que adquiri nos doze da validação. Ou a comemoração das bodas de prata
da validação, efectuada 25 anos após o pedido da
factura.
Enquanto o processo de validação se mantém
como está, o contribuinte tem o gosto de se con-
frontar com facturas que foram inseridas e vali-
dadas, outras que foram inseridas mas estão por
validar, e outras ainda que nem foram inseridas nem
estão validadas. Ninguém sabe porque é que o siste-
ma deixa facturas por validar ou inserir, mas todas
estas três modalidades oferecem diferentes praze-
res. A simples verificação conforta, mas a validação
realiza-nos. E a reintrodução completa de facturas
requisitadas há meses exercita a memória. A que se
referem estes 12 euros e meio que paguei à “Manuel
Antunes, Lda” a 12 de Maio de 2017? Será uma des-
pesa de Habitação? Saúde? Ou Outros? Não faço a
mínima ideia. Por isso, em princípio, é Outros.
É impressionante o dinheiro que, anualmente, gasto
em Outros.
e da validação, obrigar o
cidadão a realizar mais duas
ou três operações fiscais com
estas mesmas facturas