Nomes: • Douglas Felipe Gonçalves de Almeida • Tiago José Quadros Pereira
1) Qual a posição de Ramachandran sobre o panpsiquismo? Em que ela se baseia?
O texto aborda a questão do pampsiquismo, uma teoria que postula que a mente humana é fundamental e onipresente na realidade. Esta visão tem raízes na filosofia desde a Antiguidade e foi revigorada na contemporaneidade, especialmente com o surgimento do positivismo lógico e as discussões sobre o problema difícil da consciência, destacado por filósofos como David Chalmers. No entanto, Ramachandran discorda do pampsiquismo, argumentando que a consciência é um problema empírico e tem sua origem no cérebro humano, mais precisamente em circuitos cerebrais específicos. Fundamentando-se sob uma abordagem neurocientífica, o autor ilustra essa perspectiva a partir de exemplos concretos, como o caso de um médico daltônico que estuda o funcionamento do cérebro de um paciente saudável para compreender a dinâmica das cores em sua visão. Neste caso, Ramachadran propõe um cenário em que um supercientista, mesmo com completo conhecimento do funcionamento do cérebro humano, é daltônico, incapaz de perceber cores. O supercientista estuda o cérebro de uma pessoa com visão normal para compreender a percepção de cores, utilizando um espectrômetro para analisar a luz que uma maçã vermelha emite. Identificando um comprimento de onda de 600 nanômetros e mapeando completamente as leis de processamento de comprimento de onda no cérebro da pessoa com visão normal, ele compreende a sequência de percepção de cor, desde os receptores no olho até a atividade neural que gera a experiência da cor “vermelha”. Contudo, quando o supercientista apresenta seu relato ao indivíduo com visão normal, este último argumenta que a descrição científica é incompleta porque não inclui a experiência “real e inefável” da cor vermelha. O conceito introduzido aqui é o de qualia, que se refere aos aspectos subjetivos e experienciais do estado do cérebro que parecem escapar de uma descrição puramente científica. O exemplo destaca a lacuna entre a compreensão científica objetiva das leis de processamento de cor e a experiência subjetiva única de ver a cor vermelha. O caso enfatiza a dificuldade de explicar completamente as qualidades subjetivas da experiência consciente apenas por meio de uma análise científica, destacando a natureza desafiadora da consciência. Esse exemplo destaca a posição de Ramachandran de que a consciência é um fenômeno que pode ser explicado em termos neurobiológicos, relacionando-o diretamente às atividades do cérebro. Isso contrasta com a visão pampsíquica, que atribui a consciência a tudo na realidade, sugerindo que todos os elementos têm algum tipo de experiência consciente. A menção ao positivismo lógico e ao problema difícil da consciência destaca a relevância desses temas na discussão filosófica contemporânea sobre a natureza da mente e da consciência. Ao destacar o enfoque empírico, o autor está argumentando que a consciência é algo que pode ser estudado e compreendido através da investigação científica, em vez de ser atribuído a uma característica fundamental e onipresente da realidade:
Com exceção de uns poucos excêntricos (chamados panpsiquistas) que
acreditam que tudo no universo é consciente, inclusive coisas como cupins, termostatos e mesas de fórmica, a maioria das pessoas agora concorda que a consciência nasce em cérebros e não em baços, fígados, pâncreas ou qualquer outro órgão. Já é um bom começo. Mas vou estreitar ainda mais o campo de investigação e sugerir que a consciência nasce não do cérebro inteiro, mas de certos circuitos cerebrais especializados que realizam um estilo particular de computação (Ramachandran, 2004, p. 288).
2) De que modo a individualidade arrebatada se liga à “via do como” e à “via do
quê”?
“Qualia e individualidade são realmente dois lados da mesma moeda”
(Ramachandran, 2004, p. 308). É assim que o autor neurocientista inicia o desenvolvimento do capítulo 12 do livro em questão – que será o citado por nós. Precisa- se ter em mente, conforme definição inserida pelo autor, que a individualidade pode ser caracterizada tanto como corporificada como também arrebatada – que é a que nos importa aqui. Antes de seguir à “via do como” e à “via do quê”, vale ponderar o que se entende por individualidade arrebatada. Para Ramachandran, existe uma dificuldade de conceber um indivíduo sem emoções; questionam [ele e o bolsista da pós-graduação] como seria possível perceber conscientemente algo sem compreender seu sentido ou significado. Há a afirmação de que as emoções, mediadas pelo sistema límbico e pela amígdala, são essenciais para a experiência humana, e não apenas um “bônus”. A referência a um personagem vulcano na série “Jornada nas Estrelas” é usada para ilustrar a discussão sobre a consciência em seres desprovidos de emoções. Seguindo, com base do que pudemos auferir do que significa individualidade arrebatada – essa que se liga às emoções pela mediação através do sistema límbico e pela amígdala –, sobre “via do como” e “via do quê”, cabe citar o autor que “‘zumbi’ na via do ‘como’ é inconsciente, ao passo que a via do ‘o quê’ é consciente’ (Ramachandran, 2004, p. 310). Sobre a “via do como”: Realmente a expressão “via do onde” é um pouco enganadora, porque este sistema é especializado não apenas no “onde” — em atribuir localização espacial a objetos 1—, mas em todos os aspectos da visão espacial: a capacidade dos organismos de andar pelo mundo, vencer terrenos acidentados e evitar colisão com objetos e queda em buracos. Ele provavelmente capacita um animal a determinar a direção de um alvo móvel, a avaliar a distância de objetos que se aproximam ou se afastam e a esquivar-se de um projétil. Se você for um primata, ele o ajuda a estender o braço e pegar um objeto com os dedos e o polegar. O psicólogo canadense Mel Goodale sugeriu que este sistema devia realmente ser chamado “visão para a via de ação” ou “via do como”, já que parece estar envolvido principalmente com movimentos guiados visualmente (Ramachandran, 2004, p. 112).
Já sobre a “via do que”, vejamos: “o que resta é sua capacidade de identificar o
objeto; daí, a segunda via ser chamada via do ‘o quê’. O fato de a maioria das suas trinta áreas visuais serem na realidade localizadas neste sistema dá uma idéia de sua importância. Esta coisa que você está olhando é uma raposa, uma pêra ou uma rosa?” (Ramachandran, 2004, p. 113). Em síntese, “a via do ‘onde’, que termina no lobo parietal (nas laterais de seu cérebro, acima das orelhas); a outra, às vezes chamada via do ‘o quê’, vai para o lobo temporal (abaixo das têmporas). Parece que cada um destes dois sistemas é também especializado em um distinto subconjunto de funções visuais” (Ramachandran, 2004, p. 112). Portanto, “aqui está a maior ironia de todas: que a individualidade, que quase por definição é inteiramente privada, é em grau significativo uma construção social [...]” (p. 318), a dizer, conforme o descrito pelo autor, que há um paradoxo intrigante, onde um neurologista desenvolveria anosognosia, uma condição em que a pessoa é incapaz de reconhecer sua própria doença ou déficit que imbrica diretamente na questão mais ampla levantada, relacionada à natureza do eu e da individualidade. Como saberíamos se não estamos sujeitos a fenômenos semelhantes ao descrito? Essa reflexão destaca a complexidade da consciência e da percepção do eu, bem como os desafios em compreender plenamente o funcionamento da mente humana, demonstrando assim a ligação com a “via do como” e à “via do quê” que apresentamos logo mais anteriormente.
Viver em Um Ambiente Onde Todos Os Discursos Pretendem Alcançar A Verdade Das Coisas É Compartilhar de Um Espetáculo Verborrágico Onde As Dúvidas e As Certezas Têm As Mesmas Possibilidades de Sucesso