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INDIGENISMO: NOSSOS POVOS ORIGINÁRIOS, UMA HISTORIOGRAFIA


DOS POVOS DA AMÉRICA

PAULO GABRIEL BATISTA DE MELO

Natal - RN
2018
2

Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha catalográfica feita pelo autor
Conforme Lei do Livro nº. 10.753/2003

M528i
Melo, Paulo Gabriel Batista de Melo. 1968;
Título INDIGENISMO: NOSSOS POVOS
ORIGINÁRIOS, UMA HISTORIOGRAFIA DOS
POVOS DA AMÉRICA. Paulo Gabriel Batista de
Melo; Columbia, SC. USA: Editora: Independently
published, 2020. Idioma: Português.
317 p

ISBN 9798699951666 / ASIN

1. Educação 2. Indigenismo 3. História 4. Povos


da América 5. Índios 6. Educação indígena 7.
Pesquisa 8. Mestrado.
1. Título
CDD 200
CDU 397
3

APRESENTAÇÃO DO LIVRO

Em minhas pesquisas busquei explanar para os leitores uma forma fácil


de compreender a importância da evolução histórica do indigenismo no Brasil e
seu processo histórico, seus problemas e anseios para a construção de uma
sociedade mais justa e igualitária no campo histórico e educacional, focando a
relação entre o processo histórico do indigenismo no Brasil em especial o povo
Xukurú do Ororubá a partir das grandes navegações e a brutal exploração dos
índios pelos navegadores, sua cultura, tradições e acima de tudo um resgate da
dívida histórica que se tem por estes brasileiros analisando sua evolução antes
e depois da demarcação, é inegável que nossa identidade multiétnica é
fortemente enraizada nos nossos povos originários: os índios, uma história que
não foi contada pela visão dos índios.
Reconhecer que fatos dessa natureza ocorreram, e que os índios ainda
são barbarizados (queimados vivos), mortos (por fazendeiros e posseiros) e
sofrem de grande preconceito na sociedade é endossar que temos tamanha
dívida para com eles nas diversas áreas.
Este livro é fruto da convivência com os nossos indígenas começando em
1990 na Serra das Surucucus (Roraima) onde passei sete anos convivendo com
os Yanomamis brasileiros e venezuelanos e outros povos da Amazônia, após
isso fiz a graduação de pedagogia em João Pessoa-PB e o TCC (Trabalho de
conclusão de curso) foi sobre os índios do Povo Xukuru do Ororubá na minha
cidade natal, Pesqueira - PE, em 2014 terminei a pós graduação em
psicopedagia na UCDB (Universidade católica Dom Bosco - MS) também com
educação indígena no mesmo povo indígena, e agora para o TCC da graduação
de história na Universidade estadual Vale do Acaraú - RN, resolvi passar tudo
para o papel em forma de livro esses meus anos de trabalho e pesquisa junto as
comunidades indígenas do Brasil e América do Sul. O mestrado pela USACH
(Universidade de Santiago de Chile) também continuou na mesma linha de
pesquisa, educação indígena no Brasil.
Muito desse trabalho foi feito usando a história oral, mas não se preocupe
o leitor, pois como não são ricas as fontes nesta área a entrevista com pessoas
4

dos povos indígenas, nos remete a um pressuposto aceito na história e em


disciplinas correlatas como nos afirma Menezes (2004) 1.
Afirma ainda a autora que esta é muitas das vezes a única forma de
política que se é possível fazer quando a ideologia dominante é excludente e
marginaliza, não permitindo que grupos dominados tenha voz:

1
MENEZES, Marilda Aparecida. Historia Oral: Uma metodologia para o estudo da memória. In:
Revista vivência: Memória. Natal: EDUFRN, 2004 (P.20 a 36) O que se pretende com a história
oral aproxima-se bastante da perspectiva de Geertz com a proposta de "descrição densa", que
busca não uma interpretação da fala do nativo e sim uma aproximação de seu ponto de vista.
Para Geertz, através do estudo na aldeia, o antropólogo procuraria construir pontes para conciliar
a sua subjetividade e a do informante [...] Os trabalhos baseados em relatos orais tentam
incorporar as vantagens da subjetividade dos documentos. Ao se incorporar as relações de
subjetividade entre o pesquisador e o informante, questiona-se o pressuposto da verdade
histórica. História oral na origem, ela foi associada ao estudo das minorias, dos marginalizados,
atualmente, incorporou no seu campo um debate teórico-metodológico profícuo. O
reconhecimento e adesão por um considerável número de pesquisadores de diferentes
disciplinas demonstra o seu êxito[...] disciplinas como história, sociologia, antropologia,
linguística, literatura e psicologia. Vários pesquisadores chamam atenção para a necessidade de
não perder de vista o compromisso político com os grupos sociais oprimidos e com pouco direito
a voz, o que constituía um dos princípios originais dos pesquisadores, lideranças de movimentos
sociais que utilizaram esta metodologia [...]O registro escrito da história de vidas de grupos
sociais considerados "sem voz" era concebido como uma ferramenta política, sendo o
conhecimento do passado fundamental para a preparação da luta futura e para a compreensão
global de sua realidade.
5

PALAVRAS-CHAVE: História – Indígena – Processo histórico - Xukurú.


O meu país - Flávio José (compositor paraibano)
Tô vendo tudo, tô vendo tudo
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo

Um país que perdeu a identidade


Sepultou o idioma português
E aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à total vulgaridade
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz

Um país que seus índios discrimina


E a ciência e as artes não respeita
Um país que ainda morre de maleita
Por atraso geral da medicina
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de raio-x
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol
Pode ser o país do futebol
Mas não é, com certeza, o meu país.

Um país que dizima a sua flora


Festejando o avanço do deserto
Pois não salva o riacho descoberto
Que no leito precário se estertora
Um país que cantou e hoje chora
Pelo bico do último concriz
Que florestas destrói pela raiz
E a grileiros de fora entrega o chão
Pode ser que ainda seja uma nação
Mas não é com certeza o meu país
6

DEDICATÓRIA

A minha esposa Adriana e a


meus filhos Pablo e Patrick, por ser o
meu alicerce, por sua compreensão,
aos meus pais e irmã, aos mestres
que passaram em minha vida por ter
contribuído com o meu crescimento
nesta pesquisa e por sua paciência e
dedicação.

"A todos os povos indígenas que


merecem ser vistos pelo que têm e
não pelo que não têm, e que legaram
as nações ditas civilizadas, um
inaudito exemplo de civilidade".
Janote Pires Marques - UFPE
7

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, por ter me abençoado, dando-me sabedoria e


oportunidade para realizar esta Pesquisa.

A minha esposa, Adriana Souza, por toda sua compreensão durante


toda minha vida, você sempre foi meu porto seguro, você é a maior bênção de
Deus em minha vida.

Aos meus filhos Pablo e Patrick, meus tesouros, perdão por minha
ausência em tantos anos de pesquisa, trabalho e estudo. Amo vocês.

Aos meus pais Francisco Barboza e Terezinha Batista de Melo, por ter
me dado a vida, por seu esforço incondicional e pelo apoio moral da infância a
idade adulta.

A meu amigo Janote Pires Marques, por seus livros impregnados de


sensibilidade e por seu carinho que me inspiraram a escrever.

Ao povo guerreiro Xukuru do Ororubá, meus ancestrais, objeto desta


pesquisa e minha inspiração pela luta em tantos séculos
8

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................,,,...09
BIOGRAFIA DO AUTOR .......................................................................................22
CAPITULO I - A HISTÓRIA INDÍGENA NA AMÉRICA, NO BRASIL E SEU
DESENVOLVIMENTO DA COLONIZACÃO AOS DIAS ATUAIS
.......................................................................................................................................25
1.1 AS PODEROSAS CIVILIZAÇÕES INDÍGENAS ASTECAS, MAIAS E INCAS....30
1.2 NUESTROS PAISANOS LOS INDIOS................................................................35
1.3 OS INDIOS DO URUGUAI - A TRISTE HISTÓRIA DOS CHARRÚAS.... 44
1.4 ORIGENS NO BRASIL.........................................................................................54
1.5 NOMES IMPORTANTES NO INDIGENISMO NO BRASIL................................78
1.6 DETERMINISMO GEOGRÁFICO.........................................................................97
1.7 POVO MENKRAGNOTI UMA LIÇÃO DE ECOLOGIA..........................................97
1.8 UMA LINDA LENDA DE FOZ DO IGUAÇU...............................................101
1.9 HÁ ÍNDIOS NO RIO GRANDE DO NORTE?............................................105
1.10 OS MAPUCHES DO CHILE E DA ARGENTINA.....................................120
1.11 APRENDENDO COM OS MUSEUS .......................................................123
CAPITULO II - A VIDA DOS XUKURÚS ANTES E APÓS A DEMARCAÇÃO.........151
2.1 A TERRA É O CENTRO DOS CONFLITOS E A FAZENDA É O LOCAL DA
LUTA...........................................................................................................................151
2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS QUE BUSCAM A TERRA COMO MANUTENÇÃO DE
SUA DENTIDADE.......................................................................................................154
CAPITULO III - A VIDA DOS XUKURÚS ANTES E APÓS A DEMARCAÇÃO.......159
3.1 A HISTÓRIA DO CACIQUE CHICÃO.................................................................159
3.2 OS CONFLITOS NA SERRA DO ORORUBÁ COM OS FAZENDEIROS............184
3.3 A VIDA DO POVO XUKURÚ NO GOVERNO MILITAR ....................................190
3.4 AS LEIS DE PROTEÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988....................................194
3.5 COMO PODE SER VISTA A HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO NACIONAL..218
3.6 A VIDA DO POVO APÓS A DEMARCAÇÃO......................................................223

CAPITULO IV – A TESE DE MESTRADO NA USACH.............................................231


CAPÍTULO V - OUTROS POVOS INDÍGENAS EM PERNAMBUCO............299
CAPÍTULO VI - UMA DÍVIDA HISTÓRICA ...........................................................307
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................314
9

INTRODUÇÃO

Em minhas pesquisas para o TCC da graduação em pedagogia em 2002


(UVA - PB), descobri em minhas raízes uma descendência com o povo Xukuru,
fiz a pós graduação na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco - MS) na
mesma linha temática do indigenismo, inclusive é meu projeto de mestrado na
universidade da Bahia, o amor e o carinho que tenho agora com meu povo deixa-
me consciente de que a luta deles e minha não acabará tão cedo, mas ainda
está melhor que os Mapuches do Chile e Argentina, os Guaranis no Paraguai e
outros povos que visitei na última década nos países da América do Sul.

Creio que a herança do brasileiro e sua identidade guerreira remonta a


uma história ainda pouco contada e estudada, haja vista, a pobreza de materiais
disponíveis, poderia estender a toda América do Sul, pois em minhas pesquisas
de campo sobre o indigenismo na Argentina, Chile, Bolívia onde o presidente é
índio, e no Paraguai onde presenciei uma sociedade indígena mais esquecida
do que no Brasil, o que faz recordar Vavy Pacheco 2 (1993).
Atualmente, na sociedade, por conta de uma história aprendida e
ensinada com a visão do conquistador e não do ponto de vista do índio brasileiro,
pensa-se que eles devem viver em suas reservas, privados dos bens culturais e
do conforto que a tecnologia pode oferecer para aumentar a qualidade de vida
das pessoas, muito mais que demarcação de terras eles querem ter acesso a
nossa cultura. Esta questão foi apresentada pelo Instituto Data folha,
encomendado pela revista veja, no qual entre outros pontos mostra a
similaridade de aspiração dos índios e da sociedade brasileira.
Em Pernambuco existem atualmente nove povos indígenas, mas poucas
são as suas conquistas, somente os Xukurú's e os Fulni-ô's tem suas terras
demarcadas, Há ainda os Pankararu, Pipipã, Aticum, Truká, Kambiwá, Kapinawá
e Pankará e situação ainda é pior em vários estados.

2 BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. 2 Ed. Ver. São Paulo: Brasiliense,
1993. "Para compreender a história de cada nação, preocupação geral do século , os
historiadores voltam ao passado, procurando caracterizar o espírito de cada povo; esse espírito
é que explica para eles sua situação e sua maneira de ser".
10

O interessante é notar que escola que deveria ser uma instituição que
educa e mantém a cultura, no caso dos povos originários foi a grande vilã que
dizimou a sua cultura, a ponto de matar até a língua, quando conheci os Xukurus
eles tinham apenas cento e sessenta e cinco palavras em seu vocabulário. É
possível depreender que quanto mais próximos estavam do litoral do Nordeste
mais rápido era o contato com os Europeus e mais rápido era a sua dizimação,
metade dos índios morriam de doenças, pois não tinham imunidade, "os
europeus eram pestilentos"3, cheios de doenças incubadas, as quais já tinham
adquirido imunidade era fatal para os índios. Dessa forma foram dizimados por
doenças e assassinatos vinte milhões de índios na América, é o segundo maior
etnocídio, só perdendo para os cem milhões de negros mortos nas américas
durante a escravidão, não entendo por que tão pouco se fala deste tema, será
que é porque teríamos uma dívida moral para com esses povos.
Na constituição de 19884, foi reconhecido aos índios Em seu Capítulo VIII
e seu Art. 231, os direitos constitucionais para sua melhoria na qualidade de vida,
cultural e educacional, porem, muito falta para sua execução.
Esquecendo-se que não existem culturas inferiores5, os conquistadores
de terras brasileiras praticaram a mais horrenda das atrocidades, que segundo
vários historiadores nominados nesta pesquisa apontam para um objetivo. A
busca do vil metal (ouro e prata).
Sou descendente de Judeus vindos de Portugal, por isso não é
depreciativa a reflexão que pretendo gerar. Mais ou menos seis milhões de
judeus foram mortos nos campos de extermínio da Alemanha nazista, esse fato
repugnou a humanidade que não esqueceu até hoje segundos alguns
historiadores do RN isto se deve pelo fato de que os judeus são em sua grande
maioria empresários e fazem parte d uma elite que está também na mídia ao
passo que índios, negros e outros grupos não, mas e quanto ás outras
mortandades? Porque o mundo não dá a mesma importância? Será que a mea
culpa nos acusa nessas outras e por isso não damos muita importância?

3
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. São Paulo. Companhia das letras,
1998.
4
BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
5 VILA NOVA, Sebastião. Introdução a sociologia. São Paulo: Atlas, 1985.
11

Memorial do holocausto na Alemanha- foto cedida pelo funcionário do governo


brasileiro em missão a Alemanha Sr. R. Bispo

Topografia do terror no memorial do holocausto foto cedida pelo funcionário do


governo brasileiro em missão a Alemanha Sr. R. Bispo
12

Hannah Arendt6 é uma filósofa alemã que em 1933 fugiu da alemanha no


ano que Hittler despatriou todos os judeus, por serem os mais prósperos, ela
conseguiu cidadania americana após o exílio e quando a Mossad, grupo de
inteligência israelense, capturou Adolf Eichmann na Argentina e foi levado a
Israel para ser julgado e condenado a morte. Nesse período Hannah foi
contratada pelo New York Times ao qual publicou cinco artigos "A banalidade do
mal" e todos os judeus ficaram felizes ao saber pois achavam que a escritora e
colunista fosse de imediato condenar Eichmann, e ela condenou o sistema
afirmando que ele era apenas um burocrata que não refletia e não questionava
as suas atribuições, uma vez que ele era o responsável por mandar de trem
todos os judeus, ciganos, homossexuais e todos os que não se enquadrassem
na 'raça ariana', Hannah afirmou ainda se os israelenses o enforcassem
estariam se igualando a Hitler, o que foi o suficiente para despertar a ira dos
israelenses. As faculdades que ela lecionava eram turmas enormes, pois todos
queriam ter o privilégio de ter sido seu aluno ou aluna, sua vida virou filme. Ela
escreveu em sua defesa ao ataque dos seus irmãos israelenses o seguinte:
"Os judeus são seres humanos, logo qualquer crime contra eles é um crime
contra a humanidade".
Mas será que não poderíamos escrever também:
"Os índios são seres humanos, logo qualquer crime contra eles é um crime
contra a humanidade".
Nesse pressuposto poderíamos inserir os negros, os mortos em países
comunistas e totalitaristas e todos aqueles que foram mortos aos milhares por
puro pré-conceito de raça, cor, credo, etnia, também não deveriam ser
beneficiados com um memorial como o dos mortos no holocausto na Alemanha?
Vou descrever aqui os números dessas mortes em milhões, embora as
epidemias não tenham um culpado, como é o caso da peste negra na Europa, a
peste bubônica na Índia e China, etc.
➢ 100 milhões - mortos pelo comunismo no mundo
➢ 100 milhões - negros mortos no período de escravidão nas Américas

6 PERISSINOTO, Renato M. Hannah Arendt, poder e a crítica da "tradição". Lua Nova, 2004. nº 61,
p.115-138.
13

➢ 20 milhões7 - índios mortos nas américas no processo de colonização


➢ 20 milhões - peste negra na Europa
➢ 6 milhões - Judeus mortos no holocausto da Alemanha nazista.
Várias literaturas mostram as atrocidades cometidas contra os índios, de
uma crueldade maior que a Alemanha nazista, o que faz Hitler parecer um santo,
como nos mostra Oliveira8 em 'História do Brasil'
Hoje 27 de julho de 2015 ás 12:18 horário de Natal - RN, assistindo o
jornal hoje vejo a luta dos fazendeiros e índios, na região de Amambai, vivi nove
anos e muitas vezes visitei estes povos, por não agir o governo eles
determinaram um suicídio coletivo, já morreram mais de 900 índios sem que a
FUNAI, governo ou quem quer que seja resolva esta situação, nos nove anos vi
o completo abandono, apenas a igreja católica através do CIMI, se faz presente,
infelizmente só aparece alguém depois de mortes ocorridas e nesse caso nem
isso. Eles também são nuestros paisanos los índios como nos afirma o
antropólogo argentino Sarassola, são nossos irmãos e brasileiros.
A escola ainda é o caminho das mudanças quando levada a sério e lhe é
dada a devida prioridade, como apontam as Diretrizes Curriculares nacionais 9:

A RELEVÂNCIA DO TEMA
Podemos dividir a história do Brasil em Período Colonial,
Período Imperial e Período Republicano, mas ainda podemos pormenorizar
estes períodos e analisar seu currículo em todos esses períodos. Hoje
começamos a desvendar a pré história brasileira, comprei meus primeiros livros,
de pesquisadores alemães e alguns brasileiros, muito falta nessa área.

7
Em entrevista ao professor da UFRN - Thiago Ruzemberg, este número pode chegar a vinte
milhões segundo novas pesquisas arqueológicas realizadas em cidades e territórios indígenas
na Amazônia.
8 OLIVEIRA, Dimas da Cruz. História do Brasil. 1500-1822, os primeiros séculos
do período colonial. São Paulo: Discovery publicações, 2000. " Massacres e
dizimação causada por doenças, sem esquecer o extermínio sistemático de tribos inteiras, como
paresi, paiaguá, e guaicurus [...] no lucrativo escambo do pau-brasil os índios foram abertamente
escravizados pelos colonizadores [...] através dos séculos a população indígena foi dizimada por
guerras de extermínio"
9
________ MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do
Magistério da Educação Básica. PARECER CNE/CP Nº:2/2015.
14

Por ter sido aeronavegante da Força Aérea por trinta anos, morei em
diversos estados do Brasil e em todos eles fiz minhas pesquisas, também em
muitos países da América do Sul (quase todos estive com exceção das Guianas
e do Equador), por isso pude aprofundar em muito as minhas pesquisas que na
maioria das vezes era de convivências com os indígenas como foi o caso dos
sete anos com os Yanomamis (Rr), do 15 anos com os Xukuru's (Pe), os dez
anos com os Terenas (Ms) e por ai começam as minhas pesquisas sobre índio
na América, quero te convidar a fazer esta viagem cultural fascinante pelos
povos originários da nossa Sudamérica.
Em 18 de novembro de 2015 fui com minha esposa a um seminário promovida
pelo SEBRAE10 na cidade de Natal no qual houve uma palestra da na qual se
intitulava como educação empreendedora e das quais uma palestrante nos
chamou a atenção pelo brilhantismo como conduziu a história da educação no
Brasil A Sra. Vânia Rego11 ao afirmar que a educação em nosso país deve ser
diversa, pois 'ele não é uno é diverso e que a nossa diversidade é a nossa
riqueza e não a nossa fraqueza'.
De 22 de abril de 1500 - Descobrimento oficial por Pedro Álvares Cabral
até 1549, período pré-colonial, nada houve no Brasil com relação a educação,
no Brasil colônia de 1549 - 1822 nada fora feito pela educação, apenas eventos
isolados de interesse de alguns poucos que mais queria impor o português para
catequizar os índios e escravizá-los do que para educá-los e nisso já se vão
trezentos e vinte e dois anos sem nada de educação. Em 1808 A família real
com D. João veio para o Brasil fugindo das guerras napoleônicas, evento que

10
Serviço Brasileiro de Apoio ás Micro e Pequenas Empresas
11
Vânia Rego é Graduada em Pedagogia, mestre em Gestão e Políticas Públicas Educacionais,
pela Universidade de Brasília. É professora da Rede Pública e atuou na Educação Superior por
mais de uma década. Na Secretaria de Estado de Educação, já exerceu, nos últimos 20 anos,
as funções de professora do Ensino Fundamental, coordenadora pedagógica, vice-diretora e
diretora eleita – época em que a escola recebeu, da UNESCO, CONSED e UNDIME, o título de
“Referência Nacional em Gestão Escolar”. Foi Articuladora do Centro de Referência em
Alfabetização de Ceilândia. Na década de 1980, a professora foi sócia fundadora do CEPAFRE
– Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia. Coordenou a elaboração da Proposta Político
Pedagógica do Projeto SESI – Por um Brasil Alfabetizado; Coordenou a elaboração de livro
sobre EJA do DR-CE do SESI, em parceria com a Universidade Federal do Ceará. É uma das
autoras do livro Políticas Públicas e Gestão da Educação Básica-O Distrito Federal em Foco,
publicado pelo Núcleo de Pesquisas em Políticas e Gestão da Educação UnB/FE/PPGE. Em
1990, a professora foi aprovada em concurso da CEB-Cia Energética de Brasília e foi demitida
pelo, então Diretor de Distribuição, José Roberto Arruda, e readmitida pela justiça trabalhista seis
anos depois. Hoje, ocupa o cargo de Subsecretária, como Chefe da UAG da SEEDF. Acesso em
24 de novembro de 2015 http://donnysilva.blog.br/vania-rego-educadora-exemplar.
15

vieram quatorze mil nas caravelas e somente eles tinham acesso a educação,
os índios ainda passaram amargamente por algum processo de catequese, mas
os negros africanos eram considerados sem alma, por isso nem sequer eram
catequizados, eram simplesmente um objeto de posse, do qual J. Paulo II pediu
perdão pela Igreja ter endossado e permitido tamanha brutalidade, nós não
somos descendentes de escravos, somos descendentes de africanos porque
escravatura não é condição de ser humano é consequência dos desvios
humanos da moral. Em 1822 Começa o período do Brasil império e em 15 de
novembro de 1889 ocorre a Proclamação da República pelo Marechal Deodoro
da Fonseca que toma o poder na madrugada juntamente com os republicanos
ao ocuparem o quartel general do Rio de Janeiro. De 1889 - 1930 temos o
período da República Velha no qual não havia interesse que o povo fosse
educado e assim houve poucos avanços na área educacional e assim já se
passavam quatrocentos e trinta anos sem nada de educação no Brasil. De 1930
- 1945 ocorre a era Vargas, sendo que de 1930 a 1937 é o período da República
Nova e em 1937 o Estado Novo. Em 1930 oitenta por cento da população
brasileira era analfabeta e na República Velha só votava doze por cento que
eram os homens alfabetizados, 'educação é para todos se é para poucos é
privilégio. O período de 1930 a 1937 é primeiro espaço em quatrocentos anos
onde é aberto espaço para educação com o 'Manifesto dos Pioneiros' de Anísio
Teixeira, que me emociona sempre que leio, diz Vânia Rego, em 1934 pela
primeira vez o Estado assume a educação pública. Nesse ponto da palestra ele
fez algo que me marcou e me fez refletir, pois havia mais ou menos seiscentas
pessoas no auditório e ela pediu para levantar a mão quem dos presentes tinha
pais que haviam feito o curso superior, somente dez pessoas levantaram as
mãos, em seguida ela pediu que levantasse a mão que tinha curso superior e
quase todos levantaram as mãos, ela nos falava que não era por incompetência
de nossos pais, mas simplesmente por falta de oportunidade que lhes fora
negada, depois de muita luta, em especial de Nísia Floresta é que as mulheres
puderam votar12.

12
Campos, Elza Maria. A luta pela participação política da mulher. Com acesso em 24 de
novembro de 2015 em http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/a-luta-pela-participacao-
politica-da-mulher-ci4jvqyjuiinqdey45nx005jk "No Brasil de fins do século 19, a luta das primeiras
organizações de mulheres era pela educação e pelo voto. Uma das vozes destacadas era a
abolicionista feminista Nísia Floresta, no Rio Grande do Norte, onde também elegeu-se a
16

O reflexo disso é que o Rio Grande do Norte é hoje o estado com a maior
representatividade feminina na política nacional, a luta de poucos é a melhoria
de muitos. O estado Novo de 1937 a 1945 foi implantado a educação somente
nos centros urbanos. 1945 - 1964 ocorre a era populista com vinte e seis anos
de democracia com a Lei Magna da educação 4024/1961 de Vicente Martins.
Em 13 de março de 1964 João Goulart começa a reforma agrária e um projeto
de educação de qualidade, mas em primeiro de abril 1964 ocorre o Golpe Militar,
Paulo Freire é o primeiro a ser preso e fichado nesse regime por ser considerado
uma grande ameaça a segurança nacional. Em Brasília ocorre a segunda maior
greve de professores do país, pois queríamos melhorias no 'Currículo escolar',
visto que ele materializa a desigualdade.
No final de 1979 e início de 1980 chega o primeiro avião com os exilados
políticos, e em 1980 ocorreu as 'diretas já', com a eleição de Tancredo Neves e
em 1988 a Constituinte que começava a nortes a educação de uma forma mais
justa e igualitária com os artigos de 205 a 214 e a Lei 9394/96 a LDB - Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional.
A Sra. Vânia Rego fecha sua palestra com uma frase impactante que nos
faz refletir a corrupção em nosso país. 'Quem defende privilégios, nega direitos'.
Em 19 de outubro de 2015 realizei a prova do mestrado em uma
Universidade federal do Nordeste cujo tema foi o segundo eixo temático do Plano
Nacional de Educação ''Diversidade cultural - indígena'', imaginei que como
pesquisava há vinte anos a questão indígena no Brasil, em especial no estado
de Pernambuco, eu conseguiria expor as idéias que eram fruto de muita
pesquisa, mas as universidades federais do Brasil não aceitam alunos em pós
graduação que tenham sido alunos seus, é uma muralha intransponível e que
apesar de ser pública este índio desaldeado que vos escreve nem mesmo pode
pegar um livro emprestado na biblioteca das universidades federais, criadas e
mantidas pelo erário público, pois na verdade foram feitas para manter as elites
em seu poder, sendo o mais excludente instrumento educacional do Brasil, o
plano nacional de educação tem como meta até 2024 ter 65 mil mestres, imagino
que isso só acontecerá se a iniciativa privada trabalhar e investir duramente, pois
em educação as universidades federais oferecem apenas quatro vagas, estas

primeira mulher, em 1928 – Alzira Soriano, prefeita de Lajes, que não pôde terminar o mandato
porque o Senado anulou os votos das mulheres"
17

não são para índios e nem para alunos que não fizeram seus cursos lá, dessa
forma o governo continua investindo milhões nas universidades federais para a
elite burguesa que é quem estuda nos seus programas de pós graduação, na
mesma semana fiz prova e entrevista para mestrado na USACH - Universidade
de Santiago do Chile e passei, passei também no mestrado particular do
Salesiano, mas na federal jamais passaria por não ter estudado lá, uma prova
que tinha que discursar sobre indígenas, este índio na federal não foi aprovado,
que mais precisa afirmar a não ser que no Brasil quem faz o investimento em
educação é o próprio povo, que tira dinheiro de seu pão para pagar a educação
como fiz toda a minha vida, ficam com nossos impostos e dão caviar para os
ricos nas federais deste país, quis passar nos outros mestrados apenas para
provar que eu não tinha um currículo deficiente, mas que a federal tinha um
currículo de seleção excludente. É um mundo de arrogância e prepotência de
homens e mulheres que se consideram os deuses do olimpo, fui conversar na
mesma semana com um pós graduado que dá aula na federal que prestei
concurso, e perguntei sinceramente qual a forma de ingresso e obtive como
resposta 'os alunos daqui da federal ainda na graduação, observam os
professores que orientam no mestrado e doutorado e começam a fazer projetos,
vão a seminários e congressos que o professor está presente, para serem
notados, aí se apresentam para o devido professor para fazer pesquisas em seus
projetos, para que o mesmo lhe permita ser um orientando seu', perguntei então
o que era feito com as pessoas de boa fé que pagam cento e cinquenta reais -
valor de 2015 - fazem a prova com a ilusão de que serão admitidas, não seria
desonesto, ao que ele me respondeu 'pense bem se um orientador vai
desperdiçar seu tempo com um estranho que ele não sabe se levará o mestrado
até o final. Então suponho que os milhares de alunos que desistem de seus
cursos de graduação, não devessem fazer o ENEM e nem entrar para
universidade se não terminarem seus cursos e que agora os professores é que
irão escolher seus alunos, não precisa mais gastar dinheiro com provas, nem o
governo nem os alunos.
Tive ainda a oportunidade de conversar com funcionários e orientandos
das federais e os mesmos confirmaram que esta era de verdade a forma de
ingresso, embora eles não concordassem com esta prática.
18

Duas semanas depois na prova do ENEM - Exame nacional do ensino


médio, havia quatro questões que abordavam a o tema indigenismo, mostrando
assim a relevância da temática em âmbito nacional, alem disso ele ocupa o
segundo eixo temático do Plano Nacional de Educação, descrito mais a frente.
No mesmo ano foram realizadas também as olimpíadas mundiais dos
povos indígenas na cidade de Palmas, capital do Tocatins com povos indígenas
do mundo todo.
Para um pesquisador é de suma importância a documentação dos
trabalhos, em todas as graduações, especializações, mestrado e doutorado
sempre documentei minhas pesquisas de campo, uma vez que elas nos darão
os dados a serem apresentados no trabalho final, ela requer minúncia do
pesquisador em todas as suas etapas e a autorização do conselho de ética,
juntamente com as declarações para entrar na casa dos outros é deveras
importante.

OFÍCIO PARA PESQUISA DE CAMPO NA PÓS GRADUAÇÃO


UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO - MS
19

OFÍCIO PARA PESQUISA DE CAMPO NA GRADUAÇÃO DE PEDAGOGIA


UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - PB
20

OFÍCIO PARA PESQUISA DE CAMPO NO MESTRADO


UNIVERSIDAD DE SANTIADO DE CHILE
21

BIOGRAFIA
22

Nome: Paulo Gabriel Batista de Melo


Dados Biográficos

Data de Nascimento: 03/ 07/ 1968


Local de Nascimento: Pesqueira- PE
Endereço:

Parnamirim - RN
Cursos de Pós Graduações, Graduações e técnicos :

Doutorando em Educação pela EBWM

Mestre em Educação pela Universidade de Santiago de Chile 2018


Pós Graduação em Psicopedagogia - Universidade Católica de Campo Grande - MS
Licenciatura Plena em Pedagogia - Universidade Estadual do Vale do Acaraú - PB
Licenciatura Plena em Teologia - Faculdade de Teologia e Ciencias Sociais do Recife
Teologia Pastoral - EDAP - MS
Graduando em História Universidade Estadual do Vale do Acaraú (4º período)
Curso de Direito Canonico - Mater Ecclesiae - RJ

Confêrencias, seminários e congressos


Confêrencia de Psicologia Jurídica - Daltier RN
Confêrencia Teológica Dr Pereira - 60h
Seminário Pedagógico Dr Jean Pierre - 60h
Seminário Pedagógico Dr Dolle - 8h
Seminário Pedagógico Dr PHD Constantin Xipas - 15h
Seminário de diagnóstico de dificuldade de aprendizagem - CASE-RN
Seminário de educação indígena e afrodescendente - IFRN

CURSOS TÉCNICOS NA AVIAÇÃO

1. Mecânica de aeronaves- BMN (EEAR) 1989


2. Mecânico de vôo - BAV - (EEAER) 1990
3. Busca e salvamento (2º/10º Gav) 1990
4. MERGULHO Autônomo ( GBS – AM ) BO-AM 1992
5. Mecânicade helicóptero CH-55 (7º/8º Gav) 1992
6. Mecânico de ANV C-105 1º/9º GAV 2010
7. Mecânico de ANV C-95 BACG 2007
8. Mecânico de HELICÓPTERO UH-50 (2º/8º Gav) BARF 1996
23

9. Mecânico de HELICÓPTERO UH-1H (2º/10º Gav) BACG 1990


10. Busca Eletrônica ( PROTEÇÃO AO VÔO – RJ) DEPV-RJ 1990
11. Operações na selva (Centro de instrução de Guerra
na selva) CIGS 1993
12. Marinheiro regional de convés (Marinha do Brasil)
13. Assitente de administração MB- Cap RF 2004
14. Processamento de dados e programação EECR 1985
15. Night Vision Google 5º/8º Gav 2011
16. Intrutor de Vôo FAB 2008
FAB 2004
PRIMEIROS SOCORROS
2005
Emergências pediátricas e afogamento (Jornada Científica – HARF 2005
HARF)
Salvamento e resgate PARASAR 1990
Emergências aeroportuárias– CVE INFRAERO 1995
Primeiros socorros ( NATIONAL SAFETY COUNCIL ) RECIFE 1995
APH e primeiros socorros EB 2009
Primeiros socorros e RCP 2º/8º GAV 2005
CCSPHM– Curso de Capacitação Pré-Hospitalar BO-PE 2004

ESTÁGIOS
Operações e vida na selva (CENTRO DE EB) CIGS 1992
Mecânica de ANV T-27 AFA 1989
Extensão e Mecânica -BMA EEAR 1995
Padronização de monitores (2°/8° Gav) 1997
Medicina Aeroespacial (BARF) BARF 1998
Segurança de vôo (SERAC II) SERAC II 1999
Gestores de manutenção (SERAC II) SERAC II 2000
Eletrônica de combate 2º/8º GAV BARF 2002
Sobrevivência no gelo (QUINTERO-CHILE) CHILE 2012

Cargos Exercidos
Coordenador de curso Aeroclube Recife 1996/06
Membro da Equipe de Resgate 7º/8º GAV - FAB 1990/96
Membro da Equipe de Resgate 2º/8º GAV - FAB 96/2006
Membro da Equipe de Resgate 2°/10° GAV - FAB 2006/13
Coordenador de curso AFAER - Recife 1996/06
Professor da Faculdade Helena Guerra Campo Grande 2005
MS
Professor do Curso de Teologia EDAP Campo Grande
MS 2004
Operações de grande vulto que participou
Acidente do avião da GOL (SERRA DO CACHIMBO- AM)
Diversos acidentes aeronáuticos, Náuticos e terrestres de 1989 a 2014
24

Experiência de Vôo - Horas voadas - 1.200h


PALESTRAS MINISTRADAS 7º/8º GAV 1998
Sobrevivência na selva e no mar
Sobrevivência na selva e no mar 1º/4º GAV 1998
Sobrevivência na selva e no mar 1º/6º GAV 2003
Sobrevivência na selva e no mar 3º/3º GAV 2009
Sobrevivência na selva/ mar/gelo/deserto PAMA-RF 2005
Sobrevivência na selva e no mar BINFAE-BACG 2007
Sobrevivência na selva e no mar BARF 2007
Sobrevivência na selva e no mar VARIG LINHAS AÉREAS
Sobrevivência na selva e no mar ATA LNHAS AÉREAS 2011
Sobrevivência na selva e no mar AEROCLUBE PERNAMBUCO 2001-06
Sobrevivência na selva e no mar AFAER 2001-06
Curso de resgate em combate GITE 2011
Sobrevivência na selva e no mar 2º/3º GAV 2011
Sobrevivência na selva/ mar/gelo/deserto WESTON TÁXI AÉREO
Sobrevivência em combate e evasão AFA Academia da Força Aérea 2013
Transposição de obstáculos AFA Academia da Força Aérea 2013

Aeronaves Voadas: ASA ROTATIVA


CH-34, H-1H,UH-50, CH-55

Aeronaves Voadas:ASA FIXA


SC-95B e SC-105.
Qualificação Operacional:
Observador de Busca e Salvamento na aeronave H-1H, SC-95 e SC 105
Tripulante SAR operacional
Instrutor de NVG (night vision Google)
Instrutor do Curso de Sobrevivência em Combate FAB
Instrutor do Curso de Pilotos – ANAC
Instrutor do Curso de Mecânicos de avião – ANAC
Instrutor do Curso de Comissários de Bordo – ANAC
Instrutor do de Observador SAR
Total de Horas Voadas: possui mais de 1.200 horas de vôo, sendo 300 horas na
Aviação de Busca e Salvamento.

10 - Informações Complementares
Fundador da AFAER (Academia de Formação de Aeronautas - Recife - PE)
E-mail :gabrielmelopaulo@gmail.com
25

CAPITULO I
A PRÉ-HISTÓRIA BRASILEIRA E NA SUDAMÉRICA
Pouco tenho visto em livros escritos sobre a pré-história brasileira em nossas
livrarias, e nos países da América do Sul também, poucos sítios arqueológicos
temos e pouco investimento tem sido destinado a eles aqui no Brasil, já Israel
que é do tamanho de Alagoas tem diversos sítios arqueológicos, com pesados
investimentos, mas com tanta corrupção no Brasil não sobra nada pra pesquisa.
O livro é caro, as bibliotecas das Universidades federais só fazem empréstimos
para seus alunos que são 20% da população universitária brasileira, diversas
cidades brasileiras não tem biblioteca pública, aí me pergunto como se tornar um
bom leitor com tamanha resistência e dificuldade, só me resta concluir que a elite
que está no poder, seja ela quem quer que seja, ao chegar ao poder não pensa
no país e muito menos no povo.
Encontrei um bom livro sobre nossa pré-história de um escritor alemão chamado
por Ludwig Schwennhagem13.
Em suas pesquisas, ainda com muito por andar no Brasil, afirma que a nossa
origem é fenícia e apresenta mais de duas mil inscrições fenícias em petroglifos
espalhadas por toda América do sul, como prova inconteste que em 1.100 a.C.
eles estavam por aqui, e que muitas palavras dos Tupis são de origem fenícia,
já o sítio arqueológico que encontrou Luzia fez a datação em 12 mil anos,e ela
passou a ser um dos fósseis mais antigos da América 14, há ainda muitos
pesquisadores que afirmam em 15 mil anos a chegada do primeiro humano na
América.
Ainda podemos citar uma boa obra sobre a pré-história do Uruguai no seu
capítulo dois do escritor Kleim (2012)15 e a incrivel obra de Sarassola (2013)16

13 Ludwig Schwennhagem em sua obra Antiga História do Brasil: de 1100 a.C. a 1500 d.C. Limeira-SP:
Editora do Conhecimento, 2004. R$ 45,00.
14 Luzia, o fóssil mais antigo da América (encontrado em 1974), o pesquisador Walter Neves percebeu que

a ossada era bem diferente da dos índios brasileiros atuais. Assim, os cientistas começaram a desconfiar
que, além da primeira, uma segunda onda migratória, com traços mais asiáticos, poderia ter ocorrido há
cerca de 12 mil anos. disponível em https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2017/03/cranio-
encontrado-em-minas-pode-mudar-historia-da-migracao-das-americas.html
15 Kleim, Fernando. Nuestro pasado indígena. Montevideo: Zonalibro, 2012. $ 320 (pesos uruguaios).

obs.obra em espanhol

16Sarasola, Carlos Martínez. Nuestros paisanos los indios. Buenos Aires: Del nuevo extremo. 2013. $ 230
(pesos argentinos). A obra de Sarasola é riquíssima porque ele escreveu três livros e por último juntou
todos eles em um único exemplar, um legado para a historiografia do indigenismo na Sudamérica.
obs.obra em espanhol
26

descrita mais a frente, este conjunto de autores fazem uma perfeita harmonia
dos povos originários pré-históricos da Sudamérica.
Afirma Kleim (2013) sobre a paisagem pré-histórica que "do ponto de vista
geomorfológico o cenário que ocupa o território uruguaio era perfeitamente
habitável ao ser humano desde 13.000 antes do presente(AP)" Afirma ainda que
"Os grupos humanos que chegaram a la Cuenca del plata entre oa anos de
13.000 e 10.00 (AP) estavam adaptados ou tiveram que adaptar-se a um
ambiente de estepe".
Afirma ainda Kleim (2013) que os arqueólogos tem admitido uma ocupação de
seres humanos na região do Ururguai com data não menor que 13.000 anos
(AP), afirmado ainda que eles conviveram com a megafauna, mamíferos de mais
de toneladas.
Essa população conviveu durante milênios com uma fauna hoje
extinta, com animais de grandes dimensões cujo peso superava
a tonelada. Os níveis do mar variavam de forma extrema com
distanciamentos deste com relação a costa, em alguns casos,
ou em aumentos de seu nível até cobrir amplas zonas do atual
território uruguaio, em outras.

Ele afirma também que não foram as condições climáticas, mas o consumo
humano que extinguiu a megafauna, e ao relatar os instrumentos dos
povoadores naquelas terras diz que a indústria lítica evoluiu de tosca para polida
até surgir a cerâmica que se tornou cada vez mais complexa. "A caça e a pesca 17
e seu vínculo com o nomadismo" e até sedentarismo fez surgir o cacicado como
chefes políticos, o shamam o sacerdote e outras hierarquias e a medida que a
população aumentou sugiu a horticultura medicinal e alimentar com o cultivo de
milho já domesticado pelo homem, abóbora e feijão, porém não se considera
agricultura, Yuval N. Hahari doutor em História por Oxford, afirma em sua obra
Sapiens18 que houve três importantes revoluções a saber: a revolução cognitiva

17
Os estudiosos dos hábitos alimentares dos povos originários acreditam que a pesca era usada
como fonte suplementar de alimentação mas nunca sua fonte principal, visto que não ddá para
alimentar cem pessoas com pesca artesanal, motivo pelo qual eles acreditam que os grupos não
tinham mais de cem pessoas nesse período.
18Hahari, yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. 18ª Ed. Porto Alegre: L&PM, 2016.
Pág. 11. Como assíduo leitor, creio que a maneira como escreveu Sapiens, de uma forma científica e
engraçada, tornou a obra mais prazerosa do que muitas obras que por vezes são enfadonhas, muito
simpatizei com o estilo de escrita deste autor, para uma humanidade tão pouco leitora.
27

há 70 mil anos, a agrícola há 12 mil anos e a científica há 500 anos no nosso


palneta Terra formado há cerca de 3,8 bilhões de anos, o interessante é que
segundo o autor "mesmo hoje, com toda a nossa tecnologia avançada, mais de
90% das calorias que alimentam a humanidade vêm do punhado de plantas que
nossos ancestrais domesticaram entre 9.500 e 3.500 a.C. - trigo, arroz, milho,
batata, painço e cevada", por isso devemos agradecer aos nossos ancestrais
90% do que nos alimenta hoje, "o trigo se tornou uma das plantas mais prósperas
na história do planeta" afirma Hahari. O termo domesticação de plantas pode
parecer algo estranho, pois estamos acostumados a ouvir apenas a
domesticação de animais, mas houve muito mais a domesticação de plantas em
escalas muito maiores do que a de animais (ver as obras de Darcy Ribeiro na
ormação do povo brasileiro). Kleim (2013) também se utiliza da expressão
domesticação de plantas em sua obra "a pequena escala de milho, feijão,
abóbora e tubérculos, possivelmente domesticados".
Kleim (2013) nos faz um alerta sobre a pseudo impressão que diz ter o europeu
com os índios Charrúas, Chanes, Guaríes, Timboes, Chaná que eram
considerados primitivos, de baixo valor para a sociedade que se dizia civilizada:
"não esqueçamos que estes discursos formam partes de 'estratégias' para
construir uma nação excluindo a participação de grupos étnicos locais ou
qualquer que não se adaptassem a cultura ocidental".
Para Kleim (2013) apud Professor Mario Consens, aponta a melhor divisão
histórica do indigenismo uruguaio:
Período Inicial (13.000 a 10.500 a. C.) - ocorreu a entrada dos
distintos grupos humanos no Ururguai. A característica deste
período é a utilização de projéteis líticos chamados de 'rabo de
peixe'.
Período Arcaico (10.500 a 2.200 a. C.) - verifica-se um aumento
constante a nível demográfico e uma maior variedade da
indústria lítica (facas, ferfuradores e punções).
Arcaico cedo (10.500 a 6.000 a. C.) - ocorrem modificações na
fauna e na flora.
Arcaico médio (6.000 a 4.200 a. C.) - abundante variedade de
fauna e flora. A tecnologia lítica se abre definitivamente ao polido
com boleadoras, rompecabeças, pedras gravadas e zoolitos. Há
28

uma diversificação dos lugaresde ocupação, espaçoes de


trabalho, dormitório.
Arcaico tardio (3.200 a 2.200 a. C.) - período cerâmico e as
feramentas se reduzem de tamanho.
Período Formativo (2.200 a 350 a. C.) - observa-se maior
estratificação e diferenciação no interior das sociedades
indígenas com diferentes tipos de chefias, grupos etários.
Passam a vicer em aldeias e grupos domésticos com
comunidades de caçadores, pescadores e coletores.
Formativo cedo (2.200 a 1.200 a. C.) - ocorre as separações de
funções dos chamãs, caciques e dos conselhos dos anciãos.
Formativo médio (1.200 a 350 a. C.) - aldeamento permanente.
Ocorre o encontro inicial do europeu com as populações
indígenas, sua aculturação e seu desaparecimento final.

Ainda segundo o mesmo autor aparecem em um sítio encomendado pela unesco


uma 'megafauna com a presença de pontas de flecha e uma possível associação
entre elas'.
Os los cerritos de indios ou como conhecemos aqui no Brasil mais comumente
por sambaquis ou outros termos como cernambis, sarnambis, concheiras,
concheiros, ostreiras, samauquis, berbigueiras, caieiras, caleiras, minas de
cernambis, minas, bancos, casqueiros que são como descreve Kleim (2013):
"Trata-se de pequenas elevações do terreno de forma circular, oval, ou elíptica,
compostas de terra e de restos de atividades humanas, tanto sepulcral como
cerimonial".
De acordo com investigações brasileiras e uruguaias chegou-se a conclusão que
os sambaquis eram sítios residenciais de pesca lacustre, como aparecem em
Florianópolis em muitos lugares bem como no Uruguai e na Argentina.
Os sambaquis muito nos mostram a respeito de povos originários, 'os mortos
falam', expressão muito usada por arqueólogos como Sarassola da Argentina ao
descrever que quando encontrava restos mortais analisava com detalhes cada
objeto encontrado com o morto, e isso demonstrava a crenças daqueles que o
sepultaram, como em muitas culturas os pertences do morto o acompanhavam
e outros atos mais, como por exemplo é possível descobrir graças aos aparelhos
tecnológicos atuais segundo nos mostra Kleim (2013) "havia sido cultivadas
29

plantas como feijão e abóbora, milho; estes restos de vegetais podem dar uma
datação que se extende desde 4.000 anos a.C. até a chegada dos europeus".
Muitos instrumentos feitos com pontas de osso, cerâmicas simples e elaboradas
e é comum a prática de se enterrar os mortos.
Kleim (2013) como diversos autores faz uma importante consideração a respeito
dos enterros e a forma como revelam diversos modos de vida de sociedades
antigas.
Os restos funerários mostram trato diferenciado para uns poucos
indivíduos, o qual sugere complexidade social com uma
organização mais sofisticada da mão de obra comum, ao que o
Professor López Mazz propõe um modelo para os construtores
de sambaquis como resultado de uma sociedade com uma
organização não igualitária.

Fiz muitas pesquisas sobre indigenismo e muito absorvi nas visitas aos museus
e nos estudos de seus acervos, pois são fontes riquíssimas e um verdadeiro
quebra-cabeças da história, muito divertido, é uma descoberta a cada museu,
pena que nossos jovens e muitos adultos acham essa prática enfadonha e sem
graça e por isso deixam de aprender uma história viva e disponível a um custo
baixíssimo, há vinte anos estudo e visitos os museus e posso afirmar que muito
tenho aprendido com estas visitas, agora sempre que pouso em um país já deixo
na agenda a visita aos museus, sou capaz de cancelar compromissos só para ir
aos museus.

Na pré-história uruguaia muitos zoolitos e antropolitos forma encontrados.


Zoolitos são peças esculpidas que representam figuras de animais e os
antropolitos são aquelas que representam figuras humanas que podem ser
datadas d 4.500 antes de Cristo.

Como era vistos os negros e os índios pelo colonizador?

O europeu não via negros e índios como seres humanos, mas como
animais, os índios depois de batizados (no catecumenato) ainda se salvavam
pois se transformavam em criaturas de Deus, os negros não tinham essa chance,
achavam eles que nem mesmo alguma organização social era possível aos
selvagens, hoje sabemos da complexa organização de astecas, maias e incas
30

com calendários que nos assustam ainda hoje com suas previsões, muitíssimos
bem organizados com poderes e reinos definidos, emblemáticos em suas
campanhas militares e na ritualística de seus sacrifícios, tal era o
desconhecimento de no Século XVI afirmava Sir Henry Maine segundo Ribeiro
(1998)19:

Seria impossível selvagens que nunca tiveram contato social


dominarem a tal ponto a linguagem, conhecerem uma noção
jurídica tão abstrata quanto a de contrato, para que pudessem
se reunir nas clareiras das florestas e azerem um pacto social.
Na verdade, o contrato só é possível quando há noções que
nascem de uma longa experiência da vida em sociedade.

Por esse motivo julgo importante que o leitor conheça um pouco as


fantásticas civilizações indígenas de ponta da América e sua grande riqueza
cultural, não fossem eles um dos produtos mais consumidos no mundo seriam
ainda hoje desconhecidos, e ainda principal fonte alimentar em muitos países
europeus, a batata inglesa, que de inglesa não tem nada, é um produto
genuinamente indígena dos povos do Peru.

1.1 AS PODEROSAS CIVILIZAÇÕES INDÍGENAS ASTECAS, MAIAS E INCAS

Não fosse a brutal invasão dos europeus, esses povos seriam hoje muito
ricos em termos de cultura. Eles foram castrados dos seus direitos de existir e
continuar desenvolvendo suas leis, seus comércios e tudo aquilo que poderia
ajudá-los em sua busca de crescimento, eles praticamente foram dizimados e
impedidos pelo uso da força bélica, somente nisso superiores tecnologicamente,
em uma luta desigual de canhões e rifles contra arcos e flechas.
O motivo foi a busca pelo vil metal como em todas as terras da América,
conforme cita Grespan (2003)20:
O fenômeno persistente da inflação durante o século XVI, associado
ao afluxo de metais preciosos da América recém conquistada levou

19Ribeiro, Renato Janine. Hobbes: o medo e a esperança. São Paulo: Nova Cultural, coleção 'Os
pensadores1', 1988.
20
GRESPAN, Jorge. Revolução francesa e iluminismo. São Paulo: Contexto, 2003, p 22.
31

muitas casas aristocráticas de tradição medieval á falência, obrigando-


as a vender seus domínios á baixa nobreza.

Eram povos com muita sabedoria e conhecimento de medicina,


astronomia, matemática, agricultura e demais ciências e até mesmo a
domesticação de plantas como a batata (dos povos Incas) que salvou a Europa
da fome por muito tempo a ainda é um dos produtos mais consumidos em todo
mundo, graças ao conhecimento desses tubérculos é que a população européia
aumentara, e a grande fome da Irlanda e Inglaterra deveu-se unicamente a uma
praga nas plantações levando milhares a morte.

ASTECAS
Originários do norte do México, começaram a crescer no século XII quando os
outros povos ameríndios estavam em plena decadência, eles fizeram alianças
com diversos povos e ainda cresciam quando do contato exterminador dos
europeus.
Quando os espanhóis chegaram a América encontraram essa civilização no seu
auge, no apogeu de sua glória. Em pouco tempo os europeus invadiram o maior
centro que era Tenochtitlán, onde fica hoje a atual Cidade do México.
MAIAS
A civilização Maia consolidou-se como império no final do século IX, sendo
a primeira a atingir esse status. Localizava-se no seu auge do sul do atual México
até a Guatemala. Afirmam os arqueólogos que o esgotamento do solo foi o
principal motivo da decadência desse povo.
Quando os espanhóis chegaram a América encontraram simples
agricultores, os Maias já estavam em declínio.
INCAS
Habitavam a cordilheira, da região norte do Equador à região central do
Chile, Cuzco era a capital do império Inca por muito tempo com cerca de 40 mil
habitantes e Machu Picchu a segunda com mil pessoas, Cuzco quer dizer
umbigo, a astronomia era o centro e o que norteava a localização onde as
cidades deveriam ser construídas, inclusive por projeção e trigonometria, há
historiadores que falam das linhas de Nazcar.
32

Esse povo teve sua expansão no século 15 onde atacaram os povos


vizinhos. Enfraquecidos por epidemias e pelas lutas de sucessão do império,
foram derrotados em poucos anos pelos espanhóis.
Sua língua era o quéchua, língua obrigatória até para os povos
conquistados, podiam falar sua língua desde que falassem também o quéchua,
ainda hoje é a língua mais falada no Peru. Não tiveram grandes domínios sobre
a escrita, mas o tiveram sobre a matemática, em contagens feitas com nós em
cordas, tão complexa era que ainda hoje arqueólogos tem dificuldades para
entendê-la.
Com doze milhões de habitantes espalhados pela cordilheira, foi o maior
destes três impérios indígenas. A estratificação social praticamente não permitia
a mudança de classe social. A classe dominante muitas se impunha pela coerção
com medidas sangrentas e violentas, era um poder coercitivo.
Seu complexo de estradas os diferenciaram das demais com estradas ao
longo do pacífico, e até mesmo há relatos de historiadores que afirmam haver
grande comercialização com os guaranis e tupis do Brasil utilizando a rede de
estradas dos Incas.

SOBREVOANDO AS LINHAS DE NAZCA NO PERU


Em mais uma missão pelo governo brasileiro, voando a aeronave
Amazonas, é possível vislumbrar as riquezas de uma civilização indígena bem
mais avançada que as demais, dizia-me Sarasola que em suas pesquisas tinha
relatos de índios de São Paulo antes da chegada dos portugueses que iam a pé
até o peru por uma estrada construída por eles mesmos, era uma rota de
comércio, então na verdade muito pouco sabemos sobre nossos povos
originários, se não nos debruçarmos em pesquisas pouco ou nada saberemos.
33

linhas de Nazca foto aérea de Alexandre


As linhas de Nazca são tão geometricamente perfeitas que ufólogos
atribuem a sua construção a seres alienígenas, para mim pesquisador elas foram
construídas por um povo indígena de uma cultura bem mais avançada que os
outros povos da América do Sul.
Como vemos havia aqui na A mérica pré-hispânica uma civilização
indígena muito avançada, com uma tecnologia de aquedutos para irrigação,
evolução nos cemitérios e no tratar os mortos. Em arqueologia os mortos falam.
A maneira como eram enterrados, com seus pertences para serem usados em
outra dimensão da vida nos revela em que patamar cultural poderia ser alocados.
Essa riqueza destruída pelos colonizadores começa a ser resgatada, como uma
forma de entender o homem da américa, seu desenvolvimento e sua forma de
viver e morrer.

Sítio arqueológico aberto a visitantes no Peru na cidade de Lima


34

Cultura indígena peruana pré colombiana

pirâmide aterrada

Foto cedida por Tania Piletti da embaixada do Brasil no Peru


35

Foto cedida por Tania Piletti

Foto cedida por Tania Piletti


AS MÚMIAS DE SALTA NA ARGENTINA (GLOBO REPORTER 21
AGOSTO DE 2015)
Essas três crianças são as múmias mais conservadas, pois tem órgãos
internos e até mesmo comida no estômago, segundo a pesquisadora e
antropóloga elas tiveram suas mortes provavelmente por rituais de sacrifício e
estão no museu de salta, em um espaço de vidro conservadas a vinte graus
abaixo de zero para serem conservadas.

1.2 NUESTROS PAISANOS LOS INDIOS


36

Em minhas viagens e pesquisas de campo na América do sul, Argentina,


Chile, Bolívia, Uruguai e Paraguai e confesso foquei encantado com a cultura
indígena desses povo originários, mas foi na Argentina na cidade de Buenos
Aires que conheci Carlos Maritez Sarasola, e foi através de suas obras que
percebi duas linhas metodológicas que obrigatoriamente deveria incluir nas
minhas pesquisas, "não há como pesquisar povos originários (índios) sem andar
de mãos dadas com a arqueologia e a antropologia visto que eles tem suas
raízes em 9.000 a.C.", foi a primeira lição que me ensinou o antropólogo
argentino, especialistas em índios e etnohistória, ele trabalhou com escavações
históricas na Argentina, Peru e Bolívia, conhece a raiz mais profundas em um
trabalho inédito sobres os povos originários, creio que na América do sul ele é
pioneiro nesse trabalho, sua primeira obra "La Argentina de los caciques" e em
”cuentan los Araucanos" e na última que une as duas primeiras e faz uma
conclusão em um trabalho magnífico "Nuestros paisanos los índios" (Nossos
compatriotas os índios).

Nessa obra ele descreve a história de todos os povos índios Argentinos,


a vida, a história e o destino das comunidades indígenas da Argentina, que
37

sofreram invasões em seus territórios por espanhóis, ingleses, portugueses e


escoceses: são muitos povos indígenas por isso ele os dividiu por regiões,
Noroeste, Serras centrais, pampa e patagônia, Cuyo, Neuquén, Chaco, litoral e
interior. Sarasola descreve cerda de trinta povos espalhados pelas diversas
províncias, concentrei meus estudos e pesquisas na província de Buenos Aires,
ao que me pareceu a maior do ria da prata, por sua farta cultura e apoio em
materiais escritos.
A patagônia ficou conhecida por esse nome por causa dos contatos dos
Mapuches com os europeus que os chamavam de patas grandes, pois usavam
vestimentas de pele de animais que os faziam parecer maiores devido ao frio
intenso da região sul do que hoje conhecemos como Patagônia Argentina, o que
causava temor aos colonizadores.

folder del puerto


Deparei-me com algo engraçado, entrei em uma livraria, ao menos ela me
pareceu ser uma livraria que ficava bem perto da casa rosada e do Nogarot, o
hotel que me hospedava, "La libreria de Avila" fica na Alsina 500, ao entrar vi
uma placa "DECLARADA LUGAR HISTORICO NACIONAL" que aquela livraria
e também biblioteca guardava uma enorme quantidade de arquivos nacionais da
Argentina, era perfeito para um pesquisador, ela também era um café, tinha uma
38

estrutura perfeita para quem se debruçar por dias e semanas em pesquisa. Lá


então tomei contato com Sarasola que é para meus estudos um grande mestre
até hoje. O dono da livraria mesmo após ter acabado o expediente permitia que
eu ficasse pesquisando até fechar a loja.
No Brasil ninguém se deu ao trabalho de escrever sobre os nosso povos
indígenas, eles eram mais de dois mil povos hoje restam pouco mais de
quatrocentros e em cinquenta anos provavelmente uns cem deixes de existir ou
sejam dados como extintos como em minhas pesquisas vi vários deles nessa
situação, não cuidar da nossa história é não valorizar quem somos e quer gostem
ou não nossas raízes são indígenas, de certo que miscinegenada com negros e
europeus, mas a matriz é índia.

rua da La libreria de Avila


39

La libreria de Avila

É impactante a forma de escrever ao afirmar os direitos dos índios,


estando até mesmo numa contra mão do pensamento na América do sul, onde
essa não é a prioridade das nações, Sarasola 21 afirma:
É um dever de justiça julgar o homem autóctone dentro do marco dos
direitos, que como ser humano de carne e osso e membro da espécie

21
SARASOLA, Carlos Martinez. Nuestros paisanos los índios. Buenos Aires: Del Nuesvo Extremo,
2013.
40

humana lhe correspondeu no passado e lhe corresponde no presente.


Os indígenas não foram considerados cidadãos, e sim uma aberração
que hoje com grande esforço, está começando a ser mudado.

Foto do autor: Manifestação indígena em frente a casa rosada da presidência


argentina FEV 14
Ele aceita que a entrada do homem no continente americano pode ter
muitas correntes, mas a que explica e adota é a do estreito de Bering, já que é
considerado pela maioria de antropólogos e estudiosos como Brian Fagan, que
ao ser congelado o estreito com hoje 80 km de distância e na época, certamente
seria menos devido ao congelamento dos oceanos, permitiu que os humanos
que se originaram na África, migrassem devido as condições climáticas adversas
na Europa e África, vieram parar na América e foram aos pouco dominando de
cima para baixo até chegar a patagônia argentina e isso se deu entre os 30.000
anos a. C. Ainda afirma em sua obra que Paul River desenvolveu estudos sobre
essa chegada do homem por nossas terras onde migraram para cá, mongóis e
esquimós, já o estudioso Georges Montandon acredita em uma via através do
oceano Pacífico em que Malaios-polinésios aqui chegaram.
Em seu trabalho fruto também da arqueologia foi dividido em períodos
para estudo: cedo, médio, tardio, influência Inca, hispano-indígena e colonial.
Fiquei abismado com as suas teorias e para cada uma delas umas mil fotos
arqueológicas para comprovar a veridicidade, além da enorme quantidade de
desenhos em cadernos de campo, assim percebi que ferramentas como
gravador, uma boa máquina fotográfica, computadores, pen drive e hd externo
acoplado com copiadoras e scaner eram imprescindíveis a quem se propões
como eu a pesquisar, levei algum tempo já que era financiado por mim mesmo.
41

Conheço poucos sítios arqueológicos no Brasil e em sua maioria coordenado por


estrangeiros, tamanha é a nossa escassez de pesquisas na área, estamos muito
atrasados e as iniciativas que existem são em sua maioria pela rede privada e
não governamental.
Percebi que quisesse me arvorar nesta área devia fazer graduação em
um campo que me desse abrangência o que me levou a fazer história no Rio
Grande do Norte, na cidade de Natal, precisava melhorar minha metodologia e
alargar o campo dos meus conhecimentos.
Pesquisar é algo muito caro em termos de tempo para pesquisar, ter
materiais suficientes para editar uma obra muitas vezes requer o trabalho de
uma vida, estou há pelo menos vinte anos em contato com comunidades
indígenas em todo país tendo convivido por pelo menos duas década com eles,
em seu maior período os yanomamis e os Xukuru's.

cultura précolombiana museu del cabido Argentina


42

Objetos da cultura précolombiana museu del cabido Argentina

A DECLARAÇÃO DO PAPA ARGENTINO SOBRE OS ÍNDIOS


Em sua encíclica papal ‘Ladauto Si' o Sumo Pontífice Católico Jorge Mario
Bergoglio reafirma os direitos dos povos originários, os índios, e é categórico
quando se trata dos direitos deles como seres humanos e herdeiros ancestrais
da terra em muitas partes do mundo, principalmente na América.

Foto disponível no site da santa sé


43

A Carta Encíclica 'Ladauto Si' 22, exorta que cuidar da terra é um dever de
todos, se pararmos agora talvez ainda encontramos uma maneira de
coexistirmos todos nesta mesma casa.

1. «LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava


São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a
nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem
partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus
braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores
coloridas e verduras».

2. Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso
irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos
a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a
saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo
pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo,
na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais
abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e
devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22).
Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O
nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar
permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos.

O meu apelo

13. O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a


preocupação de unir toda a família humana na busca de um
desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas
podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu
projecto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade
possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa
comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos,
nos mais variados sectores da actividade humana, estão a trabalhar
para garantir a protecção da casa que partilhamos. Uma especial
gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as
dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais
pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-
se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar
na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos.

O papa Francisco faz um apelo aos cidadãos do mundo inteiro para que
coloquem o ser humano, principalmente os excluídos em um lugar de
humanidade, dignidade e respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana
como direitos inalienáveis, devendo seus governantes trabalhar pelo bem

22
Carta encíclica 'Ladauto Si' do Santo Padre o Papa Francisco, sobre o cuidado da casa
comum, disponíveis no website da Santa Sé http://w2.vatican.va/content/vatican/it.html.
44

comum, em especial pelos mais pobres e excluídos. O discurso dele é forte,


exortando que nem mesmo a qualidade de vida pode estar acima desses
direitos.

É preciso assumir a perspectiva dos direitos dos povos e das culturas,


dando assim provas de compreender que o desenvolvimento dum
grupo social supõe um processo histórico no âmbito dum contexto
cultural e requer constantemente o protagonismo dos actores sociais
locais a partir da sua própria cultura. Nem mesmo a noção da
qualidade de vida se pode impor, mas deve ser entendida dentro do
mundo de símbolos e hábitos próprios de cada grupo humano.

Não é infundado o questionamento do papa, destarte somente no ano de


2003 vinte e dois índios foram assassinados no Brasil nos dez primeiros meses
do ano, sendo considerado o pior número dos últimos dez anos. 23
O Papa Francisco celebrou uma missa no México no dia 15 de fevereiro
de 2016, para reafirmar seu apoio aos índios da américa, a missa foi transmitida
pela emissora de televisão no Brasil a Canção Nova, todas as leituras e cânticos
foram realizadas pelos povos indígenas Chiapas do México.

1.3 OS INDIOS DO URUGUAI - A TRISTE HISTÓRIA DOS CHARRÚAS


Depois de apresentar a defesa do mestrado na USACH, fui a convite da
Adidância da Força Aérea na embaixada do Uruguai para passar uma temporada
em Montevideo, dentre os diversos objetivos da visita, também aproveitei para
fazer pesquisas sobre os índios uruguaios, tendo entrevistado pessoas na rua,
conversado com autoridades e ter recebido a informação que todos os índios
uruguaios haviam sido mortos no ano de 1833 no genocídio de Salsipuedes, mas
como pesquisador fui atrás de referências bibliográficas para respaldar meus
escritos.

23
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL: relatório da rede social de justiça e direitos humanos em
colaboração com Global Exchange. São Paulo : Ed.Book. 2003.
45

Fui recebido com muito carinho na casa do Auxiliar do Adido da embaixada e


sua esposa a qual a tenho como filha, e que foram meus anfitriões abrindo as
portas de Montevideo para que eu pudesse expandir muita pesquisa em pouco
tempo.

Não fiquei muito feliz em saber que não havia mais índios no Uruguai, porém
uma entrevista com o senhor Carlos24 no Parque do Prado onde há um
monumento dos últimos Charruas que foram levados para Pariz como atração
de circo e por lá morreram, uma história triste pois os índios ajudaram a criar a
República do Uruguai e lutaram contra seus invasores.

24
Entrevista semi-estruturada realizada com o senhor Carlos no parque do prado. Optei por este
tipo de netrevista em virtude de ter pouco domínio do assunto no Uruguai, tendo a possibilidade
com este tipo de entrevista de fazer novas perguntas para fechar as lacunas existentes no
trabalho, ela foi realizada no dia 17 de abril de 2018 as 10h, com o recurso do celular pelo próprio
pesquisador sendo validada pela presença do auxiliar do adido aeronáutoco do Brasil em
Montevideo Suboficial Gildoberto Freire.
46

O Uruguai foi expandido pelas diligências que transportavam as pessoas os


documentos, as malas e a comida, tudo era transportado pelas diligências, a
última tecnologia da época, há diversos monumentos belíssimos em cobre e
bronze espalhados por Montevideo, uma história viva, bem cuidada e seus
cidadãos são sabedores dessa história, todos que entrevistei conheciam a
história dos Charruas, alguns simplesmente por me ver tirando fotos queriam me
explicar a narrativa dos fatos e isto me foi muito valioso.

Monumento a diligência
Ao entrevistar o Sr. Carlos no Parque do Prado, ele contou que ainda havia mais
de dois mil descendentes dos índios Charruas e a placa abaixo do monumento
corrobora esta informação, ao afirmar que houve um encontro de descendentes
em 1988.

Monumento aos últimos cinco Charrúas do Ururguai


47

A placa informa que há descendentes indígenas

Placa com os nomes do últimos cinco Charruas


Se o leitor observar bem há apenas quatro nomes, porém o monumento diz "os
últimos cinco Charrúas", note que há um bebê no colo da índia Guyunusa no
monumento e provavelmente não tinha sido dado nome.
Os últimos cinco Charrúas do Uruguai são:
1- Senaca
2- Viamaca-Piru (Cacique do povo Charrúa)
3- Guyunusa
4- Tacuabe
5- Bebê no colo de Guyunusa.
Estes pobres índios foram levados para Paris como atração de circo, dentro de
uma jaula como selvagens e assim morreram, tamanha estupidez humana. A
índia Guyunusa deu a luz dentro da jaula com todos olhando, diversas
autoridades e nobres criticaram a frança por sua atitude doentia com os índios,
dizem alguns que o próprio Frédéric Chopin fez muitas críticas.
Mas apesar de toda tristeza, um grande guerreiro não se entregou e atacou
durante toda sua vida as tropas formadas pelo governador, ele foi a última
resistência, e hoje ganhou nome em diversas ruas de Montevideo, Tabaré o
último índio que montava cavalo, atacava usando o corpo do cavalo por
cobertura e por isso demorou a ser pego, seu mais ilustre desenho encontrei na
lateral de um alto prédio perto da praia, e confesso que via o cavalo e não via o
índio, mostrando de forma original sua astúcia de guerreiro. O prédio é muito
48

bonito e ao parar para apreciar o cavalo, um senhor25 uruguaio disse-me você


está olhando para Tabaré o último índios daqui, então lhe perguntei, aonde ele
está, então ele me mostrou sua fina silhueta ao lado do cavalo, quase sua
cabeça está ao lado da cabeça do cavalo, fiquei a contemplar por muito tempo
aquela cena e me perguntar, quantos mais precisam morrer como Tabaré,
entristeceu-me aquela arquitetura e ele me perguntou: p que estás a pensar meu
jovem, e eu lhe disse que no Brasil desde 1500 até hoje todos os anos morrem
muitos índios e ele me disse até quando, e eu lhe respondi até o último Tabaré.

Rua Tabaré o último Charrua morto em Salsipuedes


Foto do google26

25
Realizada com entrevista semi-estruturada nos moldes do ítem anterior, porém esta no dia
14 de abril de 2018.
26
https://www.google.com.br/maps
49

Prédio localizado na Leyenda Pátria de Montevideo

Esta placa mostra o trágico fim dos últimos Charrúas uruguaios


Em sua obra27 Kleim (2012) apud Figueira (1892) reporta que nesse período
nada se sabia sobre os índios e depois que todos foram mortos em Saisipude a
sua história foi enterrada "nada se sabe acerca de sua história em tempos
anteriores a conquista", se ele escreveu isso ainda tão próximo deles, em 1892,
que dirá hoje, tanto tempo depois.

27
Kleim, Fernando. Nuestro pasado indígena. Montevideo: Zonalibro, 2012.
50

Ele afirma que os estudos feitos mostraram que os índios uruguaios eram
amistosos, que lutaram em muitas batalhas na defesa do Uruguai, que ao
contrário não eram bárbaros ou selvagens e muito menos reticentes aos
europeus. Houve grande troca de mercadorias, porém não eram um grupo só de
Charruas como relatam alguns historiadores, afirma Kleim (2012) que diversas
etnias constituíam os indígenas uruguaios entre eles: Arachanes, Charrúas,
Chaná, Minuanes, Bohanes, Guenoas, Guarani, dessa forma todas estas etnias
formaram um conjunto que hoje por sua extinção chamou-se apenas Charrúas.
Muitos anciãos de Montevideo que entrevistei ficam envergonhados pelo
massacre aos índios, pela forma degradante como foram tratados em Pariz
sendo apresentados em uma jaula como animais de circo, isso os deixa
consternados.
A história dos índios naquele país me deixou chocado, pela brutalidade com que
foram tratados, de forma desumana e cruel, para mim os maiores selvagens
foram os europeus.
Assim descreve Kleim (2012):
Durante os três séculos que vão do primeiro contato com o grupo
europeu até Salsipuedes e combates posteriores, o índio foi
perseguido, teve que migrar se queria viver debaixo de suas
diretrizes, foi aculturado e se mestiçou, finalmente foi
exterminado; suas mulheres e filhos foram distribuidos entre as
famílias da sociedade uruguaia, o resto foi enviado a prisão ou a
ultramar oferecidos como mercadoria aos capitães do porto.
Com o tempo a história não representou o índio, as letras dos
romances e nunca alcançou o espaço que devia ter em nossa
sociedade.

Diversos historiadores uruguaios afirmam que o presidente Frutuoso Rivera,


amigos dos índios Charrúas (que junto á Artigas lutaram na defesa do Uruguai)
convidou os índios para tratar de uma defesa que deveriam fazer, fez um
churrasco, embebedou os índios e os matou, deixando quatro que foram
vendidos para um francês, que os levou para Paris como atração de circo.
Viamaca-Piru, o Cacique do povo Charrúa, foi obrigado a comer carne crua
apenas quando havia visitantes, e contraiu tuberculose morrendo de
51

incompatibilidade alimentar, passou quatro dias convulsionando e morreu, seu


corpo ficou no museu de Paris, e somente depois de anos a França permitiu a
liberação do corpo, em 2002 foi transladado ao Uruguai, muitos criticaram o fato
de levar índios em jaula para ser atração de circo, dentre eles Chopin um grande
artista, muitos grupos de indígenas e historiadores uruguais querem que seja
recontada a história verdadeira, mas o Ministério da Educação daquele país
ainda não tinha dado seu veredito até minha saída em 18 de abril de 2018, eles
querem que se afirme que o assassinato dos Charrúas em Salsipuedes foi um
crime de Lesa humanidade por ter extinto uma raça, poucos sobreviveram a este
massacre, mas os que restaram são hoje dois mil descententes que o Uruguai
não quer reconhecer28.
A datação mais provável dos fatos pode ser descrito em linha cronológica pelos
anciãos dos povos uruguaios que entrevistei:
11 de abril de 1831
Começam os confrontos em Salsipuedes das tropas do governo para expulsar
os inimigos da terra ururguaia.
25 de fevereiro de 1833
Na batalha cruel e covarde de Salsipuedes29, na Curva do Tigre no departamento
de Pay sandú, quase todos os índios Charrúas foram mortos e seu cacique e
mais três foram vendidos a um francês para ser atração de circo em Paris, que
se diz o 'berço da civilização'.
13 de junho de 1833
Foram expostos numa jaula em Pariz, onde a esposa do índio Tacuabe
(Guyunusa) deu a luz a uma menina com todos assistindo, pois tinham comprado
o ingresso, muitos se revoltaram com a cena gerando vários atritos.
27 de junho de 1833
Depois de quatro dias de agonia morre enfim Viamaca-Piru (Cacique do povo
Charrúa), acreditando o o presidente Frutuoso Rivera que estava extinto os
Charrúas, mas muitos dos sobreviventes foram doados como escravos as

28
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=WLMpA_GJYx0 com acesso em 03 de maio
de 2018.
29
Sobre os efetivos de cada lado, muitos anciãos falam em 400 Charrúas e mil combatentes das
tropas que lutara do lado do governo de Rivera com canhões e armas e também os índios
Guaranis que eram inimigos dos Charrúas.
52

famílias esponholas do recém criado do Estado do Uruguai e hoje eles são dois
mil e lutam por reconhecimento, o monumento fala por si só.
O povo uruguaio airma que eles são a única nação da América do sul que não
tem índios, porque não reconhece os seus descendentes.
Esse foi o triste fim dos índios uruguaios, "a população nativa extinguiu-se pouco
a pouco pelas drásticas mudanças em sua cultura e os diversos enfrentamentos
bélicos na região. Os últimos registros destas populações são da segunda
metade do século XIX".
Para Kleim (2012) pode-se dividir os indígenas uruguaios em três grupos:
1º - Charrúas
Subgrupos: Bohanes, Guenoas, Minuanes e Guayanaes-yaros.
2º - Guaraníes
Subgrupos: Tapes e Arechanes.
3º - Chanás
Charrúas são os primeiros povoadores do Uruguai e tais fatos são descritos por
diversos cronistas no decorrer dos séculos, e eles são o testemunho e a prova
de que estes índios em muito contribuíram com a história do Uruguai, como nos
mostra Kleim (2012):
Os Charrúas foram os primitivos povoadores da ribeira do norte
do Rio da Prata, assim aparecem nos testemunhos dos cronistas
europeus como na memória de Diego Garcia (ano 1526), Ulrico
Schmidel (ano 1536), Barco Centenera (ano 1602), Ruy Díaz de
Gusmám (ano 1612) e o P. Lozano, jesuíta cuja obra foi escrita
entre os anos de 1754 e 1755.

Narra o referido autor em sua obra que alguns Charrúas no ano de 1600 foram
para o lado Argentino permanecendo dos dois lados por tempos diferentes até a
colonizaçao quando se dividiram. Os relatos do professor José Imbelloni é que
estes índios tinham um porte alto e robusto e um cranio volumoso, demonstrando
um porte atlético. Narra ainda Félix Azara geógrafo espanhol e especialista
marinho mandado pelos espanhóis para delimitar as terras na América do Sul
(1742-1821) que os índios eram mais altos que os espanhóis eram
principalmente "soberbos, altivos e ferozes"
53

Peça de cobre de índio Charrúa adquirida pelo autor na feira indígena de Montevideo

A organização social dos Charrúas eram em "chefias de cacicado e em caso de


guerra era eleito um cacique geral, mas além disso praticamente a sociedade
era horizontal sem maiores distinções entre os membros".
Os nomes dos principais caciques foram descritos por Kleim (2012):
Entre os poucos nomes dos caciques que se tem conservado se
destacam os de Zapicán, Abayubá, Tabobá, Magalona, entre
outros. Logo adaptaram nomes de personagens, por exemplo, o
cacique Brown, Lecor, Rondeau, Sepé, Barbacena, etc. [...]
Todos são iguais; nenhum está ao serviço do outro, a não
alguma mulher velha, que por carecer de recursos, se reúne a
uma família ou se encarrega de colocar a mortalha e enterrar os
mortos.

Em suas relações maritais encontrava-se a monogamia, bigamia e outras


relações esporádicas, "se tinham descententes a união entre os conjuges tendia
a perdurar".
Segundo o autor qualquer índio Charrúa que chegasse em uma família sendo
jovem ou velho e pedisse a mão de uma filha com o consentimento dos pais dela
ela iria, nunca diziam não, podia exercer a monogamia, mas uma mulher nunca
tinha dois maridos, e se alguma índia quizesse deixar um marido que tinha várias
esposas para ficar com um que só tivesse uma índia por esposa também podia.
54

Eles viviam em grupos de 10 a 15 famílias debaixo da proteção de um chefe que


podia se unir a outros para defesa.
Os Charrúas podiam caputurar outros índios, normalmente os "Guenoas,
atravessavam o rio Ururguay e adentravam na banda oriental" do mesmo.

1.4 ORIGEM NO BRASIL

Colombo foi o primeiro a chegar a América e desembarcou nas ilhas do


Caribe, no Haiti e na República Dominicana, seu marco histórico ainda se faz
presente na ilha, bem como a primeira igreja construída na América.

Monumento a Colombo - foto do funcionário do governo brasileiro em


missão a República Dominicana Sr. R. Bispo
55

Primeira catedral da América- foto do funcionário do governo brasileiro


em missão a República Dominicana Sr. R. Bispo

foto do funcionário do governo brasileiro em missão a República


Dominicana Sr. R. Bispo
Conforme nos descreve o historiador de UFPE, Janote Pires Marques 30 o
descobrimento do Brasil teve origem quando nos séculos XV e XVI, Portugal e
Espanha fizeram parte de um contexto histórico englobando elementos políticos,
econômicos, sociais e culturais que acabaria gerando a expansão ultramarina
desses países ibéricos, era uma corrida que tinha como alvo a busca por
riquezas e novos domínios territoriais.
Embora, muito tenha contribuído a história a mesma não chegou as salas
de aulas e Cabral ainda tem levado o crédito pelo descobrimento e outros
aspectos como é visto.
Marques (2000) apresenta que:

Portugal foi o primeiro Estado a iniciar-se nas navegações que tem na


conquista de Ceuta, em 1415, seu marco inicial. A partir daí houve uma
constante nas viagens de exploração e posse de terras, sendo que entre
essas está a expedição que chegou em terras brasileiras em 22 de abril
de 1500, porém são claros os indícios que mostram a vinda de outros
navegadores ao Brasil em data anterior à armada cabralina, como foi o
caso dos que viram na expedição comandada por Duarte Pacheco Pereira

30
Marques, Janote. O descobrimento do Brasil no contexto da expansão marítima ibérica ocorrida nos
séculos XV e XVI. Recife: Ed. Universitária UFPE, 2000.
56

que chegou no Maranhão entre novembro e dezembro de 1498, e também


a expedição comandada por Vicente Yañes Pinzón, que chegou ao litoral
do nordeste do Brasil em janeiro de 1500.

Embora tenham se passados mais de 500 anos das primeiras viagens


lusitanas de exploração de terras brasileiras por portugueses e espanhóis, ainda
há uma tendência muito forte em se ver a questão de um ponto de vista
europocêntrico, ou seja, a visão do conquistador.
É certo que todos os povos indígenas que merecem ser vistos pelo que
têm e não pelo que não têm, e que legaram as nações ditas civilizadas, um
inaudito exemplo de civilidade, hoje bem mais acentuada a questão ambiental e
a preservação da natureza, área na qual o indígena brasileiro tem vasto
conhecimento empírico.
Segundo Marques31 o que seria hoje o encontro dos europeus com os
povos ameríndios e a visão destes em relação àqueles homens estranhos que
vinham do mar e muitas vezes foram confundidos com deuses. Seria com este
espanto e fascínio que um homem contemporâneo veria um alienígena, que os
índios visualizaram inicialmente esses estranhos que chegavam em terras
americanas, especificamente no Brasil.
Marques (2000) afirma:

Para os povos indígenas, contatar com uma civilização muitíssimo


mais elevada tecnologicamente e predisposta a dominar e a
desrespeitar-lhes o modo de vida, foi não só um choque cultural
tremendo, mas também o início de sua extinção .

Para Marques a palavra ‘descobrimento’ significa neste contexto o


encontro de duas civilizações e de indivíduos, cada um com sua própria cultura
e modo particular de compreender a vida e o mundo com estranheza de ambas
as partes e como afirma Tzvetan Todorov após esta interação entre europeus e
aborígenes “os homens descobriram a totalidade de que fazem parte”.

31
Marques, Janote Pires. O descobrimento do Brasil no contexto da expansão marítima ibérica ocorrida
nos séculos XV e XVI. Recife: Ed. Universitária UFPE, 2000.
57

Lisboa vista do castelo de São Jorge - foto do funcionário do governo brasileiro


em missão a Portugal Sr. R. Bispo

Torre de Belém - foto do funcionário do governo brasileiro em missão a


Portugal Sr. R. Bispo
A torre foi construída no período do descobrimento e fica ao lado do rio
Tejo e funcionou como farol, prisão política entre outras, é um marco histórico na
história do descobrimento.
58

canhão usado na defesa de Lisboa- foto do funcionário do governo brasileiro


em missão a Portugal Sr. R. Bispo

COMO ERAM VISTOS OS ÍNDIOS E COMO VEMOS HOJE

Para muitos historiadores a visão que o europeu tinha dos indígenas


brasileiros era bastante distorcida da realidade, sendo muitas vezes colocados
numa escala animalesca abaixo dos escravos, como mostra Vitorino Godinho32:
GODINHO (1962)
Segundo Vitorino Godinho em “A economia dos descobrimentos
Henriquinos” ao citar as crônicas de Gomes Eanes Zurara e os
exemplos da ideologia dos descobrimentos destaca entre outras:
“é lícito reduzir a escravidão os infiéis, porque as almas perdidas
não são verdadeiros senhores dos corpos e assim, as almas serão
salvas e os corpos deixarão a vida bestial (ironicamente esta é a
visão que muitos têm dos terroristas islâmicos)”.

Apesar de bem distante daquela época, hoje observa-se que a sociedade


ainda tem a impressão de que o índio brasileiro deve viver em sua reserva
privado dos bens culturais e do conforto que a tecnologia pode oferecer para
aumentar a qualidade de vida das pessoas, muito mais que demarcação de
terras eles querem ter acesso a nossa cultura.

32
GODINHO, Vitorino Magalhães. A economia dos descobrimentos Henriquinos, Lisboa: Livraria Sá da
Costa Editora, 1962.
59

E algumas vezes era chamado de selvagem ainda que 'bom selvagem'


como diz Russeau na crítica a fineza, onde defendeu que os selvagens eram
mais puros porque não se haviam corrompidos como afirma Grespan(2003)
apud Russeau33 :
Russeau volta sua crítica contundente ao espírito de fineza. Defende
um retorno aos costumes antigos, no qual a força de vontade e de
caráter se aliava a simplicidade, como nos bons tempos de Roma
republicana, antes da decadência imperial provocada pelo excesso de
poder e de luxo. Recomenda uma vida mais natural, mais pura, mais
próxima de uma sociedade edificante e sincera. Chega a pregar que o
indivíduo se isole, para livrar-se das falsas convenções sociais e se
conhecer verdadeiramente, sozinho e em contato com a natureza. Daí
sua máxima de que 'o homem nasce bom e a sociedade o corrompe'.
Daí a idéia do 'bom selvagem'.

Muitos historiadores34 afirmam que os povos indígenas do Brasil estavam


divididos em dois grupos muito famosos os Tupi-guarani's e os Tapuias (ou Jês),
os Tupi's migraram por todo país e acabaram expulsando os tapuias, além
desses grupos são descritos ainda outros dois os Nuaruaques e os Caraíbas.
A carta de Caminha deixa claro a bondade e ingenuidade dos nossos
povos originários, sendo o português Afonso Lopes o primeiro a levar os índios
a nau capitânia que até dormiram tamanha era a confiança deles nos
portugueses, esse fato lhes custou a liberdade e as vidas, não houve resistência
como nos Estados Unidos, que quase todos os povos indígenas reagiram,
embora foram levados ao extermínio pelos colonizadores ingleses e suas tropas.
No Brasil em pouco tempo metade dos índios morreram em contato com as
pestilências dos Europeus, sujos e fétidos com a falta de higiene das caravelas,
pouca água potável disponível para higiene, enquanto isso os nossos indígenas
tomavam banho diário nos rios, hábito que até hoje cultivamos ao contrário do
europeu, que por característica geográfica fria não necessitavam banho diário.
Isso fica claro no diário de Pigafetta (1985)35 na viagem de circunavegação do
navegador Fernão de Magalhães como é visto:

33
GRESPAN, Jorge. Revolução francesa e iluminismo. São Paulo: Contexto, 2003, p 64
34
IDEM nota 5
35
PIGAFETTA, Antonio. A primeira viagem ao redor do mundo. Porto Alegre: L e PM, 1985, pp81.
60

Nossa alimentação ficou reduzida a serragem de madeira e a ratos,


que chegaram a custar meio ducado a quem possuía [...] escorbuto -
atacados por uma enfermidade pela qual as gengivas inchavam a
ponto de sobrepassar os dentes, quem era acometido dela não podia
tomar nenhum alimento, morreram dezenove e vinte e cinco ficaram
enfermos com dores em todo corpo.

Nosso índio era feliz não precisava trabalhar e se matar como um


workaholic pois não tinha a pretensão de acumular riquezas, estocar alimentos
para vender, faziam tudo em comunidade e distribuíam a todos, ninguém
passava fome, os idosos eram cuidados com respeito, as crianças eram
supremas, ao contrario da usura dos europeus que viam cifras na cabeça de
cada índio, ou era um troféu de caça, afinal eles não eram humanos como nos
descreve Janote, logo por não aceitar a escravidão, fugiam pois conheciam as
matas e nelas sabiam sobreviver, diferente do negro africano que além de está
longe de casa não sabia sobreviver nas matas, já que não são escravizáveis são
mortos, as centenas ao milhares, por maldade e perversão. Nos afirmam os
historiadores Oliveira36:
O índio não era indolente ou preguiçoso, mas seguia seu modo de vida
tradicional. Se ele não plantava nem caçava, como explicou Caminha,
era porque a terra lhe fornecia em abundância tudo o que precisava
para sobreviver.
Também descreve Oliveira apud Luiz Koshiba:
Desconhecendo o trabalho árduo ou simplesmente o trabalho, muito
embora numerosos, os índios eram, apesar disso, robustos e bem
dispostos. Sem esforço colhiam e se alimentavam de raízes e ervas,
frutos saborosos, peixes, mariscos, caranguejos, ostras, lagostas e
camarão.
Nenhuma herança deixada pelos nossos índios foi tão marcante quanto a
culinária, nunca imaginamos quanto tempo e esforço levaram para aprender a
tirar o veneno da mandioca, estudar toda espécie de plantas farmacológicas,
recebemos tudo isso de mão beijada e o pior é que além de não valorizarmos os
laboratórios se apropriaram desse conhecimento milenar, patenteiam e vendem
ao mundo por milhões de dólares.

36
IDEM nota 5
61

O pirão, a tapioca, o tipiti, o palmito e o caxiri (aguardente feito pelas


mulheres indígenas) tomei em minhas pesquisas pelas etnias da localidade de
Yauaretê, e durante a fase indígena do curso de operações na selva do exército
brasileiro, o CIGS (Centro de Instrução de Guerra na Selva) tem índios em seus
campos, eles são os mateiros, passam os conhecimento de sua sabedoria da
floresta, como perseguir um animal, identificar seu rastro e outras técnicas
usadas em combate de selva.
Como explicar que índios que viviam na fartura, largassem tudo para se
aventurar pelo inóspito sertão sem a fartura que tinham no litoral, mesmo nas
capitanias. Oliveira e outros historiadores como Janote, Darcy Ribeiro nos dão
uma certeza que isso acontecia no desigual poder das armas contra flexas.
O modelo geral de ocupação do território indígena pelo
colonizador português era [...] primeiro os índios foram
simplesmente vencidos pela força das armas de fogo; eles foram
expulsos para o interior desde o governo do donatário Duarte
Coelho, e mesmo assim a resistência dos Potiguaras na
Paraíba.

A luta dos potiguaras é algo memorável como os atenienses na Grécia,


na defesa do litoral, onde nasce a pátria Brasil de Vidal de Negreiros, Henrique
Dias e Felipe Camarão, sua esposa Clara Camarão lutou bravamente junto com
outras mulheres e com portugueses e indígenas, nos anos de 1648 e 1649, nos
Montes Guararapes (Batalha dos Guararapes), em Pernambuco, culminando na
vitória contra os holandeses. Dessa feita chegaram os Xukurú's Na cidade de
Pesqueira, que recebe este nome devido a um grande poço de rica pesca aos
pés da Serra do Ororubá onde os mesmos fincaram raízes até os dias atuais.
Poucas pessoas conseguiam arrancar a força o usofruto do trabalho dos índios,
porém na base da amizade e confiança um Judeu português chamado de Manuel
Vicente da Anunciação extraía ricas pedras preciosas com autorização dos
índios, ele era meu tetravô, e todo ouro explorado juntamente com pedras,
calcula-se que chegou a cifra de bilhão em dias atuais, tudo foi depositado no
banco de Londres na cidade de Recife, mas como os seus filhos não sabiam ler
e escrever, com a morte do velho o banco negou o depósito e o caso está a cem
anos na Justiça brasileira, a única pessoa que escrevera a família afirmando que
62

viu os depósitos quando trabalhava no banco, morreu misteriosamente em


acidente de carro. Deixo aqui o relato baseado nos escritos da historiadora Lígia
também descendente de Manuel por parte esposa portuguesa, isso por que ele
teve três esposas, segundo a historiadora Lígia ele foi o perfeito colonizador, e
o mais interessante é que ele registrou os filhos das três esposas, da negra (que
alforriou para que ela pudesse dar a luz em liberdade), da índia Luzia (que na
época o filho do casal era liberto em "forno de pia" ao ser batizado na pia batismal
e sendo filho de um branco) e da portuguesa Jacome, e isto talvez seja o primeiro
reconhecimento por parte de um homem branco de seus filhos com esposa índia
e negra no Brasil e todas estas certidões estão apresentadas nas obras da
Historiadora Lígia, como segue37:
Manuel Vicente da Anunciação
Esposa Árvore genealógica Descendente
1ª Esposa: tronco A historiadora Lígia Lyra
Manuel Vicente da Anunciação
A portuguesa Margarida Jacome
(1º membro da família no Brasil)
2ª Esposa: tronco Sem informações sobre esta
Caetana, uma negra escrava do Manuel Vicente da Anunciação
descendência
seu engenho em Recife, ela era (1º membro da família no Brasil)
responsável pelos serviços da
casa grande do engenho.
3ª Esposa: tronco O mestre em Educação Paulo
A índia Xukuru Luzia Soares Manuel Vicente da Anunciação
Gabriel Melo
doada pelo cacique como prova (1º membro da família no Brasil)
de amizade. Filho
José Joaquim da Paixão
(nascido em 1806 com a esposa
índia Xukuru Luzia)
Neto Tomás Agostinho de
Melo (nascido em 1830)
Bisneto
Francisco Barbosa de Melo
(pai)
Trineto Francisco Barbosa
de Melo (filho nascido em
1929)
Tetraneto
Paulo Gabriel Batista de
Melo (filho nascido em
1968)
Elaboração própria
Segundo narram os seus descendentes e o documentário da tv
portuguesa, Manuel Vicente da Anunciação veio para o Brasil fugindo
das guerras na Europa, e para fugir das perseguições aos judeus no
Brasil, adentrou ao sertão pernambucano e virou um comerciante,

37
As informações para a confecção desta tabela foi retirada das obras "Sangue, suor e riqueza"
de Ana Lígia, "O capitão dos índios" de Ana Lígia 2007 e de "Pesqueira secular: crônicas da
velha cidade" de Pedro Cruz; Aloísio Falcão; Potiguar Matos;Nivaldo Burgos e Sílvio Lins 1978.
63

tendo obtido a graça do cacique que lhe deu como esposa a índia Luzia
Soares,essa era um prática comum descrita por Darcy Ribeiro em suas
obras sobre o indigensmo no Brasil "cunhadismo".
Segundo a historiadora Lígia Lyra, Manuel Vicente da Anunciação resolveu
adentrar ao sertão de Pernambuco para fazer fortuna em 1820:
Foi na intenção de fazer fortuna que Manuel Vicente da
Anunciação chegou à região da então Vila de Cimbres, agreste
setentrional de Pernambuco, por volta de 1820 onde se instalou
após comprar a fazenda Lagoa dos cavalos (hoje Santa Rosa,
distrito de divisa entre Pesqueira e Alagoinha).

Ao desembercar no porto de Recife juntamente com outros judeus, acabaram


por criar a sinagoga de Recife (Sinagoga Kahal Zur Israel que se escreve
em hebraico por ‫קהל צור ישראל‬, e que pode ser traduzida por "Rocha de Israel"),
ela é a primeira da américa latina, porém, na perseguição do Marquez de Pombal
e outros que o sucederam, fugiram os judeus de Recife e criaram a cidade de
Nova York, tendo Manuel Vicente da Anunciação tomado o rumo do sertão indo
morar na atual cidade de Pesqueira.

Objetos sagrados do judaísmo

Nenhum cacique ou pajé daria um presente de uma índia a uma pessoa


importante se ela não fosse muito bela Luzia era a "Iracema" do Ororubá, como
afirmam muitos dos descendentes e também a Lyra em sua obra, talvez por sua
cortesia e sua forma educada de tratar os índios conseguiu o que nenhum outro
64

havia conseguido, liberdade para explorar as terras indígenas Xukuru's em


busca de metais e pedras preciosas, inclusive afirma Lyra que "ele não assinou
nenhuma das solicitações de seus colegas do império quanto a catequização e
domesticação dos índios da Serra do Ororubá".
Quando morreu em 1889, Manuel Vicente da Anunciação era muito rico,
conforme contam os mais velhos que ele levava fortunas para depositar no
banco em Recife no The London Bank & Soutth America Limited”, hoje ele tem
o nome de LLOYDS BANK PLC.
Afirma o Terra magazine que era incalculável a fortuna, mas que provavelmente
ameaçaria a economia da Inglaterra se tivesse que ser devolvida aos
herdeiros38:
Quando morreu, em 1889, era um dos homens mais ricos da
época, deixando uma fortuna incalculável, entre imóveis, barras
de ouro. jóias, ações de uma empresa norte-americana,
escravos, e muito dinheiro. Toda riqueza de Manuel Vicente da
Anunciação fora depositada no The London Bank & Soutth
America Limited”, hoje ele tem o nome de LLOYDS BANK PLC,
em 13 de junho de 1878, pouco antes de sua morte. Entre os
bens depositados que constam nos laudos do processo,
estavam: 150 barras de ouro, no total de 1.537,4 quilos, 314
pedras preciosas, um diamante bruto com 3, 167 quilos, cordões
de prata, 20 mil libras esterlinas, crucifixos e colares de ouro, etc.

Os descedentes de Manuel Vicente da Anunciação a cem anos brigam na Justiça


brasileira, tanto os da esposa portuguesa como os da esposa índia Luzia Soares,
mas esta é a batalha judicial mais longa do Brasil, onde os herdeiros tentam
provar o que o banco tenta negar, uma guerra sem fim, herdeiros pobres lutando
com um dos bancos mais ricos do estado. A única prova testemunhal foi uma
funcionária do banco que escreveu uma carta a família dos herdeiros afirmando
que tinha visto o comprovante de depósito, mas a mulher morreu em um acidente

38
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1526145-EI6791,00-
Saga+de+milionario+portugues+em+PE+vira+roteiro.html acesso em 18 de
maio de 2018.
65

de carro de forma muito misteriosa, é o que afirmam os jornais do estado em


muitas edições.
Não se sabe ainda se o Supremo Tribunal já se pronunciou ou se simplesmente
arquivou o caso.
Esta é a carta da funcionária do banco, que escreveu antes de morrer.

Foto do jornal Diário de Pernambuco ed. 31 março 2002


66

Foto do jornal Diário de Pernambuco ed. 31 março 2002

Ainda está disponível no Google a curta metragem da RTP, emissora de TV


portuguesa que narra toda vida e história desse judeu-português que ficou rico
no Brasil e nada deixou para seus descendentes.

O meu dilema e conflito é que esse meu tetravô, foi o grande explorador
dos índios Xukurus, mas descendo dele com a índia Luzia Soares da mesma
etnia, e ao que contam os índios a índia foi presente do cacique, ao qual se ele
recusasse seria visto como ofensa, então ele constituiu família com ela e
registrou na igreja através do batismo (batistério) que era o documento oficial da
época. O fato de Manuel Vicente ter três esposas talvez nos deixe perplexo, mas
descendente de Judeu e ainda Judeu no Brasil, este hábito de poligamia era
comum em seu contexto, como o é para muitos judeus ainda hoje, da mesma
67

forma pouco se importaria os índios já que eles também tinha a prática da


poligamia como sendo algo comum entre eles.
A recente pesquisa realizada pelo Instituto Data folha, encomendado pela
revista Veja aponta outra direção para a questão.
O que os índios Querem? Perguntava o Instituto Data Folha em pesquisa
nas aldeias do Brasil, publicado pela revista Veja 39 em sua edição de 14 de
Novembro de 2012, afirma que “a maioria quer progredir socialmente, mas ainda
depende do governo para sobreviver”, “a maior reclamação dos índios é que não
são ouvidos.

DADOS DA PESQUISA FEITA PELO INSTITUTO DATA FOLHA

O tempo usado na pesquisa foram de 55 dias, tendo sido visitadas 32


aldeias e entrevistados 1222 índios em 20 etnias.
DATA FOLHA40 (2012)
Os índios querem progredir socialmente através do estudo e do trabalho,
mas sem abandonar sua cultura. nove em cada dez índios acham
melhor morar em casa de alvenaria do que numa maloca. oito em cada
dez consideram muito importante ter banheiro sob o teto, um conforto
desfrutado por uma minoria.

O ser humano busca sempre a melhor qualidade de vida, isso é ainda


mais marcante quando se está em contato com outras culturas e tendo acesso
a bens culturais que melhoram a qualidade de vida. Afirma Marcos Apunirã,
coordenador das organizações indígenas da Amazônia brasileira e
representante de 160 etnias.
Ainda de acordo com DATA FOLHA (2012)
Quase metade gostaria de tomar uma ducha quentinha todos os
dias. ninguém deixa de ser índio por querer viver bem. É inaceitável
que as regras de como devemos ser continuem sendo ditadas de

39
REVISTA VEJA. O que os índios Querem. Edição 14 de Novembro de 2012. ano 46, Ed. Abril,
São Paulo.

40
IDEM nota 7
68

cima para baixo sem levar em consideração a nossa vontade,


afirma. (Marcos Apunirã)

A falta de condições dignas fez ocorrer o êxodo, pois há quatro anos 12.500
índios viviam na periferia de Manaus. Hoje estima-se que são 30.000 vivendo
apinhados em construções precárias na cidade.
Uma pergunta que deve ser feita é que se a criação de reservas é alardeada
como a demanda mais urgente dos povos indígenas, porque eles as estão
abandonando para viver em favelas nos grandes centros urbanos?
Segundo a pesquisa as motivações que os levam a ir para cidade são
similares aos anseios da saciedade não indígena:

1. a precariedade dos serviços de saúde (medicamentos, médicos) que


eles valorizam tanto quanto os deles.

2. a falta de emprego (os índios querem ter acesso a todos os bens


culturais da sociedade moderna).

Para Megaron – cacique txucarra-mãe- Líder Caiapó em Mato Grosso “os


nossos filhos querem ter tudo que os filhos do homem branco têm. Falar
português, ir para universidade e ser reconhecidos como brasileiros e índios”.
Durante os anos de 1989 a 1996, pesquisei junto aos yanomamis e
durante os anos de 2004 e 2005 pesquisei junto aos Xucuru do Ororubá e não
precisa-se ir longe para perceber que a demarcação das reservas não é
prioridade para os índios, mas é fruto de uma política não indígena, é o que
afirma Jonas Marcolino- índio Macuxi – no estado de Roraima, formado em
matemática e estudante de direito para a pesquisa encomendada pela Veja.
Nessa pesquisa afirma o sociólogo Bernard Sorj que “é inevitável que os
povos indígenas absorvam valores da cultura nacional e aspirem aos mesmos
direitos”.
Observe-se o que mostra a estatística dos 1222 índios entrevistados em
20 etnias comprovando que o contato com outras culturas acaba-se por assimilar
e viver esta nova cultura:
69

DATA FOLHA (2012) mostra:

• 67% dos indígenas gostariam de ter cursado a faculdade, dentre os


cursos mais procurados estão:
o Professor 19%
o Enfermeiro 7%
o Médico 7%
Parece que a profissão está ligada diretamente as necessidades da aldeia ou
de sua etnia.

• 68% seguem uma religião não indígena


o 41 são católicos
o 22% são evangélicos
• 92% acham importante ter medicamentos farmacêuticos na aldeia.
• 86 % preferem habitações de alvenaria.
o Pesquisa de campo feita por um grupo de trabalho da Universidade
estadual Vale do Acaraú na tribo Xucuru do Ororubá perecebeu
que 100% das habitações são de alvenaria.
• 20% tem propriedade registrada em seu nome.
• 57% acham que as terras onde vivem deveriam ser maiores e que a
demarcação das reservas melhoraria a vida dos índios em geral.
• 93% consideram importante ter remédios naturais na aldeia.
• 89% não estariam dispostos a deixar sua aldeia para morar em outro
lugar.
• 71% vivem em aldeias com língua ou dialeto próprio.
• 16% acham que não são devidamente reconhecidos como cidadãos
brasileiros
Dentre os problemas enfrentados pelas diversas etnias existentes no nosso
país, a questão da educação constitui gravíssimo problema uma vez que a língua
materna de muitas tribos praticamente desapareceu por uma questão de
imposição da colonização, a tribo Xucuru do Ororubá dispunha em 1996 de 165
palavras em seu léxico, sendo esta uma das pesquisas feitas pelo instituto Luiz
freire, para que eles pudessem voltar a ter a língua materna em sua etnia.
70

Como não foi possível descobrir as palavras perdidas os anciãos criaram


palavras novas como única alternativa de recuperar a língua da tribo. Oliveira41
nos mostra como se deu o processo no Brasil.
A língua Tupi, a qual predominou em vastas regiões da colônia,
sobretudo a partir dos colégios e aldeamentos jesuítas, vindo a ser
conhecida como língua geral que predominou sobre o próprio idioma
português, até quase o final do século XVIII, quando seu uso foi
proibido pelo famoso primeiro-ministro de D. João I: o Marquês de
pombal.
Se a escola publica nacional carece de recursos para melhorar a sua
qualidade, o que se pode dizer da indígena. Ao visitar a aldeia São José na tribo
Xucuru, vê-se a precariedade da estrutura escolar na melhor aldeia da tribo
(conforme anexo) antes da demarcação, porém depois da demarcação e o fato
do cacique ter conseguido que todas as escolas da aldeia fossem estadual a
melhora foi visível.
De forma geral os principais problemas relatados pelos entrevistados a Veja
pelo Data Folha foram:

Principais problemas enfrentados percentual


Acesso a serviços de saúde 30%
Falta de emprego 16%
Saneamento básico insuficiente 16%
Alimentação precária 12%
Acesso a educação 10%
Falta de transporte 9%
Falta de recursos econômicos próprios 6%
Qualidade de moradia 5%
Acesso a energia 5%
Falta de investimentos públicos e privados 3%
Recebem cesta básica da FUNAI 46%
Vivem da agricultura, da criação de animais, da caça 29%
ou da pesca de subsistência
Fazem artesanato para vender 9%

41
IDEM nota 5
71

Tem chuveiro em casa 6%

Ao fazer um comparativo dos índios do Brasil com a população não índia


chega-se a dados alarmantes. Se a população brasileira em sua maioria acha
que o brasileiro não tem serviços básicos de qualidade, isso na população
indígena é muito pior, o que explica o forte êxodo indígena para os grandes
centros. Na cidade de Pesqueira existe um bairro inteiro só de indígenas do povo
Xukurú, chamado de bairro Xucuru, composto em sua maioria de descendentes
indígenas expulsos de suas terras no decorrer do Século XX.

Problemas nacionais População População brasileira


indígena do não indígena
Brasil
Renda familiar mensal inferior a 79% 44%
dois salários mínimos
Famílias beneficiárias da bolsa 64% 25%
família.
Taxa de analfabetismo 33% 9%
Fumantes 29% 15%
Têm curso superior 6% 11%
Têm casa com banheiro 18% 98%
Têm acesso a internet 11% 37%
Não têm trabalho remunerado 70% 6%

Os dados são tão claros que dispensam comentários a qualquer


pesquisador que entre a população da nação brasileira todos “não são iguais
perante a Lei” conforme prevê a Carta Magna42, esta escrito, mas falta sua real
implantação.
Em uma atualização de dados para este livro, nós sempre temos a
esperança de melhorias para os povos indígenas, mas o quadro negligente
insiste em permanecer catastrófico, em um seminário de estudos indígenas em

42 BRASIL. Constituição Federal do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.


72

julho de 2015 o professor pós doutor Azevedo43 do IFRN (Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte) alertava para a crise
educacional indígena, a situação da formação dos professores nas aldeias é
simplesmente caótica e grande é a heterogeneidade no Brasil entre esses povos
como vemos.
28 por cento não tem o ensino fundamental
24,5 por cento tem o ensino fundamental
4,5 tem o ensino médio
1,5 por cento apenas possui algum curso superior
O título II (Dos Direitos e Garantias Fundamentais) em seu Capítulo I (Dos
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos) em seu Art. 5º mostra.

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,


garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.

Em seu livro 'pedagogia da diferença' José Santos Pereira mostra


que a educação é um forte mecanismo de inclusão ou exclusão quando assim
se deseja.
PEREIRA44 (1995) afirma.

A educação deveria ser um grito de liberdade e de negação das tantas


injustiças sociais que existem neste país.

Para Santos apud Gentili45 (1996)

“os princípios de qualidade total no que se aplicam ao campo


educacional, é a construção de uma sociedade onde os excluídos
tenham espaços, onde possam exercitar seus direitos de ir e vir,

43Seminário Regional de estudos afrobrasileiros e indígenas. 'Diversidade, memórias e literatura' promovido


pelo IFRN - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte realizado em 13
de julho de 2015 no pólo Santa Cruz - RN.
44
PEREIRA, José Santos. Pedagogia da diferença. Recife: Edição do autor, 2001.

45
IDEM nota 10
73

gozando do direito a educação. Qualidade da educação é um direito


inalienável de todos os cidadãos, sem distinção.

O currículo escolar, afirma Pereira, assume uma grande dimensão no


combate às exclusões no campo educacional, pois a pedagogia que deve ser
vivenciada nas escolas que apresentam dificuldades e desvantagem, deve
corresponder a uma prática pedagógica na arte de melhor ensinar conteúdos,
que inspire mudanças direcionando tendenciosamente ao progresso no resgate
de hábitos e atitudes, onde o processo dar-se-á pela participação ativa de todos.
A CARTA DE CAMINHA46
A carta é um riquíssimo arquivo sobre a impressão que os europeus
tiveram desse primeiro contato com os nossos índios e descreverei alguns
trechos que julgo serem importantes para nossa formação:
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas
vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos
rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os
arcos. E eles os pousaram [...]E estando Afonso Lopes, nosso piloto,
em um daqueles navios pequenos, por mandado do Capitão, por ser
homem vivo e destro para isso, meteu-se logo no esquife a sondar o
porto dentro; e tomou dois daqueles homens da terra, mancebos e de
bons corpos, que estavam numa almadia. Um deles trazia um arco e
seis ou sete setas; e na praia andavam muitos com seus arcos e setas;
mas de nada lhes serviram. Trouxe-os logo, já de noite, ao Capitão, em
cuja nau foram recebidos com muito prazer e festa.

É possível perceber que os índios encorajaram os portugueses a avançar,


pois não esboçaram de início nenhum confronto, até dormiram sossegados na
nau capitânia.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons
rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma
cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e
nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Porém um deles
pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a
terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali havia ouro.
Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para
a terra e novamente para o castiçal como se lá também houvesse
prata.
Então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem
maneira de cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as
cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes
mandou pôr por baixo das cabeças seus coxins; e o da cabeleira
esforçava-se por não a quebrar. E lançaram-lhes um manto por cima;
e eles consentiram, quedaram-se e dormiram.

46
MINISTÉRIO DA CULTURA - Fundação Biblioteca Nacional. Departamento Nacional do livro. A
carta de Pero Vaz de Caminha.
74

Essa impressão no decorrer dos meses e anos, foi péssimo aos índios
que morreram aos milhares, embora a pior arma tenha sido o próprio contato
que sem defesas dizimava metade das tribos.
E uma daquelas moças era toda tingida, de baixo a cima daquela
tintura; e certo era tão bem-feita e tão redonda, e sua vergonha (que
ela não tinha) tão graciosa, que a muitas mulheres da nossa terra,
vendo-lhe tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela.
Nenhum deles era fanado, mas, todos assim como nós. E com isto nos
tornamos e eles foram-se [...] Também andavam, entre eles, quatro
ou cinco mulheres moças, nuas como eles, que não pareciam mal.
Entre elas andava uma com uma coxa, do joelho até o quadril, e a
nádega, toda tinta daquela tintura preta; e o resto, tudo da sua própria
cor. Outra trazia ambos os joelhos, com as curvas assim tintas, e
também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas e com tanta
inocência descobertas, que nisso não havia nenhuma vergonha.

Essa pode ter sido a impressão que custou a honra de muitos caciques,
visto que em relatos de muitos historiadores como Janote, muitas esposas e
filhas de caciques e todas aquelas desejadas pelos europeus foram estupradas
na frente de seus pais e maridos, a ponto de os índios os chamarem de bestiais,
eu me pergunto quem eram os atrasados culturalmente, a degradação e o
conflito eram inevitáveis. Janote afirma em suas pesquisas feitas em Portugal
que os bebês índios eram arrancados do colo de suas mães e atirados de cabeça
nas pedras, e diziam as gargalhadas "vamos ver se esses animaizinhos
sobrevivem", há um relato de um capitão de uma nau que ao desembarcar em
uma praia começaram a matar os índios e colocar lado a lado, só parando
quando atingiram três kilômetros de mortos, era uma verdadeira caça ao lebre
ou a raposa, esporte de caça que divertia os europeus em seus reinados. Nunca
houve e não haverá tribunal de guerra para esses assassinos bárbaros e cruéis
que dizimaram os filhos da terra. Afirma Janote (2000):
Começando os cristãos a tomar as mulheres e filhos dos índios para
servir-se e para usar mal deles [...] começavam a entender os índios
que aqueles homens não deviam ter vindo dos céus [...] os cristãos
davam-lhes bofetadas, de punhos e paus até por suas mãos nos
senhores dos povoados. e chegou isto a tanta temeridade e
desavergonha que ao maior rei (cacique), senhor de toda ilha, um
capitão violou por força a própria mulher dele... os cristãos com seus
cavalos e espadas e lanças, começaram a fazer matanças e
crueldades estranhas neles. Entravam nos povoados, nem deixavam
meninos nem velhos, nem mulheres grávidas ou páridas que não
desbarrigassem e faziam em pedaços, como se fossem cordeiros
75

metidos em seus apriscos (currais), Faziam apostas sobre quem de


uma cutelada abria um homem pelo meio. tomavam os bebês das tetas
das mães para atirar-lhes nas pedras.

Porque em tantos anos nos castraram essa verdade, que tamanha


crueldade nunca vista nem entre os animais mais pérfidos, e hoje muitos
acreditam que nada devemos a esses brasileiros, nem mesmo o direito de terem
suas culturas preservadas. Recentemente havia um projeto de lei PEC que
queria rever mesmos as terras indígenas já demarcadas, a questão está longe
de ter fim, não fosse o CIMI, os ONG'S em defesa dos índios como disse o
cacique Xicão já não havia mais índios no Brasil, já estavam todos mortos.

LÍNGUAS FALADAS NO BRASIL


Quando fazemos essa pergunta aos brasileiros - Qual a língua falada no
Brasil? - a maioria afirma categoricamente que é o português, no entanto temos
uma riqueza e uma diversidade de línguas que aproximadamente chegam a 250,
as diversas etnias dos povos indígenas tem sua língua própria. Hoje aos poucos
elas vão desaparecendo e a FUNAI já começou a dar como línguas extintas
aquelas que poucas pessoas falam, é como se a história de nossa identidade
fosse morrendo aos poucos, a formação do povo brasileiro em 1500 deu-se
basicamente do índio (dono da terra), o branco (europeu que invadiu suas terras,
matou, explorou e escravizou nossos índios), o negro (vendido com escravo em
sua maioria de africanos capturados até pelas tribos rivais e vendidos aos
contrabandistas de escravos), e os imigrantes que em massa aqui chegaram no
século XX, foram o toque final desse povo bonito e alegre que é o brasileiro, as
pessoas de outros países vem ao Brasil pois não mudamos desde a colônia,
somos alegres e esse é o nosso grande tesouro, somos uma bela nação,
devemos ter orgulho de nossa diversidade cultural, aqui todos convivem em paz,
árabes, judeus, europeus, americanos... somos um povo de paz profunda que
tem em sua origem a garra e o sossego dos índios.
Após o depósito do meu artigo científico na pós graduação da
Universidade Católica Dom Bosco - MS, meu artigo foi aceito como projeto para
o mestrado, sendo por sugestão do orientador, que eu pesquisasse as cento e
sessenta e cinco palavras que restaram no povo Xukuru, e desenvolvesse um
projeto para resgatar outras palavras, como eles estou também a caminho da
76

luta, esperando contribuir com eles nessa área da linguagem da qual sou
psicopedagogo. Mas para minha surpresa os Potiguaras na Paraíba tinham o
mesmo problema e num congresso indígena na cidade de Santa Cruz - RN o Dr,
em antropologia Adriano descreveu que eles estavam completando as palavras
que faltavam com o dicionário tupy que foi escrito pelo Padre José de Anchieta,
achei uma iniciativa louvável e muito eficiente.

OS DOIS TRONCOS LINGUÍSTICOS DO BRASIL


1 - TUPI
FAMÍLIAS:
TUPI--GUARANI
TUPI--GUARANI moderno
nhengatu

2 - MACRÔ - JÊ
FAMÍLIAS:
BORORO
bororo
OFAYÉ
Ofayé
ofayé-xavante
opaie
YATHÊ
Yathê
Iatê
Fulniô
carnijó
RIKBAKTSÁ
Rikbatsá
erikpaksú
KRENÁK
kranák
JABUTI
Jabuti
arikapu
MAXAKALI
Maxakali tikmu'um
GUATÓ
guató
KARAJÁ
Karajá
karajá
javaé
xambiaú

AKWÉN
Xakiobá
Xavante
xerénte
APINAYÉ
77

KAIGANG
kaigang do Paraná
kaigang central
kaigang do sudoeste

KAYAPÓ (MEBENGOKRE)
gorotire
KARARAÔ
KOKRAIMARA
KUBENKRAKENG
MENKRONGNOT
MENTUKITIRE (txucarramae)
SUYÁ (kisédjê)
suyã tapayúno
TIMBIRA
canela aponiekro
canela romkokamekra
gavião do Pará
gavião do Maranhão
kronô
krikatí (krienkati)
XOKTÉNG
KARIB
aparaí do Pará
aparaí do Pará
bakain
golibi do oiapoque
hixikang
ikipeng
ingarirú
kaxunyóna
kaxunyóna
shikuyána
makuxi
mayongóig
makiritóre
yekuond
taulipang
pemong
tiriyo
tirio
trio
waimiri
waimiri - atroari
wai - wai
wayóna
língua karib do Alto Xinguana
Xinguana
kuikuro
kaipalo
matipu
nahukwá

LÍNGUAS ISOLADAS
FAMÍLIAS:
1 TRUMAI
2 PIRAHÃ
3 JABUTI
4 AIKANÃ
78

5 KANOÊ
6 KWAZÁ
7 IRÂNTXE
8 MYNKÝ
9 TIKUNA
fonte: Dennis Moore47 (2008)

1.5 NOMES IMPORTANTES DO INDIGENISMO NO BRASIL E NO POVO XUKURU


Talvez muitos desses nomes sejam novos para muitos dos brasileiros,
para mim também o foram quando estava na biblioteca da FUNAI em Brasília e
percebi que ela se chamava "Biblioteca Curt Nimuendaju", ao conversar com a
bibliotecária ela me mostrou as obras de Curt, e o primeiro mapa de etnografia
que ele fizera em todo Brasil, um trabalho tão bom e preciso que foi vendido para
dois museus da Europa e o terceiro foi doado ao museu do estado do Pará. Muito
provavelmente não se tem a pretensão de citar todos os nomes, mas
principalmente aqueles em que há mais literatura disponível. Em seu mapa
etnográfico cada cor significava um povo indígena, foi mapeado suas línguas e
seus troncos linguísticos, foi ele quem começou a desvendar os povos indígenas
do Brasil.

1.4.1 CURT NIMUENDAJU (Curt Unkel )

47
MOORE, Dennis.Desafio de documentar e preservar línguas. publicação de artigo na Scientific
American. 2008
79

Mapa etnográfico de curt reduzido (scaneado da biblioteca da FUNAI - Brasília) - a


seta vermelha é indicativa do povo Xukuru já desenhada por Curt

Ele foi sem dúvida, de acordo com o escritor Virgílio Corrêa, 'o mais
profundo conhecedor dos aborígenes do Brasil', era fascinado pelas fábulas das
florestas da Turíngia desde criança. Ele foi um artesão que aos 16 anos tornou-
se aprendiz de mecânico ótico da empresa Zeiss, onde deve ter adquirido a
habilidade de trabalhar em pequena escala. Não fez universidade, preferia ter
uma vida de aventura pelo mundo, mas seu trabalho elogiado e comprado por
doutores de museus e etnólogos de todo mundo seus diários de campo viraram
relíquias expostas em museus europeus como Louvre na França, mas sua maior
doação foi ao museu do Brasil na cidade de Belém do Pará - Museu Emílio
Goeldi. Junto com imigrantes aportou em São Paulo e de lá se aventurou pelas
matas do nosso rincão, leu O Guarani e se encantou com a obra, indo morar
80

numa taba na cidade de Batalha, sendo batizado pelos índios de Nimuendaju,


nome ao qual pronunciava com grande orgulho. Assim nos afirma Virgílio48.
Não exagerava na declaração verídica. Definiu-se-lhe o destino
glorioso, naquela experiência inicial, que lhe permitiu a convivência
com os nativos. De tal maneira se lhes afeiçoou, tão sinceras se
repetiam as provas de sua amizade leal, que resolveram aplicar-lhe
apelido indicativo de transformação pessoal. Como simples criança, ao
receber o nome que a individualize, submeteram-no á cerimônia do
batismo, presidida pelo pajé.
Ao fim, o hóspede perdera o nome primitivo de Curt Unkel,
substituido pelo de Curt NIMUENDAJU, que significa: 'o ser que cria ou
faz o seu próprio lar'.

Ele foi um dos primeiros filhos de indígenas adotado segundo o relato de


Virgílio. Quanto mais estudava mais se afeiçoava aquela gente desprovida de
códigos penais, e começou a viver dos seus mitos, lendas, heróis e ia se
transformando aos poucos num dos maiores defensores da causa indígena, sua
aceitação entre os índios só pode ser comparada a do Marechal Cândido
Mariano Rondon. Ao retornar para São Paulo já possuía em mãos um brilhante
trabalho, não aceito pelo diretor do Museu do Ipiranga, integrou ao SPI - serviço
de proteção ao índio - em 1911, mesmo não tendo cursado as certeiras
universitárias do mundo acadêmico seus trabalhos forma divulgados em 1914
em revistas especializadas de etnologia de Viena, Berlim, Paris, Stutgard e
outras, em seus escritos sempre se referia aos índios como meus irmão, tendo
recebido grande formação pelos pajés, caciques e tantos índios que o amavam.
Trabalhou durante quarenta e três anos em campo com os índios e
publicava obras para diversos museus nacionais e também internacionais, mas
suas maiores e melhores obras ficaram na terra de seus irmãos, o Brasil.
Sua mais rica obra é o mapa etnográfico que descreve com precisão
minuciosa os povos indígenas do Brasil, como topógrafo e cartógrafo, ele mesmo
pintava á pena seus trabalhos com um rigor metódico de um cientista.
Homem simples que trabalhava mais pela paixão do que pelo dinheiro, ao
ser interpelado por Herbert Baldus para detalhar sua biografia ele respondeu:

48
IBGE - Mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju. Rio de Janeiro: 1987
81

'Quer que lhe mande uma história da minha vida, é simples? Nasci em
Jena, no ano de 1883, não tive instrução universitária de espécie
alguma, vim para o Brasil em 1903, tinha como residência permanente
até 1913 São Paulo, e depois Belém do Pará, e em todo o resto foi, até
hoje, uma série ininterrupta de explorações, das quais enumerei na
lista anexa aquelas de que me lembro. Fotografia minha não tenho'.

Certamente não era a biografia que o Dr. Herbert Baldus esperava, mas
a expressão 'todo o resto foi até hoje, ao se referir aos quarenta e dois anos de
exploração, dava-lhe o mais nobre dos títulos que nenhum etnógrafo possuía e
o que validava suas pesquisas. A biblioteca de Curt está no Museu Nacional.
Em minhas pesquisas para a pós-graduação estudei atentamente os
escritos de Curt, seus mapas, pois uma questão não conseguia esclarecer com
precisão em Pernambuco, quantos povos indígenas tinham originalmente, antes
da invasão e extermínio português, ele nos mostra no seu mapa que haviam 44
etnias, hoje só restam 8 e as 36 forma extintas com suas culturas, costumes e
línguas que não se pode mais recuperar, ao menos sobraram-lhe o nome pelas
quais serão lembradas. São tão ricos os livros do Curt que este ao qual estudo
possui 973 citações, com uma boa segurança afirmo que em questões
etnográficas ele foi um gênio.
Em 1901 ele fez parte de uma expedição Sueca na cordilheira, em 1913
era o superintendente do museu de Gotemburgo e em 1924 era professor de
etnografia do mesmo. Em 1922 produziu o único e melhor mapa etnográfico da
história indígena brasileira todo feito a mão, com capricho e carinho, usando
penas e tintas disponíveis na época criando uma metodologia própria que até
hoje é copiada e estudada em muitas universidades.
Muitos museus financiaram sua pesquisa pois o museu nacional pouco ou
quase nada liberava em fundos para que o mesmo pudesse arcar com as
pesquisas, e aqui quero fazer uma crítica a nossa nação, ainda hoje ao visitar
sítios arqueológicos no Brasil vejo mais investimento internacional do que
nacional, além do fato de que alguns sítios são coordenados por doutores de
outros países, que recebem mais financiamentos do exterior do que muitos de
nós, falo por mim mesmo, há trinta anos faço pesquisas indígenas e nada ganhei
de auxílio para pesquisar, foi tudo por conta própria, esperamos que essa
situação mude pois pesquisa é o braço forte da educação e ela não deve ser
82

financiada apenas para os pesquisadores das universidades federais, também


devem ser financiadas a pesquisadores como Curt.
Curt é o responsável pelos dez volumes da historiografia dos índios
sulamericanos, em sua maior extensão o BRASIL, que foi financiado em parte
pelo cônsul geral Axel Johnson, com dinheiro e meteriais que eram necessários
para pesquisa e que não haviam no mercado brasileiro, o fato é que as
exportações da Suécia para o Brasil saíram de £ 5.500 coroas suecas em 1904
para £ 126.830 em 1913.
Sua primeira obra escrita por ele mesmo data de 1914 aos 31 anos de
idade com o título 'A lenda da criação e destruição do mundo como fundamento
da religião dos Apapocuva-Guarani' ao qual o pesquisador Zeitschrift considera
monumental. De 1915 até 1945, ano de sua morte fez publicações regularmente,
a partir de 1923 o jornal parisiense 'Journal de la société des Américanistes'
publica seus artigos regularmente, além de vários doutores alemães como
Robert H. Lowie que compartilhavam seus escritos tornando o nome de Curt uma
celebridade.
As suas monografias, também publicadas em inglês como volumes de
séries acadêmicamente legitimadas e legitimadores, sobre os Apinajé,
os Cherente e os Tukuna, inscreveram o seu nome na relação dos
etnólogos consagrados, e que dominam os circuitos de comunicação49.
A biblioteca de Curt espalhada pelo mundo é uma rara obra consagrada
em grandes museus e no mundo acadêmico internacional e era constituída de
'folhetos, separatas, números avulsos de periódicos especializados, e assim por
diante, quando vi o tamanho original do mapa de Curt na biblioteca da FUNAI
em Brasília fiquei abismado primeiro pelo tamanho do mapa e segundo pela
minunciosidade do trabalho feito, destacando o povo de cada etnia em curva
acompanhando os cursos de água como faziam os indígenas, uma cor para cada
povo em uma legenda multicolorida, nunca foi feito nem antes e nem depois dele
um trabalho tão rico que entrou para os analles da história do Brasil e do mundo.
É de sua autoria segundo o próprio “a classificação liguística da quase totalidade
das tribos, linguisticamente documentadas foi examinada ou mesmo feita só por
mim”, Curt desenhou nada menos que três exemplares do mapa em igual
perfeição para o museu paraense Emílio Goeldi, outro para a Smithsonian

49
Ver nota IBGE - Mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju.
83

Institution e outro para o museu nacional, feito por último e por isso mais
completo que para fazer esse mapa valeu-se de nada menos que 580 fontes.
Ao todo ele fez 34 expedições, sendo muitas delas feitas durante anos
cada uma 'identificando uma milhar e meio de tribos indígenas', ele soube unir
seus talentos mais valiosos neste empreendimento que eram suas habilidades
de artesão e de fiel e determinado pesquisador.
Nimuendaju descobriu 32 troncos linguísticos e mapeou a frequencia com
que se repetiam nos povos indígenas, nunca ninguém pensara em fazer tal
análise, entre elas o Aruak que ele encontrou em duzentos povos indígenas essa
língua que hoje está extinta, o Karib falado por 170 povos, o Tupi foi um dos
recordistas era falado na época de Curt por 250 povos só perdendo para as
línguas desconhecidas que eram faladas por 590 povos. Encantei-me como
pesquisador pela veridicidade de seu trabalho, entristece-me apenas a pouca
divulgação histórica da nossa riqueza cultural muitas vezes mais valorizada fora
do Brasil do que aqui dentro.
Os relatos de Charlotte Ememerich e Yonne Leite do Museu Nacional
sobre um pequeno bilhete de Curt deixa transparecer o suor e sofrimento das
condições adversas encontradas por ele em meio as selvas e na confecção do
mapa, trabalhando horas a fio, como o mesmo relata:
Comecei o trabalho dia 5 de setembro. Vae progredindo devagar
porque não aguento mais que umas cinco horas por dia na posição
forçada a que o tamanho do mapa me obriga. Creio que estará prompt
até o fim do anno. Quando o mapa chegar no Museu a Snra me dirá si
isto é ou não um trabalho de quatro meses - Curt.

Esta foi sua obra mais completa, minuciosa, bem trabalhada, detalhada,
e acima de tudo o mais rico documento da nossa identidade nacional. Sua
grande tristeza ao ficar doente foi não mais poder voltar a estar entre os seus
amados irmãos índios, ainda voltou e aos 10 de dezembro de 1945 faleceu
CURT NIMUENDAJU entre os irmãos Tikuna, seus amigos de longas datas.
Depois de sua morte foi praticamente impossível as gráficas e ditoras
reproduzirem a sua obra pela grande quantidade de cores e detalhes, antes
nunca visto, em termos antropológicos é a maior obra brasileira.
84

George Zarur afirma sobre os ameríndios que caçadores e coletores


tiveram maior capacidade de sobrevivência e resistência devido a sua eficiência
em uma estrutura militar.

1.4.2 DARCY RIBEIRO


Ainda que ele tenha uma visão romântica da formação de nosso povo, sua
brilhante obra ao discorrer sobre o povo brasileiro, Darcy50 assim se define
resumidamente: Antroplólogo, ensaísta, romancista e político, Darcy Ribeiro
nasceu em Montes Claros, MG, em 1922. É autor de, entre outros, O processo
civilizatório (1968), Os índios e a civilização (1970), Maíra (1976), O mulo (1981),
Utopia selvagem ( 1982) e Migo (1988). Planejou, implantou e fundou a
Universidade de Brasília UNB.
Foi ainda ministro da Educação, de chefe do Gabinete Civil do presidente
João Goulart, com a missão de concatenar o Movimento Nacional pelas
Reformas de Base.
Assim como nos mostra o historiador Janote (2000), Darcy também
afirma categoricamente que a invasão brasileira foi um horror para os índios que
só tinham a perder, suas terras, seus bens, sua dignidade e sua vida, nossos
indígenas eram fortes, belos, alegres e felizes pois tinham tudo o que precisavam
em fartura, e os europeus que aqui chegaram cheios de arrogância e pestes
adquiridas nas travessias com escorbuto, e outras moléstias adquiridas no mar:
"Para os que chegavam, o mundo em que entravam era a arena dos
seus ganhos, em ouro e glórias. Para os índios que ali estavam, nus
na praia, o mundo era um luxo de se viver. Este foi o encontro fatal que
ali se dera. Ao longo das praias brasileiras de 1500, se defrontaram,
pasmos de se verem uns aos outros tal qual eram, a selvageria e a
civilização. Suas concepções, não só diferentes mas opostas, do
mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram cruamente. Os
navegantes, barbudos, hirsutos, fedentos, escalavrados de feridas de
escorbuto, olhavam o que parecia ser a inocência e a beleza
encarnadas. Os índios, esplêndidos de vigor e de beleza, viam, ainda
mais pasmos, aqueles seres que saíam do mar."

50
Ribeiro, Darcy. O Povo Brasileiro, A formação e o sentido do Brasil. Companhia das Letras, Segunda
edição. São Paulo– 1995.
85

Em muitas pesquisas feitas a pergunta que deu origem a obra de Darcy,


encontramos a mais bela afirmação sobre nosso passado e nosso futuro, nossa
gente e nossa identidade.
Somos uma nova Roma, lavada em sangue negro e sangue índio,
destinada a criar uma esplêndida civilização, mestiça e tropical, mais
alegre, porque mais sofrida, e melhor, porque assentada na mais bela
província da Terra.

Que povo não ficaria maravilhado com uma definição tão bela e carinhosa
da formação da nossa identidade. O nosso futuro, ele o descreve porque tem
uma fé gigante, mas principalmente por amar o nosso país e a nossa gente, ele
acredita em nós brasileiros de uma forma que nós ainda não acreditamos.
Precisa agora se‐lo no domínio da tecnologia da futura civilização, para
se fazer uma potência econômica, de progresso auto‐sustentado.
Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma
nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais
alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais
humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas
as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e
luminosa província da Terra.

Darcy sempre via no Brasil um povo só, uma nação unida pelo que há de
mais belo e semelhante apesar das diferenças regionais de cada região e suas
particularidades, sonhava com uma nação forte e unida por suas matrizes que
mais davam força para sermos o povo do futuro, que vive em paz mesmo em
suas diferenças, aqui não brigando o árabe e o judeu, aqui todos se entendem.
Mais que uma simples etnia, porém, o Brasil é uma etnia nacional, um
povo‐nação, assentado num território próprio e enquadrado dentro de
um mesmo Estado para nele viver seu destino. Ao contrário da
Espanha, na Europa, ou da Guatemala, na América, por exemplo, que
são sociedades multiétnicas regidas por Estados unitários e, por isso
mesmo, dilaceradas por conflitos interétnicos, os brasileiros se
integram em uma única etnia nacional, constituindo assim um só povo
incorporado em uma nação unificada, num Estado uni‐étnico. A única
exceção são as múltiplas microetnias tribais, tão imponderáveis que
sua existência não afeta o destino nacional.
86

Ao ler Darcy somos obrigados a entender que é mais que um dever


recontar a história do nosso país, falando dessa vez a verdade, pois nossos
compatriotas negros, índios e pobres já pagaram essa conta ao custo de muito
sangue, por isso resolvi fazer aos 47 anos a graduação de história para ter o
direito de contá-la, escrevê-la e propagá-la, agora não mais pelo ponto de vista
daqueles que dominaram e até mesmo de dominados que chegam ao poder e
se esquecem de seus propósitos mais nobres e passam a dominar ainda com
mais tirania em uma corrupção que leva a nação a bancarrota, esse era o desejo
de Darcy, como ele mesmo falava ao escrever esse livro que muito foi criticado
pelos comunistas porque não era um livro de esquerda e pela direita porque era
comunista, nosso compromisso seja então com a verdade, aliás lembro as
palavras de Jesus, busque a verdade e ela te libertará, creio que muito mais da
ignorância, opressão e principalmente da cegueira social pregada até hoje em
nosso currículo escolar.

história. Ao contrário do que alega a historiografia oficial, nunca faltou


aqui, até excedeu, o apelo à violência pela classe dominante como
arma fundamental da construção da história. O que faltou, sempre, foi
espaço para movimentos sociais capazes de promover sua reversão.

1.4.3 DOM PEDRO CASALDÁLIGA (Bispo de São Félix do Xingú)


Muitas vezes correndo risco de morte enfrentou fazendeiros, grileiros e posseiros que
tinham capangas armados para expulsar os índios de suas terras, durante o regime
militar, a ponto da Santa Sé pedir proteção as forças armadas do Brasil para ele, o
general mandou uma companhia para falar com cada um dos fazendeiros e intimidá-los
que se algo ruim acontecesse a Dom Pedro ele levaria todos os fazendeiros presos,
somente assim os ânimos se acalmaram e a santa sé resolvel sagrá-lo Bispo de São
Félix do Xingú, para dar mais poder a sua voz e autonomia na luta.

1.4.4 IRMÃOS VILLAS BOAS


Segundo Orlando Vilas Boas existem quatro grandes famílias linguísticas
nos povos indígenas do Brasil a saber:
1. KARIB
2. ARUAK
3. TUPI
87

4. IG
Aquelas línguas que não se enquadram nestas são chamadas línguas
isoladas, sendo os Xukuru's considerados pela FUNAI (Fundação Nacional do
Índio) em questões linguísticas como uma língua isolada.
1.4.5 NOEL NUTELS

1.4.6 Pe ANTÔNIO VIEIRA


Vou começar falando deste grande ícone defensor da causa indígena, que
foi capturado pelos índios em São Paulo e sobreviveu, ainda conquistando os
índios: “Não hei de pedir liberdade... senão justiça ”

1.4.7 Pe JOSÉ DE ANCHIETA


José de Anchieta nasceu em San Cristóbal de La Laguna, na ilha de
Tenerife, nas Canárias, pertencente à Espanha, no dia 19 de março em 1534 e
era filho de João Lopez de Anchieta, fidalgo basco, e Mência Dias de Clavijo y
Lerena, descendente dos conquistadores de Tenerife, foi um padre jesuíta
espanhol. Com 14 anos de idade, juntamente com seu irmão mais velho vai para
Coimbra e ingressa no Real Colégio das Artes, onde estuda humanidades e
filosofia. Em 1550, Anchieta candidata-se ao Colégio da Companhia de Jesus,
em Coimbra, e em 1551 é recebido como noviço. Em 1553 é escolhido para as
missões em terras brasileiras. Com um grupo de religiosos, integra a frota de
Duarte da Costa, segundo Governador-Geral do Brasil, enfrentando 65 dias de
viagem, chefiados pelo Padre Luís de Grã. Ao descer na Capitania de São
Vicente, Anchieta teve seu primeiro contato com os índios. A ação dos jesuítas
na catequese dos índios se estendia de São Vicente até os campos de
Piratininga. Dedicou-se ao trabalho de educar os filhos dos colonos, a pacificar
e catequizar os índios. Participou da Fundação de São Paulo. Lutou pela
expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Viajou para Bahia, onde foi ordenado
padre. Escreveu cartas, sermões, poemas, peças teatrais e a Gramática Tupi,
que foi usada em todas as missões dos jesuítas. Eles tinham o objetivo de
catequizar os índios carijós, subiram a Serra do Mar, rumo ao Planalto, onde se
instala e funda o Colégio Jesuíta.
No dia 24 de janeiro de 1554, dia da conversão do Apóstolo São Paulo,
celebra uma missa, em sua homenagem. Era o início da fundação da cidade de
88

São Paulo. Logo se formou um pequeno povoado. José de Anchieta aprendeu a


língua tupi, o que mais tarde lhe permitiu escrever a Gramática tupi, que seria
usada em todas as missões dos jesuítas.
Em 1577 ele estava com 43 anos de idade e já estava no Brasil há 24,
ele foi designado provincial, o mais alto cargo da Companhia de Jesus
no Brasil. Com a função de administrar os Colégios Jesuítas do país,
viaja para várias cidades, entre elas, Olinda, Reritiba (hoje Anchieta)
no Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santos e São Paulo. Foram 10 anos
de visitas.51

Faleceu no dia 9 de junho de 1597, já doente vai para Reritiba, aldeia que
fundou no Espírito Santo, onde passa seus últimos dias.
Segundo Ramos (2003)52, Anchieta foi responsável por criar a primeira
gramática da língua tupi, também criou o método de ensino do Evangelho
incorporado a cultura indígena o que a Igreja Católica só viera formalizar no
Concílio Vaticano II em 1965, criando assim uma forma de expandir o
conhecimento cristão o que em certas ocasiões os salvava das mãos dos
apresamentos pelos colonizadores. Ele pregava em forma de poemas, peças de
teatro e foi o fundador de São Paulo, aos moldes de Francisco de Assis era
encontrado pelos índios conversando com os animais, o que fazia crescer ainda
mais seu prestígio entre os habitantes da terra. Hoje os vocábulos estão sendo
recriados entre os povos indígenas que já não dispõem de palavras e outros
tantos são completados com a gramática de Anchieta, tamanho foi o seu legado
para a causa dos índios.
Aos dez anos 'O apóstolo do Brasil' como ficou conhecido decidiu viver
para a caridade franciscana, renunciando ás coisas materiais para proteger os
humildes e indefesos. Com mais seis jesuítas viajou no porão de um navio com
destino a terra brasilis. Quase todos os padres que vieram na expedição de
Duarte da Costa eram professores e muitos sofriam de alguma enfermidade
como mostra Ramos:
Os males de todos, do superior Luíz de Grã até ele, o mais novo dos
irmãos, foram considerados incuráveis. Como ficou registrado em
Coimbra, num documento de 1553, 'o padre doutor só lhes dera licença

51
http://www.e-biografias.net/jose_anchieta/ com acesso em 10 de nov de 2015
52
Ramos, Luciano. José de Anchieta: poeta e apóstolo. São Paulo: Ed Paulinas, 2003.
89

para partir depois de terem argumentado que os deixasse morrer entre


os infiéis porque, ao menos para o ensino das crianças, lá poderiam
servir'.

O documento registrado em Coimbra mostram os personagens que eram


enviados ao Brasil na expansão marítima para colonizar nosso país, as
preocupações de Anchieta iam além da catequese, pois suas próprias palavras
nos direcionam a pensar que temia esse encontro de degredados e os inocentes
aborígenes ameríndios.
'quanto a mim, para variar, vou descascar batatas e ajudar na cozinha,
depois de cuidar de nossos irmãos doentes. Somos privilegiados por
estarmos viajando na nau do governador. Não lhe parece? Está
brincando José. Aqui trabalhamos em dobro e não conseguimos dormir
nem rezar em paz. Pensei que vínhamos para espalhar o Evangelho e
não para ensinar marujos e degredados como se pronunciam duas
frases sem usar palavrões, nem jurar pelo santo nome... e lá - disse
outro padre - um varão pode viver com muitas delas sob o mesmo teto.
E olhe que elas não fazem caso desse incomodo e permitem-se viver
em plena promiscuidade. Imagine como hão de se comportar esses
marujos numa terra dessas. Preciso dizer mais?

A informação que Anchieta tinha era a de que os brasis matavam-se uns


aos outros para comer, não porque tivessem fome, mas porque era da cultura
deles, era sua tradição de longos tempos, eles se dividiam em vários clãs e vivam
constantemente em guerra uns contra os outros53.

Se os portugueses roubaram as terras dos Tupis, estes as tomaram


muito antes de outra nação americana que, por sua vez, já as tinha
arrebatado de habitantes muito mais antigos. Os prisioneiros dessas
guerras que se iniciaram há milênios são geralmente devorados em
rituais tenebrosos.

Os relatos de naufrágios pela costa brasileira de diversos jesuítas é


grande 'parecia até que os ventos, o mar, as nuvens tivessem vontade própria,
seria possível dizer que tentaram barrar a tropa jesuíta em sua trajetória pela

53
Ramos, Luciano. José de Anchieta: poeta e apóstolo. São Paulo: Ed Paulinas, 2003. pp 14 e 15
90

costa brasileira' e nesses contatos achavam os índios que os padres fossem


pajés ou feiticeiros, assim narra ele em sua obra:
Os índios são fascinados por tudo que é dito com arte e beleza. Até
aceitam que se fale da morte, que tanto temem, quando isso é feito na
poesia de um ritual. Julgam que os padres são como feiticeiros,
capazes de lhes oferecer saúde física além de conforto pessoal.

O encontro dos ameríndios com os colonizadores fossem eles


portugueses, espanhóis, franceses era inevitável e em todo caso a catequese
seria um dos pontos principais, talvez na época se imaginasse que a causa era
nobre, mas no final se mostrou desastrosa a colonização, a maioria dos índios
morriam de doenças, outros tantos assassinados pelos colonizadores que eram
degredados ou como se falava 'não existe pecado abaixo da linha do equador'
tudo era permitido, ainda mais quando se tratasse dos infiéis, assim dizia o
monarca português. 'A principal causa que me moveu a mandar povoar as ditas
terras do Brasil foi para que a gente delas se convertesse á nossa fé católica'.
Nesse contato com os índios Anchieta organizou e criou a gramática Tupi,
mas não imaginava que em 2015 ela seria usada para restaurar a língua de
muitos povos indígenas no Brasil, como foi o caso dos potiguaras 'comedores de
camarão' na baía da traição na Paraíba.

Bíblia em língua Tupi - Pe José de Anchieta -museu do índio Brasília

NOMES IMPORTANTES DO INDIGENISMO XUKURU


91

Por todos os estados do Nordeste brasileiro que passo em pesquisas,


percebo o discurso: há índios no Nordeste? Esse discurso é fruto de pesquisas
e colocações dos trabalhos de escritores e estudiosos, como Gilberto Freyre,
Estevão Pinto, Câmara Cascudo, que são categóricos em reafirmar que os
'indígenas desapareceram no processo de miscigenação racial, integração
cultural e dispersão no conjunto da população regional', esse discurso é repetido
pela população e por vezes pelos próprios índios, como ocorreu com os
Xukuru's, não fosse o trabalho do CIMI - Conselho Indigenista Missionário em
reafirmar os seus valores e cultura certamente tinham desaparecido.
Luís Cristovão dos Santos foi um escritor pesqueirense que escreveu
muitos livros sobre a cidade de Pesqueira e sobre os índios, porém sempre
tomando o partido das elites, seus livros foram aclamados e receberam diversos
prêmios literários como afirma Silva54 (2008):
Em 1953, ele publicou Carlos Frederico Xavier de Brito: o
“bandeirante” da goiaba Trata-se de um livreto de 29 páginas,
contendo a biografia laudatória e bajulatória, como bem
expressa o subtítulo, do fundador da fábrica de doces Peixe. O
texto foi escrito por ocasião do centenário de nascimento do
Coronel da Guarda Nacional, considerado o grande industrial
pioneiro de Pesqueira, patriarca da Família Brito tradicional
invasora das terras do Aldeamento de Cimbres.

Silva (2008) afirma em sua pesquisa que os livros de Santos tinham


grande impacto na sociedade pesqueirense por sua biografia e seu
conhecimento:
Luís Cristovão dos Santos era natural de Pesqueira, onde seu
pai foi farmacêutico. O autor viveu parte de sua infância no
Sertão pernambucano, na cidade de Custódia, retornando
posteriormente ao lugar aonde nascera. Estudou Direito no
Recife. Como advogado e promotor público nas décadas de
1950/60, conheceu e atuou em fazendas, vilas, povoados e
cidades do Agreste e Sertão pernambucano. Seus livros de
crônicas evocam suas lembranças, com narrativas sobre
diversos personagens todos ambientados nas regiões onde
atuou: coronéis, políticos, fazendeiros, padres, cangaceiros,
cegos, cantadores, dentre outros.

Pedro Roeser era o Abade do Mosteiro Beneditino de Olinda, fez muitas


publicações sobre os índios do Nordeste ao longo de 1922, embora não falasse

54
Silva, Edson Hely. Xukuru: Memórias e história dos índios da Serra do Ororubá
(Pesqueira/PE), 1950-1988. Tese de doutorado. UNICAMP, Campinas - SP, 2008
92

bem dos índios já que afirmava não haver mais índios no Nordeste, como afirma
Silva (2008):
“homem de ciência”, já que era sócio do IAGHP - Instituto
Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco -
Possivelmente ele era visto como representante do universo
intelectual católico romano, em um ambiente que reunia a elite
pensante de Pernambuco que, no início da década de 1920 era
tributária de idéias do ainda tão próximo século XIX. No seu
texto, quando tratou sobre os índios, o religioso estava em
consonância com a discussão do IAGHP, ou seja, a opção por
uma visão civilizatória na qual os índios desapareceriam,
transformados em caboclos como expressavam outros textos
publicados por sócios daquele Instituto.

Padre Raphael de Meira Lima era o pároco da freguesia Cimbres em 1922


e fez alguns escritos sobre os índios embora afirmasse que 'as manifestações
indígenas não passavam de “divertimentos” que eles tinham como uma
cerimônia religiosa de devotos', assim afirmou ele55:

Elles não há dúvida, dão ou pretendem dar taes divertimentos


como uma cerimônia religiosa, tanto mais que há quem faça
promessa para dansar o Toré em honra de N. Snra. Das
Montanhas, a quem tem elles muita devoção. Dizem elles, que
esta imagem appareceu no tempo da cathechese dos religiosos
de S. Felippe Nery, que lá tinha um convento[...] Esses índios
conservam a tradição de uma dansa religiosa, chamada o Toré,
a qual elles executam todos os annos, na villa, nas vésperas de
S. João e de São Pedro. Apresentam-se vestidos com um efeite
de palhas e ramos, trazendo a mais uma grande canna de
assucar nos hombros. Assim passam uma noite com uma dansa
monótona, repetindo a mesma cantiga, acompanhada ao som
de 2 ou 3 pifanos. (transcrito da mesma forma, com o português
da época)

Mário Melo também escritor e cronista, encontra-se com o etnólogo


alemão Nimuendajú quando o mesmo voltava da Suécia e lhe passa informações
sobre os 'xucurus', pois queria estudá-los e também aos remanescentes
indígenas de Pernambuco e começou suas investigações por Cimbres no antigo
aldeiamento.
Nimuendajú foi a Cimbres e lá fez suas pesquisas sobre os índios,
repassou as informações para Mário Melo que escreveu seus artigos com base
nas pesquisas do alemão, Silva (2008):

55
Silva, Edson Hely. Xukuru: Memórias e história dos índios da Serra do Ororubá
(Pesqueira/PE), 1950-1988. Tese de doutorado. UNICAMP, Campinas - SP, 2008
93

Escreveu Melo: “Existem ainda cerca de 50 indivíduos, já


cruzados alguns, porém que conservam estigmas dos
ameríndios, como tais facilmente reconhecíveis, apesar de
ausência completa de semelhança com o mongol”[...] O autor
pernambucano fez mais uma comparação com os Carnijós de
Águas Belas, acentuando que, contrariamente àqueles, os de
Cimbres “vivem desagrupados” e “já não conservavam
tradições, nem religião”. “Quase que perderam a língua”, mas
guardavam ainda algumas palavras, faladas com o português
“em forma de gíria”.

Seu golpe final sobre os Xukuru's foi quando escreveu conforme afirma
Silva, chamando-os de rancorosos por que os brancos haviam tomado suas
terras.
Sobre a religião, Mário Melo escreveu que se tratava de “uma
espécie de idolatria, por infiltrações do catolicismo”. E ainda:
“Sabem, perfeitamente, que descendem da tribu xucurú, que
ocupou aquela região, tem orgulho da sua procedência e se
julgam superiores aos outros habitantes, guardando rancôr dos
brancos por lhes haverem tomado as terras”. (grifo nosso)

Ao final de sua obra, baseada nos estudos e pesquisas de Curt


Nimuendajú, Melo afirma que é necessário estudar e conhecer esses povos que
estão desaparecendo e que este material cultural poderá ser apagado da
história, mesmo havendo milhares de índios morando no extinto aldeiamento da
Serra do Ororubá, “material precioso que vai desaparecendo sem deixar
vestígios”, decerto que chegou bem perto do total extermínio cultural e não
humano, visto que sobraram-lhe apenas cento e sessenta e cinco palavras, mas
que segundo pesquisas feitas por este pesquisador em outros povos indígenas
podem ser completadas as lacunas com o Tupi, como já acontece na Baía da
Traição com os Potiguaras.

1.4.8 Cardeal Arcoverde


Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcante, mais conhecido como
Cardeal Arcoverde é mais um membro do clero nascido no território Xukuru e
descendente dos Tapuias um dos troncos de descendência indígena que na
época habitava a Serra do Ororubá, juntamente com D. Olímpio Torres que
também nasceu em Cimbres são os membros do clero descendentes dos
indígenas da reunião. Ele foi o primeiro a ser elevado
ao título e dignidade de Cardeal-presbítero de São Bonifácio e Santo Aleixo da
94

Igreja Católica Apostólica Romana na América Latina. A sua vida eclesiástica se


desenvolveu da seguinte forma: ordenação diaconal (registro não encontado)
ordenação presbiteral em 4 de abril de 1874, Ordenação episcopal (ou sagração
episcopal) em 26 de outubro de 1890, Nomeado arcebispo em 24 de
agosto de 1897 com o lema cardinalício 'DOMINI FORTITUDO NOSTRA'
que significa 'nossa força é do Senhor'.
Nasceu em 17 de janeiro de 1850 na Vila de Cimbres na aldeia Olho D'água,
vindo a falecer Faleceu aos oitenta anos no Rio de Janeiro, 18 de abril de 1930,
sendo sepultado na catedral metropolitana da mesma cidade, quando ele
faleceu o Brasil católico (quase maioria) ainda tinha esperanças de ter um para
latino americano já que até aquele momento era o único e foi enterrado com
honras fúnebres. Era filho de Antônio Francisco de Albuquerque Cavalcanti e de
Marcelina Dorotéia de Albuquerque Cavalcanti.
Consta a seguinte assinatura no livro do registro de batismo do Cardeal
Arcoverde.

"Aos vinte de janeiro de mil oitocentos e sessenta e nove, de


minha licença o Reverendíssimo Franciscano frei Claudino da
Sacra Família, na Capela de Olho d'Água dos Bredos, filial d'esta
freguesia, batizou e pôs os Santos óle56os = á JOAQUIM =
branco, com idade de dois dias, filho legitimo de Antonio
Francisco de Albuquerque Budá e de sua mulher D. Marcolina
Dodothéa de Albuquerque; padrinhos: Leonardo Pacheco Couto
e Anna Antônia Cordeiro. E para constar fiz-se este assento em
que assino. O vigário Firmino José de Figueiredo."

A sua vida de estudos começou cedo, com apenas treze anos já entrava para o
Seminário Menor da cidade de Cajazeiras, na Paraíba. Algo bastante inusitado
também ocorreu quando o jovem Joaquim foi estudar em Roma aos 16 anos de
idade no ano de 1866, lá ele cursou Ciências e Letras, Filosofia e Teologia, ele
concluiu os estudos no Pontifício Colégio Pio Latino Americano, um colégio
reservado para poucos. De origem nobre e índia, "descendia dos Cavalcanti
de Florença e de Jerônimo de Albuquerque, irmão do primeiro senhor de
Pernambuco, que se unira à filha do chefe tupi Arcoverde, da tribo dos
tabajaras"57.

56
https://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Arcoverde_de_Albuquerque_Cavalcanti em 10
agosto 2016
57
IDEM nota anterior
95

Grande era sua influência, a ponto do regente Dom Pedro II sugerir sua indicação
para bispo auxiliar da Bahia, porém ele não aceitou.
O BRASÃO
O brasão das autoridades eclesiásticas tem um significado para cada peça que
o compõe. O do Cardeal Arcoverde foi assim constituída 58:
Descrição: Escudo eclesiástico, esquartelado. O 1º de blau, com
uma torre de jalde, firmada num contra-chefe diminuto de sable,
tendo em chefe uma Hóstia de argente, carregada das letras IHS
de sable. O 2º e o 3º de sinopla, com cinco flores-de-lis de jalde,
postas em sautor – armas modificadas da família Albuquerque.
O 4º de argente, mantelado de goles semeado de quadrifólios
do primeiro esmalte (argente) e uma asna de blau brocante
sobre o traço do mantelado – Armas da família Cavalcanti. O
escudo assente em tarja branca. O conjunto pousado sobre uma
cruz trevolada de ouro, entre uma mitra de prata adornada de
ouro, à dextra, e de um báculo do mesmo, a senestra, para onde
se acha voltado. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico com
seus cordões em cada flanco, terminados por seis borlas cada
um, tudo de verde. Brocante sob a ponta da cruz um listel de
blau com a legenda: DOMINI FORTITUDO NOSTRA, em letras
de jalde.
Mais tarde, quando arcebispo, foram-lhe acrescentados: mais
quatro borlas verdes em cada cordão, o pálio e mais um traço
na cruz.
Quando foi criado cardeal, o chapéu eclesiástico foi substituído
por outro, com seus cordões em cada flanco, terminados por
quinze borlas cada um, tudo de vermelho
Interpretação: O escudo obedece as regras heráldicas para os
eclesiásticos. O 1º campo, de blau (azul) representa o manto de
Maria Santíssima sob cuja proteção o Cardeal pôs toda a sua
vida sacerdotal, sendo que este esmalte significa: justiça,
serenidade, fortaleza, boa fama e nobreza. A torre representa
a Igreja, sendo de jalde (ouro) simboliza: nobreza, autoridade,
premência, generosidade, ardor e descortínio; esta é
a Igreja que está edificada sobre São Pedro e seus sucessores,
representados pela rocha de sable (negro), esmalte que
simboliza: a sabedoria, a ciência, a honestidade, a firmeza e a
obediência ao Sucessor de Pedro. A Hóstia representa Nosso
Senhor Jesus Cristo, Senhor supremo da Igreja e da história,
sendo de argente (prata) simboliza a inocência, a castidade, a
pureza e a eloqüência. As letras IHS (IESUS HOMINUM
SALVATOR) são a expressão do reconhecimento de Jesus
Cristo como único salvador da humanidade. O 2º, o 3º e o 4º
campos representam as armas familiares do bispo, originário da
nobreza lusitana. Sendo que o 2º e o 3º foram tomados das
armas antigas dos Albuquerques, permutando-se a cor goles
(vermelha) do campo por sinopla (verde), numa referência ao
nome "Arcoverde" do prelado, sendo que esta cor simboliza
esperança, liberdade, abundância, cortesia e amizade. O 4º
representa as armas da família Cavalcanti, sendo que a cor

58
IDEM nota anterior.
96

goles (vermelho) nele presente simboliza o fogo da caridade


inflamada no coração do bispo, bem como valor e socorro aos
necessitados. O lema traduz a solidez da fé do cardeal : "De
Deus (vem ou é) a nossa fortaleza".

Brasão eclesiástico do Cardeal Arcoverde59

SÃO TORÍBIO DE MONGROVEJO


Apesar de não ser brasileiro esse espanhol de família nobre, tanto fez pelos
índios do Peru que ficou conhecido lá como apóstolo do Peru, pois defendeu os
indios do colonizador espanhol, que a tantos índios matara e como no Uruguai
mataram todos os índios e venderam os últimos cinco para os circos humanos
da Europa, principalmente Paris, relata o Papa Francisco no jornal de Roma
sobre este homem que de tanto defender passou a morar com os índios e que
em seu leito de morte os indios cantavam e tocavam a chirimia para que ele
morresse em paz, tamanho era o amor que tinha os índios por seu pastor 60.
«Comove-me tanto pensar – confidenciou a propósito Francisco
– na morte de São Toríbio de Mongrovejo: lá, numa pequena
aldeia indígena, numa tenda, circundado pelos cristãos
indígenas que tocavam para ele a chirimia para que morresse

59
Disponível em http://www.arquisp.org.br/historia/dos-bispos-e-arcebispos/bispos-
diocesanos/dom-joaquim-arcoverde-de-albuquerque-cavalcanti acesso em 02 de maio de 2012.
60
L’osservatore Romano. Anno CLVIII n. 100, edição de 4 de Maio de 2018. O povo sabe se o
bispo é um pastor. PP Francisco.
97

em paz». É a imagem do «povo que ama o bispo que cuidara


dele».

1.6 DETERMINISMO GEOGRÁFICO


A primeira vez que uma historiadora da universidade católica falou-me de
determinismo não tinha idéia do que seria e ao avaliar a tese do Dr. Roland
Stevenson61 e analisar as fotografias da inserção de povos do mundo todo que
havia miscigenado aos índios das américas no processo de evolução cultural de
mongóis, chineses, vikings, europeus, africanos com o comparativo de fotos de
índios peruanos, amazônicos, chilenos e argentinos vemos com clareza esse
determinismo, a aparência física dos índios de cada país das américas e sua
semelhança a povos europeus e asiáticos nos faz perceber que em algum
momento da história eles foram os ancestrais desses índios.

1.7 POVO MENKRAGNOTI UMA LIÇÃO DE ECOLOGIA


Fizemos uma operação de observação que custou algo em torno de um
milhão de reais incluindo combustível, óleos e lubrificantes para os aviões, o
custo das horas de vôo e os gastos com diárias de pessoal.
Voávamos do nascer ao pôr do sol em missão de busca e salvamento,
durante muitos dias observando a floresta amazônica na Serra do Cachimbo,
atravessávamos de ponta a ponta a aldeia do povo MENKRAGNOTI,
observando cuidadosamente em quartos de trinta minutos cada observador
aéreo, para muitos voar naquela região, chamada pelos pilotos de "inferno verde"
o tempo muda em frações de segundo, e muitos perderam a vida por caírem na
selva e jamais foram encontrados, na mesma região onde caiu o avião da gol ao
colidir com um Legaci.

61
STEVENSON, Roland. Rething our pré-history: how the revolutionary concept of somatic
morphology is changing perceptions of the first colonizers of the world. Manaus: Ed Lorena, 1994.
98

aru (nevoeiro matinal comum em toda amazônia)

Equipamentos da aeronave C-105 Amazonas usado em observação aérea


Pude constatar voando nas imensas áreas da reserva que o
desmatamento feito pelos índios é mínimo, sendo basicamente utilizado em uma
agricultura de subsistência, quando saíamos da reserva e entrávamos nas
fazendas e propriedades particulares o desmatamento era quase que total,
caminhões carregados de madeiras e um garimpo com uma área de
desmatamento equivalente a uns 500 estádios de futebol, o mercúrio altamente
tóxico, cancerígeno e letal para peixes, seres humanos e para os rios era
largamente usado, um cenário de destruição total, como de pode ver nas fotos,
99

os índios sempre nos deram uma lição de ecologia. Não sabemos cuidar das
florestas como eles, para eles a terra é sagrada, não pode ser comercializada,
pois nela esta a semente de seus ancestrais, é mais forte que a religião em uma
experiência transcendente, além de nossa compreensão. A terra é a mãe deles,
é dela que se sustentas as aldeias, tudo é de todos não há necessitados entre
eles.

Essa charge exposta no museu da língua portuguesa na estação da luz


em São Paulo creio reflete perfeitamente como funcionam as coisa na imensidão
da floresta onde ninguém sabe o que acontece por lá. O madeireiro, o
garimpeiro, o fazendeiro, o grileiro e o posseiro só conta os mortos do seu lado,
e quem conta os mortos do lado dos índios, eles continuam só e para fiscalizar
seria necessário que o IBAMA tivesse muitos aviões e da mesma forma a FUNAI
e todos os setores da nação que fiscalizam as terras indígenas.
100

Observação feita com aeronave de observação a 500ft de altura


É possível perceber que a estrutura circular de defesa com grande área
ao centro para que sejam resolvidos todos os conflitos internos talvez seja
milenar, o aproveitamento do solo é máximo com desmatamento mínimo, que
quando abandonam permite a selva se reconstituir em uma década.

Observação feita com aeronave de observação a 500ft de altura

1.8 UMA LINDA LENDA DE FOZ DO IGUAÇU


Ao pesquisar os indígenas em Foz do Iguaçu, no lado brasileiro, argentino
e paraguaio pude ter uma dimensão das riquezas que atraíram Solano Lopes na
guerra do Paraguai. É de uma beleza estonteante, não creio que haja espetáculo
natural maior que aquele, mas a riqueza visual pode até ser menor do que a
riqueza cultural dos índios e suas belas história sobre as cataratas, ao qual
101

transcrevo na íntegra, conforme está na placa memorial do marco das três


fronteiras.

A frente e a esquerda vemos a Argentina, a frente e a direita o Paraguai


e do local onde tem a choupana é o lado Brasileiro, por isso é chamado a tríplice
fronteira, que foi palco de grandes batalhas.
Ao se pesquisar a história do Iguaçu segundo os povos indígenas, eles
nos narram um relato rico digno dos mais belos filmes sobre as cataratas.
Sempre ao escutar as histórias dos povos indígenas, mesmo quando os brancos
tem também sua versão, a versão dos índios é romântica, cheia de mistérios
encantadores, ao descrever em suas fábulas a natureza, creio são riquíssimas
e de uma conotação particular que somente eles sabem fazer.
Nós temos Machado de Assis, um gênio da literatura brasileira, temos
José de Alencar, que deu uma imagem cidadã ao índio brasileiro em seus
escritos, mas a forma de contar suas história em nada deixa a desejar, não sei
se há no Brasil algum livro que conte as histórias dos povos de cada estado seria
um material valiosíssimo para a nossa identidade de brasileiros, em nossas
raízes indígenas.
102

Painel do marco das três fronteiras - Foz do Iguaçu

A LENDA DAS CATARATAS DO IGUAÇU


A formação geológica das cataratas do Iguaçu data de 120 milhões de
anos numa sequência de erupções vulcânicas. Mas passando do real para o
campo do imaginário muitas lendas indígenas contam a formação do maior
conjunto de quedas d'àgua do planeta.
Uma delas diz que os índios Caigangues, que habitavam as margens do
rio Iguaçu, acreditavam que o mundo era governado por M'BOY, o deus que
103

parecia uma serpente, filho de Tupã. O cacique da tribo, Igobi, tinha uma bela
filha chamada Naipi, que era tão bonita que as águas do rio Iguaçu paravam
quando ela se banhava, devido a sua beleza. Por causa de sua beleza, Naipi
seria consagrada ao deus M'BOY, passando a viver somente para seu culto.
Havia no entanto entre os Caigangues um jovem guerreiro chamado
Tarobá que se apaixonou por Naipi. No dia em que foi anunciada a festa de
consagração da bela índia, quando o cacique e o pajé bebiam cauim (bebida
feita de milho fermentado), e os guerreiros dançavam, Tarobá fugiu com Naipi
em uma canoa, que seguiu rio abaixo arrastada pela correnteza.
M'BOY ficou furioso quando soube da fuga e penetrou nas entranhas da
terra. Retorcendo seu corpo, produziu uma enorme fenda que formou uma
catarata gigantesca. Envolvidos pelas águas da imensa caída, os fugitivos
caíram de uma grande altura tragados pela imensa cachoeira. Naipi foi
transformada em rocha logo abaixo da cachoeira, fustigada pelas águas revoltas.
Tarobá foi convertido em uma palmeira, situada a beira do abismo,
Debaixo dessa palmeira existe uma gruta, de onde o monstro vingativo vigia
eternamente suas vítimas 62.
No marco das três fronteiras é possível pesquisar relatos históricos no
qual afirmam que com a chegada dos portugueses e espanhóis a partir da
metade do século XVI, os Guaranis e Caigangues foram escravizados e
doutrinados segundo a cultura religiosa do homem civilizado, esta atitude
tomada pelos exploradores europeus, acarretou na morte e mais tarde na fuga
dos índios sobreviventes para regiões de mata fechada.
No final do século XIX existiam nesta região, mais estrangeiros do que
brasileiros. A fim de garantir este território e disciplinar a exploração dos recursos
naturais, fundou-se em 1889 a colônia militar. Em 20 de julho de 1903 foram
inaugurados os marcos do Brasil e da Argentina, que tinham como finalidade
representar a divisa simbólica, sendo os rios Iguaçu e Paraná, os divisores
físicos. Os marcos foram pintados nas cores das bandeiras dos três países,
divididos pelos rios Iguaçu e Paraná.

62
Texto escrito no marco das três fronteiras das cataratas do Iguaçu em Foz do Iguaçu. Junho de 2013.
104

Marco do lado brasileiro

Marco do lado paraguaio

Marco do lado argentino


105

1.9 HÁ ÍNDIOS NO RIO GRANDE DO NORTE?


Essa foi a pergunta de abertura do seminário realizado pelo IFRN na
cidade de Santa Cruz63 pelo Dr. Adriano, pois no início de suas pesquisas esta
era a pergunta que lhe faziam, há que se promover e falar, ainda que poucas
vozes roucas pela degeneração histórica do tempo, não se pode deixar o bastão
cair, sobre o risco de alterarmos a nossa identidade, já que alteramos ou
suprimimos a nossa matriz mais importante.
Neste seminário creio que teria sido importante, já que falava sobre
indígenas também que a vos deles fosse ouvida, já que o afrodescendente falou,
fez demonstrações de capoeira, faltou a representação indígena e de sua
cultura.
Quem nasce no Rio Grande do Norte e chamado Potiguar que significa
comedor de camarão, ainda em suas origens que remonta aos índios Potyguaras
da Paraíba e do RN, aos quais eram assíduos comedores de camarão, tendo o
rio Potengi o meio principal de riqueza do estado, embora esteja poluído desde
a nascente no município de Cerro Corá na Serra de Santana.

Rio Potengi cortando a cidade de Natal e dividindo-a em Zona Norte e Sul

63
Azevedo, Márcio Adriano de. Seminário de Estudos Afrodescendente e Indígena realizado pelo IFRN
na cidade de Santa Cruz - RN sobre a diversidade cultural e étnica do Brasil, realizado no mês de junho de
2015.
106

'ÉTNICOS'64 era o que estava escrito na exposição indígena no Centro de


Convivência da UFRN, afirmava a organizadora Jussara Galhardo que a
exposição tinha sido organizada com base nos estudos etnográficos e de história
e principalmente nas histórias orais dos índios com o objetivo de desmitificar
essa questão que não há índios no RN. Diz o banner na entrada:
Étnicos propõe uma reflexão [...] considerando como fonte as
narrativas orais dos indígenas no Estado do Rio Grande do Norte, no
intuito de desmitificar modelos estereotípicos, que aprisionam esses
atores sociais em categorias genéricas como 'mestiços', 'caboclos', e
até 'desaparecidos', segundo a lógica desenvolvimentista, que se
impõem na maioria das vezes, de forma inquestionável pelo senso
comum e no arcabouço dos discursos autoritários.
Segundo a organizadora duas linhas foram trabalhadas em torno da
questão indígena do estado, uma mais ligada ao passado da qual a elite aborda
uma classificação de forma elitista nos museus antigos e uma segunda linha que
trata da atualidade focando um novo olhar para se entender e respeitar o índio
do estado Potiguar, no que tange ao seu cotidiano, modos de vida e suas
histórias tão particulares.
O modus operandi do colonizador e depois fazendeiro, que virou posseiro
das terras indígenas é bastante similar em todo país, pois tendo convivido com
diversos povos indígenas de norte a sul do país pude perceber a pedagogia do
opressor sobre o índio brasileiro, primeiro se afirma que não há índios naquela
determinada região e sim caboclos, mestiços ou outro codinome que os
caracterize como indígenas, na sequência invade-se suas terras e os expulsa ou
os obriga a falar sua língua, os catequiza em uma nova doutrina ou religião,
apagando-lhes qualquer vínculo com seus descendentes, tenho que concordar
com o Dr. Adriano do IFRN, que 'a origem de todos os conflitos nascem nas
fazendas', mas há que se estudar a fundo 'a fazenda' como meio e instrumento
de conflito social, seja com índios, MST, ligas camponesas do regime militar,
reforma agrária e todos os conflitos por terra que ocorrem no Brasil, casagrande
e senzala são sinônimos dessa fazenda que na América matou cem milhões de
negros, deixo para você pesquisador escrever seu livro sobre a fazenda, uma
lacuna ainda não explorada na nossa história nacional.

64
ÉTNICOS - Recuperando história. Exposição no Centro de Convivência Djalma Marinho sobre os
indígenas do Rio Grande do Norte. Campus Universitário da UFRN em agosto de 2015.
107

Jussara Galhardo Guerra ainda nos remete a um novo e perspicaz olhar


sobre a questão indígena no RN:
Essa exposição firma seu compromisso com as lutas e questões
indígenas no Rio Grande do Norte, com as quais não apenas se
solidariza, mas se alia com intenções de mudanças substancialmente
positivas na vida desses atores sociais.

Fotomontagem da exposição UFRN - Índios nos municípios do estado do RN


Voltando os olhos ao passado e as inúmeras coleções em museus temos
que nos perguntar: se a questão indígena está tão abandonada a quem serviu o
colecionismo? A forma em que durante muito tempo foi apresentada ao mundo
e ao Brasil essa riqueza material e herança dos indígenas era desprovida de
significados e não apresentava com clareza a cultura específica, visto que cada
povo de cada localidade é único, não podem ser juntados em uma única espécie,
os xukurus são diferentes dos yanomamis em língua, cultura, modo de viver,
religiosidade e não se pode fazer uma juntada e afirmar que são todos índios,
cada um tem a sua especificidade e as coleções dos museus não davam a real
identidade de cada povo, além do mais, afirma Guerra (2015) 65:
Em décadas passadas o 'caboclismo' explicava autoritariamente o
'desaparecimento étnico' do indígena do Rio Grande do Norte e em

65
GUERRA, Jussara Galhardo. Étnicos - Recuperando Histórias. Natal: UFRN, 2015.
108

diversas regiões do país. Em consequência disso, os discursos dos


museus antigos acerca de 'outro' repercutiam sempre a visão
colonialista e classificatória.

E agora no mundo contemporâneo somos chamados a olhar estes nossos


compatriotas, os índios, respeitando a sua presença sobre uma história oral e
documental que é tão pouco conhecida e divulgada principalmente por que o
discurso daqueles que detinham e ainda detém o poder os anulava em sua
língua, cultura e modo de viver. Devemos multiplicar e reafirmar esse
conhecimento para não apagar a nossa própria história, não só do Rio Grande
do Norte mas de todo Brasil e de toda América. Ainda assim somos a nação que
no mundo todo mais conservou a cultura indígena e até mesmo as matas, por
isso moralmente ninguém no mundo pode por uma questão de verdade moral
falar do Brasil nessas questões, ainda não é como deveria ser mas está anos
luzes melhor do que eles.
Pesquisadores, antropólogos, historiadores buscaram através da história
oral revelar que muitas foram as lutas de resistência e sobrevivência desses
grupos aqui no estado, contrariando a versão oficial apresentada pelos classes
dominantes que mostravam e inexistência de povos indígenas. Amparados
agora pela carta Magna eles ressurgem sem medo reivindicando sua história,
são eles:
No município de João Câmara estão o povo indígena da comunidade
'Mendonça do Amarelão', no município de Canguaretama e goianinha o povo
'Eleotério do Catu', no município de Açu o povo 'Caboclos', no município de
Baía Formosa o povo 'Potiguara de Sagui', no município de Macaíba o povo
'Tapará', no município de Apodi o povo 'Tapuia Paiacu'. E agora, existe ou não
índios no RN? Infelizmente os cortes orçamentários, a política ante-índigena
tendo como principal motivo de conflito a terra ainda precisam melhorar muito.
Mendonça do Amarelão
Eleotério do Catu
Caboclos
Potiguara de Sagui
Tapará
Tapuia Paiacu
109

As vezes parece que o universo dá uma mãozinha nas pesquisas, acabei


de escrever este artigo sobre os índios do RN e uma amiga que é antropóloga e
professora em várias faculdades Taís Cruz me mandou uma matéria sua que
fora publicada no Jornal do RN - Tribuna do Norte66, a matéria fala de um achado
arqueológico que encontrado em 2012 que remonta há mais de 500 anos, ou
seja antes do colonizador chegar aqui.
Na verdade a peça foi encontrada por um aluno seu em 2012 que deu de
presente a Taís que é antropóloga e percebeu de acordo com suas referencias
em pinturas rupestres que era uma bacia onde se colocavam vísceras de
inimigos em ritual de antropofagia.

Jornal Tribuna do Norte n. 128 ed. 23 ago 2015


Este artefato que a Taís ganhou de presente foi encontrado no município
de Lagoa D’anta, 125 quilômetros de Natal, e tudo indica que ele pertenceu a
um possível povo indígena antigo que será estudado e pesquisado em
montagem de um sítio arqueológico no local pela UFRN. Seu aluno encontrou
algo parecido com uma tijela ou baixela, foi encontrada numa reserva de areia

66
Jornal Tribuna do Norte ano 65. n 28, ed. 23 de agosto de 2015, fl Natal 5.
110

em 2012. Ao receber o presente e estudar, o fragmento da tijela indígena de um


aluno de pós-graduação Marcelo Sena de Oliveira, de 29 anos, formado em
pedagogia, Taís teve um insit de que estava de frente com algo que parecia ser
de povos proto-tupi, atualmente o seu aluno Marcelo trabalha como pedreiro.
Assim descreveu Taís ao jornal Tribuna do Norte:
O fragmento da tijela pesa cerca de 10 quilos. A professora teve
certeza de que aquele presente era realmente um material produzido
há mais de 500 anos a partir das descrições de um livro sobre arte pré-
histórica do arqueólogo brasileiro, André Prous. “A forma das grandes
vasilhas abertas nem sempre é muito regular, traduzindo muitas vezes
um certo desleixo com a simetria dos volumes. Em compensação, a
decoração, exclusivamente pintada, obedece normas estritas e foi
realizada com muito esmero. A borda é reforçada do lado de fora,
apresentando uma estreita faixa plana decorada com frisos de
bastonetes verticais ou oblíquos compondo triângulos”, narra o livro.
Toda a descrição confere exatamente com o artefato encontrado em
Lagoa D’anta. Segundo Taís Cruz, essas tijelas eram artigos de rituais
onde se comia as vísceras de guerreiros de povos inimigos. “Segundo
relatos dos primeiros portuguesas essas tijelas eram utilizados em
rituais de antropofagia. Ela não era uma vasilha simples, era usada
para um ritual, por isso tem essa riqueza de detalhes”, acentuou.

E agora, o discurso que não houve e não há índios no RN esta


desmitificado pela arqueologia com um grande presente de Tupã sieté, dessa
forma fica provado que houve e há índios no RN.

ONDE HAVIA UMA MISSÃO JESUÍTICA HAVIA ÍNDIOS


Ao redor da lagoa do Guajiru habitavam os índios potiguares (comedores
de camarão), cuja população foi alvo da catequese dos jesuítas, com água,
terras para plantar e criar gado o local era perfeito para o desenvolvimento de
uma missão em solo potiguar e a fundação de uma aldeamento jesuítico, que foi
fundada pelos jesuítas em Guajiru em 1603 e funcionou até 1759 com a expulsão
dos jesuítas. No período de funcionamento, como ocorreu em todas as missões,
foram catequizados e educados índios Tupis-Potiguaras e Janduis-paiacus,
como sempre sem levar em consideração a especificidade de cada cultura
separadamente, estes índios sofreram a forte influência dos novos costumes da
111

doutrina cristã. O aldeamento jesuítico do Guajiru foi um marco importante na


História das missões no Rio Grande do norte.
Segundo Silva67 (2010) "os primeiros padres que vieram para a missão
foram Gaspar de Samperes (arquiteto que projetou o Forte dos Reis Magos e a
igreja de São Miguel), Francisco de Lemos, Francisco Pinto e Luiz da Figueira.
A colônia com seus instrumentos de escravização e morte, assassinava os índios
em larga escala conforme afirma Silva ao descrever os mortos e desaparecidos
da aldeia do guajiru, no início do aldeamento havia 4 mil indígenas, sendo mortos
e desaparecidos 2.053 índios no período de 1597 a 1689. Com a saída dos
jesuítas restaram apenas 350 índios domésticos e serviçais para atender as
necessidades da colônia.

Ruínas da missão jesuíta em Estremoz


Sendo Estremoz considerada uma das primeiras vilas do Rio Grande do
Norte, a qual foi dada o nome de Vila Nova de Estremoz do Norte. O nome
Estremoz é uma homenagem a uma cidade portuguesa de mesmo nome,
segundo Abimael Silva (editor potiguar).

67
Silva, A. Maria Dionice da. A história de Estremoz. Natal: Sebo vermelho editora, 2010.
112

Em 7 de janeiro de 1607 é criada a sesmaria número 102 concedida as


terras a companhia dos jesuítas, e criada a Missão de São "Miguel do Guajiru"
que funcionou de 1607 até 1759. Nela havia plantações, currais para gado na
frente e atrás da missão, casa de farinha e hospício (hospício na época era um
lugar de hospedagem e não de pacientes psiquiátricos como hoje), por tudo isso
era um centro bem organizado.
Segundo o historiador potiguar Antônio Marcos 68 ocorreu a seguinte cronologia
importante para a colônia visto que confrontava com os interesses da corte:
1755 Alvará de criação (7 de junho)
1759 Decreto cassatório aos jesuítas confiscando os 1429 ha de terra e escola
com 147 rapazes (muito grande para a época) aos 3 de setembro.
1760 Criada a Vila de Gohemoz do Norte, a primeira vila do Rio Grande do
Norte pelo Desembargador Bernardo Coelho que finca o pelourinho como o
símbolo do poder real e da justiça.
1858 É transferida a vila para Ceará Mirim aos 30 de junho.
1963 É criada a cidade de Estremoz em 4 de abril
1990 A portaria nº 458 tomba as ruínas como patrimônio do RN.

Segundo Câmara cascudo "o abandono criminoso fez desaparecer a mais


bonita igreja do Rio Grande do Norte colonial", é lamentável como o Brasil
abandona e destrói a sua história, esse bem cultural da humanidade.

68
Aula de campo nas ruínas de Estremoz realizada com os graduandos do curso de História da Universidade Estadual
Vale do Acaraú em 17 de abril de 2016.
113

As ruínas jesuíticas de Estremoz são um legado da presença portuguesa e de


índios potiguares, pois no Brasil colônia onde havia uma missão jesuíta, havia
indubitavelmente a presença massiva de povos indígenas a serem catequizados
e batizados pela igreja, para evitar muitas vezes a escravização, mas isso
segundo os relatos de campo do Historiador potiguar Antônio Marcos não
impediu que eles fossem expulsos por confrontar os interesses da coroa
portuguesa. Sua imponência de construção permitia ser avistada do outro lado
da lagoa de Estremoz, erguida no barroco jesuítico tinha, segundo afirma Silva69
(2010):
"Dezesseis metros de altura por treze metros e meio de
largura, sua parede de oitenta centímetros serviam como
muralha por trinta metros de comprimento, vinte metros a
nave da igreja, quatro metros a capela mor e seis metros a
sacristia".

Não tinha alicerce, suas grossas paredes adentravam a terra por um


metro e oitenta. suas paredes eram praticamente blocos maciços com ostras,
uma característica de pedras lateritas (litorâneas) pretas fixadas com cal e barro,
seus tijolos de grande variedade de tamanho, cor e forma. A cimalha e o frontão
da igreja vinham em pedras já cortadas e numeradas oriundas de Portugal, e
nesta belíssima igreja foi batizado o grande guerreiro Poti Felipe Camarão e
também seu casamento com a índia guerreira Clara Camarão, primeira mulher
indígena a empunhar armas contra os holandeses na batalha dos guararapes.
Há ainda nos anais da histórias três lendas locais sobre a missão: a cobra
grande que entrava na igreja, o carro caído com o sino que tocava dentro da
lagoa e o tesouro enterrado na igreja.
Após mais de 500 anos a cultura indígena ainda é muito forte no local,
suas comidas e utensílios ainda estão presentes. Em frente as ruínas há uma
casa do grude (comida feita a base de mandioca bem parecido a uma tapioca
pequena com bastante côco, era vendido pelos meninos nas ruas de Estremoz,
tamanha é a sua importância que foi feito uma estátua do menino do grude em
frente a prefeitura) ainda são servidos em vasilhas de madeira e folhas de
bananeira.

69
IDEM nota 1
114

Casa do Grude em Estremoz

Grude tradicional indígena da casa do grude


115

Estátua do menino do grude


Em 1939 a Igreja de São Miguel foi transferida para o centro da cidade a
uns trezentos metros das ruínas e está até a data de hoje.

Gaspar de Samperes também foi o arquiteto que projetou o Forte dos Reis
Magos para defesa da capitania e da cidade, ainda hoje está intacto, e é um dos
mais conservados do país, tombado pelo patrimônio histórico.
Entra as peças do seu acervo ele guarda o marco de "Touros" que é a
prova viva de que foi no Rio Grande do Norte que os portugueses aportaram pela
primeira vez, levando em conta as correntes marítimas da época e de hoje, não
116

era possível que se aportasse em Porto seguro na Bahia distante duas mil milhas
impossível para uma caravela daquele período vencer correntes já sem
mantimentos e provisão tendo todo uma terra farta pela frente, mas falta ainda
aparecer uma historiografia potiguar para comprovar tudo, esse marco datado
na pedra mostra que em 1500 foi aqui que eles chegaram primeiro, é o que
afirma o historiador potiguar Lenine Pinto da UFRN 70.

Peça de canhão português do Forte dos Reis Magos, Natal- RN

70 UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.


117

Marco de Touros - Forte dos Reis Magos - Natal-RN


Marco de Touros - trazido pelos portugueses e implantado na praia de touros por
Pedro Álvares Cabral como marco de posse, para demarcar em sua primeira
descida a terra firme, a expansão portuguesa na América datado de 1500.
Corrobora com essa informação também os escritos de Pero Vaz de
Caminha, que em sua carta ao rei afirma a primeira coisa que viu foi um monte
alto e redondo (Pico do Cabugi) conforme afirma em seus escritos o historiador
Lenine Pinto, que o Monte Pascal não tem pico, logo todas as provas históricas
e oceanográficas indicam a praia de Touros como o local do primeiro
desembarque português no Brasil.

O EDITAL PARA O IFRN


118

No ano de 2016, realizei o concurso de provas e títulos para trabalhar com


diversos povos indígenas do RN, e o próprio edital afirma a presença de sete
povos indígenas espalhados pelo estado, fui convidado para a entrevista e
compareci ao pólo de Canguaretama.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL


SECRATARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE O
NORTE
CAMPUS CANGUARETAMA
BR 101. KM 159, AREIA BRANCA, CANGUARETAMA/RN FONE: 4005-4114

EDITAL Nº 26/2016/DG- PROGRAMA SABERES INDÍGENAS NA ESCOLA/IFRN-CAMPUS


CANGUARETAMA/2016/2017

Edital simplificado de seleção pública para formação da equipe da Ação Saberes Indígenas
na escola-IFRN/Campus Canguaretama- 2016/ 2017

O DIRETOR-GERAL DO CAMPUS CANGUARETAMA DO INSTITUTO FEDERAL DE


EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE, no uso de suas
atribuições delegadas através da Portaria nº 1787/2013-Reitoria/IFRN, de 30 de dezembro de
2013, publicada no Diário Oficial da União, de 3 de janeiro de 2014, torna público o presente
Edital Simplificado destinado à seleção de professores formadores e formadores conteudistas
para compor, junto a coordenadores, supervisores, pesquisadores, orientadores de estudo e
cursistas, equipe de trabalho da Ação Saberes Indígenas na Escola-Sede IFRN/Campus
Canguaretama/2016/2017, programa instituído pela Portaria do MEC nº 1061, de 30 de
outubro de 2013, e regulamentado pela Portaria SECADI/MEC nº 98 de 06 de dezembro de
2013.

1. Da Ação

A Ação Saberes Indígenas na Escola-Sede IFRN/Campus Canguaretama tem o objetivo de


promover a formação continuada de professores indígenas alfabetizadores e a produção de
material didático e paradidático a partir dos seguintes eixos:
I- letramento e numeramento em Língua Indígena como primeira língua;
II-letramento e numeramento em Língua Portuguesa como primeira língua;
III-letramento em Língua Indígena ou Língua Portuguesa como segunda língua ou língua
adicional;
IV-conhecimentos e artes verbais indígenas.

Vemos aqui de forma oficial neste edital de concurso, que no RN há toda essa
diversidade de etnias indígenas, nominadas pelos pesquisadores do IFRN,
mostrando de forma clara que há sim várias etnias que se fazem presentes. Para
aqueles que tem pouco conhecimento da questão indígena sempre atrelada a
terra e sua posse, pode parecer algo banal, negar a existência indígena, mas ao
leitor esclarecido declarar índios em uma área de terra no Brasil, é permitir que
a FUNAI faça estudos com sua equipe de antropólogos para futura, desintrusão,
indenização e demarcação de reservas indígenas, por isso o latifundiário, os
119

grandes fazendeiros não tem interesse de dizer que há índios em determinado


local, vivi em Porto Velho durante muitos anos, onde os garimpeiros afirmavam
não ter índios para continuar suas atividades ilegais de garimpar, quando na
realidade eles estavam matando todos os índios daquela área, até isso tudo ser
descoberto pela FUNAI e pela Polícia Federal, é assim que funciona no Brasil,
um expulsa ou mata os índios e se apossa de suas terras, isso é feito desde 22
de abril de 1500.
Continua o edital:

"A referida Ação contemplará os seguintes povos indígenas, assim discriminados:


1. Sagi-Trabanda (Baía Formosa),
2. Catu dos Eleotérios (Canguaretama e Goianinha),
3. Caboclos do Assu (Assu),
4. Mendonça do Amarelão,
5. Santa Teresinha,
6. Serrote de São Bento (João Câmara) e
7. Tapará (Macaíba), que compõem o Território Educacional Potiguara e Tapuia no estado
do Rio Grande do Norte".

Neste edital era solicitado apresentar uma carta de intenção que a deixo aqui
como modelo:
CARTA DE INTEÇÃO

Solicito a V. Srª a inclusão do Sr. Paulo Gabriel Batista de Melo RG xxxxxxxxxxx SSP/MS, CPF
xxxxxxxxxxxxxx para participar do processo seletivo para professores formadores e formadores
conteudistas, de acordo com o edital Nº 26/2016/DG - PROGRAMA SABERES INDÍGENAS NA
ESCOLA/IFRN-CAMPUS CANGUARETAMA/2016/2017.

Paulo Gabriel Batista de Melo

Os requisitos exigidos para o candidato publicados no edital foram:

Dos critérios para candidatura (Portaria SECADI/MEC nº 98 de 06 de dezembro


de 2013-Artigos 19-21)

Os (As) formadores (as) da IES e conteudistas serão selecionados dentre


candidatos que reúnam, no mínimo e cumulativamente, os sequintes pré-
requisitos:

I-ter experiência comprovada na área de formação de professores para atuarem


em escolas indígenas;
II-ter formação em áreas correlatas aos eixos do Programa; III- ter capacidade de
elaborar materiais didáticos para uso nas escolas indígenas e materiais
pedagógicos para uso dos professores cursistas;
120

IV- possuir titulação de graduação, especialista, mestre ou doutor;


V- no caso de formador (a) que se dedique especialmente à pesquisa metodológica,
é necessário ter experiência de trabalho junto a povo indígena.

1.10 OS MAPUCHES DO CHILE E DA ARGENTINA

O ENCONTRO DO COLONIZADOR COM O INDÍGENA

Os mapuches foram meu objeto de pesquisa dos povos indígenas no


Chile e na Argentina, uma vez que a cordilheira se estende até os confins da
patagonia, que antes da guerra do pacífico era do Chile, motivo pelo qual os
chilenos não se dão muito bem com os argentinos, por uma questão histórica.
Conversando com os chilenos eles tinha opiniões bem diversas, veja os
relatos deles em Santiago a respeito da questão da patagonia cedida a
Argentina, e nesta patagonia viviam os Mapuches usados pelos colonizadores
e, guerras intestinas com outros indígenas.
Sr Diego - Tal cual, chile lo cedió para que Argentina no le hiciera el clásico
"sanguchito" por el ojetengue... para que regalan si saben como me pongo!!!
Jajaja
Sr. Lorenzo - Para ser justos no fue usurpado. Los políticos Chilenos de la época
tenían intereses creados en el norte,básicamente por el salitre, y no le dieron
importancia a la Patagonia. Fue decidia e interes económico cortoplacista de los
políticos. La historia siempre se repite.
Sr. Ramon - Entonces que los españoles retomen sus colonias si así estamos...
Sr. Ruan - Hasta donde yo se,por aquel entonces el conocido cientifico Charles
Darwin visito la patagonia y dijo que no serviria para nada con lo que el gobierno
chileno,en una"estrategia politico-militar", cedio este territorio a Argentino a
cambio de no unirse a la confederacion peruano-boliviana en su guerra contra
Chile.
Sr. Vicenzo - Y para que queremos Patagonia. Para regalarsela a los españoles.
O para que venga un gringo con chapa de ecológico y se asegure el futuro con
las reservas de agua. Yo opino que se mantenga ahí no más. Yo sé que el vecino
país, ARGENTINA. No me dirán que no, si algún día la iría a conocer
121

Afirma Rolando Rojas71 'Chile perdió más territorio del que ganó a Perú y
Bolivia al “ceder” la Patagonia a la Argentina por el tratado de límites de 1881', o
Chile ao ceder seus territórios na Patagonia com o tratado de 1881, perdeu mais
terras que o Peru e a Bolívia. Ele afirma ainda que se a elite chilena tivesse
interesse na patagonia não a teria doado no acordo.
Las elites chilenas lograron convertir sus intereses particulares en
interés nacional. Si estas elites chilenas habrían tenido intereses
económicos en la Patagonia, lo más probable es que nunca hubiesen
cedido tan extenso territorio. […] lo que prevaleció no fue la visión de
futuro de las elites chilenas, sino sus fines de corto plazo

FOTO DE UM PAINEL NA CIDADE DE SANTIAGO CHILE

71
Rojas , Rolando. Artigo publicado na Revista Argumentos. Revista de análise crítica do Chile, ele é
membro do conselho editorial da mesma.
122

CÓPIA DA CARTA DE D. PEDRO DE VALDÍVIA AO REI CARLOS V EM 1545

JORNAL EL MERCURIO ED JUN 2012


123

Durante o período que passei no Chile via várias reportagens de escolas


dos Mapuches serem queimadas por pessoas e grupos que os hostilizam,
perseguem e matam e da mesma forma acontece na Argentina. Aqui no Brasil
os nossos índios apesar de tudo estão melhores, principalmente depois da
Constituição de 1998.
Por causa de guerras passadas, em especial a guerra do Pacífico as
relações diplomáticas do Chile com o Peru, Bolívia e Argentina não são mais as
mesmas, mesmo que em algum momento eles tenham se aliado para combater
espanhóis e outros invasores, em especial a interferencia do presidente Evo
Morales em querer passar a todo custo uma estrada pelo Chile para ter acesso
ao pacífico, lembro que via alguns desenhos e charges sobre o tema com 'a nova
arma do Evo', uma catapulta com uma lhama onde dizia, lançador de lhamas.
Quando acontecimentos assim acontecia entre os índios o colonizador
aproveitava para colocar uma tribo contra a outra e aos poucos ir dizimando os
povos indígenas, os Mapuches se espalhavam por toda cordilheira e eram
conhecidos principalmente na Argentina como Araucanos.
Creio pelo que conversamos com diversos chilenos, eles não tem muita
afinidade com os Mapuches ainda talvez com a visão do colonizador, pensem
que os índios sejam preguiçosos ou algum motivo que não ficou claro em minhas
pesquisas, mas pelos fatos que vi de escolas indígenas queimadas, índios
presos e perseguidos, alguns dos quais ainda reivindicam liberdade das prisões
como sempre mostra o Jornal El Mercurio, La Nacion e outros.

1.11 APRENDENDO COM OS MUSEUS E BIBLIOTECAS


A origem da palavra “MUSEU” é grega, e significa “templo das musas”.
Em Alexandria era usado para designar o local destinado ao estudo das artes e
das ciências. Hoje, o International Concil of Museums a instituição que conserva
coleções de objetos de arte ou ciências, para fins de preservação ou
apresentação pública. No Brasil, o primeiro museu data de 1862, o Museu do
Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano (Pernambuco). Os
outros museus brasileiros foram todos fundados durante o século XX, sendo o
124

mais importante, pela qualidade do acervo, o MASP - Museu de Arte de São


Paulo, fundado em 194772.
O PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) para o ensino médio afirma
que as sociedades urbanas e industriais tem uma forte tendência de predominar
a história escrita e factual até mesmo sobre a memória e as manifestações
coletivas, valoriza-se mais aquilo que é palpável, visível e eles os tem como uma
forma de se conectar ao passado, as suas origens, nessa categoria entram os
museus como registro daquilo que foi vivido pelo homem em algum tempo
remoto, depois do advento da máquina fotográfica, de filmar e da internet é
possível visitar museus pela rede mundial de computadores em '3d' como os
museus pré-históricos da e de Louvre na França73.
É o que afirma Calazans74 (1999):
Sociedades complexas, a identidade coletiva, constituída
através da memória, é substituída por lugares de memória
(museus, bibliotecas, espaços culturais, galerias, arquivos...) ou
por uma 'grande história' , a história da nação, que pretende unir
todos através de uma trajetória comum.

72 http://www.museus.art.br/historia.htm com acesso em 30 de junho de 2015.


73 http://phototravel360.com/360/paris/piramides/piramides.html com acesso em 23 de março de 2016
74 CALAZANS, Antônia Terra F. História e memória. Jornal Bolando aula de história, nº 13, maio de

1999.
125

Prédio da FUNAI em Brasília

Muito tenho aprendido nos museus e recomendo-o a pesquisadores e


estudantes, e a todos aqueles que querem aprofundar suas pesquisas, em
diversas áreas no meu caso na área histórico-indígena, desses povos que nos
encantam a medida que nos permitimos conhecer. Começando pela FUNAI,na
entrada do prédio encontramos muitos índios vendendo seus artesanatos no
chão, sem que haja um pequeno espaço para eles, creio que o respeito ao índio
tem que partir desse órgão, já que ele se diz defensor dos índios, mas nos
últimos eventos que vi os índios não foram defendidos e correram para ONG's
internacionais e cantores famoso que defendem os índios como Sting, a FUNAI
afirma em seu web site a seguinte nota75:
A Funai tem trabalhado no sentido de facilitar, por todos os meios, o
acesso das comunidades impactadas às informações sobre o processo
de licenciamento da UHE Belo Monte, PBA indígena, trâmites
administrativos e legais do empreendimento, dentre outros temas,
mantendo sempre o cuidado de respeitar as demandas das

75
http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/notas/2334-nota-da-funai-sobre-a-uhe-belo-monte
acesso em 30 junho 2015
126

comunidades e povos da região, bem como a legislação vigente sobre


esse tema. Desde 2007, a Funai já realizou cerca de 50 reuniões nas
terras indígenas impactadas pela UHE Belo Monte buscando
estabelecer o diálogo com as populações indígenas impactadas e, por
meio de suas ações, reafirma mais uma vez seu compromisso com a
promoção e defesa dos direitos dos povos indígenas.

Sting disse em nota que discursou na ONU (Organização da Nações


Unidas) e levou as queixas da construção de Belo Monte sobre as terras
indígenas, serão gastos bilhões para produzir energia em alguns meses do ano,
sem contar na catástrofe ambiental sobre os indígenas e ribeirinhos.
A biblioteca da FUNAI é muito rica e os funcionários sempre nos ajudam
direcionando a pesquisa com mais riqueza, eles o fazem com amor, sinto que
falta um espaço para um pequeno acervo de peças de museu, ao menos aquelas
muito importantes para a historiografia indígena.

Artesanato indígena na frente do prédio da FUNAI


Um banner nos corredores chamou-me atenção ao mostrar num gráfico
tipo pizza o que sobrou em termos de terra para aqueles que um dia foram donos
de todas as terras neste país.
127

Banner exposto no corredor da FUNAI - Brasília

Nada foi tão valioso para minhas pesquisas quanto a carta (mapa) do povo
Xukuru do Ororubá com todas as aldeias e pontos capitais, ai entendi a
importância dos mapas para aqueles que vão trabalhar em delimitações e
demarcações, embora tenha ido diversas vezes, pois nunca encontrava o
responsável pelo setor. São José e Couro D'anta foram as aldeias foco do meu
trabalho.
128

Mapa da reserva indígena Xukuru do Ororubá - FUNAI


129

Decolei pela manhã para Brasília a fim de ficar duas semanas realizando
pesquisas nas bibliotecas, museus e entidades ligadas a causa indígena. Passei
no museu JK, do Índio, da FUNAI, nas bibliotecas nacional, do MEC e outras que
muito me ajudaram nas pesquisas, depois disso concluí que a capital federal é
um Brasil á parte pela facilidade em realizar pesquisas, a senhora da biblioteca
da FUNAI permitiu-me scanear mapas importantes para a causa indígena no
nosso país, além de me mostrar uma grande quantidade de obras e autores que
nem conhecia como Curt, em compensação fui a um andar do prédio querendo
uma cópia do mapa da área demarcada da etnia Xukuru e o responsável não
estava voltei lá desde as oito da manhã até as quatorze horas, hora em que ele
chegou, ainda de cara fechada, possivelmente porque eu o tinha tirado de algum
outro trabalho e deu-me uma cópia da área demarcada, podia ser apenas um
pedaço de papel, mas para mim pesquisador há 15 anos dessa etnia era um
mapa da fortuna, fiquei tão feliz que não conseguia dormir, eu não tinha uma
cópia de um mapa eu tinha o mapa original e originalidade para um pesquisador
é uma luta de vida. Afinal este livro é fruto de mais de vinte anos de trabalho e
pesquisa financiado apenas por mim mesmo e também graças a Força Aérea
Brasileira que me enviou constantemente em missão as etnias da Amazônia por
sete anos, para o Chile com os Mapuches, Bolívia e todos os estados do Brasil,
pude conhecer de perto esta realidade muitas vezes triste dos povos indígenas.
Algo curioso aconteceu-me na biblioteca do MEC, enquanto nas
universidades federais eu não conseguia sequer um empréstimo de livro visto
que não era aluno da instituição, entrei na biblioteca popular e peguei vários
livros de meu interesse para pesquisa, fui até o balcão já sabendo que não iria
poder levar, assumindo a derrota, para minha surpresa a bibliotecária disse-me
que na biblioteca popular eu podia levar para mim e de graça todos os livros que
eu quisesse, levei o que pude carregar, o mesmo aconteceu na biblioteca da
FUNAI, fiquei tão feliz que foi outra noite sem dormir, livro no Brasil é muito caro,
é mais uma forma de exclusão, e para um pesquisador é imprescindível ter uma
biblioteca particular, falam que o brasileiro lê pouco eu creio que os livros são
caros devido os impostos, um país que quer priorizar a educação deveria retirar
os impostos dos livros para barateá-los, como ocorre nos EUA, conheço colegas
que editam seus livros lá, pois é mais barato.
MUSEU DA BASE AÉREA DE CAMPO GRANDE - MS
130

Nos arquivos da criação da Base encontrei um padre que sempre celebrava


com os índios, pois eles estavam bem próximos em seus primórdios, Rondon já
havia passado por essas bandas e facilitado o contato.

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA NA ESTAÇÃO DA LUZ SÃO PAULO76


O museu tem um arquivo fotográfico interativo com riquíssimo acervo, lá é
possível estudar todos os povos e culturas do Brasil, inclusive acessar livros em
tupi guarani, o preço é acessível e estudante ainda paga meia.

livro sanfonado da civilização maia - museu da Lingua Portuguesa -SP

76
O museu da Língua portuguesa em São Paulo sofreu com um incêndio em 21 de dezembro de 2015 e não
sei se este acervo ainda está disponível pois as fotos foram tiradas antes do incêndio conforme nota do G1.
"As chamas se propagaram de forma muito rápida. Tivemos a notícia que o incêndio começou e se propagou
rapidamente até pela estrutura de madeira, material plástico e borracha que compõem o museu. Isso faz com
que o fogo se propague rapidamente", disse Palumbo à GloboNews. http://g1.globo.com/sao-
paulo/noticia/2015/12/incendio-atinge-museu-da-lingua-portuguesa-em-sp-dizem-bombeiros.html.
131

mapa das terras brasilis- museu da Lingua Portuguesa -SP


É comum as boas escolas do Brasil levarem seus alunos para visitar o
museu, mesmo de outros estados, o Colégio Militar de Campo Grande sempre
visita com seus alunos, que para irem tinham que passar por média sem ficar em
nenhuma matéria.

MUSEU DA PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO


Ele é um castelo medieval e fica em frente ao museu da língua portuguesa
na estação da Luz, é bem servida pelo metrô, com um bom restaurante e muitas
obras de arte de todos os períodos históricos do nosso país.
132

indígenas do Brasil colônia - tela a óleo

adoração ao sol pelos Tupi's- tela a óleo

MUSEU DE CULTURA DOM BOSCO CAMPO GRANDE MS


É um rico e bem estruturado museu, bem requintado, com grande acervo
arqueológico, paleontológico e antropológico. Ele nos explica através de caixas
de argila a metodologia usada pelos arqueólogos com fósseis pré-históricos,
esqueletos na forma que foi encontrado nos cemitérios indígenas. Com as
centenas de fotos que registrei no museu, foi difícil escolher quais colocar neste
trabalho.
133
134

MUSEU DO ÍNDIO MANAUS AM


Nenhum dos museus que visitei se compara ao museu do índio num colégio
de freiras na av. Sete de Setembro, centro de Manaus, tantos são os arquivos
que foram separados por sala, por cultura e por assunto, além de uma livraria
para vendas de obras sobre índios, em diversas línguas, é possível estudar e
pesquisar em dioramas (maquetes com ações de atos e cultos indígenas) são
cenas vivas de indígenas em cera.
Como se pode perceber a riqueza existente nos museus que visitei no
Brasil, Argentina, Chile, Bolívia... é uma verdadeira aula, redirecionei minhas
pesquisas e resolvi que necessitava ser graduado em história para entender o
135

real motivo de uma cultura tão rica e tão forte, subjugada por colonizadores
europeus.
136
137

Esta é a área de atuação das missões das freiras no Amazonas,


espalhadas em diversas missões no alto, médio e baixo Xingú em contato uma
diversidade de povos amazônicos , os quais as presenteiam com objetos de
138

todos os tipos, faz desse museu o melhor que eu visitei na América do Sul, os
museus brasileiros são os melhores nesta área, os de outros países do
continente sulamericano tem um acervo menor. Creio até que tal acervo me
permitiria escrever um livro sobre museus indígenas.
MUSEU DO ÍNDIO EM BRASÍLIA

Ele foi construído em forma de cocar e é projeto de Oscar Niemeyer (1907-2012)


em 1982 sendo aberto ao público em 16 de abril de 1999 possui planta circular
e volume compacto e se desenvolve em torno de um pátio interno para danças
dos povos indígenas com apresentações frequentes 77. Conversando com
as funcionárias uma me disse que aquilo era um desperdício nas palavras dela
"dinheiro jogado no lixo" fiquei chocado pois ela provavelmente não tinha idéia
do tamanho da riqueza cultural, e fico a imaginar que este é um problema
nacional, a educação nacional que trata dos temas transversais do PCN
(parâmetros curriculares nacionais) não deve ter sido bem explanada, isto é
quase um crime cultural, nossa sociedade desdenha dos índios, não lhes dão o
devido valor e nem o reconhecimento, como disse o cacique Chicão "se
dependesse da sociedade brasileira não existiria mais índio".
O acervo do museu é muito rico com peças de muitos povos do Brasil,
filmes, vestuário, anéis, brincos, instrumentos musicais...

77
Informações contidas no painel na entrada do Museu, escrito em português e inglês.
139

Pátio de rituais e danças

Fiquei encantado com o vestuário de alguns povos e tenho ainda mais


dificuldade de entender como um europeu que aqui chegou não reconheceu
cultura em tanta beleza a ponto de eliminá-los.
140
141

MUSEU CÂMARA CASCUDO


142

O museu foi reformado recentemente, embora muitas peças do acervo tenham


sido emprestadas e algumas não foram devolvidas, por causa de incêndios,
roubos e extravios. Mesmo assim é bem rico e tem um bom acervo.
Possui uma casa de farinha, com fotos e peças de uma casa de farinha,
bem como de peças de usinas usadas pelos escravos nos engenhos, as formas
de rapadura e os diversos produtos de engenho.

Há ainda um grande acervo de esqueletos de animais de da região e pré


históricos, ainda de grandes animais como baleia, elefante, etc.
Os artefatos indígenas existentes constituem uma grande diversidade de
peças de várias etnias do estado e do Brasil, inclusive de bonecas
confeccionadas com palha de milho ou com tecido.
143

BIBLIOTECAS
Durante as minhas pesquisas de pós graduação em psicopedagogia resolvi
acrescentar um dado ao artigo, as bibliotecas do Brasil e o fator quantitativo de
seu acervo, percebi que sobre a matriz indígena encontramos pouquíssimas
obras, realizei um levantamento pessoal in loco em algumas dúzias de
bibliotecas espalhadas por mais de 15 estados da nossa república, inclusive as
melhores do Brasil como a Biblioteca Nacional em Brasília, entristeceu-me a
escassez de publicações sobre o indigenismo no Brasil, em quase todas
encontrei pouquíssimas obras, chegou ao cúmulo de dois exemplares em uma
biblioteca municipal de uma cidade com 100 mil habitantes, ao passo que Darcy
Ribeiro descreve em sua mais famosa obra sobre a formação do povo brasileiro
que os anos de exílio no Uruguai, ele escreveu quase 400 páginas sobre este
assunto sem sair da biblioteca pública de lá:

Na verdade, para escreve‐lo, mal compulsei os livros resultantes


daquelas pesquisas, que chegaram a ser publicados. Ele foi feito da
leitura de quanto texto me caiu nas mãos sobre o Brasil e a América
Latina. Muitíssimos, lembro‐me bem, graças à magnífica Biblioteca
Municipal de Montevidéu.
144

Percebi que estava pesquisando sobre o tema correto, já que tão pouco
acervo existe em nosso país de umas das nossas matrizes, o índio. A realidade
de nossas bibliotecas é caótica, os que lá trabalham geralmente são professores
afastados da sala de aula e reabilitados para este fim, pasmem em quase todas
não tem uma bibliotecária com curso superior nesta área, é uma situação de
abandono, tal qual a educação desse país.
Quando se fala em minorias, marginalizados e aqueles a quem os direitos
humanos tentam englobar, vemos no Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos que o Estado deve " propor a criação de um setor específico de livros
e periódicos em direitos humanos no acervo das bibliotecas das IES (instituição
de ensino superior)";
As únicas bibliotecas decentes que encontrei foram das Universidades
Católicas e das Universidades federais e aqui deixo minha crítica, as
universidades federais são criadas e mantidas com dinheiro público, logo todo
cidadão brasileiro é seu financiador, e nas diversas que fui não pude fazer
empréstimo de livro para pesquisar pois não era docente do referido campus.
Nas diversas cidades com mais de duzentos mil habitantes, como é o caso de
Parnamirim, sequer há uma biblioteca municipal, creio que educação em nosso
país ainda está longe de ser uma prioridade, a começar pelas bibliotecas.
SISTEMA DE BIBLIOTECAS DO PARANÁ
É louvável o sistema bibliotecário do estado do Paraná, e digo sistema
porque segundo Ferreira78 (2009) é a disposição das partes ou dos elementos
de um todo, coordenados entre si, e que formam estrutura organizada, motivo
pelo qual resolvi dedicar-lhe esta parte do livro. Estive pesquisando no referido
estado durante quatro anos, visitando bibliotecas, museus e fazendo uma
comparação com os demais estados da nossa federação. Resolvi começar pelas
cidades fronteiriças de Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão (pólo universitário da
região), Barracão já fazendo fronteira com a Argentina, depois viajando no
sentido Leste do estado até a capital Curitiba a cerca de quase quinhentos. A
primeira literatura que observamos ao entrarmos nas bibliotecas é o jornal das
bibliotecas do estado presentes em todas as que visitei, gratuito e com temas
bem diversos sobre literatura, história e conhecimentos gerais. As bibliotecas

78
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da língua portuguesa.. Curitiba: 7 ed. Ed. Positivo. 2009.
145

que visitei tinham um sistema de troca-troca de livros logo na entrada, como na


cidade de Francisco Beltrão, o usuário pode deixar um livro e levar outro, mas
quiser e se interessar por algum pode mesmo levar sem deixar nada, foi o meu
caso, ganhei da bibliotecária vários livros na área indígena, escritos por alunos
das universidades da região e organizado pelo corpo docente das mesmas,
assim a produção de livros nas universidades do Paraná é uma constante.
Em Francisco Beltrão inclusive há um setor na biblioteca dedicada
somente a questão indígena, com literaturas exclusivamente sobre o tema (a
única que encontrei em minhas pesquisas, há uma parte dedicada as crianças,
onde as funcionárias caracterizadas de personagens como Emília do sítio do
Pica-pau-amarelo e outros contam histórias, há uma sala de vídeos e uma parte
dedicada somente as crianças muito bem organizada, infelizmente as fotos que
tirei e que estavam guardadas foram furtadas ao chegar ao nordeste.
De lá peguei a estrada para Curitiba, vendo diversos indígenas vendendo
artesanato na margem da estrada para sobreviver, triste não, de donos da terra
a mendigos, abandonados pelo estado e pela sociedade brasileira. Ao pesquisar
pelas ruas da capital paranaense percebi que as bancas de revista, todas elas,
tinham um banner escrito "livro R$ 10, 00", procurei saber como funcionava esse
projeto e eles me explicaram que todos os livros de determinada prateleira
custavam esse valor, mas que se o cliente trouxesse um livro ele abateria do
valor, há um incentivo muito forte no estado á leitura como em nenhum outro, os
'sebos' (lojas de livros usados) cobram barato pelos livros e até mesmo um
estudante pode comprar uma coleção inteira, esqueci disso e tive que usar toda
disponibilidade de bagagem da família de tantos livros que trouxe, e acredita
todos eles me custaram menos de cem reais, minha coleção aumentou bastante
de livros que me foram muito úteis, me pergunto porque não poderia ser assim
em todos os estados do Brasil. O sistema de bibliotecas da capital é
simplesmente invejável, há anexos de biblioteca em todos os lugares, no museu
do paço ao lado da cafeteria há uma extensão da biblioteca com sofá e um
riquíssimo acervo de livros novos, lançamentos, museu, biblioteca e café tudo
junto, achei fantástico, principalmente porque era de graça, fica no Paço da
Liberdade, ao lado de várias floriculturas e da catedral metropolitana, onde há
um bus-tur, aos moldes de Buenos Aires o cliente compra um passaporte e pode
percorrer todos os pontos turísticos descendo onde quiser e ao acabar o passeio
146

pode entrar no próximo que passa a cada quinze minutos. Também encontrei
extensões da biblioteca nos bondes que são relíquias turísticas e em vários
outros pontos da cidade, só não lê quem não quer.
Um desses livros que ganhei em Beltrão, é uma coletânia de artigos
científicos feitos pelos graduandos de diversas áreas, um deles abordava a
questão indígena no Paraná e seu autor é Samuel Crestani sendo o livro
organizado pelos docentes Bonamigo e Schneider.
Bonamigo79 (2008) assim define as questões de terra no estado do
Paraná e no Brasil:
A especificidade da formação do campesinato brasileiro é
marcado pelas diversas matrizes constitutivas, assim como por
processos diferenciados de relação com a terra, com a
propriedade, com a natureza e com o mercado, dando-lhe
características socioculturais singulares, constituindo uma
totalidade econômica, social, política e cultural específica, sem,
porém, estar alheio às determinações de domínio da relação
com o capital em dimensão geral.

Crestani aborda ao falar dos indígenas paranaenses quatro pontos importantes:


1º Etnias indígenas e seus antepassados
2º Educação indígena
3º Astronomia indígena, e
4º A vinda da família real para o Brasil
As etnias indígenas paranaenses forma muitas desde a chegada do homem na
América, mas as principais e que sem vestígios históricos e povos constituídos são os
Kaigang, Xokleng, Guarani e Xetá. Pesquisas antropológicas demonstraram a presença
das tradições Humaitá, Umbu e Sambaqui.
TRADIÇÃO DESCRIÇÃO
Humaitá Sua subsistência era baseada na caça e na coleta, habitavam
cavernas e abrigos cobertos com folhas, seus principais
vestígios são os abrigos e os instrumentos de pedra.
Umbu habitavam cavernas e abrigos cobertos com folhas, seus
principais vestígios são pontas de projéteis e resíduos.

79
Bonamigo e Schneider (Orgs). História: conhecimento e prática social. Francisco Beltrão -
PR: Ed. Grafisul, 2008.
147

Sambaqui Sua subsistência era baseada na pesca e na coleta,


habitavam o litoral, seus principais vestígios são restos
alimentares, adornos, armas e principalmente os vestígios de
sepultamento, pois em termos antropológicos o sepultamento
diz muito a respeito da cultura de um povo "os mortos falam"

O povo Xetá que habitava o Paraná tiveram seu primeiro contato no século XX,
mais precisamente na década de 1950 e dez anos depois estavam a beira da
extinção, e de que forma um povo pode ser extinto em tão pouco tempo é que
nos afirma Crestani apud Silva (2006) por uma violência quase animal por parte
dos colonizadores:
Estupros, envenenamentos, transferências de famílias para
outras áreas indígenas no Estado do Paraná, roubo de crianças,
dispersão de famílias inteiras que eram colocadas em
caminhões de companhias de colonizadoras e soltas a esmo em
locais desconhecidos até hoje (Silva, 2006, p. 49).

Hoje o resultado visível é a mendicância dos índios, pois perderam suas


terras e vivem até hoje pelas estradas como mendigos, no período que estive
em curitiba, uma criança índia foi degolada ao meio dia ao lado da rodoviária em
Santa Catarina, esse é o retrato da política indígena em nosso país em 2016,
mesmo passados 516 anos do descobrimento, veja o relato do UOL 80:
Em julho, os caingangues do oeste de Santa Catarina vão trocar
a festa do terceiro aniversário de Vitor Pinto por um rito em
homenagem aos mortos. Até lá, seus pais, Sônia, 27, e Arcelino,
42, esperam ver a condenação de um assassino.
Mas a morte do menino de 2 anos, degolado com uma lâmina
no pescoço no dia 30, por um homem que fingiu afagar seu rosto
enquanto sua mãe o amamentava na rodoviária de Imbituba, é
vista pela comunidade indígena como mais um marco em sua
trajetória de perdas e de abandono pela sociedade.
"Ser índio no Sul é, na versão hardcore do senso comum, ser
vagabundo; é contar com a tutela generosa da Funai (Fundação
Nacional do Índio). Só quando viram que os próprios índios
começaram a se movimentar é que o caso foi ganhando
visibilidade, até pelo descaso", afirma Leonel Piovezana,
professor dos Programas de Mestrado em Políticas Sociais e
Dinâmicas Regionais e de Educação da Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (SC).

80
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2016/01/09/morte-de-bebe-indigena-em-sc-
expoe-rotina-de-descaso.htm
148

Natural da Aldeia Condá, em Chapecó, a família tinha ido para o


litoral, onde há mais movimento no verão, para vender o
artesanato da tribo, como faz todo fim de ano. "Não somos
bandidos, somos trabalhadores. Temos de fazer o que sabemos,
o que é da nossa cultura, como o balaio e o artesanato para
vender. É uma questão de sobrevivência", afirma a avó de Vitor,
Teresa, com olhar perdido, e lágrimas no rosto, após cerimônia
pelo sétimo dia da morte.
Acostumada com a presença da criança pela casa, a senhora
que nem lembra a própria idade --"Acho que tenho 70 anos"--,
quando soube do assassinato do neto pensou até em abandonar
a casa. Os pais de Vitor, que tinham desembarcado na
rodoviária um dia após o Natal, também ainda vivem "em
choque".
Se as vendas fossem boas, iriam adquirir uma geladeira. O
máximo que conseguem por mês na temporada é R$ 800, a
serem poupados para o inverno. Arcelino trabalhava em outra
praia e soube do crime pela TV. Quando chegou à rodoviária,
viu os chinelinhos e brinquedos de Vitor espalhados. Sônia
vagava de um lado para o outro, sozinha, na chuva. Na
rodoviária, sem abrigo ou apoio, permaneceram até a manhã
seguinte.

Na semana passada, enquanto os pais estavam em Imbituba ajudando nas


investigações, Teresa e o irmão mais velho de Vitor, Alzemiro, 19, zelavam pelo menino
no sétimo dia. "Não ficou nenhuma lembrança dele. Toda criança tem uma foto, mas o
Vitor, não. Nem no celular", diz a senhora, enquanto percebe que até os cachorros
pisaram na "catacumba" do neto. "Descaso", diz.

fonte:www.noticiasaominuto.com.br/brasil/morte-de-bebe-indigena-em-sc
Acredite essas mesmas ações eu presenciei entre os índios da Amazônia
e toda sua fronteira brasileira da Venezuela onde comecei minhas pesquisas,
passando pela Colômbia e as Farc's, Peru, Bolívia e Paraguai (meu objeto de
149

pesquisa por seis anos) e por fim Argentina, e embora não faça parte de nossa
fronteira em 20012 fiz pesquisas no Chile com os Mapuches de Santiago,
Quintero, Valparaíso e Viña del mar. A realidade indígena na América continua
caótica após tantos séculos.
Os remanescentes dos Xetá, bem como outros povos indígenas
reivindicam junto aos órgãos a posse de suas terras, que lhes forma roubadas,
mas devemos entender também o lado dos que hoje sem culpa alguma e por
incentivo do próprio governo, construiu suas lavouras e plantações em terras
indígenas, em conversa com D. Dimas Lara Barbosa, arcebispo metropolita de
Campo Grande, ele afirmava que não se pode errar duas vezes, o governo deve
pagar justa indenização aos fazendeiros pelo que eles investiram nas terras ou
se cometerá outra injustiça, vi isso em pesqueira, pessoas perderem suas terras
e receberem uma quantia ínfima que mai deu para comprar um casebre na
cidade.
Outro povo indígena bastante conhecido pelos estudos arqueológicos,
antropológicos e históricos são os Guarani's, infelizmente vivem as margens das
rodovias do Paraná, nos quinhentos quilômetros que percorri entre Beltrão e
Curitiba, os vi vendendo artesanato a margem da rodovia, muitos dormem com
suas famílias em baixo dos bueiros das pontes ou em abrigos improvisados em
completo abandono. Alguns poucos vivem em reservas mantidas pelo estado.
Os Kaigang tem a história marcada por variações demográficas afirma
Crestani, com a vinda migratória dos mesmo e o seu confinamento na região.
Os Xokleng muito pouco se sabe a seu respeito sobre sua permanência
no Paraná, a não ser que habitavam cavernas e pequenos abrigos.
Quanto a educação indígena é quase unanimidade entre os diversos
autores e fontes que os povos indígenas tem feito a sua parte, principalmente os
professores das aldeias e os índios de outras graduações, eles tem contribuído
grandemente para recuperação e reconstrução da língua, muitas quase extintas
como os Xukuru, os Potiguaras e tantos outros. Não me deterei sobre a
astronomia indígena, visto que foge ao intuito da obra.
A vinda da família real ao Brasil, ocasionou a morte e o esquecimento dos
indígenas por D. João VI, em sua carta régia de 5 de novembro de 1808, na qual
ele tira a 'humanidade' dos índios e os transforma em animais, em especial aos
150

do Sul e de São Paulo, num total de mais de vinte e cinco mil índios segundo
Crestani apud Fernandes (2006).
Sendo-me presente o quasi total abandono, em que se achão os
campos geraes de coritiba e os de guarapuava, assim como
todos os terrenos que desaguam no Paraná e formam do outro
lado das cabeceiras do Uruguai (...) infestados pelos índios
denominados Bugres, que matam cruelmente todos os
fazendeiros e proprietários (...) e fazendo-se cada vez mais
evidente que não há algum meio de civilizar povos bárbaros, (...)
sou servido por estes e outros justos motivos que hora fazem
suspender a humanidade que com eles tinha mandado praticar
ordeno-vos: deveis considerar como principiada a guerra contra
esses bárbaros índios (...) carta régia de 5 de novembro de 1808.
Fernandes (2006) p.68.
Afirma Ricardo Cid Fernandes que eles lutavam por território e hoje lutam por
ser índios, para se manterem índios em meio a uma sociedade que os quer excluir.

CAPITULO II
2.1 A TERRA É O CENTRO DOS CONFLITOS E A FAZENDA É O LOCAL DA LUTA

Na hierarquia dos seres a terra ocupa o lugar mais antigo, é dela que
seres de muitas espécies vivem e dela tiram seu sustento, em especial os
humanos, no início caçadores e coletores apenas caçavam e colhiam sementes
comestíveis, como a 'domesticação do milho', que diferente de outras plantas
não tem suas sementes carregadas pelo vento, e se nasce e não for colhida
morre e apodrece dentro da espiga, motivo pelo qual incas e maias
domesticaram o milho em suas diversas espécies, o milho roxo do Peru, o
amarelo do Brasil, e até outras variantes o branco da canjica e do mungunzá, o
da pipoca e por ai vai, mas um fator é comum a todos, eles precisam de terra,
pois ela é o centro da raça humana, no início ela não tinha dono até que o homem
evolui e cerca as terras, e nasce assim a fazenda, o local do terreno de batalha,
pois quase todo conflito anterior as grandes guerras e em muitos casos mesmo
depois delas é na fazenda que está o poder, seja em forma de casa grande,
castelo, burgo ou seja lá que nome tenha adquirido em algum ponto da história
151

da humanidade, isso chegou aos ameríndios e nessa disputa por poder se


perpetuou entre os países que guerrearam por terra, a guerra por terra sempre
ocupará o centro de batalhas que nunca terão fim, nada há mais poderoso que
a terra e por ela guerras são travadas desde que o homem descobriu o seu
poder, se estudarmos os conflitos como canudos e outros tantos no nosso país
veremos que a terra foi palco de disputas intestinas e que ainda hoje são
disputadas por movimentos sociais como MST, índios, sem teto, fazendeiros,
posseiros, grileiros e toda espécie de gente que tem na terra o seu fim,
precisamos de terra até para morrermos e sermos sepultados e a terra em
cemitério virou caso de justiça em grandes cidades as fazendas cresceram e se
transformaram em fazendas de concreto, com prédios luxuosos e caros em
bairros que o preço do metro quadrado pode chegar aos milhares de acordo com
sua proximidade dos centros de poder, mas a terra é o palco das lutas, em que
se trabalha toda uma vida para se comprar um lote de cem metros quadrados,
seja em forma de apartamento, casa, quitinete, flat, apart hotel ou mesmo os
aerocondomínios com pistas de pouso e decolagem dentro, mas no fundo tudo
é o poder da terra, ter terra é ter poder.
Karl marx falou da apropriação do trabalho pelo capital nas mãos dos ricos
e não descreveu que a terra é o seu objetivo final. Nestes mais de vinte cinco
anos de pesquisa pude ver de perto o que se é capaz de fazer por poder e por
terras como pesquisador acadêmico dos movimentos sociais do Brasil.
Russeau nos diz em 1754 qual é a origem da desigualdade entre os
homens na Terra, o que na época gerou grande descontentamento pelos
poderosos e fala da corrupção e do corruptor, abordando as questões sobre a
terra, assim nos diz Grespan apud Russeau81:
O momento realmente corruptor é aquele em que surge a apropriação
privada da terra e dos bens por um grupo de homens em detrimento
de outros. Aqui se forma realmente a desigualdade artificial entre eles,
Até então, no estado da natureza a propriedade seria comunal, ao
contrário do que diziam Locke e os fisiocratas, e a sua posterior forma
privada seria fruto de convenções sociais arbitrárias.

E como ocorreu do homem branco sair do litoral e adentrar sertão afora?

81
GRESPAN, Jorge. Revolução francesa e iluminismo. São Paulo: Contexto, 2003, p 70
152

Segundo Oliveira (2000)82 a base da economia colonial após a extração


do pau-brasil eram as lavouras de cana-de-açúcar e café, a mineração e a
pecuária. Com o aumento da produção açucareira, foi necessário aumentar as
plantações de forma que aos poucos, a pecuária que era subsidiária dos
engenhos fornecendo animais de tração para transportar a produção e também
fornecer charque, sebo, couro para roupas, cintos, baús, gibão para os vaqueiros
foi aos poucos adentrando o sertão e expulsando os índios ou escravizando-os,
o gado por assim dizer foi expulso para o interior das capitanias, fato que ocorreu
principalmente em Pernambuco que é a terra dos Xukurú's, no recôncavo baiano
e nos pampas gaúchos, este é o grande motivo do colonizador ter ido aos
sertões.

foto do autor - vaqueiro Zé de Zuza com gibão de couro para proteção na caatinga. (in
memorian ao amigo e irmão descendente dos bravos guerreiros índios do sertão)

82
OLIVEIRA, Dimas da Cruz. História do Brasil. 1500-1822, os primeiros séculos do período colonial.
São Paulo: Discovery publicações, 2000.
153

2.2 OS MOVIMENTOS SOCIAIS QUE BUSCAM A TERRA COMO MANUTENÇÃO


DE SUA IDENTIDADE

LIGAS CAMPONESAS

Segundo Junior (2015)83 as ligas Camponesas surgiram em 1946 e


defendiam a reforma agrária no país antes. O Partido Comunista do Brasil (PCB)
iniciou um movimento rural no período de Getúlio Vargas, criou as Ligas
Camponesas unindo trabalhadores rurais em várias cidades do Brasil. Com a
eleição de Gaspar Dutra para presidente uma nova Constituição foi promulgada
em 1946. O Brasil era aliado dos Estados Unidos e os países socialistas eram
mau vistos o que colocou o PCB na ilegalidade. As Ligas Camponesas só
voltaram a agir em 1954 na cidade de Vitória de Santo Antão. Miguel Arraes foi
um dos nomes fortes dessa luta em Pernambuco, inclusive foi eleito governador
nesse mesmo estado, provavelmente por sua luta com os camponeses.
As Ligas Camponesas foram importantes representantes dos interesses
dos trabalhadores rurais, unindo grande parte deles e apresentando propostas
para o futuro do país. Na década de 1960 as tensões aumentaram no país e
culminaram com o regime Militar de 1964, que promoveu intensa caça aos
partidários ou simpatizantes dos movimentos identificados como de esquerda.

83
Junior, Antonio Gasparetto. Disponível em http://www.infoescola.com/historia/ligas-camponesas acesso
em 23 de agosto de 2015.
154

Vários membros de Ligas Camponesas foram presos ou assassinados,


juntamente com lideranças do PCB. Foi ainda o movimento social que deu apoio
a reforma de base do governo João Goulart. pois agricultores espalhados em
todo país pagavam aos donos das terras o aluguel ou arrendamento para
plantarem, e o primeiro passo da liga foi a união para luta de 140 famílias que
arrendavam terras do senhor de engenho no 'Engenho Galiléia', cujas terras já
não eram mais usadas pelo dono, eles foram expulsos e contrataram um
advogado conhecido por Francisco Julião que em 1959 ganhou a
desapropriação das terras na justiça. Ele foi eleito deputado duas vezes em
Pernambuco com o apoio das ligas, oi cassado em 1964 e se exilou no México.
Os agricultores não desistiram e na década de 1970 começou outro
movimento chamado MST, movimento sem terra do Brasil.

MST
No início da pesquisa buscando no site do MST já nos deparamos com a
definição de 'quem somos', e percebe-se que a terra é o centro da disputa de
movimentos e de governos84
O Movimento Sem Terra está organizado em 24 estados nas cinco
regiões do país. No total, são cerca de 350 mil famílias que
conquistaram a terra por meio da luta e da organização dos
trabalhadores rurais. Mesmo depois de assentadas, estas famílias
permanecem organizadas no MST, pois a conquista da terra é apenas
o primeiro passo para a realização da Reforma Agrária.

O objetivo principal dos sem terras é a luta pela terra, concreta para que
as massas se mobilizem é o primeiro passo e o primeiro objetivo a ser alcançado
nas suas lutas.

84
http://www.mst.org.br/quem-somos acesso em 23 de agosto de 2015.
155

Nesse movimento até a educação é voltada para a terras, tudo a ela está
vinculado, e nessa questão vemos o apoio de países socialistas como Cuba,
China, Rússia e outros financiarem projetos de diversas formas inclusive pela
luta armada se preciso for, com mobilidade de quatrocentos homens a qualquer
hora em qualquer parte do território nacional em duas horas, até mesmo o
Exército leva quatro horas para se mobilizar, é o que afirma o escritório de recife
na Boa Vista. As relações internacionais do movimento ultrapassam as barreiras
do Brasil e buscam obter apoio internacional como está no site do MST.
A política de Relações Internacionais do MST tem como alicerce os
valores da solidariedade, do humanismo e do internacionalismo, um
legado histórico da classe trabalhadora. Não há fronteiras, geográficas
ou étnicas, que devam limitar as lutas contra a exploração do ser
humano pelo ser humano. O Coletivo de Relações Internacionais (CRI)
do MST tem o papel de articular a solidariedade às nossa lutas,
contribuir com as lutas de todos os povos e despertar e aprimorar, junto
à nossa base social, os valores que nos fazem mais humanos e
solidários, construtores de uma sociedade socialista.

Educação para eles tem por base o viver da terra e sua dignidade por
produzir e dela se sustentar:

Se a terra representa a possibilidade de trabalhar, produzir e viver


dignamente, a educação é o outro instrumento fundamental para a
continuidade da luta. Com isso, o Setor de Educação busca dar
repostas às necessidades educacionais nos acampamentos e
assentamentos. Os maiores objetivos é a erradicação do
analfabetismo nas áreas, a conquista de condições reais para que toda
criança e adolescente esteja na escola, isso implica na luta por escolas
de ensino fundamental e médio dentro dos assentamentos, a
capacitação dos professores para que sejam respeitados enquanto
sabedores das necessidades e portadores da novidade de construir
uma proposta alternativa de educação popular.

A ocupação da terra não se dá de forma pacífica pois é preciso motivar o


sistema, uma vez que o dono da terra devoluta, grilada e ilegal não quer devolve-
la para o governo sem indenização, logo é necessário invadir e buscar recurso
no governo para indenizar os proprietários.

A ocupação de terras é a forma de luta mais importante do MST. É a


partir dela que o Movimento denuncia terras griladas ou improdutivas.
156

A ocupação gera o fato político, que demanda uma resposta do


governo em relação à concentração de terras no Brasil.

Antes da segunda eleição que levou ao poder pela segunda vez Dilma
Roussef, vi a beira das rodovias do Paraná, Mato Grosso do Sul e outros
estados, acampamentos que chegavam a quase um quilometro de extensão que
podem ficar lá acampadas por anos, embora tenha visto que muitos são
contratados para estarem lá e que os mentores só aparecem lá umas poucas
vezes, em agosto de 2004 eles faziam curso superior em Cuba em medicina,
direito e já tinham projeto de terem sua própria universidade que estava sendo
construída no Rio Grande do Sul segundo o funcionário do MST da agencia
Recife.

Acampamentos do mst no Brasil, existem mais de 120 mil Sem Terra


acampados debaixo da lona preta. Próximos a grandes latifúndios,
essas famílias se organizam coletivamente, e muitas vezes vivem
acampadas durante anos.

REFORMA AGRÁRIA
Para o MST A luta pela Reforma Agrária consiste na distribuição massiva
de terras a camponeses, democratizando a propriedade da terra na sociedade e
garantindo o seu acesso, distribuindo-a a todos que a quiserem fazer produzir e
dela usufruir.
O México realizou a sua reforma agrária há cem anos atrás, no Brasil o
grande mentor da reforma morreu num acidente de avião no sul do Pará, Marcos
Freire de forma bem semelhante a Eduardo Campos, dois pernambucanos que
ascendiam na política e morreram do mesmo jeito e por que não dizer pela
mesma causa, bem como Ulisses Guimarães, Nereu Ramos, Jorge Lacerda e
Castelo Branco é uma infeliz coincidencia.
A constituinte de 1988 que Ulisses defendeu e a fez promulgar defendia
o direito a terra para índios pela primeira vez na história do Brasil em 500 anos
e até hoje tem sue artigos que protegem as terras indígenas, embora haja
projetos para mudar esses artigos, creio que isto não agradou aos latifundiários
que em muita das vezes são políticos ou patrocinadores de campanha destes.
Creio que o destino levará para outra dimensão qualquer um que defenda a terra
em prol dos pobres, sejam índios, sem terra, camponeses, ligas... No caso do
157

Presidente castelo Branco o seu avião um Piper Azteca PA-23 foi atingido por
um caça T-33 da Força Aérea e o inquérito foi inconclusivo.
Em 2014 ano de eleições para presidente e governador no Brasil o avião
do candidato ao governo do estado do MS teve seu avião sabotado, porém o
mecanico ao fazer o pré-voo, inspeção diária obrigatória antes da decolagem,
percebeu que estava faltando parafusos nas superfícies de comando de voo do
aileron e profundor, a Polícia Federal foi chamada e abriu uma investigação.

SEM TETO - MTST Movimento Sem Teto


As cidades cresceram e a terra foi substituída por casa uma em cima das
outras, os aranha-céus ganharam lugar no antigo modo de viver e habitar. Com
eles veio os problemas sociais como o êxodo rural, aumentando em larga escala
as populações dos grandes centros, criando periferias e miséria, roubos e todo
tipo de calamidade social, para os órgãos de vários países várias cidades
brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória, Salvador e outras são
consideradas em guerra civil. Eles são considerados como aqueles que vivem
abaixo da linha de extrema pobreza.
Dados da ONG Teto mostra que na América Latina 200 milhões de
pessoas vivem em situação de pobreza. A ONU definiu um sem teto como
'Famílias sem-teto são aquelas famílias sem abrigo que carecem de habitação.
Eles carregam suas poucas posses com eles, dormindo nas ruas, ou em outros
espaços, numa base mais ou menos aleatória' e ainda O Artigo 25 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, adotado em 10 dezembro de 1948 pela
Assembléia Geral das Nações Unidas, contém este texto sobre habitação e
qualidade de vida:

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a


saúde e o bem-estar próprio e de sua família, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais
indispensáveis, e direito à segurança social em caso de desemprego,
na doença, invalidez, viuvez, velhice ou falta de meios de subsistência
em circunstâncias fora de seu controle

Em meio a todo este caos está uma classe que não tem onde morar, se
fosse no campo seria sem terra mas cidade são chamados sem teto. Há várias
158

cidades que por tornarem feias as cidades grupos e determinadas classes


sociais pagam assassinos de aluguel para exterminá-los, grupos de skin red e
neonazistas matam todos eles, cheguei em São Paulo para realizar participar de
um curso de qualificação da empresa e vi nos jornais que naquela madrugada
vários sem teto e moradores de rua havia sido mortos em santana próximo a
rodoviária do Tietê, a igreja católica através da pastoral de rua mandou muitos
consagrados da toca de assis para dormir e vigiar essa população abandonada
pelos governos, mas a chacina continua.
Os sem teto são a nova modalidade dos sem terra das grandes cidades,
é necessário criar abrigos para eles passem a noite, se alimentem e tenham um
local para tomar banho e ser cuidado, afinal eles são brasileiros também.

CAPITULO III
A VIDA DOS XUKURÚS ANTES E APÓS A DEMARCAÇÃO

3.1 A HISTÓRIA DO CACIQUE CHICÃO


Quando lhe perguntavam o que significava o nome de seu povo ele
(cacique Chicão85) sempre respondia com a sabedoria de seus ancestrais,
evocando a memória que lhes resgatou a identidade:
O nome da nossa tribo é Xukuru do Ororubá, significa o respeito do
índio com a natureza. Ubá é um pau, Uru é um pássaro que tem na
mata, aí faz a junção, e fica: Xukuru do Ororubá o respeito do índio
com a natureza (Chicão).

85
CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE. Xucuru filhos da mãe natureza. Uma história de resistência e
luta. Olinda: 1997.
159

pintura exposta na secretaria de educação de Pesqueira


Segundo os professores do povo Xukuru do Ororubá em um livro escrito
por eles mesmos eles narra que a "história de seu povo não se contentou com
a abordagem do processo histórico linear, numa relação entre vencidos e
vencedores, sendo os vencedores aqueles que pensam o mundo de maneira
homogênea e etnocêntrica". Afirmam eles que os órgãos oficiais deram como
extintos o seu povo e que o resgate da memória foi fruto da luta dos líderes e
dos velhos que se deram ao trabalho de resgatar a memória e provar que
estavam vivos. Quando descia a serra para reunir com os professores na cidade
de Pesqueira ele foi assassinado em frente a casa de sua irmã em maio de 1998
no bairro Xucuru. Vários índios foram mortos, muitos ameaçados, mesmo assim
editaram paradidáticos com a sua história como forma de manter viva na
memória do povo a sua cultura, e reafirmação da identidade étnica.
Segundo o cacique Chicão86 ele não tinha consciência da luta do índio
pela educação, saúde e subsistência, porque era muito jovem e tinha outras
influências, mas sabia que minha mãe era cabocla índia, e seu pai era índio bem
como seus avós, todos eles nasceram na Serra do Ororubá.

86
Entrevista feita por Elizabete Ramos em "Memórias do povo Xukuru" - CCLF/1997.
160

Os portugueses chegaram a Serra do Ororubá em 1654 e já se diziam


donos das terras, pois tinham recebido do grande rei nas concessão das
sesmarias, embora esses homens já fossem ricos possuidores de terras e
engenhos na zona litorânea ainda ganharam terras no sertão, segundo os
professores indígenas um desses portugueses era Antônio Vieira de Melo (meu
ancestral paterno), ele e outros invadiram as terras e com o passar do tempo os
índios foram escravizados.
A igreja com os padres Oratorianos fundaram a missão do Orubá em 1661
para catequizar e amansar os índios e com isso se beneficiaram com terras e
gados, chegando também a escravizar os índios. Os índios não aceitaram ser
escravos e se rebelaram com o apoio de outros índios de vários estados do
nordeste em um movimento que os portugueses chamaram de guerra dos
bárbaros, para os índios era a confederação do Cariri que durou de 1962 a 1969,
mas o governador de Pernambuco contratou o caçador de índios Domingos
Jorge Velho que combateu o Quilombo dos palmares, o combate intenso com
mortes dos dois lados, os índios fizeram um acordo, seu líder foi solto e em troca
cinco mil índios foi cedido ao Exército português. O acordo foi cancelado algum
tempo depois, as aldeias foram perseguidas e destruídas. E assim se sucedeu
até que a memória Xukuru fosse esquecida, tudo foi feito para não restar
resquícios dessa cultura, originários dos legendários tupis-guaranis, guerreiros,
ressurgiram das cinzas como a Fênix, e conseguiram batalhar em meio a tantas
mortes, principalmente de 1988 em diante, onde a constituição passava a dar
direitos aos índios como ancestrais e povos originários, sem direito a recorrer da
terra depois de demarcada87.
Para entendermos o povo Xukuru e Chicão seu cacique é necessário que
compreendamos os fatores do sertão, do semi-árido e das secas que assolam o
Nordeste, junto a isso uma classe dominante constituída por verdadeiros
coronéis, agora chamados fazendeiros e delegados, como nos mostra Aloys
Wellen88:
Falar da saga de Xicão Xukuru sem compreender toda essa
complexidade seria extraí-lo de seu habitat, pois é nesse cenário

87
CENTRO DE CULTURA LUIZ FREIRE. Xukuru filhos da mãe natureza. Uma história de resistência
e luta. Olinda: 1997.
88
WELLEN, Aloys I. O regresso: o difícil regresso a mãe naturaza. O caso do povo Xukuru do Ororubá.
João Pessoa: Manufatura Editora, 2002.
161

conflitivo que é possível perceber a grande importância de seu papel


histórico nessa conjuntura de alterações filosóficas e comportamentais
que o planeta está passando.

É possível perceber que os povos ameríndios nunca aceitaram ser


subjugados, ou se rebelavam ou fugiam na primeira oportunidade, por isso a
catequese mudava o seu comportamento, pois para um escravo a religião é um
grande conforto.
A resistência há mais de 500 anos é a grande lição e o legado que estes
povos indígenas nos ensinam, não aceitando qualquer forma de dominação
ainda que o dominante tivesse superioridade bélica ou governamental, e o pior
é ter que usar da mesma estratégia para conseguir êxito. Assim sendo, Chicão
assessorado pelo CIMI batalhou para que o texto da constituição relativo aos
índios fosse mudado, em 1988 sua luta rendeu frutos, não só para seu povo,
mas para todos os povos indígenas do Brasil.
Na mudança do século XX para o XXI a seca castigou grandemente o
povo nordestino, o governo declarou calamidade em 770 municípios desta
região, e para piorar os estudos indicavam seca por vinte anos, não houve
planejamento pelas secretarias para minimizar o sofrimento do povo, a única
saída era migrar para cidades onde houvesse mais recurso, trabalho e condições
de vida, mesmo que precária. Segundo pesquisas do IBGE as décadas de 1970
a 1990 levaram 30 milhões de pessoas a deixarem suas terras, São Paulo era o
el dorado, Luiz Gonzaga refletiu bem em sua música "A triste partida", essa
música virou o lamento do povo do Nordeste, em sua tristeza por deixar sua
terra. São Paulo foi construída por nordestinos, meu pai foi nessa também, saiu
para São Paulo em um Pau-de-arara (caminhão com tábuas de madeira para
transportar pessoas na carroceria), levava dois meses para chegar, muitos
morriam pelo caminho e eram enterrados a beira da estrada, um lamento triste.
Em dez anos a capital paulista recebia algo em torno de uma maioria de 13
milhões que deixava o campo. Conta o senhor Francisco que uma velhinha foi
daqui do nordeste até São Paulo passando fome e sendo ajudada pois só tinha
o dinheiro da passagem, isso era o dia-a-dia do povo nordestino, segundo
WELLEN (2002) ao chegarem a uma cidade grande subespecializado as
profissões que os empregava era: construção civil, trabalho doméstico e
162

autônomo. Dessa forma partia para a terra da garoa Chicão futuro cacique do
povo. Ele nasceu em 23 de março de 1950 e seu pai afirmava sempre que não
queria riquezas para si ou para seu povo, mas queria "dignidade humana e lutar
pelos seus direitos", Chicão estudou na aldeia Pedra D'água até a 4ª série, quem
queria estudar mais tinha que se deslocar para Pesqueira, somente lá havia
escola depois desta série. Nessa escola aprendia-se o português e a
matemática, nada sobre cultura indígena, pelo contrário era proibido estudar e
ensinar cultura indígena, os mais velhos eram ameaçados de morte se falassem
a língua indígena ou dançassem o Toré. Alguns ainda tentaram mas o pior
aconteceu:
Os capangas que batiam na gente, então disseram abertamente que
esta surra era dada por ordem de Fulano de tal, seu patrão, e este
mandava dizer que esse era o primeiro aviso, se não parassem iriam
morrer.
Ao estudar um povo o seu código (a linguagem) é um ponto crucial, se a
língua morre o povo morre, a língua é uma das formas de identidade de um povo
e sua cultura.
Aos 18 anos como todo brasileiro, ele se alistou no Exército (Tiro de
guerra de Pesqueira), voltou para a aldeia e casou-se com D. Zenilda e tiveram
sete filhos.

QUE SIGNIFICADO TEM A TERRA PARA O ÍNDIO


Em suas pesquisas para a campanha da fraternidade de 200289, a CNBB
- Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - acessorados por diversos
historiadores e antropólogos assim descreveram esse assunto.
Os povos indígenas, em geral, tem um sistema de uso coletivo da terra,
baseado na reciprocidade, em profunda consonância com todo o
ensinamento bíblico, não só no Antigo, mas no Novo testamento. Se
tivermos a corajosa atitude de conhecer e aprender com os povos
indígenas, podemos construir uma sociedade solidária e humana.

89
CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Por uma terra sem males, fraternidade e povos
indígenas. São Paulo: Editora Salesiano, 2001.
163

Em 1757 o Marquês de Pombal90 baixou uma lei chamada diretório


pombalino que dizia:

As vilas devem receber nomes de povoados portugueses com Senado


de câmara, e a missão Orubá passou a ser chamada de Cimbres,
nome de um povoado português. Os índios ficam proibidos de falarem
as suas línguas e devem falar somente a língua portuguesa senão
seriam punidos, os índios devem se casar com portugueses. Os índios
dever deixar suas habitações coletivas e morar em casas individuais.
Os índios deviam ter nome e sobrenome português.

A medida em que a câmara de Cimbres crescia aumentava o roubo de


terras e gado, índios eram simplesmente expulsos e mortos. Somente em 1845
o imperador do Brasil D. Pedro II cria o "Regimento das missões" em que nomeia
também cargos de diretores de índios, responsável em dirigir as aldeias, esse
diretor era um fazendeiro do partido do imperador que trabalhava junto com a
câmara, isso só facilitava o roubo da terra para a expansão do gado. Em 1879 o
governo determinou a extinção da aldeamento de Cimbres, pouca terra sobrava
para os índios, e os que ficassem sem terra deveriam procurar outras aldeias.
O fim da propriedade coletiva da terra favoreceu as pressões,
perseguições e tomada de terras pelos fazendeiros, assim muitos índios sem
terra foram morar nas fazendas ou nas periferias das cidades, antes donos de
tudo, agora nem donos de suas vidas, em Pesqueira existe um bairro chamado
Xucuru que em sua origem era povoado pelos índios expulsos de suas terras,
mesmo assim alguns poucos continuaram em suas terras, mantendo as
tradições até elas serem proibidas e passarem a ser secretamente cultuadas.

NOS CAMPOS DE MIRANDA


Segundo os museólogos do museu Dom Bosco de Campo grande -MS, o
Mato grosso do Sul possui hoje uma população indígana de 63 mil índios, dos
quais se destacam os Kaiowá e Guarani, os Terena, os Kadiwéu, Guató, os
Ofaié, sendo que os Kaiowá e Guarani soma 40 mil e os terena 23 mil, segundo

90
IDEM nota 20
164

eles os bororo sempre atraíram grande atenção pelos estudiosos devido a sua
riqueza em artefatos e em sua plumária91.
Estive muitas vezes em Miranda no Mato Grosso do Sul, pesquisando a
etnia do povo Terena, e sua riquíssima cultura, principalmente no artesanato e
cerâmica. Há na cidade um museu dos índios da região mantido pela prefeitura,
os artesanatos que eles produzem são vendidos e todo dinheiro é retornado para
a aldeia, isso é uma mostra do que é respeitar a cultura das nossas raízes.

FOTO DO AUTOR: Centro de cultura Terena em Miranda - MS

91
Pesquisa e visita ao museu do índio D. Bosco no parque das nações indígenas da cidade de Campo Grande
- MS. 2014
165

pintura da pousada Águas do Pantanal - tela a óleo

cerâmica Terena - centro cultural Terena- foto do autor (Miranda -MS)


166

Jacaré nos rio do pantanal - foto do autor


Visitando esta cidade conheci as histórias dos valentes índios Xukurus e
outros povos indígenas do Nordeste na guerra do Paraguai, estes campos foram
palco de grandes batalhas, mas com o decorrer da guerra que durou seis anos
(1864-1870), não havia mais soldados e os índios foram presos e mandados
para guerrearem nos campos de Miranda e Corumbá tomados pelo grande
estrategista e general paraguaio Solano Lopes, os índios Xukurus foram
voluntários, com a promessa do Imperador e da Princesa Isabel de que suas
famílias receberiam salário e eles teriam as suas terras demarcadas no retorno,
doze deles nunca voltaram, até uma mulher índia fora ao combate, com a vitória
de Duque de Caxias os índios do Ororubá voltaram para casa como heróis,
ganharam o documento assinado peça princesa, botões de ouro dos índios
mortos, uma túnica de capitão, uma espada de Caxias, que guardavam com
muito orgulho até ser levada por um funcionário da SPI, o sertanista Cícero
Cavalcante. Após entrevista dada pelo sertanista ao Jornal do Comércio ele
confirmou os fatos citando ainda que o documento era denominado 'Relatório 28
datado de 12 de setembro de 1994' em sua versão final, tudo isto está em poder
da FUNAI e fora emprestado a um museu conforme narra o Dr, Aloys Wellen.
A grande vitória dos índios Xukuru's na batalha de Tuiuti em 1866, fez a
princesa endossar o acordo, ao que parece a princesa era tida como uma
rebelde, que esperou D. Pedro viajar para o exterior para sancionar as leis de
fim da escravidão, tendo ela própria financiado vários quilombos entre eles o de
Palmeres.
167

pintura do marco das três fronteiras (Foz do Iguaçu)


Os mais velhos do povo lembram da espada, das cartas do imperador e
nominam alguns que participaram da guerra. Entre os Xukurús estavam os
seguintes índios todos da aldeia Cana Brava, uma das aldeias que foi objeto de
pesquisa deste pesquisador:
1. Antônio Rodrigues (bisavô do pajé Zequinha)
2. Ângelo Martins Vieira
3. Maria Coragem
4. Manoel Simião
A sobrevivência no pantanal é algo difícil até para os combatentes mais
experimentados, motivo pelo qual o Exército, a Marinha e os Fuzileiros fazem
um curso de sobrevivência no pantanal, bem como na selva e na caatinga. Além
de sobreviver tinha que combater, por isso das dezenas de Xukurus que foram
somente doze voltaram para contar a história, devemos aos nossos índios dentre
outras a guerra do Paraguai, e a batalha dos guararapes liderada pelo índio
Potiguara Felipe Camarão e sua esposa Clara Camarão, precisamos recontar a
nossa história, pois ela é a nossa identidade, suas memórias são a memória do
povo brasileiro, nossas raízes. Das Onze etnias de Pernambuco somente os
Fulni-ô e os Xukurus tem suas terras homologadas e demarcadas.
Com o fim dos aldeamentos pelo governo os fazendeiros passaram a dizer
que no Ororubá não Havia mais índio, apenas caboclos 92 como forma de
imposição para que os órgãos do governo não demarcassem e nem

92
Caboclo, caboco (na linguagem do povo), mameluco, caiçara, cariboca ou curiboca é
o mestiço de branco com índio. Também era a antiga designação do indígena brasileiro
168

reconhecessem o povo indígena, por isso que falava a língua, ou mesmo


qualquer dos costumes era surrado pelos fazendeiros, quando não acabava em
morte, chegou ao ponto que uma dúzia de índios serem os que guardavam a
tradição até 1988, quando ajudados por ONG's e pelo CIMI 93, Chicão começou
um trabalhos com formação de lideranças em cada aldeia, isso levou décadas e
nessa luta muitos morreram inclusive o cacique.
Assim já se passavam quase 500 anos de luta com o povo indígena
perdendo sua força e seus costumes a cada dia, até que em 1910 o Marechal
Rondon, também índio no Mato grosso, é apadrinhado por um oficial do exército
e consegue se formar na academia dos oficiais recebendo como missão levar as
linhas telegráficas ao pantanal e a indomável Amazônia.
Ele cria o SPI (Serviço de Proteção ao Índio) que dá novo animo aos
índios desaldeados do Brasil em especial os xukurus, os índios de Pernambuco
se mobilizaram procurando o órgão e os primeiros a terem um posto do SPI
forma os Fulni-ô no município de Águas Belas, os Xukurus procuraram o SPI,
mas devido a pressão dos fazendeiros o posto não fora instalado, o SPI
recusara-se a instalar o posto em meio a pressão dos fazendeiros que temiam
perder suas terras caso a mata das serras do Ororubá virasse reserva, era o
balde de gelo final na esperança de um povo que aguardava lutando pelo seu
reconhecimento. O que fazer? Ainda havia uma esperança, falar pessoalmente
com Rondon, mas como se ele estava no Rio de Janeiro, ou em missões pelo
pantanal e Amazônia. Criaram uma comissão e como não haviam transporte
naquela época foram a pé até o rio de janeiro, dentre esses bravos estavam
comandando o grupo: Félix Nascimento, Estende Nascimento e Antônio
Nascimento Falaram com Rondon que ordenou fosse comprado um pedaço de
terra dos fazendeiros e criassem um posto do SPI, este foi criado na aldeia São
José, uma das aldeias que pesquisei nestas décadas. Com tudo isso a pressão
dos fazendeiros só aumentava e eram constantes as surras que os índios
levavam dos capangas e jagunços dos fazendeiros.
O mundo via a segunda guerra mundial levar filhos e pais de todas os
recantos do mundo, e entre muitos deles não podia faltar um bravo representante
Xukurú, seu nome era Eliezer descendente da índia Luzia, combateu nos

93
CIMI- Conselho Indigenista Missionário da igreja católica que cuida da pastoral dos índios
169

campos de Monte castelo, centenas de brasileiros perderam suas vidas na Itália,


mas o índio Xukuru voltara vivo, em 1940 Mario Melo (jornalista) recebeu
informações do antropólogo Carlos Estevão de que na Vila de Cimbres havia
pessoas que se diziam índios descendentes dos Xukurus, que ainda cultuavam
a mãe Tamain (N. Senhora das montanhas). em fins de 1944 próximo ao fim
daquela que foi a pior das guerras da humanidade, o sertanista Cícero
Cavalcante fez um relatório e enviou ao SPI afirmando ter 2. 191 indígenas
morando em diversas aldeias, em seu relatório ele afirmava que os índios
dançavam o Toré e eram presos e torturados pela polícia de pesqueira, e suas
famílias eram expulsadas de suas terras. Mesmo assim nada foi resolvido.
Depois de uma busca de anos encontrei outros relatos das proezas dos
índios brasileiros na segunda guerra mundial quando relata da estranheza dos
habitantes da Itália ao ver os negros e os caboclos (índios) brasileiros, alguns
deles são narrados em sua obra por Barone94 (2013):
As populações desses vilarejos ainda não tinham uma noção
exata da chegada dos brasileiros, e, mesmo com a presença dos
negros americanos da 92ª DI, os caboclos e negros brasileiros
causavam surpresa, estranheza e curiosidade junto aos locais.

É interessante perceber que os europeus não estavam acostumados a ver


aquela silhueta indígena entre os aliados, mesmo com a presença de
americanos e negros há alguns anos em seu dia-a-dia.
Há um outro relato muito curioso de um dos maiores generais brasileiros
na segunda guerra, temido por sua bravura e coragem, a ponto de o chamarem
de "general Patton brasileiro", uma menção ao grande general Patton. Ele era o
general Zenóbio, esse era nada menos que um índio corumbaense, assim era
chamado, ele tinha fama de durão e até ficava irritado porque em suas batalhas
não morria soldados brasileiros, somente de outras nações e por vezes falava
"Ainda não temos nenhum morto? Precisamos de heróis". Fico a imaginar que
todo dia ao voltar as tropas em suas missões de combate ele saindo a procurar
e fazer a contagem para descobrir se havia algum brasileiro que teria tombado
entre as fileiras, ele mesmo chegou a ir em várias missões sem que ninguém
morresse, e isso alimentou sua fama e respeito entre os generais americanos

94
Barone, João. 1942: O Brasil e a sua guerra quase desconhecida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
170

que o viam no limite da coragem que quase beirava a insanidade tamanha era
sua ousadia no combate
Segundo ainda afirma Barone95 (2013):
O primeiro tenente Massaki Udihara, do 6º Regimento, relatou
em suas memórias o temperamento contundente do general,
que, desde o início das ações, parecia ávido pelas primeiras
baixas da FEB (Força Expedicionária Brasileira). "Ainda não
temos nenhum morto? Precisamos de heróis", teria dito Zenóbio
[...] as opiniões vindas tanto de seus comandados quanto de
seus comandantes sempre se referiam a ele com os maiores
elogios e considerações [...] guardadas as devidas proporções,
não seria exagero afirmar que a FEB tinha nos seus quadros um
candidato ao título de "general Patton brasileiro" [...] O coronel
Lima Brayner, que integrava o Estado - Maior da FEB, se referia
ao general Zenóbio como "o índio corumbaense".

Década de setenta o Brasil era campeão na copa do México, a euforia se


espalhava pelas ruas do país, em 1973 era criado o estatuto do índio com a Lei
6.001, a partir dai começaram a receber apoio do CIMI que acabara de ser
criado,ocorreram assembléias anuais, algumas das quais quando posso
participo pela instituição de ensino que estou pesquisando Universidades
Católicas, estaduais... em 1980até 1990 os Xukurus assumem a liderança dos
índios do nordeste, treinam para discursar na Constituição, Chicão discursa na
Constituinte e os Artigos que eles tanto esperavam são escritos e promulgados,
como se verá mais a frente. Eles estavam agora a um passo da demarcação,
com isso também estavam na mira de pistoleiros que queria impedir a
homologação de suas terras, mortes começaram a acontecer e nem mesmo o
cacique Chicão escapou, e depois de tantas lutas com a SUDENE, FUNAI,
governo, fazendeiros e posseiros... em março de 1995 foram colocadas as
placas de identificação do território indígena XUKURU DO ORORUBÁ. Dia de
festa no povo, continuaram esperando pacientemente a homologação, agora
com mais esperança, a terra foi homologada em 1995 e demarcada em 2002.
Ponto final na luta dos povos que levaram 500 anos na luta, povo guerreiro,
valente, testado nas guerras do Brasil e do mundo, essa é nossa raiz, Não gosto
de ouvir que o nosso povo é pacifista, isto é o discurso das elites assim como foi
para nossos bravos Xukurus, que não deram ouvidos aqueles que alem de não
apoiar suas lutas, apesar de tantas mortes Chicão nunca permitiu que os índios

95
Barone, João. 1942: O Brasil e a sua guerra quase desconhecida. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.
171

revidassem, como ele mesmo dizia: "se houve derramamento de sangue, não foi
por parte de índio e sim de homem branco, estão me ameaçando... tentaram me
matar várias vezes em emboscada... até que em maio de 1998 ele foi morto.
Estava em Recife quando vi na televisão que Chicão tinha sido
assassinado, não quis acreditar que isto tinha acontecido liguei para casa de
meus pais e minha irmã confirmou a tragédia, que fazer, que dizer ao povo,
estariam desorientados? O povo forte deu a volta por cima e a terra foi
demarcada.

9 98

Jornal Diário de Pernambuco 1998


O fazendeiro José de Riva, mandante do assassinato do cacique,
suicidou-se na delegacia de polícia federam do Recife, mas em minhas
pesquisas não foi possível saber nada sobre o assunto, nem mesmo onde fora
enterrado.
172

Jornal Diário de Pernambuco 1998


Com a morte do cacique o seu filho foi escolhido em uma cerimônia
particular somente para os índios, depois de escolhido pelo pajé Zequinha e
seguido todos os rituais foi empossado o novo cacique, seu nome... Marcos
Luidson filho do Cacique Chicão, ainda jovem com tamanha responsabilidade,
levar agora os oito mil índios a mares nunca dantes navegado, pensando nisso
seu pai o colocou para estudar na scola Municipal João XXIII, escola onde
estudava a maioria dos índios da cidade pois ela ficava no bairro Xukuru, seu pai
parecia prever que o futuro do Povo Xukuru estava nas mãos do seu filho.
Coroados de êxito em suas lutas, o reconhecimento veio do exterior, D. Zenilda
Xukuru (esposa do cacique Chicão) foi indicada ao Nobel da paz em 2005.
Grande foi a luta e a dor desse povo humilde e descaracterizado em sua
cultura, afirma o Dr. Wellen96 em sua obra, que a língua dos índios fora proibida
de ser falada, depois todos os seus costumes e os que resistissem eram
perseguidos até chegar num ponto onde se havia medo de falar até que eram
índios, pude constatar esse aspecto ao entrevistar uma índia de 72 anos no
bairro Xukuru, nascida na aldeia Cana Brava que ao perguntar se era índia ela
afirmou 'nunca fui' mesmo tendo morado na aldeia toda vida, pois grandes eram
as ameaças, morei na cidade de Pesqueira por 15 anos e nunca fiquei sabendo

96
IDEM nota 29
173

que havia índio na cidade e nem mesmo eu sabia que era descendente de uma
índia Xukuru, sai de lá em 1985 e fui estudar e morar na capital de Pernambuco
- Recife, quando perguntávamos aos parentes que moravam na Serra do
Ororubá o que eles se consideravam eles se diziam caboclos.
Além do abandono do uso da própria língua, os Xukurus, na sua grande
maioria, ficaram com medo de viver os seus costumes. Sentiam-se
perseguidos, de todos os lados e de todas as maneiras, de tal forma
que muitos passaram a realizar as suas festas típicas ás escondidas.
Mas o pior foi que muitos dos parentes ficaram até com medo de se
identificar como sendo do povo Xukuru, ou até mesmo de se identificar
como índio.

Ainda afirma o Dr, Wellen que em 1970 de toda terra dos Xukurus 92%
estavam nas mãos de fazendeiros e posseiros, ou seja 20.780 hectares estavam
em poder dos fazendeiros, nesse ano a seca castigou a região do Cariri e os
sertões, eles não tinham trabalho nem reservas, possuíam as piores terras,
estavam prontos para morrerem.
Os fazendeiros fechavam as suas portas, colocando capangas
armados como vigilantes em suas propriedades. Até o acesso aos
açudes, mesmo sendo construídos com dinheiro público, foi negado e
houve casos até de assassinarem pessoas que tentavam conseguir um
balde ou uma lata de água para matar a sede dos seus... O que fazer
nesta triste situação, sem nenhuma saída á vista?

A grande arma dos fazendeiros e posseiros era o terror pelo medo, é uma
situação de estresse constante, que ocasiona diversos distúrbios até a
consequente morte. A veterinária Maria Albeline em suas pesquisas pela UFPE
(Universidade Federal de Pernambuco) disserta sobre a morte uma zebra no
zoológico de Dois Irmãos em Recife, ao analisar o animal foi constatado que ele
era jovem e gozava de boa saúde, sua alimentação era perfeita e nada havia
que indicasse a causa da morte, ao se fazer a necropsia do animal foi verificado
que o seu estômago estava com dezenas de úlceras, num quadro de gastrite
crônica e muitas semanas em pesquisa consumiu os pesquisadores que não
chegavam a uma conclusão, mas ao analisar a planta geofísica do zoológico foi
percebido que a 1 Km e na mesma direção do vento estava a jaula dos grandes
felinos, leões, onças, a noite o animal devia sentir o cheiro, ouvir seus rugidos.
174

Isso tudo acarretou a morte por stress da zebra, como a veterinária anda de
mãos dadas com a medicina o que se aplica aos animais em muitas situações
aplica-se aos humanos, não é a toa que os EUA tem um departamento de guerra
psicológica para trabalhar em conflito o terror pelo medo.

Entrada do zoológico de Dois Irmãos

Leão do zoológico de Dois Irmãos no período da morte da zebra


As pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
apontam que entre 1970 e 1990 trinta milhões de brasileiros fugiram da feroz
seca que assolou as terras do semi-árido nordestino, nesta grande massa
estavam também os Xukuru's e o cacique Chicão que deixava a família e ia para
175

São Paulo na esperança de sustentar-se a si e aos seus, como muitos


nordestinos.
Lá chegando Francisco de Assis Araújo (Chicão) arranjou emprego de
motorista de caminhão, mas logo ficou doente e foi diagnosticado com úlcera no
duodeno, ao qual os médicos não lhe deram nenhuma esperança de cura, todos
os seus sonhos ruíram em segundos, voltava para morrer em sua terra e seu
povo. Ao chegar o pajé e toda sua família fizeram seus rituais de cura, e o pajé
lhe deu os remédios sagrados, preparados por ele mesmo, e para surpresa
Chicão ficou bom.
Começou a luta do povo Xukurú, reunindo constantemente, Chicão, o pajé
Zequinha, o mestre bacurau, abordavam questões do povo suas lutas e seus
problemas, tudo as escondidas, normalmente na pedra do Reino, onde faziam
suas danças e rituais. Em suas conversas sempre vinha o que fazer com seus
parentes perseguidos pelos latifundiários, a brutal polícia de Pesqueira e seu
delegado que tomava o partido dos fazendeiros sendo donos de quase toda
totalidade do território Xukurú, que arrendava aos índios que queriam colocar
suas lavouras, então traçaram as metas para sua luta:
Primeiro: Unir todo o povo - essa foi a parte mais demorada, pois tinham que ir
de casa em casa, conversando e explicando como seria a luta, um trabalho de
conscientização.
Segundo: Reunir com os mais velhos para retrabalhar a memória e a identidade
indígena do povo, com base em um pressuposto científico da Escola dos
annales97.
Terceiro: Conversar com as mulheres - muitas das mulheres era arrimo de
família, seus maridos tinham ido a São Paulo e elas sustentavam a casa, logo
deveriam incluí-las na luta.
Quarto: A necessidade de estudar.
Chicão estudou história geral, a história de seu povo, com a ajuda de Paulo
Freire através de seus escritos, ele foi seu grande mentor som suas frases
célebres e seus estudos "estudar é assumir uma atitude séria e curiosa diante
de um problema" ou aquelas frases de Freire que impulsionam para a luta
"estudar é um dever revolucionário. Vamos estudar", mas todo estudo tem um

97
Escola que surgiu na França e trabalhava a memória oral como forma de conhecimento científico.
176

objetivo que segundo Freire deve impulsionar o agir "estudar é criar e recriar e
não repetir apenas o que os outros dizem"... assim sendo os índios começaram
a se reunir em grupos e estudar focando os estudos em seus problemas mais
imediatos, a médio e longo prazo, e assim eles tomaram contatos com
declarações internacionais de direitos indígenas, dentre elas San José (de Costa
Rica), com seus 37 artigos que para eles naquele momento da luta foi de
importância crucial que em síntese nos aponta diretrizes como é exposto a
seguir98:
6-7 de Dezembro, 2004 - San Jose, Costa Rica
Declaração de Corobici
Preâmbulo
1. Nós, os povos indígenas reunidos em São José, Costa Rica,
reafirmamos os princípios contidos na Declaração de Kari Oca, na
Declaração de Letícia, na Declaração de Kimberly e o Plano de Ação
dos Povos Indígenas para o Desenvolvimento Sustentável, e o Plano
de Ação de Wendake. Através de uma série de ações, como a defesa
comunitária das florestas, as consultas nacionais, a documentação de
estudos de caso e a aplicação do conhecimento indígena, os povos
indígenas estão contribuindo com a gestão sustentável das florestas e
sua proteção.
2. Os povos indígenas aportam soluções concretas a muitas das
questões que hoje enfrenta a humanidade, e reforçando o papel dos
povos indígenas através de uma participação efetiva em áreas como a
gestão de florestas e o desenvolvimento sustentável, os povos
indígenas podem contribuir significativamente para um futuro
sustentável a toda a humanidade.
3. Estamos indignados pela deterioração acelerada de nossas terras,
territórios, florestas, água e subsolo, e pela contínua violação de
nossos direitos. O livre acesso e uso de nossas terras, florestas e
águas é impedido. A titulação de nossas terras é postergada para
favorecer a terceiros. Áreas protegidas, concessões pesqueiras,
petroleiras e minerais, e plantações florestais se sobrepõem,
resultando em expulsão e restrições a nossos povos. Líderes e
comunidades que defendem suas florestas aso arbitrariamente presos
e reprimidos. A luta por nossos direitos é criminalizada e nossos
territórios são militarizados. É alarmante a impunidade e a
multiplicação de casos, como foi apontado pelas lideranças e
especialistas reunidos.
4. Expressamos nossa preocupação profunda pela atitude dos
organismos das Nações Unidas e dos governos de tratar de maneira
fragmentada o tema de conhecimentos tradicionais, negando a
natureza holística dos mesmos e sua unidade indissolúvel com nossos
direitos coletivos como povos.
5. Preocupa-nos que os processos nacionais e internacionais
relacionados com os tratados de livre comércio entre os estados
propiciam a usurpação e degradação de nossas florestas, terras e
territórios, assim como a biopirataria e acesso descontrolado a
recursos genéticos em nossas florestas, terras e territórios.
6. Os maiores obstáculos para a implementação dos mecanismos e
normas internacionais relativos aos direitos e liberdades fundamentais
dos povos indígenas são a falta de vontade política dos estados
nacionais, as leis injustas e discriminatórias, e a ausência de fundos

98
Extraído do web site: http://www.socioambiental.org/nsa acessado em 12 de julho de 2015
177

adequados e recursos necessários para o desenvolvimento autônomo


e a participação plena dos povos indígenas em todos os processos.
7. O Conhecimento Tradicional Relativo a Florestas (CTRF) dos povos
indígenas está intrinsecamente ligado a nossa vida. Não se pode
separa-lo de nossa relação com nossos territórios. Queremos
mencionar de maneira especial os valores espirituais, visões de mundo
e cosmologias únicas dos povos indígenas, que estão todos
interconectados com a sagrada rede da vida, e enriquecem a
diversidade cultural de toda a humanidade. Não há conhecimentos sem
povos e territórios.
8. O Conhecimento Tradicional Relativo a Florestas dos povos indígenas
não é uma mercadoria. Não se pode extrair, documentar ou comerciar.
Está unido a nosso desenvolvimento cultural intergeracional,
sobrevivência, crenças, espiritualidade, e sistemas medicinais. É
inseparável de nossas terras e territórios. Seu uso está confinado a
pessoas com a necessária autoridade para usá-lo de acordo com
nosso direito consuetudinário.
9. Nosso conhecimento tradicional é muito mais do que o simples
conhecimento sobre algumas plantas e animais. Está intimamente
unido com o mundo espiritual, os ecossistemas e a diversidade
biológica de nossas terras e territórios, e ultrapassa as fronteiras
nacionais. A apropriação fragmentada desse conhecimento significa
uma profunda violação à integralidade de nossas vidas, territórios e
desenvolvimento autônomo.
Por todo o exposto, exigimos novamente o reconhecimento dos
seguintes princípios em todas as políticas florestais e assuntos
relacionados com CTRF:
Princípios Gerais
1. Os povos indígenas tem o direito a livre determinação. Possuímos
sistemas legais e jurídicos a partir de um regime de direitos coletivos
sobre nossos territórios e os recursos naturais, incluindo os recursos
do subsolo.
2. A aplicação do princípio do consentimento prévio, livre e informado é
fundamental em qualquer decisão que possa afetar a nossos territórios,
terras, florestas e nosso plano de desenvolvimento.
3. O tema de conhecimentos tradicionais deve ser tratado de maneira
holística e inseparável de nossos direitos como povos.
4. Somos possuidores e guardiães do conhecimento indígena, e aqueles
que decidem a natureza de seu uso e aplicação, e as condições em
que se pode acessá-los ou não. Opomo-nos a um uso que viola a
espiritualidade e cosmovisão sobre nosso conhecimento tradicional.
5. Apoiamos um enfoque baseado nos direitos como a forma mais
adequada para tratar o tema de florestas e conhecimentos tradicionais,
bem como com esforços para a eliminação da pobreza. Tal enfoque
reconhece os direitos coletivos e individuais dos povos indígenas,
como o direito à livre determinação, ao uso e controle dos recursos
naturais, ao patrimônio cultural, ao auto-desenvolvimento, a nossas
línguas e a nossos modos e meios de vida tradicionais.
6. Temos direito a um desenvolvimento que seja apropriado e adequado
a nós, em nossos próprios termos e condições, a nosso próprio passo
e ritmo, gerido e guiado por nossas próprias autoridades, instituições e
processos. O direito a usar nossas florestas, água e subsolo, que
temos protegido e utilizado sustentavelmente durante séculos, da
forma que acreditamos adequada, incluindo sistemas contemporâneos
e inovadores de uso e gestão das florestas, é parte de nosso direito ao
desenvolvimento.
Enfatizamos a necessidade de fortalecer o papel fundamental das
mulheres indígenas na preservação e transmissão do conhecimento
tradicional. Da mesma forma, reconhecer o papel dos anciãos e guias
178

espirituais como possuidores e transmissores dos conhecimentos


tradicionais às novas gerações.

Quinto: Educar as crianças e os jovens na cultura Xukuru desde cedo, como


forma de perpetuar o conhecimento e fortalecer a luta caso ela viesse a se
arrastar por décadas, necessitariam de substitutos para dar continuidade a luta.
Após tantos estudos eles escolheram os líderes do povo em cada aldeia,
dentre eles aqueles com mais capacidade e que ficava com a missão de formar
e conscientizar toda aldeia, em conversas frequentes, estudos formativos, e
assim Chicão foi escolhido como vice cacique para ajudar o cacique que era seu
pai. Como vice cacique foi a constituinte em Brasília discursar e defender os
povos indígenas do Brasil, ao qual acabou por ser uma das fortes lideranças
indígenas do país, nas assembléias que assisti no povo Xukuru, povos indígenas
de diversas partes do país comparecem e fortalecem o sentimento de unidade,
apoiados por ONG's e setores da igreja católica como o CIMI 99. Vários
encontros internacionais aconteceram e a cada encontro o povo Xukuru
avançava na forte luta que tinha por objetivo a homologação e demarcação de
suas terras das mãos dos intrusores.
A medida que passava o tempo os encontros se ampliavam com outros
povos indígenas e a troca de idéias só levava a um consenso, invadir as
fazendas dos opressores e forçar a FUNAI, o governo e os outros setores
envolvidos a demarcar suas terras. Isto foi feito, porém deixou um rastro de
sangue no povo Xukuru, nenhum branco morreu, pois Chicão pedia que a luta
fosse na justiça, mas os fazendeiros não pensavam assim e muitos índios e
autoridade que defendiam os índios pagaram com suas vidas, a ponto da CNBB
- Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil - lançar como tema da campanha
da fraternidade 'por uma terra sem males', na qual fez uma pesquisa sobre a
mortandade dos índios no Brasil.
Chicão com sua grande visão para defender o seu povo, resolve recontar
a história e cada aldeia fica responsável, juntamente com suas crianças em
escrever um livro sobre suas lutas ao qual nominaram 'Índios - verdadeiros
amantes da terra e de suas culturas'.
Era necessário buscar informação para conscientizar os índios indo assim
para muitos eventos nacionais e internacionais, como no 'Encontro Latino
Americano de Organizações Indígenas, Negras' com a participação de 120
delegados de países como Chile, Brasil, Bolívia, Equador, México, Cuba,
Nicarágua, República Dominicana e Espanha, realizado na cidade de Salvador
em julho de 1993, esses delegados foram unanimes em afirmar o fracasso na
realização de políticas que defendessem direitos básicos dos povos ameríndios,
como o direito a vida e a terra para sua sobrevivencia. Dessa forma muitos
documentos começaram a dar respaldo e forças aos indígenas como 'Mandato
dos povos indígenas', 'Encontro continental de povos indígenas', 'Declaração
indigenista de Sevilha-Espanha', 'Simpósio ibero-americano de estudos
indígenas' e tantos outros espalhados pelo continente americano, Chicão se
fazia presente com a ajuda dos índios e ONG's, enquanto isso ocorria a pressão
também aumentava e mais índios eram mortos covardemente por fazendeiros
como xukuru Everaldo Rodrigues Bispo, filho do pajé, morto com dois tiros de
espingarda nas costas e mais dois tiros de revólver calibre .38 mm em uma

99
Conselho Indigenista Missionário - setor da igreja católica Apostólica Romana que apóia a luta dos índios
na demarcação de suas terras e no reconhecimento de seus povos.
179

emboscada na fazenda Cana Brava pelo fazendeiro Egivaldo Farias Filho no dia
4 de agosto de 1992, o criminoso fugiu, a polícia nada fez, revoltados os índios
foram até a fazenda e encontraram munição e armamento e uma lista com 21
nomes, entre eles o índio morto, o cacique Chicão, o pajé e vários outros.
No dia 27 de agosto uma passeata com mais de cem índios foi
interrompida a tiros dado pelo prefeito da cidade de Pesqueira João Leite, tendo
como alvo o candidato a vereador e amigo dos índios que era feroz opositor dos
fazendeiros e do prefeito, era um clima tenso até para pesquisar, pois era fácil
ser confundido como defensor dos índios, entrando na lista de mortos e inimigos
dos poderosos, mas o amor a pesquisa era o que me encorajava, sempre usava
camisa com o nome da faculdade, estava sempre com bloco de notas e caneta,
até que decidi ouvir também os fazendeiros e resolvi entrevistá-los, era também
uma forma de manter a neutralidade na pesquisa, mesmo assim o clima em meio
as mortes era muito tenso e tinha até taquicardia em algumas aldeias com
iminencia de conflitos, mas como se fala na caserna 'soldado que vai a guerra e
tem medo de morrer é um covarde' e isso nunca combinou com meu caráter.
Em 1995 a demarcação corria em meio aos conflitos, os índios
demarcavam a terra com apoio dos agentes da Polícia Federal, que usava
armamento pesado, metralhadoras e vários equipamentos como rádios,
binóculos com sensores e eles avisavam aos pesquisadores que a área era de
conflito, davam um briefing de segurança e recomendavam em caso de tiroteio
que se jogassem no chão e rastejasse até encontrar um abrigo. Os índios não
ligavam, pareciam até que queria ser mártires, tamanha sua determinação,
juntamente com topógrafos que seguiam a risca os limites fixados pelo governo
federal, minha felicidade foi ver um tempo depois ao ir a uma assembléia anual
na aldeia São José, uma placa enorme no bairro Xukuru já na entrada da reserva
na qual dizia TERRA INDÍGENA, COM ACESSO INTERDITADO A PESSOAS
ESTRANHAS', estava concluída a luta, ou estava começando, somente a
história dirá.

A DANÇA DO TORÉ
180

Dança ritual indígena comum a muitos povos indígenas do


Nordeste do Brasil - Pataxó, Pankararu, Tuxá, Kapinawá, Tumbalalá, Kambiwá,
Xukuru cariri e Xukuru do Ororubá entre outros. Em alguns povos antigos
somente os homens e guerreiros dançavam, no povo Xukuru todos podem
danças, homens, mulheres e crianças e algumas ocasiões até pessoas
convidadas que visitam a aldeia. É interessante notar que alguns quilombos
também dançam o Toré por seu contato com os povos indígenas.
Ele é dançado em todas as ocasiões sejam momentos alegres ou tristes,
sejam celebrações ou velório, ele já faz parte da rotina desse povo.

Da esq. para direita: Pesquisador Gabriel, Cacique Marcos Luidson e Pesquisador


Lacerda (ambos os pesquisadores da Universidade Estadual Vale do Acaraú - PB)
Assim como o pai, continuou sendo ameaçado de morte, andava quando
o conheci escoltado todo tempo, ainda hoje 2015 anda com escolta, mas a vida
do povo do Ororubá mudou da água para o vinho, felizes, donos de suas vidas,
agora plantam e abastecem o município de Pesqueira com hortaliças e tem
agora um espaço na feira municipal com produtos sem agrotóxicos.
181

A CIDADE DE PESQUEIRA
Entrando na cidade após 500 mt já vemos uma placa indicativa do município de
Cimbres, na serra, bastante frio a noite por ser bem alta a serra. Tem asfalto até a vila
que foi construída pelo governador da época Marco Maciel, não sei se o motivo era que
um dos fortes fazendeiros da serra era seu primo, Abelardo Maciel, médico da cidade,
o fato importante é que todas as benfeitorias ali realizadas, barragens, estradas, escolas
agora tudo é reserva do povo do Ororubá.
182

O município de Pesqueira100 está localizado na parte centro-norte-


ocidental da mesoregião agreste de Pernambuco, microregião homogênea 183,
Vale do Ipojuca, cujas cordenadas são 8º 21'30" de latitude Sul e 36º41'45" de
longitude Oeste de Grenwich, tem uma área territorial de 1.031,6 Km². O
clima dominante é o tipo semi-árido quente. A vegetação é caatinga hipoxerófila,
já bem alterada pela presença humana; é uma região rica em riachos e rios como
ipanema, santana, pedra d'água, retiro...101
A economia é agrícola e pecuária, sendo intenso na zona rural. Na
agricultura destaca-se as lavouras de feijão, milho, mandioca com centenas de
casas de farinha, tomate, goiaba, mamona. Na pecuária destaca-se o gado
bovino e caprino, e diversas granjas. No auge de sua economia havia cinco
grandes indústrias Peixe, Cicanorte, Rosa, Peixinha, Tigre (atualmente nenhuma
delas está aberta, todas fecharam) e muitas outras de pequeno porte sem contar
com a enorme quantidade de pessoas que fazem doces em suas casas. Seu
número de habitantes é de 57.602, sendo que destes 16.710 moram na zona
rural.
Dentre as suas vias de acesso Pesqueira está bem servida com uma
rodovia federal (BR 232) e três estaduais dentre elas a que se liga com Cimbres
PE 219 e a que vai para Alagoinha a PE 217, a rede ferroviária foi forte em seu
auge, responsável por escoar a produção.
O seu aeroporto bem movimentado pelos industriais donos das fábricas,
dentre eles Carlos Didier, Xavier de Brito e outros. Em seus aspectos religiosos
a cidade está bem servida com uma centenas de templos católicos (de diversas
ordens) inclusive pesqueira é uma Diocese criada aos 2 de agosto de 1919 pelo
Santo Padre - o Papa Bento XV, pela influência do primeiro cardeal da América
do Sul D. Joaquim Arcoverde de Albuquerque nascido na fazenda Fundão,
acreditem, no município de Cimbres terra dos Xukurus, por Pesqueira passaram
muitos bispos dentre eles:

1º Dom Augusto Álvaro da Silva 1911-1915


2º Dom José Antônio de Oliveira Lopes 1915 a 1932
3º Dom Adalberto Accioli Sobral 1934-1947

100
FUNDAÇÃO DE CULTURA ZEFERINO GALVÃO. Pesqueira - Cidade da graça, terra do doce e da
renda. Pesqueira: ML Editora, 2002.
101
IBGE, censo de 1991. Governo Brasileiro.
183

4º Dom Adelmo Cavalcanti Machado 1948-1955


5º Dom Severino Mariano de Aguiar 1956-1980
6º Dom Manuel Palmeira da Rocha 1980-1993
7º Dom Bernardino Marchió 1993-2002
8º Dom Francisco Biasin 2003-2011
9º Dom José Luiz Ferreira Salles, CSsR 2012
fonte: Diocese de Pesqueira
e também possui templos evangélicos das mais diversas congregações
Batistas, Adventistas, Mórmons, Assembléia de Deus, Universal.
Há um fato marcante na cidade que é a aparição de N. Senhora a duas
meninas, Maria da Luz e Maria da Conceição, viram uma senhora com uma
criança ao colo estampada no rochedo do sítio do guarda, ainda está estampada
na rocha como uma pintura rupestre, para todos que a visitam, atraiu romeiros
de todos os lugares da terra, as meninas uma foi freira a outra faleceu. O povo
falava que só acreditaria se visse um sinal, as meninas pedem e a senhora
atende, na rocha onde está gravada a sua imagem, jorrou uma fonte que está lá
até hoje, a senhora disse que era para curar as feridas de seu povo. Fui várias
vezes a gruta e comprovei que há um desenho no paredão da rocha e que as
pés sai água por alguma forma que não sei explicar.
Depois do ocorrido o pároco avisou o bispo que marcou visita para estudar
os sinais, ao chegar ao local o bispo nada vê, depois de interrogar as crianças o
bispo diz-lhes que vai lhes fazer umas perguntas em várias línguas embora não
soubesse outras línguas elas responderam em todas as línguas que o bispo as
interrogou. Concluiu o bispo que não poderia proibir o povo de rezar e pedir a
Deus, pois não podia explicar tais fenômenos, muitas curas aconteceram e o
sítio do guarda hoje dentro da reserva ainda é muito visitado, os índios permitem
que os fiéis transitem normalmente102.

3.2 OS CONFLITOS NA SERRA DO ORORUBÁ COM OS FAZENDEIROS E


POSSEIROS

Vê-se que Marx em "O capital" nos mostra que a luta de classes no ambiente
capitalista está acima de muitos valores ou mesmo como diz Vavy Pacheco 103:

102
IDEM nota 26
103
BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. 2 Ed. Ver. São Paulo: Brasiliense, 1993.
184

Uma sociedade sempre se estrutura em diferentes grupos ou classes,


uma das quais detém o poder político, o poder econômico e o prestígio
social[...] uma sociedade se organiza em função do poder político e da
apropriação econômica. Os grupos que comandam nessas áreas
procuram manter o predomínio e organizam-se para que essas relações
de poder se reproduzam nesse tipo de sociedade.

Nas entrevistas feitas com os índios, fazendeiros e posseiros desde 1996


na cidade de Pesqueira (PE), percebe-se que após vários assassinatos a tribo
Xucuru que estava dispersa nos bairros da cidade começou um movimento de
coesão que culminou na demarcação de sua reserva e isto aconteceu devido a
um pressuposto da sociologia que afirma.

VILANOVA104 (1994)
É um princípio sociológico que quando os grupos humanos sofrem
alguma ameaça externa real ou fictícia, eles tendem a aumentar
a sua coesão.

O maior erro do conquistador europeu que aqui aportou foi o


prejulgamento da cultura indígena, achando este que a sua era superior,
auferindo juízo de valor errôneo.
Na linguagem sociológica, cultura é tudo o que resulta da criação humana.
Existem culturas superiores? Esta devia ter sido a pergunta que os
conquistadores deveriam ter respondido em suas conquistas, antes de
determinar o genocídio dos ameríndios.
VILANOVA (1994)
Para a sociologia não existem culturas superiores nem inferiores,
mas apenas diferentes. À ciência não compete julgar, emitir juízos
de valor, pois cada cultura é uma realidade autônoma e só pode
ser compreendida adequadamente a partir de si mesma. O
etnocentrismo, em ciência social, é a tendência humana universal
a perceber e julgar culturas e sociedades estranhas através do
crivo de valores da sua própria cultura.

104
VILA NOVA, Sebastião. Introdução a sociologia. São Paulo: Atlas, 1985
185

Culturas tradicionais de tecnologia rudimentar podem inversamente,


oferecer condições mais favoráveis ao conforto mental dos seus participantes, à
medida que enfatizem a solidariedade e a cooperação e, consequentemente,
dêem aos seus indivíduos fortes sentimentos de apoio grupal. O tempo passado
entre os Yanomamis permite afirmar que os idosos não são abandonados, não
existem crianças na florestas sem cuidados, poluição de rios e nascentes e tudo
é dividido entre todos.
O cuidado com os idosos mostra o nível de sabedoria de um povo, vejam
os japoneses como tratam seus anciãos, os índios eram e são assim também,
Platão105 na 'República' já dizia:
Nada me agrada tanto como praticar com pessoas de idade; pois as
considero como viajantes que percorrem um longo caminho, o qual eu
talvez tenha de percorrer também [...] Alguns se queixam das
desconsiderações que recebem dos próprios parentes.

Dos muitos casos curiosos que vivi entre os Yanomamis, lembro de uma
criança (curumim) que andava com um sargento do pelotão de fronteira, e os
dois eram grandes amigos onde ia um o outro também ía, eis que chegou a
transferência pois o referido militar já estava na fronteira há mais de dois anos,
e o amor entre eles quase de pai e filho, os atormentava, a situação foi tão forte
que a FUNAI autorizou a adoção juntamente com o exército, pois os dois já não
concebiam viver separados, a própria natureza os uniu e tantos outros casos
maravilhosos, viver entre os índios é viver sem maldade, sem egoísmo, é repartir
o pouco.
A cultura tem como função evidente satisfazer necessidades humanas,
bem como as idéias a respeito do modo convencionalmente correto de satisfazê-
las. Porem, quando esta não é respeitada atuarão códigos que punam os
infratores para não gerar anomia.
Ainda para VILANOVA106 (1994)
Na sociologia subcultura significa parte de uma cultura. Ela é antes
constituída de valores, crenças, normas e padrões de comportamento,
ou seja um modo de vida próprio.

105
PLATÃO. A república. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.
106
IDEM nota 13
186

Os participantes de subculturas mais evidentes tendem a ser vítmas de


rotulações sociais, estereótipos, que são imagens preestabelecidas para todos
os indivíduos pertencentes a alguma categoria social. Logo, o estereótipo,
porém, sendo uma imagem preconceituosa, quando não discriminatória, é uma
representação falsa das pessoas rotuladas através deles. Isto foi o que
aconteceu no Brasil e que levou a mortandade de cinco milhões de índios.
A religiosidade dos Xukurús tem como centro a natureza os seus
Encantados (ancestrais que voltam como espíritos de luz para ajudar o povo em
suas lutas), a Jurema, o Toré e outros mais. O pajé é o líder espiritual do povo é
ele que pede aos encantados e escolhe o cacique, hoje o Pajé Zequinha é o
responsável pela espiritualidade dos quase nove mil índios. Em visita a cidade
de Pesqueira esta semana, dia 30 de novembro de 2015, os índios Xukuru's
fizeram uma festa na casa do pajé Zequinha para comemorar seus noventa
anos, conversei com ele e sua lucidez me impressiona.

Da esquerda para direita: índio Doca, Pesquisador Gabriel, Pajé Zequinha (90 anos).
Muitos índios também são católicos e evangélicos, mas não encontrei
nenhuma outra denominação religiosa. O catolicismo ainda é em sua maioria a
religião dos índios.
No calendário Xukurú107 as principais datas incluem suas lutas seus
costumes e sua tradição como segue:
JANEIRO
06 Festa do Rei do Ororubá

107
MEC - GOVERNO BRASILEIRO. Caderno do tempo. Professoras e professores indígenas em
Pernambuco. Olinda: 2006.
187

28 Retomada da fazenda Santana


FEVEREIRO
06 Retomada da fazenda Caípe e plantio de lavouras
MARÇO
16 Retomada da fazenda Tionante e agradecimento pela colheita da lavoura
ABRIL
Semana dos povos indígenas
MAIO
18 a 20 Assembléia do povo, homologação de terras, memória de Xicão e mês
de Maria (Nossa Senhora das Montanhas)
JUNHO
23 Culto a São João e colheita do milho e comidas típicas
JULHO
02 Louvor a Tamain (Nossa Senhora das Montanhas)
AGOSTO
Dedicado a memória de Chico Quelé
SETEMBRO
Retomada da Aldeia Guarda
OUTUBRO
12 Opipi
21 Dedicado a Memória do Capitão Juvenal
NOVEMBRO
02 Dia dos encantados
DEZEMBRO
24 a 31 Confraternização do Povo Xukuru na mata sagrada
É de assustar tamanha ignorância cultural por parte dos europeus que
aqui aportaram, cada dia de pesquisa me faz ver a riqueza de um povo que foi
considerado extinto até pela FUNAI, e tiveram que provar que eram índios e que
sua cultura estava viva. Ao visitar o museu do índio em Brasília, em Manaus e
outras cidades vê-se que as roupas rituais belíssimas que nem Joãozinho trinta
seria capaz de fazer igual, suas comidas o beiju, canjica, farinha e tantos bens
culturais que enriqueceram nossa cultura, ela está permeada do índio brasileiro.
188

Museu do índio Brasília

Museu do índio Brasília


189

3.3 A VIDA DO POVO XUKURÚ NO GOVERNO MILITAR


Após longos anos de entrevista com os moradores da Rua Barão de Vila
Bela na cidade de Pesqueira, a entrevista de dois deles refletem bem o
sentimento do povo do Ororubá, os senhores João de Barros (in memoriam) e
Francisco de Assis108, eles eram moradores dessa rua com uma particularidade
de terem suas casa em frente a cadeia pública e terem visto como os policiais
tratavam os presos, inclusive os caboclos do Ororubá (assim eram chamados os
índios como uma forma de apagar e suprimir suas raízes e assim os seus direitos
de donos originários da terra ocupada pelos fazendeiros), o senhor João disse
que uma vez saiu de casa foi a delegacia e falou aos policiais que se não
parassem de bater no caboclo ele ia denunciar ao juiz da comarca, e assim o
fez, mas o mesmo não sabe dizer se houve punição, o mesmo fato confirma
vários moradores da rua, hoje a antiga delegacia é um centro cultural.
Muitos foram os índios presos injustamente, "caboclo é tudo ladrão"
diziam os fazendeiros donos das terras que tinha sido dos índios, que agora
pagavam o "arrendamento" aos seus novos donos, e mesmo assim quando
plantavam tinham que fazê-lo às pressas pois os fazendeiros colocavam o gado
com o milho e feijão por colher, se reclamassem iam presos, muitas cartas da
prisão eram mandadas ao povo que recorria aos encantados e a Tupã que lhes
desse forças, como a carta de Agnaldo Xukuru na prisão descrita na tese de
Edson Hely Silva109.
Carta de Agnaldo Xukuru da Prisão
(Presídio Juiz Plácido de Souza, Caruaru/PE). Caruaru, 06/01/08
Povo Xukuru do Ororubá,
guerreiros e guerreiras Xukuru, que a força encantada do reino do Ororubá,
esteja com todos e todas neste momento.
Escrevo-lhes da prisão, onde com muita dignidade, tento resistir, como fez meu
povo, durante estes 507 anos. Estou sofrendo muito, não apenas pelo fato de
estar preso, mas por conta de que me tiraram do meio do meu povo, dos
costumes e tradições do povo Xukuru. Não permitiram que este ano, eu pudesse
estar recebendo com vocês, as forças encantadas do reino do Ororubá.
No entanto não me tiraram algumas coisas que considero essencial: a minha
dignidade, o meu amor pelo meu povo, o meu compromisso com a construção
do projeto de futuro do meu povo, que significa a construção de um mundo
melhor, sem opressores e oprimidos.

108
Entrevistas realizada com os senhores João de Barros, Francisco de Assis, e outros
moradores da rua Barão de Vilabela próximos a cadeia pública nos anos de 1983 a 2014.
109
Silva, Edson Hely. Xukuru: Memórias e história dos índios da Serra do Ororubá
(Pesqueira/PE), 1950-1988. Tese de doutorado. UNICAMP, Campinas - SP, 2008.
190

Aqueles que nos perseguiram no passado, através dos nossos antepassados,


ainda hoje nos perseguem representado pelas elites de Pesqueira, pelos que
detém o poder e com ele, conseguem manipular alguns descomprometidos com
a luta do nosso povo e que só pensam em tirar proveito próprio.
São muitas e articuladas as forças contrarias ás nossas lutas, ao nosso povo.
Estão cada vez mais tentando atrapalhar o trabalho que nossas lideranças vêm
buscando desenvolver. No entanto, esses, que se unem para destruir o povo
xukuru, encontram pela frente muitos obstáculos e eis alguns deles:
1° - nossas lideranças não se vendem, apesar de ter em dificuldades financeiras;
2° - somos um povo numeroso e unido, consciente dos direitos e não nos
deixamos manipular;
3° - nosso povo conta com uma estrutura de organiza ção sólida, como o CISXO,
COPIXO, Conselho de Lideranças, Associação;
4° - temos um cacique dinâmico que trabalha e nos d eixa trabalhar e um pajé,
que nos ajudou a enxergar e valorizar a força encantada do reino do Ororubá;
5° - temos uma mediunidade preparada para juntos quebrar-mos toda força
contrárias a nossas lutas.
Gostaria de aqui da prisão, pedir a união de toda força encantada. Agradecer os
apoios, as demonstrações de confiança em mim e no companheiro Rinaldo.
Quero ainda afirmar que sou inocente e que acredito na justiça divina.
Estou cheio de esperanças que em breve estarei de volta para continuar a luta
por dias melhores junto ao meu povo. No entanto, sei que estou pagando um
preço alto por estar a frente, junto as demais lideranças, das lutas e conquistas
que temos.
Portanto, esse preço pago com muita dignidade e peço apenas, nesse momento,
tão difícil que as forças continuem unidas, acreditando na nossa inocência.
Mas gostaria de dizer ainda, prá finalizar:índios) estão morrendo em nosso
território nos últimos anos e a maioria delas, através de emboscadas todas no
território xukuru e isso precisa ter fim. Chico Quelé foi a primeira vitima, depois
de Xikão. Quem está por trás dessas mortes, destes crimes hediondos, precisa
pagar por eles, pois se não inocentes acabam pagando sem dever. Nossa
grande luta é pela vida, como nos orienta nosso pai Tupã, da qual seremos
sempre os grandes promotores e promotoras.
Chega de impunidade! Chegam de perseguição as lideranças e ao povo Xukuru!
Aqueles que nos tentam destruir tem que aprender que aprendemos com o
nosso grande professor Xikão: “em cima de medo coragem!”. Com o Cacique
Marcos: “diga ao povo que avance!” Com o nosso Pajé que “as nossas forças
estão na Pedra do reino do Ororubá!”.
Agradeço especialmente aos nossos parceiros, pela articulação, pelo credito no
nosso trabalho. Nosso povo é forte e junto comigo continuará resistindo e como
disse um grande líder indígena: “somos milhões e mesmo que todo o universo
seja destruído, nós viveremos”.
Salve as forças encantadas do reino do Ororubá! Salve as matas, as pedras e
água! Salve a união e a força de todo o povo Xukuru!
Um beijo no coração de todo o meu povo e um feliz ano novo cheio de paz e
harmonia para todos e todas. Do amigo aprisionado.
Agnaldo Xukuru.
191

ANTIGA CADEIA PÚBLICA DE PESQUEIRA


Mesmo assim no governo militar muitas demarcações ocorreram, mas em
entrevistas com alguns oficiais generais, pareceu a este pesquisador haver uma
resistência em aceitar a demarcação de povos que tinham perdido suas
características de povos originários, andarem semi-nús, morarem em ocas e
tabas, como era o caso do povo Xukurú, andavam vestidos e embora muitos
pensassem que eles não seguiam os rituais dos ancestrais na verdade eles
faziam escondido, pois quando eram pegos dançando o Toré por exemplo eles
apanhavam dos fazendeiros, pois aceitar isso e outras partes da cultura deles
era correr o risco de perder as terras para a demarcação da FUNAI.
Um artigo do jornal Correio do Estado - MS aponta para irregularidades
por parte dos políticos que invadiam as terras tradicionalmente indígenas e os
documentos destes atos foram arquivados e dados como desaparecido até a
presente data.
Afirma o jornal que durante 45 anos os documentos desapareceram e que
o regime militar tinha conhecimento do fato e nada fez para mudar a situação
que hoje está a beira do caos no MS, suicídio coletivo de indígenas, mortes por
fazendeiros, mesmo tendo a justiça proibido a contratação de seguranças nas
fazendas o que levaria a um confronto com mortes como tem ocorrido em várias
fazendas.
192

Jornal Correio do Estado - MS edição de 30 de junho de 2013


193

3.4 AS LEIS DE PROTEÇÃO E DE EDUCAÇÃO QUE CONTEMPLAM OS ÍNDIOS NA


CONSTITUIÇÃO DE 1988, o PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), do Plano
Nacional de Educação e Diretrizes Curriculares Nacionais

A revisão curricular110, entre outros, há muito tem sido questionada, de


forma que um modelo curricular possa levar a educação a um patamar de
quantidade e qualidade necessárias, que possa fazer um resgate daqueles que
estão praticamente a margem da sociedade, em grande parte as comunidades
indígenas e quilombolas e os pobres, onde ainda detém os piores índices de
formação de professores, repetência, evasão escolar e outros que degradam a
da educação nacional.
A revisão curricular deverá ocorrer simultaneamente a outro
debate previsto no PNE que também envolverá grande disputa
política: a definição das bases nacionais curriculares comuns no
ensino fundamental e médio, ou seja, a definição dos conteúdos
mínimos a serem estudados nas escolas do país.
É neste quadro de grande complexidade que o Plano Nacional
da Educação, apresentado ao Congresso Nacional por
Mensagem Presidencial em 2010, sancionado e publicado no
DOU em 25/06/2014, coloca para todos nós, comprometidos
com a educação pública como direito, democrática, de qualidade
referida socialmente e laica, o desafio da institucionalização em
Lei do Sistema Nacional da Educação (SNE) nos próximos dois
anos.
[...]
O slogan eleitoral do recém-iniciado segundo mandato presi-
dencial tenha sido “Brasil, pátria educadora”, indicativo da
verbalizada intenção governamental de elevar a educação ao
patamar de “prioridade das prioridades”, os rumos econômicos
assumidos pelo novo governo comprometem o futuro da
educação brasileira.

110
Revista Educação & Sociedade. Editorial. vol.35 no.129. ISSN 1678-4626 Campinas ed.
out./dez. 2014
194

É mister que há muitos grupos e setores que se mantém no poder e que


não estão interessados nessa melhoria de qualidade e universalização da
educação. pois ela é uma arma em um país democrático de direito, inclusive de
ascensão social, como se pode ver em comentários de revistas
especializadas111:

É importante que fiquem visíveis os interesses de grupos e


forças políticas e econômicas antagônicas que disputam o
campo educacional no Brasil. Tais antagonismos manifestam-se
tanto no entendimento dado à concepção de educação presente
no artigo 205 da Constituição Federal e nos princípios dele
decorrentes, artigo 206, quanto no texto do PNE já aprovado.
É muito claro ainda no nosso país a alarmante desigualdade, onde vinte
famílias detém oitenta por cento das nossas riquezas, que muito ainda precisa
ser feito como afirma COSTA e BARTHOLO (2014)112 " há problemas potenciais
associados ao fenômeno – do ponto de vista da igualdade de oportunidades e
desvantagem potencial " , ficando pior esta segregação nas capitais brasileiras,
o índio, o negro e principalmente o pobre são os mais prejudicados, mas há que
se entender o que é segregação e desvantagem potencial:

O conceito de segregação escolar aqui adotado refere-se a uma


distribuição desigual de indivíduos portadores de uma
determinada característica de presumida desvantagem social,
por entre um conjunto de escolas, que podem ser tomadas como
espaços de oportunidades educacionais distintas.
[...]
Designamos “desvantagem potencial” a características que
podem ser resumidas em uma variável e que expressam
condições, reconhecidas na pesquisa educacional, com forte
associação a desvantagens no desempenho e no rendimento
escolar. O tema da segregação está diretamente ligado à

111
IDEM nota 60. Revista Educação & Sociedade.

112
COSTA, Marcio da e BARTHOLO, Tiago Lisboa. Padrões de segregação escolar no
Brasil: um estudo comparativo entre capitais do país. 2014, vol.35, n.129, pp. 1183-1203.
195

temática da qualidade e equidade dos sistemas educacionais


e, de forma mais ampla, à justiça social.

Por isso se faz necessária a avaliação do sistema educacional brasileiro,


intensificada nos governos FHC 'Toda criança na escola', Lula 'Educação para
todos' e Dilma 'Pátria educadora', mesmo assim ainda estamos longe de uma
educação onde todas as crianças estejam na escola, muito menos que todos
tenham acesso se não pagarem por sua educação visto que segundo a Revista
Veja 'Educação é o segundo negócio mais rentável em nosso país' e Pátria
educadora deve levar ainda pelo menos um século, segundo Valente e Costa
(2014)113.

O discurso oficial, a avaliação de sistemas educacionais se


fundamenta nos princípios de “visibilidade” e “responsabilidade”.
Com base no primeiro, a educação, como princípio ético, é um
direito de todos, independente da etnia, gênero, religião e
condição socioeconômica. A escola, por sua vez, é um bem
público, e seus gestores devem apresentar à sociedade
resultados e produtos de seu investimento.

Essa disparidade curricular foi apontada nas reuniões dos conselhos


interestaduais do RN como uma prática existente no estado a longas datas 114.

No contexto do Rio Grande do Norte, três segmentos dos povos


tradicionais – os negros, os índios e ciganos – sofreram, ao
longo dos tempos, uma espécie de apagamento cultural. O
realce na natureza cultural e subjetiva desses povos se encontra
em uma concepção de Justiça Curricular e que, relacionada com
a nominação de Pedagogia da Alteridade, coloca como
necessárias nas discussões da CONAE 2014 proposições que
considerem os processos de apreensão da condição
intersubjetiva da construção de conhecimento, tendo como
referência a diversidade cultural.

PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE 2014 - 2024


O Plano Nacional de educação nos apresenta sete eixos temáticos e
começando pela definição de eixo vemos que a educação é o centro de tudo
aquilo que quisermos construir. Analisemos então a palavra 'eixo'.

113
Valente, Lucia de Fatima e Costa, Maria S. Ferraz P. M. O Plano de Ações Articuladas
(PAR): perspectivas e desafios na melhoria da qualidade do ensino Revista Educação em
Questão, Natal, v. 50, n. 36, p. 183-210, set./dez. 2014
114
Magna França, Mariangela Momo, (organizadoras). Processo democrático participativo:
a construção do PNE –Campinas, SP: Mercado de Letras, 2014.
196

Segundo Aurélio (2009)115 ele apresenta seis definições sendo a que mais
se liga a educação "o ponto principal, o centro" ou "reta que passa pelo centro
de um corpo". As duas definições falam do centro. Logo a educação é o centro
dos nossos problemas e de nossas soluções.
Temos um grave problema na educação nacional que é a formação dos
professores, principalmente na educação básica, onde apenas 6,1 estão
cursando o ensino superior, dados do governo segundo Dourado (2006).
Os indicadores a seguir evidenciam o complexo desafio para a
formação de professores na medida em que o número de
docentes atuando na educação básica sem a correspondente
formação em nível superior, é significativo (25,2% do total de
2.141.676 de docentes). Merece ser ressaltado que, desse
contingente de profissionais sem formação superior, 0,1% não
completou o Ensino Fundamental, 0,2% possui apenas o Ensino
Fundamental completo, e 24,9% possuem o Ensino Médio, dos
quais 13,9% concluíram o Ensino Médio Normal/Magistério e
4,9%, o Ensino Médio sem Magistério, enquanto 6,1% estão
cursando o Ensino Superior. A problematização de tais
indicadores, bem como análise mais acurada destes, propicia
elementos analíticos importantes para as políticas.

Ao avaliar o plano nacional da educação brasileira, Dourado 116(2006)


afirma que a educação é um espaço de disputa que decorrem de séculos, onde
as políticas educacionais, como políticas públicas, traduzem, historicamente, os
embates sociais mais amplos, entre as classes sociais, os diferentes atores
principalmente os mais excluídos, as conjunturas políticas, entre outros agentes,
assim descreve Dourados.
o PNE não se converteu, efetivamente, em uma política de
Estado, no sentido lato, mas constituiu-se em um instrumento de
luta em prol da construção das políticas.

A estrutura do plano de educação:

I – Introdução, com o histórico, os objetivos e as prioridades do PNE;

115
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da língua portuguesa. Ed. Positivo, 7
ed. Curitiba: 2008.
116
DOURADO, Luiz Fernandes (Org.). Plano Nacional de Educação (2011-2020): avaliação e
perspectivas. Goiania: Editora UFG; Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
197

II – Níveis de Ensino, que trata da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino


Fundamental e Ensino Médio) e da Educação Superior;
III – Modalidades de Ensino (Educação de Jovens e Adultos, Educação a
Distância e Tecnologias Educacionais, Educação Tecnológica e Formação
Profissional, Educação Especial e Educação Indígena);
IV – Magistério da Educação Básica (Formação dos Professores e Valorização
do Magistério);
V – Financiamento e Gestão; e
VI – Acompanhamento e Avaliação do Plano.

Das muitas leis criadas por organismos internacionais como a declaração


dos direitos humanos da ONU em 1948, a qual deu origem aqui no Brasil ao
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, o qual vem citar 117:

Esse traço conjuntural resulta da conjugação de uma série de fatores,


entre os quais cabe destacar: a) o incremento da sensibilidade e da
consciência sobre os assuntos globais por parte de cidadãos(ãs)
comuns; b) a institucionalização de um padrão mínimo de
comportamento nacional e internacional dos Estados, com
mecanismos de monitoramento, pressão e sanção; c) a adoção do
princípio de empoderamento em benefício de categorias
historicamente vulneráveis (mulheres, negros-as), povos indígenas,
idosos(as), pessoas com deficiência, grupos raciais e étnicos, gays,
lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, entre outros); d) a
reorganização da sociedade civil transnacional, a partir da qual redes
de ativistas lançam ações coletivas de defesa dos direitos humanos
(campanhas, informações, alianças, pressões etc.), visando acionar
Estados, organizações internacionais, corporações econômicas
globais e diferentes grupos responsáveis pelas violações de direitos.

Apesar de muito ter sido feito em termos de legislação do Estado


brasileiro, o mesmo reconhece que para o cumprimento dessa lei ainda falta
muito, pois aqueles que estão no poder querem se manter lá a qualquer custo.
conforme explica o plano nacional:
Ainda há muito para ser conquistado em termos de respeito à
dignidade da pessoa humana, sem distinção de raça, nacionalidade,
etnia, gênero, classe social, região, cultura, religião, orientação sexual,
identidade de gênero, geração e deficiência. Da mesma forma, há
muito a ser feito para efetivar o direito à qualidade de vida, à saúde, à
educação, à moradia, ao lazer, ao meio ambiente saudável, ao
saneamento básico, à segurança pública, ao trabalho e às diversidades
cultural e religiosa, entre outras.

117
BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Secretaria de Direitos
Humanos da Presidência da República, 2006.
198

O texto da nossa legislação é tão belo que mais parece Camões,


Drummond, mas que está muito longe de ser posta em prática, como se pode
ver ainda no mesmo plano, os currículos nacionais são mais excludentes e
marginalizantes do que se pode imaginar, temos vários currículos, o rico que
estuda em escolas públicas tem um currículo diferenciado que poderíamos
chamar de currículo 'A', o pobre que estuda em uma escola pública te um
currículo 'B' e o índio coitado lá na sua aldeia tem um currículo 'C', que não lhe
permite vencer profissionalmente, então não adianta termos a lei se ela não
consegue alcançar de maneira qualitativa a todos e acaba sendo necessários
criar cotas como uma forma desesperada de corrigir erros históricos de negros
e índios:

A Constituição Federal Brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da


Educação Nacional - LDB (Lei Federal n° 9.394/1996) afirmam o
exercício da cidadania como uma das finalidades da educação, ao
estabelecer uma prática educativa “inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, com a finalidade do
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho” [...] fomentar o
entendimento, a tolerância, a igualdade de gênero e a amizade entre
as nações, os povos indígenas e grupos raciais, nacionais, étnicos,
religiosos e lingüísticos. [...]É necessário concentrar esforços, desde a
infância, na formação de cidadãos(ãs), com atenção especial às
pessoas e segmentos sociais historicamente excluídos e
discriminados.

Esse trecho nos fala exclusivamente do currículo:

fomentar a inclusão, no currículo escolar, das temáticas relativas a


gênero, identidade de gênero, raça e etnia, religião, orientação sexual,
pessoas com deficiências, entre outros, bem como todas as formas de
discriminação e violações de direitos, assegurando a formação
continuada dos(as) trabalhadores(as) da educação para lidar
criticamente com esses temas;

Preocupados com a discrepância curricular nacional, principalmente em


relação aos povos indígenas o plano nacional de educação em direitos humanos,
apresenta apoio principalmente com discentes e docentes, pois se os docentes
não são possuidores de bom currículo, como o serão os discentes, ai
repensamos Paulo Freire quando diz que "não docência sem Discência":

Dar apoio ao desenvolvimento de políticas públicas destinadas a


promover e garantir a educação em direitos humanos às comunidades
quilombolas e aos povos indígenas, bem como às populações das
199

áreas rurais e ribeirinhas, assegurando condições de ensino e


aprendizagem adequadas e específicas aos educadores e educandos;

O artigo 8 do Plano Nacional obriga os estados e municípios a elaborarem


seus planos de educação em consonância com o nacional, atento ás
necessidades específicas dos indígenas.

Art. Os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão


elaborar seus correspondentes planos de educação, ou adequar os
planos já aprovados em lei, em consonância com as diretrizes, metas
e estratégias previstas neste PNE, no prazo de um ano contado da
publicação desta lei.
§ 1º Os entes federados estabelecerão nos respectivos planos de
educação estratégias que:
I − assegurem a articulação das políticas educacionais com as demais
políticas sociais, particularmente as culturais;
II − considerem as necessidades específicas das populações do
campo e das comunidades indígenas e quilombolas, asseguradas
a equidade educacional e a diversidade cultural;

O plano traçou como primeira meta o propósito de universalizar, até


2016, a educação infantil na pré-escola para as crianças de quatro a cinco anos
de idade e ampliar a oferta de educação infantil em creches de forma a atender,
no mínimo, cinquenta por cento das crianças de até três anos até o final da
vigência deste PNE, em especial atendendo as comunidades indígenas e
quilombolas, vítimas de cem milhões de mortos e de vinte milhões,
respectivamente no processo de colonização e como estratégia obter:

Fomentar o atendimento das populações do campo e das


comunidades indígenas e quilombolas na educação infantil nas
respectivas comunidades, por meio do redimensionamento da
distribuição territorial da oferta, limitando a nucleação de escolas
e o deslocamento de crianças, de forma a atender às
especificidades dessas comunidades, garantido consulta prévia
e informada;

Como segunda meta foi determinado que devia-se universalizar o ensino


fundamental de nove anos para toda a população de seis a quatorze anos e
garantir que pelo menos noventa e cinco por cento dos alunos concluam essa
etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE e como
estratégia obter:

Desenvolver tecnologias pedagógicas que combinem, de


maneira articulada, a organização do tempo e das atividades
didáticas entre a escola e o ambiente comunitário, considerando
as especificidades da educação especial, das escolas do campo
e das comunidades indígenas e quilombolas; [...] estimular a
200

oferta do ensino fundamental, em especial dos anos iniciais,


para as populações do campo, indígenas e quilombolas, nas
próprias comunidades;

A terceira meta relaciona-se a universalizar, até 2016, o atendimento


escolar para toda a população de quinze a dezessete anos e elevar, até o final
do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de matrículas no ensino médio
para oitenta e cinco por cento e como estratégia obter:

Fomentar a expansão das matrículas gratuitas de ensino médio


integrado à educação profissional, observando-se as
peculiaridades das populações do campo, das comunidades
indígenas e quilombolas e das pessoas com deficiência;

Apresenta o plano como quarta meta universalizar, para a população de


quatro a dezessete anos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à educação
básica e ao atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede
regular de ensino, com a garantia de sistema educacional inclusivo, de salas de
recursos multifuncionais, classes, escolas ou serviços especializados, públicos
ou conveniados e como estratégia obter:

Implantar, ao longo deste PNE, salas de recursos


multifuncionais e fomentar a formação continuada de
professores e professoras para o atendimento educacional
especializado nas escolas urbanas, do campo, indígenas e de
comunidades quilombolas;

A meta número cinco do plano é alfabetizar todas as crianças, no


máximo, até o final do terceiro ano do ensino fundamental e como estratégia
obter:

apoiar a alfabetização de crianças do campo, indígenas,


quilombolas e de populações itinerantes, com a produção de
materiais didáticos específicos, e desenvolver instrumentos de
acompanhamento que considerem o uso da língua materna
pelas comunidades indígenas e a identidade cultural das
comunidades quilombolas;

A sexta meta do plano foi a de oferecer educação em tempo integral em,


no mínimo, cinquenta por cento das escolas públicas, de forma a atender, pelo
menos, vinte e cinco por cento dos(as) alunos(as) da educação básica e como
estratégia obter:
201

Atender às escolas do campo e de comunidades indígenas e


quilombolas na oferta de educação em tempo integral, com base
em consulta prévia e informada, considerando-se as
peculiaridades locais;

Teve o plano como Meta de número sete, fomentar a qualidade da


educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo
escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais
para o Ideb e como estratégia obter:

IDEB 2015 2017 2019 2021


Anos iniciais do ensino fundamental 5,2 5,5 5,7 6,0
Anos finais do ensino fundamental 4,7 5,0 5,2 5,5
Ensino médio 4,3 4,7 5,0 5,2

Tinha ainda como estratégia para as classes historicamentes excluídas a


manutenção de sua história cultural assegurada na Lei.

Garantir nos currículos escolares conteúdos sobre a história e


as culturas afro-brasileira e indígenas e implementar ações
educacionais, nos termos das Leis nos 10.639, de 9 de janeiro
de 2003, e 11.645, de 10 de março de 2008,
assegurando-se a implementação das respectivas diretrizes
curriculares nacionais, por meio de ações colaborativas com
fóruns de educação ara a diversidade étnico-racial, conselhos
escolares, equipes pedagógicas e a sociedade civil; consolidar
a educação escolar no campo de populações tradicionais, de
populações itinerantes e de comunidades indígenas e
quilombolas, respeitando a articulação entre os ambientes
escolares e comunitários e garantindo: o desenvolvimento
sustentável e preservação da identidade cultural; a participação
da comunidade na definição do modelo de organização
pedagógica e de gestão das instituições, consideradas as
práticas socioculturais e as formas particulares de organização
do tempo; a oferta bilíngue na educação infantil e nos anos
iniciais do ensino fundamental, em língua materna das
comunidades indígenas e em língua portuguesa; a
reestruturação e a aquisição de equipamentos; a oferta de
programa para a formação inicial e continuada de profissionais
da educação; e o atendimento em educação especial;

Como vimos anteriormente o currículo acaba por selecionar quem vence


e quem não vence na vida, dessa forma mereceu também atenção especial do
plano em sua estratégia.

Desenvolver currículos e propostas pedagógicas específicas


para educação escolar para as escolas do campo e para as
202

comunidades indígenas e quilombolas, incluindo os conteúdos


culturais correspondentes às respectivas comunidades e
considerando o fortalecimento das práticas socioculturais e da
língua materna de cada comunidade indígena, produzindo e
disponibilizando materiais didáticos específicos, inclusive para
os(as) alunos(as) com deficiência;

Como meta número oito o plano teve como objetivo elevar a


escolaridade média da população de dezoito a vinte e nove anos, de modo a
alcançar, no mínimo, doze anos de estudo no último ano de vigência deste Plano,
para as populações do campo, da região de menor escolaridade no país e dos
vinte e cinco por cento mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros
e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
E como meta nove se compromete o plano nacional elevar a taxa de
alfabetização da população com quinze anos ou mais para noventa e três inteiros
e cinco décimos por cento até 2015 e, até o final da vigência deste PNE, erradicar
o analfabetismo absoluto e reduzir em cinquenta por cento a taxa de
analfabetismo funcional.
Essa meta não traçou estratégias para as comunidades indígenas e
quilombolas.
A meta de número dez pretende oferecer, no mínimo, 25% das
matrículas de educação de jovens e adultos, nos ensinos fundamental e médio,
na forma integrada à educação profissional.
E como estratégia determinou trabalhar a questão da profissionalização
nas comunidades que se pretende incluir.
Fomentar a integração da educação de jovens e adultos com a
educação profissional, em cursos planejados, de acordo com as
características do público da educação de jovens e adultos e
considerando as especificidades das populações itinerantes e
do campo e das comunidades indígenas e quilombolas, inclusive
na modalidade de educação a distância;

A meta de número onze buscava triplicar as matrículas da educação


profissional técnica de nível médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo
menos cinquenta por cento da expansão no segmento público.
E como estratégia buscou expandir o atendimento do ensino médio
gratuito integrado à formação profissional para as populações do campo e para
203

as comunidades indígenas e quilombolas, de acordo com os seus interesses e


necessidades;
Apresentou o plano nacional como meta doze elevar a taxa bruta de
matrícula na educação superior para cinquenta por cento e a taxa líquida para
trinta e três por cento da população de dezoito a vinte e quatro anos, assegurada
a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, quarenta por cento das
novas matrículas, no segmento público.
E como estratégia determinou:

Ampliar as políticas de inclusão e de assistência estudantil


dirigidas aos(às) estudantes de instituições públicas, bolsistas
de instituições privadas de educação superior e beneficiários do
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de que trata a Lei nº
10.260, de 12 de julho de 2001, na educação superior, de modo
a reduzir as desigualdades étnico-raciais e ampliar as taxas de
acesso e permanência na educação superior de estudantes
egressos da escola pública, afrodescendentes e indígenas e de
estudantes com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, de forma
a apoiar seu sucesso acadêmico;

Embora não determine quem são os grupos, afirma o plano que se deve
ampliar a participação proporcional de 'grupos historicamente desfavorecidos’ na
educação superior, inclusive mediante a adoção de políticas afirmativas, na
forma da lei, apenas conheço muito claramente dois: indígenas e negros
Trás ainda como estratégia dessa mesma meta:
Expandir atendimento específico a populações do campo e
comunidades indígenas e quilombolas, em relação a acesso,
permanência, conclusão e formação de profissionais para
atuação nessas populações;

A meta de número treze propõe um salto de qualidade institucional, de


uma dificuldade absurda, a julgar pelo coronelismo das nossas universidades
federais, que apenas recebem, com raras exceções, alunos em seus cursos
stricto senso se os mesmos tiverem sido alunos da sua própria rede de ensino,
nesse quesito depositaria minhas esperanças na rede privada, que foi quem na
realidade alavancou a educação superior no Brasil com uma faculdade em cada
esquina, se estivéssemos esperando pelas federais ainda teríamos como em
1990 milhões de analfabetos, compare o leitor quantas faculdades estatais
existem e quantas da iniciativa privada, talvez a UVA (Universidade Estadual do
204

Vale do Acaraú - CE) no nordeste seja a única que trabalhe realmente com
qualidade e preço baixo para a população, vejamos:

Elevar a qualidade da educação superior e ampliar a proporção


de mestres e doutores do corpo docente em efetivo exercício no
conjunto do sistema de educação superior para setenta e cinco
por cento, sendo, do total, no mínimo, trinta e cinco por cento
doutores.

Não houve estratégia para as comunidades indígenas, mesmo porque


não conheço uma só reserva que tenha faculdade, somente conheço a Xukuru
do Ororubá que luta por isso a dez anos.
Essa meta é bem parecida com a anterior, ela determina um salto tão
grande que me faz pensar em utopia, pelo menos até não termos analfabetos
em nosso país e quando as universidades federais tiverem pelo menos 200
vagas semestrais em mestrado e doutorado. Assim ela diz: elevar a qualidade
da educação superior e ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo
docente em efetivo exercício no conjunto do sistema de educação superior para
setenta e cinco por cento, sendo, do total, no mínimo, trinta e cinco por cento
doutores. Imagine, se nem a faculdade existe nas reservas, e somente 1,5 dos
professores indígenas possuem curso superior. Está muito longe, no barato o
plano deveria ao menos nesse quesito ser para cinquenta anos e não vinte.
A meta quatorze é bem parecida com a treze, e os mesmos comentários
que fiz para ela o faço para esta, visto que ela pretende elevar gradualmente o
número de matrículas na pós-graduação stricto sensu, de modo a atingir a
titulação anual de sessenta mil mestres e vinte e cinco mil doutores. Não sei nem
o que dizer, uma bela meta que só encontra saída e esperança na iniciativa
privada. Vejo muito mais dificuldade nos professores e orientadores de curso do
que na metodologia, pois se eles quisessem diria ser possível com o advento da
internet, mas não creio que queiram abrir as portas para que muitos sejam
mestres e doutores.
E como estratégia teve a ousadia de dizer que quer implementar ações
para reduzir as desigualdades étnico-raciais e regionais e para favorecer o
acesso das populações do campo e das comunidades indígenas e quilombolas
a programas de mestrado e doutorado; desculpe-me kkkkk... "ampliar o
205

investimento na formação de doutores de modo a atingir a proporção de quatro


doutores por mil habitantes;"
A meta quinze trás:
garantir, em regime de colaboração entre a União, os estados,
o Distrito Federal e os municípios, no prazo de um ano de
vigência deste PNE, política nacional de formação dos
profissionais da educação de que tratam os incisos I, II e III do
caput do art. 61 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,
assegurado que todos os professores e as professoras da
educação básica possuam formação específica de nível
superior, obtida em curso de licenciatura na área de
conhecimento em que atuam.

E como estratégia ficou acordado que se deveria implementar programas


específicos para formação de profissionais da educação para as escolas do
campo e de comunidades indígenas e quilombolas e para a educação especial;
A meta dezesseis visa formar, em nível de pós-graduação, cinquenta
por cento dos professores da educação básica, até o último ano de vigência
deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica
formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades,
demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.
Não houve estratégia para essa meta em benefício dos indígenas.
A meta dezessete busca valorizar os(as) profissionais do magistério das
redes públicas de educação básica de forma a equiparar seu rendimento médio
ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente, até o final do
sexto ano de vigência deste PNE.
Não houve estratégia para essa meta em benefício dos indígenas.
A meta dezoito visa assegurar, no prazo de dois anos, a existência de
planos de carreira para os(as) profissionais da educação básica e superior
pública de todos os sistemas de ensino e, para o plano de carreira dos(as)
profissionais da educação básica pública, tomar como referência o piso salarial
nacional profissional, definido em lei federal, nos termos do inciso VIII do art. 206
da Constituição Federal.
E traçou como estratégia considerar as especificidades socioculturais das
escolas do campo e das comunidades indígenas e quilombolas no provimento
de cargos efetivos para essas escolas;
206

A meta dezenove visa assegurar condições, no prazo de dois anos, para


a efetivação da gestão democrática da educação, associada a critérios técnicos
de mérito e desempenho e à consulta pública à comunidade escolar, no âmbito
das escolas públicas, prevendo recursos e apoio técnico da União para tanto.
A meta vinte se propôs à ampliar o investimento público em educação
pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de sete por cento do Produto
Interno Bruto (PIB) do país no quinto ano de vigência desta lei e, no mínimo, o
equivalente a dez por cento do PIB ao final do decênio.
Não houve estratégia para essa meta em benefício dos indígenas.

DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS


PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA
A diretriz curricular nacional aponta como norte a difusão da cultura,
principalmente quando esta aborda as nossas raízes 118.
Afirmam em seu contexto as diretrizes que o currículo é o norte para o
planejamento e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
CONSIDERANDO o currículo como o conjunto de valores propício à
produção e à socialização de significados no espaço social e que
contribui para a construção da identidade sociocultural do educando,
dos direitos e deveres do cidadão, do respeito ao bem comum e à
democracia, às práticas educativas formais e não formais e à
orientação para o trabalho;
CONSIDERANDO a realidade concreta dos sujeitos que dão vida ao
currículo e às instituições de educação básica, sua organização e
gestão, os projetos de formação, devem ser contextualizados no
espaço e no tempo e atentos às características das crianças,
adolescentes, jovens e adultos que justificam e instituem a vida da/e
na escola, bem como possibilitar a reflexão sobre as relações entre a
vida, o conhecimento, a cultura, o profissional do magistério, o
estudante e a instituição;

Em seu artigo segundo norteia os princípios da educação em vários


níveis, inclusive incluindo os excluídos historicamente:
Art. 2º As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e
Continuada em Nível Superior de Profissionais do Magistério para a
Educação Básica aplicam-se à formação de professores para o
exercício da docência na educação infantil, no ensino fundamental, no
ensino médio e nas respectivas modalidades de educação (Educação
de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional e
Tecnológica, Educação do Campo, Educação Escolar Indígena,
Educação a Distância e Educação Escolar Quilombola), nas

118
________. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais
do Magistério da Educação Básica. PARECER CNE/CP Nº:2/2015.
207

diferentes áreas do conhecimento e com integração entre elas,


podendo abranger um campo específico e/ou interdisciplinar.

Da mesma forma o artigo terceiro afirma que a formação inicial e a


formação continuada destinam-se, respectivamente, à preparação e ao
desenvolvimento de profissionais para funções de magistério na educação
básica em suas etapas - educação infantil, ensino fundamental, ensino médio –
e modalidades - educação de jovens e adultos, educação especial, educação
profissional e técnica de nível médio, educação escolar indígena, educação do
campo, educação escolar quilombola e educação a distância.
Compreende também que deve ser ampla e contextualizada, visando
assegurar a produção e difusão de conhecimentos de determinada área e a
participação na elaboração e implementação do projeto político-pedagógico da
instituição, na perspectiva de garantir, com qualidade, os direitos e objetivos de
aprendizagem e o seu desenvolvimento, a gestão democrática e a avaliação
institucional. Depois que o povo Xukuru criou seu próprio projeto político
pedagógico com a inclusão da sua língua de tronco tupi e isolado, de acordo com
os etnógrafos, até a autoestima melhorou e vários índios voltaram para a
reserva, saindo de 2800 para 8 mil índios em dez anos 119.

Art. 13. O currículo, assumindo como referência os princípios


educacionais garantidos à educação, assegurados no artigo 4º desta
Resolução, configura-se como o conjunto de valores e práticas que
proporcionam a produção, a socialização de significados no espaço
social e contribuem intensamente para a construção de identidades
socioculturais dos educandos.
§ 1º O currículo deve difundir os valores fundamentais do interesse
social, dos direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem comum
e à ordem democrática, considerando as condições de escolaridade
dos estudantes em cada estabelecimento, a orientação para o trabalho,
a promoção de práticas educativas formais e não-formais.
§ 2º Na organização da proposta curricular, deve-se assegurar o
entendimento de currículo como experiências escolares que se
desdobram em torno do conhecimento, permeadas pelas relações
sociais.
[...]compreensão da matriz curricular entendida como propulsora de
movimento, dinamismo curricular e educacional, de tal modo que os
diferentes campos do conhecimento possam se coadunar com o
conjunto de atividades educativas;
V - organização da matriz curricular entendida como alternativa
operacional que embase a gestão do currículo escolar e represente
subsídio para a gestão da escola (na organização do tempo e do
espaço curricular, distribuição e controle do tempo dos trabalhos
docentes), passo para uma gestão centrada na abordagem

119
MELO, Paulo Gabriel Batista de. Educação indígena no Brasil. Artigo científico publicado pela
UCDB-MS. 2014.
208

interdisciplinar, organizada por eixos temáticos, mediante interlocução


entre os diferentes campos do conhecimento;

Afirma ainda as Diretrizes Curriculares que deve-se valorizar através da


história as nossa raízes indígenas e afrodescendentes, não saber da formação
do povo brasileiro é desconhecer nossa própria identidade, embora seja muito
pouco divulgada cai-se no campo das mentalidades a ponto de se acreditar que
em 1500 o Brasil foi descoberto, sem levar em consideração que ele já era
ocupado há mais de vinte mil anos, e que os verdadeiros herdeiros foram
dizimados e que se tentou recontar uma outra história.
O que é educação e onde ela ocorre?
A diretriz neste aspecto apresenta um novo modelo que educação pode
ser entendida como um processo formativo que se desenvolve na vida familiar,
na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino, pesquisa e
extensão, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
relações criativas entre natureza e cultura, não somente nas carteiras escolares
mas pode-se e deve-se aprender em todos os ambientes e culturas.
A diretriz define como modalidades da educação em vários de artigos e
parágrafos, embora muitas delas podem ocorrer simultaneamente, como por
exemplo o indígena ou quilombola no campo cursando nível médio ou técnico a
distância:
1 educação infantil,
2 ensino fundamental,
3 ensino médio,
4 educação de jovens e adultos,
5 educação especial,
6 educação profissional e técnica de nível médio,
7 educação escolar indígena,
8 educação do campo,
9 educação escolar quilombola e
10 educação a distância
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica constitui-se de
conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente,
expressos nas políticas públicas e gerados nas instituições produtoras
do conhecimento científico e tecnológico; no mundo do trabalho; no
desenvolvimento das linguagens; nas atividades desportivas e
corporais; na produção artística; nas formas diversas de exercício da
cidadania; e nos movimentos sociais.
209

§ 1º Integram a base nacional comum:


a) a Língua Portuguesa;
b) a Matemática;
c) o conhecimento do mundo físico, natural, da realidade social e
política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo da História e
das Culturas Afro-Brasileira e Indígena.

A diretriz reserva uma seção exclusiva para a educação indígena, com


dois artigos o 37 e o 38 e suas alíneas como segue na íntegra:
Seção V - Educação Escolar Indígena
Art. 37. A Educação Escolar Indígena ocorre em unidades
educacionais inscritas em suas terras e culturas, as quais têm uma
realidade singular, requerendo pedagogia própria em respeito à
especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade e formação
específica de seu quadro docente, observados os princípios
constitucionais, a base nacional comum e os
princípios que orientam a Educação Básica brasileira.
Parágrafo único. Na estruturação e no funcionamento das escolas
indígenas, é
reconhecida a sua condição de possuidores de normas e ordenamento
jurídico próprios, com ensino intercultural e bilíngue, visando à
valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e
manutenção de sua diversidade étnica.
Art. 38. Na organização de escola indígena, deve ser considerada a
participação da comunidade, na definição do modelo de organização e
gestão, bem como:
I - suas estruturas sociais;
II - suas práticas socioculturais e religiosas;
III - suas formas de produção de conhecimento, processos próprios e
métodos de ensino-aprendizagem;
IV - suas atividades econômicas;
V - edificação de escolas que atendam aos interesses das
comunidades indígenas;
VI - uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de acordo com
o contexto sociocultural de cada povo indígena.

PARA A FORMAÇÃO INICIAL EM NÍVEL SUPERIOR


Ao se tratar de educação superior as diretrizes abordam que São
princípios da Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica:
a formação dos profissionais do magistério (formadores e
estudantes) como compromisso com projeto social, político e
ético que contribua para a consolidação de uma nação
soberana, democrática, justa, inclusiva e que promova a
emancipação dos indivíduos e grupos sociais, atenta ao
reconhecimento e à valorização da diversidade e, portanto,
contrária a toda forma de discriminação;

O processo de colonização que se estende até os dias atuais, persiste em


muitos lugares que o indígena seja aculturado, ou seja adote os hábitos do
homem branco, fale sua língua, vista roupas e perca suas raízes. Dessa forma
temos que questionar o sentido pedagógico do § 7º do Artigo 3º da Diretriz
210

quando deseja que o indígena tenha um 'ensino intercultural e bilíngue,


visando à valorização plena das culturas dos povos indígenas e à afirmação e
manutenção de sua diversidade étnica;' quando em muitos povos indígenas o
que sobrou foram poucas palavras, como é o caso dos Xukurus, Potiguaras e
tantos outros. Os Xukuru's tem apenas cento e sessenta palavras, com um
projeto de aumentar e resgatar com os anciãos do povo outras palavras, já os
potiguaras segundo informação do Dr. Adriano do IFRN, no seminário de
diversidade cultural na cidade de Santa Cruz - RN em 2015, os Potiguaras
adotaram o Tupi - uma vez que existe até uma gramática feita pelo Padre José
de Anchieta - como forma de preencher o elo perdido, creio que se deva
caminhar nesse sentido, primeiro resgatar a língua e depois sim pensar em um
ensino bilíngue e intercultural, pois para muitos povos não há mais língua e
outros até foram considerados extintos pela FUNAI, pois possuem muito poucos
membros.

Os cursos de formação inicial e continuada de profissionais do


magistério da educação básica para a educação escolar
indígena, a educação escolar do campo e a educação escolar
quilombola devem reconhecer que:
I - a formação inicial e continuada de profissionais do magistério
para a educação básica da educação escolar indígena, nos
termos desta Resolução, deverá considerar as normas e o
ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e
bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos
indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade
étnica;
II - a formação inicial e continuada de profissionais do magistério
para a educação básica da educação escolar do campo e da
educação escolar quilombola, nos termos desta Resolução,
deverá considerar a diversidade étnico-cultural de cada
comunidade.

Nos diz o artigo quinto que a formação de profissionais do magistério deve


assegurar a base comum nacional, pautada pela concepção de educação como
processo emancipatório e permanente.

Visando à consolidação da educação inclusiva através do


respeito às diferenças, reconhecendo e valorizando a
diversidade étnico racial, de gênero, sexual, religiosa, de faixa
geracional, entre outras;

Deve o professor como profissional da educação:


211

Identificar questões e problemas socioculturais e educacionais,


com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de
realidades complexas, a fim de contribuir para a superação de
exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais,
religiosas, políticas, de gênero, sexuais e outras;
demonstrar consciência da diversidade, respeitando as
diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de
gêneros, de faixas geracionais, de classes sociais, religiosas, de
necessidades especiais, de diversidade sexual, entre outras;

Deve ainda o educador saber a realidade de seus alunos, se preciso for


deve pesquisar para saber:
realizar pesquisas que proporcionem conhecimento sobre os
estudantes e sua realidade sociocultural, sobre processos de
ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-
ecológicos, sobre propostas curriculares e sobre organização do
trabalho educativo e práticas pedagógicas, entre outros
Caso lecione em escolas indígenas - assim norteia o parágrafo único do
Art. 8 - deve também o educador ao trabalhar com indígenas:

Os professores indígenas e aqueles que venham a atuar em


escolas indígenas, professores da educação escolar do campo
e da educação escolar quilombola, dada a particularidade das
populações com que trabalham e da situação em que atuam,
sem excluir o acima explicitado, deverão:
I - promover diálogo entre a comunidade junto a quem atuam e
os outros grupos sociais sobre conhecimentos, valores, modos
de vida, orientações filosóficas, políticas e religiosas próprios da
cultura local;
II - atuar como agentes interculturais para a valorização e o
estudo de temas específicos relevantes.

DA FORMAÇÃO INICIAL DO MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM


NÍVEL SUPERIOR
Toda Diretriz é permeada por saberes que indicam a necessidade de se
ter materiais didáticos disponíveis voltado principalmente para a cultura, em
respeito a diversidade, 'avaliação, criação e uso de textos, materiais didáticos,
procedimentos e processos de aprendizagem que contemplem a diversidade
social e cultural da sociedade brasileira', vejo nesse propósito uma realidade
ainda muito distante. O povo Xukuru tem suas terras que já passaram pela
desintrusão, homologação e demarcação em 2005, e tudo que tem são dois ou
três livros didáticos para todos os anos de estudo, e essa sempre é uma
212

reivindicação dos professores toda vez que faço pesquisas de campo nas
escolas indígenas das aldeias desse povo.
Diz o Art. 12 que os cursos de formação inicial, respeitadas a diversidade
nacional e a autonomia pedagógica das instituições, constituir-se-ão dos
seguintes núcleos:
Núcleo de estudos de formação geral, das áreas específicas e
interdisciplinares, e do campo educacional, seus fundamentos e
metodologias, e das diversas realidades educacionais,
articulando o conhecimento, avaliação, criação e uso de textos,
materiais didáticos, procedimentos e processos de ensino e
aprendizagem que contemplem a diversidade social e cultural da
sociedade brasileira;

Para Dourado (2006) ainda tem o governo brasileiro uma longa


caminhada que passa por valorização do profissional da educação em termos
de planos de carreira, piso salarial, e principalmente a formação docente
deficiente como pode-se verificar:

PERCENTUAL DE DOCENTES POR GRAU DE FORMAÇÃO


ANO DE 2013 SEM FORMAÇÃO SUPERIOR COM FORMAÇÃO SUPERIOR

EDUCAÇÃO INFANTIL 40, 0 60,0


ENSINO FUNDAMENTAL 27,6 72,4
ENSINO MÉDIO 7,3 92,7
FONTE: MEC / INEP / DEED 2013

Outra grave questão é o profissional da educação lecionar matérias pelas


quais não recebeu formação, como um professor de matemática que leciona
português ou outra matéria, sendo esta uma prática corriqueira na educação
nacional como nos aponta os dados do INEP:

Docentes que lecionam Física no ensino médio regular: do total


de docentes (50.543), 27,1% lecionam apenas Física e 72,9%
lecionam Física e outras disciplinas.
213

No ensino médio a realidade entre os docentes e suas disciplinas


específicas, de acordo com sua área de formação é ainda mais alarmante, 26,8%
tem formação específica na matéria que leciona e 73,2 não tem formação na
disciplina que leciona, levando dessa forma a uma baixa qualidade na educação
nacional e nem preciso falar como é a triste realidade dos professores das
escolas indígenas.

PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais)


A luta dos povos originários, em especial o indígena brasileiro, é marcada
por etnocídio, assassinatos, suicídio coletivo (povos do MS), eles precisavam de
uma legislação que resguardasse os direitos dos povos originários, essa
discriminação é reconhecida pelo PCN120 (Parâmetros Curriculares Nacionais):
Há muito se diz que o Brasil é um país rico em diversidade étnica e cultural,
plural em sua identidade: é índio, afrodescendente, imigrante, é urbano,
sertanejo, caiçara, caipira... Contudo, ao longo de nossa história, têm
existido preconceitos, relações de discriminação e exclusão social que
impedem muitos brasileiros de ter uma vivência plena de sua cidadania.
O documento de Pluralidade Cultural trata dessas questões, enfatizando
as diversas heranças culturais que convivem na população brasileira,
oferecendo informações que contribuam para a formação de novas
mentalidades, voltadas para a superação de todas as formas de
discriminação e exclusão.

NA CONSTITUIÇÃO DE 1988
Ainda afirma a constituição121 brasileira, embora haja um movimento
querendo desfazê-lo, com relação aos direitos dos índios em seu Capítulo VIII -
Dos Índios- ela nos trás.

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer
respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em
caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-

120
BRASIL. MINISTÈRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA.
Parâmetros nacionais de qualidade para a educação infantil. Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Básica: Brasília (DF), 2006.
121
IDEM nota 9
214

estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos,


costumes e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e
dos lagos nelas existentes.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos,
a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser
efetivados com autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades
afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na
forma da lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os
direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad
referendum do Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que
ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País, após
deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno
imediato logo que cesse o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham
por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo,
ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que
dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a
indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às
benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé.
Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para
ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o
Ministério Público em todos os atos do processo.
Após as pesquisas que fiz com professores da rede pública e privada na
cidade de campo grande - MS122, identifiquei que em cada onze professores
nove tiveram ou tinham tido depressão, em sua maioria eles foram readaptados
nas bibliotecas e serviços administrativos e essa é a realidade das nossas
bibliotecas, das 32 que visitei em 2013 em 14 estados do Brasil em nenhuma

122
IDEM NOTA 63 - MELO, Paulo Gabriel Batista de. Educação indígena no Brasil. Artigo
científico publicado pela UCDB-MS. 2014
215

delas havia um bibliotecário com formação, aliás na maioria nem curso técnico
de auxiliar bibliotecário eles tinham. Biblioteca faz parte da educação e precisa
ter especialistas, ao menos um bibliotecário por biblioteca. Logo, concluo que se
deva incluir segurança nas escolas como parte integrante da educação, visto
que centenas de professores sofrem violência de todos os tipos: assédio,
estupro, agressão, lesão corporal grave... não podemos mais tampar o sol com
a peneira, a realidade do educador brasileiro é dramática. Sem prestígio com
antigamente em que era autoridade na sala, sem dinheiro e moralmente
desacreditado, as nossas leis são as melhores em todas as áreas, mas o
cumprimento delas é o que falta para um salto de qualidade.
Assim se expressa Jamil Cury123 sobre o PNE, PCN, DIRETRIZ e outras
leis criadas para a educação:
Se tais medidas forem articuladas entre si, se a União mais uma
vez não descumprir os termos desse novo pacto, se houver
vontade de efetivar tais propósitos e metas, se houver um
aumento da relação PIB/educação em vista de uma expansão
qualificada, é possível dizer que estamos vislumbrando uma
saída racional para um direito proclamado como direito social
(art. 6º da Constituição), com padrão de qualidade como direito
de todos e dever do Estado entre cujos princípios norteadores
está tanto o resguardo da cidadania, quanto um dos pilares dos
direitos humanos.
[...]
Se esta herança pesada do passado e o caráter necessário e
atual de uma educação de qualidade, representados, de um
lado, pelo não cumprimento das promessas contidas no
ordenamento jurídico nacional e internacional, e de outro, pela
urgência pedida pela sociedade em vista da qualidade,
nasceram da ação dos homens de tantas gerações passadas, é
da ação consciente dos educadores de hoje que devem ser
construídas as balizas de uma educação escolar que tenha a
cidadania e os direitos humanos como pilares de sua realização.

Constantemente, devido ás pressões de empresários do agronegócio, e


outros setores interessados nas terras indígenas já demarcadas querem rever
suas forma legítima de demarcação, destituindo assim, terras tradicionalmente
ocupadas pelos índios. Essa é uma das queixas dos profissionais da Associação
Nacional de História (ANPUH-Brasil), através de nota na íntegra

123
Jamil Cury, Carlos Roberto. A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA COMO DIREITO
Educação & Sociedade, vol. 35, núm. 129, octubre-diciembre, 2014, pp. 1053-1066 Centro de
Estudos Educação e Sociedade, Campinas, Brasil
216

NOTA EM DEFESA DAS TERRAS INDÍGENAS E QUILOMBOLAS 124

A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) vem, por meio desta, repudiar a criação da
Comissão Parlamentar de Inquérito criada pela Câmara dos Deputados, no dia 11 de novembro
próximo passado, que visa apurar supostas "fraudes" na elaboração de laudos
antropológicos. Esses documentos vêm sendo realizados por equipes interdisciplinares
compostas por antropólogos, historiadores, geógrafos, arqueólogos, dentre outros. O diálogo
entre diferentes áreas de conhecimento tem sido frutífero no sentido de intercâmbios de saberes.
Da mesma forma que a Academia é acionada no sentido de prestar sua expertise em querelas
sociais, os conhecimentos produzidos nesses contextos ajudam a redesenhar e repensar aquilo
que se tinha consolidado a respeito da escravidão, do pós-Abolição e das comunidades
tradicionais. No que diz respeito à cada vez mais ativa participação de historiadores, sua
contribuição, por um lado, substancializa e enriquece os conhecimentos que temos do passado
de nosso país e, por outro, maximiza as possibilidades de inserção cidadã de comunidades
historicamente marginalizadas, ao oportunizar a legitimação ou a restituição de seus territórios
tradicionais.
Os povos originários do Brasil sofreram e seguem sofrendo um brutal processo de genocídio. Ao
mesmo tempo em que nosso país os aciona como símbolo da nacionalidade, inviabiliza sua
existência e a reprodução de seus modos de vida tradicionais. O mesmo pode ser dito das
comunidades negras rurais, designadas na Constituição Federal de 1988 como comunidades
remanescentes de quilombos. A Constituição Federal está prestes a completar 30 anos de
existência e quase nada foi feito em termos de legalização de terras tradicionalmente ocupadas,
já que isso contraria interesses do capital, do agronegócio e, por vezes, dos próprios
governantes. Contudo, índios e quilombolas são cidadãos brasileiros que também devem ter
seus direitos constitucionais assegurados, o que lhes tem sido negado na Nova República, de
forma a reiterar a exclusão histórica que têm sofrido. Preocupa-nos sobremaneira que, diante
deste cenário, se crie uma Comissão que novamente se encarrega de cerceá-los do exercícios
de seus direitos democráticos, ao propor-se à desconstrução dos laudos e relatórios de
identificação, caminho legalmente adequado para o alcance de seus direitos territoriais.
A petição de criação da CPI é desconectada da realidade, ao apelar para o "mito da democracia
racial", apontando um ilusório cenário idílico e harmonioso das relações raciais em nosso país,
cenário este há muito e por demais demonstrado como inexistente pelas ciências sociais
brasileiras. Pelo contrário, diversos estudos apontam para os efeitos de dissimulação de relações
de autoritarismo entre os diversos grupos raciais por trás desse discurso. É o que acontece, está
demonstrado, nas comunidades ora atacadas, onde são pródigos os episódios de violência inter-
racial e de expropriação de territórios em função da assimetria de poder oculta sob o viés da
"harmonia".
A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) entende a Comissão Parlamentar de
Inquérito ora criada como uma inaceitável tentativa de submeter o pensamento crítico e
autônomo dos profissionais em ciências sociais aos ditames das pressões do poderio econômico
e político e de subtrair direitos constitucionais de povos historicamente marginalizados.
São Paulo, 15 de dezembro de 2015.
Maria Helena Rolim Capelato
Presidente da ANPUH-Brasil (Biênio 2015-2017)

3.5 COMO PODE SER VISTA A HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO


NACIONAL.
A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO DOS PROFESSORES

124
Extraído do site da associação Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil), através da
pessoa de sua presidente, Maria Helena Rolim Capelato, em dez 15, como forma de protestar
contra a retirada das as terras indígenas de suas mãos e extinguir suas reservas, bem como
impedir que novas áreas sejam demarcadas. com acesso a http://site.anpuh.org/index.php/2015-
01-20-00-01-55/noticias2/noticias-destaque/item/3166-nota-em-defesa-das-terras-indigenas-e-
quilombolas em 10 de fev 16.
217

Em primeiro lugar, é uma necessidade imperiosa, experimentada física e


psicologicamente, de sair da sala de aula em busca da vida existente no entorno
mais próximo, o campo, e em contato com a prática artesanal que ainda se
encontra neste meio. A primeira inovação na educação, portanto, foi a aula-
passeio, com a finalidade de observar o ambiente natural e humano. De volta à
sala de aula, recolhem-se dessa observação os reflexos orais, tendo em vista a
criação de textos, que serão corrigidos, enriquecidos e constituirão a base para
a aprendizagem das habilidades básicas tradicionais necessárias ao
aperfeiçoamento da comunicação.
Vê-se como no caso de Cingapura e outros países que investiram bem
menos que o Brasil, que a simplicidade, mas com uma boa formação inicial e
continuada de professores, a sua valorização e a dos profissionais da educação
faz toda diferença, assim relata Freinet125 ao criar com poucos recursos a escola
segundo o modelo que ele acreditava ser o melhor para o aluno:
Os alunos, em sua maior parte, eram internos, provenientes das
camadas sociais desfavorecidas ou de famílias em dificuldades.
“A maioria são filhos de operários parisienses, casos
encaminhados pela assistência social, filhos de professores que
vieram para cá por problemas de saúde, e mais quatro ou cinco
filhos de famílias com recursos que têm plena confiança em nós”
(Élise Freinet, 1968). O sol brilhava ali e o clima campestre tinha
a fragrância típica da região.

Neste processo educacional Freinet mostra o quão atrelado está a política


com a educação, pode-se prender professores por serem intelectuais e mentores
como foi o caso dele e de Darcy Ribeiro, Paulo Freire e tantos outros.
a Segunda Guerra Mundial eclodiu. Freinet, conhecido
comunista, foi considerado perigoso por eventuais atividades
subversivas de sua organização. A União Soviética e a
Alemanha nazista assinaram um pacto de não agressão. Freinet
foi preso e levado para um campo de concentração, mas a seguir
libertado.

Só pode haver justiça em uma nação se aqueles grupos que estão á


margem tem vez e voz, não são excluídos da política, e se são deverá haver

125 BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Legrand , Louis. Freinet, Célestin. Coleção educadores, 2010.
218

mecanismos para incluí-los, pois isso era o que Freinet vislumbrava com a
educação.
Sua dedicação à causa popular e o senso de justiça social, que
o levaram a conceber uma proposta educacional que
promovesse a libertação intelectual da classe operária, e que o
fizeram filiar-se ao Partido Comunista, bem como, mais tarde,
com esse mesmo partido se indispor; sua habilidade
organizacional e sua tranquila tenacidade em meio às piores
dificuldades físicas, psicológicas e, mais frequentemente,
financeiras; sua cultura e sua curiosidade sempre alerta perante
tudo o que pudesse supor inovações técnicas e conceituais;
enfim, seu amor pela humanidade e sua cordialidade, que
impressionavam a todos os que o conheceram, entre os quais
tenho a honra de me incluir.

O PROCESSO HISTÓRICO EDUCACIONAL DO BRASIL

A educação no Brasil começou em 1549 com a vinda de seis jesuítas que


vieram junto com o primeiro governador-geral Tomé de Souza, e assim por
quase duzentos anos ficou entregue aos padres da Companhia de Jesus
atendendo aos propósitos da ordem e da política colonizadora de D. João III que
visava formar sacerdotes e pessoas para assumir funções no governo, a
educação desse período visava apenas o Estado.
Em 1759 o Marquês de Pombal expulsa os jesuítas de Portugal e de seus
domínios, a sua intenção era laicizar o Império Luso, assim o estado devia recriar
todo seu sistema educacional que fosse útil aos fins do estado e para prover a
defesa militar do reino foram criadas as academias militares do Brasil e os
diversos cursos necessários para atender a corte: o curso de cirurgia em 1808
na Bahia, os cursos de medicina, anatomia e cirurgia no Rio de Janeiro em
(1808-1809) e muitos outros, a instrução elementar não recebeu nenhuma
importância, foi relegada a segundo plano "a educação do povo se fez ao sabor
dos interesses pessoais do soberano no exercício de seu absoluto poder
supremo"126.
Um projeto de Constituição foi apresentado em 1º de setembro de 1823
com prévia difusão da instrução pública em todos os níveis e conclamando a

126 Meneses; Barros et al. Estrutura e funcionamento da educação básica. Vários autores. São Paulo: Ed Pioneira,
1998.
219

liberdade da iniciativa privada e salientando a responsabilidade do governo,


infelizmente ela foi destituída.
Em carta outorgada por D. Pedro em 1824, ele garantia a criação de
colégios e universidades, prometendo instrução primária gratuita. Em 1827
criavam-se os cursos jurídicos de São Paulo e Olinda e uma escola primária de
letras para o sexo feminino, mas como ficava a cargo das províncias que não
dispunham de recursos financeiros não houve muito efeito.
A Lei geral de 1827 estabelecia as diretrizes que norteavam a criação de
escolas elementares em todo país como se pode ver:
"Em todas as cidades, vilas e lugares populosos haverá escolas
de primeiras letras que forem necessárias; os presidentes de
província em conselho, e com audiência das respectivas
câmaras municipais, enquanto não tiverem exercício os
conselhos gerais, nomearão o número e a localidade das
escolas, podendo extinguir as que existam em lugares pouco
populosos e remover os professores delas para as que se
criarem onde mais aproveitáveis, dando-se conta à Assembléia
Geral para final resolução".

Essa lei separava os currículos dos meninos e das meninas, eles tinham
conteúdos diferenciados, as meninas não deveriam aprender geometria, e a
parte de aritmética somente as quatro operações, e incluir também 'economia
doméstica, bordado e agulha que são mais necessários'127.
Segundo o discurso do Deputado Antônio Cândido da Cunha Leitão eram
analfabetos pouco mais da metade da população masculina e entre a feminina
era ainda pior 'muito mais da metade', dentre as meninas que frequentavam a
escola, 'mais que o triplo não frequentavam e mais de duas terças partes das
meninas de seis a quinze anos deixavam de frequentar a escola', pelos mais vis
motivos como por exemplo a filha de um fazendeiro de Pesqueira de nome
Cavalcante França foi retirada da escola para não aprender a escrever para o
namorado.
Assim o Império deixa á República os seus anseios e planos que foram
realizados e uma enorme tarefa no que diz respeito a educação pública para

127 IDEM nota 3


220

todos de forma gratuita, ainda que fosse a educação primária, destarte até 1930
o ensino estava 'quase totalmente entregue a iniciativa particular' 128. Até o final
da primeira República havia ausência de coordenação central de uma política
nacional de educação que contemplasse todas as modalidades da educação,
grande repercussão ocorreu em São Paulo com a criação do ensino primário e
a formação no magistério no início da república em 1890 - 1893, passando a
servir de modelo. O magistério oi a primeira profissão respeitável que a mulher
pode exercer no Brasil.
E assim, após 430 anos do descobrimento não havia educação pública
mantida pelo governo em nosso país. Em 1924 foi criada a ABE Associação
Brasileira de Educação que desempenhou importante papel com o discurso de
obrigatoriedade de escola pública mantida pelo governo, o direito de todos a
educação e a exigência de uma política nacional de educação. Muitas dessas
ideias se transformaram no manifesto dos pioneiros da educação nova. de 1932
e nos dispositivos da carta de 1934.
Com a industrialização acelerou-se o processo de urbanização elevando
a taxa da população urbana para:

ANO PERCENTUAL (%)


1920 10
1940 31,24
1950 36,16
1960 45,8

Afirma Anísio Teixeira que a educação até 1930 era dual, destinada a
ricos e pobres e que ela reproduzia a estrutura desigual da sociedade brasileira.
O Ministério da Educação foi criado, em novembro de 1930, a educação
brasileira vivia um clima de esperanças e expectativas alentadoras em
decorrência das mudanças que se operavam nos campos político, econômico e
cultural. A divulgação do Manifesto dos pioneiros em 1932, a fundação, em 1934,
da Universidade de São Paulo e da Universidade do Distrito Federal, em 1935,

128
IDEM nota anterior.
221

são alguns dos exemplos anunciadores de novos tempos tão bem sintetizados
por Fernando de Azevedo no Manifesto dos pioneiros.
Todavia, a imposição ao país da Constituição de 1937 e do Estado Novo,
haveria de interromper por vários anos a luta auspiciosa do movimento
educacional dos anos 1920 e 1930 do século passado, que só seria retomada
com a redemocratização do país, em 1945. O manifesto dos pioneiros e uma
educação para todos era castrado pela ditadura Vargas
Os anos que se seguiram, em clima de maior liberdade, possibilitaram
alguns avanços definitivos como as várias campanhas educacionais nos anos
1950, a criação da Capes e do CNPq e a aprovação, após muitos embates, da
primeira Lei de Diretrizes e Bases no começo da década de 1960. Manifesto dos
Educadores de 1959, também redigido por Fernando de Azevedo, haveriam de
ser novamente interrompidas em 1964 por uma nova ditadura de quase dois
decênios.
Estou certo de que o lançamento, em 2007, do Plano de Desenvolvimento
da Educação (PDE), como mecanismo de estado para a implementação do
Plano Nacional da Educação começou a resgatar muitos dos objetivos da política
educacional presentes em ambos os manifestos. Acredito que não será demais
afirmar que o grande argumento do Manifesto de 1932.[...] “Na hierarquia dos
problemas de uma nação, nenhum sobreleva em importância, ao da educação”.
A divulgação do Manifesto dos pioneiros em 1932, a fundação,
em 1934, da Universidade de São Paulo e da Universidade do
Distrito Federal, em 1935, são alguns dos exemplos
anunciadores de novos tempos tão bem sintetizados por
Fernando de Azevedo no Manifesto dos pioneiros. Todavia, a
imposição ao país da Constituição de 1937 e do Estado Novo,
haveria de interromper por vários anos a luta auspiciosa do
movimento educacional dos anos 1920 e 1930 do século
passado, que só seria retomada com a redemocratização do
país, em 1945 [...]Os anos que se seguiram, em clima de maior
liberdade, possibilitaram alguns avanços definitivos como as
várias campanhas educacionais nos anos 1950, a criação da
Capes e do CNPq e a aprovação, após muitos embates, da
primeira Lei de Diretrizes e Bases no começo da década de
1960. No entanto, as grandes esperanças e aspirações
retrabalhadas e reavivadas nessa fase e tão bem sintetizadas
pelo Manifesto dos Educadores de 1959, também redigido por
Fernando de Azevedo, haveriam de ser novamente
222

interrompidas em 1964 por uma nova ditadura de quase dois


decênios129.

O regime militar de 1964 impediu a construção do manifesto dos


educadores e o desenvolvimento da educação no Brasil, o que de fato só passou
a ocorrer na Constituição de 1998, com a LDB e o Plano Nacional de Educação.
Duas ditaduras segurou a educação seguido de um regime colonial, imperial e
republicano que pouco fizeram pela educação nacional, por isso as conquistas
que a educação alcançou são frutos dos manifestos de 1932 (Manifesto dos
pioneiros) e de 1959 (Manifesto dos Educadores).

3.6 A VIDA DO POVO APÓS A DEMARCAÇÃO


Para melhor entender todo processo é mister ter clara uma explanação
cronológica dos fatos importantes desde a origem dos Xukurús da Serra do
Ororubá como segue na time line130:
1654 (sesmarias) os senhores de engenho obrigam os indígenas Xukurú's (Serra
do Ororubá) a trabalhar nas fazendas, plantações e, nas indústrias que foram
abertas no século XX (Peixe, Cicanorte, Rosa...).
1864 a 1870 setenta e dois índios Xukurú's lutam na guerra do Paraguai, ganham
uma espada como prêmio que foi levada por um membro da FUNAI antes da
demarcação.
1944 relatório oficial escrito pelo SPI (Serviço de Proteção ao Índio), o qual
mostra a opressão contra os Xukurú's e uma denúncia à polícia local e a
proibição de rituais religiosos.
1962 a 1998 Prisões e torturas por policiais, expulsões de suas terras por
fazendeiros131.
1992 assassinato de José Everaldo Rodrigues Bispo, filho do pajé.
1995 assassinato de Geraldo Rolim da Mota Filho, procurador da FUNAI.

129BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Manifesto Dos Pioneiros Da Educação Nova (1932) e dos Educadores
(1959). Coleção educadores. Recife: Ed. Massangana. 2010.

130 SILVA, E.H. História, memórias e identidade entre os Xukuru do Ororubá. Rev. Tellus, v.7,
n.12, p.89-102, 2007.
131 Entrevistas realizadas com 100 índios moradores de pesqueira de 1996 a 2015 para o artigo
científico da pós graduação em psicopedagogia pela UCDB-MS 2014
223

1998 - 20 de maio - Assassinato do Cacique Xicão pelo fazendeiro Zé de Riva


(repercussão na CNN, REUTERS, BBC de Londres)
1998 Tomada de diversas fazendas.
1995 demarcação das terras pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio).
1996 a 2000 desintrusão das terras das mãos dos últimos fazendeiros.
2001 Homologação das terras pela FUNAI.
2005 Indenização final e regularização da reserva pelo governo
2012 PEC 215 e 38 - Inviabilização das demarcações
Fonte: SILVA, E.H. História, memórias e identidade entre os Xukuru do Ororubá. Rev.
Tellus, v.7, n.12, p.89-102, 2007.
Esta nota foi extraída de um do procurador federal morto por defender a
causa indígena Xukuru132:
Na edição número doze do jornal “A ENXADA”, em outubro de 1985,
nós publicamos um artigo do meu saudoso amigo, Geraldo Rolim Mota
Filho, assassinado em 1995, no cargo de Procurador Federal, com 32
anos de idade, quando defendia as causas indígenas em Pesqueira,
sua terra natal.
Além de advogado muito competente, Geraldo Rolim era Presidente
do PSB de Pesqueira, prestava assessoria jurídica para a Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) e apresentava o programa O Povo é a lei,
na Rádio Difusora de Pesqueira, afiliada da Rádio Jornal. Sua morte
foi associada ao trabalho de demarcação das terras dos índios Xucurus
e da defesa dos direitos humanos.
Eu tive a felicidade de ser amigo de Geraldo Rolim e acompanhei suas
atividades, como Assessor do Deputado Eduardo Gomes e
posteriormente como Diretor do Horto de Dois Irmãos, na segunda
gestão do Governador Miguel Arraes.
Geraldo era extrovertido e muito inteligente além, de ser um construtor
de amigos. Sua morte, para mim foi como a do meu conterrâneo,
vereador Edgar Idalino, pois acabou mais uma carreira de um defensor
das minorias injustiçadas neste país.

Comecei minhas primeiras pesquisas de campo em meio a assassinatos


de índios em diversas aldeias, do procurador da FUNAI (Fundação Nacional do
Índio) o advogado Geraldo Rolim que em sua homenagem ganhou seu nome em
uma escola do povo Xukurú, nessa época já havia as vinte e quatro aldeias, e
foquei em três aldeias São José, Cana-Brava e Couro D'anta, aquelas cujo
acesso era mais rápido e os contatos eram mais fáceis, confesso que ficava
temeroso pois havia o risco de ser confundido e morto, mas o prazer da pesquisa
valia o risco.

132
http://www.luizberto.com/colcha-de-retalhos-ismael-gaiao/geraldo-rolim-%E2%80%93-um-
procurador-federal-assassinado acessado em 27jun15
224

Assisti uma produção da TV Viva do Recife em um documentário de maio


de 1998, na casa da índia Xukurú Vaniele Santos na aldeia São José, no qual D.
Zenilda Xukurú (viúva do Cacique Xicão) fez um discurso durante o sepultamento
do marido onde dizia:
“Acolhe o teu filho minha Mãe Natureza, acolhe o teu filho!... Ele não vai ser
sepultado... ele vai ser plantado, para que dele nasçam novos guerreiros!”
Ainda que dois mil e quinze anos tenham se passado, a questão indígena
brasileira, em especificidade a do povo Xukurú parece estar longe de chegar a
um tempo de paz, visto que suas terras serão sempre alvo da cobiça de
fazendeiros e empresários.
Apesar de tudo isso, muitas conquistas aconteceram nesta caminhada de
lutas desse povo forte como o sertanejo que também são, parafraseando
Euclides da Cunha133 "O sertanejo é antes de tudo um forte", é uma expressão
que define muito bem os índios Xukurú's.
As escolas das aldeias São José, Cana Brava e Cimbres que escolhi em
1988, passaram por um processo de escolas municipais para estaduais, assim
como todas as escolas de todas as aldeias, com isso receberam mais verbas e
hoje é notável a diferença, as escolas tem carteiras novas, tem seguranças em
cada escola, som e tv nas salas, filtro com água e os professores passam por
treinamentos duas vezes por ano, parece simples, mas no município mais
próximo (Pesqueira) os alunos ainda não vivem essa realidade.
A faculdade no povo Xucurú ainda é motivo de luta em um futuro distante,
mas há transporte para os que quiserem cursar pedagogia na UPE (Universidade
de Pernambuco - Pesqueira) e para minha alegria só em pedagogia havia 28 do
povo dessa etnia cursando na UPE.
Os plantios não são mais desfeitos pelo gado dos fazendeiros, tudo que
todos plantam é levado para feira aos sábados e quartas na cidade de Pesqueira,
e tudo sem agrotóxicos o que faz a diferença para quem vende e para quem
compra.
As casas não tem mais dono, se algum índio abandona a casa outro
ocupa, seja de uma antiga fazenda ou de caboclo, se não tem o cacique
providencia, o curral de gado é comum para todos, o posto médico tem

133
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Ed. Rideel, 2000.
225

atendimento diário com médico e remédio, quando não é possível há um ônibus


que os leva à capital (Recife) para serem tratados e há uma hospedagem por lá
também, conversei com vários que foram hospedados lá e gostaram.
Entre os diversos fatos observados o mais importante, segundo os índios
entrevistados nessa etapa, é poder andar com liberdade e realizar seus cultos
rituais, dançar o Toré, invocar os Encantados e a Jurema.
Todas estas conquistas tiveram início com Chicão apoiado por ongs como
o CIMI (Conselho Indigenista Missionário - da igreja Católica), o Centro de
Cultura Luis Freire que juntos foram os mentores do processo de convencimento
de cada aldeia, lutando dentro da lei, nenhum índio matou fazendeiro ou
posseiro, mas muitos índios e pessoas que apoiavam os índios foram mortas
como o Dr, Geraldo Rolim.
Sun Tzu nos ensina a lutar com as armas do inimigo, e no Brasil a política
é uma delas quando se fala em povos indígenas, os Xukurus começaram
apoiando políticos uma vez que são 12 mil índios (censo 2014), elegeram para
vereadores, estudei no mesmo colégio e na mesma época que o prefeito Rossine
Blésmany Santos Cordeiro no Colégio Santa Dorotéia, agora prefeito de Legedo,
também índio Xukuru134.
A Etnia Xukuru, composta por mais de 12 mil integrantes que vivem na
mais pura harmonia nos 27 555 hectares da área demarcada, a partir
da Serra do Ororubá, em Pesqueira, comemora o saldo positivo do
envolvimento na política partidária. Pela primeira vez na história, uma
secção eleitoral foi instalada na Aldeia e o clima transcorreu em paz. A
eleição deste ano, “foi um programa de índio”, brinca um moradora da
Vila de Cimbres, referindo-se à calmaria das últimas eleições. Dois
integrantes foram eleitos vereadores de Pesqueira – Sil Xukuru e
Severino Índio (ambos do PT) - e um integrante foi eleito prefeito do
município de Lajedo.
Isso mesmo, o novo prefeito de Lajedo, Rossine Blésmany Santos
Cordeiro, 43 anos, é índio da tribo xukuru. Ele nasceu no Sítio Zumbi,
num território dentro da aldeia e é simpatizante da causa indígena. “É
gratificante ver nossos irmãos alcançando sucesso em várias áreas,
inclusive na política”, destaca Marcos Luidson Araújo, o Cacique
Marquinhos, que durante a entrevista ao Informe PE, congratulou o
novo prefeito de Lajedo.
O prefeito de Lajedo, que é pesqueirense, recebeu com euforia as
“mensagens de fumaça positivas” enviadas por sua tribo. O Cacique
disse que Rossine “é uma ótima pessoa” e que sempre esteve muito
próximo do Procurador da Funai Geraldo Rolim e do cacique Chicão,
mártires do processo de demarcação das terras. “Desejo ao nosso
irmão Rossine muito sucesso e paz na administração daquele
município”, parabenizou o cacique.

134
http://robertoalmeidacsc.blogspot.com.br/2015/04/prefeito-de-lajedo-recebe-homenagem-no.html
acesso em 27jun15
226

Rossine, em sua luta contra poderosos opositores, foi eleito prefeito de


Lajedo com a força do povo e maioria esmagadora. Pretende defender
os mais carentes e fazer uma administração voltada para o Social,
Saúde, Educação e melhores condições de segurança aos
cidadãos.Fonte: Blog de João Jardim.

Tenho a certeza que a qualquer momento sairá um deputado deste povo,


pois eles são em número suficiente dependendo da legenda, para elegerem seus
próprios representantes já que os outros nada fazem por eles, por isso a
democracia é uma boa arma, é má a índole cubana ou coreana, venezuelana
que manipulam suas eleições, pois favorece a classe dominante em uma luta
desigual.

A VIOLÊNCIA NO CAMPO
Roseane Lacerda135 do CIMI em seu relatório sobre violência no campo,
especificamente com os indígenas nos mostrava que até o presente momento a
soma já chegava a 245 casos com 276 índios mortos por fazendeiros, grileiros e
posseiros e o detalhe é que estes índios haviam sido assassinados em suas
terras.
O ano de 2003 assustou pelo expressivo aumento do número de
assassinatos de indígenas em todo país. Só no mes de janeiro,
primeiro mes de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cinco
homicídios já haviam sido contabilizados. No fim de fevereiro, este
número já chegava a nove. Até o dia 29 de março, 12 indígenas haviam
sido assassinados. Em dez meses, até o fechamento deste artigo, já
são 22 indígenas assassinados e um desaparecido, contra 7 em todo
o ano anterior. Trata-se de um dos maiores índices de homicídios dos
últimos dez anos, os quais, somados, apontam para 245 casos com
276 vítimas.
Esse foi o balanço do massacre indígena no Brasil, como há 500 anos
atrás os índios continuam sendo mortos, sem que isso incomode ninguém, nem
mesmo ao descaso do ministro da justiça responsável direto por estes crimes, a
sua ineficiencia e morosidade em demarcar as terras indígenas, resolver os
conflitos das terras indígenas é o motivo pelo qual mais se mata impunemente
nesse país. Essa matança ainda não parou, não há um só ano que não morra

135
Roseane Lacerda, é advogada jurídica do CIMI - Conselho Indigenista Missionário. organismo anexo a
CNBB - Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil. autora do artigo publicado pela Global Exchange em
2003, ano do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
227

índios em nosso país, rico em terras, das quais só treze por cento são de
reservas indígenas, mas o preconceito étnico continua forte como no período
colonial.
HOMICÍDIOS NO BRASIL 1993 A 2003
Homicidio 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total
Casos 28 42 29 24 26 21 14 18 16 05 22 245
vítimas 43 45 30 27 29 21 16 18 17 07 23 276
FONTE - Global Exchange136

E como andam os dados se nós atualizarmos, pois bem, estou


escrevendo agora, neste exato momento são 03 de novembro de 2015 as 21h e
48 min hora de Natal-RN, O G1137 mostra a seguinte matéria.

Mais de 500 índios foram mortos desde 2003 no Brasil, aponta Cimi. Em 2011,
foram assassinados 51 indígenas; MS concentra 62% dos casos. Mortes
têm como principal causa disputa por terras, diz órgão da CNBB.
Levantamento feito pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi),
órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
indica que desde 2003 mais de 500 índios foram assassinados no país.
Somente no ano passado foram 51 casos, o equivalente à morte de um
indígena por semana. Em relação ao ano anterior, houve redução no
número de índios assassinados – haviam sido 60 casos em 2010.
Dos 51 mortos no ano passado, 41 eram homens, afirma o relatório do
Cimi. Entre as 51 vítimas estavam ainda quatro menores de 18 anos –
um deles um bebê de 9 meses que morreu esfaqueado em novembro do
ano passado em meio a uma discussão em aldeia de Santa Helena de
Minas (MG).
De acordo com o Cimi, "as violências internas, praticadas entre os
indígenas e as externas, cometidas contra lideranças, famílias,
comunidades e contra os povos no estado têm como causa principal a
questão fundiária". Para o órgão, o governo precisa agir para acelerar as
demarcações de terras indígenas.
O relatório critica ainda a morosidade do Poder Judiciário "em
reconhecer o direito dos povos indígenas" que "contribui sobremaneira
para a perpetuação das invasões de terras indígenas no país."
Segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), o Censo
Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em 2010 identificou 817 mil pessoas que se declaram indígenas
no Brasil, 0,42% do total da população brasileira.
O estado com o maior número de índios é o Amazonas, com 168
mil indígenas. O estado onde a população indígena tem o maior
percentual dentro do território na comparação com a população em geral
é Roraima, com 11% da população total do estado.

136
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL: relatório da rede social de justiça e direitos humanos em
colaboração com Global Exchange. São Paulo : Ed.Book. 2003.
137
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2012/06/mais-de-500-indios-foram-mortos-desde-2003-no-brasil-
aponta-cimi.html com acesso em 03 de nov 2015,
228

Não sei se algum dia vou digitar na internet 'indígenas mortos no Brasil' e
aparecerá que não houve, pois não há um só ano, desde o início de minhas
pesquisas há vinte anos atrás que morram muitos índios todo ano, em uma
população que não chega a um milhão de habitantes em todo país.
Ainda vivemos em um velho oeste á brasileira, só falta exibirmos nossos
índios mortos em filmes como o fez Hollywood com seus sioux, apaches e
demais etnias, afinal a frase 'índio bom é índio morto' é de um general americano,
mas que ainda continua no Estado Brasileiro em pleno Século XXI.
Além de assassinatos houve em 2003 uma onda de articulações contra
os indígenas em nosso país, fazendeiros, empresários da pecuária e
agronegócio, madeireiras, políticos donos de fazendas, e pasmem até veículos
de comunicação lutaram contra tentando impedir o avanço das demarcações nas
terras indígenas. A concentração fundiária é o motivo real para tantas mortes.
Muitos são os crimes do latifúndio na terra de Santa Cruz segundo nos diz
a rede social de justiça e direitos humanos ligados a pastoral da terra com dados
do instituto de criminologia como pode-se ver os dados138.

A comissão pastoral da terra registrou 61 assassinatos de


trabalhadores rurais de janeiro a outubro de 2003. Entre 1985 e 2002,
foram registrados 1280 assassinatos de trabalhadores rurais,
advogados, técnicos, lideranças religiosas e sindicais ligados a luta
pela terra. Desse total 121 foram levados a julgamento. Entre os
mandantes dos crimes, apenas 14 foram julgados, sendo sete
condenados. Foram levados a julgamento 4 intermediários, sendo dois
condenados. Entre os 96 executores julgados, 58 foram condenados.

138
DIREITOS HUMANOS NO BRASIL: relatório da rede social de justiça e direitos humanos em
colaboração com Global Exchange. São Paulo : Ed.Book. 2003.
229

CAPITULO IV - A TESE DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO NA USACH

A tese que defendi na USACH (Universidad de Santiago de Chile) no dia 10 de


Abril de 2018 na menção de Curriculum e Avaliação, sob a orientação do
Professor Guia o Dr. Daniel Ríos Muñoz foi:

"A CONSTRUÇÃO DE LIVRO DIDÁTICO ESPECÍFICO UTILIZANDO AS


CANÇÕES INDÍGENAS PARA MELHORAR A DEFICIENTE LEITURA E
ESCRITA"
Construí um projeto de inovação para os alunos da aldeia São José do povo
Xukuru do Ororubá no agreste pernambucano ao qual também apresento ao
230

leitor neste livro, e para que se entenda a tese resumo que ela se trata de uma
inovação que pretendeu melhorar a dificuldade de leitura e escrita da Língua
Portuguesa dos alunos indígenas nas escolas Natureza Sagrada e Rei Ororubá,
localizadas na cidade de Pesqueira. Foi desenhada uma intervenção feita com
a gravação e transcrição das canções, para serem utilizadas nas atividades em
sala pelas professoras indígenas, aplicadas aos vinte e seis alunos do pré I ao
3º ano nas duas escolas com idades entre quatro e dez anos, a fim de permitir
que eles se apropriem se apropriem desta competência de ler e com o recurso
didático específico, um livro próprio da sua realidade de índio, retratada em forma
de canções.
A metodologia adotada buscou as informações das professoras em uma análise
FODA (Fortalezas, Oportunidades, Deficiências e ameaças), entrevista semi-
estruturada e questionário para elaborar um livro didático específico para
realização de atividades em sala, podendo ser monitorado e avaliado pelas notas
e registros do diário dos professores.
A inovação mostrou sua eficiência através das notas e registros no diário de
classe e caderno de planejamento das professoras, ao apresentar que os alunos
passaram a cometer menos erros na escrita e leitura das palavras, suas notas
finais melhoraram, tiveram mais autonomia e fluência na leitura, aumentaram as
visitas a biblioteca, foi confeccionado um livro didático específico, os alunos
confeccionaram um álbum de vocábulos e realizou-se uma capacitação para os
professores indígenas.
A tese foi delineada da seguinte forma:
A inovação proposta apresentava a implementação de materiais
didáticos usando as canções indígenas para melhorar a deficiente
leitura e escrita dos alunos das escolas indígenas da aldeia São José,
melhorar o desempenho dos professores com um material específico
para sua cultura.

No capítulo 1 apresenta a territorialidade do povo Xukuru enquanto


dimensão geográfica, contextos social e político interno e externo
abordando o contexto nacional e local, trazendo a estrutura
educacional e diagnosticando através de entrevista semi -estruturada,
análise FODA e questionário uma deficiente leitura e escrita dos alunos
231

das escolas da aldeia São José em virtude da falta de material didático


específico e a pouca capacitação dos professores, mostrando que as
mesmas não estão satisfeitas com a aprendizagem dos alunos, como
apresentado a seguir:

O primeiro passo que nos foi exigido para o tema que cada mestrando fosse
abordar era realizar um "DIAGNÓSTICO INSTITUCIONAL" e este deveria conter
as seguintes informações apresentadas entre vinte a vinte e cinco laudas
(páginas), e deveria trazer também a "Descrição da realidade externa e interna"
da população escolhida para o tema nessa ordem.
Na descrição da realidade externa foi abordado que o povo Xukuru tem uma
população de 9.335 índios, 36 Escolas Estaduais indígenas sendo que em três
é ofertado o Ensino Médio sendo que a maior delas a Escola Intermediária
Monsenhor Olímpio Torres oferta do Ensino fundamental ao médio e conta com
759 alunos, 32 professores e 4 coordenadores, esse povo indígena possui ainda
uma demanda de 3. 100 alunos índios, 186 professores indígenas sendo o
segundo município do Nordeste em número de índios segundo o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) , e ainda assim tudo que os índios
conseguiram foi fruto de suas lutas e nunca por uma iniciativa governamental.

O contexto social das escolas Natureza Sagrada e Rei do Ororubá é que


apresentam em suas cercanias poucas casas, e seu acesso é por estrada de
terra sem asfalto, que em período de chuvas são difíceis de transitar, a aldeia
São José tem em seu contexto casas isoladas e algumas outras duas a três
casas juntas, os professores destas escolas moram na aldeia, o que facilita o
entrosamento com os pais dos alunos que são conhecidos, a noite a escola
proporciona aulas de ginástica (zumba, aeróbica...) com um professor que é
pago pelos participantes do grupo que frequenta essas aulas, os índices de
violências são considerados baixo e de pouco risco. Em sua maioria os
moradores são pessoas pobres que vivem com até um salário mínimo e os
auxílios dados pelos governo através de programas sociais como o 'bolsa
família'.

O contexto cultural mostra que os índios Xukuru's tem grande riqueza cultural
nos seus rituais e principalmente na musicalidade que herdaram de seus
232

antepassados,e que aborda todas as questões do povo desde suas origens e


lutas como, sua rotina diária, festejos, o modo como vivem suas crenças na
morte, nos antepassados, porém pouco explorado em termos de escrita e leitura
pela falta de materiais como livros didáticos e paradidáticos dessa cultura. Eles
são descendentes dos Tupi's como todos os povos indígenas litorâneos do
Brasil, e todas as aldeias estão dentro da serra do Ororubá, estando a Aldeia
São josé objeto desta inovação situada no início da serra, é a primeira aldeia ao
entrar na terra demarcada dos Xukuru's, com grande facilidade de acesso,
embora seja de terra batida que em algumas épocas são de difíceis
deslocamentos. As duas escolas são cercadas pela barragem da Peixe (maior
reservatório de água doce desse povo indígena), e dela é retirada a água para
consumo humano e animal, para as plantações de verduras e frutas que são
consumidas e vendidas nas feiras de pesqueira.

No contexto econômico pode-se perceber que os índios Xukuru's vivem


basicamente de suas plantações de hortaliças, feijão, milho e pequenas criações
de gado, galinha e porco, sendo a criação de gado coletiva em um curral para
todos os índios cuidado por eles mesmos. Das plantações e criações é que se
origina a renda da maioria, pois são vendidas na feira de Pesqueira, além disso
há dois índios que são vereadores e que tem seu salário pago pelo município,
bem como todos os cento e oitenta e seis professores que são pagos pelo estado
e outros poucos servidores do município e estado que trabalham nas aldeias,
nos postos de saúde e nas escolas. Existem ainda pequenos comércios,
mercados que seus proprietários são índios também, essa é basicamente a
renda que com poucas exceções não ultrapassam o salário mínimo, estando
muitos deles abaixo desse teto.

No território Xukuru não há fábricas, mas há grande produção artesanal de


bordados e renda, que é feito para o comércio local e também para o exterior.
Também é produzido por eles panelas e utensílios de barro que são vendidos
nas cidades vizinhas em feiras livres e em alguns comércios locais. Alguns desse
povo trabalham durante o dia na cidade de pesqueira e a noite voltam para as
aldeias.
233

Diversas Políticas públicas contribuíram para a melhoria do Currículo escolar


indígena dentre eles, o marco legal: a Constituição Federal de 1988 (Capítulo
VIII, Arts. 231 e 232) que deu amparo a demarcação das terras com base nos
direitos originários e permitiu aos indígenas ter autonomia na sua educação, nos
seus costumes e tradições; O Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/ 1973) resguardou
o direito a vida dos índios e suas terras, porém o índio era tutelado ao Estado
sem autonomia jurídica, ficava a mercê dos governantes; A Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho (OIT) contribuiu ao forçar a inserção dos
artigos da Constituição de 1988 coroando a luta pela autonomia dos índios
brasileiros; A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos
Indígenas foi o recurso externo que gerou grande pressão sobre a política
nacional que até então permitia a retirada dos índios de um local assentado-os
em outro e até juntando diversas etnias em um mesmo local; fruto dessas
legislações foram criadas outras voltadas para a educação que ofertaram ao
povos originários um Currículo diferenciado e específico como a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional 9394/1996 (LDB); Os PCN (Parâmetro Curricular
Nacional); e para finalizar a melhoria da dificuldade de leitura e escrita nacional
e dos índios surgiu o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2012-
2013); O Referencial curricular nacional para a educação infantil Vol. 1; O
Referencial curricular nacional para a educação infantil Vol. 3 e a Orientação
curricular para Ensino Médio Vol. 1, as quais serão todas abordadas e
explicitadas no ítem 3.1 'Políticas públicas contribuintes ao projeto de melhora'.

Todas essas leis contribuíram em muito dando autonomia aos indígenas,


garantindo o direito á suas terras tradicionalmente ocupadas, assistência médica
e jurídica e principalmente na educação com um currículo diferenciado que
contempla a sua cultura.

Descrição da realidade interna foi abordado que as duas escolas indígenas da


aldeia São José são muito precárias na sua estrutura física por falta de apoio
dos órgãos governamentais da educação, não há forro no teto ocasionando
sujeira nos cadernos dos alunos por pássaros, vento, poeira na sala e outros, os
alunos não tem área para a recreação nem tampouco para fazerem o consumo
de seus lanches que por vezes caem no chão devido ao terreno irregular, não
há muros e a população local por vezes reclama que as brincam em seus
234

quintais e plantações, os veículos transitam ao lado da escola que por não ter
muro coloca os alunos em risco de atropelamento.

Mesmo assim o povo Xukuru do Ororubá é uma referência indígena no Nordeste


brasileiro por que conseguiu estruturar sua educação com um currículo
diferenciado que atende aos interesses desse povo, professores totalmente
indígenas em todas as escolas juntamente com a coordenação e lideranças que
tratam a educação como o meio transmissor da cultura. As Professoras da aldeia
São José concluíram a graduação em pedagogia e a especialização em
psicopedagogia com recursos próprios e fora da aldeia, fato que não ocorreu nas
outras aldeias.

Tabla 1-1 Estrutura educacional das escolas e do Povo indígena na Serra do


Ororubá

Escolas da Aldeia São José


Escola Natureza Sagrada 14 alunos
1 professor

Escola Rei do Ororubá 12 alunos


1 professor
Funcionários comuns 2 seguranças
para as duas escolas 2 cozinheiras (merendeira)
2 Faxineiras
Infraestrutura 2 salas de aula
2 banheiros (masc / fem)
1 cozinhaÁrea aberta para
recreação
1 Biblioteca de pequeno
porte com acervo de 642
exemplares, equipada com
mesas e cadeiras.
Equipamentos 2 salas cada uma com
televisão, som, bebedouro
com filtro, quadro de giz
(Escola Natureza Sagrada)
quadro branco (Escola Rei
do Ororubá), carteiras
plásticas com encosto,
pequena biblioteca por
sala, fichário (Escola Rei do
Ororubá), mimeógrafo
(Escola Rei do Ororubá).
Elaboração própria basada em Arraya, D. (2017)
235

Na aldeia São José há duas escolas: Escola Estadual Natureza Sagrada onde
a professora leciona uma turma mista de segundo e terceiro ano e a Escola
Estadual Rei do Ororubá onde a outra professora leciona um turma de pré I, pré
II e primeiro ano juntos, ambas funcionam utilizando a mesma estrutura física,
uma sala de aula para cada escola e os demais espaços são de uso comum para
as duas.

Segundo os professores do povo Xukuru do Ororubá em um livro escrito por eles


mesmos eles narram que a "história de seu povo não se contentou com a
abordagem do processo histórico linear, numa relação entre vencidos e
vencedores, sendo os vencedores aqueles que pensam o mundo de maneira
homogênea e etnocêntrica". Afirmam eles que os órgãos oficiais deram como
extintos o seu povo e que o resgate da memória foi fruto da luta dos líderes e
dos velhos que se deram ao trabalho de resgatar a memória e provar que
estavam vivos. Quando o cacique Xicão 'O Mandaru' descia a serra para reunir
com os professores na cidade de Pesqueira ele foi assassinado em frente a casa
de sua irmã em maio de 1998 no bairro Xucuru. Vários índios foram mortos,
muitos ameaçados, mesmo assim editaram paradidáticos contar a sua história
como forma de manter viva na memória do povo a sua cultura, e reafirmação da
identidade étnica.

A reserva Xukuru é constituída por vinte e quatro aldeias, com duas escolas
estaduais de ensino médio, e 36 escolas de ensino fundamental, a reserva não
dispõe de internet, com deficiente capacitação dos professores, deficiente
material cultural devido a roubos de peças históricas dos índios por parte do
governo e dos museus, poucas vias de acesso asfaltadas, não há faculdades na
reserva, distando as faculdades mais próximas dependendo do curso á 50, 100
e 300 quilômetros de distância da reserva, há no território um posto médico do
município e um da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), há um santuário
diocesano de grande visitação turística devido as aparições de Nossa Senhora
e duas igrejas a de Cimbres e a de N. Sra. das montanhas na aldeia Guarda.

Um dos graves problemas é a perda da língua materna, que conta hoje com
apenas cento e sessenta e cinco palavras, o material cultural é escasso e não
há projetos para sua recuperação nem para escrita de livros e textos específicos
236

da cultura, embora haja uma riquíssima cultura oral e musical com centenas de
cantos que retratam a vida, os costumes e a cultura do povo.

Segundo as professoras indígenas em entrevista

semi-estruturada e questionários os materiais didáticos não são de acordo com


a faixa etária dos alunos e não são específicos da cultura indígena Xukuru. É
grande a carência nesta área dificultando os trabalhos de leitura e manutenção
da cultura, um projeto de melhora nesta área ajudaria grandemente a educação
indígena, visto que só há dois livros específicos 'Mãe Natureza' e 'Caderno do
tempo", ambos criados pelos professores indígenas em coordenação com o
Centro de Cultura Luiz Freire, havendo porém a possibilidade de transcrição das
canções como forma de aumentar os materiais de apoio didático.

As duas escolas estaduais da aldeia São José "Rei do Ororubá" e "Natureza


sagrada" possuem duas professoras com turmas mistas de pré-alfabetização até
o terceiro ano do ensino fundamental, revezando entre elas. A estrutura em volta
da escola é precária, embora dentro das salas tudo esteja bem organizado e
estruturado, é uma comunidade de baixa renda, o que possui melhor situação
financeira é o vereador Sil, os professores e alguns poucos comerciantes. Não
há internet na escola e em algumas aldeias os professores acessam-na pelo
celular, mas a escola possui aparelho de televisão, dvd, carteiras novas e
confortáveis adequadas aos alunos.

Também foi necessário a "Identificação dos principais problemas", pois um


mestrado sem um problema e sem a solução que o mestrando deve apresentar
com resultados é o que dará ou não a titulação de mestre na USACH.

Assim, os dados foram coletados de forma qualitativa, utilizando-se a bibliografia


disponível em um primeiro momento para se ter noção da realidade vivida hoje
pelos povos indígenas em especial o Povo Xukuru do Ororubá foco deste
trabalho.

Para a identificação dos principais problemas educacionais indígenas nas


escolas da aldeia São José utilizou-se três instrumentos de coleta de
informações.
237

1º) Entrevista semi-estruturada:


Foram aplicadas com duas professores da Aldeia São José sobre a
temática da educação indígena com o objetivo de entender suas práticas na sala
de aula, que livros específicos usavam, como trabalhavam os costumes, o apoio
da coordenação e dos líderes indígenas, o currículo diferenciado e como
trabalhavam seus rituais e costumes identificando os maiores problemas. A
analise das respostas permitiu entender o funcionamento do currículo indígena
diferenciado.
2º) Análise FODA com as professoras.
Aplicação de um FODA com duas professoras do pré I ao ao 3º ano do
ensino fundamental dos seis aos onze anos de idade nas escolas da aldeia São
José do povo indígena Xukuru.
3º) Aplicação de cuestionario.
Aplicado cuestionario contendo 51 indicadores escritos em Português,
validados pelas professoras e pela coordenação indígena que autorizou
mediante declaração da USACH, com o objetivo de obter informações sobre a
temática das atividades escolares específicas da cultura, dos livros didáticos
específicos trabalhados na escola e se atendia aos interesses do povo e de sua
cultura, sobre as capacitações para os professores indígenas, satisfação do nível
de aprendizagem dos alunos, estrutura escolar e se os alunos exercitam a leitura
e a escrita com frequência. e por fim do apoio da coordenação indígena e do
governo.
Os resultados dos três instrumentos foram os seguintes:
1- Entrevista semi-estruturada:
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas de forma oral e
validadas pelas duas professores da Aldeia São José que lecionam pela manhã,
isso permitiu ás entrevistadas a liberdade de descrever o que elas julgavam mais
importante em suas práticas na sala de aula e como trabalhavam seus rituais e
costumes e onde se apresentavam os maiores problemas e para entender suas
práticas na sala de aula, como trabalhavam seus rituais e costumes identificando
os maiores problemas e assim diagnosticar com mais precisão. As poucas
palavras faladas em idioma Xukuru foram traduzidas por elas mesmas para
melhorar a compreensão.
1- Com que material didático trabalha a cultura específica Xukuru.
238

2- Como são trabalhados os costumes e as tradições do povo e que


deficiências apresentam.
3- O que julgam ser mais importante para melhorar a aprendizagem dos
alunos.
4- A coordenação indígena auxilia os professores em suas
necessidades.
5- Os líderes indígenas são presentes na educação indígena.
6- O Currículo diferenciado tem permitido o desenvolvimento a educação
indígena.

A análise dos resultados apresentados na entrevista pelas professoras foi a


insatisfação com o pouco recurso didático específico da sua cultura (apenas dois
livros paradidáticos) não recebendo suporte para trabalhar o currículo indígena
diferenciado com os alunos, não há um livro didático compatível com a faixa
etária dos alunos de 4 a 8 anos que acabam por gerar uma dificuldades de leitura
e escrita apresentados nas avaliações corrigidas pelos professores. Ainda
comentaram que recebem pouco apoio da Coordenação indígena Xukuru no que
se refere aos recursos necessários em materiais para trabalhar com os alunos.
Há poucas capacitações dentro da aldeia, elas não são frequentes, algumas
vezes ocorrem em outras cidades impedindo que todos os professores
participem, afirmam ainda que há pouco envolvimento dos órgãos
governamentais nos problemas dos índios do Brasil especificamente os
Xukuru's, motivo pelo qual esta inovação se propõe a auxiliar.

2 - Análise FODA com as professoras.


O instrumento FODA foi aplicado com as professoras do turno matutino
da aldeia São José durante duas horas e foi direcionado para elencar as
dificuldades apresentadas pelos alunos e sobre os livros didáticos específicos
de sua cultura.

Tabla 1-2 Análisis FODA da dificuldade de leitura e escrita dos alunos


da Aldeia São José
FORTALEZAS DEBILIDADES
239

• A educação indígena Xukuru • Dificuldades de leitura e escrita


possui um currículo apresentados nas atividades
diferenciado e específico de corrigidas pelos professores.
sua cultura. • Pouco material didático
• Possui dois livros didáticos específico da sua cultura.
específicos 'Filhos da mãe • As capacitações dos
natureza' e 'Meu povo conta' professores foram diminuídas
para trabalhar nas escolas e quando ocorrem são
indígenas. realizadas fora da aldeia.
• Eles vêm a leitura como uma • As melhorias ocorrem pelo
função social e política empréstimo de material
necessária. específico.
• As duas professoras da aldeia • Sala de aula multiseriada.
São José possuem
graduação em pedagogia e
especialização em
psicopedagogia.
AMENAZAS OPORTUNIDADES
• PEC 215 tira dos índios os • Quatro paradidáticos foram
direitos a suas terras, raiz de editados pelas ONG's ( CCLF -
suas culturas. Centro de Cultura Luiz Freire)
• Os livros enviados pelo e pelo CIMI (Conselho
estado são utilizados como Indigenista Missionário)
recorte e colagem, não sendo • As canções são cantadas
aproveitado o conteúdo. diariamente pelos alunos.
• Não houve mobilização do
Governo criar material
didático específico.
Elaboración propria

Os resultados apresentados na análise FODA em suas dimensões


indicaram os seguintes aspectos nas fortalezas:
240

✓ A educação indígena Xukuru possui um currículo diferenciado e


específico de sua cultura.
✓ Possui dois livros didáticos específicos 'Filhos da mãe natureza' e 'Meu
povo conta' para trabalhar nas escolas indígenas.
✓ Eles vêm a leitura como uma função social e política necessária.
✓ As duas professoras da aldeia São José possuem graduação em
pedagogia e especialização em psicopedagogia.
As fortalezas que contribuem para melhorar a dificuldade de leitura e escrita dos
alunos é que eles já trabalham com um currículo diferenciado que lhes permite
com liberdade trabalhar sua cultura na sala de aula e fora delas, possuem dois
livros didáticos específicos e assim esta inovação atuará complementando o
material didático. Esse povo vê a leitura e a escrita como uma função social e
política necessária.
Nas ameaças:
✓ PEC 215 tira dos índios os direitos a suas terras, raiz de suas culturas.
✓ Os livros enviados pelo estado são utilizados como recorte e colagem,
não sendo aproveitado o conteúdo.
✓ Não houve mobilização do Governo para a criação de uma faculdade na
aldeia.
As principais ameaças vem do governo que tem vários projetos de lei para
suprimir os direitos conquistados pelos indígenas, sendo o pior deles desfazer
as demarcaçãoes de terras originárias por pressão dos empresários, contam
apenas com o apoio dos bispos da igreja católica, organismos internacionais e
os congressistas cristãos.

Nas oportunidades:
✓ Quatro paradidáticos foram editados pelas ONG's ( CCLF -Centro de
Cultura Luiz Freire) e pelo CIMI (Conselho Indigenista Missionário)
✓ As canções são cantadas diariamente pelos alunos.

Editados pela iniciativa de ONG's, há quatro paradidáticos, embora


somente dois sejam usados na aldeia São José, 'Meu povo conta' e 'Xukuru filhos
da mãe natureza', onde foram usados os desenhos que as crianças indígenas
gostam de fazer, apresentando suas tradições, mostrando um pouco dos outros
241

povos indígenas do estado de Pernambuco, abordando ainda os direitos e


deveres dos índios, mas não abordam as canções do povo.

Debilidades:

✓ As dificuldades de leitura e escrita apresentados nas atividades corrigidas


pelos professores, evidenciaram que alguns alunos não tinham fluência
nem autonomia na leitura e apresentavam deficiente escrita na Língua
Portuguesa e no idioma Xukuru.
✓ Pouco material didático específico (dois livros paradidáticos),
principalmente na faixa etária dos alunos da aldeia São José deixam
alunos e professores desmotivados e passam a trabalhar apenas o canto
das canções, a pintura corporal nas aulas de artes e nos festejos
escolares, bem como nas formaturas e outras ocasiões.
✓ Pouca capacitação para os professores e quando ocorre é fora da aldeia
em outros municípios do estado, para que os mesmos possam colocar em
prática novos conhecimentos da cultura indígena a fim de suprir as
deficiências dos alunos.
✓ As melhorias ocorrem pelo empréstimo de material específico entre
professores de outras aldeias, mostrando que se faz necessário a
produção de material didático específico.
Aqui é onde se concentravam as maiores dificuldade apresentadas pelos
alunos da aldeia São José e pode-se perceber que os alunos apresentam
dificuldades de leitura e escrita da língua portuguesa apresentados nas
avaliações corrigidas pelas professoras e que pude comprovar nas aulas
ministradas pelas professoras.

3 - Aplicação de cuestionario.
Também foi utilizado um questionário contendo 51 indicadores com as
duas professoras do período matutino para coleta de dados, porém percebeu-se
que todos os trabalhos do povo Xukuru são realizados coletivamente por
sugestão do COPIXO (Conselho de Professores Indígenas Xukuru do Ororubá)
o que por vezes dificulta uma amostra individual de participantes do grupo de
professores, coordenadores, tendo sido apontados como fatores contribuintes
para a dificuldade de leitura e escrita diversos fatores, mas o que mais preocupa
242

é que os professores relataram que não estão satisfeitos com a aprendizagem


dos alunos, dentre outros os seguintes obstáculos que contribuem com a
dificuldade de leitura e escrita dos alunos foram identificados e descritos na
ilustração abaixo.
Os resultados obtidos no questionário mostra que as lideranças
indígenas são pouco atuantes nas escolas indígenas, bem como os pais dos
alunos pouco ajudam na manutenção das tradições, principalmente nas tarefas
feitas em casa.
Ao observar o item 01 do questionário onde se interroga se os
professores trabalham as canções indígenas de forma escrita em sala de aula
os mesmos responderam que 'as ações são realizadas sempre com proveito',
mas ao apresentar a transcrição das canções nos slides do projetor multimídia
percebeu-se que os alunos tinham grande dificuldade de ler o que cantavam
muitas vezes em sala, havendo uma distância do que era cantado e o real
entendimento e compreensão da grafia e da interpretação dos textos das
mesmas. No item 02 questionou-se o fato da escola promover e trabalhar a
escrita das canções com os alunos e os professores responderam que 'as ações
são realizadas sempre com proveito', porém no item 05 ao se questionar sobre
os materiais específicos recebidos responderam que as ações necessitam de
mais livro didático especíico. Os itens 06, 07, 10 e 13 interrogam sobre a real
eficiência do trabalho de transcrição das canções e da realização de tarefas com
os alunos e se ela promoveria a cultura indígena, se seria proveitoso para os
alunos e se os mesmos se sentem motivados com as canções, elas
responderam que 'as ações são realizadas sempre com proveito' e os alunos
gostam e até disputam para serem os 'bacurais' que são os puxadores das
canções, então elas revezam as funções da cantoria para não desanimá-los.
Em síntese a entrevista semi-estruturada permitiu que as professoras
descrevessem o que necessitavam em suas práticas dentro da sala de aula para
trabalhar os seus rituais e costumes estimulando a elaboração de idéias que
contribuíram decisivamente para o êxito da melhoria de leitura e escrita dos
alunos, e que 'não estavam satisfeitas com a aprendizagem dos alunos', e por
sentir necessidade de mais conhecimento e dispondo de poucos recursos as
professoras custearam por conta própria uma especialização em
psicopedagogia, para minimizar as deficiências de escrita e leitura dos seus
243

alunos, problema que elas gostariam de solucionar e que estavam trabalhando


para melhorar, principalmente por estarem os alunos em séries iniciais.

A análise FODA indicou que alguns alunos não tinham fluência,


autonomia na leitura, deficiente escrita do Português e do idioma Xukuru, em
muito devido ao pouco material didático específico que acaba por desmotivados
alunos e professores que realizam apenas o canto das canções, a pintura
corporal. Foi possível perceber também que a pouca capacitação prejudica a
prática principalmente para a cultura indígena, e a pouca melhora ocorre pelo
empréstimo material específico em vez de se produzir o mesmo.

E por fim a aplicação do questionário para coleta de dados, foi dificultada


pelo fato de que todos os trabalhos do povo Xukuru são realizados coletivamente
por sugestão do COPIXO (Conselho de Professores Indígenas Xukuru do
Ororubá) não permitindo uma amostra individual de participantes do grupo.
Neste as professoras relataram a dificuldade de leitura e escrita e que não estão
satisfeitos com a aprendizagem dos alunos e que as lideranças são presentes
nas escolas indígenas, bem como os pais dos alunos pouco ajudam na nas
tarefas feitas em casa, ficando a responsabilidade com os envolvidos na
educação quase exclusivamente.

Os resultados apresentados nos instrumentos da análise FODA e das


respostas da entrevista com as duas professoras podem ser demonstrados na
seguinte ilustração.

Ilustración 1-1 Obstáculos que contribuem com a dificuldade de leitura e


escrita dos alunos segundo a análise dos instrumentos.
244

Livrol didático
inadequado

Os alunos Dificuldade de
conhecem as leitura e Pouca
canções, mas escrita dos capacitação
as leem e as alunos da para os
escrevem com Aldeia São professores
dificuldades José

Há poucas
poucas
capacitações
para as
professoras

Elaboração própria
Os principais aspectos desta Ilustración mostram que a dificuldade
apresentada na leitura e escrita dos alunos se deve em parte pelo livro didático
inadequado, gerando insatisfação na aprendizagem dos alunos pelos
professores pois não trabalham com material específico da sua cultura, e o
governo federal e estadual envia material que segundo elas 'só servem para
recorte', motivo pelo qual a inovação proporcionará o trabalho com atividades de
suas canções visto que os alunos as conhecem, embora ainda apresentem
dificuldades na leitura e escrita das mesmas.

Após isso o mestrando deveria fazer uma "Análise dos problemas" na qual se
pode afirmar que os principais problemas apresentados na educação indígena
das escolas da aldeia São José, são a dificuldade de leitura e escrita dos alunos
e o fato de ter somente dois livros didáticos para trabalhar todas as séries:

1 - Os alunos apresentam dificuldade de leitura e escrita na Língua


Portuguesa nas Escolas Natureza Sagrada e Escola Rei do Ororubá, que
segundo as professoras é devido a escassez de livros didáticos específicos, falta
de apoio do governo e a pouca capacitação dos professores, faz com que os
245

alunos apresentem muitos erros de escrita e leitura em seus textos. Ao observar


os textos dos alunos, identificou-se que os mesmos apresentam muitos erros de
ortografia bem como uma deficiente leitura ao serem solicitados para fazer uma
leitura, sendo necessário complementar o Currículo com material didático
específico, principalmente pelo fato dos alunos estarem em séries iniciais, como
afirma Zucoloto (2002) 'se não ensinados a ler e escrever corretamente nas
séries iniciais dificilmente o farão em séries posteriores'. Por este motivo a
inovação trabalhará a leitura e a escrita das palavras em Português com os
textos das canções e será confeccionado um pequeno livro com a transcrição
das canções indígenas usado como material específico como sugere Freire
(1996) que se deve ter autonomia intelectual para trabalhar na realidade do aluno
corroborados com Freire (2014) que trabalhar a especificidade de classes menos
favorecidas deve-se contextualizar sua realidade e Freire (2003) mostra a
importância de trabalhar a leitura e a escrita.
2 - Pouca capacitação, de forma que as professoras possam trabalhar a
leitura e a escrita de forma contextualizada promovendo um diálogo do aluno
com a sua tradição como afirma Neves (2001), levando as professoras a
buscarem auxílio externo com recursos próprios como fizeram as professoras da
aldeia São José para a melhoria de um currículo diferenciado como mostra
Pereira (2001). Por isso busca esta inovação realizar capacitação com as
professoras desta aldeia abordando questões que as ajudem na sua prática
escolar.
3 - O povo Xukuru possui apenas cento e sessenta e cinco palavras em
seu idioma, sendo quase irrecuperável a sua língua materna e não há projeto de
recuperação da língua, mesmo assim os vocábulos existentes ainda são
trabalhados na sala de aula, por isto a inovação tem como foco apenas as
palavras em Português.
4 - Poucos trabalhos com textos específicos da cultura Xukuru em forma
de livro didático estão disponíveis para serem trabalhados com os alunos, sendo
importante a construção de livros específicos de sua cultura.
Por tudo isto, esta proposta de inovação proporcionará uma constante
complementação de livro didático específico, como pediram as professoras nos
instrumentos diagnósticos, fortalecendo as atividades com a cultura indígena
específica desse povo originário.
246

Foi descrito no Capítulo 2 uma análise global da dificuldade de leitura e escrita


dos alunos pela ausência de material específico e pouca capacitação, bem como
as estatísticas da educação indígena comparadas com a educação dos não
índios, a deficiência de material didático específico e a definição dos objetivos
para melhorar a dificuldade de leitura e escrita dos alunos indígenas das escolas
Natureza Sagrada e da Rei do Ororubá na Aldeia São José, através de
atividades utilizando a transcrição das canções indígenas do povo.
Na "FORMULAÇÃO DO PROBLEMA" a abordar com a inovação foi apresentado
que havia naquela população escolhida:
"Dificuldade de leitura e escrita dos alunos da Escola Indígena Natureza Sagrada
e Rei do Ororubá contribuída pela utilização de material didático inadequado".
Os objetivos da inovação foram assim apresentados:

Objetivo geral
Melhorar a leitura e a escrita dos alunos indígenas por meio da transcrição de
suas canções, construindo um material didático específico da cultura Xukuru.
Objetivos específicos
a) Desenhar um plano de intervenção educativa - lista das canções a serem
transcritas para confecção de livro didático.
b) Capacitar as professoras com as canções selecionadas nas atividades de
leitura e escrita
c) Realizar atividades de leitura e escrita das canções com os alunos
d) Construir livro de apoio didático especifico da cultura Xukuru.
d) Monitorar a evolução das atividades de leitura e escrita dos alunos utilizando
as canções
e) Avaliar as atividades dos alunos com a transcrição da canções indígenas do
seu povo.
Foi apresentado como justificativa para a inovação os seguintes aspectos:

A constituição de 1988 garantiu aos indígenas brasileiros o direito a uma


educação própria com materiais didáticos específicos, a liberdade de trabalhar a
sua educação com um currículo diferenciado, porém a lei não saiu do papel, pois
não foram implementadas em sua prática até o momento presente.
247

Ser índio em sua totalidade é o maior desejo do povo indígena Xukuru do


Ororubá, inclusive na educação, porém a dificuldade encontrada está na falta de
materiais de suporte educacional, pois isso demanda pesquisa, investimentos e
um alto custo para ser investido em um população que sempre esteve a margem
da sociedade, como falado na linguagem da antropologia no nosso país 'o índio
é um resíduo arqueológico' que não se procura ajudar.

As literaturas sobre as culturas indígenas brasileiras são escassas, há pouca


publicação na área, pouco apoio e investimento por parte do governo e da
iniciativa privada e pode-se ainda afirmar que muitos estão por conta própria,
desse modo esta inovação dá autonomia para que eles tenham uma educação
voltada para seus costumes e tradições, transcrevendo suas canções e
transformando-as em material didático específico.

Transcrever as canções indígenas para melhorar a leitura e a escrita, auxiliando


a construção de um material didático específico tão presente na cultura dos
povos originários, possibilitará o desenvolvimento de uma tecnologia para uso
em todas as aldeias desse povo e de outros povos indígenas do Brasil, visto que
leitura e escrita é uma preocupação de todos os educadores brasileiros,
tornando-se mais grave a medida que adentramos a zona rural e mais ainda em
áreas indígenas.
A riqueza cultural do povo Xukuru, permite abordar diversos temas com as
canções da sua oralidade para possibilitar a escrita de textos a serem
trabalhados na escola Natureza Sagrada e Rei do Ororubá do povo indígena
Xukuru do Ororubá permitindo a criação constante de material didático
específico que não se esgota.
Este trabalho de inovação dará ao povo Xukuru a autonomia de criar seus
materiais com base em sua tradição, fortalecendo sua cultura sem necessitar de
intervenção externa para exercer seu direito de ter uma educação que contemple
seu dia-a-dia, permitindo ainda que as gerações que nascem estejam sempre
em contato com seus ancestrais através das suas canções.
Com apenas cento e sessenta e cinco palavras na língua nativa, esse povo
pouco fala em sua língua materna, mas no despertar da escrita de textos sobre
os costumes e a tradição indígena Xukuru, será possível preencher estas
lacunas de palavras com a língua Tupi-guarani como está sendo feito pelos
248

índios Potyguaras na Paraíba. O Tupi pode ser usado para preencher a falta das
palavras que faltam no idioma Xukuru, pois ele foi o principal tronco linguístico
da maioria dos povos indígenas litorâneos do Brasil, principalmente porque
fizeram guerras com muitos povos indígenas fundindo suas culturas, assim
poderá ser criado um material didático em sua própria língua ajudando a
propagação em seu idioma original.

A inovação é fundamentada no Capítulo 3, mostrando que o grande marco das


questões indígenas foi a Constituição Brasileira de 1988, na qual 'assegurada às
comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos
próprios de aprendizagem', corroborando com Freire, Luckesi e Hoffmann ao
expor que se deve contextualizar a educação, trazendo ainda as importantes
contribuições das políticas públicas do indigenismo no Brasil. Parte desta
fundamentação já foi apresentada em tópicos anteriores ao descrever as
legislações brasileira.
Foi descrito no Capítulo 4, que a população alvo são os alunos indígenas da
aldeia São José e a estratégia é a confecção de material didático usando a
transcrição das canções que são parte da cultura imaterial e conhecidas dos
alunos, embora leiam e escrevam as mesmas com dificuldades.
Foi apresentado como planejamento para a proposta de inovação a ser
apreciada pelo orientador de cada menção que no meu caso foi Currículo e
Avaliação que a minha pretendia melhorar a deficiente leitura e escrita dos
alunos indígenas Xukuru's com a construção de um livro didático específico, com
o conteúdo da transcrição de suas canções e que pode ser constantemente
aumentado, a medida que novas canções são criadas, ampliando para todas as
aldeias indígenas desse povo, dando autonomia na construção de um livro
didático próprio sem a necessidade de apoio externa, visto que os livros didáticos
fornecidos pelo governo são inadequados e descontextualizados da cultura do
povo Xukuru e pouco tem contribuido com a melhoria da dificuldade de leitura e
escrita inovando sua educação Hoje há apenas quatro paradidáticos específicos
que foram criados pela ONG do Centro de Cultura Luiz Freire e apenas dois
deles são trabalhados na faixa etária dos alunos da escola Natureza Sagrada e
Rei do Ororubá da aldeia São José, logo busca esta inovação despertar no aluno
o desejo pela aprendizagem e o gosto pela leitura e escrita.
249

A inovação buscará trabalhar os cantos indígenas com os alunos dentro de seu


contexto, da seguinte forma: transcrevendo vinte canções indígenas e assim
trabalhar a leitura e escrita com um material específico já conhecido oralmente,
mas ainda não trabalhado em sala de aula, trabalhar a leitura e a escrita por
meio da aplicação de atividades escolares sobre as canções transcritas,
monitorando e avaliando no decorrer do bimestre a criticidade e as dificuldades
apresentadas no processo de leitura e escrita.
Foi escolhida como População beneficiada os 26 alunos do povo Xukuru do
Ororubá da aldeia São José e indiretamente todos os alunos das vinte e quatro
aldeias, uma vez que este povo indígena tem os mesmos costumes e falam a
mesma língua (Português) em todas as aldeias, embora tenham apenas 165
(cento e sessenta e cinco) vocábulos Xukuru que estão sendo trabalhados nas
escolas indígenas como forma de recuperação da língua e manutenção da
cultura, também professores da Escola Natureza Sagrada de forma direta que
tem pouco livro didático específico, próprio de sua cultura.
Foi feita uma ficha de cadastramento de informações (Tabla 4-2) dos docentes
baseado no modelo de David Andrés para uma coleta de dados e uma avaliação
básica da formação docente presente nas escolas indígenas Natureza Sagrada
e Rei do Ororubá.

Tabla 4-1 Populación beneficiada pela inovação

De forma Direta De forma Indireta


26 Alunos e 3 professoras Todo o Povo Xukuru do
da aldeia São José. Ororubá, uma vez que este povo
Escola Natureza Sagrada: indígena tem os mesmos costumes
Manhã: 1 professora, 05 e falam a mesma língua (Português)
alunas (duas alunas com 8 anos, e e possuem 165 vocábulos do idioma
três com 9 anos), 9 alunos (2 com 7 Xukuru que está sendo trabalhado
anos, 1 com 8 anos, 1 com 9 anos, 3 nas escolas indígenas como forma
com 10 anos, 1 com 11 anos e 1 com de recuperação da língua. O que se
13 anos). aplica em uma escola pode ser
Tarde: 1 professora, 10 aplicado em todas.
alunos
Escola Rei do Ororubá:
1 professora, 05 alunas (1
com 4 anos, 3 com 6 anos e 1 com 7
250

anos), 7 alunos (1 com 4 anos, 2 com


6 anos, 3 com 7 anos e 1 com 9
anos).
Elaboração própria

A inovação em pauta se aplica nas Escolas Estaduais Natureza Sagrada e na


escola Rei do Ororubá da aldeia São José do Povo indígena Xukuru do Ororubá,
situada no município de Pesqueira no estado de Pernambuco, região Nordeste
do Brasil. As transcrições das canções da tradição oral desse povo será
trabalhado em sala de aula pelas professoras Shirleide e Maria Rogéria em duas
turmas multiseriadas (pré I e II, 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental) com
idades entre 6 e 13 anos, e visa melhorar a dificuldade de escrita e leitura dos
alunos e fortalecimento da cultura indígena. Será confeccionado um pequeno
livro didático específico para utilização em sala com os textos das canções
trabalhadas com os alunos.
Apresentei como Estratégia Didáctica a "construção de livro didático" a partir da
transcrição de vinte canções indígenas do povo Xukuru para melhorar a leitura
e a escrita dos alunos e complementar os dois livros didáticos específicos
existentes, sendo usado para a realização de atividades de leituras e tarefas
escritas com estes textos da musicalidade indígena, e assim auxiliar alunos e
professores através da construção de novos subsídios de sua cultura como
forma de valorização das suas raízes e fortalecimento da sua tradição. As
canções retratam a sua rotina diária, seus festejos e rituais, sendo conhecido por
todos, o que facilita o trabalho das professoras. Dessa forma os alunos cantam
as canções, dançam seus rituais, leem e escrevem-nas.
Esta inovação será desenvolvida com atividades em sala, abordando a
cultura do povo do Ororubá em diversos temas do seu dia-a-dia, rituais e festejos
através da musicalidade das canções, diariamente incluídas em forma de cantos
e danças na sala de aula, e ainda trabalhadas na leitura e na escrita.
Embora sejam usadas as vestimentas como Barretina, Tacó (Saia de
palha), pinturas na pele, colares de sementes e ossos em suas danças e rituais
tradicionais, na sala de aula usa-se apenas a maraca e as palmas com as mãos
para executarem as canções, o que facilita o desenvolvimento dos trabalhos
pelos professores.
251

As canções indígenas evocam a memória do povo e suas tradições


relembrado seu passado e suas lutas como afirma o antropólogo Jorge Velho,
reforça a sua identidade no presente tão necessário para evitar a extinção como
povo, e a inovação delineia um futuro construído com base quando se afirma
como povo originário.

Ilustración 4-2 Componentes trabalhados nesta inovação

Memória Social Identidade Inovação

Presente Futuro
Passado

Elaboração própria

Com a utilização de filmadoras, gravador de voz e celulares foram


filmadas e gravadas as canções indígenas e transcritas para o português. Dentre
elas algumas não foram viáveis de serem trabalhadas por diversos motivos
(proibidas de serem cantadas pelas mulheres desse povo e não poderem
manusear os instrumentos do Membi, ou porque continham poucas palavras,
canções de outros povos, etc).

No início da inovação foram feitas as transcrições de vinte canções


indígenas para ser trabalhada a deficiente leitura e escrita dos alunos, foram
excluídas quatro do Membi (ou Memby) devido a sua proibição para os não
indígenas e para as mulheres que não podem tocar nos instrumentos sagrados.
Optou-se por trabalhar dezessete canções que não feriam sua tradição cultural.

Tabla 4-3 Canciones indígenas del pueblo Xukuru do Ororubá transcritas com
filmadora e gravador de voz

Canções Momento Instrumento Vestimenta


que se canta s s
1. Rei 1-Início dos Maraca, Barretina,
Ororubá trabalhos escolares; 2- palmas Tacó (Saia de palha),
Toré Sagrado pinturas na pele.
252

2. Ororubá 1-Toré Maraca, Barretina, Tacó (Saia


de palha), pinturas na
Sagrado; 2- Ritual palmas, Cajado
pele.
sagrado da pedra
d'água.
3. Heinareá 1-Toré Maraca, Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
Toré Sagrado; 2- Ritual palmas,
pele.
sagrado da pedra
d'água.
4. Quem 1- Retomada Maraca, Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
chegou foi Xukuru das fazendas; 2- palmas
pele.
Assembleias; 3-
Manifestações.
5. Força 1- Retomada Maraca, Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
Tupã das fazendas; 2- palmas
pele.
Assembleias; 3-
Manifestações.
6.Meu 1- Retomada Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
caboclo índio das fazendas; 2-
pele.
Assembleias; 3-
Manifestações.
7.Eu tava 1- Retomada Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
sentado na beira do das fazendas; 2-
pele.
mar Assembleias; 3-
Manifestações.
8.Jurema 1-Toré Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
Encantada Sagrado; 2- Ritual
pele.
sagrado da pedra
d'água.
9.O galo 1- Retomada Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
cantou das fazendas; 2-
pele
Assembleias; 3-
Manifestações
10.A força 1- Retomada Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
que a Jurema tem das fazendas; 2-
pele
Assembleias; 3-
Manifestações
11.O pé do 1- Retomada Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
Juremá das fazendas; 2-
pele
Assembleias; 3-
Manifestações
12.Cabocli 1- Retomada Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
m de pena das fazendas; 2-
pele
Assembleias; 3-
Manifestações
253

13.Mãe 1- Retomada Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia


de palha), pinturas na
Tamain mandou das fazendas; 2-
pele
chamar Assembleias; 3-
Manifestações
14.Mandai 1-Toré Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
tua força Sagrado; 2- Ritual
pele
sagrado da pedra
d'água.
15 Bahia Intercâmbio Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
terra de côco com outros povos
pele
indígenas
16. São Intercâmbio Maraca, palmas Barretina, Tacó (Saia
de palha), pinturas na
Pedro Chaveiro do céu com outros povos
pele, colares
indígenas
17. Membi 1ª peça: Flauta de bambú (gaita) Barretina, Tacó (Saia
Bebida sagrada : vinho de palha), pinturas na
ou Memby (obs: as oração (encantados)
da Jurema - pele, colares
mulheres não podem 1-Toré alucinógeno.
tocar os instrumentos Sagrado; 2- Ritual
sagrados) sagrado da pedra
Professor d'água.
do Membi: Antônio
Leite (seu medalha)
18. Membi 2ª peça: Flauta de bambú (gaita) Barretina, Tacó (Saia
Bebida sagrada : vinho de palha), pinturas na
ou Memby (obs: as oração
da Jurema - pele, colares
mulheres não podem (encantados) alucinógeno.
tocar os instrumentos 1-Toré
sagrados) Sagrado; 2- Ritual
Professor sagrado da pedra
do Membi: Antônio d'água.
Leite (seu medalha)
19. Membi 3ª peça: Flauta de bambú (gaita) Barretina, Tacó (Saia
Bebida sagrada : vinho de palha), pinturas na
ou Memby (obs: as oração
da Jurema - pele, colares
mulheres não podem (incorporaçã alucinógeno.
tocar os instrumentos o dos caboclos)
sagrados) 1-Toré
Professor Sagrado; 2- Ritual
do Membi: Antônio sagrado da pedra
Leite (seu medalha) d'água.
20. Membi 4ª peça: Flauta de bambú (gaita) Barretina, Tacó (Saia
Bebida sagrada : vinho de palha), pinturas na
ou Memby (obs: as oração
da Jurema - pele, colares
mulheres não podem (incorporaçã alucinógeno.
tocar os instrumentos o dos caboclos)
sagrados) 1-Toré
Sagrado; 2- Ritual
254

Professor sagrado da pedra


do Membi: Antônio d'água.
Leite (seu medalha)
Elaboração própria

A análise dos principais aspectos dessa tabela mostra que estas


canções obedecem a três temáticas, a primeira fala das divindades e dos seres
espirituais que ajudam, orientam e guiam o povo; a segunda fala dos índios ao
se referir aos caboclos Xukuru's e a terceira descreve as lutas travadas contra
os fazendeiros e latifundiários para retomar as terras tradicionalmente ocupadas,
ou seja todos os temas abordam o contexto do povo.

Na transcrição foi visto que em apenas doze canções havia algumas


palavras do vocabulário Xukuru do Ororubá, o que tornaria impraticável um
trabalho de escrita e leitura na língua materna do povo, visto que o que restou
foram cento e sessenta e cinco palavras, motivo pelo qual a reestruturação da
língua materna aparenta quase impossível, como pode ser visto na tabela
abaixo:

Tabla 4-4 Quantidades de palavras nas canções e sua tradução ao idioma nativo

CANÇÕES INDÍGENAS XUKURU COM PALAVRAS DO IDIOMA NATIVO


NOME DA PALAVRAS EM PALAVRAS EM
CANÇÃO IDIOMA PORTUGUÊS IDIOMA XUKURU
1-REI ORORUBÁ 103 3
2- A FORÇA QUE A 97 2
JUREMA TEM
3- HEINARREÁ TORÉ 108 6
4- MÃE TAMAIN 116 4
MANDOU CHAMAR
5- MANDAI TUA FORÇA 132 6
6- MEU CABOCLO ÍNDIO 13 1
7- O GALO CANTOU 50 9
8- O PÉ DO JUREMÁ 224 11
9- EU TAVA SENTADO 58 1
NA BEIRA DO MAR
10- ORORUBÁ 41 4
11- QUEM CHEGOU FOI 40 2
XUKURU
12- REI ORORUBÁ 107 3
13- FORÇA TUPA 106 0
14-JUREMA 106 0
ENCANTADA
15- CABOCLIM DE PENA 58 0
16- BAHIA TERRA DE 31 0
CÔCO
TOTAL 1390 52
Elaboração própria
255

A análise desta tabela mostra que são poucas as palavras que existem em idioma
nativo, mesmo assim estas poucas palavras são trabalhadas em sala de aula, sendo mais
importante trabalhar atividades na Língua Portuguesa com canções que tenham mais significado
para sua tradição, respeitando sua cultura como foi feito nesta inovação. Motivo pelo qual
algumas canções não foram trabalhadas.

Foram excluídas também as canções de número seis, quinze e dezesseis por serem
pequenas e não serem específicas dos Xukuru's, mas usadas quando da visita de outros povos
indígenas do Nordeste como os Atikum, Kambiwá, Kapinawá, Pankará, Pankararu, Truká, Fulni-
ô, sendo a de número quinze específica do povo Bororo da Bahia.

Dessa forma foram trabalhadas as canções de 1 a 5, de 7 a 14 num total de treze


canções.
Após as atividades em sala com as canções, as crianças comentaram sobre outras
canções que elas gostavam muito e não estavam contempladas nesta inovação, foi necessário
então gravar as crianças cantando e dançando o ritual de seu povo (Toré), após isso foi transcrito
e trabalhado em sala pelas professoras as outras canções escolhidas por elas.
A primeira canção a ser acrescentada foi 'Pisa ligeiro' que fala dos invasores das terras
e a luta dos índios na qual eles saíram vitoriosos, um trecho fala que 'quem não pode com a
formiga não assanha o formigueiro'. Outra canção que as crianças se identificavam muito é
'Papagaio verde amarelo', pássaro da serra do Ororubá, que tem a capacidade de imitar sons e
palavras, por ter a sua cor de penugem em verde e amarelo, que são as cores da Bandeira
Nacional Brasileira, ele evoca também um sentimento de nacionalidade muito forte,
principalmente porque diversos índios Xukurus participaram nas guerras do Paraguai, e também
na Segunda Guerra mundial aos quais eram conhecidos por 'caboclos' descritos por diversos
escritores nacionais Barone (2013), visto que da América do Sul o Brasil foi o único a participar
desta guerra, essa é uma das preferidas deles. As duas outras foram 'Eu só canto meu Toré,
porque gosto de cantar' e 'É Deus no céu e os índios na terra', totalizando dezessete canções
trabalhadas.

Tabla 4-5 Motivo da inclusão e retirada das canções.

Canções Motivo da escolha da canção pelas


professoras
1. Rei Entidade espiritual que cuida do povo
Ororubá
2. Ororubá Nome da serra onde ficam os índios
Xukurus, enaltece o cacique Xicão
3. Heinareá Cantado nos momentos sagrados
Toré
4. Quem Tradicional canto de retomada das
chegou foi Xukuru fazendas
256

5. Força Quando a comunidade tem que decidir


Tupã questões importantes, evoca os encantados
6.Eu tava Evoca a água e a terra elementos
sentado na beira do sagrados
mar
7.Jurema Bebida caseira tomada por todos os
Encantada índios
8.O galo Evoca o despertar, a luta do povo
cantou
9.A força É da jurema sagrada que tiram a força
que a Jurema tem para suas lutas
10.O pé do Árvores sagrada da pejelança
Juremá
11.Caboclim Mostra a resistência do povo
de pena
12Mãe Entidade sagrada feminina
Tamain mandou comparada a N. Srª das Montanhas
chamar
13.Mandai Evoca as forças da natureza
tua força
CANÇÕES INSERIDAS A PEDIDO DOS ALUNOS
14. Pisa fala dos invasores das terras e a luta
ligeiro dos índios
15. Eu só Os alunos gostam de dançar e cantar,
canto meu Toré, como fala a canção
porque gosto de cantar
16. É Deus Depois de muitas lutas, eles acreditam
no céu e os índios na que Tupã os ajudou
terra'
17. Ave com as cores da bandeira, evoca
Papagaio verde nacionalismo
amarelo
CANÇÕES RETIRADAS
1ª peça do Não trabalhadas
Membi Da 1ª á 4ª peça: oração (instrumental)
2ª peça do As mulheres não podem tocar os
Membi instrumentos sagrados, apenas o professor do
3ª peça do Membi.
Membi
4ª peça do
Membi
Meu caboclo Não trabalhada - poucas palavras
índio
257

Bahia terra Não trabalhada - poucas palavras


de côco
São Pedro Não trabalhada - poucas palavras
Chaveiro do céu

Após a escolha das canções as mesmas foram revisadas pelas professoras e pelas
lideranças para que não fosse passado aos alunos algum texto de forma diferente do que é
ensinado pelos anciãos do povo, só então as canções puderam ser trabalhadas na sala de aula.
Para os povos indígenas o coletivo vem antes do individual e nada é decidido por uma só pessoa,
mas por todos os líderes das aldeias e membros do COPIXO, o que por vezes atrasava os
trabalhos dessa inovação devido a espera para que se reunissem e dessem o seu veredito.

Dentre as atividades desenvolvidas pode-se afirmar que ocorreu com a duração


de foi de quatro meses, de agosto a novembro de 2017, onde foram trabalhadas
semanalmente as atividades para a melhoria das dificuldades de leitura e escrita
com base nas canções, e elas se agruparam em passos que se harmonizam
com os objetivos específicos e também foi monitorado e acompanhado pelos
registros do diário as atividades realizadas com os alunos durante a aplicação
da inovação.

Diseño de la Innovación Educativa - Gravar e transcrever vinte canções


da cultura oral indígena do Povo Xukuru do Ororubá e escolher dentre elas as
canções que mais se adaptem aos alunos e aos costumes do povo indígena e
realizar diversas atividades para que aos poucos os alunos pudessem ter mais
autonomia, avaliando nas atividades realizadas em sala de aula e fora dela a
evolução dos alunos, para assim montar um livro didático específico.

As professoras realizaram diversas atividades para trabalhar as palavras e


frases das canções, de forma a diversificar palavras em português, em Xukuru e
juntar as mesmas levando o aluno a identificar os desenhos e suas respectivas
palavras nestas duas línguas, utilizar diversos métodos foi bastante diferente e
proveitoso, pois levou os alunos a tomarem contacto com as diversas formas de
escrever, interpretar e ler.
1. LEITURA MEDIADA (hora da leitura)
Leitura das canções feita pela professora, explicando o sentido de
cada canção e o que ela significava dentro da vida de um índio Xukuru.
2. LEITURA EM GRUPO
258

Foram formados pequenos grupos de alunos onde realizaram a


leitura coletiva, dando cada um a sua interpretação do que havia lido, os
muito pequenos da série do pré I e II trabalhou-se mais com desenhos.
3. LEITURA INDIVIDUAL
Foi possível com esta atividade realizar um acompanhamento
para se definir a evolução de cada aluno de acordo com as canções a
medida que foram trabalhadas.
4. MURAL DOS GÊNEROS: os diversos gêneros foram trabalhados com o
auxílio de um mural que descrevia cada gênero e que foram trabalhados
com os alunos: crônica, informativo, mistério, mito, ficção-científica,
entrevista, carta, receita, conto de fadas, anúncio, bula de remédio, diário,
bilhete, fábula, poesia, biografia, e-mail, lenda, terras. Estes gêneros
contribuíram para que os alunos entendessem os diversos estilos que se
pode escrever.
5. BINGO DO CONHECIMENTO: sorteio de um número que levava o aluno
a abrir um envelope contendo uma tarefa que ele devia resolver nas áreas
de leitura e escrita enumeradas de 1 a 8.
6. BAÚ DO XENUPRE (índio)
Caixa contendo folhas com um desenho e escrito o nome do
desenho em português e em xukuru, após isso o aluno confecciona um
pequeno livro contando uma estória usando recortes de figuras e
escrevendo sua narrativa.
7. LEITURA NA LATA
Pequena lata com uma abertura, através da qual aparece um
texto que é desenrolado a medida que o aluno vai puxando, possibilitando
ler letra, palavra e frase.
8. CORTINA DE LEITURA ESPECÍFICA
Possiblita o aluno identificar palavras em Xukuru e em português,
identificar os desenhos e relacioná-la com as palavras.
9. ÁRVORE DAS LIDERANÇAS
Foi trabalhado com as crianças para que as mesmas
entendessem a hierarquia dos líderes e das instituições do povo e
também para que conhecessem como eles lutam dentro e fora das aldeia
pelo povo Xukuru.
259

10. PÉ DE ÁRVORE DE LEITURA: foi trabalhado a leitura em baixo de uma


grande mangueira onde foram colocados livros nos cestos (balaios),
pendurados na árvore e de diversas formas. Os alunos entravam e
pegavam o livro que quisesse e liam ali mesmo, depois em sala cada
aluno falava o que entendeu ou se não tinha entendido e com a facilitação
das professoras elas falavam a respeito dos livros que elas já haviam lido
previamente.
11. SUSSURO POÉTICO
Caixa com uma pequena abertura na qual o aluno puxa uma fita
que prende uma poesia, poema e em seguida lê e fala para turma o que
entendeu, possibilitando a interpretação do texto lido.

Figura 1 - Mural dos gêneros sala da professora Shirleide - foto do autor


260

Figura 2 - Mural dos gêneros sala da professora Maria Rogéria- foto do autor
Tabla 4- 6 Atividades da innovación

Desenvolvimento da Atividades Novas atividades


melhoria da inovação
Passo 1 Gravação da canções por Gravação das novas
meio de câmeras de canções solicitadas pelas
filmar, gravador de voz e crianças
aparelhos celulares.
Transcrição da canções Transcrição das novas
que foram digitalizadas e canções
impressas após correções
Passo 2 Correção das letras das Correção das letras das
canções pelas lideranças canções pelas
professoras
Passo 3 Acompanhamento dos Novo monitoramento dos
trabalhos em sala de trabalhos em sala de aula
aula:
- Leitura mediada,
individual e em grupo
- Mural de gêneros
- Bingo do conhecimento
- Baú do xenupre
261

- Leitura na lata
- Cortina de leitura
específica
Árvore de lideranças
- Pé de árvore de leitura
- Sussurro poético
- interpretação da leitura
- Exercícios de cópia
(ditado) das palavras das
canções
- escrita dos significados
dos desenhos feitos pelos
alunos
- escrita de parte das
canções que mais
gostaram
- Ligar desenhos a
palavras
Passo 4 Confecção de livro
didático específico
Passo 5 Resultados dos trabalhos Resultados dos trabalhos
- Aplicação de
indicadores para
avaliação da inovação
Elaboração própria

Os recursos necessários ao desenvolvimento dessa inovação para os que


pretenderem aplicá-lo serão os seguintes ítens: gravador, computador, projetor
multimídia, impressoras, lápis, resmas de papel para impressão das canções da
cultura própria e do livro didático. Porém, o material humano é por sua vez o
mais carente para gerir este processo, principalmente o especializado. As
professoras da aldeia São José abraçaram com seriedade e compromisso as
atividades, fez grande diferença o fato das duas terem graduação e
especialização em psicopedagogia custeadas por elas mesmas, essa
especialização é algo incomum entre professores indígenas no Brasil e em
262

especial no povo Xukuru, elas estão sempre atentas as necessidades dos alunos
e aos seus anseios nesta inovação.
A maioria dos recursos materiais didáticos e de expediente foram
disponibilizados pela coordenação indígena, os exercícios preparados e
impressos, a execução das tarefas pelos alunos, a correção pelas professoras e
o acompanhamento da evolução dos alunos por toda a equipe e o
acompanhamento constante registrado no diário de classe, também foi
necessário realizar um curso na justiça brasileira para capacitar as professoras
na identificação de perturbações apresentadas pelos alunos como pode ser visto
em resultados imprevistos.
Os deslocamentos mensais até a aldeia nestes dois anos foram
custeados com recursos próprios, bem como o material extra não disponível na
aldeia foram adquirido nos comércios locais e nas capitais dos estados de
Pernambuco e Rio Grande do Norte como cartuchos de tinta para impressoras,
lápis de cores e outros materiais utilizados.
A alimentação nas aldeias foi fornecida pelas escolas indígenas servindo
comidas típicas e regionais dos índios durante todas as visitas de 2017.
Os pernoites foram feitos na residência da índia Xukuru Vanielle e de
seu esposo, um pouco abaixo da Aldeia São José. Ela também fez a função de
guia nas serras do Ororubá porque por diversas vezes, perdeu-se este
pesquisador nas matas do Ororubá, sendo auxiliado pelos índios locais das
diversas aldeias Xukuru's.
Nos períodos chuvosos, foi contratado motoristas do município de
Pesqueira, porque só é possível chegar com veículos de tração nas quatro rodas
devido as chuvas e as estradas de terra para o deslocamento entre as aldeias,
um deles por nome José havia sido morador da serra, conhecia os caminhos e
os perigos das estradas sendo também muito rica as suas informações sobre o
povo indígena no período que ele morou na serra, que foi anterior ao assassinato
do Cacique Xicão.
Tornou-se necessário a aquisição de cadernos de caligrafia no nível de
cada aluno, para melhorar a qualidade da caligrafia dos mesmos.

Como em todo projeto é necessário monitorar e avaliar cada passo, assim no


momento em que se aplicou a inovação, foram implementadas ações para
263

acompanhar a evolução dos alunos na leitura e escrita, através de testes


semanais em sala de aula no decorrer do ano escolar (de agosto a novembro).
As professoras registraram as atividades no Diário de Classe e no caderno de
planejamento

A execução do desenho ocorreu com exercícios trabalhados em sala de aula no


III e IV bimestres, complementadas com oficinas desenvolvidas pelas
professoras como atividade complementar. As atividades envolviam exercícios
com as canções indígenas em três passos: o canto da canção e sua dança, a
leitura da mesma e as atividades escritas.

O monitoramento foi feito pelas professoras nos registros diários do caderno de


planejamento onde descrevia como estava lendo cada aluno e em conjunto com
o pesquisador nas observações de notas dos III e IV bimestres que ocorreu a
inovação.

Tabla 4 - 7 Atividades do período

MÊS CANÇÃO ATIVIDADE RESPONSÁVEL


TRABALHADA COMPLEMENTAR
Agosto 1. Rei Ororubá - Pé de árvore de Professor e
leitura
2. Ororubá pesquisador
- Mural de gêneros
3. Heinareá Toré
4. Quem chegou foi
Xukuru
Setembro 5. Força Tupã Professor e pesquisador
6.Eu tava sentado - Bingo do
conhecimento
na beira do mar
- Baú do xenupre
7.Jurema Encantada - Leitura na lata
8.O galo cantou
9.A força que a
Jurema tem
Outubro 10.O pé do Juremá - Árvore de Professor e pesquisador
lideranças
11.Caboclim de
- Sussurro
pena
poético
12Mãe Tamain
- Cortina de leitura
mandou chamar específica
13.Mandai tua força
14. Pisa ligeiro
Novembro 15. Eu só canto meu Professor e pesquisador
Toré, porque gosto de cantar
264

16. É Deus no céu e Confecção


os índios na terra' do livro didático
17. Papagaio verde amarelo específico.

A análise da tabela acima mostra como foram trabalhadas as canções


nos exercícios em sala e complementadas com atividades desenvolvidas pelas
professoras que contribuíram para melhoria dos alunos, culminando na
confecção de um livro didático específico desta cultura.

Tabla 4 - 8 Quantidade de tarefas feitas pelos alunos do 1º ao 3º ano


registradas no Diário.

ATIVIDADES DO PERÍODO
SÉRIES III BIMESTRE IV BIMESTRE
1º Ano (3 alunos) 20 21
2º Ano (6 alunos) 40 45
3º Ano (6 alunos) 48 53
TOTAL 7,2 Tarefas por 7,9 Tarefas por
aluno aluno
Elaboração própria
Após os acompanhamentos dos exercícios do mês de agosto, julgou-se
necessário implementar a inovação com a ferramenta Pé de árvore de leitura
sugerido pelas professoras, para incentivar os alunos a buscar mais leitura fora
da escola. Foram espalhados diversos livros na árvore ao lado da escola para
que os alunos manuseassem, depois contassem o que entenderam e assim a
cada dificuldade forma implementadas novas ações, conforme se necessitava
delas..
Os resultados esperados começaram a aparecer no mês de setembro,
os alunos começaram a frequentar mais a pequena biblioteca da escola
incentivados pelas professoras, a trazer notícias de outras aldeias e de notícias
da televisão, mostrando assim que trazer sempre uma ferramenta nova ajudaria
a inovação.
Um fato muito curioso com os alunos indígenas do Povo Xukuru, é que
ao ser solicitado que escrevam os mesmos sempre desenham algo, e em sua
maioria eles usam a cor verde de forma predominante que representa a sua
265

ligação íntima com as matas e a natureza, e também desenham seus rituais, em


maior expressão o Toré, visto que é cantado e dançado na sala de aula com
grande euforia. Para surpresa de todos os envolvidos na inovação ao ser
solicitado uma avaliação psicológica dos desenhos a uma equipe de psicólogos
da justiça os mesmos apontaram a possibilidade de distúrbio em um aluno ao
qual descreveram "parece apontar disturbios", isto gerou grande desconforto e a
solução foi fazer um curso de psicologia jurídica realizado pela empresa Daltier
para ter conhecimento e realizar uma capacitação com as professoras a fim de
que elas possam identificar e encaminhar para avaliação psicológica se
necessário. Uma situação difícil pois os recursos disponíveis são escassos.

Figura 3 - Desenho realizado no exercício em sala por uma aluna indígena


mostrando o ritual sagrado- foto do autor
266

Figura 4 - Desenho realizado no exercício em sala da aluna indígena apresentando


os adereços usados no ritual - foto do autor
Segundo as professoras registraram nos seus cadernos de
planejamento do IV bimestre os alunos passaram a cometer menos erros que
antes eram comuns na escrita das palavras ao trabalhar as canções com
elementos de sua cultura nas atividades de sala, melhorando consequentemente
o gosto pela leitura e pela escrita, para este povo é imprescindível ter mais livro
de apoio didático específico, as notas registradas no diário de classe mostraram
melhoras nas notas nos meses finais da inovação.
A medida que os alunos foram transcrevendo trechos das canções em
sala de aula foram anotando ao lado o nome dos cancioneiros mais conhecidos
que cantavam aquela canção, passando dessa forma a um outro estágio que foi
a de identificação e personalização dos mais velhos e seus costumes, o que é
muito importante em uma cultura indígena.

Trabalho de escrita de um aluno indígena


CANÇÃO INDÍGENA DO POVO XUKURU DO ORORUBÁ: 'EU TAVA
SENTADO NA BEIRA DO MAR'
OBRIGADO ORUBÁ, OBRIGADO ORUBÁ,
REFRÃO : EU TAVA SENTADO NA BEIRA DO MAR (Biá)
OBRIGADO ORUBÁ, E EU VOU CHEGANDO ORUBÁ,
267

REFRÃO : EU TAVA SENTADO NA BEIRA DO MAR (Biá)


OBRIGADO ORUBÁ, ESSA FORÇA VOU BUSCAR
REFRÃO : EU TAVA SENTADO NA BEIRA DO MAR (Biá)
OBRIGADO ORUBÁ, OBRIGADO ORUBÁ,
REFRÃO : EU TAVA SENTADO NA BEIRA DO MAR (Biá)

O mestre de canto Biá, índio Xukuru e ancião do povo, é uma liderança


com a qual os alunos se identificam em partes de alguns cantos, e esse foi um
estágio que não se esperava que eles atingissem, o que para todos os
envolvidos na inovação foi motivo de grande alegria.
Foi acrescido um novo componente curricular para trabalhar as canções.

Figura 5 - Atividade de escrita das canções inseridas no novo componente curricular.

No início houve uma certa resistência dos alunos com palavras


desconhecidas para eles quanto a forma de escrever, devido as diversas fases
que se encontram no desenvolvimento da escrita, sendo necessário que as
professoras os ajudassem e explicasse novamente, havia um certo receio talvez
de cometerem erros na correta grafia das palavras. Porém, a medida que foram
ganhando confiança passaram a ter um pouco mais de ousadia e autonomia com
as palavras mais difíceis para eles, como a palavra gente que escreveram 'gete',
levando escreveram 'levado', retire-se escreveram 'se arretire' e outras, porém
foram vencendo as dificuldades da grafia a medida que as professoras foram
trabalhando as dificuldades, que para a idade e a fase escolar são fáceis de se
corrigir.
268

Ao final do monitoramento dos exercícios percebeu-se que a inovação


conseguiu despertar nos alunos uma maior procura aos livros da biblioteca, a
pedir instrumentos que melhorassem a escrita e deixasse a escrita apresentável,
ao qual lhes foram dados cadernos de caligrafia.
Surgiu também a necessidade de realizar uma capacitação para as
professoras na área de psicologia jurídica, em virtude das crianças fazerem
muitos desenhos ao qual foram aceitos pela coordenação indígena e passaram
a fazer parte das atividades e que por vezes pode apresentar distúrbios de
aprendizagem e outros.
A coordenação indígena solicitou que esta capacitação fosse ministrada
em um primeiro momento para todos os coordenadores indígenas de todas as
aldeias do povo, que foi agendada para maio de 2018, mês que se celebra a
morte do assassinato do cacique Xicão "o Mandarú", e após será realizada para
todos os professores de todas as aldeias em Julho de 2018.
O material didático produzido será utilizado por todas as escolas
indígenas até o 3º ano do ensino fundamental após revisão do conselho de
professores indígenas Xukuru, porque foi para estas séries que se destinou a
inovação.
As professoras da aldeia São José se mostraram eficientes em produzir
exercícios didáticos específicos, esbarrando na dificuldade da escola não ter
impressora e material para impressão e encadernação, o que demandará a
coordenação viabilizar recursos para tais atividades.
Conversou-se ainda sobre a possibilidade de se gravar um 'cd' com as
canções para serem tocadas em sala de aula com os alunos, porém concluiu-se
que os alunos gostam mais de cantar do que ouvir, sem contar que gostam de
tocar a maraca e marcar os passos do Toré para se tornarem 'bacurais' (líder
que conduz o canto).

Foi apresentado no Capítulo 5, os resultados obtidos através desta inovação,


visto que na escola Natureza Sagrada 9 de 14 alunos melhoraram a leitura e a
escrita e na escola Rei do Ororubá 10 de 12 alunos. Também foi percebido que
houve mais procura de livros na biblioteca para leitura, foi construído um material
269

didático com as canções e foi feita uma capacitação para as professoras destas
escolas.
Os resultados da inovação educativa, a pedra preciosa que coroa o mestrado,
foi obtido pelos registros no caderno de planejamento das professoras e pelo
registro oficial do Diário de Classe, no qual foram acompanhadas as melhorias
de notas e da evolução da leitura e escrita pelos alunos indígenas. O plano de
intervenção educativa com as canções transcritas gerou a construção de livro
didático específico da tradição indígena , capacitou-se as professoras para
trabalhar com as canções nas atividades de leitura e escrita com os alunos em
sala de aula.
Posso apresentar como resultados previstos no planejamentoO diagnóstico
apresentado no início da inovação foi realizado com a utilização de entrevista
semi-estruturada, uma análise FODA e a aplicação de questionário onde se
detectou a utilização de recurso didático inadequado (livro) e a deficiente leitura
e escrita dos alunos. Esperava-se uma melhoria nas notas da disciplina de
Língua portuguesa o que de fato ocorreu.
Os resultados previstos nesta inovação foram alcançados usando a estratégia
da construção de um livro didático específico usando a transcrição das canções
indígenas, também os alunos confeccionaram um álbum de vocábulos (em
português e em Xukuru), dessa forma contribuiu com a melhora das dificuldades
de leitura e escrita apresentadas pelos alunos indígenas da aldeia São José nas
escolas Natureza Sagrada e Rei do Ororubá, utilizando para isso atividades com
gêneros textuais diferentes, e outras atividade desenvolvidas por iniciativa
própria das professoras como leitura na lata, sussuro poético, pé de árvore de
leitura, baú do xenupre, bingo do conhecimento todos abordando as canções
tradicionais do povo Xukuru.

Definidas as canções que seriam gravadas e após a transcrição das mesmas


foram praticadas atividades de leitura mediada e autônoma, bem como escrita
com os alunos indígenas por meio de tarefas em sala de aula sobre o conteúdo
das canções transcritas da tradição oral indígena Xukuru, para que os alunos
tivessem autonomia na leitura e escrita. Foi trabalhado ainda a interpretação
das letras das canções indígenas Xukuru's, com diversos vocábulos em
Português e em Xukuru por meio de exercícios em sala de aula e fora dela.
270

Dentre as canções gravadas foram escolhidas em um primeiro momento vinte


canções indígenas, tendo sido retiradas as quatro canções do Membi devido a
sua proibição para as mulheres tocarem nos instrumentos sagrados e foram
acrescentadas mais quatro a pedido dos alunos que não foram incluídas no
início. Também foram retiradas três canções que continham poucas palavras ou
eram desconhecidas dos mais jovens, no caso as crianças das escolas da Aldeia
São José, sendo trabalhado dezessete canções no total.

Nos monitoramentos realizados em agosto foi percebido pouca evolução na


melhora da leitura e escrita dos alunos, os quais apresentaram melhoras de
setembro em diante atingindo sua melhor fase no mês de dezembro com 22
alunos que melhoraram e leitura e a escrita.

A avaliação das atividades registradas no Diário de classe, bem como no


caderno de planejamento mostraram a necessidade de outras demandas que
foram supridas pelas professoras a medida que surgiam, com materiais naturais
e disponíveis na escola como cartazes, painéis realizados em baixo das árvores
ao qual chamaram de 'pé de leitura'.
Tabla 5 - 2 Evolução da leitura e escrita dos alunos indígenas da professora
Shirleide da Aldeia São José

Escola Natureza Sagrada (Olavo Bilac) Aldeia São José


Séries multiseriadas (2º e 3º ano do Ensino Fundamental I)
NOMES IDADE SÉRIE EVOLUÇÃO NA LEITURA E ESCRITA
DOS
ALUNOS
1 AL1 9 2º ano O aluno apresenta dificuldades
2 AL2 10 2º ano Apresentou melhoras porém sem fluência, escrita no nível
silábico-alfabético
3 AL4 7 2º ano Quando interrogado pela professora não leu, disse não estar vendo
as letras, escrita no nível silábico
4 AL5 8 2º ano Lê silabando, escrita no nível silábico-alfabético
5 AL6 8 2º ano Lê com fluência, escrita no nível alfabético
6 AL7 7 2º ano Conseguiu ler um pouco mais mas ainda apresenta dificuldades,
escrita no nível silábico-alfabético
1 AL1 13 3º ano O aluno abandonou a escola antes do final da inovação
2 AL2 9 3º ano Lê com fluência, escrita no nível alfabético
3 AL3 10 3º ano Lê silabando, escrita no nível alfabético
4 AL4 8 3º ano Lê com fluência, escrita no nível alfabético
5 AL5 9 3º ano Lê com fluência, escrita no nível alfabético
6 AL6 9 3º ano Lê com fluência, escrita no nível alfabético
7 AL7 11 3º ano Lê silabando, escrita no nível alfabético
8 AL8 10 3º ano Apresentou melhoras porém sem fluência, escrita no nível
alfabético
Elaboração própria
271

Das dificuldades observadas principalmente na escrita dos doze alunos da


professora que leciona na Escola Rei do Ororubá. Dos doze alunos, dois
permaneceram no nível de escrita pré-silábico (um aluno e uma aluna), cinco
passaram para o nível silábico alfabético (três alunos e duas alunas) e cinco
passaram para o nível alfabético (três alunos e duas alunas). Uma pequena
evolução no segundo semestre final do ano letivo era esperada pelas
professoras, embora em menor número. Mas o aumento de visitas a biblioteca
incentivadas pela professora, e o interesse por escrever e melhorar a qualidade
da escrita se destacaram, em virtude disso foram utilizados cadernos de melhora
de caligrafia (níveis 1 a 4) para todos os alunos dessa escola, de acordo com o
nível de cada aluno. Dois alunos dessa turma foram reprovados, um deles na
disciplina de Língua Portuguesa.

Tabla 5 - 3 Evolução da leitura e escrita dos alunos indígenas da professora


Maria Rogéria da Aldeia São José.

Escola Rei do Ororubá (São José) Aldeia São José


Séries multiseriadas (pré I, pré II e 1º ano do Ensino Fundamental I)
NOME IDADE SÉRIE EVOLUÇÃO NA LEITURA E ESCRITA
1 AL1 9 1º ano Escrita no nível alfabético, lê silabando
2 AL2 7 1º ano Escrita no nível alfabético, lê silabando
3 AL3 7 1º ano Escrita no nível alfabético, lê silabando
4 AL4 7 1º ano O aluno foi reprovado
5 AL5 6 pré I Escrita no nível pré-silábico
6 AL7 4 pré I Escrita no nível pré-silábico
7 AL8 4 pré I Escrita no nível alfabético
8 AL9 7 pré II Não informado
9 AL10 6 pré II Escrita no nível silábico
10 AL11 6 pré II Escrita no nível silábico
11 AL12 6 pré II Escrita no nível alfabético, lê silabando
12 AL13 6 pré II Escrita no nível silábico-alfabético, lê silabando
Elaboração própria

Uma análise comparativa dos dois grupos mostra que na Escola


Natureza Sagrada dez dos doze alunos melhoraram a escrita e a leitura,
enquanto na Escola Rei do Ororubá por ter crianças nos primeiros anos em uma
sala multiseriada sem auxiliar para a professora cinco de doze alunos
melhoraram, sendo um reprovado na disciplina de Português.

A leitura mediada foi o recurso usado para motivar e despertar o gosto pela
leitura, facilitado pelas professoras no início com os instrumentos de Pé de
árvore de leitura e Leitura na lata até que os alunos fossem ganhando autonomia
como pode ser visto na tabela abaixo.
272

Tabla 5-5 Resultado do questionário para as professoras abordando as


atividades de leitura

1 - Leitura mediada:
Realizar a leitura mediada das canções da cultura oral indígena do Povo Xukuru do
Ororubá a fim de melhorar as práticas de leitura e a escrita dos alunos.
1 Realizar a leitura mediada das canções promove o desenvolvimento 1 2 3 4 5
dos alunos quanto ao hábito da leitura
2 Houve dificuldade de realizar alguma tarefa da inovação por parte 1 2 3 4 5
das professoras: leitura mediada, ditado
3 Houve dificuldade de realizar alguma tarefa da inovação por parte 1 2 3 4 5
dos alunos e alunas
4 Trabalhar a leitura e a escrita das canções está em harmonia com 1 2 3 4 5
o planejamento feito pelos coordenadores indígenas
5 Os alunos tiveram desempenho positivo nas tarefas feitas com as 1 2 3 4 5
canções
6 A professora leu as canções antes de lê-las para os alunos 1 2 3 4 5
7 Os alunos conseguiram interpretar os textos das canções indígenas 1 2 3 4 5
8 Foi possível identificar nas tarefas dos alunos o que eles não 1 2 3 4 5
conseguiram entender
Elaboração própria

A análise da tabela mostra que a coordenação indígena mostrou-se


pouco confiante, porém, realizar a leitura mediada das canções da cultura oral
indígena do Povo Xukuru do Ororubá melhorou as práticas de leitura e a escrita
dos alunos conforme foi constatado nos registros oficiais das professoras.
O entrosamento com a coordenação indígena, pelo que foi descrito pelas
professoras, não houve boa "harmonia com o planejamento feito pelos
coordenadores indígenas" e por se tratar de algo novo acredita-se que necessite
mais tempo também para que a coordenação indígena aprimore o mesmo.

Realizado o acompanhamentos das canções transcritas da tradição oral


indígena Xukuru, foi realizada a revisão por parte do docentes e dos anciãos do
povo, bem como das lideranças e do COPIXO, para que não se trabalhe
erradamente alguma canção. As professoras coube a tarefa de aplicar exercícios
em sala utilizando as e verificando a evolução dos alunos quanto a correta grafia
das palavras, identificação e sua correta interpretação.
Com base no questionário respondido as professoras não trabalharam as
canções em todas as disciplinas e por vezes não conseguiram transmitir o gosto
pela leitura a todos os alunos, mas mesmo assim houve progresso nos alunos,
professoras e toda equipe.
Tabla 5-6 Resultado do questionário para as professoras abordando as
atividades de leitura, escrita e exercícios aplicados aos alunos.
273

2 - Atividades de leitura e escrita dentro da sala de aula:


Grande parte do conhecimento adquirido na escola ocorre nas atividades desenvolvidas na sala de aula,
por isso praticar atividades de leitura e escrita com os alunos por meio de tarefas sobre as canções
transcritas da tradição oral indígena Xukuru é uma forma de desenvolver melhor esta habilidade.
1 Houve produção de textos livres como exercício trabalhado nas 1 2 3 4 5
canções indígenas
2 A leitura e a escrita das canções foram trabalhadas em todas as 1 2 3 4 5
disciplinas
3 A leitura e a escrita das canções é um instrumento de inclusão dos 1 2 3 4 5
alunos indígenas
4 Os alunos e alunas se expressaram sobre a leitura e a escrita das 1 2 3 4 5
canções realizadas em sala
5 Os trabalhos com a leitura e a escrita das canções são 1 2 3 4 5
compreensíveis ao nível do professor
6 Os trabalhos com a leitura e a escrita das canções são 1 2 3 4 5
compreensíveis ao nível do aluno
7 A leitura e a escrita das canções fazem sentido com as práticas 1 2 3 4 5
cotidianas da língua falada pelos índios
8 A professora consegue transmitir ao aluno o gosto pela leitura 1 2 3 4 5
Elaboração própria

A análise desta tabela mostra que praticar atividades de leitura e escrita com os
alunos por meio de tarefas sobre as canções transcritas da tradição oral indígena
desenvolve melhor esta habilidade, embora nem sempre o professor consiga
transmitir a todos os alunos. Mesmo assim, houve bom rendimento nas
atividades e foi louvável a criatividade das professoras ao desenvolver tantos
trabalhos diferentes causando nas crianças um sentimento lúdico de que
estavam brincando com a leitura e a escrita.
Monitorar e avaliar a melhoria na leitura e escrita das tarefas feitas pelos alunos
com as canções da cultura oral indígena do Povo Xukuru e a sua motivação para
o desenvolvimento desse hábito, foi abordado no questionário aplicado às
professoras interrogando as atividades de interpretação das canções lidas,
escrita e exercícios aplicados aos alunos e possibilitando o aumento de materiais
didáticos de apoio.
Conforme foi relatado pelas professoras houve melhoria nas práticas de leitura
e escrita e ainda ocorreu a discussão com outros professores, aumentando o
material de apoio específico da cultura.

Tabla 5-7 Resultado do questionário para as professoras abordando as


atividades de leitura, interpretação textual, escrita e exercícios aplicados aos
alunos.

3 - Ação discente de interpretar a letra das canções em sala de aula:


274

O docente é o facilitador da aprendizagem, mas docência e discência andam juntas.


Dessa forma, i nterpretar, ler e escrever a letra das canções da cultura oral indígena do
Povo Xukuru. é uma forma de melhorar as práticas de leitura e a escrita dos alunos.
1 Houve melhoria nas práticas de leitura e a escrita dos alunos com 1 2 3 4 5
os exercícios de ditado
2 Discutiu-se com outros professores sobre a leitura e a escrita das 1 2 3 4 5
canções indígenas executadas na sua sala de aula
3 O trabalho de a leitura e a escrita foi fortalecido com o uso das 1 2 3 4 5
canções indígenas
4 Trabalhar a leitura e a escrita das canções é um suporte de 1 2 3 4 5
material didático para melhorar o fortalecimento da cultura indígena
Xukuru
5 Há coerência nos textos das canções e o conteúdo trabalhado 1 2 3 4 5
6 Os alunos realizaram tarefas de casa sobre as canções da cultura 1 2 3 4 5
Xukuru e suas tradições
7 A inovação com as canções indígenas proporcionam o 1 2 3 4 5
desenvolvimento da diversidade cultural indígena e suas tradições.
8 Houve durante este período da inovação criação de novas 1 2 3 4 5
canções (jul a nov)
Elaboração própria

Pode ser feita a análise desta tabela verificando que interpretar, ler e
escrever a letra das canções é uma forma de melhorar as práticas de leitura. Os
alunos realizaram tarefas em casa o que favoreceu a discussão com seus pais,
tios avós (embora nem todos os pais o fizeram) enriquecendo sua bagagem
cultural e o fortalecimento da cultura indígena.

Dos 26 alunos que participaram da inovação em agosto de 2017, um


aluno abandonou a escola, dois alunos foram reprovados sendo um deles na
disciplina de Português.

De acordo com os registros do Diário de classe os oito alunos do Pré I e


II não recebem nota apenas conceitos, sendo quantificados os alunos do 1º ao
3º ano que tiveram suas notas disponibilizadas ao fim do ano letivo (15 no total):
12 melhoraram as notas quando comparadas com as notas do início do ano (1º
bimestre), 2 mantiveram as mesmas notas e 1 reprovou.
275

12
10
8
6 12 Melhorou
4 2 Manteve
2 1 Reprovou
0
Melhoria de
nota de 15
alunos

Elaboração própria

As notas foram o resultado mais claro da melhoria de leitura e escrita na


disciplina de Português visto que de 15 alunos 12 tiveram melhores notas.

Tabla 5-8 Notas dos alunos na disciplina de Português antes e depois


da inovação

Aluno Nota I Bimestre Nota II Bimestre Evolução


(antes da (após a inovação) (em pontos)
inovação)
Al 1 7,5 9,5 2,0
Al 2 8,5 8,5 ---
Al 3 5,5 5,0 -0,5
Al 4 6,5 6,5 -----
Al 5 6,0 7,5 1,5
Al 6 6,0 8,0 2,0
Al 7 6,0 8,0 2,0
Al 8 7,5 10,0 2,5
Al 9 6,0 8.0 2,0
Al 10 7,0 10,0 3,0
Al 11 6,5 9,0 2,5
Al 12 7,0 9,0 2,0
Al 13 6,0 9,0 3,0
Al 14 6,0 7,0 1,0
Al 15 6,5 9,0 2,5
Elaboração própria
A análise feita com as notas dos alunos do 1º ao 3º ano do Ensino
Fundamental na disciplina de Português antes e depois da inovação, mostrou
que além da melhoria na leitura e escrita registrado pelas professoras no caderno
de planejamento, as notas apresentadas no Diário das professoras trás
considerável melhora, que se bem implementada nos próximos anos os alunos
terão melhoria nessa questão que apresentavam dificuldades.
276

Foi realizado um curso de capacitação em 5 de agosto de 17 com as professoras


das Escolas indígenas Rei do Ororubá e Natureza Sagrada, para apresentar as
letras das canções que elas trabalhariam com seus alunos em atividades na
escola, foi fornecido o material com todas as canções para uso na disciplina de
Português, acompanhando sua evolução pelos registros normalmente feitos em
seus cadernos de planejamento (criado pela coordenação indígena) e pelo
registro de notas lançadas no Diário dos Professores.
Tabla 5-9 Capacitação com as canções do povo Xukuru.
CAPACITAÇÃO PARA PROFESSORES INDÍGENAS DA ALDEIA SÃO JOSÉ
Documento para Material
autorização de disponibilizado Conclusão
Conteúdo da trabalhos na Professores Para os alunos do das Data a ser
capacitação reserva Xukuru participantes curso atividades realizada
Declaração da 05/10/2017
USACH
1ª Parte: 27/01/17solicitando Aulas em power
Trabalhando as autorização para 2 point e caderno FECHADO
canções indígenas trabalhos na área com as 17 canções
com os alunos; indígena (Prof.
Daniel Ríos) 09/12/17
FECHADO
CURSO DE CAPACITAÇÃO SOBRE UTILIZAÇÃO DE CANÇÕES INDÍGENAS 05/10/2017
NAS ATIVIDADES EM SALA DE AULA
MATERIAL EM
PROFESSORES DISPONIBILIZADO ABERTO
TEMA LOCAL PARTICIPANTES PARA OS OU DATA
DA ALUNOS DO FECHADO
AULA CURSO
AULA 1: Sala de aula da 2 Aulas em power FECHADO
Estudando o tema Escola indígena point e caderno 05/09/2017
das canções Rei do Ororubá com as 17 canções
AULA 2: Sala de aula da 2 Aulas em power FECHADO
Canto e leitura das Escola indígena point e caderno 05/09/2017
canções Rei do Ororubá com as 17 canções
AULA 3: 2 Aulas em power FECHADO
Sala de aula da
A importância da point e caderno 05/09/2017
Escola indígena
escrita das canções com as 17 canções
Rei do Ororubá
pelos alunos
AULA 4: 2 Aulas em power FECHADO
Sala de aula da
Construindo livro point e caderno 05/09/2017
Escola indígena
didático sobre as com as 17 canções
Rei do Ororubá
canções.
Elaboração própria

A primeira etapa abordou o tema 'Trabalhando as canções indígenas com os


alunos' e tinha como objetivo preparar as professoras para trabalhar com as
canções indígenas em suas atividaes com os alunos, já a segunda parte
'Identificação de distúrbios em alunos através de desenhos', foi introduzida para
complementar com um conteúdo necessário para as professoras em virtude dos
alunos produzirem muitos desenhos em suas atividades.
277

Posso apresentar como resultados imprevistos no planejamento:

a) Trabalho com vocábulos indígenas Xukuru's.


Ao transcrever as canções indígenas do povo Xukuru, percebeu-se que
a cada mil palavras, aproximadamente, apenas cinquenta tinham seu
correspondente no idioma nativo, sendo quase irrecuperável a reestruturação
das palavras faladas nesse idioma, ainda assim as professoras trabalharam os
vocábulos Xukuru's nesta inovação, principalmente no Baú do xenupre.
b) Novas canções gravadas a pedido dos alunos.
As crianças se adaptaram tão bem a inovação que pediram as
professoras que incluíssem outras quatro canções em suas atividades que são
cantadas quando todas as crianças de todas as aldeias estão juntas no Toré da
aldeia P'edra D'água, e foi então gravado e transcrito mais quatro, entre elas:
'Pisa ligeiro', 'Papagaio verde amarelo', 'Eu só canto meu Toré, porque gosto de
cantar' e 'É Deus no céu e os índios na terra'.

Tabla 5 - 4 Instrumentos e vestes usados no Toré Sagrado

Canções Momento Instrumentos Vestimentas


que se canta
1. É Deus 1-Início Maraca, Barretina,
no céu e os índios dos trabalhos palmas Tacó (Saia de palha),
na terra escolares; 2-Toré pinturas na pele.
Sagrado
Pisa 1-Início Maraca, Barretina,
ligeiro dos trabalhos palmas Tacó (Saia de palha),
escolares; 2-Toré pinturas na pele.
Sagrado
Papagaio 1-Início Maraca, Barretina,
verde amarelo dos trabalhos palmas Tacó (Saia de palha),
escolares; 2-Toré pinturas na pele.
Sagrado
Eu só 1-Início Maraca, Barretina,
canto meu Toré, dos trabalhos palmas Tacó (Saia de palha),
porque gosto de escolares; 2-Toré pinturas na pele.
cantar Sagrado
Elaboração própria
278

Foi importante perceber o despertar dos alunos pela leitura e pela sua
cultura, fase muito importante para uma leitura mediada e depois autônoma, em
virtude do aluno procurar e escolher aquilo que ele mesmo quer ler, aumentando
seu vocabulário, sua capacidade de criação e imaginação. Foi autêntica a
iniciativa dos alunos em identificar o nome dos cancioneiros nas canções, algo
que não foi solicitado para eles, e a forma como desenham em todas as
atividades, sua identificação com a natureza e os costumes do povo. Foi bem
além do que se esperava deles.
c) Possibilidade de recuperação da língua materna.
Percebeu-se ser possível fazer o preenchimento das palavras que faltam
no idioma Xukuru completando com as palavras do idioma Tupi, que foi a língua
mãe dos povos indígenas do litoral brasileiro, inclusive algumas palavras do
idioma Xukuru tem sua correspondente no Tupi. O padre José de Anchieta e o
padre Vieira construíram uma gramática Tupi, que está disponível na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, e no Museu do índio de Brasília, capital do Brasil.
Esta estratégia de recuperação da língua começou a ser utilizada pelos índios
Potiguaras da Baia da Traição no estado da Paraíba auxiliados pelo Dr. Adriano
do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte), estando no início dessas
atividades, logo por serem povos próximos, cerca de 400 km de distância é
possível que essa estratégia possa dar resultados também com o povo Xukuru.
Esta estratégia pode ser aplicada a todos os povos indígenas litorêneos, pois
tem a base na língua Tupi.
d) Identificação de distúrbios nos desenhos feitos pelas crianças
Devido a grande quantidade de desenhos produzidos pelos alunos foi solicitado
a equipe de psicólogos do Fórum do Rio Grande do Norte que assessora os
magistrados das diversas Varas da justiça do estado do RN, que avaliassem os
desenhos dos alunos das escolas indígenas e relatasse suas impressões, já que
eles são especialistas com curso na área e dos poucos capacitadas para
analisar desenhos de crianças, e os mesmos constataram que um dos desenhos
"parece apresentar algum distúrbio", embora essa conclusão só poderia ser feita
após uma "avaliação psicológica composta de diversos instrumentos de análise
e acompanhamento de um psicólogo especialista nessa área" para se ter certeza
do diagnóstico da verdade de fato ou se ele apresenta fantasia por ser criança.
O desenho apresenta "forte traçado denotando ansiedade e tensão, desenhos
279

fálicos, copas de árvores riscadas, labiblidade que demonstra instabilidade e


apresenta ainda nig's ou buraco do esquilo nas árvores desenhadas denotando
oposição e hostilidade, tudo isso somado a hipertividade que parece apresentar
e que pode ser fruto de seus conflitos. Reafirmam os profissionais que tudo isso
só pode ser corretamente avaliado se acompanhado de fato por uma profissional
competente, já que analisou apenas dois desenhos do mesmo.

Figura x Desenho de aluno indígena


Em virtude de tal fato foi necessário buscar conhecimento específico em cursos
no Judiciário do estado do Rio Grande do Norte, concluí então um curso de
Psicologia Jurídica, ministrado por profissionais da Justiça Brasileira que
abordam a questão do distúrbio e são componentes da equipe técnica da justiça
brasileira na comarca de Parnamirim, após isso foi planejado uma capacitação
para os professores indígenas abordando esta questão;
Tabla 5-9 Capacitação sobre identificação de abuso pelo desenhos dos alunos.
CAPACITAÇÃO PARA PROFESSORES INDÍGENAS DA ALDEIA SÃO JOSÉ
Documento para Material
autorização de disponibilizado Conclusão
Conteúdo da trabalhos na Professores Para os alunos do das Data a ser
capacitação reserva Xukuru participantes curso atividades realizada
Declaração da
USACH
Identificação de 27/01/17solicitando Aulas em power
distúrbio pelos autorização para point e caderno FECHADO 09/12/2017
desenhos feitos na trabalhos na área com as 17 canções
2
escola. indígena (Prof.
Daniel Ríos)
280

FECHADO
CURSO DE CAPACITAÇÃO SOBRE IDENTIFICAÇÃO DE DISTÚRBIO PELOS 09/12/2017
DESENHOS FEITOS PELAS CRIANÇAS.
MATERIAL EM
PROFESSORES DISPONIBILIZADO ABERTO
TEMA LOCAL PARTICIPANTES PARA OS OU DATA
DA ALUNOS DO FECHADO
AULA CURSO
AULA 1: Sala de aula da 2 Aulas em power FECHADO
Definição de Escola indígena point e caderno 09/12/2017
DISTÚRBIO Rei do Ororubá com as 17 canções
AULA 2: 2 Aulas em power FECHADO
Sala de aula da
Identificando point e caderno 09/12/2017
Escola indígena
distúrbio em com as 17 canções
Rei do Ororubá
desenhos infantis.
AULA 3: 2 Aulas em power FECHADO
Sala de aula da
A justiça brasileira e point e caderno 10/12/2017
Escola indígena
os casos de com as 17 canções
Rei do Ororubá
distúrbio.
AULA 4: 2 Aulas em power FECHADO
Sala de aula da
Estudo de casos point e caderno 10/12/2017
Escola indígena
pelo livro de Trinca com as 17 canções
Rei do Ororubá
(2013)

Foi realizado uma segunda capacitação para as professoras da Aldeia São José
nos dias 9 e 10 de dezembro, em virtude das crianças produzirem muitos
desenhos e elas necessitarem ter algum conhecimento ao se depararem com
desenhos que sugerem distúrbios á crianças e as professoras eram desprovidas
deste conhecimento. Muitas dúvidas foram sendo tiradas no decorrer da
capacitação que estava planejada para seis horas e foi concluído com dez horas,
havendo discussão e espaço para outros dez. Foram feitos nesta capacitação
diversos exercícios com desenhos de crianças com distúrbios, bem como a
definição de cada um, também forma feitos alguns exercícios e pesquisas a
serem realizadas por elas na internet, bem como diversos estudos de casos
retirados do livro de Trinca (2013).
e) Criação de novo componente curricular trazendo a parte escrita das
canções ao qual a coordenação indígena chamou de 'pontos do Toré'.
Após a inovação as professoras em conjunto com a coordenação
indígena Xukuru criaram um novo componente curricular para trabalhar a
musicalidade em todas as escolas do povo Xukuru do Ororubá, apresentando o
que o governo manda que se trabalhe no currículo, mas também abordando a
musicalidade na tradição e cultura próprias do povo Xukuru, e como as canções
são muitas elas representam um inesgotável fonte de textos, pois há no povo
cancioneiros que criam novas canções para certos momentos como visitas de
outros povos indígenas, assembléias indígenas e outros momentos onde as
281

canções são cantadas, logo se pode concluir que a valoração da inovação se


apresenta de forma construtiva e positiva para uma educação indígena que quer
trabalhar seus conteúdos específicos, bem mais do que aqueles enviados pelas
secretarias de educação que não estão contextualizados com a cultura
específica do povo Xukuru do Ororubá.
A inovação motivou os alunos que tiveram iniciativa de nomear os
cancioneiros mais conhecidos do Povo Xukuru relacionando-os com as canções
cantadas pelos mesmos, mesmo sem ter sido solicitado, também fizeram
desenhos que revelam uma íntima comunhão com a natureza tratando-a como
sagrada, com grande respeito, como se adentrasse em um terreno de outra. A
forma de conduzir os trabalhos gravando os cantos indígenas com os alunos,
filmando-os despertou neles algo inusitado, puderam ver-se reproduzidos numa
tela de data show e querer produzir e aprender mais sobre seu povo e sua
cultura, certamente se houvesse mais apoio em recursos audiovisuais, a
educação indígena daria um salto qualitativo sem precedentes.

Está criada uma estratégia que neste caso pode ser inovada a cada
canção criada pelos índios desta etnia, uma fonte inesgotável de recursos
didáticos (livros) para ser trabalhado com os alunos em todas as disciplinas.
Nas palavras da professoras Shirleide e Rogéria 'os alunos perguntavam
se fariam novamente os trabalhos das canções, pois eles tem a oportunidade de
cantar, dançar, escrever e ler cada uma das canções', a ponto de um cancioneiro
282

que mora no bairro Xukuru em Pesqueira motivar-se para gravar um CD com as


músicas do povo, para que fossem trabalhadas nas escolas. Segundo as
professoras esta inovação 'permitiu gerar a capacidade de criar livros didáticos
para trabalhar com a educação indígena sem depender das secretarias de
educação'

Ilustración 5-2 Componente curricular após a implantação da inovação da transcrição das


canções criado pelas professoras Shirleide e Rogéria em conjunto com a coordenação
indígena Xukuru

Conteúdo: pintura corporal, pontos do Toré, Membi, Barritina,


Barro e colar
Eixo da educação Xukuru do

Conteúdo oficial:
componente Artes:

Músicas: cantigas de roda

Objetivos cognitivos: Identificar os sons percebendo sua


utilidade e importância diante de nossos costumes e tradições
enfocando os pontos do Toré e as peças do Membi

objetivos afetivos: relacionar as cantigas atuais com as utilizadas pelos


mais velhos do povo

Objetivos psicomotores: criar e expressar-se por meio de diferentes


linguagens artísticas

Elaboração própria

O trabalho de criação de material didático específico usando a


transcrição dos textos das canções indígenas para ser trabalhado em sala de
aula com os alunos mostrou-se eficiente, uma vez que o aluno pode praticar o
canto e trabalhar sua leitura e sua escrita, entendendo e aprofundando cada vez
283

mais sua cultura, e a cada nova canção que surge eles passam a ter mais
material para trabalharem melhorando e contribuindo na manutenção de sua
cultura, é uma fonte permanente de textos para enriquecer os alunos.

Como condicionantes desta inovação pode-se afirmar que o maior facilitador


desta inovação foi a autorização dada pelos líderes para que a inovação pudesse
ser realizada conforme prescreve a Lei brasileira e o compromisso incondicional
das professoras da aldeia São José que foram muito além do que se esperava
delas, a abertura dada pelas lideranças indígenas para que esta inovação fosse
desenvolvida e aplicada na gravação, transcrição, tradução para português de
alguns vocábulos indígenas.

O fato de já desenvolver trabalho com estes indígenas há vinte anos,


muito facilitou a aplicação de algo concreto como esta inovação, que vai interferir
no campo educacional, diferentemente dos outros trabalhos de graduação e
especialização que apenas coletava dados e aprofundava as referências
bibliográficas, construir conteúdo com suas canções, algo que tratam com muito
zelo, foi desafiador e ao mesmo tempo gratificante.

Os alunos demonstraram grande interesse em cantar as canções,


escrever e ler as mesmas em suas atividades, principalmente quando era filmado
e passado no projetorOs exercícios aplicados aos alunos das escolas permitiram
perceber que apesar das dificuldades de leitura e escrita apresentados eles
gostam de cantar as canções indígenas na sala com as professoras usando
instrumentos como a maraca, batendo palmas e cantando as diversas canções
de seus costumes e tradições.

Uma vez que os pais tem poucos anos de estudo, não conseguiam
acompanhar os seus filhos nas atividades escolares, porém o fato deles
conhecerem as canções facilitou a inovação quando a criança esquecia a letra,
os pais podiam cantar mesmo sem saber ler, pois a canção já está presente em
sua cultura há muitas gerações.

O compromisso e o envolvimento das professoras Shirleide e Maria


Rogéria com a inovação foi algo difícil de descrever com palavras, seu
compromisso na realidade está acima da inovação deste trabalho e de suas
284

escolas, elas tem um compromisso com o Povo Xukuru e o que de melhor


puderem dar ao seu povo com seu trabalho e sua dedicação aos alunos, o que
facilitou enormemente os trabalhos de inovação, as tarefas, os cumprimentos de
prazo e uma gama de solicitações todas entregues a contento e no prazo, nada
mais se pode falar de um profissional da educação com tão alto grau de
compromisso e amor por seus alunos e pela educação indígena.
Por tudo isso, muito facilitou a inovação o trabalho com as canções, algo
da realidade dos índios, contribuindo enormemente com as atividades realizadas
pelos alunos que se comprometeram, e que gerou boas notas ao final, bem
como maior interesse pela leitura e escrita.

O condicionante de maior obstáculo apresentado para esta inovação foram os


500 km para se chegar até a aldeia São José, sendo necessário diversas vezes
ficar com eles durante semanas para que a inovação pudesse ter êxito.
Muitas das canções indígenas são cantadas com base no improviso do
cancioneiro, não tendo uma letra fixa o que dificulta a escrita e o trabalho de
leitura, outras canções são apenas instrumentalizadas a que eles chamam de
'Membi' e que são usadas em momentos de rituais sagrados sendo proibida a
presenças de pessoas que não sejam índias, bem como serem cantadas na
presença de pessoas que não pertençam a seu povo.
Algumas canções são cantadas em comum por diversas nações
indígenas do litoral e do estado de Pernambuco, não sendo uma exclusividade
desse povo originário.
Os deslocamentos nas aldeias são difíceis e impraticáveis em
determinados períodos do ano, em virtude das chuvas deixarem as estradas
intransitáveis, pois todas as estradas para as aldeias são de barro sem asfalto,
apenas a aldeia de Cimbres possui asfalto até sua escola e a vila, todas as
demais são estradas vicinais sem asfalto o que dificulta um trabalho em outras
aldeias.
A legislação brasileira não permite trabalhos em aldeias indígenas sem
a prévia autorização dos órgãos governamentais (FUNAI, FUNASA...) e sem
autorização dos caciques, motivo pelos quais se tem poucos trabalhos na
educação indígena, e também pouco interesse tem sido apresentado pelo
governo e diversas instituições não governamentais.
285

Posso apresentar como Valoração que a inovação trabalhada na deficiente


leitura e escrita dos alunos segundo as professoras da aldeia São José, causou
grande reflexão na educação indígena, pois possibilitou criar uma enorme
quantidade de recursos didáticos a partir das canções que não se esgotam, visto
que a produção das mesmas não se extinguem, os alunos melhoraram a escrita
e despertaram o gosto pelo hábito de ler e escrever, esta inovação pode ser
aplicada sem a necessidade de alteração em todas as vinte e quatro aldeias do
povo Xukuru do pré-escolar ao Ensino Médio, sendo finalizada com um novo
livro didático que trabalha as canções indígenas.

O Objetivo de melhorar a leitura e a escrita dos alunos indígenas por meio da


transcrição de suas canções mostrou-se positivo conforme mostra os registros
das cadernetas das professoras e as notas dos alunos ao final da inovação, e
também foi solicitado pelas outras aldeias que se capacitasse seus professores,
contribuindo com o aumento do livro didático específico da cultura Xukuru nas
escolas Natureza Sagrada e Rei do Ororubá. Agora poderão as vinte e quatro
aldeias trabalhar a inovação.
A transcrição das canções para Língua Portuguesa, demonstraram que esse
povo não desistiu de sua língua originária e foi praticada atividades de leitura
mediada e autônoma e também escrita nas duas línguas, os alunos obtiveram
maior autonomia na leitura e escrita, aumentou a procura por livros na biblioteca,
a até foi comprado cadernos de caligrafia para ser trabalhado do pré-escolar ao
terceiro ano do ensino fundamental, com isso os alunos foram capazes de
interpretar a letra das canções indígenas do Povo Xukuru.
Esta inovação educativa desenvolveu a melhoraria da dificuldade de
leitura e escrita dos alunos da Escola Indígena Natureza Sagrada e Rei do
Ororubá pela transcrição das canções de sua cultura, complementando o seu
Currículo escolar com material didático extraído das canções.
Após os resultados da inovação e a melhoria e dos alunos na leitura e
escrita da aldeia São José, os professores indígenas de outras aldeias
solicitaram que fosse dada capacitações para eles, a fim de trabalharem com
seus alunos e foi elaborada uma agenda de capacitações para o ano de 2018,
principalmente nos encontros pedagógicos onde estarão todos os professores
286

de todas as aldeias, será necessário todo o ano em curso para capacitar todos
os professores de todas as aldeias.
A estratégia combinada de transcrever as canções, realizar exercícios
que seriam usados no conteúdo do livro didático mostrou-se desafiador e
gratificante com os resultados apresentados pelos alunos, o interesse deles por
mais livros, e cadernos de escrita torna todo trabalho prazeroso. Na fala das
professoras de outras aldeias no último encontro que ocorreu na formatura dos
alunos no Terreiro Sagrado, elas perguntaram se não podíamos desenvolver
este trabalho com as turmas de outras aldeias, mostrando que também se
interessavam pela aplicação da estratégia de construção de um livro específico,
com a participação dos alunos. Todos, alunos e professoras foram os
construtores do livro com conteúdo que os agrada, pois é parte de sua cultura.

Pode-se finalizar ao avaliar a inovação trabalhada com os vocábulos


nas duas línguas por meio de atividades em sala de aula e fora dela, que gerou
nos professores e em toda a equipe uma certeza de que esta inovação pode ser
aplicada com sucesso em todas as aldeias desse povo, bem como nas trezentas
e cinco etnias brasileiras e em suas duzentas e setenta e quatro línguas,
respeitando a individualidade de cada uma.

Ao discutir com os resultados pode-se afirmar que segundo Munduruku (2012)


diz que o canto indígena é a forma de passar a cultura aos mais novos, dessa
forma esta inovação buscou atender aos trabalhos de melhoria de leitura e
escrita sem perder sua originalidade cultural, ao mostrar que 'as canções
indígenas são uma forma de passar a cultura para os filhos e para os
descendentes', dessa forma a transcrição das canções é um instrumento de
manutenção da cultura originária, que foram trabalhadas nos exercícios
escolares em sala de aula, e aprimoradas a cada mês de acordo com a
necessidade da evolução da inovação, usando para isso as ferramentas
descritas no item 4.4 actividades, e cada uma delas mostrou-se um fator
motivador para muitos dos alunos. Os meses de agosto e setembro apresentou
resultados muito modestos, porém percebeu-se que nos meses de outubro e
novembro melhores resultados foram obtidos, mostrando ao final que a inovação
obteve melhoria na leitura e escrita dos alunos, mas que deve continuar
287

acompanhando-os nas séries subsequentes para que dêem bons resultados ao


final do Ensino Médio.

A pedagogia da alteridade, respeitando os saberes do educando é algo inovador


na aprendizagem dos alunos indígenas no Brasil, trabalhando dentro da sua
realidade eles poderão ir mais longe como afirma Sobrinho (2003).

Freire (2003) afirma que 'A leitura de mundo precede a leitura da palavra', logo
a bagagem cultural do aluno e sua cultura pode ser utilizada como ferramenta
no processo de melhoria de competências da língua Portuguesa e indígena,
afirma ainda que há maior desenvolvimento de leitura e escrita quando estas são
feitas na realidade do aluno como mostra Freire (2003) 'O comando da leitura e
da escrita se dá a partir de palavras e de temas significativos à experiência
comum dos alfabetizandos e não de palavras e de temas apenas ligados à
experiência do educador'.

Hoffmann (2006) afirma que 'Como as palavras são estabelecidas, organizadas


em sua grafia e pronúncia por convenção, não é fácil para um aluno desenvolver
boa leitura e escrita sem a devida motivação para tal', por isso foi necessário
implementar o Pé de árvore de leitura, ele mostrou-se indispensável e foi o marco
que se mostrou necessário para incentivar os alunos a buscar mais leitura fora
da escola,com livros amarrados nas árvores despertou maior interesse nos
alunos, depois alguns alunos contaram o que entenderam.

Amparadas pelo marco legal: a Constituição Federal de 1988 (Capítulo VIII, Arts.
231 e 232), pelo Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/ 1973) criadas com base na
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é que foi
possível que as escolas das aldeias do povo Xukuru passaram ao nível de
estaduais, e deixaram de ser do município. Foi perceptível a mudança, que no
início começou a trabalhar atividades de um currículo diferenciado que incluía
artesanato indígena, confecção de roupas e adereços indígenas, começou-se a
trabalhar as cento e sessenta e cinco palavras indígenas com os alunos e um
trabalho de recuperação da língua também foi conduzido pelos anciãos e
lideranças indígenas, com isso houve uma sensível melhora na auto-estima dos
alunos e professores, embora as professoras até sejam contratadas e não
288

concursadas, é uma questão ainda não resolvida pelo governo, corroborando


com o que mostra Pereira (2001) 'Todo currículo exigirá um posicionamento
crítico sócio-econômico de todos os envolvidos, na busca de uma escola mais
comprometida.
A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas junto
com a Convenção 169 forçou a criação de uma lei que permitisse aos indígenas
sua independência na educação específica, surgindo assim na Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional 9394/1996 LDB (Arts. 26, 32, 78 e 79)e os
PCN's, possibilitando aos povos indígenas terem autonomia curricular em sua
educação de até criar novos componentes no currículo como ocorreu nesta
inovação, desde que eles julguem proveitoso para sua cultura.

Foram implementadas muitas Políticas públicas contribuintes para a melhoria da


leitura e escrita, visto que ainda é um grave problema nacional, sendo o governo
obrigado a criar o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (2012-2013),
auxiliado pelo Referencial curricular nacional para a educação infantil Vol. 1 e 3
avaliados na Prova Brasil que mede a qualidade da leitura e escrita dentre outras
competências. Assim, com o apoio de setores da igreja católica através do CIMI
(Conselho Indigenista Missionário), ONG's como o Centro de Cultura Luiz Freire,
escreveram e editaram quatro paradidáticos que muito ajudou na educação
indígena Xukuru. Os professores reclamaram no diagnóstico da falta de recurso
didático como livros específicos da cultura Xukuru, pois sem este pouca melhora
haverá na correta escrita e pronúncia das palavras pelos alunos das escolas
Natureza Sagrada e Rei do Ororubá e todo povo de forma geral.
É necessário permitir que o aluno construa seus saberes e que o professor possa
mediar esse crescimento, não com comentários depreciativos, mas mediador,
sugestivo e construtivo, conforme afirma Hoffmann (2006) que "O comentário do
professor valoriza e desafia o aluno a prosseguir no seu trabalho". Percebe-se
enfim, que autonomia intelectual é necessária, motivo pelo qual foi aceita a
proposta dos alunos de incluir mais quatro canções na inovação.

Apresento como reflexão para esta inovação que a melhor parte desta inovação
foi poder contribuir pela primeira vez com esse povo de forma prática, depois de
vinte anos que só pesquisava, estudava e escrevia, contribuindo apenas na
divulgação de sua cultura, mas não desenvolvendo algo palpável que pudesse
289

ser utilizado em sua educação. Conquistá-los nestes vinte anos foi a parte mais
difícil, pois é um povo que já muito sofreu nas mãos de aproveitadores, por isso
hoje se tem uma lei que precisa de autorização para trabalhar em áreas
indígenas, se o cacique e as lideranças não autorizarem, não se pode
desenvolver nenhum trabalho, mas o fato de se construir a inovação com
elementos de sua cultura tornou mais fácil esta aceitação, nada foi imposto, as
canções já são parte de seu cotidiano. A frase da professora dita ao Pajé que
sempre resistia ter em suas terras pessoas não índias, foi que este pesquisador
já era um deles, acabei por estas palavras fazendo parte de um pequeno grupo
que de verdade contribuiu para com a educação indígena, sendo esta a maior e
mais gratificante recompensa por tudo que foi realizado em conjunto com as
professoras e as lideranças que permitiram este trabalho, e por ter acreditado e
confiado seus alunos a um não índio.

A inovação mostrou-se funcional, pois na escola Natureza Sagrada e na


escola Rei do Ororubá os alunos melhoraram suas competências de leitura e
escrita, dessa forma esta inovação pode ser aplicada em todas as 24 aldeias do
povo Xukuru e possivelmente nas 305 etnias do Brasil com suas 274 línguas,
conservando as recomendações dos antropólogos Rondon e Darcy Ribeiro: as
25 etnias isoladas que não tiveram contato com outras pessoas devem ser
mantidas assim; as que falam apenas sua língua indígena devem ser
trabalhadas suas competências de leitura e escrita primeiramente na sua língua
e depois no português (bilíngues); as que falam o português devem ter suas
competências de leitura e escrita trabalhadas em Português e se possível
recuperar sua língua, como é o caso dos povos indígenas do Nordeste brasileiro.
Após perceber nesse mestrado que a língua do povo Xukuru pode ser
restaurada com o preenchimento das palavras da língua Tupi, tronco mãe das
línguas dos índios do litoral, esse povo indígena volta a ter esperança da
reconstrução de seu idioma, algo que parecia impossível até pouco tempo.

O desenvolver dessa inovação despertou também neles a riqueza da


sua cultura, a criação de novas canções, a gravação das crianças que se
sentiram verdadeiros atores e atrizes ao aparecerem projetados no multimídia,
também isso trabalhou neles o sentimento de menos valia, a manutenção de sua
cultura, a valorização do índio berço de nossa cultura, visto que diversas
290

palavras da nossa nacionalidade são palavras indígenas como 'anhanguera',


'munguzá', 'mandioca', diversos nomes de rios e estradas e por toda parte no
Brasil estão presentes os nomes indígenas.

A aceitação do povo a inovação fez grande diferença, o apoio das


professoras com quem tanto aprendi sobre educação indígena, fez com que
pensasse de forma diferente das idéias preconcebidas de antes, é necessário
se entender a cultura do povo, principalmente os indígenas, para se trabalhar as
idéias e costumes de outras tradições, o respeito a diferença, a aceitação de
seus costumes, tudo isso faz parte da educação que é tão necessária no Brasil.

Perceber a melhora nas notas, na escrita e na leitura e ver os alunos


visitando a pequena biblioteca, embora carente de livros principalmente
específicos, já é um despertar pelo gosto de algo que está mudando, o gosto
pela leitura e escrita.
No dia 11 de dezembro de 2017, fui convidado a participar da formatura
dos alunos pelas professoras, que pediram autorização ao cacique e ao pajé,
visto a cerimônia é exclusiva dos índios onde dançam, cantam, rezam, invocam
os espíritos de seus ancestrais e bebem a jurema sagrada, nessa ocasião ser
aceito entre eles para participar foi extremamente importante principalmente por
entender que eles aceitam ajuda externa quando se harmoniza com a sua
cultura.

Assumi com este povo e por solicitação deles o compromisso de realizar


duas capacitações por ano para todos os professores de todas as aldeias sendo
as próximas previstas para julho e dezembro de 2018, e também envidar
esforços para que eles tenham uma faculdade em seu território indígena.

A finalização foi explanada no Capítulo 6, no qual encontramos que o desenhar


do plano de intervenção educativa para construir um material didático específico
utilizando as canções para confecção de material didático específico foi eficaz
ao melhorar a leitura e a escrita dos alunos.
Desse mestrado em Educação pela USACH posso dizer que a dificuldade de
leitura e escrita como retratada na fundamentação é um problema nacional,
motivo pelo qual o Pacto Nacional foi criado pelo governo brasileiro, porém a
291

medida que adentramos ao interior dos estados este quadro é agravado


atingindo seu índice mais crítico nas terras indígenas, pois há poucas propostas
de trabalhos que envolvam a educação indígena. dessa forma esta inovação
buscou melhorar a leitura e a escrita dos alunos indígenas das escolas Natureza
Sagrada e Rei do Ororubá na cidade de Pesqueira, utilizando como estratégia a
construção de um livro didático que teve como conteúdo as canções indígenas
que foram transcritas e trabalhadas nas atividades em sala de aula.
Para atingir o objetivo proposto foi desenhado um plano de intervenção educativa
que utilizou a estratégia de transcrever as canções indígenas do povo Xukuru,
para poder confeccionar um livro didático específico e ser trabalhado com os
alunos indígenas nas referidas escolas. Buscou-se assim, realizar atividades
escolares usando os cantos indígenas com os alunos dentro de seu contexto, foi
trabalhado com a utilização de dezessete canções, abordando um conteúdo
específico já conhecido oralmente, mas ainda não trabalhado em sala de aula.
Foram aplicadas diversas atividades escolares pelas professoras com as
canções transcritas, monitorando e avaliando no decorrer do bimestre a melhoria
e as dificuldades apresentadas no período, relatadas no caderno de
planejamento e no Diário de Classe que é o documento oficial validado pelo
Ministério da Educação do Brasil.

Para melhor realizar esta inovação foi feita uma capacitação com as professoras
para trabalhar as canções selecionadas em atividades com os vinte e seis alunos
do turno matutino da aldeia São José, construindo um livro de apoio didático
especifico da cultura Xukuru, sendo monitorado a evolução de cada aluno na
disciplina de Português com as atividades de leitura e escrita utilizando as
canções para ao final avaliar a evolução e as notas dos mesmos.
As transcrições das canções da tradição oral desse povo foi trabalhada
pelas professoras que lecionam em duas turmas multiseriadas (préI e II, 1º. 2º e
3º ano do Ensino Fundamental) com idades entre 6 e 13 anos, em sala de aula.
Esta inovação foi desenvolvida com atividades em sala, abordando a cultura do
povo do Ororubá em diversos temas do seu dia-a-dia, rituais e festejos através
da musicalidade das canções, diariamente incluídas em forma de cantos e
danças na sala de aula, e ainda trabalhadas na leitura e na escrita.
292

Foram realizados testes semanais em sala de aula no decorrer do


período escolar (de agosto a dezembro) e foram criadas pelas professoras no
decorrer da inovação atividades que muito contribuíram como o mural de
gêneros, baú do xenupre e os diversos instrumentos apresentados neste
trabalho, para aumentar o suporte de acordo com as necessidades dos alunos.
Percebeu-se que a inovação conseguiu despertar nos alunos uma maior procura
aos livros da biblioteca, mais atividades escritas ao qual lhes foram dados o
suporte de cadernos de caligrafia. O material didático produzido será utilizado
por todas as escolas indígenas desse povo até o 3º ano do ensino fundamental,
depois que passar por uma revisão do conselho de professores indígenas
Xukuru, porque foi para estas séries que se destinou a inovação.

De acordo com os registros do Diário de classe os oito alunos do Pré I e


II não recebem nota apenas conceitos, sendo quantificados os alunos do 1º ao
3º ano que tiveram suas notas disponibilizadas ao fim do ano letivo (15 no total).
Destes, 12 melhoraram as notas quando comparadas com as notas do início do
ano (1º bimestre), 2 mantiveram as mesmas notas e 1 reprovou.

Logo que foi autorizado pelos líderes indígenas, conforme determina a Lei
brasileira para que a inovação pudesse ser realizada, e mesmo com os 500 km
para se chegar até a aldeia São José, sendo necessário diversas vezes ficar com
eles durante semanas para que a inovação pudesse progredir, o compromisso
incondicional das professoras da aldeia São José motivavam a continuidade dos
trabalhos, indo muito além do que se esperava delas, que afirmaram durante a
formatura dos alunos no terreiro sagrado ao qual participei com autorização do
Cacique e do pajé, que a inovação causou grande reflexão na educação
indígena, pois possibilitou criar uma enorme quantidade de recursos didáticos a
partir das canções que não se esgotam.

Dessa forma, transcrever as canções e trabalhar a musicalidade de forma escrita


e lida com os alunos indígenas é um diferencial que ajuda-os a se manterem
próximos a sua cultura, a suas raízes culturais para não correr o risco do índio
ser alfabetizado e ser um analfabeto cultural de sua cultura e de suas tradições,
trabalhar a especificidade indígena é importante, mais importante ainda é usar e
trabalhar com vocábulos próprios desse povo, mantendo essa cultura milenar,
293

para um dia não se correr o risco de dizer que a cultura indígena foi extinta.
Como já se pode dizer de diversas etnias que a cada década é extinta no Brasil,
nos boletins da FUNAI responsável pelo setor indígena no Brasil.
Como pode ser visto na fundamentação, o amparo dado pela Carta Magna de
1988 'Constituição Federal do Brasil' ás culturas nativas e, originárias foi a mais
importante contribuição, que deu amparo aos povos originários permitindo que
a educação indígena tivesse um currículo diferenciado embora pouco trabalhado
atá hoje, baseado na cultura milenar de cada povo indígena que é tão rico em
nosso pais com duzentas e setenta e quatro línguas (IBGE 2010) divididas em
dois grandes troncos linguísticos (Tupi e Macro-jê) com mais de dezenove
familias, cada uma com suas especificidades, o que torna o Brasil um grande e
rico poço cultural que conseguiu preservar a custa de muita luta as tradições dos
índios. A língua Tupi é a que predomina em maior quantidade de famílias, porque
esse povo dominou muitas tribos em quase toda extensão do litoral e interior do
país, os povos indígenas litorâneos em sua maioria descendem dos bravos
Tupi's.
Diversas Políticas públicas contribuíram para a melhoria do Currículo escolar
indígena dentre elas, a Constituição Federal de 1988 ; O Estatuto do Índio; A
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT); A Declaração
das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas; A Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB); Os PCN's; O Pacto Nacional pela
Alfabetização na Idade Certa; O Referencial curricular nacional para a educação
infantil Vol. 1 e 3, tudo isso corroborou para uma melhoria, porém a maior
dificuldade é o seu cumprimento uma vez que incomoda fazendeiros,
congressistas donos de grandes extensões de terra, multinacionais do
agronegócio, ricos e poderosos, contra povos pobres e humildes que só tem um
pouco de terra.

Além de melhorar a escrita e a leitura, houve também melhoria nas notas


do último semestre quando comparadas com o primeiro, conforme está
registrado no Diário de Classe das professoras e no caderno de planejamento
do ano de 2017.
Pode-se finalizar este trabalho com a certeza de que será beneficiada as
vinte e quatro aldeias, uma vez que este povo indígena tem os mesmos
294

costumes e falam a mesma língua (Português) e Xukuru, permitindo ainda que


outros povos indígenas possam criar, aumentar e melhorar seus livros didáticos
com a utilização das transcrições das canções, fortalecendo suas culturas e
melhorando a leitura e a escrita dos seus alunos com uma educação específica.
A educação indígena é um vasto campo com poucas publicações, poucos
projetos educacionais visto que são minoria no Brasil.
Para um mestrado as evidências apresentadas são muitos importantes pois são
elas que darão o caráter e o rigor científico, são as provas cabais que o
pesquisador pode autenticar o que disse, dessa forma apresento aqui algumas
delas:
1- Entrevista semi-estruturada:
Esta entrevista semi-estruturadas foi gravada com celular portátil e
transcrita, sendo realizada de forma oral e validadas pelas duas professores da
Aldeia São José que lecionam pela manhã, foi descrito o que elas julgavam mais
importante em suas práticas na sala de aula, como trabalhavam seus rituais e
costumes, onde se apresentavam os maiores problemas, para entender suas
práticas na sala de aula e como trabalhavam seus rituais e costumes
identificando os maiores dificuldades.

1- Com que material didático trabalha a cultura específica Xukuru?


'Aqui na escola usamos dois livros didáticos específicos de nossa
cultura, que foram editados pelo Centro de Cultura Luiz freire, mas é pouco para
trabalhar com os alunos, então nós fazemos pesquisa fora, na cidade de
Pesqurira, porque não tem internet na escola, não dá pra trabalhar com material
que vem do governo, pois só serve para recorte de figuras e colagem, nem os
alunos nem nós gostamos desse material'.
2- Como são trabalhados os costumes e as tradições do povo e que
deficiências apresentam?
'O professor aplica o conteúdo passado pela coordenação indígena, mas
tem a liberdade de trabalhar o que quiser da tradição indígena, o artesanato e
os instrumentos nossos são trabalhados uma vez por mês quando o professor
vem de Cimbres'
3- O que julgam ser mais importante para melhorar a aprendizagem dos
alunos?
295

'Ter um livro didático de nossa cultura, nossas tradições e que pudesse


ajudar na leitura e na escrita dos alunos, mais capacitações com os professores,
material como impressora, computador com internet para pesquisa ajudaria
muito'.
4- A coordenação indígena auxilia os professores em suas
necessidades?
'Temos pouco apoio da coordenação, são 36 escolas para eles
atenderem com poucos recursos, muitas vezes compramos material para
trabalhar com os alunos, quase não há capacitações e quando ocorrem é fora
da cidade, não dá para todos os professores irem, muitos gostariam de fazer
faculdade, mas o fato de se deslocar a noite para outras cidades desanima,
principalmente pelo custo que será do professor'.
5- Os líderes indígenas são presentes na educação indígena?
'O cacique e o Pajé raramente aparecem, as crianças costumam vê-los
nas festas, nas formaturas e nos Torés na Vila de Cimbres'.
6- O Currículo diferenciado tem permitido o desenvolvimento a educação
indígena?
'Com certeza, depois que nós pudemos trabalhar nossos costumes,
nossa tradição, ficamos mais felizes, pois como dizia nosso cacique Chicão é na
escola que nossas crianças aprendem sobre nossos antepassados'
Relatos acrescentados após as perguntas
Existem mais dificuldades que não foram perguntadas nesta entrevista?
'Como se pode ver, o acesso aqui é difícil, não tem estrada de asfalto,
quando chove só a pé para algumas aldeias, a merenda as vezes falha e as
crianças ficam com fome, ou improvisamos, o estado ainda não regularizou
nossa situação trabalhista, somos contratada, a escola não tem estrutura para
as crianças brincarem, local para comerem, só um baheiro funciona e de forma
precária e muitas outras coisas mais',

2 - Análise FODA com as professoras.


O instrumento FODA (Forças, Oportunidades, Deficiências e Ameaças),
fazendo uma análise interna e externa da escola e seu entorno, ele foi aplicado
com as professoras do turno matutino da aldeia São José durante duas horas e
296

foi direcionado para elencar as dificuldades apresentadas pelos alunos na leitura


e escrita, e também sobre os livros didáticos específicos de sua cultura.

Quero apresentar ao leitos uma das muitas canções transcritas neste projeto de
inovação por ser ela a canção que as crianças índias mais gostam de cantar:
CANÇÃO INDÍGENA DO POVO XUKURU DO ORORUBÁ
(CANÇÃO ESCOLHIDA PELOS ALUNOS)
Nº 18 PISA LIGEIRO
Canção Momento que se Instrumentos Vestimentas
canta
18. PISA 1-Início dos Maraca ( ) Barretina ( )
LIGEIRO trabalhos escolares; Palmas ( ) Saia de palha ( )
2-Toré Flauta ( ) Pinturas na pele (
Sagrado )

(TRECHO FALADO)
VIVA OS ÍNDIOS, VIVA.
VIVA AS MATAS, VIVA.
VIVA OS ALUNOS, VIVA.
VIVA A FLORESTA, VIVA.
VIVA O TORÉ, VIVA.
VIVA O CACIQUE MARCOS, VIVA
UMA SALVA DE PALMAS...
(TRECHO CANTADO)
PISA LIGEIRO, PISA LIGEIRO
QUEM NÃO PODE COM A FORMIGA
NÃO ASSANHA O FORMIGUEIRO
PISA LIGEIRO, PISA LIGEIRO
QUEM NÃO PODE COM A FORMIGA
NÃO ASSANHA O FORMIGUEIRO

CAPÍTULO V - OUTROS POVOS INDÍGENAS EM PERNAMBUCO


297

O Centro de Cultura Luiz Freire, localizado na cidade de Olinda em


Pernambuco, teve a iniciativa juntamente com os povos indígenas de
Pernambuco em editar um livro 'Caderno do tempo' 139 em conjunto com o MEC
- Ministério da Educação e Cultura - para reelaborar o tempo histórico e linear
das culturas indígenas no estado, agora não mais feito por pedagogos não
indígenas que ditavam a forma de alfabetizar desprezando a cultura milenar dos
povos originários do Brasil, escrito pelos professores indígenas dos povos
descritos abaixo, que após longas conversas com os anciãos e mais velhos,
extraíram a parte histórica de suas culturas para que pudessem ser escritas com
a versão do índio brasileiro e não mais antropocêntrica como antes, não mais o
tempo escolar que fora imposto aos índios, mas o seu próprio tempo, das
colheitas, da chuva, das suas festividades, das fases lunares e dos seus
encantados como a Jurema, a voz dos seus antepassados, talvez em séculos
este tenha sido realmente o primeiro projeto político pedagógico depois da
gramática tupi de Pe Antônio Vieira no século XVI.

PANKARARU
O povo Pankararu tem sua localização no município de Tacaratu e Jatobá,
com localização geográfica na Serra do Tacaratu, no Brejo dos Padres, na
Serrinha e em Entre Serra, com uma população de 4.840 índios na divisa do
estado ao sul.
Os Pankararu realizam todas as suas tarefas em um calendário que é
baseado no sol, na lua e nas estrelas, como por exemplo a plantação de
mandioca e milho, o corte da madeira para a construção de cercas e outros
trabalhos.
Uma de suas festividades é o 'flechamento do imbú' onde o primeiro fruto
do imbú é levado aos anciãos para que eles com sua sabedoria digam se terão
boas colheitas. No mês de fevereiro ocorre a corrida do imbú acompanhada da
dança do cansação, é uma festividade em que eles colocam suas esperanças
que terão um ano de promessas de boas colheitas, eles se vestem com as
palhas de ouricuri, parecendo lngas túnicas de sacerdotes, nesse ritual eles

139
MEC- Caderno do tempo. Professores e professoras indígenas de Pernambuco. Belo Horizonte, 2 Ed.
2006.
298

invocam a presença dos encantados - os espíritos dos seus ancestrais - que os


ajudam na tomada de decisões do povo.

CALENDÁRIO PANKARARU
MÊS ATIVIDADE
JANEIRO Mestre guia, safra da manga e caju, festa de N. Sra. da Saúde
FEVEREIRO Corrida do imbú
MARÇO Preparo da terra para plantio
ABRIL Plantações
MAIO Plantações
JUNHO 1 a 13 Novenário de Santo Antonio
JULHO Colheita do milho e feijão
AGOSTO Penitencia e guarda a N. Sra. da Boa Morte
SETEMBRO Plantio da mandioca
OUTUBRO Festa de N. Sra, Aparecida
NOVEMBRO Flechamento do imbu
DEZEMBRO Festa de Santa Luzia

PIPIPÃ
O povo Pipipã tem sua localização no município de Floresta, com
localização geográfica na Serra Negra, Serra dos Pipipã, Lagoa do jacaré, Barra
do Juá, Lagoa do junco, Baixa do Urubú e Jiquiri, com uma população de 2.050
índios no centro do estado.
O Cocá do povo tem doze sementes pretas que representam os meses
do ano, as vinte e quatro sementes vermelhas representam o vinte e quatro
Torés - dança ritual do povo, comum a muitos povos indígenas do Nordeste.
O Kraua´ é uma planta nativa que é usada desde os antepassados para
fazer os diversos utensílios usados pelo povo como por exemplo a rede, cortinas,
vestimentas, cordas e tapetes.
A ligação do indígena com a natureza é muito forte, a observação da fauna
e flora fala, apresentam sinais peculiares que regem a vida do povo. Uma cigarra
cantando fala ao povo pela melodia de seu canto se o ano vindouro será bom
para plantio e colheita, e isso passou dos índios para cultura popular arraigada
299

na tradição do sertanejo que vive esses costumes.Outros animais que dão sinais
são o cupim, o fura-bananeira, a abelha...
A plantação de milho, feijão, mandioca, melancia, jerimum, algodão, fava
e macaxeira são as plantações básicas que alimentam o povo, além da criação
de pequenos animais como galinhas, porcos. Eles também caçam o peba, tatu,
tamanduá, veado, caititu, seriema e cambaba, bem como muitos outros tipos de
animais.
CALENDÁRIO PANKARARU
MÊS ATIVIDADE
JANEIRO De janeiro a junho é tempo de reprodução das árvores, de caça e
colheita de frutas, safra do umbú. De 10 a 21 aricuri. De acordo com
as chuvas pode ocorrer as plantações.
FEVEREIRO Chuvas, plantações e produções.
MARÇO Colheita do catolé outras frutas
ABRIL Semana dos povos indígenas, dia de Santo Expedito padroeiro do
travessão do ouro
MAIO Mes de Maria, novenas e procissões na comunidade
JUNHO Comemoração de São Pedro, S. João e S. Antonio. fogueiras,
comidas típicas de são joão
JULHO Dia 20 dia do Pe Cícero
AGOSTO Falecimento do índio Joaquim Roseno, usa-se vinho da jurema para
celebrar
SETEMBRO Em 1802 foram aldeiados 114 gentios bravos Pipipã na aldeia da
missão, Lagoa do jacaré.
OUTUBRO Ritual do aricuri no qual se colhem o ruto da massaranduba, café.
NOVEMBRO Queda das folhas
DEZEMBRO Falecimento da india Amélia Maria e do índio espancado até a morte
ao receber voz de prisão em Serra Negra

ATIKUM
O povo Atikum tem sua localização no município de Carnaubeira da
Penha, com localização geográfica na Serra do Uma, com uma população de
4.736 índios a oeste do estado.
300

A dança do Toré é um ritual sagrado para fortalecer o povo, unir a


comunidade e dançamos a cada quinze dias em algumas aldeias como o'lho
d'água do padre, a cada oito dias no cruzeiro, a cada trinta dias na pedra do
gento e as quartas feiras na aldeia Cachoeira. Nos períodos de seca os índios
do alto da serra do umã passam a noite inteira nas cacimbas para retirar um
balde de água. O sol é o relógio ele dá aos índios a noção de meio-dia quando
está a pino e as demais horas do dia. A lua tem forte influencia na escolha dos
dias das plantações. Eles observam os animais e as plantas para deles terem
sinais para suas vidas.
O povo Atikum teve o primeiro cacique que morreu em 16 de setembro de
1977 Odvaldo Girão Mota, assim como muitas lideranças indígenas foi
assassinado por fazendeiros por questões relativa a terra, sua filha também foi
morta junto. Outro líder que lutava pelo povo foi morto também em 03 de março
de 1984 José Antonio da Silva, até hoje o autor do crime não foi achado.

CALENDÁRIO ATIKUM
MÊS ATIVIDADE
JANEIRO Chuva
FEVEREIRO Plantio do feijão de arranca
MARÇO Novenário de S. José na aldeia Pedra de Fogo. limpa das lavouras
ABRIL Comemoração da semana dos povos indígenas
MAIO Colheita dos feijões de arranca e de corda. festejo do mes mariano
nas aldeias Areia e Jatobá
JUNHO Comemoração de São Pedro, S. João e S. Antonio. fogueiras,
comidas típicas de são João.
JULHO Caça e pesca. festa de N. Sra. de Santana
AGOSTO Colheita de milho e fava
SETEMBRO Venda de produtos agrícolas
OUTUBRO Festejo de N.Sra da Misericórdia
NOVEMBRO Preparo para plantio
DEZEMBRO Festejo de N. Sra. da Conceição

TRUKÁ
O povo Truká tem sua localização no município de Cabrobo e Orocó, com
localização geográfica é no Rio São Francisco - Ilha de Assunção, Ilha da Onça
301

e Ilha Tapera - com uma população de 3.463 índios no final do estado, sendo a
última etnia a oeste de Pernambuco.
Dançam o Toré, bebem á Jurema sagrada, recebem orientação dos
encantados para guiar o povo com sabedoria. Caçam preá, tatu, teju, jacaré,
capivara e aves.

CALENDÁRIO TRUKÁ
MÊS ATIVIDADE
JANEIRO Plantio de arroz e retomada da ilha
FEVEREIRO Período de pesca
MARÇO Plantio de milho. caminhada dos penitentes e novena da Quaresma
ABRIL Comemoração da semana dos povos indígenas
MAIO Novenário de Maria e comemoração da retomada da ponta da ilha
JUNHO Grande colheita de arroz e milho
JULHO Fim da colheita de arroz e milho
AGOSTO Novenário da padroeira dos Truká N. Sra. Rainha do Anjos
SETEMBRO Comemoração da retomada da caatinga grande
OUTUBRO Dia 4 S. Francisco;12 N. Sra, Aparecida; 31 romaria a Juazeiro de
Pe Cícero
NOVEMBRO Dia de todos os santos
DEZEMBRO Plantio da cebola; N. Sra. da Conceição; morte de Acilon Ciríaco; dia
de santa Luzia; morte de Antonio Cirilo

KAMBIWÁ
O povo Kambiwá tem sua localização no município de Ibimirim, Inajá e
Floresta, com localização geográfica na Serra Negra e no Riacho da Alexandra,
com uma população de 2.852 índios no sertão do estado.
Como os outros povos do Pernambuco usam a natureza, a chuva o canto
das cigarras os ventos e as plantas para se guiarem nas decisões do povo. O
que eles produzem é vendido nas feiras livres de Ibimirim aos sábados e Inajá
nas segundas. Plantam como muitos agricultores de terras áridas a palma, uma
espécie de cactos que alimenta o gado nos períodos de estiagem e que dá um
fruto exótico.
CALENDÁRIO KAMBIWÁ
302

MÊS ATIVIDADE
JANEIRO Trovoadas, plantação de milho e colheita de cajú
FEVEREIRO Época do umbu e murici. Padroeira do tear N. Sra. da Saúde
MARÇO Colheita do feijão-de-corda, milho verde e semana santa
ABRIL Comemoração da semana dos povos indígenas, tempo de mel,
morte do índio Vicente Gomes 1992
MAIO Comemoração do dia das mães, novena de maio, morte do índio
Pedro Profiri o primeiro pajé da tribo
JUNHO Festas juninas e plantio da mandioca
JULHO Colheita do feijão de arranca
AGOSTO Na lua cheia a dança do praiá, morte de Pedro Ferreira 1978
SETEMBRO Retomada de kambiwá 2000
OUTUBRO Festas de São Francisco e de N. Sra. Aparacida, caça ao tatu, peba,
veado, cutia e preá. romaria a Juazeiro do Pe Cícero
NOVEMBRO Colheita do milho seco, da fruta de palma e dia de finados
DEZEMBRO Preparação da terra para o cultivo, dia de santa Bárbara padroeira
da aldeia Pereiros

FULNI- Ô
O povo Fulni-ô tem sua localização no município de Águas Belas, com
localização geográfica na Serra do Cumanati, com uma população de 3.101
índios na divisa do estado ao sul na fronteira com o estado de Alagoas.

CALENDÁRIO FULNI- Ô
MÊS ATIVIDADE
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL Comemoração da semana dos povos indígenas
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
303

NOVEMBRO
DEZEMBRO

KAPINAWÁ
O povo Kapinawá tem sua localização no município de Buíque, com
localização geográfica no Vale do Catimbáu e Mina Grande, com uma população
de 1.065 índios no início do agreste pernambucano.

CALENDÁRIO KAPINAWÁ
MÊS ATIVIDADE
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
ABRIL Comemoração da semana dos povos indígenas
MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO

PANKARÁ
O povo Pankará tem sua localização no município de Carnaubeira da
Penha, com localização geográfica na Serra do Arapuá, Serra da Cacaria, Grota
do Enjeitado, Riacho das Lajes Brancas e Grota da Toca , com uma população
de 4.300 índios no sertão do estado.

CALENDÁRIO PANKARÁ
MÊS ATIVIDADE
JANEIRO
FEVEREIRO
MARÇO
304

ABRIL Comemoração da semana dos povos indígenas


MAIO
JUNHO
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
DEZEMBRO

E assim cada estado da nossa república tem suas diversas etnias indígenas.
305

CAPITULO VI - UMA DÍVIDA HISTÓRICA

"Nenhuma pessoa poderá morrer em paz se não tiver feito tudo o que for preciso
para que os outros vivam" (Luís Rétif)

Foto do Jornal Diário de Pernambuco


Cacique Marcos ao assumir o comando da tribo Xucuru, após o
assassinato do Cacique Chicão (seu pai), do procurador da FUNAI e outros por
um fazendeiro (José de Riva) por não concordar com a demarcação da terra em
uma parte de sua fazenda. (foto Diário de Pernambuco)
Etnias indígenas em Pernambuco. Pesquisa de campo feita pelo pesquisador
Paulo Gabriel em 1996 tendo como foco a etnia Xucuru do Ororuba.
306

Todas as localidades acima da BR 232 (em vermelho) e de Pesqueira


(hachurada) são aldeias do Povo Xucuru. (foto do autor)

Família indígena que deixou a tribo Xucuru e foi morar no bairro Xucuru em
Pesqueira. (foto do autor)
307

Escola da aldeia São José etnia Xucuru do Ororubá antes da demarcação


(foto do autor)

Casa de alvenaria dos índios da etnia Xucuru (foto do autor)


308

Construção de privadas com verbas do governo federal. (foto do autor)

APROFUNDAMENTO
Para aqueles que desejarem aprofundar-se na questão indígena seja o
leitor um jornalista, historiador, professor de história, profissional da educação,
ou outra categoria, o Prof. Mestre da UFRN, Thyago Rusemberg, presenteou-
me com uma bibliografia por períodos da história indígena em nosso país, que
aqui deixo na integra.

HISTÓRIA INDIGENA
RIBEIRO, Berta Gleizer. O índio na história do Brasil. 6 ed. São Paulo: Global,
1983.
CUNHA, Manuela Carneiro (org.). História dos índios do Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1992.
MONTEIRO, João Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens
de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
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sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo. HUCITEC; EDUSP; FAPESP,
2002.
VAINFAS, Ronaldo. A Heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil
colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
309

VAINFAS, Ronaldo. Colonialismo e Idolatrias: Cultura e resistência Indígenas no


Mundo Colonial Ibérico. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.11, nº21,
p.101-124. set.90/fev.91
LOPES, Fátima Martins. Em nome da liberdade: as Vilas de Índios no Rio Grande
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LOPES, Fátima Martins. Índios, colonos e missionários na colonização da
Capitania do Rio Grande do Norte. Mossoró; Natal: Fundação Vingt-un Rosado;
IHGRN, 2003.
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade
colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. cap. 2, p. 40-56: Uma geração
exaurida: agricultura comercial e mão-de-obra indígena; cap. 3, p. 57-73:
Primeira escravidão: do indígena ao africano.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e
cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
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Indígena e do Indigenismo. [Tese de livre docência]. Campinas: UNICAMP,
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GRUZINSKI, Serge. O Pensamento Mestiço. São Paulo: Companhia das Letras,
2001.
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