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Samuel P. Huntingtonfoi
presidente da Associação
Americana de Ciência Poütica e
coordenador de planejamento
de segurança do Conselho de
Segurança Nacional dos EUA.
Atualmente, é diretor do
Instituto }ohn M. Olin de
Estudos Estratégicos da
Universidade Harvard.
Série
Temas
volume 39
Política e sociedade
Editor
Fernando Paixão
Assistência editorial
Mário Vilela
Preparação de texto
Renato Nicolai
Edição de arte (miolo)
Ediroração eletrônica
Divina Rocha Corte
Capa
Ettore Bottini
1994
Todos os direitos reservados
Editora Ática S.A.
Rua Barão de Iguape, 110 - CEP 01507-900
Te!.: (PABX) (011) 278-9322 - Caixa Postal 8656
End. Telegráfico "Bornlivro" - Fax: (011) 277-4146
São Paulo (SP)
Sumário
PREFÁCIO 7
1. O QUÊ? 13
o início da terceira onda 13
O significado da democracia 15
As ondas de democratização 22
As questões da democratização 35
2. POR QUÊ? 40
Explicação para as ondas 40
Explicação para as ondas de democratização 43
Explicação para a terceira onda 49
O declínio da legitimidade e o dilema do desempenho 55
Desenvolvimento econômico e crises econômicas 67
Mudanças religiosas 80
Novas políticas de atores externos 91
Efeitos-demonstração ou de bola-de-neve 105
Das causas aos causadores 110
3. COMO? PROCESSOS DE DEMOCRATIZAÇÃO 113
Regimes autoritários 114
Processos de transição 124
Transformações 128
Guias de ação para democratizadores 1:
A reforma dos sistemas autoritdrios 143
Substituições 144
Guias de ação para democratizadores 2:
A derrubada dos regimes autoritdrios 151
Transtituições 152
Guias de ação para democratizadores 3:
A negociação das mudanças de regime 162
4. COMO? CARACTERÍSTICAS DA DEMOCRATIZAÇÃO 164
A síndrome da democratização da terceira onda 164
Compromisso e a relação participação-moderação 165
Eleições: surpreendentes ou não 174
Baixos níveis de violência 191
5. POR QUANTO TEMPO? 206
Consolidação e seus problemas 206 Prefácio
O problema do torturador: processar e ~nir vs. perdoar
e esquecer 209
Guias de ação para democratizadores 4:
O tratamento dos crimes autoritdrios 228
O problema pretoriano: militares rebeldes e poderosos 228
Guias de ação para democratizadores 5:
Para domar o poder militar e promover o profissionalismo
militar 247 Este livro trata de um importante - talvez o mais importan-
Y Problemas contextuais, desilusão e nostalgia autoritária 248 te - desenvolvimento político global do final do século XX: a tran-
Desenvolvimento de uma cultura política democrática 253 sição de cerca de trinta países de sistemas políticos não-democráticos
Institucionalização do comportamento político democrático 259 para sistemas políticos democráticos. É um esforço para explicar por
Condições que favorecem a consolidação das novas quê, como e com que conseqüências imediatas essa onda de demo-
democracias 264
cratização ocorreu entre 1974 e 1990.
X 6. ATÉ QUANDO? 272 Este livro lança mão tanto da teoria como da história, mas não
Causas da terceira onda: continuando, enfraquecendo,
é nem uma obra de teoria, nem uma obra de história. Está em algum
mudando? 273
lugar entre as duas;.é primariamente explicativo. Uma boa teoria é
Uma terceira onda reversa? 281
precisa, austera, elegante, e destaca as relações entre algumas variá-
Mais democratização: obstáculos e oportunidades 286
Desenvolvimento econômico e liderança política 306 veis conceituais. Inevitavelmente, nenhuma teoria pode explicar ple-
namente um evento único ou um grupo de eventos. Uma explica-
NOTAS 308
ção, ao contrário, é inevitavelmente complexa, densa, confusa e inte-
lectualmente insatisfatória. Ela é boa não quando é austera, mas
quando é abrangente. Uma boa história descreve cronologicamente
e analisa convincentemente uma seqüência de acontecimentos e
mostra por que um acontecimento leva a outro. Este estudo também
não faz isso. Não apresenta o curso geral da democratização nas dé-
cadas de 1970 e 1980, nem descreve as democratizações de cada
país. Em vez disso, tenta explicar e analisar um grupo particular de
transições de regimes que ocorreram num período limitado de tem-
po. No jargão das ciências sociais, este estudo não é nem nomotéti-
co nem idiográfico. É possível, assim, que tanto os teóricos como os acontecimentos. Quando a terceira onda de democratização chegar
historiadores achem-no insatisfatório. Ele não apresenta as generali- ao fim, será possível uma explicação mais completa e mais satisfa-
zações que os primeiros valorizam nem a profundidade que os últi- tória desse fenômeno.
mos preferem. Meu estudo anterior sobre mudança política, Political order in
Em sua abordagem, este estudo difere significativamente de vá- chan in societies, centrava-se no roblema da estabiltdaêfe politlêã.
rios de meus outros livros. Em tais obras tentei desenvolver generaliza- Escrevi tal livro porque achava que a ordem política era uma cOisa oa.
ções ou teorias sobre as relações entre variáveis-chaves,tais como o po- Meu propósito era desenvolver, no campo das ciências sociais, uma
der político e o profissionalismo militar, a participação e a institucio- teoria geral sobre por quê, como e sob que circunstâncias a ordem po-
nalização política, e os ideais políticos e o comportamento político. As dia - e não podia - ser alcançada. O presente livro centra-se na de-
proposições sobre tais relações são ~ralmente apresentadas como ver- mocratização. Eu o escreviporgue acredito que a democracia é boa em
dades atemporais. Neste livro, no enêtnto, as generalizações estão limi- _si mesma e que, tal como argumento no capítulo 1, tem consequenClas
tadas a uma classe discreta de acontecimentos das décadas de 1970 e positivas para a liberdade individual, a estabilidade interna, a paz lllter-
1980. Um ponto-chave do livro, na verdade, é o de que as democrati- nacional e para os Estados Unidos da América. Como em Political Õr-
)( zações da terceira onda diferiram das ocorridas nas ondas anteriores. der, tentei manter minha análise o mais afastada possível de meus valo-
Enquanto escrevia este livro, às vezes fiquei tentado a propor verdades res; pelo menos em 95% deste livro, esseé o caso. No entanto, pareceu-
atemporais, tais como "As substituições são mais violentas do que as me que ocasionalmente seria útil apresentar explicitamente as implica-
transformações". Tinha então que me recordar que minhas evidências ções de minha análise para os povos que desejassem democratizar suas
vinham dos casos historicamente limitados que havia estudado e que sociedades. Conseqüentemente, em cinco lugares do livro abandonei o
eu estava escrevendo um trabalho explicativo, não teórico. De modo papel de cientista social, assumi o de consultor político, e apresentei al-
que tinha de abjurar o presente do indicativo, atemporal, e, ao invés guns '~Guiasdea~~()_p~r.a_~~n:_()~!~Eiz~c!9_r~(: Se isso me fizer parecer
disso, escrever no pretérito: "Assubstituições foram mais violentas do um aspirante a Maquiavel democrático, que assim seja.
que as transformações". Com muito poucas exceções, fiz isso. Em al- O estímulo imediato para escrever este livro foi o convite para
guns casos, a universalidade da proposição parecia tão clara que não fazer as Conferências Julian J. Rothbaum na Universidade de
pude resistir à tentação de apresentá-Ia em termos mais atemporais. Oklahoma, em novembro de 1989. Nelas apresentei os principais te-
Além disso, no entanto, quase nenhuma proposição se aplicava a to- mas do livro sem, é claro, todas as evidências empíricas que lhes da-
dos os casos da terceira onda. Por isso, o leitor vai encontrar, espalha- vam esteio. O grosso do manuscrito foi escrito no final de 1989 e em
das por todo o texto, palavras como "tendia a ser", "geralmente", "qua- 1990, e não tentei incluir na análise quaisquer acontecimentos ocor-
se sempre", e outros qualificativos semelhantes. Em sua forma final, a ridos depois de 1990. Tenho uma enorme dívida com o Centro de
citada proposição deveria ser: "As substituições normalmente foram Estudos e Pesquisas Parlamentares Carl Albert, da Universidade de
mais violentas do que as transformações". Oklahoma, e com seu diretor, Dr. Ronald M. Peters, Jr., por me ter
Este livro foi escrito em 1989 e 1990, enquanto a classe de convidado para apresentar tais conferências. Minha esposa, Nancy, e
acontecimentos com que ele se preocupava ainda estava se desdo- eu também queremos registrar o quanto apreciamos as infalíveis cor-
brando. O livro, assim, sofre de todos os problemas da contempo- tesia e hospitalidade que na Universidade de Oklahoma recebemos
raneidade e deve ser visto como uma avaliação e explicação preli- do Dr. Peters, de Julian e Irene Rothbaum, de Joel Jankowsky e do
minares de tais transições de regime. Ele recorre a obras de histo- Orador e sra. Carl Albert.
riadores, cientistas políticos e outros estudiosos que escreveram Se o convite para as conferências precipitou a escrita deste li-
monografias detalhadas sobre acontecimentos particulares. Tam- vro, seu ma~rial já vinha germinando em minha cabeça havia algum
bém se apóia extensamente em reportagens jornalísticas sobre tais tempo. Em alguns lugares do manuscrito aproveitei dois artigos an-
teriores: 'Will more countries become democratic?' (PoliticalScience
Quarterly, 99, Summer 1984, p. 191-218) e 'The modest meaning
of democracy', in Robert A. Pastor, ed., Democracy in the Americas:
stopping the pendulum (New York: Holmes and Meier, 1989, p. ] 1-
28). Entre 1987 e 1990 uma Bolsa John M. Olin sobre Democracia
e Desenvolvimento permitiu que eu dedicasse à pesquisa sobre o te-
ma deste livro muito mais tempo e esforço do que de outro modo
seria possível.
Muitas pessoas também contribuíram, tanto conscientemente
como sem o saberem, para este manuscrito. Desde 1983 venho dan-
do em Harvard um curso sol\ç democracia moderna que focaliza os
problemas das transições democráticas. Tanto os estudantes como os
professores assistentes reconhecerão que muito do material deste li-
vro veio do curso; seus comentários e críticas melhoraram em muito
meu pensamento sobre o assunto. Mary Kiraly, Young Jo Lee, Kevin
Marchioro e Adam Posen deram uma ajuda indispensável na pesqui-
sa do material para este livro e na organização de meus arquivos so-
bre o tema. Jeffrey Cimbalo não apenas desempenhou essas tarefas
como, além disso, reviu cuidadosamente a precisão do texto e das
notas nos estágios finais da preparação do manuscrito. Juliet Blackett
e Amy Englehardt aplicaram sua considerável perícia em processa-
mento de textos a esse manuscrito, produzindo com eficiência, rapi-
dez e precisão muitos rascunhos e revisões aparentemente interminá-
veis dos rascunhos. O manuscrito foi lido por inteiro ou em partes
por vários colegas. Houchang Chehabi, Edwin Corr, Jorge Domin-
guez, Frances Hagopian, Eric Nordlinger e Tony Smith escreveram
comentários ricos em idéias, bastante críticos e muito construtivos.
Os membros do grupo de discussão sobre política comparada de
Harvard ajudou com uma discussão muito estimulante da primeira
metade do manuscrito.
Estou muito grato a todas essaspessoas por seu interesse em meu
trabalho e pelas importantes contribuições que fizeram à melhoria da
qualidade de meu esforço. No final, no entanto, continuo responsável
pela argumentação, pelas evidências e pelos erros deste estudo.
SAMUEL P. HUNTINGTON
Cambridge, Massachusetts
Fevereiro de 1991
o quê?
Por quê? tras sociedades. Várias nações da América Latina, por exemplo, in-
troduziram regimes democráticos ou fizeram eleições nacionais em
1945 e 1946. As evidências sugerem que esses desenvolvimentos x
foram, em grande medida, o resultado de uma causa única, A, ou se-
ja, a vitória aliada na Segunda Guerra Mundial:
de que a mudança na variável independente pode tomar a forma de ·;'!ióTfíêáuva: as crenças e~s~ções .~aseli~e,s,_ políti.ca.s:.!..':ln:~~~~i~.~l
persistência dessa mesma variável independente. Três anos de estag- poderosalllente explicativa, mas não é satisfatória~A democracia po- I
nação econômica sob um regime autoritário podem não provocar de'se-rcri;da mesmo que as pessoas não queIram'. Assim, dizer que a j
sua queda, mas cinco anos de estagnação podem fazê-Io. O efeito cu- democracia será criada se as pessoas quiserem democracia, talvez não
mulativo da variável independente, ao longo do tempo, acaba por seja tautológico, mas é quase. Alguém já observou que uma explica-
produzir mudanças na variável dependente. Ou, como Gabriel ção é aquele lugar onde a mente descansa. Por gue as elites políticas
Almond observou, "mudanças sociais e internacionais podem existir . relevantes guerem a democracia? Inevitavelmente, a mente deseja
por um longo período e só começar a disparar mudanças no sistema avançar um pouco mais ao longo da cadeia causal.
político quando ocorre uma inflexão de curto prazo, ou conjunto de A distinção entre variável independente e variável dependente
inflexões, na curva ou curvas"2. Nesse sentido, obviamente, é muito fica mais clara se elas forem de ordens diferentes, se, como muitas
mais provável que a mudança tenha efeitos políticos quando envol- vezes acontece, uma variável econômica for usada para explicar uma
ve variáveis independentes, tais como tendências econômicas e so- variável política. Toda a tradição intelectual marxista leva a análise
ciais, do que quando envolve outras variáveis. nessa direção. Isso é reforçado pelo fato de que sempre se procuram
~nâmica; é também com-
.bcvaJi;ívddepe,nd~me.nã() é apC::l1a.~ as causas onde elas são mais fáceis de serem encontradas. Para um
"p!~~~~.b§pessoas algumas vezes supõem qué ãcaoãf com' uma dita:" grande número de sociedades, é possível obter dados econômicos,
dura leva à inauguração de uma democracia. No entanto, a verdade inclusive séries estatísticas sobre muitas questões diferentes, desde a
é que é mais provável que os regimes não-democráticos sejam subs- Segunda Guerra Mundial - para as sociedades ocidentais, desde o
tituídos por outros regimes não-democráticos do que por regimes século XIX. Inevitavelmente os analistas são levados a usar tais dados
democráticos. Além disso, os fatores responsáveis pelo fim de um re- e a examinar quais correlações e conexões causais podem existir en-
gime não-democrático podem diferir significativamente dos que le- tre fatores econômicos e democratização. Algumas vezes tais tentati-
vam à criação de um regime democrático. As circunstâncias que con- vas são informadas pela teoria; outras, não.
tribuem para o estabelecimento inicial de um regime democrático Os cientistas .sociais às vezes falam ~~\Eroblema da s2.,~~$d:;
também podem não contribuir para sua consolidação e estabilidade terminaçã(). Com iSSO,normalmente se reterem ao"Faro de eXistir
de longo prazo. Ao nível mais simples, a democraticação envolve:(l) umá multidão de teorias plausíveis para explicar um acontecimen-
? fim de um,!egi~ei.~~!!!árr~; ªtàJi!I~~~~I~~ªiu1!1.s~i[~~ êié- to e ao conseqüente problema de estabelecer a validade relativa de
tais teorias. No entanto, isso é uma questão apenas para os que es- - tradições de tolerância e de compromisso;
tão pre~cupidos em avaliar as teorias. Tal problema não existe pa- - ocupação por uma potência estrangeira pró-democracia;
ra os que estão preocupados em explicar os acontecimentos. Na - influência de uma potência estrangeira pró-democracia;
política quase tudo tem muitas causas. Por que este candidato e - desejo das elites de imitar nações democráticas;
não aquele ganhou a eleição? Evidentemente é necessário um gran- - tradição de respeito à lei e aos direitos individuais;
de número de variáveis e de teorias por trás dessas variáveis para - homogeneidade comunal (étnica, racial, religiosa);
explicar algo tão simples como o resultado de uma eleição.:.,.p~~.~ - heterogeneidade comunal (étnica, racial, religiosa);
ocorrer historicamente, um acontecimento quase tem de ser teori- - consenso sobre valores políticos e sociais;
'"camente sobredetermi~ado. Isso é claramente o que acontece com - ausência de consenso sobre valores políticos e sociais.
. a de111Qçt!lti~çã,0.~, .
As teorias que relacionam tais fatores à democracia e à demo-
~~~umirõs~as foram apresentadas e numerosas variáveis
cratização quase sempre são plausíveis. Cada variável e cada teoria,
,/ indepe;dentesTõf;~ identificadas para explicar a democratização.
I
no entanto, muitas vezes tem relevância apenas para um pequeno
.' Entre as variáveis que se acredita que contribuem para a democracia
número de casos. No meio século que se seguiu a 1940, houve de-
\ e para a democratização, estão as seguintes:
mocratização na Índia e na Costa Rica, na Venezuela e na Turquia,
~ um alto nível global de riqueza econômica; no Brasil e em Botsuana, na Grécia e no Japão. A procura de uma
- uma distribuição de renda ou de riqueza relativamente igualitá- variável independente comum, universalmente presente, que possa
na; ter desempenhado um papel significativo na explicação do desen-
- uma economia de mercado; volvimento político em países tão diferentes está, quase certamente,
- desenvolvimento econômico e modernização social; destinada ao fracasso, se não à tautologia. As causas da democratiza-
- uma aristocracia feudal em algum ponto da história da sociedade; ção diferem substancialmente de um lugar para outro e de um mo-
- ausência de feudalismo na sociedade; mento para outro:.:A l]ul!iplif.i~~~~A.~!~QÚª$~e.~~diYe,r~idad.e.de ex:-
- uma burguesia forte ("sem burguês, nada de democracia", na su- _2~~~êl1_ci~L~llgçr.~m
ª-ill.9y.éÍy~lyalidaçk.d.as.seguintes.~ro posiçõ~s:
cinta formulação de Barrington Moore);
- uma classe média forte; "'; 1. Nenhum fator único é suficiente para explicar o desenvolvimento
- altos níveis de alfabetização e de instrução; da democracia em todos os países ou em um único país.
- uma cultura instrumental, não-consumista; 2. Nenhum fator único é necessário para o desenvolvimento da de-
- protestantismo; mocracia em todos os países.
- pluralismo social e grupos intermediários fortes; 3. Em cada país a democratização é o resultado de uma combinação
- desenvolvimento da contestação política antes da expansão da de causas.
participação política; 4. A combinação de causas que produzem a democracia varia de país
- estruturas democráticas de autoridade no interior dos grupos so- para país.
ciais, particularmente aqueles intimamente ligados à política; 5. A combinação de causas geralmente responsáveis por uma onda
- baixos níveis de violência civil; de democratização difere daquela responsável por outras ondas.
- baixos níveis de polarização política e de extremismo; 6. As causas responsáveis pelas mudanças iniciais de regime numa
- líderes políticos comprometidos com a democracia; onda de democratização em geral diferem das que são responsá-
- experiência de ter sido colônia inglesa; veis por posteriores mudanças de regime naquela onda.
~ Refletindo sobre a diversidade de sociedades que têm governos A vitória dos Aliados na Primeira Guerra Mundial e o desmante-
democráticos, Myron Weiner concluiu que para explicar a democra- lamento dos impérios, ocorrido após a guerra, afetaram a democratiza-
tização era preciso ~h:lr~!:l_~s~'~str~tégi~~Aisponíveis aos que bus- ção de maneira significativa. Os países periféricos europeus -
cam uma revolução democráticà'4.Ésse-conselho chama a atenção, Finlândia, Islândia, Irlanda - tiveram êxito relativo na manutenção de
ad~quadamente, para o.Q.~~~cr~~~ ~~1~4erançapolítica e ~a habi- seus sistemas democráticos; osEStidõsI(;;Jjzados mais ao centro, su-
lidade política nacriação da democraCIa. No entanto, ele nao. deve cessores dos impérios Rm.rlárl0v,Habsburgo e Hohenwllern não tive-
levar a uma total rejeição dos fatores mais amPlos - contextualS, so- ram o mesmo êxit~Em sumâ.;)osfatores primários respons~vêís-peIa
ciais, econômicos e culturais - na explicaçãgA().d~s~ny()lvimento primeira onda de denioctãtízâção parecem ter sido o desenvolvimento
-democrático. Existe uma-cadeia ou funil (escolha sua metáfora) de econômico e social, o ambiente econômico e social das colônias de po-
- causação; e 'fatores internacionais, sociais, econômicos, culturais e, voamento britânicas, e a vitória dos Aliados na Primeira Guerra
mais imediatamente, políticos, estão todos em operação, muitas ve- Mundial e a resultante ruptura dos principais impérios continentais.
zes de maneiras conflitivas, seja para facilitar a criação da democra- Os fatores políticos e militares foram claramente predominan-
cia, seja para sustentar o autoritarismo. . . . tes na segunda onda de democratização. A maior parte dos países
A5 causas da democratização são, assim, vanadas, e seu SIgnIfi- que transitaram para a demácrac.ía nessa onda se encaixa em uma
cado no tempo tende a variar consideravelmente. Aqui não é o lugar entre três categorias. Primeira: os Aliados impuseram a democracia
para uma análise histórica detalhada do que produziu a democratiza- em vários países - Alemanha Ocidental, Itália, Japão, grande parte
ção antes de 1974. No entanto, é adequado fazer um breve resumo da Áustria e Coréia do Sul. Segunda: muitos outros países moveram-
do que parecem ser as g!"incipaiscausas da primeira e da segunda o.n- se numa direção democrática porque os Aliados ganharam a guerra.
da~quanto mais não seja, para estabelecer o contexto para uma dIS- Essa categoria inclui Grécia, Turquia, Brasil, Argentina, Peru,
cussão mais extensa sobre as causas da terceira onda. Equador, Venezuela, Colômbia5• Terceira: o enfraquecimento dos
Desenvolvimento econômico, industrialização, urbanização, o Estados ocidentais provocado pela guerra e o crescente nacionalismo
surgimento de uma burguesia e de uma classe ~édia, o desenv~l~i- em suas colônias de além-mar fizeram com que estas iniciassem um
O mento de uma classe trabalhadora e sua organIzação, e o dechnIo processo de descolonização. Um número significativo de novos
, ,gradual da desigualdade econômica s~o fatores que parece.m t~er Estados já começou como democracia e um número um pouco me-
// desempenhado algum papel nos mOVImentos de democrauzaçao nor manteve as instituições democráticas por um respeitável período
" nos países do norte da Europa no século XIX. Em geral, eram tam- de tempo. Assim, a vitória das democracias ocidentais na Segunda
'/bém países cujo ethos intelectual era formado, em certa medida, por Guerra Mundial e a descolonização realizada por essas democracias
Locke, Bentham, Mill, Montesquieu, Rousseau, e pelo impacto dos após a guerra foram, em grande parte, responsáveis pela segunda on-
ideais da Revolução Francesa. Nos países de povoamento britânico da. Tais acontecimentos foram historicamente discretos. A terceira
_ Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia - muitos
onda teve de resultar de uma diferente composição de causas.
desses fatores estavam em ação, impulsionados por oportunidades
econômicas muito maiores, pela fraqueza dos sistemas existentes de
status, e pela distribuição de renda mais igualitária do que a que era
possível nas sociedades de fronteira. Também se pode conceber que
o protestantismo encorajou a democratização; três quartos dos países
que desenvolveram instituições democráticas antes de 1900 eram Para explicar a terceira onda de democratização é preciso res-
dominantemente protestantes quanto à sua composição religiosa. ponder a duas perguntas. Primeira: por que cerca de trintaJ)~~.~
com regimes autoritários mudaram para sistemas políticos demo- Um segundo padrão de mudança de regime foi o da.!,.egund!
~~~ti~os, mas apr~~imadamente cem outros países autoritários não tentativa. Um país com um sistema autoritário muda para um siste-
. mudaram? Segunda: por que as mudanças de regime em t~is países ma democrático. Este fracassa, porque o país não tem as bases so-
ocorreram nas d,~ç,agas".de1970 e 1980,. e não em qualquer outro ciais para a democracia, ou porque os líderes do novo sistema de-
momento? mocrático realizam políticas extremistas que produzem uma reação
.. Com respeito à primeira pergunta, poder-se-ia imaginar que os drástica, ou algum cataclisma (depressão, guerra) solapa o regime.
países se afastaram ou não se afastaram do autoritarismo dependen- Um governo autoritário chega então ao poder por um período de
do da natureza de seus regimes autoritários. No entanto, a verdade é tempo maior ou menor. Acaba-se, no entanto, por fazer um segun-
que os regimes que se moveram na direção da democracia na tercei- do esforço de introduzir a democracia, com êxito maior, devido, pe-
ra onda eram um conjunto diversificado. Nele estavam incluídos sis- lo menos em parte, ao fato de que os líderes democráticos aprende-
~ temas de partido único, regimes militares, ditaduras personalistas e a ram com a anterior e mal-sucedida experiência democrática. De
:- oligarquia racial da África do Sul. Dentro de cada categoria de regi-
*<~
u
me, alguns países não se democratizaram nos 15 anos que se segui-
.:~ram a 1974: China e Viernã, entre os sistemas unipartidários; Iraque
maneiras variadas, um certo número de países - Alemanha, Itália,
Áustria, Japão, Venezuela, Colômbia - montaram sistemas demo-
cráticos razoavelmente estáveis na segunda onda, após terem sofrido
,\_~-.- <~ e Cuba, entre as ditaduras pessoais. A natureza do regime autoritá- reveses em seus esforços anteriores. Espanha, Portugal, Grécia,
rio, conseqüentemente, não pode explicar por que certos regimes Coréia, T checoslováquia e Polônia se encaixarão nesse padrão de se-
transitaram para a democracia e outros não. gunda tentativa se os seus regimes democráticos da terceira onda se
Um~_~Qorºªgem diferente"'p_araresp(lllder a essa pergunta pode.... estab ilizarem.
ria fõcãfizar as histórias de mudanças de régime nos países que se de- Um terceiro padrão foi o de democracia interrompida. Diz res-
mocratizaram. No padrão cíclico., os países a.lternaram sistemas auto- peito aos países que desenvolver;m regimesdemocrátÍcos- por um
ritários e democÍ"áticos.Tal padrão foi particularmente dominante na período de tempo relativamente prolongado. Em algum ponto, no
América Latina, e inclui países como Argentina, Brasil, Peru, Bolívia entanto, cresceram a instabilidade, a polarização, ou outras condi-
e Equador, mas caracterizou outros países, como Turquia e Nigéria. ções que levam à suspensão dos processos democráticos. Na década
Tais países tenderam a oscilar entre governos democráticos mais po- de 1970, a democracia foi temporariamente interrompida na Índia e
pulistas e regimes militares mais conservadores. Sob um regime de- nas Filipinas por chefes do executivo democraticamente eleitos, no
mocrático, o radicalismo, a corrupção e a desordem alcançam níveis Uruguai por líderes eleitos em cooperação com os militares, e no
inaceitáveis e os militares derrubam-no, com considerável alívio e Chile por chefes militares que derrubaram um regime eleito. No en-
aclamação da população. No entanto, no devido momento, a coali- tanto, a longa experiência de tais países com a democracia tornou
zão que sustenta o regime militar se desfaz, este deixa de tratar efeti- impossível para os líderes políticos que interromperam a democracia
vamente dos problemas econômicos do país, os oficiais com inclina- afastarem inteiramente as práticas democráticas. Em todos os quatro
ção profissional ficam alarmados com a politizaçãodas forças arma- casos, eles eventualmente sentiram-se obrigados a submeter-se a al-
das e, mais uma vez para grande alívio e aclamação da população, os guma forma de voto popular, e foram derrotados.
militares se retiram ou são expulsos do governo. Em tais países, a Um quarto padrão de mudança envolveu a transição direta de
°
mudança de regime desempenha, assim, a mesma função que a mu-
dança de partido num sistema democrático estável:. país não alter-
na entre sistemas políticos democráticos e autoritários; a alternância
um sistema autoritário estável para um sistema democrático estável,
seja através de uma evolução gradual no tempo, seja pela substitui-
ção abrupta do primeiro pelo segundo. Tal padrão é típico das tran-
entre democracia e autoritarismo é o sistema políticódo país. sições da primeira onda. Caso sua democracia seja consolidada, as
tentativas de terceira onda da Romênia, Bulgária, Taiwan, México, países com sistemas autoritários em 1974 e que não se democratiza-;'
Guatemala, EI Salvador, Honduras e Nicarágua vão se aproximar ram em 1990 não tinham tido nenhuma experiência prévia com a
desse padrão. democracia. Assim, em 1974, um excelente instrumento de previsão ,/
Finalmente, há o padrão de descolonização. Um país democráti- para saber se um país com góverno autoritário iria ou ~ão s~ trans-~ b
co impõe instituições democráticas em suas colônias. A colônia tor- formar em democrático era verificar se ele já tinha sido democ~átiço.
na-se independente e, ao contrário da maioria dos países que antes No entanto, em 1989, a terceira onda entrou em uma segunda fase
eram colônias, mantém com êxito suas instituições democráticas. e começou a afetar países sem significativa experiência democrática
Papua-Nova Guiné foi um exemplo disso na terceira onda. Como anterior, entre eles Romênia, Bulgária, União Soviêtica, Taiwan e
apontou Myron Weiner, tal padrão é basicamente o das antigas colô- México. Isso colocou uma questão crucial: até que ponto a terceira
nias britânicas, a maior parte das quais tornou-se independente na onda iria além da primeira e da segunda ondas? Os países que não ti-
segunda onda6• As que restaram e tornaram-se independentes e de- nham tido nenhuma experiência democrática no passado futura-
mocráticas na terceira onda eram, em sua maioria, pequenas ilhas. mente se tornariam democracias estáveis?
Incluíam-se, entre elas, Antígua e Barbados, Belize, Oominica,
Explicações plausíveis para a questão de por que certos países,
Kiribati, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, São Vicente e as
mas não outros, transitaram para a democracia não são necessaria-
Granadinas, Ilhas Salomão, Tuvalu e Vanuatu. Com a possível exce-
mente respostas à segunda pergunta:, por que tais transições ocorre-
ção das poucas colônias remanescentes (p. ex., Hong Kong,
ram numa época e não em outra? Parece improvável que a concen-
Gibraltar, Falklands), tais países são o último legado do Império
, tração de transições numa década e meia possa ter sido mera coinci-
Britânico à democratização. Por seu pequeno tamanho, a não ser
dência. Parece razoável supor que elas tenham sido produzidas, em
que se afirme o contrário, neste estudo eles estão excluídos das aná-
parte, por causas comuns afetando muitos países, pelo desenvolvi-
lises dos países de terceira onda.
mento paralelo em vários países e pelo impacto de transições ante-
Se usarmos A e D para representar regimes autoritários e de-
riores sobre transições posteriores. No entanto, experiência demo-
mocráticos, relativamente estáveis e duradouros, e a e d para repre-
sentar regimes menos estáveis e de curta duração, os cinco padrões crática prévia não explica por que a mudança para a democracia em
de desenvolvimento de regime podem ser retratados da seguinte tais países aconteceu nas décadas de 1970 e 1980. Similarmente,
atribuiu-se as transições democráticas da década de 1980 a um "an-
maneira:
seio de liberdade" profundamente sentido e difundido entre os po-
1. cíclico: a - d - a - d - a - d vos oprimidos por governantes autoritários. A presença de tal anseio
2. segunda tentativa: A - d - a - O pode distinguir os países que se democratizaram daqueles que não o
3. democracia interrompida: A - O - a - O fizeram, mas não pode explicar por que a democratização aconteceu
4. transição direta: A - O num dado momento. Como mostram os acontecimentos de 1953,
5. descolonização: D/a - O 1956, 1968 e 1980-81, a população da Europa oriental ansiou por
Os países da terceira onda abrangem todos os cinco padrões de liberdade durante décaqas; no entanto, obteve-a apenas em 1989.
mudança de regime. No entanto, dos 29 países que se democratiza- Por que só então, por que não mais cedo? Em outros países, a popu-
ram entre 1974 e 1990, 23 haviam tido experiência prévia com a de- lação pode não ter sentido antes tal anseio por liberdade, mas desen-
mocracia. Em certos casos, tal experiência estava distante no tempo; volveram-no nas décadas de 1970 e 1980. O problema é explicar por
em certos casos, foi breve; em certos casos, tanto distante como bre- que tal desejo surgiu então. A análise é obrigada a procurar outros
ve. Em algum ponto, no entanto, ela aconteceu. A maior parte dos desenvolvimentos que possam tê-lo produzido.
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54 A TERCEIRA ONDA ~,\.- V"
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eles. Eles deram o ímpeto e o contexto econômico para a democra- para a democracia e a maioria dos países que transitam para a demo-
,tização nas décadas de 1970 e 1980. cracia estão situados em tal extrato. À medida que os países se desen-
I' Desenvolvimento econômico~ Os teóricos políticos d<,Jséculo volvem economicamente e passam para essa zona, tornam-se passí-
XVIn argumentavam que os países ricos tendiam a ser monarquias e veis de democratização. Durante a primeira onda de democratização
os países pobres a ser repúblicas ou democracias. Era uma hipótese no século XIX e começo do século XX, nos países da Europa do nor-
plausível para sociedades agrárias. No entanto, a industrialização in- te, a democracia se fez, em geral, quando seu PNB per capita, em dó-
verteu a relação entre nível de riqueza e forma de governo,..e I1o_s~.cll: lares de 1960, se situava entre $300 e $500. Nas décadas de 1920 e
10 XIX surgiu uma correlação positiva entre riqueza e democracia. 1930, uma série de fatores, inclusive crises econômicas, produziram
Continuou forte daí em diante. A maioria dos países ricos é demo- a primeira onda reversa no sentido do autoritarismo. Em geral, no
crática e a maioria dos países democráticos - a Índia é a exceção eiuanto, o desenvolvimento econômico continuou e, portanto, o ní-
mais dramática - é rica. Tal relação foi enfatizada por, Seymour vel econômico da zona de transição que separa as democracias das
Martin Lipset em 1959 e vem sendo muito reforçada por um gran- não-democracias moveu-separa cimaJ9-;-':, hJ -i'- " , \1-,
de número de estudos subseqüentes17• Em 1985, por exemplo, As décadas de 1950 e 1960 foram anos de grande crescimento
Kenneth A. Bollen e Robert W Jackman descobriram que nos anos econômico global, particularmente entre países menos desenvolvi-
60 "o nível de desenvolvimento econômico teve um efeito pronun- dos. Entre 1950 e 1975 o PNB per capita dos países em desenvolvi-
ciado sobre a democracia política, mesmo quando outros fatores mento cresceu a uma taxa média de 3,4% ao ano, uma taxa que "ex-
não-econômicos são considerados. [... ]9 PNB é a variável explica- cedia tanto as metas oficiais como as expectativas privadas"20.Tal ta-
tiva dominante"18. Em 1989, o Banco Mundial classificou como de xa não tinha precedentes históricos nem para os países em desenvol-
"alta renda" 24 países com rendas per capita variando de $6,010 vimento, nem para os países desenvolvidos. Na década de 1960, a
(Espanha) a $21,330 (Suíça). Três deles (Arábia Saudita, Kuwait e "década do desenvolvimento", as taxas anuais de crescimento do
Emirados Árabes Unidos) eram exportadores de petróleo e não-de- PNB dos países em desenvolvimento eram, em média, bem mais do
mocráticos. Dos restantes 21 países de alta renda, todos, excetuan- que 5%, em geral mais do que o dobro das taxas dos países europeus
do-se Cingapura, eram democráticos. No outro extremo, o Banco nas fases comparáveis de desenvolvimento econômico. As taxas de
Mundial classificou como "pobres" 42 países com rendas per capita cada país, claro, variavam consideravelmente - mais altas no sul da
variando de $130 (Etiópia) a $450 (Libéria). Apenas dois deles Europa, Leste Asiático, Oriente Médio e América Latina; mais bai-
(Índia e Sri Lanka) tinham tido qualquer experiência maior com a xas no sul da Ásia e na África. Em geral, no entanto,.Q surto de cres-
democracia. Entre os 53 países de "renda médià', indo do Senegal cimento econômico posterior à Segynda, Gllç-TraMw1dial,qye du-
(PNB per capita de $520) a Oman (PNB per capita de $5,810), ha- rouaréõêhoque d()Fe~róleo de 197.?:?4, levou muitos países para
via 23 democracias, 25 não-democracias e cinco países que podiam, a zona de transição, criando em seu interior as condições econômi-
em 1989, ser plausivelmente classificados como em transição da cas favoráveis ao desenvolvimento da democracia. Num grau bastan-
não-democracia para a democracia. fIe considerável, a onda de democratizações que éomeçou em 1974 ~
A correlação entre riqueza e democracia implica que as'transi- foi pr?d~,do crescimento econÔmiço das 9:11élS déca~as .ant~riores. c
ções para a democracia devem ocorrer primariamente em países si- Nos anos 70, o centro da zona de transição economlCa unha se
tuados em um nível médio de desenvolvimento econômico. Nos deslocado para cima, do nível de $300-$500 (dólares de 1960), an-
países pobres a democratização é improvável; nos pãíses ricos ela já tes da guerra, para a faixa de $500-$1,000. Nove, ou quase metade,
aconteceu. Entre eles existe uma zona de transição política; os países das 21 democratizações da terceira onda ocorreram em países dentro
situados nesse extrato econômico têm maior tendência a transitar de tais limites; quatro ocorreram em países na faixa de $300-$500;
duas (Grécia e Espanha) em países com PNB per capita um pouco se se liberalizaram ou democratizaram entre 1974 e 1989 e se tive-
acima dos $1,000 (dólares de 1960); e seis (Índia, Paquistão, El ram regimes não-democráticos em todos esses anos21• Tais dados,
Salvador, Honduras, Bolívia, Filipinas) em países com PNRper capi- mais uma vez, indicam que os países da terceira onda variaram mui-
ta de menos de $300. A diferença no nível de desenvolvimento eco- to quanto ao nível de desenvolvimento econômico, com a Índia e o
nômico era substancial, da Índia ($87) à Grécia ($1,291), mas cerca Paquistão com PNB per capita para 1976 de menos do que $250, e
de dois terços das transições se deram em países entre $300 e $1,300 a T checoslováquia e a Alemanha Oriental com PNB per capita de
de PNB per capita (dólares de 1960) à época da transição. As transi- mais de $3,000. Dos 31 países que se liberalizaram ou democratiza-
, ções claramente tinham maior tendência a ocorrer em país~-de nível ram, 27, no entanto, situavam-se na faixa de reI!da média, nem po-
médio e médio-superior de desenvolvimento econômico e, como era bres nem 'ric(;s, e -~et;dedospa{ses- dà tercel;a onda tiitham PNB
de se esperar, concentravam-se na zona de renda um pouco acima da per capita entre $1,000 e $3,000. Três quartos dos países que em
que Sunshine observou antes da Segunda Guerra Mundial. 1976 tinham tal nível de desenvolvimento econômico e que em
1976 tinham governos não-democráticos haviam se democratizado
u~[ID~[L~ ~D 'TI ou liberalizado de maneira significativa em 1989. Em suma, um
Desenvolvimento econômico e terceira onda de democratização cientista social que em meados dos anos 70 desejasse prever as de-
mocratizações futuras teria se saído bastante bem se simplesmente
(1) (2) (3) (4) (51 (6) apontasse os países não-democráticos na zona de transição entre
Percentagem $1,000 e $3,000.
PNB per Democratizados/ de países que se Com isso, não estou querendo argumentar que a democratiza-
capita 1976 Democráticos liberalizados Não- democratizaram/
(US$) em 1974 1974-1989 democráticos Total líberalizarama
ção é determinada apenas pelo desenvolvimento econômico. Claro
que não é. Em 1976, a Tchecoslováquia e a Alemanha Oriental esta-
<250 1 2b 31 34 6 vam bem acima na zona econômica rica, onde já "deveriam" ser de-
" (250-1,000 3 11 27c 41 29 mocráticas, e União Soviética, Bulgária, Polônia e Hungria estavam
., ~
I'
lJ ,000-3,000 5 16 5 26 76 bem alto na zona de transição, com renda per capita superior a
>3,000 18 2 3 23 40 $2,000. No entanto, a política e as forças externas contiveram seu
Total 27 31 66 124 32 movimento no sentido da democracia até o final dos anos 80. É inte-
ressante observar que num estudo do início da década de 1960,
Fonte: Os dados econômicos são do World Bank, World Development Report 1978
(Washington: World Bank, 1978), p. 76-7. Phillips Cutright estabeleceu uma forte correlação entre desenvolvi-
a Durante o período de 1974 a 1989, excluindo países que já eram democráticos em mento do nível de comunicações e democracia, e usou-a para chamar
1974.
a atenção para os casos anômalos que ficavam de fora de sua linha de
b Inclusive a índia, que se tornou não-democrática em 1975 e democratizou-se em
1977. regressão. Os principais países europeus, que eram muito menos de-
c Inclusive a Nigéria, que transitou para a democracia em 1980 e voltou ao regime mi- mocráticos do que "deveriam", eram Espanha, Portugal, Polônia e
litar em 1984, e o Sudão, que seguiu caminho semelhante em 1986 e 1989.
Tchecoslováquia22• No ambiente político ibérico, com menos restri-
ções, o desenvolvimento político alcançou o desenvolvimento econô-
A zona de transição da terceira onda também aparece nos da- mico em meados dos anos 70; na Europa oriental isso não aconteceu
dos apresentados na tabela 2.1. Os países são classificados segundo até os controles soviéticos serem removidos, 15 anos mais tarde.
seu PNB per capita de 1976, conforme relatório do Banco Mundial, Cinco países que em 1976 tinham PNB per capita entre
e segundo seus sistemas políticos: se eram democráticos em 1974, $1,000 e $3,000 não tinham se democratizado em 1990. O Iraque e
o Irã eram produtores de petróleo com grande população. O Líbano res de petróleo de população pequena (Arábia Saudita, Líbia e
tinha tido uma forma limitada de democracia, mas desintegrou-se Kuwait) eram não-democráticos, embora em 1976 tivessem um
numa guerra civil após meados dos anos 70. A Iugoslávia que em
l
PNB per capita superior a $4,000, colocando-se bem acima, entre os
certos aspectos tinha sido mais liberal do que outros países comunis- países ricos. Decorre daí que o desenvolvimento econômico de base
tas da Europa oriental, foi sutpreendida pelo surto de democratiza- ampla>-envolvendo.llDla. ind\.lstrialização significativa, pode contri-
ção de seus vizinhos em 1989, embora seus Estados mais ricos, a buir para a democratização, mas o mesmo não acontece com a-ri-
Eslovênia e a Croácia, tenham começado a se mover numa direção queza resultante da venda de petróleo (e, prov~v~lmente, de outros
democrática. A cidade-Estado de Cingapura, o mais rico dos países recursos naturais). Os rendimentos· do petróleo cabem ao Estado:
não-produtores de petróleo do Terceiro Mundo, passou a década de aumentam, assim, o poder da burocracia estatal; e, como reduzem
1980 sob o governo, em geral benigno, sem violência, mas firme, de ou eliminam a necessidade de tributação, reduzem também a neces-
seu rei-filósofo. Ali, como no bloco soviético, a política dominou a sidade do governo de solicitar a concordância de seus súditos quan-
economIa. to à tributação. Quanto mais baixo o nível de tributação, menos ra-
Mitchell Seligson, em uma análise paralela, também identifica zão para o público demandar representaçã024. "Nenhuma tributação
uma zona econômica de transição; argumenta que na América sem representação" era uma demanda política; "nenhuma represen-
Latina as fronteiras que tornavam a democracia possível, embora tação sem tributação" é uma realidade política.
não necessária, eram o PNB per capita de $250 (dólares de 1957) e Em contraste com os padrões dos Estados produtores de petró-
uma taxa de alfabetização de 50%. De onze países latino-america- leo, os processos de desenvolvimento econômico envolvendo uma
nos, apenas três, Argentina, Chile e Costa Rica estavam acima de indu~trialização significativa levam a. uma economia nova; muito
tais patamares em 1957. No entanto, nos anos 80, mais sete nações màI;'-diversificada, complexa e inter-relacionada, cada vez mais difí-
- Brasil, Peru, Equador, EI Salvador, Nicarágua, Guatemala e, mar- cil de ser controlada por regimes autoritários. O desenvolvimento
ginalmente, Honduras - já os tinham alcançado ou ultrapassado. econômico criou novas fontes de riqueza e de poder fora do Estado
Apenas a Bolívia, das onze nações cobertas por tal estudo, ficou sig- e a necessidade funcional de delegar as decisões. Mais diretament~, o
nificativamente abaixo de tais patamares. A base econômica para a .dese,t;tvolvimentoeconômico parece ter promovido mudanças na e~-
democracia estava, assim, se fazendo na América Latina. Isso não ga- trutura e nos valores sociais que, por sua vez, encorajaram a demo-
rantia, é claro, o surgimento da democracia, embora, nos anos 90, cratização. Primeiro, o nível de bem-estar econômico no interior da
em todos esses países houvessem acontecido, ou estavam acontecen- própria so~i~aademodela ."Qs y~ºrese __ ªLadtlldes de seus cidadãos",
do, transições para a democracia. De maneira semelhante, Enrique estimulando o desenvolvimento de sentimentos de confiança inter-
Baloyra mostrou que na América Latina as ditaduras personalistas de pessoal, de satisfação com a vida e de concorrência, que, por sua vez,
velho tipo (Paraguai) tendiam a sobreviver mais do que os regimes têm uma forte correlação com a existência de instituições democrá-
autoritários burocráticos de novo estilo (Brasil)23.A viabilidade de ticas25§. ~gu!190' o desenvolvimento econômico aumenta os níveis
um regime autoritário parece ser uma função mais da natureza de de instrução da sociedade. Entre 1960 e 1981 aumentou consid~r-~-
sua sociedade, do que da natureza do regime. velmente-à-prõporção do grupo etário relevante que freqüentava a
Por que o desenvolvimento econômico e a passagem para o escola secundária nos países em desenvolviment026. Mais pessoas
grupo dos países com níveis de renda média-superior promovem a com maior instrução tendem a desenvolver as características de con-
- democratização? As evidências sugerem que apenas a riqueza pode fiança, satisfação e concorrência que acompanham a democracia.
não ter sido, em si mesma, um fator crucial. O Irã e o Iraque esta- Terceiro, o desenvolvimento econômico faz com que haja mais re-
vam na zona de transição mas não se democratizaram. Três produto- cursos para serem distribuídos entre os grupos sociais, facilitando as-
sim a acomodação e o compromisso. Quarto, o desenvolvimento crescente em sua própria capacidade de defender seus interesses
econômico nas décadas de 1960 e 1970 tanto exigiram como pro- através de uma política eleitoral.
moveram a abertura das sociedades ao comércio, ao investimento e º~rp,ºyitnentos dt;-º_eITl~cratiz~S:~QAa
te~<::~ira
onda não foram
à tecnologia externos, o turismo e as comunicações. O envolvimen- liderados por donos de terra, camponeses nem (excetuando-se a
to de um país na economia mundial criava fontes não-governamen- Polônia) trabalhadores industriais. Em virtualmente todos os países,
tais de riqueza e influência e abria a sociedade para o impacto das os mais.ativos defensores da democratização se originaram da classe,
idéias democráticas dominantes no mundo industrializado. Os go- média urbana. Na Argentina, por exemplo, nos anos 60 e 70, a esco- I
vernos, como o da China, que quiseram abrir suas economias ao lha se deu entre um governo peronista eleito, baseado na classe tra-
mundo para promover o desenvolvimento econômico e mesmo as- balhadora, e um regime militar originado num golpe apoiado pela
sim manter um sistema político fechado, enfrentaram um conflito classe média. Nos anos 80, no entanto, a classe média tinha se torna-
aparentemente insolúvel. Autarquia e desenvolvimento mostraram do numerosa o suficiente para ser o elemento central na vitória do
ser uma combinação impossível; desenvolvimento e influências es- Partido Radical, de Raúl Alfonsín, e para levar os candidatos per
trangeiras liberalizadoras, uma combinação inevitável. nistas a se mostrarem sensíveis a seus interesses. No B@§iJ, a cl~
li.!:lalmente, o desenvolYimmt9 ..!;!=Q!lQJniçQ
PI9111QY~il_~_JCpan- média apoiou de maneira maciça o golpe de 1964. Em meados da
são da .~l~.§~e médi~;...uma proporção cada vez maior da sociedade década de 1970, no entanto, "foram precisamente aqueles setores
consiste em gente de negócios, profissionais liberais, comerciantes, que mais se beneficiaram com os anos de 'milagre econômico' os que
professores, funcionários públicos, gerentes, técnicos, trabalhadores mais veementemente expressaram suas demandas de retorno à regra
administrativos e vendedores. Em certa medida, a democracia tem democrática: a população das grandes cidades, mais desenvolvida~
como premissa a regra da maioria, e isso é difícil numa situação de a classe média"27. -
desigualdades concentradas, em que uma maioria grande e pobre Nas Filipinas, os profissionais liberais de classe média e os
confronta-se com uma oligarquia pequena e rica. A democracia po- homens e mulheres de negócios cerraram fileiras nas demonstra-
de ser possível numa sociedade agrícola relativamente pobre, tal co- ções contra Marcos em 1984. No ano seguinte, os grupos centrais
mo os Estados Unidos do começo do século XIX ou a Costa Rica da campanha de Aquino eram "a classe média, os médicos e advo-
do século XX, onde a propriedade de terras seja relativamente igua- gados não ligados à política, que ofereceram seus serviços voluntá-
litária. Normalmente, no entanto, uma classe média substancial é rios não aos partidos, mas aos candidatos de oposição ou ao Mo-
resultado da industrialização e do crescimento econômico. Em suas vimento Nacional por Eleições Livres (NAMFREL), que agregava
fases iniciais, a classe média não é necessariamente uma força a fa- grupos de vigilância de cidadãos"28. Na Esp~r:ha, o desenvolvimen-
vor da democracia. Em certos momentos, na América Latina e em to econômico criou uma "nação das classes médias modernas", que
outros lugares, gt:..tW9.s.declassemédia~oiaram ativamente ou con- possibilitou o rápido e pacífico processo de sintonia do sistema
corciaram com golpes militares destinados a derrubar governos radi- . político com a sociedade29. Em Taiwan, "os principais atores da
cais ou a reduzir a influência política das organizações operárias ou mudança política" foram os "recém-surgidos intelectuais de classe
camponesas. No entanto, na medida em que foi avançando o pro- média, nascidos durante o período de rápido crescimento econô-
cesso de modernização, os movimentos rurais radicais passaram a mico"30. Na Coréia, o movimento pela democracia nos anos 80 só
ter peso menor no processo político_e a classe média urbana aume~- se tornou uma ameaça séria ao regime autoritário após o surgi-
tou de tamanho, comparada à classe dos trabalhadores industriais; mento, naquela mesma década, de "uma florescente classe média
Assim, diminuíram as potenciais ameaças que a democracia coloca- urbana" e depois que os profissionais liberais de classe média se
va para os grupos de classe média, que passaram a ter confiança juntaram aos estudantes para exigir o fim do autoritarismo. A mo-
bilização das "classes gerenciais e profissionais de Seul [...] talvez ram um crescimento econômico explosivo. Entre 1913 e 1960, a ta-
tenha sido uma força maior do que qualquer outro" fator na tran- xa média composta de crescimento anual foi negativa na Espanha e
sição para a democracia em 1987. Referindo-se às manifestações de menos de 1% na Grécia e em Portugal. Entre 1950 e 1973, as taxas
1987 contra o regime autoritário de Chun, o Economist pergunta- foram de 5,2% na Espanha, 5,3% em Portugal e 6,2% na Grécia. As
va: "O que acontece quando o gás lacrimogêneo encontra a classe taxas de crescimento do PNB nesses três países, entre 1960 e 1973,
média em Seul?"3l. A resposta logo ficou clara: o gás lacrimogêneo foram de 6-8%, enquanto outros países europeus ocidentais apre-
perde. Em vários países, entre eles Espanha, Brasil, Peru, Equador sentaram taxas de 4-5%; entre 1960 e 1980, o PNB per capita cres-
e Filipinas, a comunidade dos negócios, que anteriormente tinha ceu mais rapidamente do que em todos os outros países da
apoiado a criação de regimes autoritários, desempenhou um papel Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico
crucial na promoção das transições para a democracia32. Em con- (OCDE), exceto o Japã033.
traste, onde a classe média urbana era menor ou mais fraca, como _O crescimento econôlllico rápido cria rapidamente.ª baBeeco-
na China, Birmânia, Sudão, Bulgária e Romênia, a democracia não nômica para a democradã: quê o crescimento econômico lento cria
teve êxito ou se mostrou instável. lentamente. No entanto, também eleva as expectativas, exacerba ás
K
'te" / O processo de desenvolvimento econômico, que, se O'Donnell
estiver certo, produziu autoritarismo butocrático na década de 1960,
! I também gerou a força para a democratização nos anos 80. Uma
~proximação plausível das conexões causais que levaram a tal resulta-
do é apresentada na figura 2.1.
desigualdades e cria tensões e pressões no tecido social que estimu-
lam a mobilização e as demandas por participação política.-lli.,,,,.
º~ia, por exemplo, nos anos 50 e 60 um crescimento econômico
rápid~ e desigual produziu "maior consciência, politização, frustra-
ção e ressentimento", levando à "inquietação social e à mobilização
política"34. Tais pressões foram uma causa importante para o golpe
povo com mais
~~~~~~-. instrução superior
de 1967, que tinha como um de seus propósitos sufocá-Ias. O cres-
cimento econômico, no entanto, continuou sob o regime militar
~ até 1973. O regime tentou realizar simultaneamente duas políticas
atitudes de cultura
nível mais alto de cívica- apoio para a conflitantes. Ele "tentou deter e reverter o processo de democratiza-
desenvolvimento econômico -~-~.. confiança, -~- ••
- democratização
satisfação,
ção. Mas, ao mesmo tempo, estava comprometido com o cresci-
competência mento econômico rápido e com a modernização"35. Cresceram a
/ frustração social e o descontentamento político. No final de 1973,
,-------~. maior classe média a alta nos preços do petróleo acrescentou uma fonte adicional de
descontentamento; o regime, então, tinha de liberalizar ou aumen-
tar a repressão. Papadopoulos tentou se mover numa direção libe-
ralizadora; os estudantes da Universidade Técnica Nacional
(C;;;;:;;;;;~~~~agem dos países para as'faixas de ren- (Politécnica) protestaram e exigiram mais. As manifestações foram
da média da zona'dnransição econômica levou, assim, a mudanças dissolvidas a tiros, e os militares da linha-duta seguidores de Ioan-
nas estruturas sociais, crenças e cultura favoráveis ao surgimento da nidis derrubaram Papadopoulos, apenas para serem derrubados
democracia. Taxas de crescimento econômico extremamente altas meio ano depois, ao provocar um confronto militar com Chipre.
em alguns países também geraram insatisfação com o governo auto- Na Espanha, contradições semelhantes foram provocadas pelo
ritário então existente. Nas duas décadas anteriores às suas transições "periõaõ··ae·cr~~Cimento econômico sem precedentes" dos anos 60.
em meados dos anos 70, Espanha, Portugal e Grécia experimema- Os líderes do regime de Franco tinham a esperança de que tal cresci-
mento tornasse a população feliz, satisfeita e desinteressada em polí- Médici começou a considerar os modos de produzir uma distensão*.
tica. "Na prática, no entanto, o crescimento econômico rápido exa- O presidente Geisel e seu principal conselheiro, o general Golbery
cerbou ou catalisou os principais conflitos da sociedade espanhola e do Couto e Silva, começaram tal processo e levaram-no adiante até
promoveu mudanças culturais, sociais e políticas que colocaram em 1978. O presidente João Figueiredo continuou-o e ampliou-o, num
dúvida a viabilidade do regime. Os arranjos políticos, originalmente , processo de abertura**. As ações dos dois presidentes evitaram um
construídos numa sociedade basicamente agrária e após uma debili- ~flito social maior e abriram o caminho para a democracia.
tadora Guerra Civil, mostraram-se anacrônicos quando tiveram de Dos anos 60 aos anos 80, as taxas de crescimento alcançadas
enfrentar as tensões de uma sociedade industrializada em rápida pela Coréia do Sul e por Taiwan situaram-se entre as mais altas do
transformação"36. As demandas políticas geradas pelo crescimento mundo. As duas sociedades transformaram-se, economicamente e
rápido superimpuseram-se a uma economia na qual a base econômi- socialmente. Por duas razões as pressões pela democratização nos
ca e social da democracia já estava plenamente estabelecida. Na dé- dois países se deram de maneira mais lenta do que nas sociedades eu-
cada de 1960, Laureano Lopez Rodo, ministro do Planejamento no ropéias e latino-americanas. Primeiro, as tradições culturais confu-
governo de Franco, profetizou que a Espanha tornar-se-ia democrá- cionistas, que valorizam a hierarquia, a autoridade, a comunidade e
tica quando sua renda per capita alcançasse $2,000. Foi o que acon- a lealdade, atrasaram a articulação, pelos grupos sociais, de deman-
teceu. A transição foi ainda estimulada pela oportuna morte de das mais intensas sobre o governo. Segundo, em contraste com ou-
Franco em 1975. Se ele não tivesse morrido naquele momento e se tras sociedades, o rápido crescimento econômico na Coréia e em
Juan Carlos não tivesse se comprometido a criar uma democracia Taiwan ocorreu em um contexto de padrões de distribuição de ren-
parlamentar, a polarização poderia ter levado à violência social e po- da relativamente igualitários. Isso, por várias causas, entre elas os
deria ter diluído seriamente as perspectivas de uma democracia na programas de reforma agrária, no final da década de 1940 e no co-
Espanha. O fato é que os pré-requisitos econômicos e sociais para a meço da década de 1950, e a obtenção precoce de altos níveis de al-
democracia já estavam presentes na Espanha em 1975, e, assim, uma fabetização e de instrução. As desigualdades associadas ao rápido
liderança preparada e comprometida pôde levar a cabo a democrati- crescimento presentes no Brasil estavam, de maneira notável, ausen-
zação de maneira relativamente rápida e tranqüila. tesnesses dois países do Leste asiático. Apesar disso, nos anos 80, o
No final da década de 1960 e início da de 70, o Brasil viveu desenvolvimento econômico tinha chegado a um ponto em que as
um "milagre econômico". De 1968 a 1973 seu PNB cresceu a uma pressões por uma maior participação política levaram os governos
taxa média próxima a 10% ao ano. Isso intensificou sua desigual dis- dos dois países a começar processos de democratização.
tribuição de renda, que já era grande, o que fez com que certas pes- O crescimento econômico muito rápido inevitavelmente colo-
soas retratassem o Brasil como a epítome do desenvolvimento capi- cou desafios para os líderes autoritários. Mas não necessariamente
talista, em que as empresas multinacionais e seus parceiros locais se levou-os a introduzir a democracia. Entre 1960 e 1975, o PNB do
, beneficiavam, enquanto os operários e trabalhadores rurais sofriam. Brasilcresceu a uma taxa média anuJd~ 8°;o.'Ness~
m~;~'~~-~~~s,'
o
Também fez com que Ernesto Geisel, que tinha se tornado presiden- PNB do Irã cresceu a uma taxa de 10%. Entre 1980 e 1987, o PNB
te em 1974, comentasse que o "Brasil vai bem, mas os brasileiros vão da China cresceu também a uma taxa anual de 10%. Tais taxas de
mal". As pressões do rápido crescimento econômico que tinham le- crescimento geraram tensões e pressões altamente desestabilizadoras
vado à extinção do regime militar na Grécia e à transformação da di- nesses três sistemas autoritários, intensificaram as desigualdades e
tadura na Espanha também se manifestavam no Brasil. Seus líderes ?j, .,"] J U :1 ..
militares, no entanto, estavam conscientes de tais pressões e determi- C- .>J ~fi
frustrações e estimularam os grupos sociais a fazer exigências a seus tiveram um papel central nas lutas contra governos repressivos.
governos. Os líderes desses três países responderam de três maneiras ._.pare~~.pkus.[yet-ª..hipótesed~9.uea expansão~(?qisÜ@ÁsmQe!lC9:.
diferentes. Geisel abriu; Deng caiu; o xá hesitou. Demoçracia, re- raja o desenvolvimento democrático .
p~ e revolução foram os.r~spectivos resultados de suas escolhas. . -.. Ondeo'-cilsríaIílsffiõ-expanãiU-se significativamente nos anos
r/- '-~ngo prazo, o~envolvimento econômico. cria as 60 e 70? A resposta é: em muito poucos lugares. O caso mais desta-
\ bases para-õs regimes democráticos. A curto prazo, o creSCImento cado foi a Coréia do Sul. Com breves intervalos, a Coréia primeiro
econômico muito rápido e as crises econômicas podem solapar os teve um rêgime civil semidemocrático com Syngman Rhee nos anos
regimes autoritários. Se o crescimento econômico ocorrer sem crise 50, um regime militar semidemocrático com Park Chung Hee nos
econômica, a democracia evolui lentamente, como aconteceu na anos 60, e ditaduras militares com Park e com o Gal. Chun Doo
Europa no século XIX. Se o crescimento desestabilizador ou a crise Hwan nos anos 70 e 80, ocorrendo a transição para a democracia em
econômica ocorrerem sem que se tenha chegado à zona d~ transi- 1987. Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Coréia era, basica-
ção, os regimes autoritários podem cair, mas sua substituição por mente, um país budista com uma camada confucionista. Cerca de
regimes democráticos duradouros é altamente problemática. Na 1% da população era cristã - quatro quintos protestantes, um
terceira onda, a combinação de níveis substanciais de desenvolvi- quinto católica. Os convertidos cristãos eram basicamente jovens,
mento econômico e crise econômica de curto prazo foi a fórmula urbanos e de classe média. Suas razões para desposar o cristianismo
econômica mais favorável para a transição do governo autoritário decorriam das profundas mudanças sociais e econômicas que esta-
para o democrátic037. vam acontecendo na Coréia. "Para os milhões que migraram para as
cidades", como descreve um relato, "e para muitos que ficaram no
campo, profundamente alterado, o budismo imobilista da era agrá-
ria da Coréia perdeu os atrativos. O cristianismo com sua mensagem
de salvação pessoal e de destino individual oferecia um conforto
mais seguro num tempo de confusão e mudançà'39.
Dois desenvolvimentos na religião promoveram a democratiza- O cristianismo, ademais, oferece uma base institucional e dou-
ção nos anos 70 e 80. trinária mais segura para a oposição à repressão política. O cristianis-
Existe uma forte correlação entre cristianismo ocidental e de- mo, como disse um sul-coreano, "era diferente, porque promovia a
mocraCia. Ã democr~cia moderna desenvolveu-se primeiro e mais vi- idéia da igualdade e o respeito por uma autoridade independente do
gorosamerite nos países cristãos. Em 1988, o catolicismo e/ou o pro- Estado"40.O autoritarismo confuciano e a passividade budista foram
testantismo eram as religiões dominantes em 39 entre 46 países de- substituídos pela militância cristã. Em 1974, cinco bispos lideraram
mocráticos. Tais 39 países democráticos significavam 57% de um 5000 católicos romanos na primeira grande demonstração contra a
total de 68 países predominantemente cristãos ocidentais. Em con- lei marcial do regime do presidente Park. Muitos dos principais líde-
traste, apenas sete, ou 12%, entre 58 países com outras religiões pre- res dos movimentos de oposição, tais como Kim Dae Jung e Kim
dominantes eram democráticos. A democracia era especialmente es- Young Sam, eram cristãos, e o clero protestante e católico, tais como
cassa entre países predominantemente muçulmanos, budistas ou o Rev. Moon Ik Hwan e o cardeal Kim Sou Hwan, lideraram os ata-
confucionistas38. ques à repressão do governo militar. No início da década de 1980, as
Tal correlação não prova a causação. Mas o cristianismo oci- igrejas tinham se tornado "o principal foro de oposição ao regime".
dental enfatiza a dignidade do indivíduo e as esferas separadas da Em 1986 e 1987, o cardeal Kim, outros líderes católicos e a princi-
Igreja e do Estado. Em muitos países, líderes protestantes e católicos pal organização protestante, o Conselho Nacional de Igrejas, apoia-
ram decisivamente a campanha da oposição em prol de eleições dire- ra mais democrática, destacando-se a supremacia da congregação,
tas para presidente. No conflito com o governo, "igrejas e catedrais com um bispado inexistente ou muito limitado. Em contraste, a
deram uma base institucional para as atividades dos direitos huma- Igreja católica era uma organização autoritária, com seus padres, bis-
nos e da justiça, e um espaço público para opiniões e fés dissidentes. pos, arcebispos e cardeais, culminando no papa e na doutrina da in-
Padres católicos, a Associação Católica Romana de Jovens Tra- falibilidade papal. Os países católicos, como Pierre Elliot Trudeau
balhadores Católicos, a Missão Urbana Industrial e ministros protes- observou, "são autoritários em questões espirituais; e como a linha
tantes eram politizados e passaram a representar uma parte impor- divisória entre o espiritual e o temporal pode ser muito tênue, ou até
tante do movimento antigovernista. A catedral Myong-Dong, em mesmo confusa, muitas vezes eles não têm a inclinação de buscar so-
Seul, transformou-se em lugar simbólico para os dissidentes políti- luções para as questões temporais através da mera contagem de pes-
COS"41.Assim, num certo sentido, a Coréia inverteu a conexão de soas"43. Finalmente, há a tese de Weber: o protestantismo encoraja a
Weber: o desenvolvimento econômico promoveu a expansão da cris- empresa econômica, o desenvolvimento de uma burguesia, o capita-
tandade, e as igrejas cristãs, seus líderes e participantes, foram uma lismo e a riqueza econômica, que facilitam o aparecimento de insti-
~ força importante na transição para a democracia em 1987 e 1988. tuições democráticas.
D O segundo e mais importante desenvolvimento religioso em Até os anos 60 tais argumentos e a associação que eles expli-
favor da democratização foram as profundas mudanças ocorridas na cam, entre religi~o e demo.cracia, pareciam fora de disc~ssão.~~ __ 1/
doutrina, nas lideranças, no envolvimento popular e no alinhamen- não acontece m~ls. Atel"Ct;lr}.gnda~dos.anQs_Zº~,~_80fol 7~l.l9<P- I>
to político da Igreja católica romana, globalmente e em muitos paí- mente uma o-rida católica. Dois (Portugal e Espanha) dos três pri-
ses. "Historicamente, protestantismo e democracia sempre estiv:er~m m(iros~pãíses da--terceíiã'ônda a se democratizar eram católicos. A
ligados. O primeiro impulso democrático no mundo ocidental ocor- democratização, depois, varreu seis países sul-americanos e três da
reu com a revolução puritana no século XVII. A imensa maioria dos América Central. Deslocou-se para as Filipinas, o primeiro país do
países que se tornaram democráticos na primeira onda de democra- Leste asiático a se democratizar, voltou para o Chile, afetou o
tização, no século XIX, eram protestantes. Os países da segunda on- México, e então explodiu na Polônia e na Hungria, países católicos e
da, após a Segunda Guerra Mundial, eram diversificados em termos os primeiros da Europa oriental a se democratizarem. Os países cató-
de religião; apesar disso, nos anos 60 havia uma relação significativa licos assumiram a liderança em todas as regiões do mundo, e a região
entre essas duas variáveis. Em 99 países, é o que mostra um estudo, mais católica de todas, a América Latina, foi a região que se demo-
"quanto maior a proporção da população protestante, maior o nível cratizou mais completamente. No total, .cerca c!.e~~_êsquartos dos"
de democracia". Em contraste, o catolicismo estava associado com a paf~esque transitaram para a democracia entre19l4e 1989 eram
ausência de democracia ou com um desenvolvimento democrático Cltólicos. .
limitado ou tardio. O catolicismo, observou Lipset, "parece antitéti- Como explicar isso? Uma resposta parcial, claro, é que no iní-
co à democracia na Europa antes da Primeira Guerra Mundial e na cio da década de 1970 a maioria dos principais países protestantes já
América Latinà'42. se tinha tornado democrática. As principais exceções eram a
Foram apresentadas três razões plausíveis para tais relações. Alemanha Oriental e a África do Sul, e os líderes da Igreja protestan-
Doutrinariamente, o protestantismo enfatizava a consciência indivi~ te promoveram a democratização nesses países, assim como na
dual, o acesso do indivíduo ao Texto Sagrado, na Bíblia, e a relação Coréia. No entanto, se muitos outros países se tornassem democrá-
direta do indivíduo com Deus. O catolicismo enfatizava o papel in- ticos, teriam de ser católicos, ortodoxos ou não-cristãos. Continua a
termediário dos sacerdotes, simbolizado na missa em latim. pergunta: por que católicos? Uma explicação parcial pode estar na
Segunda, as próprias igrejas protestantes eram organizadas de manei- inversão de outra correlação católica desfavorável que antes existia.
Historicamente, os países protestantes tiveram um desenvolvimento O Vaticano II destacou a legitimidade e a necessidade de mudanças
econômico mais rápido do que os países católicos e alcançaram níveis sociais, a importância de uma ação colegiada pelos bispos, padres e
mais altos de bem-estar econômico. Os países católicos eram países leigos, a dedicação aos pobres, o caráter contingente das estruturas
pobres. No entanto, a partir dos anos 50, os países católicos começa- políticas e sociais, e os direitos dos indivíduos. Os líderes eclesiásti-
ram a apresentar taxas de crescimento econômico mais altas do que cos, afirmava o Vaticano lI, tinham a responsabilidade de "fazer jul-
os protestantes. Em grande parte, é claro, isso se deu porque em geral gamentos morais, mesmo em questões de ordem política, sempre
se situavam em níveis mais baixos de desenvolvimento econômico. que os direitos pessoais básicos [...) tornarem necessários tais julga-
No entanto, não há dúvida de que o crescimento econômico facilitou mentos"46. Tais pontos de vista foram reafirmados e elaborados nas
as transições para a democracia em vários países católicos44. conferências dos bispos latino-americanos de 1968, em Medellin, e
, Uma causa mais abrangente para o surgimento da democracia de 1979, em Puebla, e em reuniões de bispos em outros lugares.
nos países católicos foi a mudança na Igreja católica. Bistofi- Ao mesmo tempo, estavam acontecendo mudanças igualmen-
camente, na península Ibérica, na América Latina e em todos os lu- te significativas no envolvimento popular e nas atividades eclesiásti-
gares, a Igreja católica sempre se associou ao poder local, à oligarquia cas da base da Igreja. Por exemplo, na_Esp~~~a,em 1960, Juan
proprietária de terras e aos governos autoritários. _,Nos anos 60, a Linz observou que ... _.
Igrejamudou. As mudanças em seu interior levaram uma poderosa
• instItuiçãõ social a se colocar em oposição aos regimes ditatoriais, As novas gerações de padres, alguns deles de vocação tardia, talvez
um recrutamento menos rural dodero, uma maior consciência da in-
privaram tais regimes de qualquer legitimidade que pudesse ser da-
justiça social e o contato com a classe trabalhadora, descristianizada,
da pela religião e deram proteção, apoio, recursos e lideranças aos os estudos sociológicos sobre a prática religiosa, a identificação do
movimentos oposicionistas favoráveis à democracia. Até meados da clero com as minorias culturais e lingüísticas do País Basco e da
década de 1960 a Igreja católica normalmente se acomodava aos re- Catalunha, e, acima de tudo, o impacto do concílio Vaticano 11,pro-
duziram um fermento de crítica e inquietação nos mais jovens dentre
gimes autoritários e freqüentemente os legitimava. Após meados os intelectuais, leigos e clero católicos, bem como conflitos com as
dos anos 60, a Igreja quase que invariavelmente se opôs aos regimes autoridades47.
autoritários; e em alguns países, como .Brasil,Chile, Filipinas,
Pol9nia e países da América Central, desempenhou um papel cen- No Brasil, os anos 60 e 70 viram a rápida propagação, por to-
tral nos esforços de mudança de tais regimes. Esse reposicionamen- do o'país, das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que em 1974
to da Igreja católica, passando de baluarte do status quo, normal- chegaram a 40000 e deram um caráter inteiramente novo à igreja
mente autoritário, a força favorável às mudanças, normalmente de- brasileira. Simultaneamente, nas Filipinas, desenvolveu-se uma "es-
mocráticas, foi um grande fenômeno político. Os cientistas sociais querda cristã", abrangendo padres e militantes de base, alguns deles
dos anos 50 estavam certos: o catolicismo era, então, um obstáculo marxistas, outros, defensores de uma democracia social antiimperia-
à democracia. No entanto, depois de 1970 o catolicismo transfor- lista e anticomunista ao mesmo tempo. No final dos anos 70, na
mou-se numa força em prol da democracia, devido a mudanças no .Argentina...a Igreja se afastou dramaticamente de sua anterior colora-
interior da Igreja católica45. ção conservadora e os padres mobilizaram um maciço movimento
Tais mudanças aconteceram em dois níveis. Ao nível global, a de jovens que levou a um "extraordinário renascimento evangélico".
mudança foi realizada pelo papa João XXIII. As mudanças decorre- Similarmente, aconteceu uma "politização na base da Igrejà' na
ram de seu próprio estilo e compromissos, e das doutrinas que ele ar- Polônia e no Chile: "os alicerces da posição da Igreja em cada país re-
ticulou em suas encíclicas. Mas a fonte mais importante foi o concí- montam a movimentos de jovens e agressivos padres fortemente
lio Vaticano lI, que ele conclamou e que se reuniu de 1962 a 1965. identificados com as aspirações da sociedade local e que buscaram
('
1.1'"
organizar ou proteger movimentos sociais não-violentos e autentica- rência Nacional dos Bispos ou uma alta liderança da Igreja explicita-
mente representativos"48. Essas novas correntes de mobilização de mente colocava a Igreja em oposição ao regime. NO"ChillQos brutais
base, combinadas com a nova corrente doutrinária vinda do abusos contra os direitos humanos cometidos pelo regime militar,
Vaticano, criaram uma nova Igreja quase invariavelmente em oposi- pouco depois de chegar ao poder, levaram a um rompimento prema-
ção aos governos autoritários. turo e à formação do Vicariato da Solidariedade, em janeiro de 1976 .
. Nos países não-comunistas, as relaçÕesentre a Igreja e os gov.er.- No Brasil, o rompimento também aconteceu cedo na vida do gover-
nos autoritários atravessaram, em geral, três fases: aceitação, ambiva- no militar, quando a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil apre-
lência e oposição. Inicialmente, os elementos conservadores eram sentou um documento denunciando a doutrina governamental de
em geral dominantes na hierarquia, incorporando a posição históri-
segurança nacional como "fascistà', abrindo o caminho para uma ati-
ca da Igreja enquanto parceira do establishment e defensora da paz
va oposição da Igreja, relembrando aos brasileiros a Alemanha nazis-
social: Em geral, os líderes da Igreja davam as boas-vindas ao estabe-
ta, onde os cristãos "aceitaram as doutrinas do governo sem reconhe-
lecimento de um regime autoritário. Na Espanha, a Igreja contri-
cer que elas contradiziam as verdadeiras exigências da cristandade".
buiu para a vitória de Franco e por muito tempo apoiou seu gover-
Pouco depois, o cardeal de São Paulo dramaticamente confirmou o
no. Os bispos brasileiros adotaram uma "posição entusiasticamente
rompimento quando, num insulto calculado, recusou-se a celebrar
pró-militar" imediatamente após o golpe de 1964. Na Argentina, no
uma missa de ação de graças pelo aniversário do presidente militar
Chile e em outros lugares, a Igreja legitimou, de maneira semelhan-
do Brasilso,_NaEspap.lla)o rompimento aconteceu muito mais tarde
te, os golpes militares49.
na história do regime, com a convocação de uma Assembléia de
À medida que o regime autoritário mantinha-se no poder e nor-
malmente intensificava a repressão, e que a hierarquia nacional sentia Bispos e Padres em Madri, em setembro de 1971. Para a igreja espa-
as tendências convergentes dos movimentos de base e do Vaticano, a nhola, tratava-se de uma reunião extraordinariamente democrática;
posição da Igreja se modificava. No Brasil, nas Filipinas, no Chile, nos seus relatórios foram amplamente divulgados; "deram uma lição de
países da América Central e em outros lugares, duas correntes de pen- democracia" ao povo espanhol e aprovaram resoluções defendendo
samento e ação oposicionistas tendiam a se desenvolver no interior da "o direito à liberdade de expressão, de associação e de reuniÕes sindi-
Igreja. Uma corrente socialista ou "vermelhà' pregava a justiça social, cais, na verdade, todos os direitos cujo exercício havia sido sempre
os males do capitalismo e a necessidade fundamental de ajudar os po- severamente limitado durante o regime de Franco", Como resultado
bres, e freqüentem ente incorporava em seu pensamento vários ele- da assembléia, "a Igreja claramente se separou do Estado e abando-
mentos marxistas da "teologia da libertação". Essa última influência nou o papel de legitimadora do regime"sl. Tais mudanças foram to-
não levou a Igreja na direção da democracia, mas em todos os países, talmente apoiadas pelo Vaticano. Nas Filipinas, o rompimento acon-
exceto a Nicarágua, ajudou a mobilizar os católicos em oposição às di- teceu em 1979, quando o carde~l ]àime Sin pediu o fim da lei mar-
taduras existentes. Na maioria dos países, no entanto, também se de- cial e novas eleições, que Marcos não convocou. Na _~!ge_n.Ena,
senvolveu uma corrente de oposição moderada ou "amarela" (como aconteceu em 1981, com a divulgação, pela Igreja, de um documen-
era conhecida nas Filipinas), que tipicamente incluía a maior parte do to sobre a "Igreja e a Comunidade Nacional". Na .9~~!~E:.~~.< a
episcopado e enfatizava os direitos humanos e a democracia. Como re- Igreja deixou de ser uma defensora da ordem existente e tornou-se
sultado de tais desenvolvimentos, a posição global das igrejas normal- advogada da justiça social, da reforma e da democracia quando os
mente passou da acomodação para a ambivalência. bispos divulgaram "uma série de mais de 15 cartas pastorais e de-
Em algum momento, na maioria dos países, chegou-se a um núncias públicas entre 1983 e 1986, todas elas conclamando ao res-
ponto de rompimento nas relações Igreja-Estado, em que a Confe- peito aos direitos humanos e às reformas social, econômica e agrá-
ria"52. Em .EI ?al~,!~(),lj"a Igreja, liderada pelo arcebispo Romero, garantir eleições honestas55.(O primeiro NAMFREL foi criado com
também rompeu com o governo depois de 1977. propósitos semelhantes pela CIA em 1953.)
Em virtualmente todos os casos em que os líderes da Igreja de- Além de tudo, é claro, a Igreja era uma organização transnacio-
nunciaram o regime, este retaliou com ataques cada vez maiores aos na!. Eventualmente podia-se usar a influência do Vaticano, assim
padres, ativistas, publicações, organizações e propriedades católicas. como a de outras Igrejas nacionais e a de católicos de outros países.
Muitas vezes padres e trabalhadores da Igreja foram presos, tortura- A Igreja brasileira, por exemplo, mobilizou o apoio no exterior "atra-
dos e, às vezes, mortos. Criaram-se mártires. O resultado, muitas ve- vés do Vaticano, do clero e de leigos simpatizantes na Europa e nos
zes, foi um estado de guerra política, ideológica e econômica entre Estados Unidos, e de outros ativistas de fora do Brasil que lutavam
Igreja e Estado, com a Igreja se tornando, como no Brasil, o "mais pelos direitos humanos, gerando, assim, protestos na imprensa ame-
conspícuo adversário" do Estado autoritário e, como no Chile, "o ricana e européia. As críticas de tais setores deixavam os militares
centro da oposição moral ao regime"53. Nas Filipinas e em outros brasileiros particularmente constrangidos"56.
países, a Igreja tornou-se a principal instituição a denunciar a repres- Com a ascensão de João Paulo 11,o papa e o Vaticano assumi- (
são, a defender os direitos humanos e a estimular a transição para a ram uma posição central na luta da Igreja contra o autoritarismo. ~ '.,
democracia~.A única exceção interessante num país profundamente Em sua primeira encíclica, em março de 1979, João Paulo 11denun-
católico foi á Polônia, onde, a partir de 1980, o Solidariedade mono- ciou violações aos direitos humanos e explicitamente identificou a
polizou o papel de principal oposição e a Igreja polonesa, liderada Igreja como "a guardiã" da liberdade "que é condição e base para a
pelo c'!-.utelosocardeal Józef Glemp, desempenhou por vários anos o verdadeira dignidade da pessoa humana". As visitas papais passaram
papel de mediador entre o governo e a oposição. a desempenhar um papel-chave. João Paulo 11parecia ter o dom de
As igrejas nacionais trouxeram muitos recursos para sua guerra apresentar-se em plena majestade pontifical nos pontos críticos dos
contra o autoritarismo. Organizações e edifícios eclesiásticos deram processos de democratização: Polônia, junho de 1979, junho de
refúgio e apoio aos oponentes do regime. Estações de rádio, periódi- 1983 e junho de 1987; Brasil, junho-julho de 1980; Filipinas, feve-
cos e jornais da Igreja articularam a causa da oposição. Como insti- reiro de 1981; Argentina, junho de 1982; Guatemala, Nicarágua, EI
tuição espalhada por todo o país e bastante popular, a Igreja tinha, Salvador, Haiti, março de 1983; Coréia, maio de 1984; Chile, abril
como no Brasil, uma "rede nacional de membros que podiam ser de 1987; Paraguai, maio de 1988.
mobilizados"54. Num certo sentido, era uma máquina política nacio- O propósito de tais visitas, como o de suas muitas visitas em
nal latente, com centenas ou milhares de padres, freiras e ativi~tas outros lugares, era sempre apresentado como pastoral. Seus efeitos
leigos que podiam dar poder popular aos protestos da oposição. eram quase invariavelmente políticos. Em alguns casos, como na
Muitas vezes a Igreja dispunha de líderes, como os cardeais Arns, no Coréia e nas Filipinas, defensores da democratização naqueles países
Brasil, Sin, nas Filipinas, Romero, em EI Salvador, e Kim, na Coréia, lamentaram que o papa não tivesse sido mais explícito no apoio à
que eram políticos extremamente hábeis. A Igreja criou organiza- sua causa. Em geral, no entanto, ele era bem explícito na defesa das
ções, tais como o Vicariado da Solidariedade, no Chile, para dar Igrejas locais em suas lutas contra os governos autoritários, e na
Polônia, Guatemala, Nicarágua, Chile, Paraguai e em outros países
apoio à oposição, e o segundo Movimento Nacional por Eleições
ele claramente se identificou com a oposição ao regime5? Seu maior
Livres (NAMFREL, ou "Nunfrel", como muitas vezes era chama-
impacto, claro, foi na Polônia, onde sua dramática visita, em 1979,
do*) nas Filipinas, para promover o retorno ao processo eleitoral e
como disse um bispo polonês, mudou "a mentalidade de medo, o
medo da polícia e dos tanques, de perder o emprego, de não ser pro-
movido, de ser expulso da escola, de não conseguir um passaporte.
As pessoas aprenderam que, se deixassem de ter medo do sistema, o num programa partidário de união. Um mês antes da eleição, o car-
sistema estava perdido". Essa "primeira grande peregrinação", como deal enviou cartas a todas as 2000 paróquias das Filipinas, instruin-
observou Timothy Garton Ash, foi "o começo do fim" do .comunis- do os católicos a votarem em "pessoas que incorporassem os valores
mo na Europa oriental. ''Aqui, pela primeira vez, vimos aquela ma- evangélicos de humildade, verdade, honestidade, respeito pelos di-
nifestação de unidade social em grande escala, permanente, mas ao reitos e pela vida humana". Isso não deve ter deixado qualquer dúvi-
mesmo tempo extremamente pacífica e autodisciplinada: a multidão da quanto a quem o cardeal estava apoiando, mas mesmo assim ele
tranqüila contra o Partido-Estado, que em 1989 era a marca e cata- foi além, dando um apoio virtualmente explícito a Aquino. Depois
lisador essencial interno das mudanças em todos os países, exceto a que Marcos tentou fraudar as eleições e aconteceu a revolta militar
Romênia (e mesmo na Romênia não foram as multidões que come- em Camp Craeme, ele usou a organização eclesiástica e a rádio da
çaram a violência)."58 Diante de Pinochet, no Chile, em 1987, o pa- Igreja para mobilizar a população em favor dos militares. "Não se
pa expressou a relação da democracia com sua missão: "Não sou o podia deixar de perceber o tom religioso dos três dias de revolta,
evangelizador da democracia; sou o evangelizador da Palavra de com freiras e padres ocupando as linhas de frente das barricadas hu-
Deus. À mensagem da Palavra de Deus, é claro, pertencem todos os manas e os generais rebeldes erguendo a estátua da Virgem diante da
problemas dos direitos humanos; e se a democracia significa direitos multidão. Depois que Marcos finalmente foi para o Havaí, o cardeal
humanos, ela também pertence à mensagem da Igrejà'59. Sin celebrou uma triunfal missa em ação de graças na Luneta, salmo-
Finalmente, os líderes e as organizações da Igreja às vezes in- diando 'Cory' e exibindo o Lábaro."61 O cardeal Sin talvez tenha si-
tervieram politicamente em momentos críticos no processo de de- do, desde o século XVII, o prelado católico de papel mais ativo e po-
mocratização. Em 1978, na República Dominicana, a Igreja de- deroso na definição do fim de um regime e na mudança das lideran-
nunciou as tentativas de interromper a contagem de vptos e de pro- ças políticas nacionais. ,
longar o mandato do presidente Belaguer. Em 1989, os líderes da No geral, se não fosse pelas mudanças no interior da Igreja dr.:t
Igreja do Panamá, de maneira semelhante, denunciaram a fraude tólica e as ações resultantes da Igreja contra o autoritarismo, teria I
eleitoral de Noriega e convidaram as tropas panamenhas a desobe- ocorrido um menor número de transições para a democracia na ter-!
decer as ordens de agir contra os manifestantes de oposição. Na ceira onda, e muitas das que aconteceram teriam se dado mais tarde.
Nicarágua, o cardeal Obando y Bravo organizou a oposição contra País após país, a escolha entre democracia e autoritarismo personifi-
o governo sandinista. No Chile, o cardeal Juan Francisco Fresno, cou-se no conflito entre o cardeal e o ditador. Nos anos 70 e 80, oi
assim como seu predecessor, o cardeal Raúl Silva Enríquez, colo- catolicismo perde apenas para o desenvolvimento eCÇ>nômicocomo i
cou-se à frente na luta contra o regime de Pinochet, e em agosto de a mais generalizada força em prol da democracia. O logotipo da tet-\
1985 desempenhou um papel ativo ao reunir os líderes de 11 parti- ceira onda poderia muito bem ser um crucifixo sobreposto a~
dos políticos para assinar o Acordo Nacional que exigia reformas símbolo do dólar.
constitucionais e eleições. Num momento crucial, em 1986, na
campanha pela democracia na Coréia, o cardeal Kim, num movi-
mento político aberto, defendeu explicitamente a necessidade de
"revisão constitucional" e afirmou: "Nós temos de trazer urgente-
mente a democracia para a Coréia"60.
O envolvimento político mais extremado de um líder da Igreja A democratização num país pode ser influenciada, talvez de
se deu, indubitavelmente, nas Filipinas. O cardeal Sin negociou os maneira decisiva, pelas ações de governos e instituições externas a
acordos segundo os quais Aquino e Salvador Laurel se juntaram ele. Em 1970, em 15 das 29 democracias, como observou Robert
1
Dahl, os regimes democráticos haviam sido instituídos seja em pe- mocratizaçã~.,B-0ma deslegitimou os regimes autoritários nos países!
ríodos de domínio estrangeiro, seja quando o país se tornou inde- católicos; Bruxelas deu incentivos para a democratização na Europa 1
pendente do domínio estrangeiro62.Obviamente, atores e~trangeiros do sul e do leste; W~shin..f~onestimulou a democracia na América I
também derrubam regimes democráticos ou impedem a democrati- Latina e na Ásia; Moscou removeu o principal obstáculo à democra- )
zação em certos países. Talvez se deva dizer que os atores estrangeiros tização na Europã·ô~iiental. Em cada caso, as ações de tais institui-
são importantes na aceleração ou no retardamento dosefeitos do d~- ções externas refletiam mudanças significativas em suas políticas. Se
senvolvimento econômico e social sobre a democratização. Como já não fossem tais mudanças políticas e a influência de tais atores exter-
se observou, quando os países chegam a certo nível econômico e so- nos,~~~,~~eiraonda"te,r!~sido muito mais circunscrita do que foi.
cial, entram numa zona de transição onde aumenta claramente a QJj!tituições eU1:JJPé.iJs. A Comunidade Européia se originou no
probabilidade de tomar uma direção democrática. As influências es- tratado de 195"1 entre França, Alemanha Ocidental, Itália e os três
trangeiras podem levar a tentativas de democratização antes que eles Países-Baixos, que criaram a Comunidade Européia do Aço e do
alcancem tal zona, ou podem atrasar ou impedir a democratização Carvão. Em 1957, os Tratados de Roma criaram a Comunidade Eu-
de países que já chegaram a tal nível de desenvolvimento. Jonathan ropéia de Energia Atômica (Euratom) e a Comunidade Econômica
Sunshine, por exemplo, argumenta que as influências externas na Européia, com os mesmos seis membros. Em 1969, esses três corpos
Europa antes de 1830 eram fundamentalmente antidemocráticas e foram reunidos na Comunidade Européia. Devido ao veto de De
que, portanto, contiveram a democratização. Entre 1830 e 1930, Gaulle à entrada da Inglaterra, em 1963, os membros das comuni-
porém, o ambiente externo era neutro com respeito à democratiza- dades combinadas continuaram sendo os seis países que original-
ção; e assim ela aconteceu em diferentes países, mais ou menos no mente haviam assinado o Tratado de Paris. No entanto, em 1970 a
ritmo estabelecido por seu desenvolvimento econômico e social63. Comunidade mudou de curso e foram abertas negociações com a
De maneira parecida, a vitória dos Aliados na Primeira Guerra Noruega, Dinamarca, Irlanda e Grã-Bretanha. Em 1973, esses três
Mundial produziu instituições democráticas em países da Europa últimos países tornaram-se membros da "primeira ampliação" da
central e oriental que, social e economicamente (excetuando a Comunidade. Em meados de 1970, a questão central era uma maior
Tchecoslováquia), ainda não estavam prontos para elas e que, por- expansão para o sul da Europa.
tanto, não duraram muito. Depois da Segunda Guerra Mundial, a Tal mudança de direção por parte da Comunidade coincidiu e
intervenção soviética impediu a criação de instituições democráticas reforçou os processos de democratização que estavam acontecendo
na Alemanha Oriental, T checoslováquia, Hungria e Polônia, países na Europa mediterrânea. Para a Grécia, Portugal e Espanha, a demo-
que, à época, estavam preparados, em termos econômicos e sociais, cratização e a entrada na Comunidade Européia foram processos
para a democratização. Similarmente, a descolonização criou muitos que avançaram de braços dados. Ser membro da Comunidade era
novos países com instituições democráticas modeladas pelas potên- desejável e até mesmo necessário, em termos econômicos; para ser
cias coloniais, mas com condições econômicas e sociais que eram ex- membro, o país tinha de ser democrático; portanto, a democracia
tremamente hostis (como na África), ou que colocavam graves obs- era um passo essencial para o crescimento e a prosperidade econômi-
táculos ao desenvolvimento democrático. ca. Ao mesmo tempo, pertencer à Comunidade reforçava o compro-
Os ator~s externos ajudaram de maneira significativa as demo- misso com a democracia e dava um apoio externo contra o retorno
cratizações da terceira onda. Na verdade, no final da década de ao autoritarismo. Quando os novos governos democráticos solicita-
1980, as principais fontes de poder e de influência no mundo - o vam a entrada na Comunidade, os membros existentes "não tinham
Vaticano, a Comunidade Européia, os Estados Unidos e a União muito a fazer a não ser aceitá-Ios. Um consenso geral em favor da
Soviética - promoveram, de maneira ativa, a liberalização e a de- ampliação surgiu de maneira muito fácil"64.
A Grécia é associada à Comunidade desde 1962. Com o fim da Unidos se engajar de maneira semelhante e canalizar somas substan-
ditadura militar em 1974, os novos líderes gregos passaram rapida- ciais para as forças que lutavam pela democracia. Dados os imensos
mente a desenvolver essa relação e em junho de 1975 solicitaram o recursos financeiros que a União Soviética estava fornecendo aos co-
status de membro pleno. O governo Karamanlis e os gregos que munistas (estimados em $45-$100 milhões) em 1975, a intervenção
apoiavam tal movimento desejavam promover o desenvolvimento ocidental liderada pelos alemães foi crucial para a democratização
econômico, garantir o acesso dos produtos gregos aos mercados da portuguesa.
Europa ocidental- especialmente os produtos agrícolas -, reduzir O começo da terceira onda coincidiu mais ou menos com a
a dependência com relação aos Estados Unidos e fortalecer as rela- Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), com
ções com os países da Europa ocidental para contrabalançar o poder a Resolução Fin~Aç, tIel~i.~ki e com o começo do que veio a ser co-
da Turquia e dos Estados eslavos. No entanto, também foi crucial o nhecido c()mõ-o Processo rfersrnki. Três elementos nesse processo
reconhecimento, pelos grupos dominantes de centro e conservado- afetaram o desenvolvimento aos direitos humanos e da democracia
res, de que pertencer à Comunidade significaria "a melhor salva- na Europa oriental. Primeiro, a conferência inicial e as subseqüentes
guarda para as tentas instituições democráticas da Grécia"65. adotáram uma série de documentos dando legitimidade internacio-
Na Espanha e em Portugal, em meados dos anos 70, havia um nal aos direitos e às liberdades individuais e à monitoração interna-
desejo generalizado de identificação com a Europa. O turismo, o co- cional de tais direitos em cada país. A Resolução Final, assinada pe-
mércio e o investimento haviam feito com que a economia espanho- los chefes de governo de 35 países europeus e norte-americanos, em
la passasse a ser parte da Europa. Quase metade do comércio exter- agosto de 1975, estabeleceu, como um de seus dez princípios"o "res-
no português era com a Europa. A vocação espanhola, como enfati- peito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais, inclu-
zou Juan Carlos, era com a Europa e na Europa. "O futuro de si,,:~ã-liberdade de pensamento, consciência, religião e crença". O
Portugal", disse o general Spinola, "está, inequivocamente, com a Conjunto TIl do acordo definia as responsabilidades dos governos
Europa."66 Tais sentimentos eram particularmente fortes na classe em promover o livre fluxo de informações, os direitos das minorias,
média de ambos os países, que também era a base social do movi- a liberdade de movimentos e a reunião das famílias. Em janeiro de
mento democrático. Portugal solicitou a entrada na Comunidade 1989, o documento final do encontro da CSCE em Viena incluiu
em março de 1977, a Espanha em junho do mesmo ano. Em ambos provisões mais detalhadas referentes aos direitos humanos e às liber-
os países, como na Grécia, o estabelecimento da democracia era tido dades básicas. Também criou uma Conferência sobre a Dimensão
como necessário para garantir os benefícios econômicos dados pela Humana, realizada em Paris, em maio-junho de 1989, e em
Comunidade, e pertencer à Comunidade era uma garantia da estabi- Copenhague, em junho de 1990. Nesse último encontro foi aprova-
lidade da democracia. Em janeiro de 1981, a Grécia tornou-se mem- do um documento abrangente em que se apoiavam a ordem legal, a
bro pleno da Comunidade e cinco anos depois o mesmo se deu com democracia, o pluralismo político, o direito de formar partidos polí-
Portugal e com a Espanha. ticos e eleições livres e honestas. Ao longo de 15 anos, as nações da
Em Portugal, o impacto da Comunidade sobre a democratiza- CSCE passaram, assim, de um compromisso com um número limi-
ção não se limitava a dar passivamente um incentivo econômico e tado de direitos humanos à defesa do conjunto completo das liber-
um apoio político. O governo da Alemanha Ocidental e o Partido dades e instituições democráticas.
Social Democrata (SPD) tomaram a iniciativa de intervir ativamen- Segundo, a Resolução Final de Helsinki foi atacada por muita
te na luta contra os comunistas e deram recursos substanciais ao go- gente nos Estados Unidos, que afirmava que ela legitimava as fron-
verno português e aos socialistas portugueses67. Com isso também teiras definidas pelos soviéticos na Europa oriental, em troca de pro-
propiciaram um modelo, um incentivo e um meio para os Estados messas relativamente sem importância de respeitar certos direitos
humanos. As subseqüentes conferências da CSCE em Belgrado
(1977-1978), Madri (1980-1983) e Viena (1986-1989), no entan-
to, deram aos Estados Unidos e às nações da Europa oçjdental a
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...•...
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.) gitimou os esforços dos dissidentes internos e dos governos estran-
geiros a induzi-Ios a isso. Não criou democracias, mas ajudou a esti-
mulél,I-:tfaoernr'raspõ1íttcas na Europa oriental e.n.a.Un..ião..S..o.v.i.ética.
oportunidade de pressionar a União Soviética e os países da Europa "OJjjstados Unjio/. A política americana de.promoçãodos direi-
oriental quanto a seus compromissos de Helsinki e de chamar a tos humaooseââ-democracia em outros países começou a mudar no
atenção para violações específicas e exigir correções das mesmas. ~( -
~
16
nafista sultanista. Entre 1973 e 1989, o regime chileno era, em f
parte, um regime militar, mas também, diferentemente de outros Nota: O principal critério de democratização é a seleção de um governo através de
uma eleição aberta;competitiva, participatória, honestamente administrada.
regimes militares sul-americanos, em toda a sua existência teve a Os parênteses indicam um país que se liberalizou significativamente mas não se de-
apenas um líder, que desenvolveu outras fontes de poder. Tinha, mocratizou em 1990.
* Indica um país que reverteu ao autoritarismo.
portanto, muitas das características de uma ditadura personalista.
Por outro lado, a ditadura de Noriega, no Panamá, era altamente
personalizada, mas dependia quase inteiramente do poder militar. Na segunda onda, a democratização ocorreu em larga medida
Conseqüentemente, as categorizações da tabela 3.1 devem ser vistas através da imposição externa e da descolonização. Na terceira onda,
como aproximações grosseiras. Onde um regime combinava ele- como vimos, esses dois processos foram menos significativos e limi-
mentos dos dois tipos ele é categorizado em termos do que parecia taram-se, antes de 1990, a Granada, Panamá e a várias antigas colô-
ser seu tipo dominante quando a transição se deu. nias britânicas relativamente pequenas, principalmente na área do
D 118 A TERCEIRA ONDA
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~ Caribe. Embora as influências externas muitas vezes tenham sido \,.exigências da oposição de eleição direta para presidente, em meados
~ causas significativas das democratizações da terceira onda,,,2s proces,: t-- Ldos anos 80. Cada caso histórico combinou elementos de dois ou
li) sos em si foram predomina.nteIlJ.ente jnter!1os. Tais prqcessos podem mais processos de transição. No entanto, virtualmente todos os casos
ser-localizados ao longo de um contínuum, em termos da importân- históricos aproximaram-se mais claramente de um tipo de processo
cia relativa dos grupos governantes e dos grupos de oposição como do que de outros.
fontes de democratização. Para propósitos analíticos,~J~~il agrupar Como a natureza do regime autoritário se relaciona com a na-
tureza do processo de transição? Como sugere a tabela 3.1, não exis-
:~;:~~~det~:~;p~flar:~i)so~~~:~c~::~d~::1::~r::~:~~id~ tiu uma relação unívoca. No entanto, a primeira teve conseqüências
raram a criação da democracia. ~úbstituiçiô)ruptura**, para Linz) sobre a segunda. ,Com gê~..e.x;çeções~â~ .t.r~siçªe~ ..gç regirn.e;·'
ocorre~ quando ~al,~apel foi desen"lpenhado por.grupos de oposição :2- ?J:i1.i.t~!~_~p.vgJ.y~[~gt!ransf()~!pação
ou trans.tittlição. Nas três exce-
e o regIme autontano entrol;!,,~~so ou fOIderr~bado. O que ~ ções - Argentina, Grécia e Panamá - os regimes militares sofre-
pode ser denominado drtiallstituiçã~),i "ruptforma" bcorreu quan- ~. ram derrotas militares e como resultado entraram em colaps
do a democratização resU1tõtrsuo'stancialmente de uma ação conjun- ~ todos os outros lugares, os governos militares assumiram a liderança
ta dos grupos no governo e na oposiçã04• Em virtualmente todos nas mudanças do regime, às vezes em resposta a pressões populares
casos, tanto os grupos no poder como fora do poder desempenha- da oposição. Os governantes militares tinham mais condições d
ram certos papéis e tais categorias simplesmente distinguem a im- acabar com seus regimes do que os líderes de outros regimes. O
portância relativa do governo e da oposição. chefes militares virtualmente nunca se definiram como governante
Como acontece com os tipos de regime, os casos históricos del permanentes do país. Mantiveram a expectativa de que, uma
mudança de regime não se encaixam necessária e facilmente nas ca- \'(). corrigidos os males que os tinham levado a tomar o poder, abando-
te~o~ias teóricas. Quase todas as tra~si~ões, e não, apenas ~s tra~~tiJ~ ná-Io-iam e retomariam suas funções militares normais. Os militares
tUlçoes, envolvem uma certa negoClaçao - exphclta ou Imphclta, f' tinham um papel institucional permanente, além da política e do
aberta ou oculta - entre governo e grupos de oposição. Às vezes a governo. Em algum ponto, em conseqüência, os chefes militares (ex-
transições começam de um tipo e acabam de outro. No início dos ceto os da Argentina, Grécia e Panamá) decidiram que tinha chega-
anos 80, por exemplo, P. W Botha parecia estar iniciando um pro- do o momento de iniciar um retorno ao governo democrático civil,
cesso de transformação no sistema político sul-africano, mas parou ou de negociar, com os grupos de oposição, o seu afastamento do
antes de democratizá-lo. Enfrentando um ambiente político dife- poder. Quase sempre isso aconteceu após pelo menos uma mudança
rente, seu sucessor, F. W. de Klerk, passou para um processo de ~ na liderança principal do regime militar5•
transtituição, negociando com o principal grupo de oposição. ;;; .Os chefes militares quase invariavelmente colocaram duas con-
dições ou "garantias de sa{dâ"'pâras>é'ãf~;t~~~~-d~põdéf."príffieTia,
Similarmente, os acadêmicos concordam em que o governo brasilei- ~
não deveria haver perseguição, PÜfiíçãõ-õuqliâfqueiõutra retaliação
ro iniciou e controlou o processo de transição por muitos anos. C
contra oficiais militares por quaisquer atos que pudessem ter come-
Alguns argumentam que ele perdeu o controle sobre o processo, co- 'O
tido quando estavam no poder. Segunda, o papel e a autonomia do
mo resultado da mobilização popular e das greves de 1979-80; ou- ~
establíshment militar seriam respeitados, inclusive sua responsabilida-
tros, no entanto, destacam o êxito do governo na resistência às fortes f:
de global pela segurança nacional, sua liderança nos ministérios go-
vernamentais ligados à segurança e, muitas vezes, o controle das in-
* Em espanhol no original (N.T.). dústrias de armamentos e de outras empresas econômicas que tradi-
** Em espanhol no original (N.T.). cionalmente estivessem sob a égide dos militares. A capacidade
garantir a concordância dos líderes políticos civis dependia de seu .' mas onde havia partidos leninistas surgiram questões importantes
poder relativo. No Brasil, no Peru e em outros casos de transfOrmj- ;:YJ referentes à propriedade de ativos físicos e financeiros - perten-
ção, os chefes militares dominaram o processo e os líd~res políticos R ciam ao partido ou ao Estado? O destino de tais ativos também esta-
civis não tiveram escolha a não ser concordar com as exigências. va em questão - deveriam ser mantidos pelo partido, nacionaliza-
Onde o poder relativo era mais equilibrado, como no caso do dos pelo governo, vendidos pelo partido pela maior oferta, ou distri-
Uruguai, as negociações levaram a algumas modificações das deman- buídos de maneira equitativa entre os grupos sociais e políticos? Na
das militares. Os chefes militares gregos e argentinos solicitaram as ';o!) N'icarágua, por exemplo, depois que perderam as eleições, em feve-
mesmas garantias que os outros; no entanto, seus pedidos foram i. reiro de 1990, o governo sandinista aparentemente propôs rapida-
rejeitados pelos líderes civis, e eles tiveram de concordar com uma j- mente "transferir muitas propriedades governamentais para as mãos
renúncia virtualmente incondicional6• dos sandinistas". "Eles estão vendendo casas para eles mesmos, ven-
Dessa forma, era relativamente fácil para os governantes milita-
dendo carros para eles mesmos", afirmou um homem de negócios
res deixar o poder e reassumir seus papéis militares profissionais.
anti-sandinista8• Na Polônia, quando o Solidariedade estava prestes a
Mas o outro lado da moeda é que era também relativamente fácil
assumir o governo, alegou-se coisa parecida, que propriedades gover-
voltar ao poder, caso seus próprios interesses e exigências justificas-
namentais estavam sendo passadas para o Partido Comunista. (No
sem. Um golpe militar bem-sucedido obriga líderes políticos e mili-
Chile, num movimento paralelo, quando o governo de Pinochet
tares a encarar a possibilidade de um segundo golpe. As democracias
saiu do poder, transferiu para o establishment militar propriedades e
da terceira onda que se seguiram a regimes militares começaram a vi-
arquivos que tinham pertencido a outros órgãos governamentais.)
da sob essa sombra.
Em alguns países foi necessário dissolver as milícias partidárias
A transformação e a transtituição também caracterizaram as
ou colocá-Ias sob controle governamental, e em quase todos os
transições dos sistemas de partido único para a democracia no ano
de 1989, exceto na Alemanha Oriental e em Granada. Os regimes de Estados de partido único as Forças Armadas regulares tiveram de ser
partido único tinham uma estrutura institucional e uma legitimida- despolitizadas. Na Polônia, por exemplo, como na maioria dos paí-
de ideológica que os diferenciavam tanto do regime democrático co- ses comunistas, todos os oficiais militares tinham de ser membros do
mo do militar. Ademais, supunham uma permanência que os distin- Partido'Comunista; no entanto, em 1989, membros do exército po-
guia dos regimes militares. A característica distintiva dos sistemas de lonês pressionaram o Parlamento no sentido de proibir os oficiais de
partido único era a íntima interligação entre partido e Estado. Isso pertencer a qualquer partido polític09• Na Nicarágua, o Exército
criava dois conjuntos de problemas, institucional e ideológico, na Popular Sandinista havia sido o exército do movimento, tornou-se
transição para a democracia. também o exército do Estado e teve então de ser convertido em ape-
Os problemas institucionais eram mais severos nos Estados on- nas deste último. Outra questão altamente controversa era definir se
de havia partidos leninistas. Tanto em Taiwan como nos países co- as células partidárias dentro das empresas econômicas deveriam con-
munistas, a "separação entre partido e Estado" era "o maior desafio tinuar a existir ou não. Finalmente, onde o partido único continuou
de um partido leninista" no processo de democratização? Na no poder, havia a questão da relação entre aqueles seus líderes no go-
Hungria, T checoslováquia, Polônia e Alemanha Oriental os disposi- verno e os órgãos partidários superiores, tais como o Politburo e o
tivos constitucionais que definiam o "papel de liderançà' do Partido Comitê Central. No Estado leninista, o último ditava a política ao
Comunista tiveram de ser revogados. Em Taiwan também foram primeiro. No entanto, tal relação dificilmente se compatibilizava
contestados alguns "dispositivos temporários" semelhantes que ha- com a supremacia de órgãos parlamentares eleitos e de gabinetes res-
viam sido acrescentados à Constituição em 1950. Em todos os siste- ponsáveis num Estado democrático.
Como? Processos de democratização
o outro conjunto de problemas era ideológico. Nos sistemas ideológica para um Estado separado; quando a ideologia foi a~an-
de partido único, a ideologia do partido definia a identidade do donada, desapareceu a razão para um Estado da ~emanha Onen-
Estado. Dessa forma, oposição ao partido implicaval.traição ao tal. A ideologia do Kuomintang (KMT.) de~llla o governo. em
Estado. Para legitimar a oposição ao partido, era necessário estabele- Taiwan como o governo da China, e o regIme VIacomo subverSIVos
cer alguma outra identidade para o Estado. Tal problema manifes- os elementos que apoiavam uma Taiwan independente. O proble-
tou-se em três contextos. Primeiro: na Polônia, Hungria, T che- ma aqui era menos grave do que nos outros três. casos, porque a
coslováquia, Romênia e Bulgária, a ideologia e o governo comunis- ideologia legitimava uma aspiração e não uma realIdade. Na verda-
tas tinham sido impostos pela União Soviética. A ideologia não era de, o governo do KMT funcionava porque era o ext,re~amente
essencial para definir a identidade do país. Na verdade, em pelo me- bem-sucedido governo de Taiwan, mesmo que a seus propnos ?~hos
nos três de tais países o nacionalismo se opunha ao comunismo. sua legitimidade dependesse do mito de que era o governo legmmo
Quando os partidos comunistas desistiram de sua pretensão de um de toda a China.
governo incontestado, baseado naquela ideologia, os países redefini- Quando os militares desistem de seu cont~ole sobre o gover~o,
ram-se, de "república popular" para "repúblicà', e restabeleceram o não desistem também de seu controle sobre os mstrumentos de VIO-
nacionalismo, e não a ideologia, como base para o Estado. As mu~ lência com os quais poderiam reass.umir o contro~e d~ ~over?o ..No
danças, assim, ocorreram de maneira relativamente fácil. entanto, a democratização de um SIstema de partIdo UlllCOsIglllfica
Segundo: vários sistemas de partido único onde posteriormente que o partido monopolista coloca em risco.seu con~role sobre ~ go-
se colocou a questão da democratização foram criados por revoluções verno e torna-se mais um partido a compeur num SIstema multIpar-
nacionais. Em tais casos - China, México, Nicarágua e Turquia- tidário. Nesse sentido, sua separação do poder é menos completa do
a natureza e o propósito do Estado eram definidos pela ideologia do que quando os militares se retiram. O partido continua .s~ndo um
partido. Na China, o regime aderiu resolutamente a essa ideologia e ator político. Derrotados nas eleições de 1990, os sandm~stas po-
identificou a oposição democrática ao comunismo como traição ao diam ter esperanças de "lutar de novo outro d~a"e volt~r ao poder
Estado. Na Turquia, o governo seguiu uma política incerta e ambiva- por meios eleitorais 10. Na Bulgária e na Romêllla, os partIdos c?mu-
lente com relação aos grupos islâmicos que desafiavam a base secular nistas ganharam as eleições; em ?U~ros países ~a. Europa Onental
do Estado kemalista. No México, a liderança do Partido Revo- eles tinham expectativas menos OtImIstas de partICIpar de um gover-
lucionario Institucional (PRI) tinha alguns pontos de vista semelhan- no de coalizão em algum momento futuro.
tes quanto ao desafio liberal do Partido Acción Nacional (PAN), de Após a democratização, um partido anteriormente monopo-
oposição, ao caráter revolucionário, socialista, corporativista do lista não está em posição melhor do que qualquer outro grupo po-
Estado concebido pelo PRI. Na Nicarágua, a ideologia sandinista era lítico para restabelecer um sistema autoritário. O. partido abre mã~
a base não apenas do programa de um partido, mas também da legi- de seu monopólio de poder, mas não da oportullldade d:.compeur
timidade do Estado criado pela revolução nicaragüense. pelo poder através de meios democráticos. Quand~ os mtltt:res vol-
Terceiro: em alguns casos a ideologia do partido único definiu tam aos quartéis, abrem mão de ambos, mas tambem mantem a ca-
tanto a natureza do Estado como seu âmbito geográfico. Na pacidade de readquirir o poder por meios não-de~ocr~ti~os. Con-
Iugoslávia e na União Soviética, a ideologia comunista forneceu a seqüentemente, a transição de um sistema de partIdo UlllCOpa~a a
legitimidade ideológica para a criação de Estados multinacionais. Se democracia em geral é mais difícil do que a transição de um regIme
a ideologia fosse rejeitada, desapareceria a base paq o Estado, e ca- militar para a democracia, mas em geral também é mais p~rm~n:n-
da nacionalidade poderia, legitimamente, reivindicar seu próprio tell. As dificuldades de transformação dos sistemas de partIdo ~lllCO
Estado. Na Alemanha Oriental, o comunismo propiciou a base talvez se reflitam no fato de que em 1990 os líderes de TaIwan,
México e União Soviética haviam iniciado a transição de seus regi- lizão governante, os conservadores, os reformistas liberais e os refor-
mes mas estavam se movendo muito lentamente na direção da de- madores democratas; na oposição, os democratas moderados e os
mocratização total. revolucionários extremistas. Nos sistemas autoritários não-comunis-
Os .líderes de ditaduras personalistas mostraram-~e em geral tas, os conservadores no governo normalmente eram vistos como
menos dIspostos a abandonar voluntariamente o poder do que os lí- direitistas, fascistas e nacionalistas. Os adversários da democratização
deres dos regimes militares e dos regimes de partido único. Os dita- na oposição eram normalmente esquerdistas, revolucionários e mar-
dores personalistas dos países que transitaram para a democracia, xistas-leninistas. Os defensores da democracia, tanto no governo co-
bem como os de países que não o fizeram, normalmente tentaram mo na oposição, ocupavam posições intermediárias no continuum
permanecer no poder o máximo de tempo possível. Isso muitas vezes esquerda-direita. Nos sistemas comunistas, a esquerda e a direita
criou tensões entre um sistema de bases políticas estreitas e uma eco- eram menos claras. Os conservadores normalmente eram tidos por
nomia e uma sociedade cada vez mais complexas e modernasl2. stalinistas ou brejnevistas. Na oposição, os adversários extremistas da
Também levou, eventualmente, à derrubada violenta do ditador, tal democracia não eram esquerdistas revolucionários, mas, muitas ve-
como aconteceu em Cuba, Nicarágua, Haiti e Irã, e à sua substitui- zes, grupos nacionalistas tidos como direitistas.
ção por outro regime autoritário. Também na terceira onda de de-
mocratização, ditaduras personalistas foram derrubadas por levantes
em Portugal, nas Filipinas e na Romênia. Na Espanha, o ditador
morreu e seus sucessores lideraram um caso clássico de transforma-
ção democrática por cima. Na Índia e no Chile, os líderes no poder I
Reformadores
su~meteram-se a eleições, na aparente mas equivocada crença de que
\ Governo Democratizadores Liberais
senam c9nfirmados no poder. Quando isso não aconteceu, eles, di-
ferentemente de Marcos e de Noriega, aceitaram o veredito eleitoral. I Radicais Moderados
Oposição Extremistas Democratas
Nos casos de regimes sultanistas, as transições para a democracia fo-
ram dificultadas pela fraqueza dos partidos políticos e de outras ins- , Figtira 3.1 Grupos políticos envolvidos na democratização.
\
tituições. Assim, as transições para a democracia a partir de ditadu-
ras personalistas ocorreram quando o ditador morreu e seus sucesso-
res decidiram-se pela democratização, quando o ditador foi derruba- No interior da coalizão governante, muitas vezes alguns grupos
do e quando ele, ou ela, calculou mal o apoio que poderia obter nu- vieram a favorecer a democratização, enquanto outros se opunham a
ma eleição. ela, e outros, ainda, apoiavam uma reforma ou liberalização limita-
das (ver figuta 3.1). As atitudes da oposição com relação à democra-
cia normalmente também se dividiam. Os defensores da ditadura
existente sempre se opunham à democracia; os adversários da dita-
dura existente muitas vezes se opunham à democracia. No entanto,
quase invariavelmente, eles usavam a retórica da democracia em suas
As transições da terceira onda foram processos políticos com- tentativas de substituir o regime autoritário existente por outro
plexos que envolveram uma série de grupos em luta pelo poder, a fa- que fosse deles. Assim, os grupos envolvidos na política da demo-
vor e contra a democracia e outras metas. Em termos de sua atitude cratização tinham objetivos tanto comuns como conflitantes. Refor-
em relação à democratização, os participantes cruciais foram: na coa- madores e conservadores dividiam-se a respeito da liberalização e da
democratização mas, presumivelmente, tinham em comum o inte- poder suficiente para resistir e produzir uma democratização através
resse de restringir o poder dos grupos dé oposição. Moderados e ra- do mecanismo constitucional de Francol3• Quando os grupos demo-
dicais tinham em comum o interesse de derrubar o regi,me existente cráticos eram fortes na oposição mas não no governo, a democratiza-
e chegar ao poder, mas discordavam quanto ao tipo de novo regime ção dependia de acontecimentos que solapassem o governo e levas-
que deveria ser criado. Reformadores e moderados tinham em co- sem a oposição ao poder. Quando os grupos democráticos eram do-
mum o interesse de criar a democracia, mas muitas vezes se dividiam minantes na coalizão governante, mas não na oposição, o esforço pe-
quanto aos custos de sua criação e quanto à divisão do poder. la democratização poderia ser ameaçado pela violência rebelde e por
Conservadores e radicais eram totalmente antagônicos quanto a um aumento do poder dos grupos conservadores, possivelmente le-
quem deveria governar, mas tinham em comum o interesse no enfra- vando a um golpe de Estado.
quecimento dos grupos democráticos de centro e na polarização da As três interações cruciais nos processos de democratização da-]
política na sociedade. vam-se entre governo e oposição, entre reformadores e conservado-
As atitudes e os objetivos de determinados indivíduos e gru- res na coalizão governante e entre moderados e extremistas na opo-
pos às vezes mudavam no processo de democratização. Se a demo- sição. Em todas as transições essas três interações centrais desempe-
cratização não levasse aos perigos que elas temiam, muitas pessoas nharam algum papel. A importância relativa e o caráter conflitivo ou
que tinham sido reformadores liberais ou mesmo conservadores cooperativo de tais interações, no entanto, variavam com a natureza
poderiam vir a aceitar a democracia. Da mesma forma, a participa- global do processo de transição. ~as t~~nsf~HlJl~Q.e~, a interação en-
ção nos processos de democratização podia levar os membros de tre reformadores e conservadores no interior da coalizão governante
grupos extremistas de oposição a moderar suas propensões revolu-
cionárias e a aceitar as restrições e oportunidades que a democracia
era de importância central; e a transformação só acontecia se os re- B [:::'
formadores fossem mais fortes do que os conservadores, se o gover-
oferecia.
no fosse mais forte do que a oposição e se os moderados fossem mais
O poder relativo dos grupos moldava a natureza do processo de fortes do que os extremistas. À medida que avançava a transforma-
emocratização e muitas vezes se modificava durante tal processo. ção, os moderados da oposição muitas vezes eram cooptados para a
Quando os conservadores dominavam o governo e os extremistas coalizão governante, enquanto os grupos conservadores que se opu-
dominavam a oposição, a democratização era impossível, como, por nham à democratização abandonavam o governo. Nas substituições,
exemplo, no caso de um ditador personalista de direita, decidido a se as interações entre governo e oposição e entre moderados e extremis-
aferrar ao poder, e uma oposição dominada pelos marxistas-Ieninis-
tas eram importantes; a oposição eventualmente tinha de ser mais
tas. A transição para a democracia era, é claro, mais fácil quando os
forte do que o governo, e os moderados tinham de ser mais fortes do
rupos a favor da democracia dominavam tanto o governo como a
que os extremistas. Muitas vezes, as sucessivas defecções dos grupos
o osição. No entanto, as diferenças de poder entre moderados e re-
~. ormadores definiam a forma do processo. Em 1976, por exemplo, a levavam à queda do regime e à inauguração do sistema democrático.
~_nstitll5.~e~? a interação central se dava ~nt~e r~f~rmadores e
oposição espanhola exigia um "rompimento democrático" completo,
moderados entre os quais não houvesse uma dlstnbUlçao de poder
uma ruptura* com o legado de Franco, a criação de um governo
muito desigual, em que cada um deles era capaz de dominar os gru-
provisório e a eleição de uma Assembléia Constituinte que formulas-
pos antidemocráticos de seu lado da linha que dividia o governo e a
se uma nova ordem constitucional. No entanto, Adolfo Suárez tinha
oposição. Em algumas transtituições, o governo e os grupos ante-
riormente de oposição concordavam pelo menos com uma divisão
de poder temporária.
à duração. Na Espanha, menos de três anose meio depois da mor-
te de Franco um primeiro-minisu<;-(IemocratÍzador tinha substituí-
Nas transformações, os detentores do poder no regime autori- do um liberalizador, a legislatura de Franco tinha votado o fim do
tário tomam a frente e desempenham o papel decisivo para acabar regime, a reforma política tinha sido sancionada num plebiscito, os
partidos políticos (inclusive o Partido Comunista) haviam sido le-
com o regime e transformá-Io num sistema democrático. A li_~~
galizados, uma nova Assembléia havia sido eleita, uma Constituição
entre transformaçÕes e transtituições é imprecisa, e alguns casos 1',()-
democrática tinha sido elaborada e aprovada num plebiscito, os
CIém se~legitimamente cIassíficados em qualquer uma das duas ca~
principais atores políticos haviam chegado a um entendimento
tegorias. No geral, entretanto, as transformações foram responsáveis
quanto à política econômica e haviam sido realizadas eleições parla-
por 16 das 35 transições da terceira onda que já haviam acontecido,
mentares já sob a nova Constituição. Suárez disse a seu gabinete
ou pareciam estar a caminho, no final da década de 1980. Entre es-
que "sua estratégia seria baseada na velocidade. Ficaria à frente do
ses 16 casos de liberalização ou de democratização estavam mudan-
jogo, introduzindo medidas mais rapidamente do que os continuis-
ças de cinco sistemas de partido único, três ditaduras personalistas
tas* do regime de Franco poderiam respondê-Ias". No entanto, em-
e oito regimes militares. A transformação exige que o governo selã)
bora as reformas tenham sido comprimidas num pequeno período
mais forte do que a op~çã~: ConseqÜentemente, ela ocorreu em' b
de tempo, elas foram realizadas seqüencialmente. Por essa razão,
regimes militares bem estabelecidos, em que os governos claramen- S afirmou-se que, "fazendo as reformas de maneira atordoante, Suárez
te controlavam os meios básicos de coerção da oposição, e/ou em,
evitou antagonizar muitos setores do regime franquista ao mesmo
sistemas autoritários que tinham sido bem-sucedidos economica- {-
tempo. O último conjunto de reformas democráticas provocou
mente, tais como na Espanha, no Brasil, no México, em Taiwan ~
hostilidade aberta dos militares e de outros franquistas da linha-du-
entre os outros Estados comunistas, na Hungria. Os líderes de tais ra, mas o presidente [Suárezljá tinha obtido grande apoio e toma-
países tinham o poder de levar seus países para a democracia caso do muito impulso". Na realidade, Suárez seguiu aí uma versão alta-
quisessem fazê-lo. Em todos os casos a oposição era, pelo menos no mente comprimida do padrão kemalista de reforma - "Estratégia
início do processo, evidentemente mais fraca do que o governo. No fabiana, tática de blitzkrieg"16.
.fuasiL por exemplo, Stepan observou que, quando "a liº,f:!~Jlzação. No Brasil, em contraste, o presidente Geisel determinou que a
começou, não havia uma oposição política significativa, nenhuma mudança política seria "len.!~.g!~4~~~~ri~. O processo come-
crise econÔmÍêa e"Ílenhum colapso do aparato coe~dtF~ dev«IOã ( çou ao final do governo Médici, emQ2ZJJ continuou nos governos
. qualquei:' derrota militar"14. No Brasil e em outros lug~r~~-ãs p~~ i de Geisel e de Figueiredo, saltou à frente com a instalação de um
soas mais bem situadas para acabar com o regime autoritário eram I presidente civil em 1985 e culminou com a adoção de uma nova
os líderes do regime - e foi o que fizeram. ',' C~ituição em 1988 e com a eleição popular do presidente em
Os protótipos de transformação foram a.,fupanba, o Brasil e, ~. C[9~2JAos movimentos em prol da democratização decretados pelo
entre os regimes comunistas, a Hungria. O caso mais important~ ~ regime, intercalaram-se ações destinadas a tranqüilizar os militares e
caso se materialize, será a Ulli.ão Soviética.~traE~!s:~o,~~:l_sjleiraf0.Áf7" civis de linha-dura. Com efeito, os presidentes Geisel e Figueiredo
uma '~ilizaçã~Lp.QL.cima", ou u~a "liberalização iniciada pelo \ I seguiram uma política de dois passos à frente, um passo atrás. O re-
-regime". Na Espanha, ela foi realizada "por elementos reformistas I sultado foi uma democratização vagarosa, .naqrnUo contrºl~_ºogo-
associados aos responsáveis pela ditadura, iniciando processos de I _y'~rnQsobre o processQjamais (()i~~r~~~~.!!!~a..}11ea.ç~42'
Em 1973, o
mudança política a partir do interior do regime estabelecido" 15. ! --- '; t~ru " ç! CO~
No entanto, as duas transições diferiram significativamente quanto ~ Em espanhol no original (N.T.). -.-- •.•... -
Brasil tinha uma ditadura militar repressora; em 1989, era uma de- foram muito claras. No entanto, podem ser agrupadas em cinco
mocracia total. Costuma-se datar a inauguração da democracia no ~ categorias. Primeira: ~ reform~~<.?.!-~§.,_lll.!!~t~~.yezes_s:o!1clllfam .qu~
Brasil em janeiro de 1985, quando o colégio eleitoral esrolheu um .{' os ct1.s.tosda permal?:~!1-5:1<l.nQJ,ºder - tais como a politização de
presidente civil. No entanto, não houve, d.: ~a,~o,ne?hutll c?~~e~l~~1\ suas Fórças~Ãimadas, a divisão da coalizão que os apoiava, o enfren-
ro; a característíêãêlã:'ffuD".s.Iõrffiªª"<f15ià§ileira
é ser vlrtualm.em~J!!1-=--
\, tamento de problemas aparentemente insolúveis (normalmente
-'p~~síyeL(fi~~i:~_ê-elAgll~l1ºmQQ_Brasil deixou de ser umaditadw~ econômicos) e a crescente repressão - _~i.!1~a!!!_.aJç.a..ll,çªd_Qg.PQIlt2 __
. tornolJ.:5ee-UmaJiem.llWcia..- em que se tornava.~e~~jAyelumas.aída eleg~.ntedo.poder. Os líderes
.. ~~-A Espanha e o Brasil foram os protótipos de mudanças por ci- dos regimes militares eram particularmente sensíveis aos efeitos cor-
ma, e o caso espanhol, em particular, tornou-se o modelo para sub- rosivos do envolvimento político sobre a integridade, o profissiona-
seqüentes democratizações na América Latina e na Europa oriental. lismo, a coerência e a estrutura de comando dos militares. "Todos
Em 1988 e 1989, por exemplo, os líderes húngaros conversaram nós, direta ou indiretamente", observou o Gal. Morales Bermudez
exaustivamente com os líderes espanhóis sobre as maneiras de intro- quando liderou o Peru na direção da democracia, "éramos testemu-
duzir a democracia, e em abril de 1989 uma delegação espanhola foi nhas do que estava acontecendo com essa instituição fundamental
a Budapeste oferecer assessoria. Seis meses mais tarde um comenta- para nossa pátria e, da mesma maneira, com as outras instituições.
dor apontou as similaridades das duas transições: E não queríamos isso". De modo semelhante, o Gal. Fernando
Matthei, chefe da força aérea chilena, advertia: "Se a transição para
Os últimos anos da era Kadar apresentavam algumas semelhanças
a democracia não for iniciada prontamente, iremos arruinar as
com o autoritarismo benevolente do final da ditadura de Franco.
Nessa comparação Imre Pozsgay desempenha o papel do príncipe Forças Armadas de uma maneira tal que nenhuma infiltração mar-
juan Carlos. É o símbolo tranqüilizador de continuidade, no meio de xista conseguiria"18.
uma mudança radical. Economistas de mentalidade liberal com vín-
Segunda: em alguns casos, os reformadores desejavam reduzir
culos com o velho establishment e a nova classe empresarial consti-
tuem a elite tecnocrática para a transição, tal como aconteceu na
os riscos que enfrentavam de manter-se no poder e eventualmente
Espanha com as novas elites burguesas associadas ao Opus Dei. Os vir a perdê-lo. Se a oposição parecia estar ganhando forças, organizar'
partidos de oposição também figuram nessa analogia, emergindo do uma transição democrática era uma maneira de evitar tal situação.
subsolo de maneira muito semelhante à dos exilados espanhóis logo
que se mostrar tornou-se seguro. E, como na Espanha, os oposicionis-
Afinal de contas, é preferível arriscar-se a perder o cargo do que ar-
tas húngaros - moderados em estilo, radicalmente democráticos em riscar-se a perder a vida.
substância - estão desempenhando um papel vital na reinvenção da Terceira: em alguns casos, que incluem Índia, Chile e Tur-
democracia 17.
quia, os líderes autoritários acreditavam que nem' eles ~~'~eúSãs-
sociados perderiam suas posições. Tendo se comprometido a res-
As transformações da terceira onda normalmente evoluíram taurar as instituições democráticas, e diante de um apoio e de uma
através de cinco fases princip~i.s, quatro das quais ocorridas durante legitimidade cada vez menores, .E~i~.f2o.~_t:a.Il~~~_c:>'p!~va~ p~rt~n-
o regime autoritário. . _~~~.!~l!~~~ua leg!.timidade através d<LYQ!O, na suposição de que
Aparecimento dueformqdoref. O primeiro passo era o aparecI- os eleitores iriam mantê-Ios no poder. Tal suposição normalmente
mento, no interior do regime autoritário, de um grupo de líderes, estava errada. (Ver a discussão sobre "eleições surpreendentes",
ou de líderes em potencial, que acreditasse que, ºJnQYimerl!~~a_~~- abaixo, p. 174 e ss.)
reção da democtaCia,era.dese~~ ouae,~árto. ~3~~_cheg~ra.~ Quarta: muitas vezes os reformadores agedÍ!~vam que a demo-
a tal conclusão? As razões pelas quais as pessoas se tornaram refor- P<l;!~~viri(lauIIl~rii:~rlgª JegÍticii~-
. .c:~~tizaçã()traria ben_çfí.f.iºH~.a.t:;U>'
;;d~~~ de~~ratas variaram muito de país para país e raramente dade internacional, redu:ziras.sançÕesdos Estados Uni~os ou outras
sanções contra seu regime e abrir as portas ~ ~ssistência ~conômica e para preservar "os militares como instituição". Em si mesmo, o deba-
militar, aos empréstimos do Fundo Monetano Interna~lOnal (~MI),
te sobre a decisão de sair ou não sair do governo torna-se um argu-
aos convites de Washington e às reuniões internacion~Is dommadas mento para que saiam do governo.
pelos líderes da aliança ocidental. .
AqufsifiJ!A~1!ºier,. :Nãº.ºªsta,vª.exigifem refof.lI1éldoresdemo-
Finalmente: em muitos casos, em que se mcluem Espanha,
crat~s_!1()i!1teriorde um regime autor.it<Írio,eles tinham 'de ter poder
<"} ~, Hungria, Turquia e alguns out~os regimes mi~}tares,?,srefor-
naquele .E.e.,gi~<::;Como isso aconteceu? Em três casos, os líderes que'
madores acredit~,:,am_guea demo.craCIaera a forma corre.t~__~e ~o- criaram o regime autoritário presidiram sua transição para a demo-
verno e que seu país.tinJlà'"evoI~ído até o pO,nto em ~ue, como.ou- cracia. Na Índia e na Turquia, os regimes autoritários foram defini-
tros países desenvolvIdos e respeitados, tambem devena ter um sIste-
dos, desde o início, como interrupções nos padrões formais da de-
ma político democrático. . . ~ mocracia. Os regimes tiveram vida curta, terminando em eleições
Em geral, os reformadores liberais tendiam a ver a lIberallZaçao
organizadas pelos líderes autoritários, na falsa antecipação de que
t) como uma maneira de diluir a oposição a seu regime sem democra-
eles próprios ou os candidatos que eles apoiavam iriam ganhar as
\t tizá-Io totalmente. Reduziriam a repressão, restau~ariam algumas ~i- eleições. No Chile, o general Pinochet criou o regime, ficou no po-
~ erdades civis, diminuiriam a censura, concordanam com uma d~s- der por 17 anos, estabeleceu um longo esquema de transição para a
cussão mais ampla das questões públicas e permitiriam que a SOCIe-
democracia, implementou tal esquema supondo que os eleitores
dade civil - associações, igrejas, sindicatos, organizações empresa-
iriam mantê-Io no poder por mais oito anos, e saiu relutantemente
~ .~~ ~~
Salinas, para continuar o processo de abertura. > o cce.>
~E Ei1l
Onde os líderes autoritários não morreram ou não eram troca-
dos regularmente, os reformistas democratas tiveram de expulsar o
governante e instalar uma liderança pró-democrática. Nos governos
militares, exceto o Brasil, isso significou a substituição, via golpe de
Estado, de um líder militar por outro: Morales Bermudez subs-
tituiu Velasco no Peru; Poveda substituiu Rodríguez Lara no
Equador; Mejía substituiu Gowon na Nigéria19• No sistema de par-
tido único da Hungria, numa conferência especial do Partido em
maio de 1988, os reformadores mobilizaram suas forças e depuse-
ram Janos Kadar, o velho governante, substituindo-o na Secretaria
Geral por Karoly Grosz. Este, no entanto, era apenas um semi-re-
formista, e um ano mais tarde o Comitê Central substituiu-o por
uma comissão de quatro pessoas dominada pelos reformadores. Em
outubro de 1989, um deles, Rezso Nyers, tornou-se presidente do ~ -'O>"
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Partido. Na Bulgária, no outono de 1989, líderes comunistas com <5 N
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propósitos reformadores expulsaram Todor Jívkov da posição de ~ cc
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rios não-comunistas, como o das Filipinas, em geral taiS grupos fi- Uma imag~~muito difundida daura~democráticas é
cam insatisfeitos seqüencialmente. A insatisfação dos estudantes foi de que os gQYernosrepiêsslvos são derrubados pelo "poder popular",
seguida pela dos intelectuais em geral e então p~la dos líde.res dos pela mobilização em massa de cidadãos irados que exigem uma mu-
partidos já existentes, entre os quais muitos poden~n: ter apOlado ou dança de regime e acabam por alcançá-Ia. Alguma forma de ação em
concordado com a tomada autoritária do poder. Tlplcamente, as ca- massa aconteceu em quase todas as mudanças de regime da terceira
madas mais amplas das classes médias - funcionários, profissionais 19nda. No entanto, em apenas cerca de seis transições ocorridas ou
liberais, pequenos proprietários - tornaram-se alienadas. Num país em andamento no final da década de 1980, as manifestações de mas-
sa, os protestos e as greves desempenharaIll..;papéis centr;l~s..Trata-se A ênfase nas transformações com continuidade processual e le-
-das transições nas.Jilipin<;ls, Alemanha Opent~ ~Romem~,.e das gitimidade para trás estava ausente das substituições. Ao contrário,
transtituições na..Coréia, Polônia e TchecoslovaqUl.?-.No ChIle, f~- as instituições, os procedimentos, as idéias e os indivíduos ligados ao .
qüentes ações de massa 'tentaram,' sem suces.so, alterar ~ ~lano e regime anterior foram considerados uma mancha, e o que se deseja-
transformação de Pinochet. Na Alemanha ~nental, caso umco, tan- va era um rompimento nítido e forte com o passado. Os sucessores
to a "sal'd"a como a "voz", nos termos de HtrSchman,
.' desempenha-
. b dos governantes autoritários basearam seu governo numa "legitimi-
ram papéis fundamentais, com o protesto assumm~o pnmeI~o a or- dade para a frente", no que iriam produzir no futuro e na sua disso-
ma de uma maciça migração dos cidadãos e, depOIS,de maCIçasde- ciação e ausência de conexão com o regime anterior.
monstrações de rua em Leipzig e Berl~m. ,. . Nas transformações e nas transtituições os líderes dos regimes
Nas Filipinas, Portugal, Romêma e GreCIa, qua~do o regIme autoritários em geral abandonaram a política e voltaram para os
entrou em colapso, isso se deu rapidamen~e. N~m ~Ia o governo quartéis ou para a vida privada com algum respeito e dignidade. Nas
autoritário estava no poder, no dia segu.mte p na? ,e~tava. Na substituições, pelo contrário, os líderes autoritários que perderam o
Argentina e na Alemanha Oriental, os regImes autontanos perde- poder tiveram destinos infelizes. Marcos e Caetano foram obrigados
ram rapidamente a legitimidade, mas agarraram-se a~ poder en~. a se exilar. Ceausescu foi sumariamente executado. Os oficiais mili-
quanto tentavam negociar os termos da mudança ~e regIme. Na Ar ! tares que governaram a Grécia e a Argentina foram julgados e presos.
gentina, o governo militar do general Reynaldo Blgnone, que ass~-j Na Alemanha Oriental, Honecker e outros líderes foram ameaçados
miu em julho de 1982, logo após a derrota das Falklands, por SeISj de punição, num notável contraste com os acontecimentos na
meses teve um "sucesso relativo" na manutenção de algum cont:f,0l
I
Polônia, Hungria e T checoslováquia. Os ditadores afastados através
sobre a transição. No entanto, em dezembro de 1982, ~ Op~SIÇ
de intervenção estrangeira em Granada e no Panamá foram, similar-
pública cada vez maior e o desenvolvimento das orgamz,açoes e
mente, sujeitos a perseguições e castigos.
oposição levaram a protestos em ~as~a: ~ uma greve g~ral, a prog .~
mação de eleições por Bignone e a rejelçaO, pelos part1d~s ~e OpOSI
JJ Em geral, o colapso pacífico de um regime autoritário produ-
~~ ziu um momento glorioso, embora breve, de euforia pública, de cra-
ção, dos termos propostos pelos milit~res p~r~ a trans~erencla de po-
{\ vos e de champanhe, que não houve nas transformações. O colapso
der. A autoridade do periclitante regIme mlhtar co?t1nu~u se dete-
também produziu um vácuo potencial de autoridade ausente nas
riorando até ser substituído pelo governo de Alfonsm, el~~toem ou-
transformações. Na Grécia e nas Filipinas, tal vácuo foi rapidamen-
tubro de 1983. "O governo militar entrou em colapso , escreve~
te preenchido pela ascensão ao poder de Karamanlis e de Aquino, lí-
um autor; "não tinha nenhuma influência sobr.e a :scol~a de c:ndI-
datos nem sobre as próprias eleições, não exclUl~ nmguem e nao re- deres políticos populares que guiaram seus países para a democracia.
servou poderes ou prerrogativas de veto para SI.mesmo n~ futuro. No Irã, o vácuo de autoridade foi preenchido pelo aiatolá, que guiou~
Ademais, não foi capaz de garantir sua autonomIa em relaçao ao fu- \, o Irã para outras partes. Na Argentina ~1!.t~l:1Uha@yiental, os
turo governo constitucional, não obteve a pro~essa d~ u~a futura I governos de Bignone e4e~ preencheram de maneira fraca o
r
,' mI'litar, nem , tampouco - dado o candIdato vItonoso'lh-, "29a intervalo entre o colapso dos regimes autoritários e a eleição de go-
po 1ltlca I-
vernos democráticos.
base para um acordo na luta, ainda em curso, co?tra ~ guern a~
Na Alemanha Oriental, no começo de 1990, a ~Ituaça? era pareCI- Antes da queda, os grupos de oposição se unem no desejo de
da, com um governo comunista fraco e desacredItado amda se agar- provocá-Ia. Após a queda, aparecem as divisões e eles lutam a res-
rando ao poder, e seu primeiro-ministro, Hans Modrow, desempe- peito da distribuição de poder e da natureza do novo regime que
nhando o papel de Bignone. deve ser estabelecido. O destino da democracia foi determinado pe-
10 poder relativo dos democratas moderados ~ dos radic~i~ ~ntid5::\ Guias de ação para democratizadores 2:
mocráticos. Na Argentina e na Grécia, os regImes autontanos nao \ _ A derrubada dos regimes autoritários
se mantiveram por muito tempo no poder, os partidos polít!cos ra-l~
pidamente ressurgiram e havia u.m consenso global entre. lIderes e h"<
A história das substituições sugere os seguintes guias de ação
grupos políticos quanto à neceSSld~~e.de restabele.c:r rapIda~ente I para os moderados democratas de oposição que tentam derrubar um
as instituições democráticas. Nas FIlIpmas, a oposIçao aberta a de- regime autoritári03!:
mocracia, à parte a rebelião do NEP, também era mínima.
1. Focalize sua atenção na ilegitimidade ou na legitimidade duvido-
Na Nicarágua, Irã, Portugal e Romênia, o colapso abrupto das
sa do regime autoritário; esse é o ponto mais vulnerável. Ataque o
ditaduras levou a lutas, entre os grupos e os partidos até então ~a
regime em questões gerais que sejam de preocupação ampla, tais
oposição, pelo exercício do poder e pelo tipo de regime que devena
como a corrupção e a brutalidade. Se o regime estiver tendo um
ser criado. Na Nicarágua e no Irã, os democratas moderados p~rde-
bom desempenho (particularmente econômico), tais ataques não
ramo Em Portugal, como se observou nas páginas iniciais deste lIvro,
serão efetivos. Logo que seu desempenho fraqueje (coisa que de-
ocorreu uma agitação revolucionária entre abril.d~e197~ e noven;~ro verá acontecer), chamar a atenção para a sua ilegitimidade é a ala-
de 1975. A consolidação do poder pela coalIzao anudemocrauca
vanca mais poderosa para desalojá-lo do poder.
marxista-leninista do Partido Comunista e oficiais esquerdistas era
2. Tais como os governantes democráticos, os governantes autoritá-
inteiramente possível. No final, após intensas lutas entre fa~çõe~~i- rios afastam, ao longo do tempo, seus primeiros defensores.
litares, mobilizações de massa, manifestações e greves, a açao mIlitar
Encoraje tais grupos insatisfeitos a apoiar a democracia como a
de Eanes pôs Portugal num caminho democrático. "O que começou alternativa necessária para o sistema corrente. Faça esforços espe-
como um golpe", observou Robert Harvey, "tornou-se uma revolu- ciais para ganhar líderes empresariais, profissionais de classe mé-
ção que foi detida por uma reação antes que se tornasse uma anar- dia, figuras religiosas e líderes dos partidos políticos, a maior par-
quia. Do tumulto, nasceu uma democraCla . "30 . . te dos quais provavelmente apoiou a criação do sistema autoritá-
Em Portugal as escolhas se davam entre uma democracIa bur- rio. Quanto mais "respeitável" e "responsável" parecer a oposição,
guesa e uma ditadura marxista-leninista. Na .Romên~a, e~ 199~, as mais fácil será conquistar outros defensores.
escolhas eram menos claras, mas a democracIa tambem nao era me- 3. Cultive os generais. Em última análise, a queda do regime depen-
vitável. A falta de partidos e grupos oposicionistas efetiva~ente ~r- derá deles, se vão apoiar o regime, se vão juntar-se a você na opo-
ganizados, a ausência de experiência prévia com a democracIa, ~ VIO- sição ou não, ou se vão ficar de lado. O apoio dos militares pode
lência ocorrida na derrubada de Ceausescu, o profundo desejo de ser de grande ajuda quando ocorrer a crise, mas tudo o que você
vingança contra pessoas associadas à ditadura, tudo isso_combinad? realmente precisa é que os militares não se disponham a defender
com o amplo envolvimento de grande parte da populaçao com a d~- o regIme.
tadura e com o grande número de líderes do novo governo, ~ue u- 4. Pratique e pregue a não-violência. (Ver p. 195 ss.) Entre outras
nham participado do velho regime - nada era de bom auguno pa- coisas, isso tornará mais fácil para você conquistar as forças de se-
ra o surgimento da democracia. No final de 1989, alguns romenos gurança: os soldados em geral não têm simpatia por pessoas que
entusiasticamente compararam o que estava acontecendo em seu jogam coquetéis Molotov neles.
país com o que tinha acontecido duzentos anos antes na França. 5. Agarre todas as oportunidades de expressar sua oposição ao regi-
Talvez também notassem que a Revolução Francesa acabou numa me, o que inclui participação nas eleições que ele organizar. (Ver
ditadura militar. abaixo, p. 185 e ss.)
! .wt
a beneficiária, e o que lá aconteceu, o ápice de um processo de 1. Como parte de sua política de descompressão, o general Geisel
aprendizagem de dez anos pela Europa central - vindo a Polônia permitiu que em novembro de 1974 fossem realizadas eleições
em primeiro lugar, mas pagando o preço mais alto. Ocupação e gre-
bastante competitivas para o Congresso. O partido do governo,
ve pelos estudantes? Claro, como na Polônia. Não-violência? O
Primeiro Mandamento de todas as oposições da Europa central.
a Aliança Renovadora Nacional (Arena) esperava uma vitória fá-
Partidos fantoches despertando para a vida? Como na Alemanha cil sobre o partido de oposição, MDB, e ainda em outubro
Oriental. Uma mesa-redonda para negociar a transição? Como na "poucos observadores políticos bem informados teriam apostado
Polônia e na Hungria. E assim por diante. Politicamente, a Tche-
contra eles". No entanto, os resultados das eleições "espantaram
coslováquia teve o que os historiadores econômicos chamam de
"vantagens do atraso". Eles puderam aprender com os exemplos dos a todos, inclusive os mais otimistas estrategistas do MDB"20. O
19
outros; e com seus erros . MDB duplicou sua representação na Câmara de Deputados,
quase triplicóu sua representação no Senado e aumentou o con-
trole sobre as Assembléias Legislativas, de um para seis.
2. Em janeiro de 1977, Indira Gandhi, na Índia, que vinha exer-
cendo poderes de emergência, abruptamente convocou eleições
parlamentares para março. Gandhi era a principal figura da p~-
As eleições são a maneira pela qual a democracia opera. Na ter- lítica indiana, mas a coalizão de oposição, Janata, obteve uma VI-
ceira onda foram também uma maneira de enfraquecer e acabar com tória esmagadora. Pela primeira vez na história, o Partido do
os regimes autoritários. Foram um veículo da democratização, bem Congresso perdeu o controle sobre o governo nacional, obtendo
como sua meta. A democratização foi realizada por governantes au- apenas 34% do voto popular; foi também a primeira vez em
toritários que, por uma razão ou outra, arriscaram-se a promover que obteve menos de 40%.
eleições, e por grupos oposicionistas que fizeram pressão em favor 3. Na eleição de transição do Peru, em março de 1980, o governo
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das eleições e delas participaram:"b-lis~_()_~~!t:~ç:<:i~~ militar apoiou a APRA e promulgou uma lei eleitoral destinada
eleições não são apenas a vida da democracia; são também <!JllQrte", a melhorar sua representatividade. No entanto, a eleição produ-
da ditadura. ziu "resultados surpreendentes". "A APRA sofreu um colapso
Quando declinava sua legitimidade por desempenho, os gover- eleitoral, obtendo 27% dos votos." A Acción Popular, o partido
nantes autoritários muitas vezes passaram a sofrer pressões cada vez de oposição mais distante dos militares, alcançou uma "vitória
maiores e receberam incentivos cada vez maiores para tentar renovar espantosa", obtendo 45,5% dos votos e ganhando a presidência,
sua legitimidade através de eleições. Os governantes patrocinaram a maioria da Assembléia e um grande número de cadeiras no
eleições acreditando que poderiam prolongar seu regime ou seu go- Senad021.
verno - ou o de seus associados. Quase sempre se desapontaram. 4. Em novembro de 1980, o governo militar do Uruguai promoveu
Com muito poucas exceções, os partidos ou candidatos ligados aos um plebiscito sobre a nova Constituição, que dava aos militares
regimes autoritários perderam ou tiveram uma atuação pífia nas elei- o veto institucionalizado permanente sobre as políticas governa-
ções patrocinadas pelo regime. Os resultados de tais eleições muitas mentais. "Para espanto do exército", o povo rejeitou-a por 57%
vezes surpreenderam tanto os líderes da oposição como os do gover- a 43%. O resultado "surpreendeu tanto os militares quanto a
no. Nos 15 primeiros anos da terceira onda, tal padrão de "eleições oposição"22.Dois anos depois, os militares autorizaram a eleição
de delegados para as convenções dos principais partidos. A opo- governo. Um ano antes, as opiniões bem informadas afirmavam
sição esmagou os militares e um de seus associados mais próxi- que ele iria "ganhar por maioria esmagadora"27. Eufórico com o
mos, o ex-presidente Jorge Pacheco Areco, obteve apenas 27,8% surto econômico, o próprio general estava confiante na vitória.
dos votos de seu partido. No entanto, à medida que a campanha avançava, a oposição
5. O governo de transição militar na Argentina patrocinou eleições mobilizou a opinião pública contra ele. Por 55% a 43%, o elei-
nacionais em outubro de 1983. O Partido Radical, liderado por
torado negou a proposta do general Pinochet de mais oito anos
Raúl Alfonsín, crítico dos militares de muito tempo, obteve uma no poder.
"surpreendente" vitória com inéditos 52% dos votos populares.
10. Em março de 1989, pela primeira vez em mais de setenta anos,
O candidato do outro grande partido, o Peronista, tinha o
os eleitores soviéticos tiveram a possibilidade de votar livremen-
"apoio tácito ou explícito de vários setores militares" e obteve
te para os membros de sua Assembléia Nacional. O resultado
40% dos votos23.Pela primeira vez na história os peronistas per-
foi muito surpreendente, "uma derrota mortificadora para os
deram uma eleição livre.
grandes e poderosos", inclusive um malogro do chefe do parti-
6. Em novembro de 1983, o governo militar da Turquia patroci-
do em Leningrado e de membros do Politburo, dos chefes do
nou eleições para retornar a um governo civil, e os líderes do go-
partido em Moscou, Kiev, Lvov e Minsk, de vários chefes regio-
verno organizaram e explicitamente apoiaram o Partido Na-
nais do partido, de pelo menos dois altos comandantes milita-
cionalista Democrático, dirigido por um general reformado.
"Para surpresa dos militares da Turquià', no entanto, "ganhou a res, bem como de outras' figuras de proa do establishment co-
munista28.
pessoa erradà'24. Os nacionalistas democráticos chegaram num
triste terceiro lugar, obtendo apenas 23% dos votos, enquanto o 11. Nas eleições polonesas de junho de 1989, o Solidariedade obte-
Partido da Pátria, de oposição, chegou ao poder com 45% dos ve uma esmagadora vitória, absolutamente não prevista, ga-
votos. nhando 99 das 100 cadeiras no Senado e 160 das 161 para as
7. Nas eleições para a Assembléia Nacional da Coréia, em fevereiro quais podia concorrer na Câmara. Dos 35 candidatos que eram
de 1985, o recém-formado partido de oposição, o Partido altos funcionários do governo e que não tiveram concorrentes,
Democrático Nova Coréia, foi "inesperadamente bem", con- 33 não obtiveram os necessários 50% dos votos para a eleição.
quistando 102 das 276 cadeiras do Congress025.E isso com uma Os resultados foram descritos como "surpreendentes" e encara-
campanha "fortemente controlada pelo governo, em que os par- dos com "descrença" tanto pelo governo como pelos defensores
tidos de oposição afirmavam que era impossível uma votação do Solidariedade, que estavam "despreparados" para eles29.
honestà'. 12. A vitória de fevereiro de 1990, na Nicarágua, da União Nacional
8. Em 1985, o governante militar do Paquistão, general Zia-ul- de Oposição (UNO), liderada por Violeta Chamorro, foi a elei-
Huq, organizou eleições parlamentares, mas antes proibiu que ção mais completamente espantosa em qualquer lugar até aque-
os partidos políticos designassem seus candidatos. Os partidos la data. Foi descrita como "surpreendente derrota eleitoral",
boicotaram formalmente as eleições. A despeito de tais circuns- "mudança surpreendente", "surpreendente derrota nas eleições"
tâncias, "um grande número de candidatos com posições proe- e uma "surpreendente expressão da vontade popular da Nica-
minentes no regime de lei marcial ou que eram identificados ráguà', que "surpreendeu muitos analistas políticos" e produziu
como defensores de Zia foram derrotados"26. "surpreendidos sandinistas"3o.A despeito das previsões de que os
9. No Chile, em outubro de 1988, o general Pinochet submeteu-se sandinistas ganhariam facilmente, beneficiando-se de seu con-
a um plebiscito que decidiria sua continuação ou não à frente do trole do governo e do acesso a seus recursos, Chamorro obteve
oito das nove administrações regionais e obteve 55,2% dos vo- Desvios mais significativos do padrão surpreendente ocorre-
tos, contra 40,8% para Daniel Ortega. ram nas eleições da Romênia, Bulgária e Mongólia, em maio, junho
13. Em maio de 1990, em Mianma (antes denominada Birmânia), e julho de 1990. Na Romênia, a Frente de Salvação Nacional assu-
o Conselho da Lei do Estado e da Restauração da Ordem, mili- miu o governo após' a queda de Ceausescu e cinco meses mais tarde
tar, patrocinou as primeiras eleições multipartidárias em 30 obteve uma vitória substancial nas eleições de maio de 1990. Na
anos. O resultado foi "espantoso", uma "surpresà'. A Liga Na- Bulgária, o Partido Comunista, que havia décadas governava o país,
cional pela Democracia obteve uma "vitória surpreendentemen- . mudou seu nome para Partido Socialista e ganhou o controle sobre
te esmagadorà' e elegeu 392 das 485 cadeiras em disputa na a Grande Assembléia Nacional. Na Mongólia, o secretário-geral e
Assembléia Nacional; o Partido de União Nacional, apoiado pe- outros líderes importantes do Partido Comunista foram substituí-
los militares, obteve 10. Durante a campanha, o líder da Liga e dos, formaram-se partidos de oposição e foram realizadas eleições
quatrocentos de seus militantes foram presos e o partido foi sub- competitivas nas quais os comunistas ganharam entre 60 e 70% das
metido a uma série de constrangimentos e restrições3!. cadeiras no Parlamento. Em todos os casos as principais figuras do
lado vencedor tinham sido funcionários dos regimes comunistas.
14. Em junho de 1990, nas primeiras eleições multipartidárias nos
Como explicar tais aparentes desvios do padrão surpreendente
28 anos de independência da Argélia, a Frente de Salvação
de eleições? Três fatores podem ter sido relevantes. Primeiro, os no-
Islâmica, de oposição, "obteve um êxito surpreendente", que foi
vos líderes distanciaram-se dos antigos governantes autoritários.
recebido na África do Norte e na Europa com "um silêncio sur-
Evidentemente, nem Ceausescu nem Todor Jívkov poderiam ter ga-
preendido"32. A Frente Islâmica obteve o controle de 32 provín-
nho eleições livres em seus países em 1990. Ion Iliescu, o líder da
cias e 853 conselhos municipais. O partido único anteriormen- Frente de Salvação Nacional, havia sido membro do regime de
te dominante, a Frente de Libertação Nacional, ganhou 14 pro- Ceausescu, mas fora expulso do Comitê Central do Partido
víncias e 487 conselhos municipais. Comunista. Petar Mladênov e seus associados na Bulgária tinham
8. Dê brinquedos para eles. Ou seja, dê-Ihes novos e atraentes tan- muito precária dos principais problemas contextuais enfrenta~~; po
ques, carros blindados, artilharia e equipamentos eletrônicos so- democracias da terceira onda nos anos 70 e 80, nos países em que
fisticados (os navios são menos importantes; a Marinha não dá eles eram mais graves:
golpes). Os equipamentos novos vão deixá-Ios felizes e ocupados 1. rebeliões importantes: EI Salvador, Guatemala, Peru, Filipinas;
tentando aprender a operá-Ios. Se você jogar bem as suas cartas
2. conflitos étnicos/comunais (à parte as rebeliões): Índia, Nigéria,
e fizer uma boa impressão em Washington, será capaz de trans-
Paquistão, Romênia, Sudão, Turquia;
ferir grande parte do custo para os contribuintes norte-america-
3. pobreza extrema (baixo PNB per capita): Bolívia, EI Salvador,
nos. Com isso você tem o benefício adicional de poder advertir
Guatemala, Honduras, Índia, Mongólia, Nigéria, Paquistão, Fili-
os militares de que só vão continuar a ganhar esses brinquedos
pinas, Sudão;
caso se comportem bem, porque os desagradáveis deputados
4. graves desigualdades sócio-econômicas: Brasil, EI Salvador, Gua-
americanos não gostam de intervenções militares na política.
tem ala, Honduras, Índia, Paquistão, Peru, Filipinas;
9. Como os soldados, como qualquer pessoa, gostam de que gos-
tem deles, -aproveite todas as oportunidades de se identificar 5. inflação crônica: Argentina, Brasil, Hungria, Nigéria, Peru, Filipi-
com as Forças Armadas; dê medalhas; elogie os soldados e afir- nas, Polônia, Uruguai;
me que eles incorporam os mais altos valores da nação; e, se 6. dívida externa substancial: Argentina, Brasil, Hungria, Nigéria,
constitucionalmente for apropriado, apareça de uniforme. Peru, Filipinas, Polônia, Uruguai;
10. Desenvolva e mantenha uma organização política capaz de mo- 7. terrorismo (à parte as rebeliões): Espanha, Turquia;
bilizar seus defensores nas ruas da capital se for tentado um gol- 8. grande envolvimento do Estado na economia: Argentina, Brasil,
pe militar. Bulgária, T checoslováquia, Alemanha Oriental, Hungria, Índia,
Mongólia, Nicarágua, Peru, Filipinas, Polônia, Romênia, Espa-
Se você seguir essas dez regras, pode ser que não evite os golpes,
nha, Turquia.
mas provavelmente vai derrotá-Ios. Pelo menos até o final de 1990,
Suárez e González, Karamanlis e Papandreou, García e Fujimori, Os oito problemas listados acima são uma lista razoável dos
Alfonsín e Menem, Collor, Ozal e Aquino seguiram em geral essas principais problemas contextuais enfrentados pelas novas democra-
regras e permaneceram nos cargos. Em suas sociedades, isso não era cias na terceira onda. Os julgamentos quanto aos países onde tais
pouca coisa. problemas eram graves são casuísticos e ad hoc. Se, no entanto, tais
julgamentos têm alguma validade, eles sugerem que esses 29 países
da terceira onda poderiam ser agrupados em três categorias, em ter-
mos do número de problemas contextuais graves que enfrentam:
Problemas contextuais, desilusão e nostalgia
autoritária 1. quatro ou mais problemas contextuais graves: Brasil, Índia,
Filipinas, Peru;
Para se consolidarem, os novos regimes democráticos têm, de 2. dois ou três problemas contextuais graves: Argentina, Bolívia, EI
alguma maneira, de tratar de problemas transicionais, tais como en- Salvador, Guatemala, Honduras, Hungria, Mongólia, Nicarágua,
frentar o legado do autoritarismo e estabelecer um controle efetivo Nigéria, Paquistão, Polônia, Romênia, Espanha, Sudão, Turquia;
sobre os militares. Desafios mais persistentes decorrem dos proble- 3. menos de dois problemas contextuais graves: Bulgária, Chile,
mas contextuais endêmicos a cada país. Em alguns deles, não eram T checoslováquia, Alemanha Oriental, Equador, Grécia, Granada,
numerosos nem graves; em outros, eram ambos. A seguir, uma lista Coréia, Portugal, Uruguai.
Já se argumentou que as novas democracias que enfrentam nômeno surgiu primeiro em 1979 e 1980 na Espanha, onde foi cha-
problemas contextuais graves têm de solucioná-Ios para desenvolver mado de eI desencanto*, um termo que se difundiu por toda a
a legitimidade essencial à consolidação da democracia. Essa proposi- América Latina. Em 1984, dez anos depois da derrubada da ditadu-
ção geral tem sido reforçada pela argumentação de que a não-solu- ra, a "alegria e o entusiasmo criativo que acompanharam a transição
ção do problema mais sério do país - seja ele dívida, pobreza, infla- para a democracia" haviam desaparecido e "o espírito político predo-
ção ou rebeliões - significaria o fim da democracia naquele país. Se minante" era de "apatia e desilusão". Em 1987, a euforia com a de-
for esse o caso, então a principal questão passa a ser: AI> novas demo- mocratização na América Latina tinha "dado lugar, em todo o in-
cracias de terceira onda que enfrentam problemas contextuais graves quieto continente, a frustrações e desapontamentos com os resulta-
(que também atormentaram seus predecessores autoritários) conse- dos até então obtidos". Em 1989, "uma onda de desilusão popular
guirão resolver tais problemas? Em alguns casos, os novos regimes com as lideranças políticas brasileiras e um explosivo espírito de des-
democráticos podem enfrentar com êxito seus problemas indivi- contentamento social haviam substituído as grandes esperanças de
duais. No entanto, na esmagadora maioria dos casos parece alta- 1985, quando milhões de brasileiros celebraram a restauração do
mente p~o~ável que os 'regimes democráticos da terceira õndà'Jl~O governo democrático após duas décadas de governo militar". No
conseguirão tratar eficientemente de tais problemas e, com muita Paquistão, menos de um ano após a transição, "um sentimento de
probabilidade, nisso não terão nem mais nem menos êxito do que impaciência e de tristed' havia "substituído a euforia que saudou o
seus antecessores autoritários. Rebeliões, inflação, pobreza, dívida, retorno do país à democracia". Um ano após o colapso das ditaduras
desigualdade e/ou burocracias inchadas continuarão mais ou menos no Leste europeu os observadores falavam do fenômeno da "depres-
como acontecia nas décadas anteriores. Isso significa u~ fllt~~() ine- são pós-totalitarismo" e do espírito de "desapontamento e desilusão"
vitavelmente desanimado r para as democracias de terceira onda? que varria a regiã053•
'para alguns pode muito bem significar isso.,Claramente~.ª 4e,~ Politicamente, os anos após o primeiro governo democrático
mocracia esteve sob grande pressão em países como Filipinas(Peru i chegar ao poder foram normalmente caracterizados pela fragmenta-
Guatemala. Os problemas são numerosos e severos; não vão dêSãpa- ção da coalizão democrática que havia produzido a transição, pelo
recer e não vão ser resolvidos. Outros países enfrentam conjuntos dec1ínio na eficiência dos líderes iniciais dos governos democráticos
apenas um pouco menos graves de problemas contextuais. e pela crescente conscientização de que o advento da democracia
Problemas contextuais não-resolvidos ou aparentemente inso- não iria, por si mesmo, dar solução aos principais problemas econô-
lúveis reforçaram as tendências à desilusão com as novas democra- micos e sociais enfrentados pelo país. A insolubilidade dos proble-
cias. Na maioria dos países, a luta para criar a democracia foi vista mas, as restrições do processo democrático, as deficiências dos líde-
como moral, perigosa e importante. O colapso do autoritarismo ge- res políticos tornaram-se a ordem do dia. Os líderes das novas demo-
rou entusiasmo e euforia. As lutas políticas na democracia, em con- cracias muitas vezes passaram a ser vistos como arrogantes, incompe-
traste, rapidamente passaram a ser vistas como amorais, rotineiras e tentes, corruptos, ou alguma combinação dos três.
mesquinhas. O funcionamento da democracia e o fracasso dos novos Uma das reações à democracia foi a "nostalgia do autoritaris-
governos democráticos para resolver os problemas endêmicos à so- mo". Ela não foi significativa em países onde os regimes autoritários
ciedade geraram indiferença, frustração e desilusão.
haviam sido extremamente violentos, incompetentes ou corruptos,
pouco tempo após a inauguração do regime democrático, ge- ou onde os governantes relutaram em se afastar do poder. Foi mais
neralizou-se o desapontamento quanto ao seu funcionamento na
Espanha, Portugal, Argentina, Brasil, Uruguai, Peru, Turquia, Pa-
quistão, Filipinas e na maioria dos países da Europa oriental. Esse fe-
comum onde a ditadura havia sido moderada, onde havia ocorrido que as elites políticas e o povo realmente escolhem seus líderes atra-
um certo êxito econômico e onde os líderes do regime, de maneira vés de eleições, ou seja, um teste comportamental quanto à institu-
mais ou menos voluntária, haviam-no transformado em democra- cionalização de práticas democráticas na política do país.
cia. Em tais países, as memórias da repressão se enfraqueceram e fo-
ram, de certa forma, substituídas por imagens de ordem, prosperi-
dade e crescimento econômico durante o período autoritário. Na
Desenvolvimento de uma cultura
Espanha, por exemplo, as avaliações do governo Franco em termos
política democrática
de satisfação geral, padrão de vida, lei, ordem e eqüidade social
cresceram entre 1978 e 1984: "quanto mais o ditador se diluía no
passado, mais róseas se tornaram as lembranças de Franco". Esse A questão da cultura democrática chama a atenção para a rela-
efeito, do tipo "a ausência faz crescer o amor", também esteve pre- ção entre o desempenho ou a eficiência dos novos governos demo-
sente no Brasil. Em 1989, a reavaliação do governo Geisel estava "a cráticos e sua legitimidade - em outras palavras,!!. gra_l!~mque as
pleno vapor. Hoje em dia seu governo é lembrado com saudade, co- elites e o povo acreditaIll novalor do sistema"ci.emº"çrªt!C~.Numa ar-
mo um tempo em que a inflação anual estava bem abaixo de 100%, gumentação essencialmente pessimista sobre tal relação, Diamond,
em vez de se situar na faixa dos quatro dígitos, e quando era seguro Linz e Lipset afirmaram que uma razão primária para a instabilida-
andar pelas ruas do Rio de Janeiro à noite". Em 1978, à pergunta de dos regimes democráticos e outros no Terceiro Mundo era a
de que governo ou regime tinha melhor conduzido Portugal, o nú- "combinação de baixa legitimidade e baixa eficiência". Os regimes
mero de cidadãos portugueses que escolheram a ditadura de começam com baixa legitimidade e portanto é difícil serem eficien-
Caetano foi três vezes maior do que o dos que escolheram os regi- tes, e "regimes com baixa eficiência, especialmente quanto ao cresci-
mes democráticos de Mário Soares. Em 1987, sete anos após a mento econômico, tendem a se manter com baixa legitimidade"55.
inauguração da democracia no Peru, os moradores de Lima escolhe- Com efeito, as novas democracias estão num beco sem saída: sem le-
ram o Gal. Juan Velasco, ditador militar do Peru de 1968 a 1975, gitill1idade:nã~d~~~~-;~fi~i~~~~"s-;-s~m-dlciênda, nã,opodem de-
como o melhor presidente do país desde 1950. Em 1990, a reputa- senvolver legitimidade.
ção tanto do Gal. Zia como do Gal. Ayub Khan cresciam no _Até que...p~~~oe~s_<l~ipQtesepe§siIIlista.~~jlls_ti.fica?
Paquistã054. A incapacidade dos_ngvos re.gL~e_s4e~fIlocrátic?s ~e resolver
A dificuldade em resolver os problemas e a desilusão popular problemas contextuàís duradouros e graves não signifI~a necessaria-
forám:-cáràcterísticas muito difundidas nas novas democracias: mente seu colapso. AL<:g!!.imidadedos regimes autoritários'(1nclusi-
Colocaram dramaticamente a questão da capacidade d~ sobrevIvên- ve, no final, dos regimes comunistas} acabou dependendo quase que
cia dos novos regimes: eles se consolidariam ou entrariam e~~cl~p- .~Kçlusiya_J:!1.~E:~~_~.?~esemI'e~g().
A legi.t~1Ídade dos regimes demo-
so? A essência da democracia é a escolha dos governantes elll-erer:: cráticos claramente dependç parcialmente'do desempenho. No en-
ções regulares, honestas, abertas e competitivas, onde o grosso da tanto, também depende de p~ocessose procedimentos. A legitimida-
população possa votar. Um dos critérios da força da democracia se- de de governantes ou governos em particular pode depender do que
ria o grau em que as elites políticas e o povo firmemente acreditem eles possam dar; a legitimidade do regime deriva dos processos elei-
que os governantes devam ser escolhidos dessa maneira, ou seja, torais pelos quais os governos são constituídos. A legitimidade de de-
um teste de atitude quanto ao desenvolvimento de uma cultura po- sempenho tem algum papel nos regimes democráticos, mas não é
lítica democrática no país. Um segundo critério seria a extensão em tão importante quanto o papel que tem nos regimes autoritários e é
secundária em relação à legitimidade processual. O que determina a [... J, nenhum partido acusou os vários governos de criar o proble-
sobrevivência das novas democracias não é, primariamente, a gravi- ma. Nenhum partido afirmou que o problema poderia ser melhor
dade dos problemas que enfrentam ou sua capacidade de resolvê-Ios. tratado fora do regime democrático". No Peru, de maneira bastante
É a maneira pela qual os líderes políticos reagem à sua incapacidade semelhante, a experiência mostrou que "um movimento de guerrilha
de resolver os problemas enfrentados pelo país. pode unir os atores políticos em torno da democracia como a única
Regimes democráticos com problemas contextuais extraordi- alternativa para a guerra civil"s7.
nariamente graves sobreviveram no passado. Como Linz e Stepan Segundo, a estabilidade da democracia depende da capacid~4e
c
enfatizaram, o argumento de que crises econômicas necessariamente do pàvo ,de~'dist1n:güueÍ1tie o regime e os governos e governantes.
solapam os regimes democráticos é desmentido pela experiência eu- NaVenezuela, por exemplo, em 1983, 25 anos após a inauguração
ropéia na década de 1930. Os sistemas democráticos sobreviveram à do regime democrático de segunda onda, a opinião pública mostra-
Grande Depressão em todos os países, exceto na Alemanha e na Áus- va-se muito desiludida com o desempenho de seus governantes elei-
tria, inclusive em países que sofreram choques muito mais fortes do tos, mas não com seu sistema de elegê-Ios. Como foi observado num
que esses dois. Sobreviveram, nas palavras de Ekkart Zimmerman, estudo, a despeito do "descontentamento com o governo, não há na-
devido à "capacidade dos líderes dos grupos de se unirem, formarem da que indique descontentamento semelhante com o método de se-
novas coalizões, algumas vezes reafirmando coalizões antigas (como leção do governo". Enquanto uma proporção substancial (34,2%)
na Bélgica) e então chegarem a um acordo sobre como conduzir a dos venezuelanos acreditavam que a situação de seu país justificava
economià'. Similarmente, nos anos 60, os novos regimes democráti- um golpe, apenas cerca de 15% apoiava uma alternativa específica
cos na Colômbia e na Venezuela enfrentaram desafios tão graves ao regime democrático. Menos pessoas do que em 1973 acreditavam
quanto os enfrentados pelas democracias da terceira onda. A lição de que o governo seria melhor sem os políticos e que os políticos eram
seus casos, como Robert Dix resume, é de que "a engenharia políti- indiferentes aos problemas do país. Em 1983, "os venezuelanos con-
ca pode, em medida substancial, ser um substituto para a falta de tinuavam apoiando a maneira pela qual seus governos assumiam o
condições econômicas e sociológicas para a democracia nas nações poder, cada vez mais insatisfeitos com o que eles faziam uma vez as-
do Terceiro Mundo"s6. sumido o cargo, e convencidos de que o sufrágio era a única manei-
_~c~~t<l:b.il~dad~~o.s ;re~~me~d~~o~:áti~os d~pendc(P!~m,e~r~) rade melhorar as coisas"s8.No geral, a despeito da contínua incapa-
da cagacIdade das pnnCIpaIS elites polltlcas - lideres pawaanos, cidade dos governos eleitos de enfrentar adequadamente os proble-
chefes militares, líderes empresariais - de agir juntos para tratar mas de seu país, os venezuelanos estavam mais comprometidos com
dos problemas enfrentados pela sociedade e não explorar tais probT~- a democracia em 1983 do que em 1973.
mas em busca de sua imediata vantagem política ou material. Os no- Nos seis anos que se seguiram a 1983, a Venezuela enfrentou
vos regimes democráticos não podiam, e não puderam, se"livrar das problemas econômicos cada vez maiores, decorrentes, em grande
rebeliões e do terrorismo existentes havia muito tempo. A questão parte, da queda dos preços do petróleo. Em 1989, a crise econômi-
crucial para a estabilidade era a maneira pela qual as elites políticas e ca havia criado uma situação "em que as expectativas tinham se
o R~vOresponderam a tal situação. Nos anos 60, as elites na Co- mantido constantes, enquanto a capacidade do governo de satisfazê-
lô~ia e na Venezuela colaboraram na tentativa de enfrentar tais Ias havia declinado". No entanto, isso não significou uma ameaça à
problemas. Fatos semelhantes aconteceram nas democracias da ter- democracia:
ceira onda. A Espanha, por exemplo, enfrentou o permanente pro-
o alto nível de frustração não é canalizado para ativismos ilegais e
blema do terrorismo basco. No entanto, nenhum partido político violentos, mas para processos e mecanismos mantenedores do siste-
tentou explorar a questão para "deslegitimizar o regime democrático ma. Verificamos que os venezuelanos de classe média e baixa utiliza-
ram principalmente quatro maneiras de enfrentar psicologicamente a como sistema político de sua avaliação quanto ao desempenho do
crise com que se defrontam: protesto legal, adaptação, resignação e
emigração.59
partido no poder. Tal distinção é crucial para o funcionamento da
democracia.
A diferença entre apoio à democracia e apoio aos governos que Sob certas circunstâncias, pode-se conceber que a nostalgia pe-
as eleições democráticas produzem também ficou clara na Espanha. lo autoritarismo abra o caminho para a "morte lentà' de um regime
Entre 1978 e 1984 houve "uma dissociação gradual entre o apoio ao democrático, com os militares ou outras forças autoritárias reassu-
regime democrático e a satisfação com o que parecia ser a mera efe- mindo o poder62.A nostalgia, no entanto, é um sentimento, não um
tividade da democracia"60. Nos últimos anos do regime de Franco, o movimento. De maneira mais geral, a nostalgia autoritária era mais
desemprego era dos mais baixos na Europa (3%, em média) e a taxa uma evidência da tendência do público de distinguir entre gover-
nantes e regimes. Os cidadãos da Espanha, Portugal, Brasil e Peru
de crescimento econômico era uma das mais altas no mundo (cerca
achavam que Franco, Caetano, Geisel e Velasco eram governantes
de 7%, em média). Nos primeiros anos da democracia, no final dos
eficientes mas, ao mesmo tempo, também apoiavam maciçamente a
anos 70 e início dos anos 80, o desemprego subiu para 20% e o cres-
democracia como um sistema melhor de governo.
cimento econômico caiu para menos de 2%. A confiança na capaci-
A desilusão com os governantes democráticos e a nostalgia pe-
dade da democracia de resolver tais problemas variava amplamente.
lo autoritarismo eram um primeiro passo essencial no processo de
Em 1978, 68% dos entrevistados achavam que a democracia permi-
consolidação democrática. Eram também um sinal de que as elites e
tiria a solução dos problemas enfrentados pelo país. Em 1980 e
o povo estavam descendo do "pico" eufórico e efêmero da democra-
1981, a maioria da população achava que a democracia não podia
tização e se adaptando à "baixa" laboriosa e suja da democracia. Es-
resolver os problemas do país. No entanto, no final de 1982 e em
tavam aprendendo que a democracia se apóia na premissa de que os
1983, uma maioria substancial (55% e 60%) tinha voltado a ter
governos fracassam e que, portanto, há que existir maneiras institu-
confiança na capacidade da democracia de resolver os problemas da
cionalizadas de mudá-los. A democracia não significa que os proble-
Espanha. No entanto, a despeito de tais flutuações na confiança da
mas serão resolvidos; significa que os governantes podem ser removi-
população de que a democracia poderia resolver seus problemas, o dos; e a essência do comportamento democrático é fazer essa última
apoio a ela manteve-se consistentemente alto e até mesmo cresceu. coisa, porque a primeira é impossível. A desilusão e a queda de ex-
Em 1978, 77% dos espanhóis acreditavam que a democracia era o pectativas que ela produz são os fundamentos da estabilidade demo-
melhor sistema político para a Espanha. Esse número caiu para 69% crática. As democracias se consolidam quando as pessoas aprendem
em 1980, mas subiu para 81 % em 1981 e para 85% em 198361. que a democracia é uma solução para o problema da tirania, mas não
Como esse consistente e amplo apoio à democracia como siste- necessariamente para qualquer outro problema.
ma político pode se reconciliar com as variações na confiança na ca- Uma característica marcante dos 15 primeiros anos da terceira
pacidade dos governos democráticos de tratar os problemas? A res- onda foi a virtual ausência de grandes movimentos antidemocráticos
posta, claro, é o ciclo eleitoral. Em 1978, os eleitores ainda tinham nas novas democracias. Em muitos países ainda existiam grupos au-
confiança no novo governo Suárez. Em 1980 e 1981, com o crescen- toritários remanescentes (tanto conservadores como extremistas). A
te ri&lr econômico, eles haviam perdido a confiança naquele gover- nostalgia autoritária materializou-se em vários deles. O entusiasmo
no, eem 1982 colocaram Felipe González e os socialistas no poder. pela democracia, a participação nas eleições e a popularidade dos lí-
Feito isso, sua confiança na capacidade da democracia de resolver os deres democráticos declinaram significativamente. No entanto, nos
problemas da Espanha foi lá para cima. Como os eleitores venezue- 15 primeiros anos da terceira onda, em nenhum país se desenvolveu
lanos, os espanhóis separavam, dessa forma, seu apoio à democracia um movimento político de massa em grande escala que ameaçasse a
legitimidade do novo regime democrático e colocasse uma alternati- nião no sentido de uma posição mais favorável à democracia ocorreu
va explicitamente autoritária. Pelo menos nos países que transitaram de maneira ainda mais lenta e menos completa.
cedo para a democracia na terceira onda, parecia dominante o con- Por que houve consenso quase instantâneo quanto à democra-
senso quanto à desejabilidade da democracia. Na Espanha, como foi cia após o final das ditaduras na Espanha e no Peru, enquanto le-
indicado acima, em cinco pesquisas entre 1977 e 1983 a grande varam duas décadas para se desenvolver consensos comparáveis após
maioria dos entrevistados concordava que a democracia era o melhor o colapso do autoritarismo na Alemanha e no Japão? Nestes países,
sistema político para um país como a Espanha. Como concluiu um em certo grau as pessoas mudaram de opinião, mas em grau muito
estudo, "as bases de apoio do regime democrático são muito mais va- maior as pessoas mudaram. Pessoas mais jovens e mais instruídas são
riadas - mais amplas e mais ambíguas - do que no caso do regime mais favoráveis à democracia. O apoio à democracia na Alemanha
autoritário que o precedeu. O regime democrático está menos estri- aproximou-se da unanimidade quando o povo alemão passou a ser
tamente ligado a interesses particulares; sob esse aspecto, ele goza de composto de pessoas que tinham recebido instrução e passado suas
autonomia relativa". O amplo apoio à democracia não se limitou à vidas adultas na República Federal65. Na Espanha e no Peru, em
Espanha. No Peru, por exemplo, em quatro pesquisas de opinião contraste, o amplo apoio à democracia pouco depois da inauguração
pública, entre 1982 e 1988, os cidadãos de Lima apoiaram a demo- de regimes democráticos significou que tal apoio geral existia no re-
cracia em maiorias que variavam entre 66% e 88%, e, numa amos- gime autoritário, ou que as pessoas que haviam apoiado o autorita-
tra definida nacionalmente, 75% escolheram a democracia como o rismo antes da transição, ou pelo menos concordado com ele, mu-
sistema mais desejável para seu país63• Evidências mais fragmentárias daram de idéia muito rapidamente após a transição. Nenhuma alter-
sugerem níveis semelhantes de apoio à democracia em outros países nativa é exatamente boa para a democracia. Se a primeira alternati-
da terceira onda. va for verdadeira, os regimes autoritários existiram naquelas socieda-
Esse amplo consenso quanto à democracia nos países da tercei- des mesmo havendo um apoio maciço à democracia. Se a segunda
ra onda imediatamente após as mudanças de regime contrasta forte- for verdadeira, as pessoas que rapidamente mudaram de opinião e
mente com o desenvolvimento relativamente lento do apoio à de- passaram a ser favoráveis à democracia após a transição muito prova-
mocracia, e aos valores e atitudes associados à democracia, na velmente poderiam mudar, de maneira igualmente rápida, numa di-
Alemanha e no Japão após a Segunda Guerra Mundial. No começo reção antidemocrática, caso as circunstâncias assim o permitissem.
da década de 1950, mais de um terço dos alemães indicou que Na Alemanha e no Japão, o amplo apoio à democracia foi o produ-
apoiaria ou seria indiferente a uma tentativa de um novo Partido to de uma mudança generacional, e portanto tende a ser irreversível
Nazista tomar o poder e um pouco menos de um terço apoiava a res- no curto prazo. Na Espanha e no Peru, o amplo apoio à democracia
tauração da monarquia. Quando solicitados a identificar o período foi aparentemente o resultado de uma mudança de opinião, e portan-
em que a Alemanha esteve melhor, 45% escolheram o império pré- to pode ser reversível no curto prazo.
1914,42% o Terceiro Reich, 7% a República de Weimar, e 2% a
nova República Federal. O apoio à República Federal elevou-se para
42% em 1959 e para 81% em 1970. Em 1953, 50% achavam que a
democracia era a melhor forma de governo para a Alemanha; em Institucionalização do comportamento
1972, 90%. O desenvolvimento do apoio para a democracia - e político democrático
das atitudes de confiança e de competência cívica que caminham
~juntos com a democracia - ocorreu, assim, lentamente, ao longo Em termos de comportamento, a desilusão com os novos siste-
das duas décadas64• No Japão, nos anos 50 e 60, a mudança de opi- mas democráticos manifestou-se de quatro maneiras. Primeiro, mui-
tas vezes levou à resignação, ao cinismo e ao distanciamento da polí- amplo e variado apoio do povo. No entanto, uma vez no poder, os
tica. Na maioria das novas democracias, os níveis de votação eram al- candidatos populistas bem-sucedidos não seguiram, geralmente, po-
tos durante a transição, mas declinaram, algumas vezes drasticamen- líticas econômicas populistas, mas lançaram programas rigorosos de
te, nas eleições subseqüentes. A diminuição da participação política austeridade, destinados a cortar os dispêndios governamentais, a
pode ter sido indesejável em termos da teoria democrática, mas, em si promover a concorrência e a baixar os salários.
mesma, não ameaçou a estabilidade das novas democracias. As reações contra os detentores do poder e contra o establish-
Segundo, a desilusão manifestou-se numa reação contra os ti- ment são as respostas democráticas clássicas ao fracasso político e à
tulares dos cargos. Como na Espanha, os eleitores podiam tirar o desilusão. Através de eleições, um conjunto de governantes é desti-
partido governante e substituí-Io por um outro grupo de governan- tuído do cargo e um outro conjunto assume, produzindo mudanças,
tesoEssa, claro, é a resposta democrática habitual, e ocorreu freqüen- se não melhorias, na política governamental. A democracia se conso-
lida à medida que tais respostas internas ao sistema tornam-se insti-
temente nas novas democracias da terceira onda. Os líderes e os par-
tucionalizadas.
tidos no poder foram, na maioria das vezes, derrotados ao tentarem
Um critério para medir tal consolidação é o teste das duas
a reeleição. Os partidos que assim chegaram ao poder, na primeira
transferências de votos. Por esse teste, uma democracia pode ser con-
ou na segunda renovação após o estabelecimento da democracia,
siderada consolidada quando o partido ou grupo que toma o poder
normalmente seguiram políticas mais moderadas, bem de acordo
na eleição inicial, no momento da transição, perde a eleição seguin-
com a principal corrente de opinião em seus países. Em particular,
te e passa o poder para os vencedores, e quando tais vencedores pa-
os partidos identificados com a esquerda - os socialistas em Por- cificamente passam o poder para os vencedores da eleição seguinte.
tugal e na Espanha, o Pasok na Grécia, os peronistas na Argentina A seleção de governantes através das eleições é o cerne da democra-
- geralmente adotaram políticas econômicas e financeiras altamen- cia, e a democracia só é real se os vencedores estão dispostos a deixar
te conservadoras e ortodoxas quando chegaram ao poder (a principal o poder como resultado das eleições. Muitas vezes a primeira mu-
exceção foi o governo da APRA, com García, no Peru). dança eleitoral tem significado simbólico. A transição de 1989 na
Terceiro, a desilusão com a democracia às vezes produziu uma Argentina foi a primeira passagem, desde 1916, de um presidente
resposta contra o establishment. Nesse caso, os eleitores não apenas eleito de um partido para um presidente eleito de outro partido. As
rejeitaram o partido no poder; rejeitaram também o principal parti- eleições de 1985 e de 1989 no Peru marcaram a segunda e a terceira
do ou grupo alternativo do establishment político e deram seu apoio vez no século XX que naquele país um presidente eleito transferiu o
a um grupo ou partido de fora. Essa resposta foi mais comum nos poder para outro.
sistemas presidenciais, em que os candidatos ao cargo principal con- Uma segunda transferência de votos mostra duas coisas.
correm numa base mais individual do que partidária; dessa forma, Primeiro, que dois grandes grupos de líderes políticos na sociedade es-
em geral foi mais freqüente na América Latina, onde foi identificada tão suficientemente comprometidos com a democracia para abando-
com o populismo. Exemplos notáveis da resposta anti-establishment nar os cargos e o poder após perderem uma eleição. Segundo, que tan-
foram as bem-sucedidas candidaturas de Fernando Collor no Brasil to as elites como o povo estão operando no interior do sistema demo-
e de Alberto Fujimori no Peru. A candidatura de Carlos Menem na crático; quando as coisas não dão certo, você muda os governantes,
Argentina apresentou algumas características populistas, embora não o regime. Duas transferências de votos é um teste sério para a de-
também fosse o candidato do que se poderia dizer ser o mais forte mocracia. Os Estados Unidos não passaram por ele até os democratas
partido político do país. Os candidatos populistas bem-sucedidos de Jackson entregarem o poder aos conservadores em 1840. Depois da
ganharam o cargo com base em apelos políticos anti-establishment, Segunda Guerra Mundial, o Japão foi tido, de maneira correta e uni-
com pouco ou nenhum apoio de partidos políticos existentes e com versal, como uma nação democrática, mas não passou por esse teste, e,
na verdade, jamais passou por uma transferência de votos. Entre 1950 Grupos extremistas de oposição também tentaram desafiar os
e 1990, a Turquia sofreu três intervenções militares e várias primeiras novos regimes democráticos. No entanto, por sua própria natureza,
transferências de votos, mas nunca uma segunda. grupos radicais que empregavam a violência, como o Sendero
Em três países (Sudão, Paquistão e Nigéria), entre os 29 que ti- Luminoso no Peru, o NEP nas Filipinas ou a FLNFM (Frente de
veram eleições de transição entre 1974 e 1990, os governos instaura- Libertação Nacional Farabundo MartO em EI Salvador, não eram ca-
dos por elas foram afastados por golpes militares ou executivos. Em pazes de mobilizar um amplo apoio da população dos novos países
dez outros países com eleições em 1986 ou mais tarde, nenhuma ou- democráticos. Grupos extremistas que empregaram táticas mais pa-
tra eleição nacional aconteceu antes do final de 1990. Em 15 dos cíficas também tiveram pouco sucesso. Em maio de 1990, na
restantes 16 que tiveram uma ou mais eleições após a transição elei- Coréia, por exemplo, estudantes radicais organizaram manifestações
toral, ocorreu uma primeira transferência de votos, sendo Turquia a e tumultos para relembrar o décimo aniversário do massacre de
exceção. Em seis dos oito países que tiveram duas ou mais eleições Guanju. Uma manifestação envolveu quase 100000 pessoas, outras
nacionais após a eleição de transição, ocorreu uma segunda transfe- variaram entre 2000 e 10000. Foram as maiores manifestações des-
rência de votos, sendo as exceções a Espanha e Honduras. Em 22 do de as que ocorreram em 1987 e que levaram o partido no poder a
total de 28 eleições nos 16 países, os candidatos ou partidos titulares concordar com as eleições. As manifestações de 1990 contra um go-
foram derrotados e a oposição chegou ao poder. Em suma, o proces- verno eleito, no entanto, não atraíram o amplo apoio das manifesta-
so democrático estava funcionando: os eleitores regularmente afasta- ções de 1987 contra o regime autoritário. Apenas uma "fração míni-
ram os que detinham o poder e estes sempre passaram o cargo para mà' da grande população estudantil da Coréia aderiu às manifesta-
os novos escolhidos pelos eleitores. À parte os três casos de governos ções de 1990 e a classe média delas se absteve, devido à sua "falta de
democráticos derrubados por golpes, em termos de institucionaliza- confiança na capacidade da oposição de formar um governo alterna-
ção, o processo eleitoral democrático estava, em 1990, vivo e bem tivo". "A classe médià', comentou-se então, "prefere resmungar em
disposto nos países da terceira onda. casa diante dos aparelhos de televisão."66Em geral, os grupos conser-
Uma quarta e mais extrema manifestação política de descon- vadores e extremistas remanescentes tenderam a se isolar nas mar-
tentamento seria uma resposta dirigida não de maneira geral aos gens da política nas novas democracias nos anos 70 e 80.
grupos no poder ou ao establishment, mas ao próprio sistema demo- A difusão de práticas políticas democráticas nas democracias de
crático. As forças políticas concretas que se opunham à democracia terceira onda refletiram a ausência de alternativas autoritárias. Juntas
incluíam tanto os grupos conservadores sobreviventes ao regime au- militares, ditadores personalistas e partidos marxistas-Ieninistas ti-
toritário como os grupos extremistas de oposição ao regime autoritá- nham tentado e fracassado. A democracia era então a única alterna-
rio. Em alguns casos, os grupos conservadores incluíam elementos tiva. A questão crucial, claro, era se continuaria assim ou não, ou se
dos militares, mas, como se apontou acima, normalmente se trata- apareceriam novos movimentos promovendo novas formas de auto-
vam de grupos de oficiais descontentes de escalão médio, a que se ritarismo. O grau em que tais movimentos se materializassem e ob-
opunham as lideranças militares e que não mobilizavam um apoio tivessem apoio significativo iria, presumivelmente, depender da me-
significativo dos grupos civis. Em países anteriormente comunistas, dida em que o comportamento democrático, incluindo as transfe-
elementos das burocracias partidária e estatal, incluindo a polícia se- rências de votos, tivesse se tornado institucionalizado.
creta, também realizaram ações de retaguarda contra a democratiza- Além disso, no entanto, havia a possibilidade de que, com o
ção. Na Nicarágua, os sindicatos conservadores controlados pelos tempo, as alternativas internas à democracia se exaurissem. Quantas
sandinistas abertamente desafiaram o governo democrático eleito, vezes o povo estaria disposto a substituir um partido ou coalizão por
ameaçando "governar por baixo". Outro, na esperança de que um deles resolvesse os problemas enfren-
tados pelo país? Quantas vezes os eleitores estariam dispostos a eleger ra tentativa. É razoável concluir que, no tocante à estabilização das
um líder de fora, carismático e populista, acreditando que ele fosse democracias de terceira onda, uma experiência democrática anterior
capaz de fazer milagres econômicos e sociais? Em algum ponto, o é melhor do que nenhuma. Estendendo essa proposição, pode tam-
povo poderia se desiludir não apenas com os fracassos dos governos bém ser razoável~~óte~ ~e gy.<::.J.LOla.experiência ma~.lº~~e,
mais recente c.Q!]1a democra,ia é maisJà.yorá,Y"eUtçQns9Jicl.ª.Ç~º <ie-
I~
democráticos, mas também com os fracassos dos processos democrá-
ticos. Ele talvez viesse a desejar passar de reações contra os detento- ~que.umaexp.eriênciamais eurtLe mais~tante. Como k,1 '
res do poder e contra o establishment para reações contra o sistema. indica a tabela 5.1, cinco países - Uruguai, Filipinas, India, Chile e
Se as opções democráticas parecessem estar esgotadas, líderes políti- Turquia - tiveram 20 anos ou mais de experiência democrática
cos ambiciosos teriam fortes incentivos para produzir novas alterna- após a Segunda Guerra Mundial antes de sua democratização de ter-
tivas autoritárias. ceira onda - embora no caso da Turquia ela tenha sido interrompi-
da por breves intervenções militares em 1%0 e 1971. No outro ex-
tremo, dez países não tiveram nenhuma experiência democrática
após a Segunda Guerra Mundial; e seis - EI Salvador, Nicarágua,
Condições que favorecem a consolidação das Romênia, Bulgária, Mongólia e Sudão - nunca tiveram nenhuma
novas democracias experiência democrática antes da terceira onda.
to. Em 1990, em conseqüência, a Índia era o único país extremamen- Favorável Peru, Equador, Uruguai, Coréia, Chile
te ·pobre-ünaeademocraciá. cõfitinuava claramente intata.---~ Indiferente/desfavorável Argentina, Brasil, índia, Nigéria, Sudão,
Romênia, Bulgária, Mongólia
bem-sucedido (p. ex., os argentinos) não deverá ter mais êxito na Muitos fatores influenciarão a consolidação da democracia nos
consolidação de um regime democrático. países de terceira onda e sua importância relativa não é clara. No en-
A consolidação democrática pode também ser afetada pela na- tanto, parece mais provável que a manutenção ou fracasso da demo-
tureza das instituições democráticas que são estabelecidas. Por exem- cracia depende primariamente da extensão em que os líderes políti-
plo, já se argumentou, de maneira bastante plausível, que um siste- cos desejarem mantê-Ia e estiverem dispostos a pagar o preço por is-
ma parlamentar contribui mais para o êxito das novas democracias so, em vez de dar prioridade a outros objetivos.
do que um sistema presidencial, já que ele reduz o aspecto "tudo ou
nadà' da política, normalmente exige uma coalizão de partidos para
f?r~ar um governo e cria oportunidade para se estabelecer um equi-
lIbno entre chefe de Estado e chefe de govern068• Tais argumentos
uma onda reversa significativa e as formas que tal onda reversa pode
assumir; e 3) os obstáculos e as oportunidades para a democratização
que possam existir nos países que até 1990 não tinham se democra-
tizado. As páginas seguintes tentam analisar esses fatores; e as frases
finais nas discussões de cada tópico quase sempre terminam com
pontos de interrogação.
possível identificar alguns dos fatores que afetafãõa futura expansão rios. Em 1989 e 1990, líderes cristãos estavam em oposição ativa {(
ou contração da democracia no mundo e fazer as perguntas que pa- contra a repressão no Quênia e em outros países africanosl. À medi- <~
recem mais relevantes para o futuro da democratização. Os fatores da que o número de cristãos se multiplicar, é de se supor que não de-
críticos incluem: 1) a extensão em que as causas da terceira onda clinará a atividade dos líderes da Igreja em defesa da democracia, e
tendem a continuar operando, ganhando força, enfraquecendo-se que seu poder político aumentará. Em 1989, afirmou-se que o cris-
ou sendo suplementadas ou substituídas por novas forças promoto- tianismo também estava "em atividade na China, principalmente
ras da democratização; 2) as circunstâncias que podem fazer surgir entre os jovens", embora os números ainda fossem muito pequenos.
Em Cingapura, em 1989, talvez 5% da população fosse~ cri~tãos,
ses da Europa oriental, ou à Turquia?É de ~~_~1.lporq1.l~.~
mas o governo estava cada vez mais preocu~ado com a dlf~sao do
Comunidade só seja capaz de absorver um número limitado de paí-
cristianismo e envolvido em disputas a respeito de suas medldas re-
ses num dado período de tempo.
pressivas com o arcebispo cat~lico de Cingapu~a.e com o s:c.ret:rio As respostas a tais perguntas terão implicações para a estabili-
executivo da Comissão de Justiça e Paz da ArqUldlOceseCatohca . O
dade da democracia na Turquia e nos países da Europa oriental. Na
fim aparente da proscrição e das hostilidades à .r~ligião na.l!nião
Turquia, a falta de andamento de sua solicitação estava começando a
Soviética talvez leve ao aumento dos fiéis e das atlVldades rehglOsas,
estimular um "recuo islâmico" em 19903• Dada a posição periférica
com implicações para o futuro da democracia naqu.ele país. .
da Turquia, seu legado muçulmano, as intervenções militares passa-
Em 1990, o ímpeto católico para a democratização havl~, em
das e seus dúbios antecedentes quanto aos direitos humanos, a de-
grariaepart~;se·esgotado. A maior part: ~os país~s cat~licos havia se
mocracia turca provavelmente precisava do apoio da CEE, pelo me-
democratizado ou, como no caso do Mexlco, se hberallZado..A capa-
nos tanto quanto a democracia na Espanha, Portugal e Grécia nos
cidade do catolicismo de promover uma expansão mais ampla da d~-
anos 70. Caso tal apoio não seja dado, o futuro da democracia turca
mocracia sem ele próprio se expandir estava limitada ao Paragual,
ficará ainda mais incerto. A perspectiva de pertencer à Comunidade
Cuba, Haiti e alguns países da África, tais co~o o S,e~egale ~-Cos~a
também poderia reforçar as novas democracias nos países ao leste da
do Marfim. Além do mais, em que grau a IgreF catohca contmuana
Europa central. No entanto, em nenhum país com governos autori-
a ser uma força poderosa para a democratização, como fora nos anos
tários tal perspectiva propiciaria um incentivo à democratização.
70? O papa João Paulo 11promoveu consistent~mente um con:e,rva,-
A retirada do poder soviético permitiu a democratização na
dorismo teológico. Seriam as atitudes do Vaticano em relaçao ao
Europa oriental. Se a União Soviética terminar ou restringir drastica-
controle do nascimento, aborto, sacerdócio feminino e outras ques-
mente seu apoio ao regime de Castro, poderá ocorrer em Cuba um
tões, consistentes com a promoção da democracia na sociedade e na
movimento em direção à democracia: Fora isso, pouca coisa mais a
política mais amplas? . _ União Soviética poderia ou iria fazer para promover a democracia
O papel de outros agentes externos de democrati~açao. t~m- fora de suas froni:-eiras.â questão-chave era o que aconteceria déntro
bém parecia estar mudando. Em abril de 1987, a TurqUla S~hCltO~
da própria União Soviética. Com o afrouxamento do controle sovié~
sua associação plena à Comunidade Européia. Um de seus mcenti-
tico, parecia provável que a democracia fosse restabelecida nos
vos foi o desejo dos líderes turcos de refor~ar a modernização ,e ~s
Estados bálticos. Movimentos em direção à democracia também
tendências democráticas no país, e conter e lsolar as forças favoravels
existiam em outras repúblicas. A inauguração e a consolidação da
ao fundamentalismo islâmico na Turquia. No entanto, na CEE a
democracia na República Russa, caso ocorram, seriam, isoladamen-
perspectiva da associação turca foi acolhida com pouco entusiasmo e
te, o ganho mais dramático para a democracia desde os anos que se
alguma hostilidade (da Grécia). Em 1990, a liberação da Europa
seguiram à Segunda Guerra Mundial. No entanto, no final de 1990,
oriental também levantou a possibilidade de entrada da Hungna,
as forças conservadoras estavam se reafirmando, tanto na Rússia
T checoslováquia e Polônia. Assim, a Comunidade enfrentou dois
quanto na União Soviética, enfatizando a necessidade de reimpor a
problemas. Primeiro, deveria ela dar prioridade ao aumento de nú-
ordem e a disciplina e levantando a possibilidade de um Termidor
mero de seus associados ou ao "aprofundamento" da comunidade
soviético.
existente, agindo no sentido de uma maior união econômica e po.lí-
Nos anos 70 e80, osEstados Unidos foramQprinç~.2-~9-
tica? Segundo, se a decisão fosse expandir o número de seus aSSOCia-
tor d~democr~ti;~ção. Se continuarão a representar tal papel,. de;
dos, deveria ela dar prioridade aos membros da Associação Européia
pende de sua vontade, capacidade e interesse. Antes de ~eados da
de Livre Comércio, tais como a Áustria, Noruega e Suécia, aos paí-
década de 70, a promoção da democracia nem se,rn.pr~L?luma alta
prioridade da política exterior americana. O fim da Guerra Fria e da países católicos já não era mais autoritária, assim <tarn_b~_~_c:~~9.-
- disputa iàeõlÓgicã-cõma União Soviética poderia eliminar uma das dade dos Estados Unidos em promover a democracia tinha, de al-
razões para apoiar ditadores anticomunistas, mas poderia também gum modo, se esgotado, porque já havia sido exercida()ndep~d~~1~'
reduzir os incentivos para qualquer substancial envolvimento ameri- sê-Ia com mais facilidade. Os países da América Latina, Carffie,
cano no Terceiro Mundo. No início dos anos 80, os elaboradores da Europa e Leste asiático, que eram mais suscetíveis à influência ame-
política americana tinham aprendido a lição - a democracia era um ricana, haviam, com poucas exceções, se tornado democráticos. Em
baluarte mais forte contra o comunismo do que os regimes autoritá- 1990, o México era o único país importante onde os Estados Unidos
rios de bases estreitas. Se diminuiu a ameaça do comunismo, tam-
ainda poderiam exercer uma influência significativa em favor da de-
bém diminuiu a necessidade de promover a democracia como sua al-
mocratização.
ternativa mais robusta. Além disso, tanto Carter como Reagan trata-
Os países não-democráticos na África, Oriente Médio e Ásia
ram a política exterior em termos moralistas, atribuindo aos direitos
continental eram menos suscetíveis à influência americana. Em
humanos e à democracia um papel retórica central e, em grande
1988, por exemplo, os manifestantes em favor da democracia na
medida, um papel real, significativo, entre os objetivos de sua políti-
Birmânia aclamaram os Estados Unidos por suas denúncias da re-
ca exterior. O presidente Bush, ao contrário, quando comparado
pressão governamental, "agarrados a qualquer migalha de esperança
com seus dois predecessores, parecia consideravelmente mais prag-
de uma intervenção dos Estados Unidos", e em determinado mo-
mático do que moralista em sua abordagem. Em abril de 1990, o se-
mento foram arrastados pelo entusiasmo com a notícia de que a
cretário de Estado James Baker declarou: "Acima da repressão está a
democracia. O tempo de varrer os velhos ditadores está passando rá- Marinha norte-americana tinha entrado em águas birmanesas5• Em
pido; o tempo de construir novas democracias chegou. É por isso determinadas ocasiões, em apoio à democracia, a Marinha dos
que o presidente Bush definiu nossa nova missão como sendo a pro- Estados Unidos navegou em águas da República Dominicana, Haiti,
moção e a consolidação da democracià'. Contudo, muitas vezes ou- Panamá e Granada. Pode-se até imaginar que em algum momento
tras metas pareciam ter uma prioridade maior. Isso ficou mais evi- ela navegue em águas cubanas com a mesma missão. No entanto, a
dente na política do governo em relação à China em 1989 e 1990. Birmânia está no limite exterior de alcance dos interesses e do poder
Depois da praça Tiananmen, o ex-presidente Reagan declarou com americanos. Ali os Estados Unidos somente enviaram protestos di-
eloqüentes frases wilsonianas: "Não se pode massacrar uma idéia. plomáticos e negaram ajuda econômica. A capacidade dos Estados
Não se pode jogar tanques contra a esperança"4. O presidente Bush Unidos de promover a democracia entre africanos e chineses é igual-
ordenou a seu consultor de segurança nacional que se encontrasse se- mente limitada.
cretamente com os líderes chineses. Com exceção da América Central e do Caribe, o golfo Pérsico
<ºe~sªfºxm~2deseiº alllericano de promover a democracia é a área mais importante do Terceiro Mundo onde os Estados
pode se manter ou nªl? Por outro lado, a capacidade-americana de Unidos continuam a ter interesses vitalmente importantes. A Guerra
fazê-Ia tendia a se mostrar limitada. As falas sobre o declínio ameri- do Golfo e o envio de mais de 500 000 soldados americanos para a
cano no final dos anos 80 muitas vezes eram exageradas. Entretanto, região estimularam as demandas dos movimentos a favor da demo-
de fato, os déficits no comércio e no orçamento impuseram novos li- cracia no Kuwait e naArábia Saudita e deslegitimaram o regime de
mites aos recursos que os Estados Unidos poderiam usar para exercer Saddam Hussein, no Iraque. Grandes deslocamentos de tropas ame-
influência nos países estrang~s. Além disso, assim como a capaci- ricanas no golfo, se fossem mantidas por um certo tempo, seriam
"dade futura da Igreja católica em_promover a Jemocraciâ~rr; países um impulso externo poderoso para a liberalização, ou mesmo para a
autoritários encontrava-se grandemente reduzida, pois a maioria dos democratização, e tais deslocamentos, com toda probabilidade, só
poderiam ser mantidos por muito tempo se ocorresse um movimen- no Egito, Jordânia, Tunísia e Argélia a abrir mais espaço político pa-
to em direção à democracia. ra a expressão do descontentamento. Como resultado do que acon-
A importância dos Estados Unidos para a democratização en- tecia na Europa oriental, um jornalista egípcio observou: "agora não
volve mais do que o exercício direto e intencional do poder america- há como escapar da democracia. Todos esses regimes árabes não têm
no. Nos anos 80, os movimentos em favor da democracia em todo o outra escolha a não ser ganhar a confiança de seu povo e se subme-
mundo foram inspirados no exemplo americano. Em Rangum, os ter à escolha popular"?
defensores da democracia carregaram a bandeira americana; em a exemplo da Europa oriental teve seu principal efeito sobre os
Johannesburg reeditaram The Federalist, em Praga cantaram Wé shall líderes de outros regimes autoritários e não sobre o povo que eles go-
overcome; em Varsóvia leram Lincoln e citaram Jefferson; em Pequim vernavam. Os governantes marxistas-leninistas do Iêmen do Sul, por
erigiram a Deusa da Democracia; em Moscou, John Sununu aconse- exemplo, "viram com temor a queda dos regimes da Europa oriental,
lhou Mikhail Gorbachev quanto à organização de uma presidência6• temendo o mesmo destino", e por isso imediatamente se apressaram
a modelo democrático americano era atrativo em parte porque de- em consumar a união com o Iêmen do Norte, para evitar tal destino.
fendia a liberdade, mas também, há que se supor, em parte porque O presidente Mobutu reagiu com horror à imagem na televisão do
passava uma imagem de força e sucesso. As pessoas, como na segun- cadáver sangrento de seu amigo Nicolae Ceausescu. Alguns meses
da onda após a Segunda Guerra Mundial, queriam imitar o modelo mais tarde, comentando que "Vocês sabem o que se passa no mun-
vencedor. do", anunciou que permitiria que dois partidos além do seu dispu-
a que aconteceria, no entanto, se o modelo americano não tassem as eleições em 1993. Na Tanzânia, Julius Nyerere observou:
mais encarnasse força e sucesso, não mais parecesse ser o modelo "Se houver mudanças na Europa oriental, outros países com sistema
vencedor? No final dos anos 80, muitos argumentaram que "o declí- de partido único e adeptos do socialismo também serão afetados". A
!lio americano" era a verdadeira realidade. autros argumentaram Tanzânia poderia aprender "uma ou duas lições" com a Europa
contrário. Entretanto, virtualmente ninguém negava que os Estados oriental. No Nepal, em abril de 1990, o governo anunciou que o rei
Unidos enfrentavam problemas graves: crimes, drogas, déficits co- Birendra estava suspendendo o banimento nos partidos políticos,
merciais, déficits orçamentários, baixos níveis de poupança e investi- como resultado da "situação internacional" e "das expectativas cres-
mento, redução do crescimento da produtividade, má qualidade da centes do pOVO"8.
instrução pública, decadência dos centros das cidades. As pessoas, NOGlJ.tantu•.na allS,ê!1ciade condições fa.v()~áveis.
no país_afeta.:
em todo o mundo, poderiam chegar a ver os Estados Unidos como do, ~_~f~~t?de bola-de-neve:por si mesD;Q,éUllla causa fraca d~_de-
um poder em declínio, caracterizado pela estagnação política, inefi- mocratização. A democratização nos países A e B não é razão, em si
ciência econômica e caos social. Se isso acontecesse, os fracassos per- mesma e por si mesma, para a democratização no país C. Nos anos
cebidos dos Estados Unidos seriam inevitavelmente vistos como fra- 80, a legitimidade da democracia como sistema de governo chegou a
cassos da democracia. a atrativo mundial da democracia estaria sen- ser aceita por todo o mundo. Entretanto, as condições econômicas e
sivelmente reduzido. sociais favoráveis à existência da democracia não existiam em todo o
Q impa~to de bola-de-neve sobre a democratização foi clara- mundo. Para qualquer país em particular, a "revolução democrática
mente evidente em 1990 na Bulgária, Romênia, Iugoslávia, Mongó- mundial" poderia produzir um ambiente externo favorável à demo-
lia, Nepal e Albânia. Também afetou os movimentos pela liberaliza- cratização, mas não poderia produzir, naquele país, as condições ne-
ção em alguns países da Arábia e da África. Em 1990, por exemplo, cessárias para a democratização.
afirmou-se que a "insurreição na Europa oriental" tinha "incentiva- Na Europa oriental, o principal obstáculo para a democratiza-
do as demandas de mudanças no mundo árabe" e levado os líderes ção havia sido o controle soviético. Uma vez removido, o movimen-
to para a democracia se desenvolveu com facilidade. Parece imprová- cimento econômico para encorajar os direitos humanos e a demo-
vel que o único obstáculo importante para a democratização no cracia nos países pobres. Em 1990, nenhuma dessas possibilidades
Oriente Médio, África e Ásia fosse a inexistência de um exemplo de parecia muito provável, mas depois dos acontecimentos de 1989 se-
democratização na Europa oriental. E se os governantes podiam es- ria ousadia descartar qualquer coisa.
colher o autoritarismo antes de dezembro de 1989, não é claro por
que não poderiam, se quisessem, escolhê-Io depois de dezembro de
1989. O efeito de bola-de-neve seria real apenas na medida em que
fosse real em suas mentes e os levasse a acreditar na desejabilidade
e/ou necessidade de democratização; Os acontecimentos da Europa
oriental, em 1989, indubitavelmente encorajaram os grupos demo- Em 1990, ao menos duas das democracias da terceira onda ti-
cráticos de oposição e amedrontaram os líderes autoritários de ou- nham revertido a governos autoritários. Como sugerido no capítulo
tros lugares. No entanto, dada a prévia fraqueza dos primeiros e a re- 5, os problemas de consolidação poderiam levar a futuras reversões
pressão a longo prazo dos últimos, parece inevitável algum ceticismo em países onde fossem fracas as condições para manter a democra-
em relação a quanto de progresso significativo na direção da demo-
cia. No entanto, a primeira e a segunda onda democrática foram se-
cracia o impulso da Europa oriental realmente produzirá na maior
guidas por fortes ondas reversas que iam além dos problemas de con-
parte dos remanescentes países autoritários.
solidação e durante as quais a maioria das mudanças de regime em
.....
v _EJJ)J990.,~muit'ls das causas Qdgil!ais da terceira onda já ti-
todo o mundo foi de democracia para autoritarismo. Se a terceira
nham significativamente enfraquecido ou se exaurido. A Casa
onda de democratização diminuiu ou chegou a um termo, que fato-
Branca, o Krêmlin, o Vaticano ou a Comunidade Européia não ti-
nham uma posição forte para promover a democracia nos países on- res poderiam produzir e caracterizar uma terceira onda reversa?A ex-
de ela não existia, na Ásia, África e Oriente Médio. Entretanto, não periência da primeira e da segunda onda reversa pode ser relevante.
era impossível que novas forças favoráveis à democratização pudes- Uma ampla exploração de tais mudanças de regime está além do al-
sem emergir. Em 1985, quem pensaria que em cinco anos Mikhail cance deste estudo. No entanto, as seguintes generalizações parecem
Gorbachev estaria facilitando a democratização na Europa oriental? ser válidas para as duas primeiras ondas reversas.
Pode-se conceber que, nos anos 90, o FMI e o Banco Mundial pos- Primeira, as causas das mudanças dos sistemas políticos demo-
sam se tornar muito mais poderosos do que têm sido na exigência de cráticos para autoritários foram ao menos tão variadas quanto as
democratização política, assim como na liberalização da economia, causas das mudanças do autoritarismo para a democracia, e em par-
como pré-condição para assistência econômica. Pode-se conceber te a elas se sobrepuseram. Entre os fatores que contribuíram para as
que a França possa vir a se tornar mais ativa na promoção da demo- transições da primeira e segunda ondas reversas estão:
cracia entre suas antigas colônias africanas, onde sua influência con-
tinua substancial. Pode-se conceber que a Igreja ortodoxa possa sur- 1. a fraqueza dos valores democráticos entre os principais grupos de
gir como uma poderosa influência para a democracia nos Bálcãs e na elite e o público em geral;
União Soviética. Pode-se conceber que um defensor da versão chine- 2. a crise ou o colapso econômico que intensificaram os conflitos so-
sa da glasnost, do tipo de Gorbachev, possa chegar ao poder em ciais e acentuaram a popularidade de remédios que só poderiam
P~qui~. Pode-se conceber que um novo Nasser jeffersoniano possa ser impostos por governos autoritários;
dlfundu uma versão democrática do pan-arabismo no Oriente 3. as polarizações social e política muitas vezes produzidas pelas ten-
Mf<lio. Pode-se conceber que mesmo o Japão possa usar o seu cres- tativas dos governos de esquerda de introduzir ou parecer intro-
duzir demasiadas reformas sócio-econômicas importantes num executivos ocorreram na segunda onda reversa na Coréia, Índia e
tempo muito curto; Filipinas. No Uruguai, as lideranças civis e militares cooperaram
4. a determinação de grupos conservadores de classes média e alta para o fim da democracia através de um golpe misto, militar e exe-
em excluir do poder político os movimentos populistas e esquer- cutivo.
distas e os grupos de classe baixa; Terceira, em muitos casos, tanto na primeira quanto na segun-
5. a falência da lei e da ordem resultante de terrorismo ou insurrei- da onda reversa, os sistemas democráticos foram substituídos por
ção; formas historicamente novas de governo autoritário. O fascismo era
6. a intervenção ou conquista por um governo estrangeiro não-de- diferente das formas anteriores de autoritarismo por sua base nas
mocrático; massas, sua ideologia, sua organização partidária e suas tentativas de
7. o efeito de bola-de-neve, sob a forma de efeito-demonstração, do penetrar e controlar a maior parte da sociedade. O autoritarismo
colapso ou da derrocada dos sistemas democráticos em outros burocrático diferiu das formas anteriores de governo militar na
países. América Latina por seu caráter institucional, sua suposição de dura-
ção indefinida e suas políticas econômicas. A Itália e a Alemanha nos
Segunda, as transições da democracia para o autoritarismo, ex-
anos 20 e 30, e o Brasil e a Argentina nos anos 60 e 70 foram os paí-
ceto as produzidas por atores estrangeiros, quase sempre foram pro-
ses de ponta na introdução dessas novas formas de governo não-de-
duzidas por aqueles que, no sistema democrático, estavam no poder
mocrático e forneceram os exemplos que grupos antidemocráticos
ou próximo ao poder. Com apenas uma ou duas possíveis exceções,
de outros países tentaram imitar. As duas novas formas de autorita-
os sistemas democráticos não terminaram por meio de voto ou re-
rismo foram, na verdade, uma reação ao desenvolvimento social e
volta populares. Na primeira onda reversa, movimentos antidemo-
econômico: na Europa, a expansão da mobilização social e da parti-
cráticos com uma retaguarda popular considerável chegaram ao po-
cipação política, e, na América Latina, a exaustão da fase de desen-
der na Alemanha e na Itália, e estabeleceram ditaduras fascistas. As
volvimento econômico de substituição de importações baseada no
conquistas nazistas acabaram então com a democracia em sete ou-
populismo.
tros países europeus. Na Espanha, na primeira onda reversa, e no
As causas e formas das duas primeiras ondas reversas não po-
Líbano, na segunda, a democracia terminou em guerra civil.
dem propiciar previsões quanto às causas e formas de uma possível
No entanto, a esmagadora maioria das transições da demo-
terceira onda reversa.,Entret~E.toJ._e,)(peJjênc.iªs
préyias sugerem, na
cracia ou tomou a forma de um golpe militar, em que os oficiais
verdade, algumasyossív~iHªl!Sa$_d~uma terceiraj)udarev.ersa.
militares (normalmente o comando supremo do Exército) destituí- _ ... ::--------'~_.
ram os líderes democraticamente eleitos e instalaram alguma forma -" l~alhas sistêmicas dos regimes democráticos para operar efetiva-
de ditadura militar, ou de golpes executivos, em que os principais me'nte podem solapar sua legitimidade. No final do século XX, as
chefes executivos escolhidos democraticamente acabaram efetiva- principais fontes ideológicas não-democráticas de legitimidade,
mente com a democracia, concentrando o poder neles próprios e principalmente o marxismo-Ieninismo, ficaram desacreditadas. A
geralmente declarando um estado de emergência ou de lei marcial. aceitação geral das normas democráticas significava que os gover-
Na primeira onda reversa, golpes militares acabaram com os siste- nos democráticos eram ainda menos dependentes da legitimidade
mas democráticos nos novos países da Europa oriental e na Grécia, de desempenho do que eram no passado. Todavia'3i~_cap~~i~~de
Portugal, Argentina e Japão. Na segunda onda reversa, os golpes prolongada de produzir riqueza, prosperid~~e,.~qüi~ade,justiç_a,
mil~tares acabaram com a democracia em muitos países da América ordem interna ou segurança externa, pó4~, ao longo do temp~,
Ladna, Indonésia, Paquistão, Grécia, Nigéria e Turquia. Golpes solapar a legitimidade até mesmo dos governos democráticos~-A
medida que se diluem as lembranças dos fracassos autoritários, é democráticos do Leste asiático podem ficar significativamente en-
provável que aumente a irritação com os fracassos democráticos. fraquecidos.
~ 2. Mais especificamente, ~l~.~~l~~.o..~~onô1lJ:~~~.er~1interna,cional 6. Como nos anos 20 e nos anos 60, .E2ç!~m,4e.Q.ovosurgir várias
nos moldes de 1929-30 poderia solapar a legitimidade da demo- formasde autoritarismo que pareçam apropriadas às necessidades'
cracia em muitos países. A maioria das democracias sobreviveram "dos temp~s. Existem várias possibilidades:
à Grande Depressão dos anos 30. Todavia, algumas sucumbiram a) O nacionalismo autoritário pode se tornar um fenômeno fa-
e provavelmente outras também sucumbiriam em resposta a um miliar nós países do Tercei~o Mundo e também na Europa
desastre econômico semelhante no futuro. oriental. As revoluções de 1989-90 na Europa oriental foram
3. Uma guinada para o autoritarismo dada por qualquer grande po- primariamente movimentos democráticos anticomunistas ou
. tência democrática ou democratizadora poderia desencadear movimentos nacionalistas anti-soviéticos? Se for o último, re-
ações semelhantes, el!l fm:ma de bola-d~-neve, em outros países. gimes nacionalistas autoritários podem voltar em alguns países
Uma inversão do sentido na direção do autoritarismo, na Rússia da Europa oriental.
ou na União Soviética, deslocaria os efeitos da democratização em b) Ofundamentalismo rel~gioso tem sido mais dramaticamente
outras repúblicas soviéticas, na Bulgária, Romênia, Iugoslávia e predominante no Irã, mas tanto os movimentos fundamenta-
Mongólia e, possivelmente, na Polônia, Hungria e T checos- listas xiitas quanto sunitas podem chegar ao poder em outros
lováquia. Isso poderia significar uma mensagem aos déspotas de países. Os movimentos fundamentalistas judeu, hindu e cris-
outros lugares: "Vocês também podem voltar aos negócios". O es- tão também já foram fortes. Quase todos os movimentos fun-
tabelecimento de um governo autoritário na Índia poderia ter damentalistas são antidemocráticos, por restringirem a parti-
um efeito-demonstração significativo para outros países do cipação política àqueles que aderem a um determinado credo
Terceiro Mundo. religioso.
4. Mesmo que um país importante não reverta para o autoritarismo, c) O autoritarismo oligárquico poderia se desenvolver tanto nos
a mudança para a ditadura por vários países recém-democráticos, países ricos como nos pobres, como reação às tendências nive-
por lhes faltarem muitas das usuais pré-condições para a demo- ladoras da democracia. A que extremo pode chegar uma pola-
cracia, possivelmente poderia solapar a democracia em outros rização sócio-econômica antes que a democracia se torne im-
países em que tais pré-condições fossem fortes. Isso seria uma bo- possível?
la-de-neve reversa.' .--, d) Uma ditadura populista poderia surgir no futuro como acon-
5. Se um Estado não-democrático desenvolvesse muito seuP2der e teceu no passado, como reação à proteção da democracia aos
começasse a se expandir além de suas fronteiras, isso também po- direitos de propriedade e a outras formas de privilégio. Nos
deria estimular movimentos autoritários em outros países. Tal es- países em que a propriedade da terra ainda é um questão, a in-
tímulo seria particularmente forte se em seu processo de expansão capacidade das democracias em fazer reformas agrárias pode
o Estado autoritário derrotasse militarmente um ou mais países estimular uma volta ao autoritarismo.
democráticos. No passado, todas as principais potências que se e) Ditaduras comunais podem surgir em democracias em que
desenvolveram economicamente também tenderam a se expandir dois ou mais grupos étnicos, raciais ou religiosos participem da
territorialmente. Se a China conservar seu sistema autoritário de política. Como na Irlanda do Norte, África do Sul, Sri Lanka
g0'erno, desenvolver-se economicamente nas próximas décadas e e em outros lugares, um grupo pode tentar estabelecer o con-
expandir sua influência e controle no Leste asiático, os regimes trole sobre toda a sociedade.
~,
Todas essas formas de autoritarismo existiram no passado. Não
está além do entendimento humano imaginar novas formas no futu-
ro. Uma possiblidade pode ser uma ditadura tecnocrática eletrônica, Um obs~"á.c;1!l~QlJçiSQ"'p_()~e.n.s.!<.t,lfJ.lente~ignificativo
a mais.de-.
em que o governo autoritário fosse legitimado e possibilitado pela moc:~~izaçõesfoi a virtual ausência de_~x:periência.com a democracia
capacidade de manipular a informação, os meios e recursos sofistica- º.ª_.m;üoii~~â6S paísef4\le.~cantiriuar,ilffiªutoritários nos anos 90.
dos de comunicação. Nenhuma dessas velhas ou novas formas de au- Dos 29 país~~qiie-s~democratizaram entre 1974 e 1990, 23 haviam
toritarismo é altamente provável; é também difícil dizer que nenhu- tido alguma experiência democrática anterior. Em 1990, apenas um
ma delas é totalmente impossível. pequeno número de países não-democráticos poderia reivindicar tal
experiência. Entre eles incluem-se alguns poucos da terceira onda
que sofreram recaídas (Sudão, Nigéria, Suriname e, possivelmente,
Paquistão), quatro países da segunda onda que sofreram recaídas e
Mais democratização: obstáculos e não se redemocratizaram na terceira onda (Líbano, Sri Lanka,
oportunidades Birmânia, Fiji) e três países que se democratizaram na primeira on-
da mas que foram impedidos pela ocupação soviética de se redemo-
Em 1990, aproximadamente dois terços dos países no mundo cratizarem ao final da Segunda Guerra Mundial (Estônia, Letônia,
não tinham regimes democráticos. Tais países se situavam, em geral, Lituânia). Yir~1!alE!_~E.!.~od~s._~~2!1_!f.2~.9º .9U n:~.* pªíses não-de.:
em quatro categorias geoculturais; mocráticos em 1990 não. tiveram eXl?~riênciasignificativa com g<?-
.yernos democráticos: ÍSsõ, obviamente, não é um impedimento de-
1. regimes marxistas-Ieninistas de origem autóctone, entre eles a
cisivo para adêmocratização, ou então nenhum país seria democrá-
União Soviética, onde ocorreu uma liberalização nos anos 80 e
tico. No entanto, excetuando-se as antigas colônias, quase todos os
onde existiam movimentos democráticos em muitas repúblicas,
países que se democratizaram depois de 1940 tiveram alguma expe-
mas onde as forças conservadoras continuavam fortes;
riência anterior com a democracia. Será que os países sem tal expe-
2. países africanos do sub-Saara, que, com poucas exceções, conti- riência serão capazes de se democratizarem no futuro?
nuaram sendo ditaduras personalistas, regimes militares, sistemas Em vários países, um obstáculo à democratização tende a desa-
de partido único, ou alguma combinação dos três; parecer na década de 1990. Como apontado no capítulo 3, os líde-
3. países islâmicos, do Marrocos à Indonésia, que, com exceção da res que criam os regimes autoritários ou que permanecem por mui-
Turquia, e, problematicamente, do Paquistão, tinham regimes to tempo no poder em tais regimes normalmente tornam-se empe-
não-democráticos (embora em 1990 alguns parecessem estar se li- dernidos conservadores e adversários da democratização. Alguma
beralizando); e forma de mudança de liderança no interior do sistema autoritário
tem de preceder o movimento para a democracia. Em alguns regi-
4. países do Leste asiático, da Birmânia, através do Sudeste asiático,
mes autoritários, a mortalidade humana deverá garantir tais mudan-
até a China e a Coréia do Norte, que incluíam sistemas comunis-
ças nos anos 90. Em 1990, os velhos e controladores líderes da
tas, regimes militares, ditaduras personalistas e duas semidemo-
China, Costa do Marfim e Malavi tinham mais de oitenta anos de
cracias (Tailândia e Malaísia).
idade. Os da Birmânia, Indonésia, Coréia do Norte, Lesoto e Vietnã
~, os~~~~á~ulos à democratização eas.forças a seu
_~1ll tai~J)_aíses, tinham mais de setenta, e os líderes, também antigos, de Cuba,
favoypodem ser divididas em três.categoÚas amplas: pQÜdcas~cultu- Marrocos, Cingapura, Somália, Síria, Tanzânia, Zaire e Zâmbia ti-
rais e econômicas. nham sessenta anos ou mais. A morte ou a saída do cargo de tais lí-
deres removeria um obstáculo à democratização em seus países, mas Sukarno, na Indonésia. Tais líderes chegaram ao poder através do
não a tornaria necessária. sistema eleitoral e então usaram seu poder para solapar tal sistema.
Entre 1974 e 1990, a democratização aconteceu em ditaduras Tinham pouco compromisso com valores e práticas democráticas.
personalistas, regimes militares e sistemas de partido único. A demo- Mais geralmente, mesmo quando os líderes asiáticos, africanos
cratização em plena escala não aconteceu, no entanto, em Estados e do Oriente Médio conformaram-se mais ou menos às regras da
comunistas de partido único que eram os resultados de revoluções democracia, muitas vezes fizeram-no relutantemente. Muitos líde-
internas. A liberalização estava sendo feita na União Soviética, e res políticos europeus, norte-americanos e latino-americanos na úl-
muito possivelmente isso poderia levar à total democratização na tima metade do século XX foram defensores, bem como praticantes
Rússia. Na Iugoslávia, movimentos no sentido da democracia esta- ardentes e articulados da democracia quando estavam no poder. Já
vam acontecendo na Eslovênia e na Croácia. A revolução comunis- os países asiáticos e africanos, pelo contrário, não geraram muitos
ta iugoslava, no entanto, foi em grande parte uma revolução sérvia, chefes de governo que também fossem apóstolos da democracia.
e as perspectivas para a democracia na Sérvia são, no mínimo, duvi- Citando, para comparação, oito chefes de governo latino-america-
dosas. No Camboja, um regime comunista revolucionário extraor- nos de oito diferentes países, quem eram os equivalentes asiáticos,
dinariamente brutal foi substituído por um regithe comunista me- árabes ou africanos de Rómulo Betancourt, Alberto Lleras Ca-
nos brutal, imposto por uma força externa. Em 1990, a Albânia pa- margo, José Figueres, Eduardo Frei, Fernando Belaúnde Terry, Juan
recia estar se abrindo; mas na China, Vietnã, Laos, Cuba e Etiópia, Bosch, José Napoleón Duarte e Raúl Alfonsín? Jauaharlal Nehru e
regimes marxistas-Ieninistas produzidos por revoluções pareciam Corazón Aquino o eram, e pode ter havido outros, mas são em pe-
determinados a continuar regimes marxistas-Ieninistas. As revolu- queno número. Não vem à mente nenhum líder árabe, e é difícil
ções em tais países foram nacionais, bem como comunistas, e por- identificar qualquer líder islâmico que tenha construído uma repu-
tanto o comunismo e a identidade nacional estavam intimamente tação como advogado e partidário da democracia enquanto estives-
ligados, como evidentemente não havia acontecido na Europa se no poder. Por que isso? A pergunta leva inevitavelmente à cultu-
oriental ocupada pelos soviéticos. Quais eram os obstáculos à libe- ra e à economia.
ralização em tais países: as origens e a natureza do regime, a longa
permanência (em alguns casos) de seus líderes no poder, ou sua po-
breza e atraso econômico?
Um sério impedimento à democratização era a ausência ou Argumenta-se que as grandes tradições históricas e culturais do
debilidade de compromisso real com os valores democráticos entre mundo variam significativamente quanto à medida em que suas ati-
os líderes políticos na Ásia, África e Oriente Médio. Os líderes po- tudes, valores e crenças e os padrões comportamentais relativos aos
líticos fora do poder têm boas razões para defender a democracia. O mesmos conduzem ao desenvolvimento da democracia. Uma cultu-
teste de seu compromisso democrático acontece quando eles estão ra profundamente antidemocrática impediria a difusão das normas
no poder. Na América Latina, os regimes democráticos normal- democráticas na sociedade, negaria legitimidade às instituições de-
mente foram derrubados por golpes de Estado militares. Isso tam- mocráticas e dessa maneira complicaria em muito, ou mesmo impe-
bém, claro, aconteceu na Ásia e no Oriente Médio. Nestas regiões, diria, o surgimento e o efetivo funcionamento de tais instituições. A
no entanto, os próprios líderes eleitos foram também responsáveis tese cultural aparece sob duas formas ..}\y-e.csâux.f:stútivaafl.tma...q.ue.
pelo fim da democracia: Syngman Rhee e Park Chung Hee, na ,apenas a cultura ocidental dá uma base adequada para o desenvolv~-
Coréia; Adnan Menderes, na Turquia; Ferdinand Marcos, nas mento das instituições democráticas e que a democracia é, conse- ..
Filipinas; Lee Kwan Yew, em Cingapura; Indira Gandhi, na Índia; -qi.ienteme~te, em geral inapropriada para as sociedades não-oc;iden-
\
tais. Nos primeiros anos da terceira onda, tal argumento foi apresen- Coréia do Sul, Mongólia, Namíbia e Senegal). Entre os 30 países
tado explicitamente por George Kennan. A democracia, disse ele, que se tornaram democráticos na terceira onda, 26 eram países
ocidentais ou países onde houve forte influência ocidental.
era uma forma de governo "que evoluiu nos séculos XVIII e XIX no
A.tese da cultura ocidental tem implicações imediatas para a de-
noroeste da Europa, basicamente nos países que ficam às margens do
mocratização nos Bálcãsena lJnião Soviética. Historicamente tais
canal da Inglaterra e do mar do Norte (mas estendendo-se um pou-
áreas eram parte d~~ 'impé;ios cz~ri'sta;;~~~~no; suas religiõe~ do-
co pela Europa central), e que foi então levada para outras partes do
minantes eram o cristianismo ortodoxo e o islamismo, e não o cristia-
mundo, inclusive a América do Norte, onde populações daquela
nismo ocidental. Ia!sár~<l~!1ã_~Jç!:amsignifjcª~iyam~ntepenetradas
área do noroeste da Europa fixaram-se como povoadores originais,
ou como colonialistas, e estabeleceram os padrões dominantes de
~sllitl,!!a_oci<f~r.u~: não tiveram as experiências ocidentais com o
feudalismo, a Renascença, a Reforma, o Iluminismo, a Revolução
governo civil". A democracia, conseqüentemente, tem uma "base re-
Francesa e o liberalismo. Como sugeriu William Wallace, o fim da
lativamente estreita tanto no tempo como no espaço; e ainda estão
Guerra Fria e a queda da cortina de ferro podem ter deslocado a crí-
para serem produzidas evidências de que ela seja a forma natural de
tica linha política divisória na direção leste, para os limites do cristia-
governo para populações de fora de tais estreitos perímetros".
nismo ocidental em 1500. Começando ao norte, tal linha vai na dire-
Portanto, não há "nenhuma razão para supor que a tentativa de de-
ção sul mais ou menos ao longo da fronteira entre Finlândia e Rússia,
senvolver e empregar instituições democráticas seja o melhor cami-
das fronteiras ocidentais das repúblicas bálticas, através da: Bie-
nho para muitos desses pOVOS"9. A democracia, em suma, era apro-
lorrússia e da Ucrânia, separando a Ucrânia católica romana da Ucrâ-
priada apenas para os países do noroeste da Europa, e talvez da
nia ortodoxa, para o sul e depois para o oeste na Romênia, separando
Europa central, e para as ramificações constituídas por suas colônias
a Transilvânia do resto do país, e então para a Iugoslávia, mais ou me-
de povoamento.
nos ao longo da linha que separa a Eslovênia e a Croácia das outras
As evidências em apoio da tese da cultura ocidental são impres-
repúblicaslO• Tal linha pode agora estar separando as áreas onde a de-
~\ sionantes, embora não totalmente convincentes: mocracia poderá florescer daquelas onde isso não acontecerá.
'.,J 1. A democracia moderna originou-se no Ocidente. ~~~~ersã~ m~Ilos restritiva do argumento do obstáculo cultu-
2. Desde o começo do século XIX, a maioria dos países democráti- -!~l. é a de que não há umaÓnIéa cultura peculiarmente favorável à
cos é de países ocidentais. .democracia, mas de que uma ou mais culturas lhe são peculiarmen-
3. Fora da área do Atlântico Norte, a democracia se difundiu mais te hostis. As duas culturas mais freqüentemente citadas são o confu'"
nas antigas colônias britânicas, nos países com forte influência cionismo e o islamismo. Três perguntas são relevantes para determi~
americana e, mais recentemente, nas antigas colônias ibéricas na nar se tais culturas colocam obstáculos à democratização no final do
América Latina. século XX. Primeira, em que medida os tradicionais valores e crenças
4. Dos 29 países democráticos no fim da segunda onda reversa, em confucionistas e islâmicos são hostis à democracia? Segunda, caso o
1973, 20 eram da Europa ocidental e povoados por europeus e la- sejam, em que medida tais culturas de fato dificultaram o progresso
tino-americanos, oito eram antigas colônias britânicas, mais o no sentido da democracia? Terceira, se fizeram isso, em que medida
Japão. tenderão a continuar a fazê-Io no futuro?
5. Dos 58 países democráticos em 1990,37 eram países da Europa ConfUcionismo. Quase não existe desacordo entre os acadêmi-
ocidental e povoados por europeus e latino-americanos, seis eram cos quanto à proposição de que o confucionismo tradicional era
/ da Europa oriental, nove eram antigas colônias britânicas, ameri- não-democrático ou antidemocrático. O único elemento moderador
canas e australianas e mais seis outros países (Japão, Turquia, era a medida em que, na estrutura clássica do governo chinês, o sis-
tema de exame abria carreiras aos que tinham talento, sem conside- nos de dissidentes radicais. Os críticos democráticos "da corrente
ração com a posição social. No entanto, mesmo que fosse esse o ca- principal" não romperam com os elementos mais importantes da
so, um sistema de promoção por mérito não faz uma democracia. tradição confucionista12• Os modernizadores da China foram os le-
Ninguém descreveria um exército moderno como democrático ape- ninistas confucionistas, na expressão de Lucian Pye, dos partidos
nas porque os oficiais são promovidos com base em suas capacida- Nacionalista e Comunista. No final dos anos 80, quando o rápido
des. O confucionismo chinês clássico e seus derivados, na Coréia, crescimento econômico na China produziu uma nova série de de-
Vietnã, Cingapura, Taiwan e, de maneira diluída, no Japão, enfati- mandas de reforma política e de democracia por parte de estudantes,
zava o grupo mais que o indivíduo, a autoridade mais que a liberda- intelectuais e grupos de classe média urbana, a liderança comunista
de e as responsabilidades mais que os direitos. ABsociedades confu- respondeu de duas maneiras. Primeira, articulou uma teoria do "no-
cionistas não tinham uma tradição de direitos contra o Estado; na vo autoritarismo", baseada nas experiências de Taiwan, Cingapura e
medida em que existissem direitos individuais, eles eram criados pe- Coréia, justificada pelo argumento de que, para um país no estágio
lo Estado. Preferia-se a harmonia e a cooperação ao desacordo e à de desenvolvimento em que estava a China, o autoritarismo era ne-
concorrência. A manutenção da ordem e o respeito pela hierarquia cessário para alcançar um desenvolvimento econômico equilibrado e
eram valores centrais. Os conflitos de idéias, grupos e partidos eram conter suas conseqüências instabilizadoras. Segunda, a liderança re-
considerados perigosos e ilegítimos. Mais importante ainda, o con- primiu violentamente o movimento democrático em Pequim e em
fucionismo misturava sociedade e Estado e não dava nenhuma legi- outros lugares no verão de 1989.
timidade a instituições sociais autônomas que se contrapusessem ao Na China, a economia reforçou a cultura em oposição à de-
Estado em nível nacional. Na "China tradicional não havia nenhu- mocracia. Em Cingapura, Taiwan e Coréia, o crescimento econô-
ma concepção da separação entre o sagrado e o profano, o e~piritual mico espetacular criou as bases econômicas para a democracia no fi-
e o secular. A legitimidade política na China confucionista apoiava- nal dos anos 80. Em tais países a economia se chocou com a cultu-
se no Mandato dos Céus, que definia a política em termos de mora- ra ao modelar o desenvolvimento econômico. Em 1990, Cingapura
lidade". Não havia bases legítimas para uma limitação do poder, era o único país não-exportador de petróleo de "alta renda" (tal co-
porque o poder e a moralidade eram idênticos. "Pensar que o poder mo definido pelo Banco Mundial) que não tinha um sistema polí-
pudesse ser corrupto e necessitasse de um freio e de uma contraposi- ticodemocrático, e seu líder era um articulado expoente dos valores
ção institucional é uma contradição em termos"l1. confucionistas em oposição aos da democracia ocidental. Os ameri-
Na prática, as sociedades confucionistas ou influenciadas pelo canos, argumentava Lee Kwan Yew, acreditam em "partidos múlti-
confucionismo têm sido pouco hospitaleiras com a democracia. No plos, dissenso, discussão, discursos fortes, conflitos - e acreditam
Leste asiático, apenas dois países, Japão e Filipinas, tiveram uma ex- que dos conflitos nasce o esclarecimento". Na verdade, entretanto,
periência prolongada com governos democráticos antes de 1990. o "mercado de idéias, ao invés de produzir esclarecimento harmo-
Em ambos os casos, a democracia foi o produto da presença ameri- nioso, tem levado, de vez em quando, a tumultos e derramamentos
cana. As Filipinas, além do mais, são um país dominantemente ca- de sangue". A concorrência política não é "a maneira pela qual as
tólico, onde virtualmente não há confucionismo. No Japão, os valo- culturas japonesa, chinesa ou asiática fazem as coisas. Ela leva à
res confucionistas foram reinterpretados e misturados com sua tradi- controvérsia e à confusão". A política de embates entre adversários
ção cultural autóctone. está particularmente fora de lugar numa sociedade multirracial co-
A China continental nunca teve qualquer experiência com go- mo a de Cingapura, e em Cingapura, declarou Lee, "ninguém tem
vernos democráticos e a democracia do tipo ocidental tem sido o direito de me subverter". Nos anos 80, Lee fez do ensinamento e
apoiada ao longo dos anos apenas por grupos relativamente peque- da promulgação dos valores confucionistas uma alta prioridade em
sua cidade-Estado13• Medidas vigorosas foram também tomadas pa- nà', observou um líder religioso da Coréia, "a negociação e o com-
ra limitar e impedir o dissenso e para evitar a circulação de publica- promisso não são reconhecidos como norma social, mas como um
ções críticas ao governo e às suas políticas. Cingapura era, assim, último recurso. Os estudiosos confucionistas nunca usaram a palavra
uma anomalia confucionista entre os países ricos do mundo. compromisso. Eles tinham de manter sua pureza de consciência, e
Continuará assim depois que Lee, que criou o Estado, desaparecer esse traço cultural ainda está presente. Como podemos formar uma
da cena política? democracia onde o compromisso é uma maneira de vida?"15.No fi-
No final dos anos 80, tanto Taiwancomo a Coréia moveram-se nal dos anos 80, a urbanização, a instrução, o desenvolvimento de
numa direção democrática. Historicamente, Taiwan sempre foi uma uma classe média substancial e a impressionante difusão do cristia-
parte periférica da China. Foi ocupada pelos japoneses por 50 anos e nismo enfraqueceram o confucionismo enquanto obstáculo à de-
seus habitantes rebelaram-se em 1947 contra a imposição do contro- mocracia na Coréia. No entanto, ainda não era claro se a luta entre
le chinês. O governo nacionalista chegou em 1949, humilhado por a velha cultura e a nova prosperidade havia sido definitivamente re-
sua derrota diante dos comunistas. Tal derrota tornou impossível solvida em favor da última.
"para a maioria dos líderes nacionalistas manter a postura de arro- A interação entre o progresso econômico e a cultura asiática pa-
gância associada às noções confucionistas tradicionais de autorida- rece ter gerado uma variedade leste-asiática, bem distinta, de institui-
de". O rápido crescimento econômico e social enfraqueceu ainda ções democráticas. Em 1990, em nenhum país do Leste asiático, ex-
mais a influência do confucionismo tradicional. O surgimento de ceto as Filipinas (que, em muitos aspectos, é mais latino-americana
uma vasta classe empresarial, composta, de início, principalmente de do que leste-asiática), ocorreu uma transferência de votos de um go-
nativos de Taiwan, criou, de maneira muito não-confucionista, uma verno popularmente eleito de um partido para um governo popular-
fonte de poder e de riqueza independente do Estado, que era domi- mente eleito de outro partido. O protótipo era o Japão, indubitavel-
nado, de início, por continentais. Isso produziu em Taiwan uma mente uma democracia, mas uma democracia que, na verdade, ainda
"mudança fundamental na cultura política chinesa, que não aconte- não havia passado pelo teste da primeira transferência de votos, para
ceu na própria China, nem na Coréia ou no Vietnã - e nunca real- não falar do teste da segunda transferência. O modelo japonês de de-
mente existiu no Japão"14. Em Taiwan, dessa forma, o espetacular mocracia do partido dominante tendia, como apontou Pye, a se di-
desenvolvimento econômico esmagou um legado confucionista rela- fundir por outros lugares no Leste asiático. Em 1990, dois dos três
tivamente fraco, e no final da década de 1980 Chiang Chingkuo e partidos de oposição da Coréia fundiram-se com o partido do gover-
Lee Teng-hui reagiram às pressões produzidas pelas mudanças eco- no para formar um bloco político que efetivamente impediria o par-
nômicas e sociais e gradualmente começaram a abrir a política em tido restante, liderado por Kim Dae Jung e com bases na região
sua sociedade. Cholla, de alcançar o poder nacional. O presidente coreano Roh Tae
Na Coréia, a cultura clássica incluía elementos de mobilidade e Woo justificou tal fusão pela necessidade de "obter estabilidade polí-
de igualitarismo. No entanto, também continha componentes con- ticà' e de enfrentar a "explosão de conflitos há muito tempo reprimi-
fucionistas prejudiciais à democracia, inclusive uma tradição de au- dos entre diferentes classes, gerações e regiões". "Devemos acabar",
toritarismo e de governo por um homem forte. Como observou um disse ele, "com as confrontações e divisões em torno de interesses
acadêmico coreano, "as pessoas não se pensam como cidadãos com partidários"16. No final dos anos 80, o desenvolvimento democrático
direitos a exercer e responsabilidades a cumprir, mas tendem a olhar em Taiwan parecia estar se deslocando no sentido de um sistema elei-
para cima em busca de direção e de favores para poder sobreviver". toral em que o KMT deveria continuar sendo o partido dominante,
Na tradição confucionista, a tolerância com o dissenso tem pouco com o Partido do Progresso Democrático, formado em 1986, confi-
lugar, e a heterodoxia era deslealdade. "Na tradição religiosa corea- nado a um papel permanente de oposição. Na Malaísia, a coalizão
dos três principais partidos das comunidades malaia, chinesa e india- coalizões não apenas concorrem livre e eqüitativamente pelo poder,
na, primeiro no Partido da Aliança e depois na Frente Nacional, tam- mas também que tenderão a se alternar no poder. É bem verdade
bém controlou o poder de maneira inquebrantável, contra todos os que em algumas sociedades ocidentais, tais como a Suécia, um par-
concorrentes, desde os anos 50 até os anos 80. Em meados da década tido vem se mantendo no poder há muitas eleições. Isso, no entanto,
de 80, o representante e sucessor de Lee Kwan Yew endossou um ti- é a exceção. Os sistemas de partido dominante do Leste asiático que
po semelhante de sistema partidário em Cingapura: talvez estejam surgindo parecem envolver concorrência pelo poder,
mas não alternância, e participação de todos nas eleições, mas parti-
Acho que um sistema estável é aquele em que existe um partido polí-
tico principal, que represente um amplo espectro da população. Você c.ipação no poder apenas para os do partido "da corrente principal".
pode ter alguns outros partidos na periferia, partidos muito sérios. Eles E a democracia sem transferência de votos. O problema central em
são incapazes de ter pontos de vista mais amplos mas, apesar de tudo, tal sistema é traçar as fronteiras entre "o domínio do partido domi-
representam interesses seccionais. E o partido principal é reeleito to-
do o tempo. Acho que isso é bom. E não vou pedir desculpas se aca-
nante e o grau de tolerância de uma oposição"18.Esse tipo de sistema
barmos com essa situação em Cingapura17. político representa uma adaptação das práticas democráticas ociden-
tais de modo a servir aos valores políticos asiáticos ou confucionistas.
Um primeiro critério para a democracia é uma concorrência As instituições democráticas funcionam não para promover os valo-
igual e aberta pelos votos entre partidos políticos, com a ausência ou res ocidentais de concorrência e mudança, mas os valores confucio-
com níveis mínimos de impedimentos ou de restrições do governo nistas de consenso e estabilidade.
aos grupos de oposição. O Japão claramente passou por esse teste Os sistemas democráticos ocidentais, como se mostrou, são
durante muitas décadas, com liberdade de expressão, de imprensa e menos dependentes da legitimidade de desemp~nho do que os siste-
de reunião e com condições razoavelmente igualitárias de concorrên- mas autoritários porque a culpa de um mau desempenho é atribuí-
cia eleitoral. Nos outros sistemas asiáticos de partido dominante, da aos titulares do poder, não ao sistema, e o afastamento e a renova-
por muitos anos o campo de jogo se inclinava, muitas vezes forte- ção dos titulares do governo levam à renovação do sistema. As socie-
mente, em favor do governo. No entanto, no final dos anos 80, as dades do Leste asiático que adotaram, ou pareciam estar adotando, o
condições estavam se tornando mais igualitárias em alguns países. modelo de democracia de partido dominante tiveram níveis inéditos
Em 1989, na Coréia, o partido do governo era incapaz de obter o de desempenho econômico entre 1960 e 1980. O que acontecerá,
controle sobre o Congresso. Presumivelmente tal impossibilidade foi no entanto, quando (e se) taxas de crescimento de 8% do PNB de-
um fator importante para sua subseqüente fusão com dois de seus saparecerem, quando aumentarem o desemprego, a inflação e outras
opositores. Em Taiwan, as restrições sobre a oposição foram sendo formas de problemas econômicos, quando se intensificarem os con-
gradualmente levantadas. É, assim, concebível que outros países do flitos econômicos e sociais?Numa sociedade ocidental, a reação seria
Leste asiático pudessem se juntar ao Japão no que se refere a um pôr para fora os detentores do poder. Numa democracia de partido
campo de jogo eqüitativo onde o governo sempre ganhasse. Em dominante, no entanto, isso significaria uma mudança revolucioná-
1990, os sistemas de partido dominante do Leste asiático cobriam ria num sistema político baseado na suposição de que um partido
um continuum entre democracia e autoritarismo, com o Japão em sempre deverá estar no poder e os outros partidos, sempre fora dele.
um extremo, Indonésia no outro, e Coréia, Taiwan, Malaísia e Se a estrutura de competição política não permitir que isso aconteça,
Cingapura entre os dois, mais ou menos nessa ordem. a insatisfação com o mau desempenho do governo poderia muito
Tal sistema, assim, satisfazia os requisitos formais da democra- bem levar a tumultos, manifestações, protestos e tentativas de mobi-
cia, mas diferia significativamente dos sistemas democráticos predo- lizar o apoio popular para derrubar tal governo. O governo então fi-
minames no Ocidente. Aqui, supõe-se que os partidos políticos e as caria tentado a reagir, suprimindo o dissenso e impondo controles
autoritários. A questão, então, é a seguinte: em que medida a combi- venções militares; o Paquistão tem tido governos militares interrom-
nação leste-asiática de partido dominante, que une procedimentos pidos por eleições ocasionais. O único país árabe a manter por um
ocidentais e valores confucionistas, pressupõe um crescimento eco- período significativo uma forma de democracia, embora da varieda-
nômico substancial e sustentado? Será que tal sistema poderá resistir de consociada, foi o Líbano. Sua democracia, no entanto, na verda-
durante uma prolongada queda ou estagnação econômica? de significava oligarquia consociada, e 40-50% de sua população era
Islã. A "democracia confucionistà' é claramente uma contradi- cristã. No momento em que os muçulmanos passaram a ser maioria
ção em termos. Não é claro se uma "democracia islâmica" também é. no Líbano e começaram a se afirmar, a democracia libanesa entrou
O igualitarismo e o voluntarismo são temas centrais no islã. A "for- em colapso. Entre 1981 e 1990 apenas dois dos 37 países do mundo
ma de alta cultura do islã", argumentou Ernest Gellner, é "dotada de com maioria muçulmana tinham sido considerados "livres" pela
um certo número de características - unitarismo, ética normativa, Freedom House em suas pesquisas anuais: Gâmbia por dois anos e
individualismo, valorização dos textos sagrados, puritanismo, aver- República Turca do Chipre do Norte, por quatro. Qualquer que se-
são igualitária à meditação e à hierarquia, carga muito pequena de ja, em teoria, a compatibilidade entre islã e democracia, na prática
fórmulas mágicas - que são congruentes, pode se supor, com as exi- eles não têm andado juntos.
gências da modernidade e da modernização"19. Também são, de ma- Os movimentos de oposição aos regimes autoritários, na
neira geral, congruentes com as exigências da democracia. No entan- Europa do sul e oriental, na América Latina e no Leste asiático, qua-
to, o islã também rejeita qualquer distinção entre comunidade reli- se universalmente esposaram valores democráticos e proclamaram
giosa e comunidade política. Portanto, não há nenhuma contraposi- seu desejo de introduzir processos democráticos em suas sociedades.
ção entre César e Deus, e a participação política está ligada à filiação Isso não significa que invariavelmente teriam introduzido institui-
religiosa. O islã fundamentalista exige que num país muçulmano os ções democráticas caso tivessem tido a oportunidade de fazê-Io. Pelo
governantes políticos sejam muçulmanos praticantes, a shar'a deve menos, no entanto, eles articulavam a retórica da democracia. Nas
ser a lei básica, e o ulama deve ter um "voto decisivo na articulação, sociedades islâmicas autoritárias, ao contrário, nos anos 80 os movi-
ou pelo menos no exame e na ratificação de todas as políticas gover- mentos que explicitamente faziam campanha por políticas democrá-
namentais". Na medida em que a legitimidade governamental e a ticas eram relativamente fracos, e a oposição política mais poderosa
política decorrem da doutrina religiosa e do conhecimento da reli- tendia a se originar dos fundamentalistas islâmicos.
gião, os conceitos islâmicos de política diferem e contradizem as pre- No final dos anos 80, problemas econômicos internos, combi-
missas das políticas democráticas. nados com os efeitos de bola-de-neve da democratização em outros
A doutrina islâmica, assim, contém elementos que tanto po- lugares, levaram os governos de vários países islâmicos a reduzir seus
dem ser favoráveis como desfavoráveis à democracia. Na prática, controles sobre a oposição e a tentar renovar sua legitimidade através
com uma exceção, nenhum país islâmico manteve um sistema polí- de eleições. Os principais beneficiários iniciais de tais aberturas fo-
tico completamente democrático por qualquer extensão de tempo. A ram os grupos fundamentalistas islâmicos. Na Argélia, a Frente de
exceção é a Turquia, onde Mustafá Kemal Atatürk rejeitou explicita- Salvação Islâmica arrebatou as eleições locais de junho de 1990, as
mente os conceitos islâmicos de sociedade e de política, e vigorosa- primeiras eleições livres desde que o país havia se tornado indepen-
mente tentou criar uma nação-Estado secular, moderna, ocidental. dente em 1962, obtendo 65% dos votos populares e ganhando o
A experiência da Turquia com a democracia não tem sido um suces- controle de Alger, 32 das 38 províncias, e 55% dos 15 000 cargos
so absoluto. Em outra parte do mundo islâmico, o Paquistão tentou municipais. Nas eleições jordanianas, em novembro de 1989, os
a democracia em três ocasiões, nenhuma das quais de longa duração. fundamentalistas islâmicos ganharam 36 das 80 cadeiras do
A Turquia teve sua democracia interrompida por eventuais inter- Parlamento. No Egito, muitos candidatos associados à Irmandade
Muçulmana foram eleitos para o Parlamento. Em vários países, os países católicos não seriam capazes de se desenvolver economica-
grupos fundamentalistas islâmicos estavam, ao que se relata, traman- mente da mesma maneira que os países protestantes. No entanto,
do revoluções contra os regimes existentes2o• Os resultados eleitorais nos anos 60 e 70, países católicos tornaram-se democráticos e, em
dos grupos islâmicos refletiam, em parte, a ausência de outros parti- média, tiveram taxas de crescimento econômico mais altas do que as
dos de oposição, seja porque haviam sido suprimidos pelos gover- dos países protestantes. De maneira semelhante, em certo momento
nos, seja porque boicotaram as eleições. Apesar de tudo, os funda- Weber e outros argumentaram que os países com culturas confucio-
mentalistas pareciam estar ganhando força nos países do Oriente nistas não produziriam um desenvolvimento capitalista bem-sucedi-
Médio. Entre os grupos que se mostraram mais simpáticos ao funda- do. No entanto, nos anos 80 uma nova geração de acadêmicos via o
mentalismo, encontravam-se os comerciantes e os mais jovens. A confucionismo como uma das causas importantes para o espetacular
força de tais tendências levou os chefes de governo seculares na crescimento econômico das sociedades do Leste asiático. No prazo
Tunísia, Turquia e em outras partes a adotar as políticas advogadas mais longo, será que a tese de que o confucionismo impede o desen-
pelos fundamentalistas e a realizar gestos que demonstrassem seu volvimento democrático será mais viável do que a tese de que o con-
compromisso com o islã. fucionismo impede o desenvolvimento econômico? Argumentos de
A liberalização nos países islâmicos, dessa maneira, aumentou que determinadas culturas são obstáculos permanentes ao desenvol-
o poder de importantes movimentos sociais e políticos cujo compro- vimento, numa direção ou noutra, devem ser encarados com um
misso com a democracia era questionável. A posição dos partidos certo ceticismo.
fundamentalistas nas sociedades islâmicas parecia, em alguns aspec- Segundo, as grandes tradições culturais históricas, tais como o
tos, com a posição dos partidos comunistas nos países da Europa islã e o confucionismo, são corpos altamente complexos de idéias,
ocidental nos anos 40 e depois nos anos 70. A seu respeito se pode crenças, doutrinas, suposições, escritos e padrões comportamentais.
fazer perguntas parecidas. Os governos existentes continuarão a abrir Qualquer grande cultura, incluindo até mesmo o confucionismo,
suas políticas e a realizar eleições em que os grupos islâmicos pode- tem alguns elementos que são compatíveis com a democracia, da
rão competir livremente e igualitariamente? Os grupos islâmicos ga- mesma forma que tanto o catolicismo como o protestantismo têm
nharão o apoio da maioria em tais eleições? Se ganharem as eleições, elementos claramente não-democráticos21• A democracia confucio-
os militares, que, em muitas sociedades islâmicas (p. ex., Argélia, nista pode ser uma contradição em termos, mas a democracia numa
Turquia, Paquistão e Indonésia) são fortemente seculares, permitirão sociedade confucionista pode não ser. A questão é: que elementos no
que formem o governo? Se formarem um governo, vão se seguir po- islã e no confucionismo são favoráveis à democracia e como, e em
líticas islâmicas radicais que solaparão a democracia e afastarão os que circunstâncias, eles podem se sobrepor aos elementos não-de-
elementos que, em sua sociedade, apresentam-se como modernos e mocráticos em tais tradições culturais?
orientados para o Ocidente? Terceiro, mesmo que a cultura de um país seja, num certo
Os limites dos obstdculos culturais. Pode-se supor que as culturas momento, um obstáculo à democracia, historicamente as culturas
islâmicas e confucionistas colocam obstáculos insuperáveis ao de- são dinâmicas, não são passivas. As crenças dominantes e as atitudes
senvolvimento da democracia. No entanto, existem várias razões pa- de uma sociedade mudam. Embora mantendo elementos de conti-
ra questionar a gravidade de tais obstáculos. nuidade, a cultura dominante em uma sociedade pode diferir signi-
Primeiro, argumentos culturais semelhantes não se mantive- ficativamente do que era uma ou duas gerações antes. Nos anos 50 a
ram no passado. Como já se notou, em determinado momento mui- cultura espanhola era normalmente descrita como tradicional, auto-
tos acadêmicos argumentaram que o catolicismo era um obstáculo à ritária, hierárquica, profundamente religiosa e orientada para a hon-
democracia. Outros, na tradição weberiana, argumentaram que os ra e para o status. Nos anos 70 e 80, tais palavras não tinham virtual-
dos anos 70 e declinou para uma taxa anual de 2,2%, nos anos 80.
mente nenhum lugar numa descrição das atitudes e dos valores es-
panhóis. A5 culturas evoluem, e, como na Espanha, provavelmente a Dessa forma, nos anos 80 os obstáculos econômicos à democratiza-
ção aumentar;;--~~>nsivelmente na África. A5 perspectivas para 'os
causa mais importante de mudança cultural é o próprio desenvolvi-
mento econômico. anos 90 não são encoraja9:0ras. Mesmo q~e ;'matéiiíliZem'mãimas
-""~ econô~i~as,' red~ção da dívida e assistência econômica, o Banco
Economia ''') Mun,qlal previu para a África uma taxa média anual de crescimento
do Produto Interno Bruto (PIE) de apenas 0,5% para o resto do sé-
Poucas relações entre os fenômenos sociais, econômicos e polí- cul022• Se essa previsão estiver correta, os obstáculos econômicos à
ticos são mais fortes do que as que se dão entre o nível de desenvol- democratização na África subsaariana continuarão sendo esmagado-
vimento econômico e a existência de uma política democrática. res PQLUm bom tempo do século XXI.
Como vimos, as mudanças de autoritarismo para democracia, entre O Banco Mundial foi mais otimista em suas previsões para o
1974 e 1990, estavam fortemente concentradas em uma "zona de crescimento econômico da China e dos países não-democráticos da
transição", nos níveis médios superiores do desenvolvimento econô- Ásia do sul. Entretanto, os baixos níveis de desenvolvimento econô-
mico. A conclusão parece clara. A pobreza é um importante, prova~ mico em tais países geralmente significavam que, mesmo com taxas
mocrático. º
velmente o mais importante, obsaêüIõ~pârã; desenvolvimento de-
f1!tUJo,dad~mocraciadepende do flltYfCl,dod~senv()l-
vimento ec~~ômico. Os obstáculos ao desenvolvimento econôIl}ico
de crescimento anual per capita de 3-5%, as condições econômicas
favoráveis à democratização ainda levarão muito tempo para surgir.
Em 1990, alguns países não-exportadores de petróleo - Cin-
são obstáculos à expansão da democracia. gapura, Argélia, África do Sul, Iugoslávia - haviam chegado aos ní-
Aterceira onda de democratização foi impulsionada pelo ex- veis de desenvolvimento econômico da zona de renda média supe-
traordinário crescimento econômico global dos anos 50 e 60. Tal rior ou acima dela, onde se poderia esperar transições para a demo-
era de crescimento chegou ao fim com o aumento do preço do pe- cracia. Irã e Iraque, dois exportadores de petróleo com populações
tróleo em 1973 e 1974. Entre 1974 e 1990, a democratização se substanciais e algum desenvolvimento industrial, também estavam
acelerou em todo o mundo, mas o crescimento econômico ficou nessa zona. Em tais países, as pré-condições para a democratização es-
mais lento. As taxas médias anuais de crescimento do PNB per capi- tavam de algum modo presentes, mas a democratização ainda nãoha-
ta para os países de renda baixa ou média, entre 1965 e 1989, eram via ocorrido. Dezoito outros países com governos não-democráticos
as seguintes: estavam em níveis um pouco mais baixos de desenvolvimento econô-
1965-73 4,0% mico - na categoria de renda média inferior do Banco Mundial, que
1973-80 2,6% incluía, em 1988, países com um PNB per capita entre $500 e
1980-89 1,8% $2,20023• Para dois desses, Líbano e Angola, não existem dados de
renda disponíveis. Nove dos 16 países restantes tiveram em 1988 ren-
Entre as diversas regiões havia diferenças substanciais nas taxas
das per capita entre $1,000 e $2,000. Entre esses estavam três países
de crescimento. A5 taxas do Leste asiático permaneceram altas nos
árabes (Síria, Jordãnia e Tunísia), dois países do Sudeste asiático
anos 70 e 80, e as taxas globais de crescimellto na Ásia do sul au-
(Malaísia e Tailãndia), três da América Latina (Panamá, México e
mentaram. Por outro lado, as taxas de crescimento no Oriente
Paraguai) e um país africano (República dos Camarões). Tais países
Médio, África do norte, América Latina e Caribe declinaram violen-
estavam prontos para se mover para a zona de transição política de
tamente dos anos 70 aos anos 80. A5 taxas na África subsaariana caí-
renda média superior. Em cinco dos nove (Malaísia, Jordãnia,
ram verticalmente. O PNB per capita na África estagnou no final
Tunísia, República dos Camarões e Tailàndia), o PIB cresceu a uma por região, nos anos 70 e 80, poderá se transformar, nos anos 90, em
taxa média anual de 3,4% ou mais entre 1980 e 1988. Se essas taxas
uma característica dominante nas políticas do Oriente Médio e da
de crescimento continuarem, em algum momento dos anos 90 é
África do norte. A questão da economia versus cultura seria então:
provável que surjam, em tais países, condições econômicas favoráveis
que formas de política surgiriam nesses países quando a prosperida-
à democratização. Se a Síria, Paraguai, Panamá e México forem ca-
de econômica interagisse com os valores e as tradições islàmicos?
pazes de atingir taxas de crescimento significativamente mais altas
do que as atingidas entre 1980 e 1988, eles também vão se mover Na China, em 1990, os obstáculos à democratização eram po~
líticos, econômicos e culturais; na África, eram predominantemente
para níveis de desenvolvimento econômico compatíveis com a de-
econômicos; nos países de rápido desenvolvimento do Leste asiático
mocratização.
Os sete países não-democráticos com PIB per capita para 1988 e em muitos países islàmicos, eram primariamente culturais.
entre $500 e $1,000 eram Congo, Marrocos, Costa do Marfim,
Egito, Senegal, Zimbábue e Iêmen. Nos anos 80, a maioria desses
PNB per capita em 1988: Rendas alta e média dos
países tinha taxas substanciais de crescimento econômico. Se pude-
países não-democráticos
rem manter tais taxas, irão para a zona econômica favorável à demo-
cratização na prim~ira parte do século XXI. Renda média Arábia/ Sudeste
(em dólaresl Oriente Médio asiático
A esmagadora maioria dos países onde, nos anos 9.0, estaV:(!!ll
surgindo as condições econômicas cO,mpatíveiscom a demoçr,ltiza- Renda alta (Emirados Cingapura
ção ficava no Oriente Médio e na Mrica do Norte. O bem-estar (>6,0001 Árabes Unidos)a
econômico de muitos desses países (aqueles entre parênteses na tabe- (Kuwaitl
(Arábia Saudital
la 6.1) dependia das exportações de petróleo, uma situação que au-
mentou o controle da burocracia estatal e, conseqüentemente, pro- Renda média (iraquel (Gabão)
piciou um clima menos favorável à democratização. En~retanto, ~sso alta (2,200-5,500) (Irã) África do Sul
(Líbia)
não significava que essa democratização fosse necessanamente Im-
(Omãl*
possível. Apesar de tudo, as burocracias estatais da Europa oriental Argélia
exerceram um controle ainda mais completo do que o dos exporta-
Renda média Siria Malaísia* Camarões* Panamá
dores de petróleo. Pode-se imaginar que em algum momento tal inferior Jordânia* Tailândia* México
controle pudesse entrar em colapso entre os últimos, tão dramatica- (1,000-2,200) Tunísia* Paraguai
mente como ocorreu com os primeiros. Entre os outros Estados do
Marrocos Congo*
Oriente Médio e da África do norte, a Argélia já atingira um nível Egito* Costa do Marfim
condizente com a democratização; a Síria estava se aproximando de- lêmen* Zimbábue
le; Jordània, Tunísia, Marrocos, Egito e Iêmen do Norte estavam Líbano Senegal*
abaixo da zona de transição, mas cresceram rapidamente nos anos Angola
80. As economias e sociedades do Oriente Médio estavam chegando Fonte: World Bank. World Development Repon 1990 (New York: Oxford University
Press, 1990), p. 178-81.
ao ponto em que seriam ricas e complexas demais para seus diversos
a O parêntese indica um importante país exportador de petróleo.
sistemas de governo autoritários, tradicionais, militares e de partido * Indica um país com uma taxa média anual de crescimento do PIB de mais de 3% en-
tre 1980 e 1988.
único. A onda de democratização que havia corrido o mundo, região
Desenvolvimento econômico e gressiva substituição dos sistemas políticos autoritários por democrá-
liderança política ticos. O tempo está do lado da democracia.
,9 desenvolviment~conômico torna a democr~!i.~p,?!sível; a
liderança política a torna real. Para as dem.ocracias se tornarem reais,
A história provou que tanto os otimistas quantos os pessimistas
as futuras elites políticas terão que acreditar minimamente que a de-
erraram quanto à democracia, e os acontecime~tos futuros ~rã~~ro~
mocracia é um mal menor como forma de governo para suas socie-
vavelmente continuar a fazer o mesmo. Obstaculos formIdaveIs a
dades e para elas próprias. Também terão que ter as habilidades pa-
expansão da democracia existem em muitas sociedades. A terceira
ra efetuar a transição para a democracia tanto contra os radicais co-
onda, a "revolução democrática global" do final do século XX, não
mo contra os conservadores, que inevitavelmente existirão e que ten-
durará para sempre. !:l,a pode s,~r,.~:.~u.i~aporuma nova vaga de ~u- tarão com persistência solapar seus esforços. A democracia se espa-
toritarismo, constituindo uma terceIra onda reversa. Isso, no entan-
lhará pelo mundo na medida em que aqueles que exercem o poder
to, não impediria que uma quarta onda de democratização se dese~- no mundo e em cada país desejem que ela se espalhe. Por um século
volvesse em algum momento do século XXI.,C~r:'_i~erando o_re~I~- e meio, depois que Tocqueville observou o surgimento da democra-
tro passado, os dois fatores primordiais que afêt.am a futura:st~f)1lI- cia moderna na América, ondas sucessivas de democratização chega-
dade e expansão da democracia são o desenvolVImento economICOe ram à praia da ditadura. Encorajada por uma crescente maré de pro-
a liderança política. . gresso econômico, cada onda avançou mais longe e sua vazante foi
Muitas sociedades pobres permanecerão não-democrátIcas pe- menor do que a precedente. A história, mudando a metáfora, não
lo tempo em que permanecerem pobres. No entanto, a pobrez/~não avança em linha reta, mas quando líderes hábeis e determinados a
é inevitável. No passado, supunha-se que nações como a CoreIa do empurram, ela avança.
Sul estavam mergulhadas em atraso econômico, mas entã.o assom-
braram o mundo por sua capacidade de se tornarem rapIdamente
prósperas. Nos anos 80, um novo consenso surgiu entre os econ~-
mistas desenvolvimentistas quanto às maneiras de promover cresCI-
mento econômico. O consenso dos anos 80 pode ser, ou não, mais
duradouro e mais produtivo do que os diferentes consensos entre os
economistas dos anos 50 e 60. Todavia, a nova ortodoxia da neo-or-
todoxia produziu resultados significativos em muitos países. E~-
tretanto, duas advertências são necessárias. Primeira, o desenvolVI-
mento econômico para os países que se desenvolveram muito tardia-
mente - ou seja, principalmente a África - pode muito be~ ser
mais difícil do que foi para os primeiros a se desenvolverem, pOISas
vantagens do atraso são mais do que contrabalança~as p~la lacuna
crescente e historicamente sem precedentes entre paIses ncos e po-
bres. Segunda, podem surgir novas formas de autoritarismo que se-
jam convenientes às sociedades ricas, dominadas pela inf~r~ação e
baseadas na tecnologia. Se tais possibilidades não se matenalIzarem,
o desenvolvimento econômico poderá criar condições para uma pro-
Transitions fiom authoritariam rule; tentative conclusions about uncertain
democracies (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986), p. 6-14;
Alex Inkeles, 'Introduction: on measuring democracy', Studies in Cornpa-
rative International Development, 25 (Spring 1990), p. 4-5; Tatu Van-
hanen, The emergence o/ democracy: a comparative study 0/119 States, 1850-
1979 (Helsinki: Finnish Society of Sciences and Letters, 1984), p. 24-33.
6 Para os problemas da relação entre estabilidade e democracia, ver Ken-
Notas neth A. Bollen, 'Poli ti cal democracy: conceptual and measurement tr;lps',
Studies in Comparative International Development, 25 (Spring 1990),
p. 15-17.
7 Inkeles, 'On measuring democracy', cit., p. 5. Bollen defende a idéia de va-
riáveis contínuas e medidas contínuas, sugerindo que a democracia varia em
graus, como a industrialização. No entanto, certamente não é isso o que
acontece, e, como mostraram os acontecimentos de 1989-90 na Europa
oriental, os países podem passar rapidamente da não-democracia para a de-
mocracia. Não podem passar rapidamente de não-industriais para industri-
ais, e além do mais, a respeito da industrialização, os economistas em geral
concordam em quais países são industrializados e quais não são. O próprio
1 Para descrições do planejamento e execução do golpe de 25 de abril, ver índice numérico de Bollen, medindo seis indicadores de democracia, em
Robert Harvey, Portugal: Birth o/ a Democracy (Londres: Macmillan, 1965, agrupa 27 países com uma contagem de 90 ou mais, no topo de uma
1978), p. 14-20, e Douglas Porch, The Portuguese Armed Forces and escala de O a 100. Estão incluídos aí todos os países que em geral teriam si-
Revolution (Londres-Stanford: Croom Helm-Hoover Institution Press, do classificados como democráticos em 1965, com a exceção da Alemanha
1977), p. 83-7, 90-4. Ocidental, com uma contagem de 88,6. Ver Bollen, 'Political democr;lCY',
2 Citado em Tad Szu!C, 'Lisbon and Washington: behind the portuguese rev- cit., p. 13-4, 18, 20-3. Para uma exposição sucinta das razões para uma
olution', Foreign Policy, 21 (Winter 1975-76), p. 3. abordagem dicotômica dessa questão, ver Jonathan Sunshine, 'Economic
3 Para uma elaboração mais extensa dessas dificuldades, ver Samuel P. causes and consequences of democracy: a study in historical statistics of the
Huntington, 'The modest meaning of democracy', in Robert A. Pastor, European and European-populated English-speaking countries' (Ph. D.
ed., Democracy in the Americas: stopping the pendulum (N ew York: Holmes diss., Columbia University, 1972),p. 43-8.
and Meier, 1989), p. 11-8, e Jeane J. Kirkpatrick, 'Democratic elections, 8 Juan J. Linz, 'Totalitarian and authoritarian regimes', in Fred. I. Greenstein
democratic government, and democratic theory', in David Buder, Howard
& Nelson W. Polsby, eds., Macropolitical Theory, V. 3 do Handbook o/polit-
R. Penniman & Austin Ranney, eds., Democracy at the polls (Washing-
ical science (Reading, Mass.: Addison-Wesley, 1975), p. 175 ss. Ver tam-
ton: American Enterprise Institute for Public Policy Research, 1981),
bém Carl]. Friedrich & Zbigniew Brzezinski, Totalitarian dictatorship and
p.325-48.
autocracy, 2. ed. (New York: Praeger, 1965), passim.
4 Joseph A. Schumpeter, Capitalism, socialism, and democracy, 2. ed. (New
9 G. P. Gooch, English democratic ideas in the seventeenth century, 2. ed. (New
York: Harper, 1947), capo 21 e p. 269.
York: Harper, 1959), p. 71.
5 Ver Robert A. Dahl, Polyarchy: participation and opposition (New Haven:
10 Para gráficos semelhantes, mas não idênticos, do surgimento desigual das
Vale University Press, 1971), p. 1-10; Giovanni Sartori, Democratic theory
(Detroit: Wayne State U niversity Press, 1962, p. 228 ss; Kirkpatrick, políticas democráticas, ver Robert A. Dahl, Democracy and its critics (New
'Democratic elections', cito p. 325 ss; Raymond English, Constitutional Haven: Vale University Press, 1989), caps. 1,2, 17; Ted Robert Gurr,
democracy vs. utopian democracy (Washington: Ethics and Public Policy Keith Jaggers & Will H. Moore, 'The transformation of the western Srate:
Center, 1983); G. Bingham Powell, Jr., Contemporary Democracies (Cam- the growth of democracy, autocracy, and state power since 1800', Studies
bridge: Harvard University Press, 1982), p. 2-7; Juan J. Linz, 'Crisis, break- in Comparative Development, 25 (Spring 1990), p. 88-95; Vanhanen,
down, and reequilibration', in Juan j. Linz 6- Alfred Stepan, eds., The Emergence o/ democracy, cit., passim; Dankwart A. Rustow, 'Democracy: a
breakdown o/ democratic regimes (Baltimore: Johns Hopkins University global revolution?', Foreign Ajjàirs, 69 (Fali 1990), p. 75-6; Powell,
Press, 1978), p. 5-6; Guillermo O'Donnell & Philippe C. Schmitter, Contemporary democracies, cit., p. 238; e S. P. Huntington, 'Will more
countries become democratic?', Political Science Quarterly, 99 (Summer (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986),4 v.; e Larry Diamond,
1984), p. 195-8. Juan J. Linz & Seymour Martin Lipset,eds., Democracy in developing coun-
11 Jonathan Sunshine, 'Economic causes and consequences of democracy', tries, (Boulder, Colo.: Lynne Rienner, 1988-89), 4 v. O livro de Linz e
cit., p. 48-58. Segundo Sunshine, os Estados Unidos atingem critério de Stepan apresenta a transição da segunda onda reversa para a terceira onda
direito de voto em 1840. Entretanto, as evidências de Walter Dean de democratização, incluindo estudos tanto do surgimento quanto do co-
Burnham indicam indubitavelmente o ano de 1828. Ver William N. lapso da democracia.
Chambers, 'Party development and the American mainstream', in Willian 19 Francis Fukuyama, 'The end of history?', The National Interest, 16
N. Chambers & Walter Dean Burnham, eds., The American party systems: (Summer 1989), p. 3; Charles Krauthammer, 'Democracy has won',
stages ofpolitical development (New York: Oxford University Press, 1967), Washington Post National Weekly Edition, Apr. 3-9, 1989, p. 24; Marc C.
p. 12-3. Plattner, 'Democracy outwits the pessimists', Wall Street Journal, Oct. 12,
12 James Bryce, Modern democracies (New York: Macmillan, 1921), v. 1, p. 1988, p. AlO. Cf. Zbigniew Brzezinski, The grand failure: the birth and
24. death ofcommunism in the twentieth century (New York: Charles Scribner's
13 Rupert Emerson, 'The erosion of democracy', Journal of Asian Studies, 20 Sons, 1989), passim.
(Nov. 1960), p. 1-8, identifica 1958 como "o ano do colapso do constitu- 20 Samuel P. Huntington, Political order in changing societies (New Haven:
cionalismo democrático nos novos países". Yale University Press, 1968), p. 1.
14 Ver Guillermo A. O'Donnell, Modernization and bureaucratic-authoritari- 21 Che Guevara, Guerrilla warfare (New York: Vintage Books, 1961), p. 2.
anism: studies in South America politics (Berkeley: University of California, 22 Existe uma literatura considerável sobre a natureza, extensão e possíveis
Institute ofInternational Studies, 1973), e David Collier, ed., The new au- causas desse fenômeno. Ver: Dean V. Babst, 'A force for peace', Industrial
thoritarianism in Latin America (Princeton: Princeton University Press, Research, 14 (Apr. 1972), p. 55-8; R. J. Rummel, 'Libertarianism and inter-
1979). national violence',Journal ofConflict Resolution, 27 (Mar. 1983), p. 27-71;
15 Tun-Jen Cheng, 'Democratizing the quasi-leninist regime in Taiwan', Michael W. Doyle, 'Kant, liberal legacies, and foreign affairs', Philosophy
Wor!d Politics, 41 Ouly 1989), p. 479-80. and Public Affairs, 12 (Summer/Fall 1983), p. 205-35, 323-53, e
16 S. E. Finer, The man on horseback: the role of the military in politics, 2. ed. 'Liberalism and world politics', American Polítical Science Review, 80 (Dec.
(Harmondsworth: Penguin Books, 1976), p. 223; Sidney Verba, 'Problems 1986), p. 1151-69; Ze'ev Maoz & Nasrin Abdolali, 'Regime types and in-
of democracy in the developing countries', Remarks, Joint Seminar on ternational conflict, 1816-1976', Journal ofConflict Resolution, 33 (Mar.
Political Development, Harvard-MIT, Oct. 6, 1976, p. 6. 1989), p. 3-35; Bruce Russett, 'Politics and alternative security: toward a
17 A mudança na literatura sobre o desenvolvimento político, que de um foco more democratic, therefore more peaceful, world', in Burns H. Weston,
na democracia passa para um foco na estabilidade e a maior atenção ed., Alternative security: living without nuclear deterrence (Boulder, Colo.:
nas contradições e crises do desenvolvimento é brevemente descrita em Sa- Westview Press, 1990), p. 107-36.
muel P. Huntington, 'The goals of development', in Myron Weiner &
Samuel P. Huntington, eds., Understanding political development (Boston:
Litde, Brown, 1987), p. 3. O interesse pela democracia ocidental está re-
fletido em Michel Crozier, Samuel P. Huntington & Joji Watanuki, The
crisis of democracy (New York: New York University Press, 1975) e em 1 Dankwart A. Rustow, 'Transitions to democracy: toward a dynamic mod-
Richard Rose & B. Guy Peters, Can government go bankrupt? (New York: e!', Comparative Polítics, 2, (Apr. 1970), p. 337 ss.
Basic Books, 1978). 2 Gabriel A. Almond, 'Approaches to developmental causation', in, Gabrie!
No dia 11 de fevereiro de 1976, a pedido dos diretores da CIA, dei uma A. Almond, Scott C. Flanagan e Robert J. Mundt, eds., Crisis, choice, and
palestra para os analistas da Agência sobre "O declínio global da democra- change: historical studies of political development (Boston: Litde, Brown,
cia". Desnecessário dizer que eu tinha algumas teorias bastante convin- 1973), p. 28.
centes para explicar a gravidade e a seriedade desse fenômeno. A terceira on- 3 Rustow, 'Transitions to democracy', cit., p. 337.
da de democratização tinha então 21 meses. 4 Myron Weiner, 'Empirical democratic theory', PS, 20 (FalI 1987), p. 863.
18 As principais coletâneas são as seguintes: Juan J. Linz & Alfred Stepan, eds., 5 Para comentários sobre o impacto do êxito dos Aliados sobre a democrati-
The breakdown ofdemocratic regimes (Baltimore: Johns Hopkins University zação em alguns países latino-americanos, ver: Cynthia McClintock, 'Peru:
Press, 1978); Guillermo O'Donnell, Philippe C. Schmitter & Laurence precarious regimes, authoritarian and democratic', in Larry Diamond, Juan
Whitehead, eds., Tramitiom from authoritarian rule: prospects for democracy J. Linz & Seymour Martin Lipset, eds., Democracy in developing countries:
Latin America (Boulder, Colo.: Lynne Rienner, 1989), p. 344; Laurence Pastor ed., Democracy in the Americas: stopping the pendulum (New York:
Whitehead, 'Bolivia's failed democratization, 1977-1980', in Guillermo Holmes and Meier, 1989), p. 47; New York Times, July. 27, 1988, p. A2,
O'Donnel, Philippe C. Schmitter & Laurence Whitehead, eds., Transitions citado em George Weigel, 'Catholicism and democracy: the other twenti-
from authoritarian rule: Latin America (Baltimore: Johns Hopkins eth-century revolution', in Brad Roberts, ed., The new democracies: global
University Press, 1986), p. 52-3; Luis A. Abugattas, 'Populism and after: u.s.
change and policy (Cambridge: MIT Press, 1990), p. 33.
the Peruvian experience', in James M. MaIloy & MitcheIl A. Seligson, 17 Seymour Martin Lipset, Political man: the social bases ofpolitics (New York:
eds., Authoritarians and democrats: regime transition in Latin America Doubleday, 1960), p. 45-76, e Lipset, Political man, rev. ed. (Baltimore:
(Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 1987), p. 122; Aldo C. Vacs,
Johns Hopkins University Press, 1981), p. 469-76; Robert Dahl, Polyarchy:
'Authoritarian breakdown and redemocratization in Argentina', in MaIloy
participation and opposition (New Haven: Yale University Press, 1971),
& Seligson, eds., Authoritarians and democrats, cit., p. 16.
p. 62-80; Seymour Martin Lipset, Kyoung-Ryung Seong & John CharIes
6 Wiener, 'Empirical democratic theory', cir., p. 862.
Torres, 'A comparative analysis of the social requisites of democracy'
7 Richard McKeon, ed., Democracy in a world of tensions: a symposium pre-
(Unpublished paper, Stanford Universiry, 1990).
pared by UNESCO (Chicago: University ofChicago Press, 1951), p. 522,
18 Kenneth A. BoIlen & Robert W. Jackman, 'Economic and noneconomic
citado em Giovanni Sartori, The theory of democracy revisited (Chatham, N.
determinants of political democracy in the 1960s', Research in Political
J.: Chatham House Publishers, 1987), p. 3.
Sociology (1985), p. 38-9. O importante estudo de Zehra F. Arat, questio-
8 Harry Psomiades, 'Greece: from the Colonel's rule to democracy', in John
nando essa relação, é seriamente prejudicado por uma metodologia que
H. Herz, ed., From dictatorship to democracy: coping with the legacies of au-
combina numa única variável dependente as mudanças no interior dos
thoritarianism and totalitarianism (Westport, Conn.: Greenwood Press,
regimes e as mudanças de um regime para outro. Ver Arat, 'Democracy and
1982), p. 251; Scott Mainwaring & Eduardo J. Viola, 'Brazil and Ar-
economic development: modernization theory revisited', Comparative
gentina in the 1980's', Journal of International Affairs, 38 (Winter 1985),
p.203. Politics, 21 (Ocr. 1988), p. 21-37.
19 Jonathan H. Sunshine, 'Economic causes and consequences of democracy: a
9 Gabriel Almond & Robert J. Mundt, 'Crisis, choice and change: some ten-
tative conclusions', in Almond, Flanagan & Mundt eds., Crisis, choice and study in historical statistics of the European and European-populated,
change, p. 628. English-speaking countries' (Ph. D. diss., Columbia University, 1972),
10 Arthur Zich, The Marcos era', Wilson Quarterly, 10 (Summer 1986), p. p. 109-10, 134-40.
126. 20 David Morawetz, Twenty-five years of economic development 1950 to 1975
II Edward Schumacher, 'Argentina and democracy', Foreign Affairs, 62 (Washington: WorId Bank, 1977), p. 12.
(Summer 1984), p. 1077. 21 Idealmente, seria mais apropriado listar os países economicamente por seu
12 Thomas C. Bruneau, 'Discovering Democracy', Wilson Quarterly, 9 (New PNB per capita em 1974, quando começou a terceira onda. No entanto,
Year's, 1985), p. 68-9; Boston Globe, Dec. 3, 1984, p. 2. para tal ano os dados são muito limitados. O primeiro relatório de desen-
13 Richard Clogg, A short historyof modern Greece, 2. ed. (Cambridge: volvimento anual do Banco Mundial, publicado em 1978, apresenta dados
Cambridge University Press, 1986), p. 198. Para uma argumentação segun- de 1976 para 125 entidades políticas, incluindo países com economias cen-
do a qual o desempenho econômico do regime militar grego foi, no geral, tralmente planejadas. Essas últimas estimativas não são muito precisas, e
insatisfatório, ver Constantine P. Danopoulos, 'Military professionalism nos anos seguintes o Banco desistiu de apresentar dados para os países de
and regime legitimacy in Greece, 1967-1974', Political Science Quarterly, economia planificada que não fossem seus membros. Esses dados são sufi-
98 (FalI 1983), p. 495-8. cientemente acurados, no entanto, para a classificação dos países em quatro
14 Jane S. Jaquette & Abraham F. LowenthaI, The Peruvian experiment in grandes grupos que se faz nesta análise. Ver W orId Bank, World Develop-
retrospect', World Politics, 39 Gan. 1987), p. 284; Thomas R. Rochon & ment Report, 1978 (Washington: WorId Bank, 1978), p. 76-7.
Michael J. MitcheIl, 'Social bases of the transition to democracy in Brazil', 22 Phillips Cutright, 'National political development: measurement and analy-
ComparativePolitics, 21 (Apr. 1989), p. 309. sis', American Sociological Review, 28 (Apr. 1963), p. 253-64.
15 Virgilio R. Beltran, 'Political transition in Argentina: 1982 to 1985', Armed 23 MitcheIl A. Seligson, 'Democratization in Latin America: the current cy-
Forces and Society, 13 (Winter 1987), p. 214-6; Mainwaring & Viola, cle', e 'Development, democratization, and decay: Central America at the
'Brazil and Argentina', p. 203. crossroads', in MaIloy & Seligson, eds., Authoritarians and democrats, cit.,
16 Juan Linz & Alfred Stepan, 'Political crafting of democratic consolidation p. 6-11, 173-7; Enrique A. Baloyra, 'Conclusion: toward a framework for
or destruction: European and South American comparisons', in Robert A. the study of democratic consolidation', in Enrique A. Baloyra ed., Compar-
ing new democracies: transition and consolidation in mediterranean Europe Conaghan, 'Party politics and democratization in Ecuador', in Malloy &
and the Southem Cone (Boulder, Colo.: Westview Press, 1987), p. 297. Seligson, eds., Authoritarians and democrats, cit., p. 146-7; Burton, Impos-
24 Para uma análise perspicaz e detalhada dos diferentes impactos sobre o de- sibledream, cit., p. 283; New York Times, Sept. 4,1984, p. DI.
senvolvimento político e econômico na Arábia Saudita e no Iêmen do 34 P. Nikiforos Diamandouros, 'Regime change and the prospects for democ-
Norte dos rendimentos do petróleo e das remessas monetárias, ver Kiren racy in Greece: 1974-1983', in Guillermo O'Donnell, Philippe C. Schmit-
Aziz Chaudhry, 'The price of wealth: business and State in labor remittance ter & Laurence Whitehead, eds., Transitions from authoritarian rule: South-
and oil economies' (Ph. D. diss., Harvard Universiry, 1990). em Europe (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986), p. 149.
25 Alex Inkeles & Larry J. Diamond, 'Personal development and national de- 35 Psomiades, 'Greece', in Herz, ed., From dictatorship to democracy, cit., p.
velopment: a cross-national perspective', in Alexander Szalai & Frank M. 252.
Andrews, eds., The quality o/life: comparative studies (London: Sage Pub- 36 Kenneth Medhurst, 'Spain's evolutionary pathway from dictatorship to
lications, 1980), p. 83; Lipset, Seong & Torres, 'Social requisites of democ- democracy', in Pridham ed., New Mediterranean democracies, p. 30-1.
racy', cit., p. 24-5; Ronald Inglehart, 'The renaissance of political culture', 37 Para uma análise semelhante, sucintamente apresentada, ver Lipset, Seong
American Political Science Review, 82 (Dec. 1988), p. 1215-20. & Torres, 'Social requisites of democracy', cit., p. 18-9.
26 Lipset, Seong & Torres, 'Social requisites of democracy', p. 25-6; World 38 Os países foram classificados em termos de religião segundo as informações
Bank, World Development Report 1984 (New York: Oxford University de John Paxton, ed., The Statesmans Yearbook 1988-1989 (New York: St.
Press, 1984), p. 266-7. Cf. Dahl, Polyarchy, cit., p. 74-6 . Martin Press, 1988). Países muito pequenos ou onde nenhuma religião é
27 Scott Mainwaring, 'The transition to democracy in Brazil', Joumal o/ predominante foram omitidos dos cálculos.
Interamerican Studies and World A.ffairs, 28 (Sept. 1986), p. 152. 39 Henry Scott Stokes, 'Korea's Church militant', New York Times Magazine,
28 New York Times, Oct. 8, p. A3; Sandra Burton, Impossible dream: the Nov. 28, 1972, p. 68.
Marcoses, the Aquinos, and the unfinished revolution (New York: Warner 40 Citado em James Fallows, 'Korea is not Japan', Atlantic Monthly, 262 (Oct.
Books, 1989), p. 327. 1988), p. 30.
29 Nancy Bermeo, 'Redemocratization and transition elections: a comparison 41 Stokes, 'Korea Church militant', p. 105; Washington Post, Mar. 30, 1986,
ofSpain and Portugal', Comparative Politics, 19 Oan. 1987), p. 222. p. A19; New York Times, Mar. 10, 1986, p. A3; Sook-Jong Lee, 'Political
30 Tun-jen Cheng, 'Democratizing the KMT regime in Taiwan'. Paper pre- liberalization and economic development in South Korea' (Unpublished
pared for Conference on Democratization in the Republic of China, paper, Harvard University Department of Sociology, Center for Research
Taipei, Taiwan, Republic of China, Jan. 9-11, 1989, p. 20. Para uma dis- on Polities and Social Organization, 1988), p. 22.
cussão mais aprofundada sobre a nova classe média e sua política em 42 Kenneth A. Bollen, 'Political democracy and the timing of development',
T aiwan, ver o número especial sobre esse assunto da Free China Review, 39 American Sociological Review, v. 44, n. 4 (Aug. 1979), p. 583; Lipset, Seong
(Nov. 1989) e Chu Li-Hsi, 'New generation electorate', Free China Review, & Torres, 'Social requisites of democracy', cit., p. 29.
40 (Fev. 1990), p. 48-50. 43 Pierre Elliot Trudeau, Federalism and the French Canadians (New York: St.
31 The Economist, June 20, 1987, p.39; Apr. 15, 1989, p. 24; James Cotton, Martin's Press, 1968), p. 108, citado em Lipset, Seong & Torres, 'Social
'From authoritarianism to democracy in South Korea', Political Studies, 37 requisites of democracy', cit., p. 29.
Oune 1989), p. 252. 44 Inglehart, American Political Science Review, 82, p. 1 226-8.
32 Ver Bermeo, Comparative Politics, 19, p. 219 ss.; Linz & Stepan, 'Political 45 Por que e como essas momentosas mudanças aconteceram na Igreja católica
crafting', in Pastor ed., Democracy in the Americas, p. 48; Fernando H. é algo que está além do escopo deste estudo. George Weigel identifica
Cardoso, 'Entrepreneurs and the transition process: the Brazilian case', in vários fatores, desde o final do século XIX, como responsáveis pela mu-
Guillermo O'Donnell, Philippe C. Schmitter & Laurence Whitehead, eds., dança na posição da Igreja quanto ao Estado democrático liberal. Ele afirma
Transitions from authoritarian rule: comparative perspectives (Baltimore: que os Estados Unidos e os bispos americanos foram "particularmente im-
Johns Hopkins Universiry Press, 1986), p. 137-53. portantes". Sua influência, diz ele, culminou no Vaticano 11 e em sua
33 Allan Williams, Southem Europe transformed: political and economic change Declaração de Liberdade Religiosa (Dignitatis Humanae Personae), um
in Greece, Italy, Portugal and Spain (Londres: Harper & Row, 1984), p. 2-9; "fruto da experiência e dos experimentos americanos", especialmente do
Alfred Tovias, 'The international context of democratic transition', in teólogo americano John Courtney Murray. Ver George Weigel, 'Catholi-
Geoffrey Pridham, ed., The new Mediterranean democracies: regime transi- cism and democracy: The other twentieth-century revolution', in Brad
tion in Spain, Greece, and Portugal (London: Frank Cass, 1984), p. 159; Roberts, ed., The new democracies: global change and US. Policy (Cam-
Jane S. Jaquette & Lowenthal, World Politics, 39, p. 390; Catherine M. bridge: MIT Press, 1990), p. 20-5. Caso a argumentação de Weigel seja
válida, os Estados Unidos desempenharam dois papéis na produção da ter- 58 Time, Dec. 4, 1989, p. 74; Timothy Garton Ash, 'Eastern Europe: the year
ceira onda: diretamente, através de suas novas políticas nos anos 70 e 80 of truth', New York Review ofBooks, Feb. 15, 1990, p. 17.
(ver a seguir, p. 97-103) e, a uma certa distância, através de seu impacto na 59 Feliccian Foy, ed., 1988 catholic almanac (Huntington, Ind.: Our Sunday
Igreja católica. Visitor Books, 1987), p. 34.
Com raras exceções, os cientistas sociais ignoraram o significado das mu- 60 New York Times, Mar. 10, 1986, p. A3.
danças na Igreja católica para o desenvolvimento democrático, assim como 61 Rosalinda Pineda Ofrenco, 'The catholic Church in Philippine politics',
inicialmente ignoraram os desenvolvimentos - de importância compará- ]ournal ofContemporary Asia, v. 17, n. 3 (1987), p. 329; Time, Feb. 3,
vel, se bem que totalmente diferentes - no Islã dos anos 60 e 70. Uma ex- 1986,p.34,Feb. 17, 1986,p.36,39.
ceção é o livro de George C. Lodge, publicado em 1970: Engines of change: 62 Dahl, Polyarchy, cit., p. 197. Acrescentei a Irlanda aos 14 casos que Dahl es-
United States interests and revolution in Latin America (New York: Alfred pecifica em sua análise.
A. Knopf). 63 Sunshine, 'Economic causes and consequences ofDemocracy', cit., p. 134-40.
46 Citado em Brian H. Smith, The Church and politics in Spain: challenges to 64 Frans A. M. Alting Von Geusau, 'Shaping the enlarged community: a sur-
modern catholicism (Princeton: Princeton University Press, 1982), p. 284. vey', in J. S. Schneider ed., From nine to twelve: Europe's destiny?, (Alphen
47 Juan J. Linz, 'Religion and politics in Spain: from conflict to consensus aan den Rijn: Sijthoff and Noordhoff, 1980), p. 218.
above cleavage', Social Compass, v. 27, n. 2/3 (1980), p. 258. 65 Susannah Verney, 'Greece and the European Community', in Kevin
48 Jackson Diehl, Washington Post National Weekly Edition, Jan. 5, 1987, Featherstone & Dimitrios K. Katsoudas, eds., Political change in Greece: be-
p. 29; Thomas P. Skidmore, The politics of military rule in Brazil, 1964- fim and after the colonels (London: Croom Helm, 1987), p. 218.
1985 (New York: Oxford University Press, 1988), p. 78 e também p. 27; 66 Howard J. Wiarda, 'The significance for Latin America of the Spanish de-
Hugo Villela G., 'The Church and the process of democratization in Latin mocratic transition', in Robert P. Clark & Michael H. Haltzel, eds., Spain
America', Social Compass, v. 26, n. 2/3 (1979), p. 264; Brian H. Smith, in the 19805: the democratic transition and a new international role (Cam-
'Churches and human rights in Latin America: recent trends on the sub- bridge, Mass.: Ballinger Publishing, 1987), p. 159; Bermeo, 'Redemoc-
continent', in Daniel H. Levine, ed., Churches and Politics in Latin America ratization and transition elections', cit., p. 218; Kenneth Maxwell, 'Portu-
gal: a neat revolution', New York Review ofBooks, June 13, 1974, p. 16.
(Beverly Hills: Sage Publications, 1979), p. 155-93.
67 Thomas C. Bruneau, 'Portugal in 1970: from regime to regime' (Paper pre-
49 Skidmore, Politics of military rule, cit., p. 78, 334; Thomas C. Bruneau,
pared for Annual Meeting, American Political Science Association,
The political transflrmation of the Brazilian Church (Cambridge: Cam-
Washington, D. C., Aug. 28-31, 1980), p. 15-6.
bridge University Press, 1974), p. 222-3; Bruneau, p. 182-216, detalha dez
68 Ver Tamar Jacoby, 'The Reagan turnaround on human rights', Foreign
incidentes do crescente conflito Igreja-Estado no Brasil entre julho de 1966
A./fairs, 64 (Summer 1986), p. 1066-86. Para uma rápida visão geral da
e começo de 1972.
política de direitos humanos dos Estados Unidos enfatizando as semelhan-
50 Skidmore, Politics of military rule, cit., p. 137; Mark A. Uhlig, 'Pinochet's
ças entre as abordagens de Carter e Reagan, ver Paula Dobriansky, 'Human
tyranny', New York Review ofBooks, June 27, 1985, p. 38.
rights and the U.S. foreign policy', in Roberts, ed., The new democracies,
51 Alfred Fierro Bardaji, 'Political positions and opposition in the Spanish
p. 145-61; sobre o papel do Congresso, ver David P. Forsythe, Human
catholic Church', Government and Opposition, 11 (Spring 1976), p. 200-1.
rights and USO ftreign policy: Congress recomidered (Gainesville: University
Ver também Cooper, Catholicism and the Franco regime, cit., p. 35-44.
of Florida Press, 1988); e, para uma análise da política de Carter, Joshua
52 Gordon L. Bowen, 'Prospects for liberalization by way of democratization
Muravchik, Uncertain crusade: ]immy Carter and the dilemmas of human
in Guatemala', in George A. Lopes & Michael Stohl, eds., Liberalization rights (Lanham, Md.: Hamilton Press, 1986).
and Redemocratization in Latin America (New York: Greenwood Press, 69 "Carlucci, com forte respaldo da Alemanha Ocidental, propôs uma política
1987), p. 38. de sutil apoio aos socialistas. Também manteve distância dos direitistas de
53 Skidmore, Politics of military rule, cit., p. 137; Mark A. Uhlig, 'Pinochet's linha-dura a quem anteriormente Washington ouvia; ajudou a fortalecer a
tyranny', New York Review ofBooks, June 27, 1985, p. 38. esquerda moderada entre os militares e trabalhou intensamente para dar
54 Skidmore, Politics of military rule, cit., p. 184. substancial ajuda econômica à coalizão de oficiais do exército socialistas e
55 Burton, Impossible dream, cit., p. 217. moderados que desbarataram os comunistas e soldados radicais em novem-
56 Skidmore, Politics of military rule, cit., p. 137. bro de 1975." Kenneth Maxwell, 'Regime overthrow and the prospects for
57 Ver as reportagens do New York Times sobre as visitas papais mais impor- democratic transition in Portugal', in Guillermo O'Donnell, Philippe C.
tantes. Schmitter & Laurence Whitehead, eds., Transitions from authoritarian rule:
Southern Europe (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986), 76 Kenneth Maxwell, 'Regime overthrow and the prospects for democracy
p. 131. transition in Portugal', in O'Donnell Schmitter & Whitehead, Transitions
A idéia de que era responsabilidade do embaixador americano promover a from authoritarianism rule: Southern Europe, cit., p. 132; Jose Maravall, The
democracia no país em que servia, e não simplesmente manter boas relações transition to democracy in Spain (London: Croom Helm, 1982), p. 65.
com seu governo, por mais horrendo que ele fosse, assinalou uma mudança 77 New York Times, May 14, 1989, p. E6.
revolucionária no ethos do Departamento de Estado. É necessário um estu- 78 Washington Post, June 19, 1974, p. AIO; Paul Preston, The triumph of
do sério do porquê e como ocorreu essa mudança na mentalidade buro- democracy in Spain (London: Methuen, 1986), p. 60.
79 Falcoff, 'The democratic prospect', in Roberts, ed., The new democracies,
crática, de aproveitadores a defensores da liberdade.
70 Citado em Muravchik, Uncertain crusade, cit., p. 214.
cit., p. 67-68; Robert A. Pastor, 'How to reinforce democracy in the
71 Whitehead, 'Bolivia's failed democratization', in O'Donnel Schmitter
Americas: seven proposals', in Pastor, ed., Democracy in the Americas, cit.,
& Whitehead, eds., Transitions from authoritarian rule: Latin America, p. 143; Howard J. Wiarda, 'The significance for Latin America of the
p. 66, 223; New York Times, Nov. 29, 1984, p. A3, Jan. 15, 1989, p. 6; Spanish democratic transition', in Clark & Haltzel, eds., Spain in the
1980s, cit., p. 165-72.
Time, June 29, 1987 p. 22; Economist, Jan. 21, 1989, p. 40.
80 New York Times, Dec. 13, 1983, p. 3, Jan. 22, 1984, p. E3; Washington
72 Tais citações podem ser encontradas, respectivamente, em Osvaldo Hur-
Post, Jan. 25, 1984, p. A5.
tado, 'Changing Latin American attitudes: prerequisite to institutionalizing
81 New York Times, Mar. 15, 1986, p. A7; Boston Globe, Apr. 5, 1986, p. 1.
democracy', in Pastor, ed., Democracy in the Americas, cit., p. 101; Boston
82 Timothy Garton Ash, 'The revolution of the magic lantern', New York
Globe, Dec. 3, 1984, p. 2; Burton, Impossible dream, cit., p. 343; New York
ReviewofBooks,Jan. 18, 1990, p. 51; Time, Nov. 27,1989, p. 41.
Times, Aug. 1, 1980, p. A23.
83 Essa observação, pelo que sei, é de Timothy Garton Ash. Ver Ash, cit., New
73 Ver Luis A. Abugattas, 'Populism and after: the Peruvian experience', in
York Review ofBooks, Jan. 18, 1990, p. 42.
Malloy & Seligson, eds., Authoritarians and democrats, cit., p. 132; Philip
84 New York Times, Dec. 28, 1989, p. A13.
Mauceri, 'Nine cases of transitions and consolidations', in Pastor, ed.,
85 Sobre os líderes e suas escolhas, ver Samuel P. Huntington & Joan M.
Democracy in the Americas, cit., p. 217, 229; Cynthia McClintock, 'The
Nelson, No easy choice:polítical participation in developing countries (Cam-
prospects for democratic consolidation in the "least likely" case: Peru', in
bridge: Harvard UniversityPress, 1976), p. 159-71 e Larty Diamond, 'Crisis,
Diamond, Linz & Lipset, eds., Democracy in developing countries; cit.,
choise and structure: reconciling alternative models for explaining democ-
Howard J. Wiarda, 'The Dominican Republic: mirror legacies of democ-
ratic success and failure in the Third World' (Paper presented to Annual
racy and authoritarianism', in Diamond, Linz & Lipset, eds., Democracy
Meeting, American Political Science Association, Atlanta, Georgia, Aug.
in developing countries: Latin America, cit., p. 137; New York Times, Oct.
31-Sept. 3, 1989). Ver também o capítulo 3, a seguir, para uma discussão
4, 1988, p. A6; Mark Falcoff, 'The democratic prospect in Latin America', sobre os motivos para a democratização.
in Roberts, ed., The new democracies, cit., p. 68-9.
74 Timothy Garton Ash, 'Eastern Europe: the year of truth', New York Review
of Books, Feb. 15, 1990, p. 17; Michael Dobbs, 'Gorbachev: riding the
tiger', Washington Post National Weekly Edition, Jan. 8-14, 1990, p. 6-7; Capítulo 3
Washington Post, Nov. 22,1989, p. 1; 'The new Germany', Economist, June
30, 1990, p. 4-5; e, geralmente, Renée Nevers, The Soviet Union and I Ver, p. ex., G. Bingham Powell, Jr., Contemporary democracies: participa-
Eastern Europe: the end of an era (London: International Institute for tion, stabilíty and violence (Cambridge: Harvard University Press, 1982),
Strategic Studies, Adelphi Paper n. 249, 1990). chaps. 5-9; Juan J. Linz, 'Perils of presidentialism', Journal of Democracy, 1
75 Almond & Mundt, 'Tentative Conclusions', in Almond, Flanagan & (Winter 1990), p. 51-69.
Mundt eds., Crisis, choice, and change, cit., p. 626-9; David L. Huff & 2 Robert A. Dahl, Polyarchy: participation and opposition (New Haven: Yale
James M. Lutz, 'The contagion of political unrest in independent Black University Press, 1971), p. 33-40.
Mrica', Economic Geography, 50 (Oct. 1974), p. 352-67; Richard P. Y. Li 3 Ver Donald L. Horowitz, 'Three dimensions of ethnic politics', World
& William R. Thompson, 'The "coup contagion" hypothesis', Journal of Polítics, 23 Qan. 1971), p. 232-6; Samuel P. Huntington & Jorge L
Conflict Resolution, 19 (Mar. 1975), p. 63-88; James M. Lutz, 'The diffu- Dominguez, 'Political development', in Fred L Greenstein e Nelson W.
sion of political phenomena' in Sub-Saharan Mrica', Journal of Political and Polsby, eds., Handbook of Political Science, v. 3 (Reading, Mass.: Addison-
MilitarySociology, 17 (Spring 1989), p. 93-114. Wesley, 1975), p. 74-5.
4 Por razões que, sem dúvida, esrão profundamenre enraizadas na natureza 7 Tun-jen Cheng, 'Democratizing the quasi-Ieninist regime in Taiwan',
humana, os acadêmicos muitas vezes têm as mesmas idéias mas preferem World Politics, 41 Ouly 1989), p. 496.
usar diferenres palavras para elas. Minha divisão tripartite dos processos de 8 New York Times, Mar. 9, 1990, p. AI, AlI, Mar. 11, 1990, p. E3.
transição coincide com a de Donald Share e Scott Mainwaring, mas temos 9 Bronislaw Geremek, 'Postcommunism and democracy in Poland', Washing-
nossos próprios nomes para tais processos: ton Quarterly, 13 (Summer 1990), p. 129.
10 New York Times, Mar. 11, 1990, p. E3.
Huntington Linz SharelMainwaring
11 Para uma conclusão semelhanre, ver L William Zartman, 'Transition to
(1) transformação reforma transação
democracy from single-party regimes: lessons from North Africa' (Paper
(2) substituição ruptura queda/ colapso
presenred to Annual Meeting, American Poli ti cal Association, Atlanra,
(3) transtituição extricação
Georgia, Aug. 31-Sept. 3, 1989), p. 2-4.
12 Ver Richard K. Bens & Samuel P. Hunrington, 'Dead dictators and the ri-
Ver Juan J. Linz, 'Crisis, breakdown, and reequilibrium', in Juan]. Linz &
Alfred Stepan, eds., The breakdown of democratic regimes (Baltimore: Johns oting mobs: does the demise of authoritarian rulers lead to political insta-
Hopkins University Press, 1978), p. 35; Donald Share & Scott Main- bility?', International Security, 10 (Winrer 1985-86), p. 112-46.
waring, 'Transitions through transaction: democratization in Brazil and 13 Ver Raymond Carr, 'Inrroduction: the Spanish transition to democracy in
Spain', in Wayne A. Selcher, ed., Politicalliberalization in Brazil: dynamics, historical perspective', in Robert P. Clark & Michael H. Haltzel, eds.,
dilemmas, and fu tu res prospects (Boulder, Colo.: Westview Press, 1986), Spain in the 1980s: the democratic transition and a new international role
p.177-9. (Cambridge: Ballinger, 1987), p. 3-4.
5 Ver Martin C. Needler, 'The military withdrawal from power in South 14 Alfred Stepan, 'Inrroduction', in Stepan, ed., Democratizing BraziL' problems
America', Armed Forces and Society, 6 (Summer 1980), p. 621-3. oftransition and consolidation, cito (New York: Oxford University Press,
6 Para uma discussão sobre os termos em que os militares organizaram suas 1989), p. ix.
saídas do poder, ver Robert H. Dix, 'The breakdown of authoritarian 15 Ibidem; Scott Mainwaring, 'The transition to democracy in Brazil',Journal
regimes', Western Political Quarterly, 35 (Dec. 1982), p. 567-8, para as of Interamerican Studies and World Affairs, 28 (Spring 1986), p. 149;
"garanrias de saída"; Myron Weiner, 'Empirical democratic theory and the Kenneth Medhurst, 'Spain's evolutionary pathway from dictatorship to
transition from authoritarianism to democracy', PS, 20 (Fali 1987), p. 864- democracy', in Pridham, ed., New Mediterranean Democracies, cit., p. 30.
5; Enrique A. Baloyra, 'Conclusion: toward a framework for the study of 16 Paul Preston, The triumph ofdemocracy in Spain (London: Methuen, 1986),
democratic consolidation', in Enrique A. Baloyra, ed., Comparing new p. 93; Donald Share & Scott Mainwaring, 'Transitions through transac-
democracies: transition and consolidation in Mediterranean Europe and tion: democratization in Brazil and Spain', in Wayne A. Selcher, ed.,
Southern Cone (Boulder, Colo.: Wesrview Press, 1987), p. 299-300; Alfred Political liberalization in Brazil: dynamics, dilemmas and future prospects
Stepan, Rethinking military politics: Brazil and the Southern Cone (Boulder, Colo.: Wesrview Press, 1986), p. 179; Samuel P. Hunrington,
(Princeton: Princeton University Press, 1988), p. 64-5; Philip Mauceri, Political order in changing societies (New Haven: Yale University Press,
'Nine cases of transitions and consolidations', in Robert A. Pastor, eds., 1968), p. 344-57.
Democracy in the Americas: stopping the pendulum (New York, Holmes and 17 Jacques Rupnik, 'Hungary's quiet revolution', New Republic, Nov. 20,
Meier, 1989), p. 225, 229; Luis A. Abugattas, 'Populism and after: the 1989, p. 20; New York Times, Apr. 16, 1989, p. E3.
Peruvian experience', in James M. Malloy & Mitchell A. Seligson, eds., 18 Citado por Abugattas in Malloy & Seligson, eds., Authoritarians and democ-
Authoritarians and democrats: regime transition in Latin America (Pitts- rats, cit., p. 129, e por Sylvia T. Borzutzky, 'The Pinochet regime: crisis
burgh: University of Pittsburgh Press, 1987), p. 137-9; Aldo C. Vacs, and consolidation', in Malloy & Seligson, eds., Authoritarians and democ-
'Authoritarian breakdown and redemocratization in Argenrina', in Malloy rats, cit., p. 85.
& Seligson, eds., Authoritarians and democrats, cit., p. 30-1; P. Nikifouros 19 Ver Needler, 'The military withdrawal', p. 621-3, sobre os golpes de "segun-
Diamandouros, 'Transition to, and consolidation of, democratics politics da fase" e sobre a observação de que "o governo militar que devolve o poder
in Greece, 1974-83: a tenrative assessmenr', in Geoffrey Pridham, ed., The aos civis não é o mesmo que arrebatou o poder do governo constitucional".
new mediterranean democracies: regime transition in Spain, Greece, and 20 Stepan, Rethinking military politics, cit., p. 32-40 e Thomas E. Skidmore,
Portugal (London: Frank Cass, 1984), p. 54; Harry ]. Psomiades, 'Greece: 'Brazil's slow road to democratization: 1974-1985', in Stepan, ed., Democ-
from the colonels rule to democracy', in John H. Herz, ed., From dictator- ratizing Brazil, cit., p. 33. Essa inrerpretação coincide com minha própria
ship to democracy: coping with the legacies of authoritarianism and totalitari- impressão das inrenções de Golbery que formei em 1974, ao trabalhar com
anism (Westport, Conn.: Greenwood Press, 1982), p. 253-4. ele sobre planos para a democratização brasileira. Para uma argumenração
oposta, ver Silvio R. Duncan Baretta & John Markoff, 'Brazil's Abertura: a 33 Washington Post, Oct. 7, 1983, p. A3; Laurence Whitehead, 'Bolivia's failed
transition from what to what?', in Malloy & Seligson, eds., Authoritarians democratization, 1977-1980', in Guillermo O'Donnell, Philippe C.
and democrats, cit., p. 45-6. Schmitter & Laurence Whitehead, eds., Transitions from authoritarian rule:
21 Citado em Francisco Weffort, 'Why democracy?', in Stepan, ed., Democ- Latin America (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986), p. 59.
ratizing Brazil, cit., p. 332. 34 "Leoplitax" (identificado como um "comentador político da imprensa clan-
22 Raymond Carr & Juan Pablo Fusi Aizpurua, Spain: dictatorship to democra- destina polonesa"), Uncaptive Minds, 2 (May-June-July 1989), p. 5.
cy, 2. ed. (London: Allen & Unwin, 1981), p. 198-206. 35 Steven Mufson, 'Uncle Joe', New Republic, Sept. 28, 1987, p. 22-3; Wash-
23 Citado em David Remnick, 'The struggle for light', New York Review of ington Post National Weekly, Feb. 19-25, 1990, p. 7.
Books, Aug. 16, 1990, p. 6. 36 Edgardo Boeniger, 'The Chilean road to democracy', Foreign AjJàirs, 64,
24 Ver Stepan, Rethinking military politics, cit., p. 42-3. (Spring 1986), p. 82I.
25 Giuseppe Di Palma destacou o significado da legitimidade para trás em 37 Anna Husarska, 'A talk with Adam Michnik', New Leader, Apr. 3-17, 1989,
'Founding coalitions in Southern Europe: legitimacy and hegemony', p. 10; Marcin Sulkowski, 'The dispute about the general', Uncaptive
Government and Opposition, 15 (Spring 1980), p. 170. Ver também Nancy Minds, 3 (Mar.-Apr. 1990), p. 7-9.
Bermeo, 'Redemocratization and transition elections: a comparison of 38 Ver James Cotton, 'From authoritarianism to democracy in South Korea',
Spain and Portugal', Comparative Politics, 19 Gan. 1987), p. 218. Political Studies, 37 Gune 1989), p. 252-3.
26 Stanley G. Payne, 'The role of the Armed Forces in the Spanish transition', 39 Economist, May 10, 1986, p. 39; Alfred Stepan, 'The last days ofPinochet?',
in Clark & Haltzel, eds., Spain in the 1980s, p. 86; Stepan, Rethinking mil- New York Review ofBooks, June 2, 1988, p. 34.
itary politics, cit., p. 36. 40 Citado por Weffort, 'Why democracy?', in Stepan, ed., Democratizing Brazil,
27 Teses apresentadas pelo Comitê Central, Nono Congresso, Partido cit., p. 345, e por Thomas G. Sanders, 'Decompression', in Howard
Comunista da Espanha, 5-9 de abril de 1978, citadas em Juan J. Linz, Handelman e Tomas G. Sanders, eds., Military government and the move-
'Some comparative thoughts of the transition to democracy in Portugal and ment toward democracy in South America (Bloomingron: Indiana University
Spain', in Jorge Braga de Macedo & Simon Serfaty, eds., Portugal since the Press, 1981), p. 157. Como observa Weffort, tal conselho não fazia muito
revolution: economic and political perspectives (Boulder, Colo.: Westview sentido no Brasil. Antes de começar seu processo de transformação, o regime
Press, 1981), p. 44; Preston, Triumph ofdemocracy in Spain, cit., p. 137. militar brasileiro tinha eliminado fisicamente a maioria dos radicais sérios. O
28 Skidmore, 'Brazil's slow road', in Stepan, ed., Democratizing Brazil, cit.,
conselho do ajudante é muito mais relevante em situações de transtituições.
41 Time, June 25, 1990, p. 2I.
p.34.
42 Mandela, citado em Pauline H. Baker, 'A turbulent transition', Journal of
29 Virgilio R. Beltran, 'Political transition in Argentina: 1982 to 1985', Armed
Democracy, 1 (Fali 1990), p. 17; Botha, citado em Washington Post
Forcesand Society, 13 (Winter 1987), p. 217; Scott Mainwaring & Eduardo
National Weekly Edition, May 14-20, 1990, p. 17.
J. Viola, 'Brazil and Argentina in the 1980's', Journal of International
AjJàirs, 38 (Winter 1985), p. 206-9.
30 Robert Harvey, PortugaL· birth of a democracy (London: Macmillan, 1978),
p.2.
31 Myron Weiner formulou um conjunto de recomendações semelhante e
mais conciso: "Para os que buscam a democratização, as lições são as 1 Enrique A. Baloyra, 'Conclusion: toward a framework for the study of
seguintes: mobilize uma oposição em larga escala e não violenta contra o democratic consolidation', in Enrique A. Baloyra, ed., Comparing new democ-
regime, busque apoio do centro e, se necessário, da direita conservadora, racies:transition and consolidation in Mediterranean Europe and the Southern
contenha a esquerda e evite que ela domine a agenda do movimento, adule Cone, (Boulder, Colo.: Westview Press, 1987), p. 299. Sobre as negociações e
algumas seções dos militares, busque a cobertura simpática da imprensa oci- acordos venezuelanos e colombianos, ver T erry Lynn Karl, 'Petroleum and
dental e pressione os Estados Unidos em busca de apoio". 'Empirical demo- political pacts: the transition to democracy in Venezuela', in Guillermo
cratic theoty and the transition from authoritarianism to democracy', PS, O'Donnell, Philippe C. Schmitter & Laurence Whitehead, eds., Transitions
20 (Fali 1987), p. 866. from authoritarian rule: Latin America (Baltimore: Johns Hopkins University
32 Gabriel A. Almond, 'Approaches to developmental causation', in Gabriel A. Press, 1986), p. 196-219; Daniel H. Levine, 'Venezuela since 1958: the con-
Almond, Scott C. Flanagan & Robert J. Mundt, eds., Crisis, choice, and solidation of democratic politics', in Juan J.Linz & Alfred Stepan, eds., The
change: historical studies of political development (Boston: Litde, Brown, breakdown ofdemocratic regimes (Baltimore: Johns Hopkins University Press,
1973), p. 32. 1978), p. 93-8; Alexander W. Wilde, 'Conversations among gendemen: oli-
garchical democracy in Colombia', in Linz e Stepan, eds., Breakdown ofde- dation (New York: Oxford Universiry Press, 1989), p. 33-4; Economist,
mocratic regimes, cit., p. 93-8; Jonathan Harrlyn, 'Colombia: the politics of Sept. 17, 1988, p. 48.
violence and accomodation', in Larry Diamond, Juan J. Linz & Seymour 14 Myron Weiner, 'Empirical democratic theory and the transition from au-
Martin Lipset eds., Democracy in developing countries: Latin America thoritarianism to democracy', PS, 20 (Fali 1987), p. 865.
15 New York Times, Sept. 1, 1987, p. 1.
(Boulder, Colo.: Lynne Rienner, 1989), p. 306-7.
16 Levine, 'Venezuela since 1958', in Liz & Stepan, eds., Breakdown ofdemoc-
2 Jose Maravall, The transition to democracy in Spain (Londres: Croom Helm,
1982), p. 42-4; Donald Share & Scott Mainwaring, 'Transitions through ratic regimes: Latin America, cit., p. 89-92; Philip Mauceri, 'Nine cases of
transaction: democratization in Brazil and Spain', in Wayne A. Selcher, ed., transitions and consolidations', in Robert A. Pastor, ed., Democracy in
Americas: stopping the pendulum (New York: Holmes and Meier, 1989),
Political Liberalization in Brazil: dynamics, dilemmas, and future prospects
p.215.
(Boulder, Colo.: Westview Press, 1986), p. 175-9.
17 'Ali the Spains: a survey', Economist, Nov. 3, 1979, p. 3; Gunrher, 'Democ-
3 Raymond Carr, 'Introduction: the Spanish transition to democracy in his-
ratization and parry building', in Clark & Haltzel, eds., Spain in the 1980s,
torical perspective', in Robert P. Clark & Michael H. Haltzel, eds., Spain
cit., p. 58.
in the 1980s: the democratic transition and a new international role
18 Scott Mainwaring & Eduardo]. Viola, 'Brazil and Argentina in the 1980s',
(Cambridge, Mass.: Ballinger, 1987), p. 4-5.
JournaloflnternationalAffàirs, 38 (Winter 1985), p. 208-9.
4 Wojtek Lamentowicz, 'Dilemmas of the transition period', Uncaptive
19 Timothy Garton Ash, 'The revolution of the magic lantem', New York
minds, 2 (Nov.-Dec. 1989), p. 19.
Review ofBooks, Jan. 18, 1990, p. 51.
5 Carr, 'Introduction', in Clark & Haltzel, eds., Spain in the 1980s, cit.,
20 Skidmore, 'Brazil's slow road', in Stepan, ed., Democratizing Brazil, cit.,
p. 4-5, e Richard Gunther, 'Democratization and parry building: the role
p.9-10.
of parry elites in the Spanish transition', in Clark & Haltzel, eds., Spain in
21 Luis A. Abugattas, 'Populism and after: the Peruvian experience', in James
the 1980s, cit., p. 54-8.
M. MaIloy & MitcheIl A. Seligson, eds., Authoritarians and democrats:
6 James Dunkerley & Rolando Morales, 'The crisis in Bolivia', New Lefi
regime transition in Latin America (Pittsburgh: Universiry of Pittsburgh
Review, n. 155 Oan.-Feb. 1986), p. 100-1; International Herald Tribune, Press, 1987), p. 137-8.
Apr. 28-29, 1990, p. 3. 22 CharIes Guy GilIespie & Luis Eduardo Gonzalez, 'Uruguay: the survival of
7 New York Times, Mar. 2, 1989, p. 1, Mar. 24, 1989, p. AIO. old and autonomous institutions', in Diamond, Linz & Lipset, eds.,
8 Lamentowicz, Uncaptive minds, 2 (Nov.-Dec. 1989), p. 19. Democracy in developing countries: Latin America, p. 223-4; Economist, Dec.
9 Salvador Giner, 'Southern European socialism in transition', in Geoffrey 4, 1982, p. 63; New York Times, Dec. 2, 1980, p. A3, Dec. 6, 1980, p. 3.
Pridham, ed., The new Mediterranean democracies: regime transition in Spain, 23 Aldo e. Vacs, 'Authoritarian breakdown and redemocratization in
Greece, and Portugal (London: Frank Cass, 1984), p. 140, 155. Argentina', in MaIloy & Seligson, eds., Authoritarians and democrats, cit.,
10 Kenneth Medhurst, 'Spain's evolutionary pathway from dictatorship to p. 16; New York Times, Nov. 1, 1983, p. 1, A14; Washington Post, Nov. 1,
democracy', in Pridham, ed., New M.editerranean democracies, cit., p. 38; 1983, p. AI.
Bolivar Lamounier, 'Challenges to democratic consolidation in Brazil' 24 Time, Nov. 21, 1983, p. 43; Washington Post, Nov. 5, 1983, p. AIO; New
(Paper presented Annual Meeting, American Political Science Association, York Times, Nov. 6, 1983, p. 6.
Washington, D.e., Sept. 1-4, 1988), p. 19-20; New York Times, Aug. 1, 25 Washington Post, Feb. 13, 1985, p. AI, A28.
1989, p. A4. 26 Leo E. Rose, 'Pakistan: experiments with democracy', in Larry A. Diamond,
11 Para uma declaração semelhante sobre os compromissos necessários, ver Juan]. Linz & Seymour Martin Lipset, eds., Democracy in developing coun-
Giuseppe Di Palma, 'Government performance: an issue and three cases tries: Asia (Boulder, Colo.: Lynne Rienner, 1989), p. 125-6.
in search of theory', in Pridham, ed., New Mediterranean democracies, cit., 27 Jose Luis Cea, 'Chile's difficult retum to constitutional democracy', PS, 20
p.175-7. (Summer 1987), p. 669.
12 Giner, 'Southern European socialism', in Pridham, ed., New Mediterranean 28 New York Times, Mar. 28, 1989, p. 1; Economist, Apr. 1, 1989, p. 39.
democracies, cit., p. 149, e P. Nikiforos Diamandouros, 'Transition to, and 29 New York Times, June 6, 1989, p. AI; Economist, June 10, 1989, p. 43-4.
consolidation of, democratic politics in Greece, 1974-83: a tentative assess- 30 New York Times, Feb. 27, 1990, p. A12, Mar. 1, 1990, p. A20, Mar. 8,
ment', in Pridham, ed., New Mediterranean democracies, cit., p. 64. 1990, p. A3; Boston Globe, Feb. 27, 1990; Tom Gjalten, 'Let's make a
13 Thomas E. Skidmore, 'Brazil's slow road to democratization: 1974-85', in deal', New Republic, Mar. 19, 1990, p. 14; Washington Post National
Alfred Stepan, ed., Democratizing Brazil: problems of transition and consoli- Weekly Edition, Mar. 5-11, 1990, p. 7.
31 New York Times, May 29, 1990, p. A9; Dai/y Telegraph (London), May 28, 45 Raymond Carr & Juan Pablo Fusi Aizpurua, Spain: dictatorship to democra-
1990, p. 12; Ios Angeles Times, July 10, 1990, p. H2. cy (London: Allen & Unwin, 1981), p. 227.
32 New York Times, June 14, 1990, p. 1, June 15, 1990, p. A9; Washington 46 Chris Hani, citado em Economist, J une 18, 1988, p. 46; Alvaro Cunhal, cita-
Post National Week/y Edition, June 18-24, 1990, p. 18. do em Kenneth Maxwell, 'Regime overthrow and me prospects for democ-
33 Ver Manuel Antonio Garreton, 'Political processes in an authoritarian ratic transition in Portugal', in Guillermo O'Donnell, Philippe C. Schmitter
regime: the dynamics of institutionalization and opposition in Chile, 1973- & Laurence Whitehead, eds., Tramitiom from authoritarian rule: Southern
1980', in J. Samuel Valenzuela & Arturo Valenzuela, eds., Military rule in Europe (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986), p. 123.
Chile: dictatorship and oppositions (Baltimore: Johns Hopkins University 47 Esses dados sobre mortes políticas originam-se basicamente de reportagens
Press, 1986), p. 173-4. Um plebiscito anterior, em janeiro de 1978, convo- na imprensa e devem ser vistos com algum ceticismo. Por um lado, as
cava a população chilena a se articular em torno de Pinochet em oposição à primeiras estimativas de mortes em qualquer "incidente" ou "massacre" são
"agressão internacional" contra seu país. Assemelhava-se aos plebiscitos quase sempre exageradas e estão sujeitas a correções posteriores. Ver, por
nos países fascistas e comunistas em que os governos sempre obtinham mais exemplo, a redução das informações iniciais de 2700 mortes em Pequim
do que 90% dos votos; no entanto, apenas 75% dos eleitores chilenos em junho de 1989 e de 60000 pessoas mortas em Bucareste em dezembro
apoiaram Pinochet nesse plebiscito. de 1989. New York Times, June 3, 1990, p. 20; Economist, Jan. 6, 1990,
34 Skidmore, 'Brazil's slow road', in Stepan, ed., Democratizing Brazil, cit., p. 47. Por outro lado, os relatórios dos governos normalmente subestimam
p.23. as mortes que suas forças de segurança provocaram ou sofreram, e muitas
35 George S. Harris, Turkey: coping with crisis (Boulder, Colo.: Westview Press, mortes políticas às vezes não aparecem nas estimativas oficiais ou indepen-
1985), p. 59. dentes, porque os assassinos ou amigos da vítima cuidam dos corpos pri-
36 Sung-joo Han, 'South Korea: politics in transition', in Diamond, Linz & vadamente. Para um sofisticado modelo de análise de mortes políticas na
Lipset, eds., Democracy in developing countries: Asia, p. 283-4; Gregory África do Sul entre 1977 e 1984, ver Hendrik W. van der Merwe, 'A tech-
Henderson, 'Constitutional changes from the first to the sixth republics: nique for the analysis of political violence', Politikon, 16 (Dec. 1989),
1948 to 1987', in Ilpyong J. Kim & Young Whan Kihl, eds., Political p. 63-74. O South Mrican Institute of Race Relations estima que 8 577
change in South Korea (New York: Korean PWPA, 1988), p. 38. pessoas morreram por violência política entre setembro de 1984 e outubro
37 Laurence Whitehead, 'Bolivia's failed democratization, 1977-1980', in de 1990. Wayne Safro, Special report on violence against black town council-
O'Donnell, Schmitter & Whitehead, eds., Transitions from authoritarian lors and policemen Oohannesburg: South Mrican Institute of Race Rela-
rule: Latin America (Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1986), p. tions, Dec. 1990), p. 1.
58-60. 48 Ver Douglas L. Wheeler, The military and the Portuguese dictatorship,
38 Citado em Alfred Stepan, The last days ofPinochet?', New York Review of 1926-1974: "The Honor of the Army"', in Lawrence S. Graham & Harry
Books, June 2, 1988, p. 33. M. Makler, eds., Contemporary Portugal' the revolution and its antecedents
39 Citado em Constantine P. Danopoulos, 'From military to civilian rule (Austin: University ofTexas Press, 1979), p. 215; John L. Hammond,
in contemporary Greece', Armed Forces and Society, 10 (Winter 1984), 'Electoral behavior and political militancy', in Graham & Makler, eds.,
p.236-7. Contemporary Portugal, cit., p. 269-75; Douglas Porch, The Portuguese
40 Sandra Burton, Impossible dream: the Marcoses, the Aquinos and the unfin- armedforces and the revolution (London: Croom Helm, 1977), p. 165,228;
ished revolution (New York: Warner Books, 1989), p. 102; Hasan-Askari Thomas C. Bruneau, 'Discovering democracy', Wilson Quarter/y, 9 (New
Rizvi, The civilianization of military rule in Pakistan', Asian Survey, 26 Year's 1985), p. 70-1.
(Oct. 1986), p. 1076-7; Economist, Oct. 29, 1988, p. 43. 49 Rafael Lopez-Pintor, 'Los condicionamentos socioeconómicos de Ia acción
41 Karl D. Jackson, The Philippines: the search for a suitable democratic so- política en Ia transición democrática', Revista Espafíola de Investigaciones
lution, 1946-1986', in Diamond, Linz & Lipset, eds., Democracy in de- Sociológicas, 15 (1981), p. 21, reproduzido em Jose Ignacio Wert Ortega,
veloping countries: Asia, p. 253; Rizvi, 'Civilianization of military rule', The transition from below: public opinion among the Spanish popula-
p. 1076-7; Economist, June 16, 1990, p. 45; New York Times, June 15, tion from 1977 to 1979', in Howard R. Penniman & Eusebio M. Mujal-
1990, p. A9. Leon, eds., Spain at the pools, 1977, 1979, and 1982: a study ofthe nation-
42 Citado em Burton, Impossible dream, cit., p. 200-1; Economist, Sept. 10, al elections (Durham, N.C.: Duke University Press, American Enterprise
1988, p. 44-7. Institute, 1985), p. 344.
43 Economist, June 29, 1985, p. 38 ss. 50 Timothy Garton Ash, 'Eastern Europe: the year of the truth', New York
44 Burton, Impossible dream, cit., p. 208-11. Review ofBooks, Feb. 15, 1990, p. 18.
51 Francisco Weffort, 'Why democracy?', in Stepan, ed., Democratizing Brazil, or destruction: European and South America comparisons', in Robert A.
cit., p. 341-5. Pastor, ed., Democracy in the Americas: stopping the pendulum (New York:
52 Mainwaring & Viola, 'Brazil and Argentina', cit., p. 208; New York Times, Holmes and Meier, 1989), p. 41-61; Laurence Whitehead, 'The consolida-
Dec. 17, 1982, p. A6, Dec. 18, 1982, p. 3, Dec. 20,1982, p. A2. tion of fragile democracies: a discussion with illustrations', in Pastor, ed.,
53 Ramon H. Myers, 'Political theoty and recent political developments in the Democracy in the Americas, cit., p. 79-95; e Charles Guy Gillespie, 'Demo-
republic of China', Asian Survey, 27 (Sept. 1987), p. 1013; New York cratic consolidation in the Southern Cone and Brazil: beyond political dis-
Times, Dec. 1, 1986, p. A3, Dec. 2, 1986, p. A6; Washington Post National articulation', Third World Quarterly, 11 (Apr. 1989), p. 92-113.
Weekly Edition, Jan. 22-28, 1990, p. 10. 2 Para um tratamento cuidadoso de tais questões, com referência à segunda
54 Timothy Garton Ash, 'The German revolution', New York Review of Books, onda e aos primeiros casos da terceira onda, ver John H. Herz, 'On
Dec. 21, 1989, p. 16. reestablishing democracy after the downfall üf authoritarian or dictatorial
55 Ash, cit., New York Review ofBooks, Feb. 15, 1990, p. 19. regimes', Comparative Politics, 10 Quly 1978), p. 559-62, no qual Herz
56 New York Times, Sept. 28, 1984, p. A3. definiu a questão como sendo: 'Forgive and forget, or prosecute and
57 Economist, Feb. 17, 1990, p. 35.
purge?', e Herz, 'Conclusion', in John H. Herz, ed., From dictatorship to
58 Ver J. Btyan Hehir, 'Papal foreign policy', Foreign Policy, 78 (Spring 1990),
democracy: coping with the legacies of authoritarianism and totalitarianism
p. 45-6, para a declaração de João Paulo 11 de que "a violência é má, a vio-
(Westport, Conn.: Greenwood Press, 1982), p. 277-81. Para uma com-
lência é inaceitável como solução para os problemas" e que portanto não
paração da experiência da terceira onda na Argentina, Brasil e Uruguai, ver
pode haver uma doutrina da "revolução justa", um ponto de vista que não é
Alfred Stepan, Rethinking military politics: Brazil and the Southern Cone
partilhado universalmente pelos católicos.
(Princeton: Princeton University Press, 1988), p. 69-72, 107-8, 115-6, e
59 Benigno Aquino, discurso preparado para ser proferido a 21 de agosto de
para uma excelente discussão sobre questões políticas e morais, ver Aspen
1983 no aeroporto de Manila, New York Times, Aug. 22, 1983, p. A8.
60 Zbigniew Bujak, citado em David S. Mason, 'Solidarity as a social move-
Institute, Justice and SocietyProgram, State crimes: punishment or pardon
ment', Political Science Quarterly, 104 (Spring 1989), p. 53; Lech Walesa, (Queenstown, Md.: The Aspen Institute, Papers and Report of a
entrevista por Neal Conan, National Public Radio, 5 de fevereiro de 1985; Conference, Nov. 4-6, 1988, 1989).
Ash, 'Eastern Europe', cit., p. 19. 3 Tais dados, que inevitavelmente são apenas aproximados, originam-se de
61 Chefe Mengosuthu G. Buthelezi, 'Desinvestiment is anti-black', Wall Street diversas fontes, inclusive as citadas em conexão com as estimativas do capí-
Journal, Feb. 20, 1985, p. 32. tulo 4, a respeito das pessoas mortas nas democratizações. Para os dados do
62 New York Times, Jan. 20, 1987, p. 3; Jeffrey Herbst, 'Prospects for revolution Chile, ver também New York Times, Aug. 1, 1989, p. A4, Mar. 13, 1990,
in South Mrica', Political Science Quarterly, 103 (Winter 1988-89), p. 681-2. p. A3, e, sobre o Brasil, New York Times, Dec. 15, 1985, p. 15.
63 Economist, July 27, 1985, p. 26; Washington Post National Weekly Edition, 4 Citado em Lawrence Weschler, 'The great exception: I - liberty', New
July 21, 1986, p. 15. Yorker, Apr. 3, 1989, p. 84.
64 Washington Post, Mar. 28, 1984, p. A16; New York Times, Oct. 30, 1984, 5 Whitehead, 'Consolidation offragile democracies', in Pastor, ed., Democra-
p. AI; Boston Globe, Oct. 31, 1984, p. 3, Nov. 28, 1984, p. 17; Charles cies in the Americas, cit., p. 84.
Lane, 'Marcos, he ain't', New Republic, July 7, 1986, p. 21. 6 Aryeh Neier, 'What should be done about the guilty?', New York Review of
65 New York Times, May 15,1986, A21, June 17, 1986, p. A2, Mar. 4, 987, Books, Feb. 1, 1990, p. 35.
p. A3, Aug. 4, 1987, p. A13. 7 Vaclav Havel, 'New Year's Address', Uncaptive Minds, 3 Qan.-Feb. 1990),
66 William Flanigan & Edwin Fogelman, 'Patterns of democratic develop- p.2.
ment: an historical comparative analysis', in John V. Gillespie & Betty A. 8 Citado em Weschler, cit., New Yorker, Apr. 3, 1989, p. 84.
Nesvold, eds., Macro-quantitative analysis: conflict, development, and democ- 9 Neier, cit., New York Review ofBooks, Feb. 1, 1990, p. 35.
ratization (Beverly Hills: Sage Publications, 1971),487-8. 10 New York Times, Aug. 1, 1989, p. A4, Mar. 10, 1990, p. 4; Boston Globe,
Dec. 10, 1989, p. 17.
11 New York Times, May 29,1983, p. E3.
12 P. Nikiforos Diamandouros, 'Transition to, and consolidation of, democra-
tic politics in Greece, 1974-83: a tentative assessment', in Geoffrey Prid-
1 Para outras discussões sobre os problemas da consolidação democrática, ver ham, ed., The new Mediterranean democracies: regime transitions in Spain,
Juan Linz & Alfred Stepan, 'Political crafting of democratic consolidation Greece, and Portugal (London: Frank Cass, 1984), p. 57.
13 Harry Psomiades, 'Greece: from rhe colonel's rule ro democracy', in Herz, Zagorski, 'Civil-military relations and Argentine democracy', Armed Forces
ed., From dictatorship to democracy, cit., p. 262-5. O número exato de julga- and Society, 14 (Spring 1988), p. 423.
mentos de torturadores é incerto, porque foram realizados em várias juris- 34 Psomiades, 'Greece', in Herz, ed., From dictatorship to democracy, cit.,
dições e envolveram diversos crimes (agressão,abuso de autoridade) difíceis p.207.
de disringuir dos casos de crimes normais. 35 Eusebio Mujal-Leon, 'The crisis of Spanish democracy', Washington
14 Ver Nunca mds: the report o/ the Argentina National Commision on the Quarterly,5 (Spring 1982), p. 104; New York Times, Nov. 15, 1981, p. A17,
Disappeared (New York: Farrar Strauss Giroux, 1986), p. 10, 51 et passim. Nov. 21,1981, p. 2.
15 Diamandouros, 'Democratic politics in Greece', in Pridham, ed., New 36 Thomas C. Bruneau & Alex MacLeod, Politics in contemporary Portugal
Mediterranean democracies, cit., p. 58. (Boulder, Colo.: Lynne Rienner, 1986), p. 118-26; Washington Post, Jan.
16 Psomiades, 'Greece', in Herz, ed., From dictatorship to democracy, cit., 28, 1984, p. A17, A24.
p. 263-64; New York Times, Dec. 31, 1990, p. 3. 37 New York Times, Mar. 11, 1990, p. E3, E21, Sept. 18, 1990, p. 11; Time,
17 Peter Ranis, 'The dilemmas of democratization in Argentina', Current Mar. 26, 1990, p. 26.
History, 85 Gan. 1986), p. 30; Elizabeth Fox, 'Argentina: a prosecution in 38 Bruneau & MacLeod, Politics in contemporary Portugal, p. 24. Ver, em geral,
trouble', Atlantic Monthly, 255 (Mar. 1985), p. 42. capítulos 1 e 6, e Walter C. Opello, Jr., Portugal's political development: a
18 New York Times, Dec. 28,1986, p. E3, Feb. 21, 1987, p. 4; Economist, Dec.
comparative approach (Boulder, Colo.: Westview Press, 1985), capo7.
13, 1986, p. 42. 39 New York Times, Sept. 9, 1990, p. 6, Dec. 6, 1990, p. A14, Jan. 22, 1991,
19 New York Times, Dec. 30, 1990, p. 9.
p.A17.
20 International Herald Tribune, June 27-28, 1987, p. 5.
40 Henri J. Barkey, 'Why military regimes fail: the perils of transition', Armed
21 James Cotton, 'From authoritarianism to democracy in South Korea',
Forces and Society, 16 (Winter 1990), p. 187; New York Times, July 3,
Political Studies, 37 Gune 1989), p. 257.
1987, p. A5, Dec. 4,1990, p. A13; Economist, July 4,1987, p. 47.
22 Wesctiler, New Yorker, Apr. 3, 1989, p. 83; Stepan, Rethinking military pol-
41 Ver, em geral, Diamandouros, 'Democratic politics in Greece', in Pridham,
itics, cit., p. 70-1. Apoiei-me basicamente na avaliação de Weschler quanto
ed., New Mediterranean democracies, cit., p. 60; Constantine P. Dano-
à controvérsia sobre a anistia no Uruguai. Seus artigos para o New Yorker
poulos, 'From balconies to tanks: post-junta civil-military relations in
foram depois reunidos em livro, A mirac!e, a universe: settling accounts with
torturers (New York: Pantheon Books, 1990).
Greece', Journal o/Political and Military Sociology, 13 (Spring 1985), p. 91,
23 Danilo Arbilla, citado em Newsweek, Jan. 28, 1985, p. 23.
95; McClintock, 'Prospects for democratic consolidation', cit., p. 134; Paul
24 Weschler, cit., New Yorker, Apr. 3, 1989, p. 85.
Heywood, 'Spain: 10 June 1987', Governmentand Opposition, 22 (Autumn
25 New York Times, Apr. 18, 1989, p. A8. 1987), p. 397-98. Danopoulos usa a metáfora da cenoura e do chicote para
26 Ernesto Sabato, citado em Washington Post, Feb. 2, 1986, p. C5. descrever as políticas militares de Karamanlis e Papandreou.
27 Neier, 'What should be done', p. 34; New York Times, June 3, 1990, p. 6,
42 Shubert, cit., Armed Forces in Society, 10, p. 535-7; Martin C. Needler,
June 11. 1990, p. A4.' 'Legitimacy and the armed forces in transitional Spain' (Paper prepared for
28 Lawrence Weschler, 'The great exception: II - impuniry', New Yorker, Meeting, International Political Science Association, Rio de Janeiro, Aug.
Apr. 10, 1989, p. 92-3; Boston Globe, Apr. 16, 1989, p. 20. 10-14, 1982), p. 16.
29 Neier, 'What should be done', cit., p. 34. 43 International Herald Tribune, May 30, 1990, p. 5; New York Times, Mar.
30 Gabriel Schoenfeld, 'Crimes and punishments', Soviet Prospects, 2 (Oct. 31, 1982, p. A4; Times (London), Mar. 29, 1990, p. 13.
1990); Janusz Bugajski, 'Score settling in Eastern Europe', Soviet Prospects, 44 Danopoulos, 'From balconies to tanks', cit., p. 91-2; Salvador Giner,
2 (Oct. 1990), p. 1-3; New York Times, Jan. 1,1990, p. A13, July 7, 1990, 'Southern European socialism in transition', in Pridham, ed., New Mediter-
p. A8, Nov. 11, 1990, p. A16; Times (London), May 29,1990, p. 11. ranean democracies, cit., p. 151; New York Times, Mar. 31,1982, p. A4.
31 'Problems in the Soviet military', SovietlEast European, Report, 7 (Sept. 20, 45 Citado em New York Times, July 22, 1989, p. 3.
1990), p. 1-2; New York Times, July 5, 1990, p. A7. 46 'On the edge of Europe: a survey of Portugal', Economist, July 30, 1984,
32 New York Times, May 11, 1989, p. A7. p.7.
33 Cynthia McClintock, 'The prospects for democratic consolidation in the 47 New York Times, Oct. 28, 1983, p. A5, Jan. 24, 1984, p. A2; Times
"Ieast likely" case: Peru', Comparative Politics, 21 Gan. 1989), p. 142; (London), Mar. 20, 1990, p. 13.
Adrian Shubert, 'The military threat to Spanish democracy: a historical 48 Danopoulos, 'From balconies to tanks', cit., p. 93; Zagorski, 'Civil-military
perspective', Armed Forces and Society, 10 (Summer 1984), p. 535; Paul W. relations', cit., p. 424.
57 Linz & Stepan, 'Political crafting', in Pastor, ed., Democracy in the Americas,
49 Danopoulos, 'From balconies to tanks', cit., p. 89; Theodore A. Cou-
cit., p. 49; McClintock, 'Prospects for democratic consolidation', cit.,
loumbis & Prodromos M. Yannis, 'The stability quotient ofGreece's post-
p.127.
1974 democratics institutions', Journal o/ Modern Greek Studies, 1 (Oct.
58 Enrique A. Baloyra, 'Public opinion and support for democratic regimes,
1983), p. 366; New York Times, Jan. 15, 1989, p. 6; Economist, Jan. 21,
Venezuela 1973-1983' (Paper prepared for Annual Meeting, American
1989, p. 40.
Political Science Association, New Orleans, La., Aug. 29-Sept. 1, 1985),
50 Danopoulos, 'From balconies to tanks', cit., p. 89, 93; New York Times,
p. 10-1.
Mar. 31, 1982, p. A4.
59 Makram Haluani, 'Waiting for the revolution: the relative deprivation of
51 New York Times, Dec. 6, 1990, p. A14.
the J-curve logic in the case ofVenezuela, 1968-1989' (Paper prepared for
52 O Economist ofereceu conselhos bem semelhantes aos líderes das novas de-
Annual Meeting, American Political Science Association, Atlanta, Georgia,
mocracias quanto ao trato com seus militares:
Aug. 31-Sept. 3, 1989), p. 9-10. .
Esqueça pecados passados - ou, pelo menos, não queira puni-Ios [...] 60 McDonough, Barnes & Lopez Pina, 'Democratic legitimacy in Spain', cit.,
Seja forte, e também tenha muito tato [...] p.751.
Trate-os generosamente [ ] 61 Esses dados sobre economia e opinião pública foram tirados de Linz &
Mantenha-os ocupados [ ] Stepan, 'Political crafting', in Pastor, ed., Democracy in the Americas, cit.,
Ensine-os a respeitar a democracia [...] p.43-5.
Ganhe o povo para seu lado - mas tome cuidado para não prometer mais 62 Ver Guillermo O'Donnell, 'Challenges to democratization in Brazi1', World
do que pode dar [...] Policy Journal, 5 (Spring 1988), p. 281-300.
Se tudo o mais falhar, acabe com o exército. 63 McDonough, Barnes & Lopez Pina, 'Democratic legitimacy in Spain', cit.,
Economist, Aug. 29, 1987, p. 36. p. 752-3; McClintock, 'Prospects for democratic consolidation', cit.,
53 Washington Post, May 5, 1984, p. A17; Washington Post National Week/y, p.140.
Nov. 9, 1987, p. 17; Juan de Onis, 'Brazil on the tightrope toward democ- 64 Para esses e outros dados sobre mudanças na cultura política alemã, ver
racy', Foreign A./fairs, 63 (FalI 1989), p. 128; New York Times, June 5, 1989, Kendall L. Baker, Russell J. Dalton, Kai Hildebrandt, Germany trans-
p. A9; Tzvetan Todorov, 'Post-totalitarian depression', New Republic, June formed: polítical culture and the new polítics (Cambridge: Harvard Univer-
25, 1990, p. 23-5; New York Times, Nov. 9, 1990, p. AI, AIO. sity Press, 1981), passim, mas especialmente capo 1 e p. 273, 287; David P.
54 Peter McDonough, Samuel H. Barnes, Antonio Lopez Pina, 'The growth of Conradt, 'Changing german political culture', in Gabriel A. Almond &
democratic legitimacy in Spain', American Polítical Science Review, 80 Sidney Verba, eds., The civic culture revisited (Boston: Little, Brown, 1980),
(Sept. 1986), p. 743; New York Times, May 7, 1989, p. 2E; Thomas C. p. 212-72, e 'West Germany: a remade political culture?', Comparative
Bruneau, 'Popular support for democracy in post-revolutionary Portugal: Political Studies, 7 Ouly 1974), p. 222-38.
results from a survey', in Lawrence S, Graham & Douglas L. Wheeler, eds., 65 Baker, Dalton & Hildebrandt, Germany transformed, cit., p. 68-9, 285;
In search o/ modern Portugal: the revolution and íts consequences (Madison: Warren M. Tsuneishi, Japanese political style (New York: Harper, 1966),
University ofWisconsin Press, 1983), p. 35-6; McClintock, 'Prospects for p.17-21.
democratic consolidation', cit., p. 142. 66 International Herald Tribune, May 10, 1990, p. 1, May 16, 1990, p. 1, May
55 Larry Diamond, Juan]. Linz & Seymour Martin Lipset, 'Democracy in de- 21, 1990, p. 2; Times (London), May 11, 1990, p. 10.
veloping countries: facilitating and obstructing factors', in Raymond D. 67 Numa análise sobre as razões pelas quais os pequenos países do Caribe, em
Gastil, ed., Freedom in the world: polítical rights and civilliberties 1987- sua maior parte antigas colônias britânicas, mantiveram a democracia, Jorge
1988 (New York: Freedom House, 1988), p. 231. I. Dominguez chama a atenção para o papel do subsistema internacional e
56 Linz & Stepan, 'Political crafting, in Pastor, ed., Democracy in the Americas, de outros Estados do Caribe, bem como dos Estados Unidos, na ação con-
cit., p. 46, 58-9, e Ekkart Zimmerman, 'Economic and poli ti cal reactions tra golpes e outras ameaças à democracia. O sistema internacional do
to world economic crises of the 1930s in six European countries' (Paper Caribe deu prioridade à "democracia em relação à não-intervenção (o opos-
presented for convention, Midwest Political Science Association, Chicago, to do que tem sido a norma mais comum na América Latina)". 'The
Apr. 10-12, 1986), p. 51, citado em Linz & Stepan, 'Political crafting', cit., Caribbean question: why has liberal democracy (surprisingly) flourished? A
p. 46; Robert A. Dix, Book review, American Political Science Review, 83 rapporteur's report' (Unpublished paper, Harvard, University, Center for
(Sept. 1989), p. 1055. International Affairs, Jano 1991), p. 31.
68 Ver Juan J. Linz, 'The perils of presidentialism', Journal of Democracy, 1 I i Yu-sheng Lin, 'Reluctance to modernize: the influence of confucionism on
(Winter 1990), p. 51-70, e os artigos de Donald Horowitz, Seymour China's search for political modernity', in Joseph P. Liang, ed., Confu-
Martin Lipset & Juan J. Linz, Journal of Democracy, 1 (Winter 1990), cianism and modernization: a symposium (Taipei: Wu Nan Publishing Co.,
p. 73-91. 1987), p. 25. Para uma interpretação um pouco diferente sobre direitos hu-
manos e o governo das leis na tradição confucionista, ver Stephen B. Young
& Nguyen Ngoc Huy, The tradition ofhuman rights in China and Vietnam
(New Haven: Vale Center for International and Area Studies, Council on
Southeast Asia Studies, 1990). Eles argumentam que havia uma dualidade
entre virtude e poder na tradição confucionista, mas admitem que o poder
I Para relatos muito úteis, ver Economist, Sept. 10, 1988, p. 43-4, Dec. 24, tornou-se cada vez mais concentrado nos tempos modernos.
1988, p. 61-6 e Aug. 5, 1989, p. 75. 12 Ver Daniel Kelliher, 'The political consequences of China's reforms',
2 Economist, May 6, 1989, p. 34, Nov. 11, 1989, p. 40-1; Times (London), Comparative Politics, 18 Quly 1986), p. 488-90, e Andrew J. Nathan,
Apr. 12, 1990, p. 12; The Observer, May 29, 1990, p. 18. Chinese democracy (New York: Alfred A. Knopf, 1985).
3 Times (London), Apr. 24, 1990, p. 11. 13 Economist, Apr. 23, 1988, p. 37, Nov. 5, 1988, p. 35; New York Times, May
4 Ver secretário James Baker, 'Democracy and American diplomacy' (Ad- 20, 1982, p. A2, July 10, 1988, p. E2; Ian Buruma, 'Singapore', New York
dress, World Affairs Council, Dallas, Texas, Mar. 30, 1990), e as obser- Times Magazine, June 12, 1988, p. 118.
vações de Ronald Reagan na English-speaking Union, London, citado no 14 Lucian W. Pye & Mary W. Pye, Asian power and politics: the cultural dimen-
New York Times, June 14, 1989, p. A6. sions of authority (Cambridge: Harvard University Press, 1985), p. 232-6.
5 Stan Sesser, 'A rich country gone wrong', New Yorker, Oct. 9, 1989, p. 80-4. 15 New York Times, Dec. 15, 1987, p. A14; Gregory Henderson, Korea: the
6 A identificação dos Estados Unidos com a democracia ficou dramatica- politics ofthe vortex (Cambridge: Harvard University Press, 1968), p. 365.
mente evidente nas manifestações contra o regime militar em setembro de 16 Economist, Jan. 27, 1990, p. 31; New York Times, Jan. 23, 1990, p. 1.
1988, em Rangum: "Meio milhão de birmaneses eufóricos desfilaram pelas 17 Goh Chok Tong, citado em New York Times, Aug. 14, 1985, p. A13.
ruas de Rangum, passando diante das abandonadas repartições governa- 18 Lucian W. Pye, 'Asia 1986 - An excepcional year', FreetÚJm at Issue, 94
mentais. O centro da manifestação era a Embaixada Americana. Quando o Qan.-Feb. 1987), p. 15.
19 Ernest Gellner, 'Up from imperialism', The New Republic, May 22, 1989,
embaixador, Burton Levin, passou em seu carro oficial, com as bandeiras
americanas desfraldadas nos paralamas, a multidão aplaudiu; como bem p. 35-6; R. Stephen Humphreys, 'Islam and political values in Saudi
sabiam os birmaneses, os Estados Unidos tinham sido a primeira nação a Arabia, Egypt, and Syria', Middle EastJournal, 33 (Winter 1979), p. 6-7.
20 New York Times, July 1, 1990, p. 5.
condenar os assassinatos brutais sob o governo de Sein Lwin, no início de
21 Para uma breve descrição das muitas formas da política islâmica, ver
agosto. Todos os dias faziam-se discursos em frente da Embaixada. O tema
Mahnaz Ispahani, 'The varieties of Muslim experience', Wilson Quarterly,
dos discursos era a democracia e a América se tornou o símbolo de tudo o
13 (Autumn 1989), p. 63-72.
que os birmaneses queriam ou sentiam falta. Alguns manifestantes car-
22 World Bank, World development report 1990 (New York: Oxford University
regavam a bandeira americana, e, num determinado momento, um grupo
Press, 1990), p. 8-11, 16, 160, e Sub-Saharan Africa: from crisis to sustain-
de estudantes foi para a porta da Embaixada e recitou o Discurso de
able growth (Washington: World Bank, 1990).
Gettysburg, palavra por palavra, em inglês". Stan Sesser, 'A rich country
23 Esses e os subseqüentes dados do PNB per capitae taxas de crescimento de
gone wrong', New Yorker, Oct. 9, 1989, p. 80~1.
PNB e PIB são do World Bank, World development report 1990, p. 178-81.
7 New York Times, Dec. 28, 1989, p. A13; International Herald Tribune,
May 12-13, 1990, p. 6.
8 Times (London), May 27, 1990, p. A21; Time, May 21, 1990, p. 34-5;
Daily Telegraph, Mar. 29, 1990, p. 13; New York Times, Feb. 27, 1990,
p. AIO, Apr. 9, 1990, p. A6.
9 George F. Kennan, The cloud of danger (Boston: Little, Brown, 1977),
p.41-3.
10 Ver William Wallace, The transformation ofWestern Europe (London: Royal
Institute ofInternational Affairs, Pinter, 1990), p. 16-9, e Michael Howard,
'The remaking ofEurope', Survival, 32 (Mar.-Apr. 1990), p. 102-3.
Samuel P. Huntingtonfoi
presidente da Associação
Americana de Ciência Política e
coordenador de planejamento
de segurança do Conselho de
Segurança Nacional dos EUA.
Atualmente, é diretor do
Instituto lohn M. OÜn de
Estudos Estratégicos da
Universidade Harvard.