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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

PROVA PARCIAL

Disciplina: Filosofia da Mente

Professor: Roberto Márcio Starling

Nomes:
• Douglas Felipe Gonçalves de Almeida
• Tiago José Quadros Pereira

1) Qual a posição de Ramachandran sobre o panpsiquismo? Em que ela se baseia?


O texto aborda a questão do pampsiquismo, uma teoria que postula que a mente
humana é fundamental e onipresente na realidade. Esta visão tem raízes na filosofia desde
a Antiguidade e foi revigorada na contemporaneidade, especialmente com o surgimento
do positivismo lógico e as discussões sobre o problema difícil da consciência, destacado
por filósofos como David Chalmers. No entanto, Ramachandran discorda do
pampsiquismo, argumentando que a consciência é um problema empírico e tem sua
origem no cérebro humano, mais precisamente em circuitos cerebrais específicos.
Fundamentando-se sob uma abordagem neurocientífica, o autor ilustra essa perspectiva a
partir de exemplos concretos, como o caso de um médico daltônico que estuda o
funcionamento do cérebro de um paciente saudável para compreender a dinâmica das
cores em sua visão.
Neste caso, Ramachadran propõe um cenário em que um supercientista, mesmo
com completo conhecimento do funcionamento do cérebro humano, é daltônico, incapaz
de perceber cores. O supercientista estuda o cérebro de uma pessoa com visão normal
para compreender a percepção de cores, utilizando um espectrômetro para analisar a luz
que uma maçã vermelha emite. Identificando um comprimento de onda de 600
nanômetros e mapeando completamente as leis de processamento de comprimento de
onda no cérebro da pessoa com visão normal, ele compreende a sequência de percepção
de cor, desde os receptores no olho até a atividade neural que gera a experiência da cor
“vermelha”. Contudo, quando o supercientista apresenta seu relato ao indivíduo com
visão normal, este último argumenta que a descrição científica é incompleta porque não
inclui a experiência “real e inefável” da cor vermelha. O conceito introduzido aqui é o de
qualia, que se refere aos aspectos subjetivos e experienciais do estado do cérebro que
parecem escapar de uma descrição puramente científica.
O exemplo destaca a lacuna entre a compreensão científica objetiva das leis de
processamento de cor e a experiência subjetiva única de ver a cor vermelha. O caso
enfatiza a dificuldade de explicar completamente as qualidades subjetivas da experiência
consciente apenas por meio de uma análise científica, destacando a natureza desafiadora
da consciência. Esse exemplo destaca a posição de Ramachandran de que a consciência
é um fenômeno que pode ser explicado em termos neurobiológicos, relacionando-o
diretamente às atividades do cérebro. Isso contrasta com a visão pampsíquica, que atribui
a consciência a tudo na realidade, sugerindo que todos os elementos têm algum tipo de
experiência consciente. A menção ao positivismo lógico e ao problema difícil da
consciência destaca a relevância desses temas na discussão filosófica contemporânea
sobre a natureza da mente e da consciência. Ao destacar o enfoque empírico, o autor está
argumentando que a consciência é algo que pode ser estudado e compreendido através da
investigação científica, em vez de ser atribuído a uma característica fundamental e
onipresente da realidade:

Com exceção de uns poucos excêntricos (chamados panpsiquistas) que


acreditam que tudo no universo é consciente, inclusive coisas como cupins,
termostatos e mesas de fórmica, a maioria das pessoas agora concorda que a
consciência nasce em cérebros e não em baços, fígados, pâncreas ou qualquer
outro órgão. Já é um bom começo. Mas vou estreitar ainda mais o campo de
investigação e sugerir que a consciência nasce não do cérebro inteiro, mas de
certos circuitos cerebrais especializados que realizam um estilo particular de
computação (Ramachandran, 2004, p. 288).

2) De que modo a individualidade arrebatada se liga à “via do como” e à “via do


quê”?

“Qualia e individualidade são realmente dois lados da mesma moeda”


(Ramachandran, 2004, p. 308). É assim que o autor neurocientista inicia o
desenvolvimento do capítulo 12 do livro em questão – que será o citado por nós. Precisa-
se ter em mente, conforme definição inserida pelo autor, que a individualidade pode ser
caracterizada tanto como corporificada como também arrebatada – que é a que nos
importa aqui. Antes de seguir à “via do como” e à “via do quê”, vale ponderar o que se
entende por individualidade arrebatada.
Para Ramachandran, existe uma dificuldade de conceber um indivíduo sem
emoções; questionam [ele e o bolsista da pós-graduação] como seria possível perceber
conscientemente algo sem compreender seu sentido ou significado. Há a afirmação de
que as emoções, mediadas pelo sistema límbico e pela amígdala, são essenciais para a
experiência humana, e não apenas um “bônus”. A referência a um personagem vulcano
na série “Jornada nas Estrelas” é usada para ilustrar a discussão sobre a consciência em
seres desprovidos de emoções.
Seguindo, com base do que pudemos auferir do que significa individualidade
arrebatada – essa que se liga às emoções pela mediação através do sistema límbico e pela
amígdala –, sobre “via do como” e “via do quê”, cabe citar o autor que “‘zumbi’ na via
do ‘como’ é inconsciente, ao passo que a via do ‘o quê’ é consciente’ (Ramachandran,
2004, p. 310). Sobre a “via do como”:
Realmente a expressão “via do onde” é um pouco enganadora, porque este
sistema é especializado não apenas no “onde” — em atribuir localização
espacial a objetos 1—, mas em todos os aspectos da visão espacial: a
capacidade dos organismos de andar pelo mundo, vencer terrenos acidentados
e evitar colisão com objetos e queda em buracos. Ele provavelmente capacita
um animal a determinar a direção de um alvo móvel, a avaliar a distância de
objetos que se aproximam ou se afastam e a esquivar-se de um projétil. Se você
for um primata, ele o ajuda a estender o braço e pegar um objeto com os dedos
e o polegar. O psicólogo canadense Mel Goodale sugeriu que este sistema
devia realmente ser chamado “visão para a via de ação” ou “via do como”, já
que parece estar envolvido principalmente com movimentos guiados
visualmente (Ramachandran, 2004, p. 112).

Já sobre a “via do que”, vejamos: “o que resta é sua capacidade de identificar o


objeto; daí, a segunda via ser chamada via do ‘o quê’. O fato de a maioria das suas trinta
áreas visuais serem na realidade localizadas neste sistema dá uma idéia de sua
importância. Esta coisa que você está olhando é uma raposa, uma pêra ou uma rosa?”
(Ramachandran, 2004, p. 113). Em síntese, “a via do ‘onde’, que termina no lobo parietal
(nas laterais de seu cérebro, acima das orelhas); a outra, às vezes chamada via do ‘o quê’,
vai para o lobo temporal (abaixo das têmporas). Parece que cada um destes dois sistemas
é também especializado em um distinto subconjunto de funções visuais” (Ramachandran,
2004, p. 112).
Portanto, “aqui está a maior ironia de todas: que a individualidade, que
quase por definição é inteiramente privada, é em grau significativo uma construção social
[...]” (p. 318), a dizer, conforme o descrito pelo autor, que há um paradoxo intrigante,
onde um neurologista desenvolveria anosognosia, uma condição em que a pessoa é
incapaz de reconhecer sua própria doença ou déficit que imbrica diretamente na questão
mais ampla levantada, relacionada à natureza do eu e da individualidade. Como
saberíamos se não estamos sujeitos a fenômenos semelhantes ao descrito? Essa reflexão
destaca a complexidade da consciência e da percepção do eu, bem como os desafios em
compreender plenamente o funcionamento da mente humana, demonstrando assim a
ligação com a “via do como” e à “via do quê” que apresentamos logo mais anteriormente.

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