Você está na página 1de 110

TUPI:

A LÍNGUA DO BRASIL COLÔNIA

PAULO GABRIEL BATISTA DE MELO


Ddo em Ciências da Educação

PARNAMIRIM – RN
2021
2

Catalogação na Publicação (CIP)


Ficha catalográfica feita pelo autor
Conforme Lei do Livro nº. 10.753/2003

M528t
Melo, Paulo Gabriel Batista de Melo. 1968;

Título TUPI: A LÍNGUA DO BRASIL


COLÔNIA. Paulo Gabriel Batista de Melo;
Columbia, SC. USA: Editora: Independently
published, 2020. Idioma: Português.
110 p

ISBN 9798710320426

1. História 2. Índios do Brasil 3. Indigenismo 4.


Língua Tupi 5. Linguística 6. Brasil Colônia 7.
Historiografia 8. Povos da América do Sul.
1. Título
CDD 410
CDU 397

Índices para catálogo sistemático


1. Religião 410
Ddo em Educação Paulo Gabriel B. de Melo
3

SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ............................................................................ 4
PREFÁCIO ........................................................................................... 5
DEDICATÓRIA .................................................................................... 7
APRESENTAÇÃO ................................................................................. 8
CURRICULUM VITAE (Resumitivo e time line) do autor .................. 9
INTRODUÇÃO ................................................................................... 23
CAPÍTULO 1 JUSTIFICATIVA DO USO DA MATRIZ TUPI PARA
RESTAURAR O IDIOMA .................................................................... 24
1.2 A MATRIZ TUPI E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS POVOS
INDÍGENAS DO BRASIL ................................................................. 34
CAPÍTULO 2 A IMPORTÂNCIA DO TUPI NA CONSTRUÇÃO DA
IDENTIDADE NACIONAL .................................................................. 49
2.1 AS LIÇÕES DE DARCY RIBEIRO E MARECHAL RONDON....... 51
2.2 RONDOM UM PACIFICADOR .................................................... 52
CAPÍTULO 3 O TUPI NO BRASIL COLÔNIA ................................... 58
CAPÍTULO 4 A VIDA DOS INDÍGENAS NO BRASIL .......................... 64
4.1 A MANUTENÇÃO DAS TRADIÇÕES INDÍGENAS NO
DECORRER DOS SÉCULOS ........................................................... 66
4.2 OS TEMORES DOS ÍNDIOS COM AS FERAS PREDADORAS 67
CAPÍTULO 5 TRABALHANDO O TUPI NO POVO XUKURU DO
ORORUBÁ ......................................................................................... 74
5.1 Tabela de aulas estudadas pelo povo Xukuru e sua evolução
........................................................................................................ 75
AS CLASSES GRAMATICAIS PORTUGUÊS E TUPI SUBSTANTIVO
........................................................................................................ 85
PREPOSIÇÕES DO PORTUGUÊS E AS POSPOSIÇÕES DO TUPI ..... 86
5.2 AS PALAVRAS EM PORTUGUÊS, XUKURU E TUPI ................. 89
DICIONÁRIO XUKURU – PORTUGUÊS .......................................... 89
VOCABULÁRIO PORTUGUÊS - TUPI ............................................... 92
DICIONÁRIO TUPI – PORTUGUÊS ................................................ 97
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 4
ALGUMAS OBRAS DO AUTOR SOBRE A CAUSA INDIGENISTA
................................................................................................... 101
REFERÊNCIAS .......................................................................... 105
4

AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por ter abençoado este velho
professor, dando-me sabedoria e oportunidade para realizar
esta Pesquisa e esta obra tão necessária aos nossos alunos de
todos os níveis, que pouco conhecem a pré-história brasileira,
nossas matrizes étnicas tão ricas e tão belas.
Ao povo Xukuru do Ororubá, e a língua de nossos
ancestrais que tão bela foi e se perdeu no tempo.
Aos meus queridos professores e alunos, nossos mestres
e grandes incentivadores, por todo seu carinho e amor.
A minha família: Adriana por seu amor, aos meus filhos
Pablo e Patrick e a minha nora querida Marciele.
A meus pais e irmã, min há referência de família e de
espiritualidade.
5

PREFÁCIO
Estando na docência há mais de trinta anos, percebo
quão raso e insipiente é a formação de alunos e professores,
quando se trata das nossas raízes e matrizes étnicas, é
necessário escrever livros, recontar esta história tão bela que
encheria de orgulho qualquer nação que a nossa foi única na
preservação de seus povos originários.
Apesar de toda brutalidade pela qual foram tratados os
indígenas nas diversas colônias, a monarquia portuguesa e os
jesuítas conseguiram feitos inigualáveis nas terras brasilis, o
de manter uma extensão continental, falando uma mesma
língua, ainda que com um regionalismo forte nos traços
linguísticos.
Somos a única nação do mundo que ainda tem 305 povos
indígenas, falantes de 274 línguas e pasmem, com 25 povos
isolados que nunca tiveram contato com seres humanos não
índios, isso só se encontra aqui, também somos a nação do
mundo que mais preservou suas florestas, e por conta disso
recebemos um crédito de carbono dos outros países.
Este livro tem a pretensão de fomentar a reflexão e um
olhar sobre a causa indigenista, suas riquezas culturais e a
beleza do ser índio, que encantou grandes escritores como José
de Alencar, Darcy Ribeiro, Curt Nimuendaju e tantos outros
que muito contribuíram com esse conhecimento.
6

Aos queridos leitores, incentivo que também escrevam


seus livros e contem suas histórias, um povo sem passado é
um povo sem chão.
7

DEDICATÓRIA
JOSÉ DE ZUZA
Ao amigo e irmão, companheiro de tantas lutas dedico esta

obra, pela gratidão de sua amizade, por seus ensinamentos e

principalmente por sua simplicidade.


8

APRESENTAÇÃO
Esta obra é fruto de uma longa caminhada de 30 anos de
pesquisa com índios no agreste e sertão de Pernambuco, onde
nasci junto ao meu povo Xukuru do Ororubá, e que é motivo
de minha luta no mundo acadêmico.
Também por graça de Deus tive a oportunidade de
trabalhar para o governo durante sete anos com os Yanomamis
na fronteira com a Venezuela, mais dez anos com os terena no
Mato Grosso do Sul, com os Guarani no Paraguai, também na
Bolívia, pesquisas com os mapuches argentinos, e com os
mapuches do Chile onde fiz meu mestrado presencial e me
apaixonei por aquele povo que até hoje me encanta.
As pesquisas que realizei os quase trinta livros que editei,
foram muito proveitosos para mim, as graduações, mestrado e
doutorado, tudo foi muito rico, o mundo acadêmico é propício
para a produção de publicações, de livros e tantos trabalhos
que é quase uma obrigação a um cientista, de humanas no
meu caso, ainda mais a paixão que tenho por pesquisas e
leitura, escrita de trabalhos me impulsionam a produção, e foi
isso que me levou a aprender a língua Tupi com o professor
Eduardo Navarro da USP, que tem diversas obras e cursos
sobre essa linda língua.
Aproveite caro leitor (a), desfrute destes trinta anos de
trabalhos com um olhar voltado a causa indígena, e a uma
língua tão bela que não encantou os jesuítas como se tornou a
língua do Brasil Colônia segundo Navarro (2013) e (2005).
9

CURRICULUM VITAE (Resumitivo e time line)

1 - Nome: Paulo Gabriel Batista de Melo


2 - Dados Biográficos

Data de Nascimento: 03/ 07/ 1968

Local de Nascimento: Pesqueira- PE


3 - Endereço:

Av Ayrton Sena 2023, bl 9, apt 103 - Nova Parnamirim -RN

Telefone Cel:(84) 9898-2459 Whatsapp

4 - Cursos de Pós Graduações, Graduações e técnicos :


Doutorando em Ciências da Educação pela FACEM (tese em construção)

Mestre em Educação pela Universidade de Santiago de Chile

“La construcción de libro didáctico específico utilizando las caciones indígenas


para mejorar la deficiente lectura y escritura”

Pós Graduação em Psicopedagogia - Universidade Católica de Campo Grande


– ms

“A relação familiar e a aprendizagem: uma abordagem do povo indígena


Xukuru do Ororubá”.

Licenciatura Plena em Pedagogia - Universidade Estadual do Vale do Acaraú


– PB

“O indigenismo no Brasil”
10

Licenciatura Plena em Teologia - Faculdade de Teologia e Ciências Sociais


do Recife

“Espitirualidade indígena”

Teologia Pastoral - EDAP – MS

“Os trabalhos e as missões com indígenas”

Graduando em História Universidade Estadual do Vale do Acaraú (4º período)

Curso de Direito Canonico - Mater Ecclesiae – RJ

Graduando em Filosofia UNINTER

Confêrencias, seminários e congressos

Congresso de Educação EDIME - PE

Congresso Teológica Dr Pereira - 60h

Seminário Pedagógico Dr Jean Pierre - 60h

Seminário Pedagógico Dr Dolle - 8h

Seminário Pedagógico Dr PHD Constantin Xipas - 15h

Seminário de Segurança de Voo - SERAC II - RF

Seminário de diagnóstico de dificuldade de aprendizagem - CASE-RN

Seminário de educação indígena e afrodescendente – IFRN

POSSUI AINDA OS SEGUINTES CURSOS TÉCNICOS:

Mecânico de manutenção aeronáutica: habilitação em GMP, CÉLULA E


AVIÔNICOS licença ANAC 19281

18 Cursos Técnicos na Aviação de asa fixa e rotativa, com 1500 Hs de vôo na


aviação de Busca e Salvamento
11

9 Cursos de Primeiros socorros - sendo um deles internacional

9 Estágios em diversas instituições do governo e privadas no Brasil e no exterior

Vários cursos operacionais de sobrevivência na selva, mar, gelo e deserto, dentre


eles: SAR, CIGS, Mergulhador e instrutor de busca, SAR e NVG, sobrevivência
no gelo FACH - Chile

Instrutor da aviação de Busca e Salvamento da Força Aérea (30 anos)

Cargos Exercidos

Professor de curso Aeroclube Recife 1996

Membro da Equipe de Resgate 7º/8º GAV - FAB 1990

Membro da Equipe de Resgate 2º/8º GAV - FAB 1996

Membro da Equipe de Resgate 2°/10° GAV - FAB 2006

Coordenador de curso AFAER - Recife 1996

Professor da Faculdade Teológica Helena Campo Grande MS 2005


Guerra

Professor do Aeroclube Natal Natal


atualmente

Professor do Curso Bíblico Capela da Aeronáutica Natal


atualmente

Cargos Atuais

Diretor Pedagógico da Kronos Consultoria e Assessoria

Palestrante de Educação, Filosofia, TIC da Kronos Consultoria e Assessoria

Coordenador de Simpósios, Congressos e seminários da Kronos Consultoria e


Assessoria

Encarregado da seção de Instrução Aérea da Base Aérea (1º/8º GAV)

Professor de Mestrado, graduação e de pós graduação da Faculdade FACEN,


CECAP, FACSIDRO
12

Professor de pós graduação da FMB

Professor de graduação de Teologia - Arquidiocese de Natal

Professor de Sociologia e Filosofia da Educação Básica

Professor de Educação digital do 6º ano á 2ª série do EM

Condecorações:

Força Aérea: Medalha Militar de Bronze e Medalha Militar de prata; Medalha


Bartolomeu de Gusmão e

Exército Brasileiro: Medalha do pacificador EB

Alguns dos Trabalhos Publicados recentes dentre 30 livros

LIVRO: A IMPORTÂNCIA DE CRESCER NA DOCÊNCIA: UM PLANO


PARA O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SECRETARIA EXECUTIVA DO
MEC EM 2020/22 (Portuguese Edition), October 22, 2020. PAULO
GABRIEL BATISTA (Author), DANIELE MIRANDA (Author).
ISBN: 9798551213727. Publisher: Independently published.
ASIN: B08LN5MXYQ. Columbia, SC. USA.

ARTIGO CIENTÍFICO: NOVO NORMAL DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA PÓS-


PANDEMIA (COVID 19): DOS MODELOS EDUCACIONAIS TRADICIONAIS
PARA UMA EDUCAÇÃO HÍBRIDA E MULTIMODAL. Daniele Tavares de
Miranda Correia. Paulo Gabriel Batista de Melo. Revista Diálogos em Educação.
22/10/2020. ISBN 978-65-87405-01-8.

LIVRO: Esquadrão Falcão: Égua do Esquadrão pai d’égua. (Portuguese


Edition) , October 7, 2020. PAULO GABRIEL BATISTA (Author), CLEBER
BRITO DANTAS GOES (Author), RODRIGO LUIZ MOUTINHO
RIGO (Author), DANIELE MIRANDA (Author). ISBN-13 : 979-
8694640527. Publisher : Independently published. ASIN
: B08KMKW41K. Columbia, SC. USA.

LIVRO: EL LIBRO DE LAS CANCIONES INDÍGENAS PARA MEJORAR LA


LECTURA Y ESCRITURA (Spanish Edition). ISBN-13 : 979-8687704953
Publisher : Independently published (September 18, 2020)Language: Spanish;
ASIN : B08JDTRGTJ. Columbia, SC. USA.
13

LIVRO: Personagens bíblicas da vida de Jesus: pessoas que Jesus tocou e


nós em uma reflexão teológica. ISBN-13 : 979-8685074287. Product
Dimensions : 20.98 x 0.79 x 29.67 cm. Publisher : Independently published
(September 10, 2020). Language: : Portuguese. ASIN : B08JF2DDT5. Columbia,
SC. USA.

LIVRO: Educação Indígena. ISBN-13 : 979-8681052388. Product Dimensions


: 8.26 x 0.22 x 11.68. inches. Publisher : Independently published (September
8, 2020). Language: : Portuguese. ASIN : B08HQ6WPX7. Columbia, SC. USA.

LIVRO: Uma pedagogia que salva vidas, voar para resgatar: Porque
salvar vidas (Portuguese Edition) / Paperback: 100 páginas /
Editora: Independently published (22 de agosto de 2020) /
Idioma: Portuguese / ISBN-13: 979-8677559792 / ASIN: B08GFRZFTX.
Columbia, SC. USA.

LIVRO: Indigenismo: nossos povos originários, uma historiografia


dos povos da América. Nossos ancestrais. Editora: Independently
published (26 de agosto de 2020) / Idioma: Portuguese / ISBN-13: 979-
8677688188 / ASIN: B08GLQXPQZ. Columbia, SC. USA.
LIVRO: Educação e cotidiano escolar. Melo IN Azevedo. João Pessoa:
CCTA – UFPB, 2020. ISBN – 978-65-5621-066-7. (07 de setembro de
2020)

DISSERTAÇÃO SOBRE INDIGENISMO USACH 2018

ARTIGO CIENTIFICO UCDB RELAÇÕES FAMILIARES 2014

Conferências Ministradas

Mais de cem conferências ministradas para o governo brasileiro em


diversas instituições escolares do Brasil e do Chile.

Informações Complementares

Sócio fundador e Diretor Padagógico da Kronos Consultoria e


Assessoria

Sócio fundador da AFAER - RF (Academia de Formação de Aeronáutas)


14

Trabalho voluntário: Doador de sangue e medula óssea - Membro da


Caravana da fé - Natal
Membro da Capelania da Aeronáutica de Natal

Blogueiro: http://sertaone.blogspot.com.br/ com 102 artigos publicados

E-mail: com; gabrielmelopaulo@gmail.com

TIME LINE ACADÊMICA

2020 Indicação pelo Comando da Aeronáutica para Ministro da Educação do


Brasil

III Simpósio de Iniciação a Pesquisa Científica– FACSU - 40H

I Seminário de Estudos sobre o Egito Antigo – UNINTER - 40H

Redação científica: uma prática necessária na vida acadêmica PHD


Damião Carlos

Congresso Internacional “um novo tempo na educação” – Instituto Casa


Grande

Membro da comissão permanente de formação arquidiocesana de Natal


para Diáconos permanantes

Ensinar e aprender em tempos de pandemia – FACSU – Dr. Álvaro Dias

Educação Política brasileira – Instituto Curseria (Alexandre Garcia)

Encarregado da Seção de Instrução Aérea na Base Aérea (1º/8º GAV)

I Congresso Estadual UDIME -PE

Professor de busca e salvamento Base Aérea de Natal

Gestão de conflitos. Módulo I. COC BY PEARSON

Doutorando em Ciências da Educação FACSIDRO


15

Professor de Mestrado CECAP, FACSIDRO em Natal - RN, Parnamirim -


RN e PB

Coordenador de Mestrado FACSIDRO

Professor do Aeroclube Natal

Desenvolvimento de leitura e escrita: o aluno como protagonista TEACHER


FLIX

Gestão de conflitos COC

Palestrante convidado da Força Aérea ALA 10

Professor Auxiliar do Doutorado em Educação FACSIDRO

Graduando em Filosofia UNINTER

Graduando em História UEVA

Palestrante para graduandos da UNINASSAU: Psicologia jurídica:


interpretando desenho-história

Auxiliar teológico da Base aérea e diretor espiritual

Auxiliar teológico do Salesiano Dom Bosco e diretor espiritual

Capacitação de professores da rede estadual de ensino. Parnamirim - RN

Palestra para escolas municipais de Parnamirim

Orientador de mestrado:

EIMAR:

Temática: Os obstáculos do gestor escolar nos dias atuais

LINHA DE PESQUISA: GESTÃO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

ADRIANA SOUZA:

Temática: Educação: a importância do/a assistente social no contexto escolar.

LINHA DE PESQUISA: AS POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO INCLUSIVA

TÂNIA SERPA: TITULADA COM LOUVOR

Temática: O Ponto de Vista do Aluno do Ensino Médio sobre as Tecnologias Digitais em Sala de Aula: Reorganizando o

conhecimento através da mediação do professor.


16

LINHA DE PESQUISA: GESTÃO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

IRAI LOPES:

Tema: O ESPECTRO AUTISTA E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS EM SALA DE AULA: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS ALTERNATIVAS QUE
ALFABETIZAM.

LINHA DE PESQUISA: GESTÃO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

GEOVÂNIA:

Temática da minha dissertação: Perspectivas e desafios da Educação Especial: um olhar para Sala de Recurso Multifuncional.

LINHA DE PESQUISA: Políticas Públicas de inclusão na Educação Especial.

SINÉZIA:

Temática da minha dissertação: Contribuições e restrições do ensino regular para a efetividade da prática pedagógica com alunos
deficientes do CMEI de Natal/ RN

LINHA DE PESQUISA: Políticas Públicas de inclusão na Educação Especial.

2019 Educação 4.0 K&M GROUP

Três importantes aspectos didáticos COC

Equipe de Alta Performance EI-SP

Psicologia e ciência da aprendizagem COC

Professor de Mestrado em Educação FACSIDRO

Professor de Mestrado em Educação FACSU

Coordenador de Mestrado em Educação FACSIDRO

Coordenação do I Simpósio em Educação 4.0 de Natal – Kronos

Palestrante no I Simpósio em Educação 4.0 de Natal: A importância das


TIC’s na educação – Kronos

Capacitação para gestores da rede pública municipal de Parnamirim – RN.


Kronos.

Capacitação de ética e profissionalismo – UPA de Emaús, Parnamirim –


RN. Kronos.
17

Formação Teologia pastoral Comunidade de Emaús. Parnamirim – RN.


Kronos.

Seminário de educação 4.0 Módulo único. K&M GROUP

Professor destaque PH3. Filosofia e Sociologia.

2018 Professor de Educação Digital habilitado pela Geekie One Brasil


Corporation

Professor de Escatologia no Seminário São Pedro – Natal RN

Professor da Escola Diaconal Aquidiocesana – Natal RN

Coordenador de formação permanente dos diáconos – Natal RN

Mestrado em Educação pela Universidade de Santiago de Chile 2018

Título de Máxima distinção no Mestrado da USACH – Chile:

“Conforme a lo dispuesto en el DFL N º 40 de 1981, del


Ministerio de Educación y em decreto universitário Nº 949 de
2006, certifico que com fecha de 10 de abril de 2018 se confirio
a don:

Paulo Gabriel Batista de Melo RUT nº2.306-K el grado de:


Magister em Educación con Mención em Currículum y
Evaluación Aprovado con Distinción Máxima. Secretário
General – Inscrito em los registros de esta Corporación”.
USACH

Professor de Educação digital Geekie One para educação básica (6º ano a
3ª EM)

Professor de filosofia e Sociologia da educação básica

Capacitação profissional teológica – Ministério da Defesa BR


18

Workshop para autores de livros INDIC RN

Mulheres Doulas – Câmara de vereadores de Parnamirim

Excelência em atendimentos FF RN

Professor da graduação de Pedagogia FACEM

Professor da graduação de Pedagogia FACEL

Professor da graduação de Serviço Social FACEM

Professor de Especialização em Psicopedagogia FMB

Coordenação de seminário para educadores da rede pública e particular


de ensino. Psicologia Jurídica: interpretando desenhos-história. Bom
Jesus – RN

Palestrante no seminário para educadores da rede pública e particular de


ensino. Psicologia Jurídica: interpretando desenhos-história. Bom Jesus –
RN

Palestrante e Coordenador do seminário para educadores da rede pública


e particular de ensino. Pedagogia empresarial. Tangará – RN

Sócio fundador da Kronos consultoria e assessoria – RN

Diretor pedagógico da Kronos consultoria e assessoria – RN

Palestrante e Coordenador do seminário para educadores da rede pública


e particular de ensino. Pedagogia empresarial. São Paulo do Potengi – RN

2017 Curso de Comunicação não violenta – NUPEMEC RN

Psicologia Jurídica – DALTIER RN

Palestrante no Curso de Formação de Pilotos – BASE AÉREA DE NATAL


19

2016 Seminário Diagnóstico Multiprofissional de Dificuldades de Aprendizagem


Prefeitura de Parnamirim

Espanhol módulos I, II e III - Babel

2015 Seminários de estudos Afro-Brasileiros e Indígenas IFRN

Aeronaves A-29 PAMA -LS

2014 Especialização em Psicopedagogia Universidade Católica MS

Instrutor operacional de Aviação 1000 horas de Vôo em Avião e Helicóptero


Base Aérea CG –MS

Transporte Aeromédico CASEVAC - ONU

Instrutor de Observação Aérea

Instrutor de Voo ANV UH-1H

Palestrante das emergências de voo do GITE Força Aérea

2013 Atendimento pré-hospitalar Nível III

2011 Direito Canônico – MATER ECLEIAE RJ

Teologia Bíblica – MATER ECLEIAE RJ

Pós Graduação em Psicopedagogia - Universidade Católica de Campo


Grande - ms

Palestrante do curso de tática aérea

2010 Graduação de Teologia pastoral EDAP-MS

Aeronave C-105 AMAZONAS PAMA SP

UP GRADE Aeronave C-105 AMAZONAS PAMA SP

POWER PLAINT SISTEM C-105 PAMA SP

Tripulante de voo Night Vision Google 5º/8º GAV

Atendimento Pré-hospitalar nível II

Night Vision Google para helicópteros 5º/8º GAV


20

Curso básico de corrosão em metais de aviação

Curso de adaptação ao Voo em ambiente se selva

2008 Operações helitransportadas PM - MS

2006 Graduação de Pedagogia – UEVA – PB

Aeronave SC-95 Base Aérea de Campo Grande MS

Busca e Salvamento aéreo 2º/10º GAV

Equipes de Contra incêndio Base Aérea de Campo Grande MS

Direção defensiva

2005 Aperfeiçoamento administrativo CAS EEAR SP

Analise Eletrônica de dados

Analise de dados em conflito

Professor da Faculdade Teológica Helena Guerra

2004 Graduação em Teologia FACTCS – PE

2003 Curso Construindo o processo Educativo

Gestores de Manutenção –SERAC II PE

Aeronave CH-50 2º/8º GAV

Medicina Aeroespacial

2002 Seminário Construindo o direito de aprender Dr. Jean Marrie Dolle

Seminário pedagógico Dr. Constantin Xipas

Módulo C-SAR 1/11º GAV SP

Instrutor de sobrevivência do BINFAE II

2001 Conferência teológica Dr. Antônio Valberto

Congresso Pedagogia da autonomia Dr. Jean Pierre/ Dr. Michel Soetard

Segurança de Vôo SERAC II PE


21

Socorro Hospitalar DIRSA RJ

Instrutor de emergências aéreas VARIG

Instrutor de emergências aéreas ATA LINHAS AÉREAS

Instrutor de emergências aéreas WESTON LINHAS AÉREAS

2000 Atendimento Pré-Hospitalar American Hert Association

Emergência aeroportuária INFRAERO PE

Padronização de instrutores de Vôo 2º/8º GAV RF

Atendimento Pré-hospitalar BO PE

1999 Jornada médica científica – Hospital de Aeronáutica RF

Primeiros Socorros EB PE

Coordenador de curso para tripulantes de Voo 1º/6º GAV

Professor do curso de Flight Atendent Aeroclube PE

Sócio fundador da AFAER Escolas de Aviação

Coordenador de Curso Flight Atendent AFAER Escolas de Aviação

Coordenador de Curso manutenção AFAER Escolas de Aviação

Palestrante das emergências dos esquadrões da Força Aérea

1995 Extensão em manutenção de aeronaves EEAR SP

1993 Sobrevivência Operações na selva CIGS

1992 Sobrevivência na selva CIGS CBT DE SV 1985 COS C

1991 Aeronave SH-1H Base Aérea de Campo Grande – MS

Monitor me resgate aéreo

1990 Mergulhador Livre, Autônomo e Escafadro BO - AM

Busca e salvamento eletrônicos DEPV RJ

Salvamento e resgate aéreo PARASAR RJ


22

Aeronave CH-55 7º/8º GAV FAB

1989 Aeronave t-27 Tucano Academia da Força Aérea

Mantenedor de aeronaves EEAR Força Aérea

1986 Programação COBOL – CEMEC- MG

1985 Técnico em Administração de Empresas

Curso de interpretação corporal FETEAPE


23

INTRODUÇÃO
No capítulo primeiro o leitor verá que após quinhentos
anos de extermínios indígenas não há um só ano que esses
povos não sofram com o descaso em suas terras, mesmo sendo
uma garantia constitucional no Art. 231.
Será apresentado no segundo capítulo as palavras que
falamos, 2.291 delas são de origem tupi, ou as falamos da
mesma forma que eles falavam como a palavra tatu, capivara,
e praticamente toda toponímia brasileira, uma vez que os
portugueses não mudaram os nomes dos rios e acidentes
geográficos.
Terá o leitor a oportunidade de ler no terceiro capítulo, que
“o tupi antigo ou clássico, falado por toda colônia brasileira nos
três séculos de sujeição a Portugal”, possibilitou um grande
acervo material e linguístico aos pesquisadores pós-modernos,
e a mim em especial pela farta quantidade de livros em
bibliotecas e museus brasileiros.
O quarto capítulo mostrará como é interessante perceber
como os costumes indígenas permanecem, as tradições,
quando comparando os escritos antigos do Frei Vicente de
Salvador com as observações aéreas que fiz nos trinta anos.
O último capítulo encontraremos a afirmação que o Brasil
provavelmente falaria a língua Tupi, não fosse a expulsão dos
jesuítas pelo marquês de Pombal, segundo afirma Dias (2021)
em sua tese de Doutorado pela UFCE, legando ao
esquecimento essa língua rica que faz parte do vocabulário do
Português do Brasil.
24

CAPÍTULO 1 JUSTIFICATIVA DO USO DA MATRIZ TUPI


PARA RESTAURAR O IDIOMA
Após quinhentos anos de extermínios indígenas não há um
só ano que esses povos não sofram com o descaso em suas
terras, mesmo sendo uma garantia constitucional no Art. 231
“os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente
ocupam”, e mesmo com a responsabilidade de cuidar para
garantir esse direito no mesmo artigo “competindo a união
demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”, os
homicídios contra os indígenas é sempre recorrente, e foi essa
perseguição que levou-os a perderem suas línguas, serem
extintos os seus povos e suas tradições.
O Cacique Chicão (do povo Xukuru do Ororubá) foi um dos
protagonistas junto a FUNAI e aos demais órgãos indígenas,
organizações não governamentais como o CIMI, ONU e outros
a lutar pela inclusão dos artigos 231 e 232 da Constituição
Federal de 1988, juntamente com outros caciques e lideranças
indígenas de diversos povos indígenas do Brasil, isto custou a
sua vida quando foi assassinado por um grande fazendeiro de
Pesqueira, local onde se encontra a demarcação do Povo
Xukurú do Ororubá, por este motivo no dia 20 de maio de
todos os anos diversos povos indígenas mandam suas
lideranças para o encontro dos índios do Nordeste que
acontece no espaço Munduruku no território Xukuru.
O Mandaru, como é chamado o cacique Chicão no seu
povo, afirmava em seus discursos que em suas conversas com
os anciãos eles relatavam que os fazendeiros agrediam
25

qualquer índio que falasse a sua língua materna, dançasse o


Toré sagrado, ou sequer fizesse qualquer referência que havia
índio em Cimbres, tudo isso levou com o decorrer dos séculos
ao distanciamento da cultura originária, até o nome das
aldeias foi mudado “São José, Santana, Boa vista, Caetano...”.
Conforme mostra Almeida (1997, p. 22) os índios se
escondiam para falar e cultivar suas tradições porque “muitas
famílias indígenas conseguiram manter suas tradições,
fazendo os rituais escondidos com medo de serem
descobertos”, os pais não falavam sobre os rituais com seus
filhos por medo deles serem agredidos, para a população de
Pesqueira de maioria católica, os rituais indígenas era coisas
do demônio.
Segundo Almeida (1997, p. 56) havia muita fartura antes
dos colonizadores chegarem e acabarem com todas as árvores
frutíferas para plantação de capim para alimentar o gado e
depois das cinco fábricas que chegaram na cidade de
Pesqueira, isso foi aos poucos substituído por plantações de
tomate, a matéria prima de maior uso nas fábricas da cidade,
entre elas Peixe LTDA, CICA, Peixinha, Tigre e a Rosa, todas
empregavam os índios como operários com salários indignos
principalmente nas lavouras de tomate onde muitos morriam
envenenados com a pulverização de agrotóxicos em larga
escala.
Os mais velhos contam que antigamente existia
muitas plantações como: café, banana e outras. Tudo
tinha muita fartura. Hoje em dia tudo é diferente só
existe capim, pertencente aos fazendeiros. Índio não
26

tem direito de plantar nada. [sic] Almeida (1997, p.


56)

Dessa forma justifica-se a utilização da matriz Tupi como


forma de se manter a cultura originária desse povo, através de
seu idioma e suas tradições orais. A língua e a terra para um
povo indígena são a fonte de suas culturas, qualquer um
destes que se perca ou se enfraqueça causará graves danos a
cultura imaterial de um povo originário que vive da tradição
oral passada para gerações sucessivas. A morte de um idioma
indígena já é o começo do fim daquela cultura como os
Charruas e outros casos Brasil a fora. Por este motivo
entraram na constituição no Art. 231 “são reconhecidos aos
índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam’ [grifo nosso]. Sem a terra e sem a
língua não se pode manter a tradição indígena.
A linguagem em uma sociedade ou comunidade originária,
é a forma de se manter a tradição e a cultura, segundo Laraia
(2001, p. 102) Heródoto filósofo grego buscou encontrar nas
sociedades da antiguidade uma língua que pudesse ser a
língua mater fazendo diversas experiências como isolar
crianças para ver o que falavam primeiro, e o que se pode dizer
de todas essas experiências é que “não há nenhuma língua
natural e, portanto, nenhuma língua orgânica” ou seja aquela
que seria a matriz de todas as línguas.
A etnolinguística por sua vez, nos mostra o quão
importante é a língua para a manutenção de um povo, em
27

especial os povos indígenas que em sua maioria possuem


apenas a tradição e a memória oral de seus costumes e
tradições, Curt Nimuendaju foi pioneiro no Brasil com seu
trabalho de identificação dos povos indígenas brasileiros e
suas línguas, deixando um mapa etnohistórico de grande
importância, adotado pelo Marecham Rondon, pioneiro do SPI
(Serviço de Proteção ao Índio) e posteriormente FUNAI.
Sobre esta temática afirma Laraia (2001, p. 103) que a língua
é comunitária e externa ao indivíduo:
A linguagem para o indivíduo humano como para a raça
humana, é uma coisa inteiramente adquirida e não
hereditária, completamente externa e não interna – um
produto social e não um crescimento orgânico.
Assim, entende-se que a linguagem é o que faz a tradição oral
dos povos indígenas ser mantida em constante evolução como
todas as línguas, e sem ela, perde-se o alicerce da cultura, a
língua para comunidades originárias nesse sentido chega a ser
mais importante do que em comunidades não tradicionais,
pois é através dela que se perpetua a cultura.
Com a invenção da fala que segundo Harari (2016, p. 30-
31) ocorre na espécie sapiens, que é uma das mais novas e
surge a cerca de 100 mil a.C., o homem se distancia dos
demais primatas e das outras espécies pela capacidade de se
articular, planejar e construir sua cultura em uma verdadeira
revolução, a cognitiva.
O surgimento de novas formas de pensar e se
comunicar, entre 70 mil anos atrás a 30 mil anos
28

atrás, constitui a Revolução Cognitiva. O que a


causou? Não sabemos ao certo. A teoria mais aceita
afirma que mutações genéticas acidentais mudaram
as conexões internas do cérebro dos sapiens,
possibilitando que pensassem de uma maneira sem
precedentes e se comunicassem usando um tipo de
linguagem totalmente novo. Poderíamos chama-las de
mutações da árvore do conhecimento [...] Nossa
linguagem evoluiu como forma de fofoca. De acordo
com essa teoria, o homo sapiens é antes de mais nada
um animal social.

Ou como dizia Aristóteles um filósofo grego da Idade


Antiga, “o homem é um animal político”, ou seja da Pólis, da
cidade, da sociedade e evolui como espécie quando se
comunica com os demais de sua comunidade, coisa que os
demais animais não humanos não conseguiram fazer, somos
os únicos do gênero homo, da espécie sapiens e da família dos
primatas a sobreviver.
Para Harari (2016, p. 7-8) ao desenvolver a cronologia da
espécie humana afirma que há 2,5 milhões de anos o gênero
homo se desenvolveu na África e criou ferramentas, há 200 mil
surge o homo sapiens e a 70 mil ocorre a revolução cognitiva,
há 13 mim anos a espécie homo floresiensis é extinta e os
sapiens são a única espécie de hominídeos que sobrevive,
tendo feito a revolução agrícola há 12 mil anos com a
domesticação de plantas e animais e criado o assentamento
permanente que originou as burgos e as cidades e a 5 mil
inventaram a escrita, o dinheiro e as religiões politeístas e
assim evoluiu a espécie humana.
Neto (2003, p. 14) afirma que a linguagem originou a
atividade humana, sem ela o homem não teria construído a
29

cultura como é vista hoje, foi a capacidade de se comunicar e


interagir que deu aos hominídios esse sistema de signos que
proporcionou ao homem planejar as atividades, as caçadas, a
construção de inventos e descobertas como o fogo, a roda, as
máquinas simples e as mais complexas, sua evolução foi
possível graças á linguagem.
Na origem de toda a atividade comunicativa do ser
humano está a linguagem, que é a capacidade de se
comunicar por meio de uma língua. Língua é um
sistema de signos convencionais usados pelos
membros de uma mesma comunidade. Em outras
palavras: um grupo social convenciona e utiliza um
conjunto organizado de elementos representativos.

Afirma ainda Neto (2003, p. 14) que língua é um


patrimônio coletivo e não individual, motivo pelo qual é aceito
e legitimado pelo grupo, ele é construído socialmente, embora
se possa usar individualmente para expressar a sua opinião,
mas ele estará contido em algo maior que é a língua de um
povo, e esta é de posse coletiva em constante mudança, sempre
se reinventando com o passar dos anos como é visto na
evolução de palavras como por exemplo ‘Vossa Merçê’, para
‘Vós Uncê’, ‘Voçê’, ‘Cê” e para os nativos digitais ‘Vc’, vendo
assim que a linguagem está em constante modificação, não é
algo estático.
Como a língua é um patrimônio social, tanto os signos
como as formas de combiná-los são conhecidos e
acatados pelos membros da comunidade que a
emprega. Individualmente, cada pessoa pode utilizar
a língua de seu grupo social de uma maneira
particular, personalizada, desenvolvendo assim a fala
(não confunda com o ato de falar; ao escrever de
forma pessoal e única você também manifesta a sua
30

fala, no sentido científico do termo). Por mais original


e criativa que seja, no entanto, sua fala deve estar
contida no conjunto mais amplo que é a língua
portuguesa; caso contrário, você estará deixando de
empregar a nossa língua e não será mais
compreendido pelos membros da nossa comunidade.

Ao se trabalhar um idioma ou mesmo a ‘difusão’ que se


propões esta tese, é importante diferenciar os termos como
propõe Neto (2003, p. 14-15) ao afirmar que Linguagem é
“capacidade humana de comunicar por meio de uma língua” e
que Língua é o “conjunto de signos e formas de combinar esses
signos partilhado pelos membros de uma comunidade”, que
por sua vez é diferente de Signo que é um “elemento
representativo; no caso do signo lingüístico, é a união
indissolúvel de um significante e um significado”, também é
necessário distinguir o termo Fala que é o “uso individual da
língua, aberto à criatividade e ao desenvolvimento da liberdade
de compreensão e expressão”.
Um autor português do Século XVII, afirmava segundo
Vasconcelos (2017, p. 66), que o estudo deveria primar pela
língua materna no Brasil e não pelo latim como faziam os
jesuítas. Mesmo naquela época havia a preocupação firme com
a língua, embora os jesuítas tivessem feito um trabalho
importante com a tradução e criação de uma gramática em
Tupi que foi importante para que hoje se tenha algum
conhecimento sobre a língua mais falada do período colonial
antes da chegada do Marquês de Pombal que destruiu tudo
que havia sido feito pelos jesuítas, colocando um fim na língua
31

Tupi falada na colônia. Os jesuítas defendia o latim e o Tupi, e


muitos defendias a língua portuguesa que era falada em
Portugal.
Autor português cujas ideias pedagógicas exerceram
forte influência no Brasil no século XVIII foi Martinho
de Mendonça de Pina e Proença (1693 – 1743), com
sua obra Apontamentos para a educação de um
menino nobre, de 1734 [...] Proença defendia a
prioridade da língua materna sobre o latim e
propunha conteúdos pragmáticos em substituição à
erudição vazia e distante da realidade vivida, como
era comum na educação jesuítica.

A linguagem foi estudada e trabalhada desde a


antiguidade como um elemento de afirmação cultural, gregos
chamavam outros povos de bárbaros, uma pessoa é
reconhecida como parte integrante de uma cultura quando ela
domina o idioma e é discriminada pela fala como por exemplo
quando nordestinos chegam a São Paulo, por isso Vasconcelos
(2017, p. 148) apud Ferdinand Saussure “considera a
linguagem como um sistema estruturado de significantes
(palavras) e no qual o significado de cada termo não é explicado
com base em suas origens históricas, mas em sua posição
diferencial em um sistema de signos”, numa abordagem
estruturalista, a ponto de Levi-Strauss interpretar as relações
de parentesco de sociedades tribais pelos termos linguísticos
tamanha é a sua importância.
Fato interessante é que em entrevistas semi-estruturadas
realizadas em Santiago no Chile muitos dos entrevistados
haviam mudado os nomes e sobrenomes para não serem
identificados como índios Mapuches, motivo pelo qual o Dr.
32

Juan Grau Vilarrubias precisou necessitou escrever uma obra


para não se perder os nomes indígenas no Chile com mais de
sete mil patronímicos derivados dos idiomas Mapudungún,
Quechua, Aimara, Kunza, Rapanui e muitos outros, conforme
afirma em Vilarrubias (2001, p. 3), e tamanha foi a dificuldade
e a importância de sua obra que a ONU o laureou com prêmio
“Global 500” em 1987 em sua primeira edição:
Como é lógico supor, a grande maioria dos nomes
encontrados correspondem ao mapudungún que é a
língua mais falada no Chile depois do casteliano e que
até pouco tinha um alfabeto moderno aceito por todos
[...] escrevemos os nomes conservando sua forma
original tal como encontramos nas atas de
nascimento, registros eleitorais, certidão de óbito,
títulos de propriedade e inclusive as listas telefônicas
modernas. [tradução nossa]

Tamanha é sua preocupação com as línguas indígenas que


o governo chileno lhe outorgou o Prêmio Nacional de Meio
Ambiente, por sua preocupação com a natureza e os povos
originários chilenos, afirma que se deve cuidar dos valores
étnicos e da cultura dos povos originários Vilarrubias (2001, p.
357) “devem ser cuidados os valores étnicos, entendendo-se
com eles todos os povos originários, com suas crenças,
expressões artísticas e, sobretudo sua linguagem”. [tradução
nossa]
Muitas leis são criadas no Brasil que se fossem efetivadas
poderiam ajudar diversas comunidades tradicionais, mas
entre a suam existência e a sua aplicabilidade há um espaço
abissal de interesses que se amontoam em dar ineficiência de
oportunidades ás culturas que a cada dia se somam em
33

extinção, temos ainda 305 povos indígenas, falantes de 274


línguas, mas nas próximas décadas teremos vários que não
existirão mais.
FIGURA 1: Políticas públicas e a cultura

Fonte: grupo de trabalho de doutorandos em políticas públicas


(2020)
34

1.2 A MATRIZ TUPI E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS


POVOS INDÍGENAS DO BRASIL
“Tupi or not tupi” that is a question, assim começa Navarro
(2005) a sua obra aludindo a Oswald Aranha afirmando que
“este era o dilema do Brasil”, segundo ele nem mesmo Manoel
Bandeira “deixou de se render a esta bela língua em seus
poemas:
“Terra de Tibiriçá, bacori, sapoti,
Terra da fala cheia de nome indígena
Que a gente não sabe se é fruta, pé de pau
Ou ave de plumagem bonita”.

Sempre que se quis afirmar a identidade nacional, afirma


Navarro (2013), o tupi foi recorrido em oposição a cultura
portuguesa e europeia, “o tupi foi, assim, um dos pilares sobre
os quais se construiu o próprio sentido de brasilidade”,
relembra o mesmo apud Villa-Lobos que em tempos de
globalização “somente se pode ser perfeitamente universal
voltando-se para os valores da terra”, que por sua riqueza “nele
podemos ver o rosto índio do Brasil e de todos os brasileiros”.
O Tupi foi o idioma mais importante para os povos
indígenas do Brasil, por sua grande influência na colônia, a
ponto de ter uma gramática naquela época e ainda na
contemporaneidade é evocado como o idioma da identidade
nacional, para Navarro (2013, p. XI) “é a língua indígena
clássica do Brasil, a que mais importância teve na construção
espiritual e cultural de nosso país”, o referido autor tem cursos
de Tupi em diversos departamentos de humanas na USP com
35

doutores especialistas nesse idioma, com gramáticas escritas,


com curso do idioma presencial e virtual.
Os povos litorâneos falavam todos o mesmo tupi, e bem
como nas cercanias como é o caso dos Xukurus que estão bem
próximo ao litoral, Navarro (2005, p. 11) que isso já era assim
desde o início, foi adotado por este motivo a língua usual por
dois séculos na Colônia, era mais fácil mil pessoas aprenderem
tupi do que ensinar cinco milhões de índios a falar o português.
Desde os primeiros tempos de colonização do Brasil,
constatou-se que, na costa brasileira, desde o Pará até o Sul
do país, aproximadamente até o paralelo de 27 graus (segundo
informações do cronista Pero de Magalhães Gândavo), falava-
se uma mesma língua.
O professor Doutor Navarro nas últimas décadas
aprofundou a linguística tupi, com assessoria de outros
doutores nas áreas de botânica e zoologia, linguística,
preposições e posposição do idioma, edições Tupi,
manuscritos, sinais convencionais, palavras pluriformes,
chaves de pronúncia, etimologias de antropônimos (nomes de
pessoas) e topônimos (nomes geográficos), além de vocabulário
português-tupi e dicionário tupi-português.
Para o estudo do tupi os topônimos são uma fonte
riquíssima de conhecimento, Navarro (2013 p. 538) apud Jean
Brunhes relata que “o topônimo é um verdadeiro fóssil
linguístico”, que em muito tem contribuído ao autor ao se
debruçar em cartas topográficas antigas pode estudar e
perceber erros de novos linguistas do tupi, como é o caso de
36

Silveira Bueno ao dar o nome de uma cidade de ‘Umuarama”,


como sendo derivada de “Umbuarama”, sem nenhuma ligação
com o tupi, e ainda cita o Pe. Anchieta ao pedir sua bênção
“Rogamos ao beato Padre José de Anchieta as suas bênçãos [...]
lidamos com as línguas tupi e guarani que ele cristianizou e
santificou” , sendo que o guarani é falado no Paraguai e por
índios daquela região, e sendo o Padre Montoya o gramático do
tupi, há ainda muita confusão entre estudiosos do tupi e do
guarani.
Afirma Navarro (2013, p. XI) que o Tupi foi e continua
sendo um idioma indígena de grande repercussão, dando
origem a muitas difusões linguísticas, tendo inclusive
contribuído para a unidade política, presente nos milhares de
nomes do português do Brasil, na comida, nos nomes das
cidades e na cultura.
Em poucos países da América uma língua indígena
teve a difusão que o tupi antigo conheceu,
contribuindo para a unidade política de nosso país.
Forneceu milhares de termos para a língua
portuguesa do Brasil, milhares de topônimos, esteve
presente na literatura colonial, no romantismo, no
modernismo [...] o tupi foi a referência fundamental
de todos os que quiseram afirmar a identidade
cultural do nosso país.

Dada a importância para a formação do povo brasileiro e


sua linguística o Tupi deveria ser trabalhado com mais
presença na educação nacional, já que milhares de palavras
são de origem desse idioma, para Navarro (2013, p. XI) apud
(Barbosa, 1956) diz que “o seu conhecimento, sequer
37

superficial, faz parte da cultura nacional, parece-se que no


Brasil o estrangeirismo é mais valioso que as raízes que
precederam a formação dos brasileiros, motivo pelo qual se
valoriza mais o que vem de fora do que o aquilo que está na
estrutura da formação do povo brasilis.
Em seu dicionário, Navarro (2013, p. XI e XII) descreve que
esse idioma pertence “à família linguística tupi-guarani, do
tronco tupi, o tupi antigo deixou de ser falado no final do século
XVII”, foi um idioma tão importante que “hoje são vinte e uma
as línguas que compõem aquela família linguística, algumas
faladas por menos de cem indivíduos”, mesmo assim é a língua
indígena com a maior quantidade materiais didáticos e textos
escritos, diversos dicionários, gramáticas, alguns construídos
ainda no Brasil Colônia.
O trabalho de Navarro (2013) é de natureza translíngue e
trazem informações “gramatical, semântica, pragmática,
histórica, antropológica e científica”, do tupi se desenvolveram
muitas línguas indígenas e pela proximidade com os povos
litorâneos e por serem uma nação de guerra, era comum os
Tupi’s fazerem contato com diversos povos no país inteiro, por
este motivo muitos idiomas indígenas e mesmo o português
está cheio de palavras de origem desse idioma.
A quantidade de erros encontrados nas obras que
apresentaram o tupi e suas significações segundo Navarro
(2013, p. XII) foram muitos, como por exemplo nos trabalhos
de “Plínio Ayrosa, em 1938, do Vocabulário na língua Brasílica
[...] no século XIX por Gonçalves Dias [...] mesmo a obra O tupi
38

na geografia nacional, de Teodoro Sampaio”, a obra mais


confiável é a de “Antônio Barbosa, professor de tupi antigo na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro”, nesta obra
Pequeno dicionário tupi-português, de 1951 e o de 1970, são
os únicos trabalhos confiáveis neste gênero.
Segundo Navarro (2013, p. XII), também não são confiáveis
os trabalhos da década de 70 dos autores Silveira Bueno
(vocabulário Tupi-Guarani-português) e Luís Caldas Tibiriça
(Dicionário Tupi-português), dessa forma havia uma lacuna
em aberto para preencher um dicionário da mais importante
língua indígena que forjou a identidade nacional.
Fato interessante descrito por Navarro (2013, p. XIV), e
ainda não encontrado por este pesquisador nos últimos 25
anos de pesquisa no Brasil em todos os estados, bem como em
literaturas estrangeiras da Argentina, Bolívia, Paraguai, Chile,
Colômbia e Uruguai é que o tupi era falado na colônia não
somente por índios mas também pela população em geral nos
séculos XVI e XVII, e continuou sendo falada por europeus e
africanos aqui chegados:
O léxico do tupi antigo reflete a cultura do Brasil nos
séculos XVI e XVII, fruto do encontro das culturas
europeias com a dos índios da costa e com culturas
africanas. A leitura do dicionário revela que o tupi
antigo já havia penetrado nos meios urbanos e era
falado também por não índios. Ele enriquece, assim,
o conhecimento sobre detalhes da vida cotidiana do
Brasil colonial.

Este trecho citado por Navarro é bem raro de se encontrar


na historiografia brasileira e indigenista, destarte,
39

encontramos apenas a língua portuguesa sendo largamente


utilizada, mas é de se repensar e refletir que com milhares de
índios tupi’s e bem poucos europeus que vinham para a
colônia brasilis, é de se esperar que a língua tupi fosse
predominante, porém uma história contada pelo dominador,
colonizador, certamente omitiria tal fato, e pior ainda
dificilmente iria admitir que se apropriou do tupi na formação
do português do Brasil, em especial com milhares de plantas e
animais estranhos aos europeus, não por acaso que o Dr.
Navarro necessitou de uma equipe multidisciplinar de
botânica e zoologia, e na linguística de equipes de lexicógrafos
em topônimos e antropônimos para concluir sua obra.
Até mesmo na catequese indígena, afirma Navarro (2013)
usava-se o tupi ao se explicar os sacramentos como neste
exemplo do sacramento da reconciliação (antiga Confissão)
“Oîkobé îemombe’u, mosanga mûeîrabyîara – Existe a
confissão, remédio portador de cura”, ou mesmo no juramento
do credo católico, juramento feito no recebimento das Órdens
sacras, no sacramento do Batismo (primeiro sacramento de
iniciação cristã católica) “Aé suí turi oîkobeba’e
omanôba’epuêra pabɛ̃ recomonhonangane – Daí virá para julgar
todos os que vivem e os que morreram”, ou mesmo na forma
dos sacramentais como a água benta “ ‘y i mongaraibypira
t’oîkó xe ‘anga rekobesamo – A água benta seja o meio de viver
de minha alma”.
Aryon Rodrigues, afirma Navarro (2013), ao perceber as
variações distópicas, dava margens a teorias infundadas que
40

havia uma outra língua Tupinambá, mas na verdade o que


ocorria era apenas uma variante do tupi e não outra língua
tupi, o tupi era apenas um, podendo ter variantes em regiões
diferentes, porém a estrutura lexical era mantida.
Nem mesmo dicionaristas do século XX como Nascentes e
Aurélio Ferreira descrevem com assertividade as palavras
portuguesas de origem tupi como é o exemplo de ‘caipira’,
Aurélio (2007) trás como significado “habitante do campo, da
roça”, mas sua verdadeira etimologia é em tupi provém de
“kopira o que carpe, o roceiro, do verbo tupi kopir que significa
fazer roça”, entender o tupi certamente dar-se-á uma melhor
noção das palavras do português brasileiro que tem sua origem
no tupi.
Muito da cultura indígena e suas línguas se perderam para
sempre, e junto com elas um pouco de nossa identidade, visto
que a cultura tradicional e originária mostra como viva os
ancestrais do povo brasileiro, com uma diversidade de
costumes ricos pela tradição histórica, mas que confinados ao
esquecimento pela falta pesquisa, cuidado, com pouca ou
quase nada de informações sobre diversas etnias como os
Guaianás, Goitacazes, Tremembés, etc. que segundo Navarro
(2013, p. XVI) não se tem registro.
Se nenhum registro temos hoje do que foi a língua dos
guaianás, dos Goitacazes, dos tremembés e de
centenas de outros grupos, cujas vozes silenciaram
para sempre porque ninguém nos legou nada de suas
gramáticas e de seus léxicos.
41

Navarro (2013) descreve que o Tupi era uma língua formal


no período colonial, estudado como disciplina acadêmica nos
colégios de São Paulo e da Bahia “com efeito, em 1556 iniciava-
se o curso de língua tupi no colégio da Bahia”, sendo uma
“obrigatoriedade” o “seu estudo para os membros da província
brasileira da Companhia de Jesus”, sendo inclusive motivo de
um candidato não ser admitido na ordem caso não soubesse a
língua tupi, “o conhecimento do tupi foi, desde logo, condição
sine qua non para a admissão de um candidato à Companhia
de Jesus”, já em 1568 era exigido para ordenação e profissão
dos votos perpétuos, sendo dispensado o latim caso o
candidato conhecesse e dominasse o tupi.
Certamente era uma língua corrente e usual na colônia, já
que a maioria dos povos indígenas do extenso litoral
dominavam o tupi, e os que povos indígenas que não tinham o
idioma em seu uso cotidiano o conheciam pelos contatos em
guerras e trocas de materiais entre eles, até a chegada do
Marquês de Pombal que expulsou os Jesuítas e todo trabalho
feito para construir dicionários em tupi, a fala da língua, tudo
ficava proibido, afirmam historiadores que a educação
brasileira estaria em outro nível não fosse a desconstrução de
escolas e faculdades que criavam a cada década os jesuítas,
com a Faculdade de direito de Recife e Olinda, de Salvador e
do Rio de Janeiro.
Uma das melhores obras de referência é do padre Leonardo
do Vale ‘Vocabulário na língua brasílica’, uma obra do início
do século XVII, “quando o tupi já penetrara meios urbanos e já
42

era falado por colonos europeus ou de origem europeia e por


escravos de origem africana”, também havia termos de fatos
“naturais e culturais não indígenas”, mas que definidos em
língua tupi como o alho, uma planta não nativa chamada em
tupi por ‘Ybarema que significa fruto fedorento.
Pombal desagradou índios, negros e europeus a ponto de
gerar ali o início da união nacional com o índio Felipe Camarão
e sua esposa Clara Camarão e seu povo oriundos dos
potiguaras dos atuais estado da Paraíba e do Rio Grande do
Norte, André Vidal de Negreiros Comandante e governador da
colônia, João Fernandes Vieira (português e senhor de
engenho em Pernambuco), Francisco Barreto de Meneses
(general nascido no Vice-reino do Perú), o negro Henrique Dias
(filho de escravos libertos) e Antônio Dias Cardoso (estrategista
português e militar), nascendo desse evento a união de todas
as matrizes étnicas dando início a unidade nacional e pela
primeira vez registrado o sentimento de patriotismo na Batalha
dos Guararapes.
Para Paiva (2013, p. 17) os holandeses eram protestantes
intolerantes com relação a religiosidade, tendo sido
responsáveis por diversos homicídios e chacinas a grupos
católicos e indígenas convertidos ou não espalhados pela
colônia, como foi o caso dos que a igreja católica chamou de
mártires de Cunhaú e Uruaçu, beatificados pelo papa João
Paulo II E canonizados santos os cento e cinquenta mortos
pelos holandeses calvinistas pelo papa Francisco, um deles
teve o coração arrancado pelas costas, tudo isso ocorreu em
43

uma celebração católica chamada missa e também pela “Lei nº


8.913 de 6 de dezembro de 2006, rezando os seguintes termos:
É decretado feriado estadual o dia 3 de outubro, para culto
público e oficial dos protomártires de Cunhaú e Uruaçu”.
Foram aproximadamente 150 ilustres potiguares
massacrados pelos holandeses e seus aliados, em
duas ocasiões, no Rio Grande do Norte: em 16 de
julho de 1645 acontece o massacre de Cunhaú, na
igreja de Nossa Senhora das Candeias. Das 69
pessoas assassinadas duas foram consideradas
beatas, o padre André de Soveral e o leigo Domingos
de Carvalho. Três meses depois, foi a vez do massacre
de Uruaçu, 28 considerados Mártires na fé.

Episódios com este foram desencadeando o


desaparecimento da língua, uma vez que os jesuítas eram os
principais responsáveis pela tradução, gramática, e ensino da
mesma, com a queima de livros e acervos em tupi pelo Marquês
de Pombal, não houve profissionais com conhecimento para
reconstruí-los, alegavam eles que isso era coisa do demônio, e
isso é tão fortemente arraigado que em uma formação de
professores na cidade de Parmirim em 2014 pela empresa
Kronos, relatou um secretário de educação municipal que uma
professora do município se negou a dar aulas sobre educação
indígena, africana e afro-descendente alegando que era coisa
do demônio, mesmo que isto esteja previsto na Lei 9.394, de
20 de dezembro de 1996 quando instituiu os artigos 26-A e 79-
B e a obrigatoriedade desse ensino nas escolas.
Diversos eventos que seriam impossíveis elencar todos
nesta tese, contribuíram para o desaparecimento do tupi e com
44

o passar do tempo e a perseguição dos fazendeiros nos sertões,


como foi o caso dos índios Xukurús do Ororubá, povo indígena
tratado nesta pesquisa, não podiam falar em sua língua
tradicional sob pena de espancamento e tortura, morte e
desterro, escravidão e outras punições e isso ocorreu até 1985,
com o despertar do povo através do trabalho de
conscientização pelo Cacique Chicão, que infelizmente custou
a sua vida e de dezenas de Xukurú’s mortos pelos fazendeiros.
Poucos índios, que eram chamados caboclos pelos
habitantes da cidade de Pesqueira, sabiam que eram índios, e
que tinham direitos a terem suas terras demarcadas, em
tratados internacionais, pois os artigos 231 e 232 só foram
incluídos na constituição de 1988, apenas os anciãos
continuaram dançando o Toré sagrado escondido nas matas
da Serra do Ororubá, e somente lá podiam falar em idioma
Xukuru, praticar seus rituais e tradições, os que eram
apanhados fazendo isso apanhavam e muitas vezes eram
presos e torturados, pois muitos habitantes achavam que eram
rituais demoníacos em uma total intolerância, fatos relatados
em diversas obras de historiadores pesqueirenses como Lígia
Melo, e escritores como Artur Valença e outros.
O recomeço do tupi no mundo acadêmico brasileiro
segundo Navarro (2013, p. XVIII) ocorre “em 1901, o
“engenheiro Theodoro Sampaio publicava O tupi na Geografia
Nacional, um marco no renascimento desses estudos no
Brasil”, sendo no século XX criada uma disciplina na USP em
45

1935 por Plínio Ayrosa, a primeira universidade a iniciar este


trabalho.
A questão da linguagem tratada por diversos filósofos,
etnólogos e etnógrafos requer um cuidado e uma preocupação
por sua relevância em uma cultura, fato que não ocorre
somente no Brasil entre povos indígenas, mas também por
minorias éticas em todo mundo e também apontado por Sowell
(2019, p. 141) quando aponta que:
Questões de linguagem não são peculiares aos negros
ou ao Estados Unidos. Elas têm polarizado
sociedades em todo mundo, algumas a ponto de gerar
tumultos e terrorismo, como na Índia, ou mesmo
décadas de guerra civil, como no Sri Lanka.

A Constituição Federal prevê em seu Art. 231 a


manutenção das terras e da língua indígena, pois elas são
imprescindíveis a um povo originário e sem elas ela é extinto,
a ligação do índio com a terra é diferente do não índio, a sua
ligação com esses dois é mais que espiritual é transcendente,
não há como separar e no povo Xukuru é exatamente assim.
O Censo realizado pelo IBGE EM 2000 mostra um grande
crescimento da população indígena “muito acima da
expectativa, passando de 294 mil para 734 mil pessoas em
apenas nove anos”, isso se deve não as novas taxas de
nascimento e de mortalidade, mas “a um possível crescimento
no número de pessoas que se reconheceram como indígenas,
principalmente nas áreas urbanas do país.
Após a Constituição de 1988, muitos índios perderam o
medo e a vergonha de se dizerem índios, tinham uma proteção
46

legal que antes era impossível, em virtude da grande


quantidade de índios assassinados, o que despertou cobranças
como a comissão de Direitos Humanos da ONU, e diversos
setores internacionais, como a OIT 169, levaram o Brasil a
reconhecer a dar garantias as populações indígenas, e isso fez
despertar o sentimento de indianidade em muitos, mesmo os
que moram nas cidades, não precisa morar na aldeia para ser
índio, agora ser índio está muito além da localização
geográfica, até porque muitos ainda não tem suas terras
demarcadas, segundo a FUNAI apenas 13% das terras foram
demarcadas, há muito ainda a fazer.
O Censo de 1991 e de 2000 não levou em consideração a
filiação étnica e linguística dos povos indígenas, porém no
Censo de 2010 “foi introduzido um conjunto de perguntas
específicas para as pessoas que se declararam indígenas, como
o povo ou a etnia a que pertenciam, como também, as línguas
indígenas faladas” e isso possibilitou um novo mapeamento da
linguística desses povos originários que concluiu haver
trezentos e cinco povos indígenas falantes de duzentas e
setenta e quatro línguas, dos quais vinte e cinco povos são
isolados, nunca tiveram contato com outros não índios.
Terra e língua são tão importantes que ao contrário da
população não índia que em sua maioria mora na cidade 84,4
%, o Censo 2010 constatou que das “896 mil pessoas que se
declararam ou se consideraram indígenas, 572 mil, ou 63,8 %
viviam em área rural e 57,7 % moravam em terras indígenas
oficialmente reconhecidas.
47

Segundo o etnólogo Curt Nimuendaju em IBGE (1987, p.


21 e 23) as línguas indígenas mais faladas em suas pesquisas
foram Tupi, Aruak (já extinta), Karib, Gê, Pano Tukana e
Zamuko, destaca-se que os povos litorâneos segundo Curt em
sua maioria falavam o Tupi, bem como povos próximos a eles
que desenvolviam pelo contato. Os trabalhos de Curt é
considerado pelo IBGE muito valioso porque “reúne o melhor
acervo étno-histórico indispensável e insubstituível para
qualquer pesquisa sobre as tribos indígenas da região
mapeada”, ainda descrito como “o mais significativo e
abrangente documento e testemunho do Brasil indígena”Ao
descrever reminiscentes indígenas em 1940 nos sertões de
Pernambuco Curt aponta como sendo os Fulni-ô os primeiros
indígenas a se encontrar, após isso a 228 km do litoral
encontra os Xukurú que ele descreve como “Sukuru (Cimbres),
visto que Cimbres era a cidade na época, hoje Vila de Cimbres
que fica dentro do território dos índios do Ororubá.
Essa proximidade dos Fulni-ô e Xukuru com os Tupi no
Litoral, já que eram povos vizinhos fez que houvesse um
intercâmbio cultural e linguístico, sem contar que muitos
Tupi’s com a colonização e a escravidão, bem como as mortes
por homicídio e doenças tenham fugido para o sertão e se
refugiado em terras desses povos.
Conforme pode ser visto na figura abaixo, é possível
destacar que os indígenas que moram em suas terras 57,3 %
falam sua língua materna enquanto os que não moram em
suas terras apenas 12,7 % falam o idioma nativo. Fica claro
48

que o fato de estar em suas terras demarcadas lhes é


proporcionado maiores condições de falar seu idioma.
O gráfico abaixo deixa claro ainda que índios moradores
fora de suas terras 87,3 % não falam seu idioma materno, a
terra indígena diferentemente dos não índios tem uma ligação
com o índio, sua cultura, suas tradições que não se poderá
encontrar em nenhuma condição quando fora da mesma, a
terra é um fator contribuinte para a manutenção de uma
cultura indígena.
FIGURA 2: distribuição percentual de indígenas que falam a
língua materna.

FONTE: IBGE, Censo demográfico 2010


49

CAPÍTULO 2 A IMPORTÂNCIA DO TUPI NA CONSTRUÇÃO


DA IDENTIDADE NACIONAL
Nos mostra Navarro (2013) que das muitas palavras que
falamos, 2.291 delas são de origem tupi, ou as falamos da
mesma forma que eles falavam como a palavra tatu, capivara,
e praticamente toda toponímia brasileira, uma vez que os
portugueses não mudaram os nomes dos rios e acidentes
geográficos, os mantiveram com os nomes tupis como
Guaratinguetá, Pindamonhangaba, Tatuapé e tantos outros
nomes de origem tupi.
E qual a falha educacional deste contexto? Não ensinamos
aos nossos alunos que muitas das palavras que usamos em
nosso português do Brasil, e em especial as relativas a fauna
e a flora, são de origem tupi, falamos tupi sem sabermos que é
tupi, e para reforçarmos os laços de nossa identidade cultural,
precisamos conhecer nossa origens, negar nosso passado é
desconstruir nossa cultura tão rica, o europeu chegou bem
depois, o africano chegou bem depois, mas o indígena sempre
esteve aqui, por isso temos mais base indígena do que qualquer
outra, pois o próprio africano aprendeu o tupi e depois o
português.
Ainda temos hoje em 2021, o quantitativo de 305 povos
indígenas, em sua maioria, vivem do estado do amazonas, são
falantes de 274 línguas e a maioria delas fala o tupi moderno,
conhecido como nheengatu, a versão mais moderna da língua
tupi, vejam que riqueza, ainda temos muitos povos indígenas
que falam tupi, seria um crime não trabalhar isso nas escolas,
50

devemos ter orgulho de nossas diferenças étnicas, elas são


nossa riqueza e não nossa fraqueza.
Nenhum país do mundo tem tamanha diversidade étnica
de povos originários, em pesquisas fora do Brasil percebi quão
rico somos, visitei países aqui que são vizinhos nossos que
dizimaram todos os seus índios, todos foram mortos.
Em minhas pesquisas no Ururguai, estudei a covardia da
batalha de Salsipuedes, onde foram exterminados os últimos
charruas, os quatro que sobraram, últimos de sua etnia, foram
trancados em uma jaula e vendidos para os zoológicos
humanos na França, meu repúdio a Pariz e sua
monstruosidade, levaram os últimos índios Charruas e a índia
Guianusa esta grávida, eles eram trancados em jaulas e as
pessoas pagavam para vê-los como se fossem animais, e essa
índia deu a luz dentro da jaula com todos assistindo, rindo e
comendo pipoca, no centro da cidade luz. E ainda se dizem
civilizados.
É claro que muitos povos indígenas da América eram
bárbaros também, principalmente entre os indígenas
americanos no Norte e no sul os Tamoios, Tupinambá e muitos
dos Tupi’s, escalpelavam suas presas humanas, retiravam o
couro delas ainda vivas, e esse nível de selvageria não concordo
também, mas a didática do Marechal Rondon foi totalmente
eficiente, pois quando seus colaboradores lhes perguntaram o
que deviam fazer se encontrassem índios, deveriam mata-los,
ele respondeu: “morrer se preciso for, matar nunca”, e assim
ele se encantou deles, e os índios se encantaram com suas
51

atitudes, assim como Darcy Ribeiro e Berta Ribeiro na mesma


linha, tiveram grandes amigos índios, inclusive o cacique ao
saber da morte de Darcy chorou e lhe fez rituais, pois tinha-o
em alta consideração.

2.1 AS LIÇÕES DE DARCY RIBEIRO E MARECHAL


RONDON
A civilização ocidental aprendeu com estes dois
indigenistas que é possível, conviver em paz com os indígenas,
ensinar-lhes primeiramente a escrever e ler na língua deles,
para somente depois ensinar a nossa língua.
Com o meu povo Xukuru ocorreu o contrário, os
fazendeiros para não declararem que havia índios nas suas
fazendas por medo de ter a terra demarcada, proibiram os
índios de falarem seu idioma, quem tentava falar era preso na
cadeia, apanhava e as vezes era morto, eu morei em frente a
cadeia pública de Pesqueira e ouvia os gritos de madrugada
dos índios apanhando, lembro até que uma vez o meu vizinho
era amigo do juiz e bateu na porta da delegacia e disse que se
não parassem no dia seguinte iria falar com seu amigo juiz e
denunciar todos eles, de repente eles pararam de bater nos
índios.
Lamentavelmente, desde abril de 1500 até hoje não houve
e não há um ano em que não ocorra assassinatos de índios, o
índio Galdino foi queimado vivo em Brasília, na Capital
Federal, e o assassino era filho de um juiz e hoje ele já está
solto.
52

2.2 RONDOM UM PACIFICADOR


Foi o Marechal Rondon que pela primeira vez trouxe
equipamentos de filmagem e gravação, dando origem ao
cinema nacional. Seu intuito, era filmar os índios no seu
habitat natural, mostrar aos brasileiros a nossa riqueza, e
depois do ataque ao Brasil pelos paraguaios, um período que
não havia estradas pelo centro-oeste, e as tropas eram
obrigadas a ir ao Paraguai pelo Rio da Prata, Rondon desbrava
o centro-oeste e o Brasil passa a ter acesso ao mais longínquo
rincão de nosso chão.
Seu contato com os indígenas nos deu a conhecer quantos
povos indígenas nos eram desconhecidos, e com que
pacificidade ele os acolheu, e até mesmo conviveu, deixando
um legado de paz a nossa civilização e a deles, não éramos
mais inimigos, mas filhos de uma mesma terra e de uma
mesma pátria chamada Brasil, muitos povos indígenas
lutaram na guerra do Paraguai para defender nossos
compatriotas sequestrados pelo terrível ditador Solano Lopez,
entre eles também foi sequestrado o governador da província
atual MS, e nessa época ainda não tínhamos com o Paraguai
um exército.
Por este motivo, do meu povo Xukuru, foram 72 índios
lutar na guerra, muitos tombaram na guerra, voltando apenas
12 índios que teriam suas terras demarcadas, promessa que
não foi cumprida e que só veio ocorrer em 2005.
Também muitos índios do meu povo foram lutar na
Segunda Guerra Mundial, mas o Brasil até hoje se nega a
53

contar os nossos feitos por questões ideológicas de governos


inescrupulosos, onde europeus comemoram até hoje os feitos
dos brasileiros, como a tomada do Monte Castelo na Itália,
todos os exércitos já tinham desistido de tomar o monte, mas
os pracinhas mesmo com centenas de baixas tomaram o
monte, os alemães rendidos chamavam os brasileiros de loucos
por entrarem na frente de uma metralhadora urrando sem
temos, isso os assustava, mas o Brasil não conta que seus
indígenas estiveram lá, um povo de sangue guerreiro, que mais
vale morrer com honra do que viver na desonra da derrota, o
poema de Y’JUCA PIRAMA nos mostra a desonra que é temer
a morte, esse é um retrato da força aguerrida do indígena.
LUTAR ATÉ A MORTE, isso está na cultura tupi e na alma
indígena, não há retroceder, apenas avançar.
Narra Gonçalves Dias que ao chorar ante a morte o índio
tupi desonrou seu povo, e ate mesmo seu pai o rejeitou.
Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas, Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo Da tribo Tupi.
Da tribo pujante, Que agora anda errante Por fado
inconstante, Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte, Sou filho do Norte;
Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas, De tribos imigas,
E as duras fadigas Da guerra provei;
Nas ondas mendaces Senti pelas faces
Os silvos fugaces Dos ventos que amei.
Andei longes terras, Lidei cruas guerras,
54

Vaguei pelas serras Dos vis Aimorés;


Vi lutas de bravos, Vi fortes — escravos!
De estranhos ignavos Calcados aos pés.
O pai ao saber que o índio seu filho fora morto, e por isso
os Timbira não o mataram, pois que chorasse ante a morte era
covarde e eles não o comeriam em ritual, seu pai ao saber se
envergonha do filho e o desterra, deserda-o.
“Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
Esse belo poema de Gonçalves dias, mostra a honra e a
fibra de guerreiros indígenas, que é melhor morrem com honra
a viver na desonra, mostra um pouco da identidade indígena,
da honra de seus rituais tão mal compreendidos e chamados
de canibalismo, bem diferente da antropofagia que eles
acreditavam receber a alma do inimigo corajoso e forte ao
consumir sua carne em um ritual, desde que o inimigo
mostrasse coragem.
Em meio a toda essa riqueza se infiltrou Rondon, o grande
pacificador indígena, que mostrou ao Brasil e ao mundo nossa
riqueza étnica de povos tão numerosos, que se cuidássemos
como deveríamos não se teriam extintos tantos deles, por
ganância de fazendeiros, grileiros e posseiros.
55

Como afirma (2021) Arioch1 em seu artigo, os grileiros


colocam uma escritura nova em caixa com grilos para que as
mesmas sejam envelhecidas pelos dejetos dos grilos, tornando-
as na época verdadeiras em virtude da falta de teste que
pudesse comprovar sua autenticidade.
Nas décadas de 1930, 1940 e 1950, como a garantia
de autenticidade de uma escritura levava em conta o
envelhecimento do papel, uma tática muito comum
de quem vinha para o Noroeste do Paraná invadir
terras consistia em passar fezes de grilo sobre o
documento forjado. Assim o papel rapidamente
amarelecia e logo era considerado como verdadeiro, já
que não havia recursos nem tempo para se avaliar
com mais esmero a sua veracidade. Alguns velhacos
também depositavam o documento dentro de uma
gaveta ou caixa com grilos – o que não apenas
amarelecia o papel como ajudava a dar um aspecto de
deterioração natural. A prática justifica a origem dos
termos “grileiro” e “grilagem de terras”.

Dessa forma, muitas terras indígenas foram tomadas e


seus índios mortos, os povos originários, nossos índios tem
muito mais direito do que qualquer outro que tenha vindo aqui,
ainda que escravo pelo seu próprio povo e vendido aos
europeus. Os africanos escravizavam seus povos em guerras
tribais, e os vendiam a outros países em um negócio rentável
para eles, o Europeu era um atravessador.
Em 1792 a Dinamarca foi o primeiro país a liberta seus
escravos seguidos por todos os países do mundo, e por incrível
que pareça a Mauritânia na África foi o último país que aboliu

1 Disponível em David Arioch – Jornalismo Cultural, Jornalismo Cultural. Usando fezes de


grilo para envelhecer uma escritura. https://davidarioch.com/2016/02/05/usando-
fezes-de-grilo-para-envelhecer-uma-escritura/
56

a escravidão, talvez por sua cultura ancestral, de escravizar


outras etnias. A escravização africana pelos europeus durou
300 anos, e findou-se com a Revolução Industrial pelos
próprios europeus.
Segundo o site infoescola2 veja a cronologia da escravidão
no mundo, e como os países africanos foram os últimos a
libertarem aqueles que eles faziam escravos.
Na Europa o Reino Unido prossegue com a mesma
mudança aprovada pelo Parlamento e
no Paraguai e Uruguai (1842) igualmente.
A França decretou o mesmo na Proclamação da
Segunda República Francesa (1848)
Em 1851 foi a vez do Equador e da Colômbia.
A Argentina fez o mesmo em 1853 com os negros e
afro-argentinos.
1854 a Venezuela, Peru e Portugal (afro-portugueses)
(1854) e a Rússia para com os brancos em 1861.
Em 1863 o Império Colonial Holandês e os E.U.A.
baniram a escravidão
Zanzibar (1873), Gana (1874), Turquia (1876)
e Cuba (1886).
No caso brasileiro o mesmo aconteceu em 1888
através da Princesa Isabel de Bragança pela Lei
Áurea.
Tunísia (1890). Gâmbia (1894), Madagáscar
(1897), China (1906),
Serra Leoa (1928), Nigéria (1936), Etiópia (1942).
Alemanha Nazi (1945), Marrocos (1956), Arábia
Saudita (1962) e finalmente Mauritânia (1981).
[grifo nosso]

Fatos como este corroboram a afirmação que os indígenas


brasileiros, nativos e originários são possuidores de mais

2
Disponível em https://www.infoescola.com/historia/cronologia-da-abolicao-da-escravidao-no-mundo
com acesso em 15 de fev 2021
57

direitos do que estrangeiros feitos escravos pelo seu próprio


povo.
58

CAPÍTULO 3 O TUPI NO BRASIL COLÔNIA


Segundo Navarro (2005) apud Cardoso A., “o tupi antigo
ou clássico, falado por toda colônia brasileira nos três séculos
de sujeição a Portugal”, possibilitou um grande acervo material
e linguístico aos pesquisadores pós-modernos, e a mim em
especial pela farta quantidade de livros em bibliotecas e
museus brasileiros, embora pouco divulgado nas escolas, nem
sequer entrou no programa nacional do livro didático, nas
faculdades não são estudados, os professores desconhecem
pois não veem na graduação e da pós em diante cada um tem
sua própria problemática que vai estudar e provavelmente
levar para mestrado, doutorado e PhD.
Perdemos assim a rica oportunidade de entender,
aprender e conhecer mais sobre a nossa história, a história do
nosso povo e nossa gente, e como diz nosso querido Darcy
Ribeiro sobre os índios em “O povo brasileiro”, gente que vivia
pra ser feliz, para curtir a vida, admirar o canto dos pássaros,
respeitando a natureza, preferiam sair e se mudar com toda
sua nação a ficar e explorar a terra até que virasse deserto
como fazemos hoje, exploramos os recursos naturais até que a
natureza grite.
Aprendi na teologia cristão que “Deus sempre perdoa, nós
perdoamos as vezes, mas a natureza não perdoa nunca”, se
jogamos lixo nos córregos padecemos com enchentes, se
destruímos a natureza o efeito global é imperdoável com o
aumento de temperatura, e assim a natureza reage, se
59

destruirmos o planeta nós é que morremos, o planeta em


menos de um milhão de anos terá se recuperado, assim
afirmam os cientistas.
Navarro (2005) apud Cardoso, afirma que o Padre José de
Anchieta produziu farta quantidade de material escrito em
língua tupi, como por exemplo uma bíblia em tupi antigo,
gramática para ensinar os índios a ler e escrever em tupi,
deixando um acervo gigantesco, que aos poucos foi se
perdendo, principalmente depois da expulsão dos jesuítas pelo
Marquês de Pombal.
Certamente muitos destes livros foram destruídos, o
português foi obrigatório na colônia, e os índios eram presos e
torturados para não falarem suas línguas, coisas do demônio
afirmavam os portugueses, também se apropriaram desse
discurso os fazendeiros, quando nasci em 1968 ainda
continuava essa prática, pois lembro do grito dos índios do
meu povo na cadeia pública sendo torturado, a mando dos
fazendeiros que não queriam perder suas terras, e se fosse
comprovado pelos antropólogos da FUNAI que havia resquício
de cultura indígena, a terra correria o risco de ser demarcada.
Alguns setores hoteleiros e gastronômicos valorizam a
cultura indígena no Rio Grande do Norte, como por exemplo o
restaurante Camarões, na Praia de Ponta Negra, com um
belíssimo painel no salão principal com uma pintura de
indígenas do período Brasil Colônia, e falantes do tupi antigo,
uma bela iniciativa de valorização da formação de nossa
identidade.
60

Foto do Autor

A FAZENDA
Monumento na entrada da cidade de São José de Mipibu

Foto do autor
61

Muitos historiadores como Boris Fausto em História do


Brasil, Darcy Ribeiro em O povo brasileiro, entre outros,
afirmam que a fazenda foi a fonte de todo conflito com os
indígenas no Nordeste, a pecuária e as fazendas de cacau e
outras culturas, foi aos poucos avançando nas terras dos
índios e expulsando-os gradativamente, muitos foram mortos,
outros tantos foram aculturados e perderam suas tradições,
que hoje alguns tentam retomar, e até já tem área demarcada
como é o caso do Povo Xukuru do Ororubá no agreste
pernambucano.
Encontrei diversos autores, renomados inclusive, que em
seus países são autoridades em falar de indigenismo, entre eles
está Carlos Martinez Sarasola, um antropólogo argentino que
construiu um obra de arte clássica, descrevendo todos os
povos indígenas argentinos e inclusive citando os números de
suas extinções por povo.
Do período que pesquisei os Mapuches argentinos a obra
de Sarasola “Nuestros paisanos los índios”, foi a minha base
de pesquisa bibliográfica e por sua riqueza eu até poderia dizer
documental, tamanha são as fontes citadas e os documentos
apresentados nessa obra.
Confesso que como pesquisador, nestes 30 anos de
pesquisa nunca encontrei uma coletânea de estudos e
pesquisas sobre o indigenismo em um país, embora tenha
estudado boas obras como as do Chile e seus indígenas os
Mapuches que na realidade se estendem por toda cordilheira e
continuam até a Patagônia argentina, do renomado Dr Chileno
62

Juan Grau V, em uma de suas obras “Voces indígenas de uso


común em Chile, um clássico que muito ajudou os povos
indígenas daquele país, bem como do pesquisador Uruguaio
do tempo que passei lá em pesquisas o escritor e pesquisador
Fernando Klein, com uma de suas obras de referência “Nuestro
passado indígena”, até mesmo as obras de Tzvetan Todorov
entre elas “A conquista da América”.

Foto do autor
De longe Sarasola é a mais completa obra da historiografia
e da antropologia dos povos indígenas de um país, ele escreveu
63

o primeiro livro durante dez anos, na sequência lançou o


segundo livro aos vinte anos de pesquisa e após trinta anos de
pesquisa juntou os três livros em um só, que é este que lhes
apresentei a pouco. Portanto a riqueza desta obra é
indescritível, e nos deixa entender a crueldade que havia dos
dois lados, de um lado uma cultura muito mais avançada com
armas que poderiam exterminar os indígenas em pouco tempo,
se aproveitando de sua docilidade, na maioria das etnias,
entretanto também havia em alguns povos indígenas um
requinte de crueldade como retirar o escalpe (couro da cabeça
com a vítima viva), ou retirar o couro de uma pessoas viva, por
mais que queiramos entender uma cultura não dá para uma
civilização concordar com atos que extrapolam as civilidade
humana e de ambos os lados houve barbáries, mas certamente
houve muito mais entre os europeus, se lermos a obra do
historiador gaúcho Pires (2000), “O descobrimento do Brasil”,
ele descreve tamanha barbárie praticada por europeus que
faria Hitler ser santo.
64

CAPÍTULO 4 A VIDA DOS INDÍGENAS NO BRASIL


É interessante perceber como os costumes indígenas
permanecem, as tradições, os costumes, comparando os
escritos antigos do Frei Vicente de Salvador com as
observações aéreas que fiz nos trinta anos trabalhando para o
governo junto aos povos indígenas.
Navarro (2005, p. 44) apud Vicente afirma sobre os índios
do período colonial:
Vivem em aldeias, que fazem cobertas de palma e de
tal maneira arrumadas que lhes fique no meio um
terreiro onde se façam bailes e festas e se ajuntem de
noite a conselho.

Perceba o leitor que o que descreveu o Frei Vicente,


continua no mesmo modus operandi dos tempos atuais, os
indígenas pré-colombianos ou os povos pré-históricos das
américas tinham por tradição ter suas tabas (grande palhoça
onde se moram muitas famílias de índios),dispostas em
círculos deixando o centro sempre livre para os seus festejos,
reuniões, aulas e toda manutenção da cultura que era passada
de geração á geração.
O leitor pode visualizar e comparar na fotografia abaixo,
os escritos do frei e a atualidade, percebendo que é mantido
toda cultura e toda tradição nos hábitos de moradia e
transmissão do conhecimento, a disposição das tabas de forma
circular demonstra que sua cultura e tradição se mantém da
mesma forma que a séculos passados.
65

Outro ponto interessante que sempre observo é a


proximidade de cursos de água, como a água é um bem
precioso e necessário a vida, suas tabas sempre estão
dispostas nas proximidades de cursos d’água para facilitar os
deslocamentos de canoa, cozinhar, beber e etc.

FIGURA 4: Aldeia do povo MENKRAGNOTI em 2014

Foto do autor: Observação feita com aeronave de observação


a 500ft de altura usando rádio altímetro

Abaixo vemos outra aldeia indígena no Norte do Brasil com


o mesmo dispositivo, disposta de forma circular, nas
proximidades de cursos d’água, com amplo espaço ao centro
para a realização de seus rituais, dessa forma vemos como é
66

conservada a tradição milenar dos povos indígenas desde


longas datas.

FIGURA 4.1: Aldeia do povo MENKRAGNOTI

Foto do autor: Observação feita com aeronave de busca a


500ft de altura

4.1 A MANUTENÇÃO DAS TRADIÇÕES INDÍGENAS NO


DECORRER DOS SÉCULOS
Navarro (2005, p. 58) apud Gândavo3 relata que os índios
vivem segundo a lei da natureza, e mantem os mesmos
costumes e tradições com pouca ou quase nada de alteração
no decorrer dos séculos, o que lhes causa certo espanto, dada

3 Conferir em Navarro (2005, p. 58) apud Pero de Magalhães Gândavo in História da


província de Santa Cruz.
67

a rapidez com as mudanças ocorreram na Europa: “porque


todos (esses índios) são iguais e em tudo tão conformes nas
condições que... vivem justamente e conforme a lei da
natureza”.
4.2 OS TEMORES DOS ÍNDIOS COM AS FERAS
PREDADORAS
Navarro (2005, p. 107) descreve o temor que os índios
tinham pelos felinos predadores, em especial aqui no Brasil
pela onça, os diversos tipos de onças que existiam na época,
seja pintada, suçuarana entre outras, vejamos: “os selvagens
temem essa fera, pois vive de presa como o leão e, quando pode
agarrar algum índio, o mata, despedaça e devora.
Uma das tecnologias de defesa que aprendi nos cursos de
sobrevivências, necessários e exigidos aos funcionários do
governo que operavam na Amazônia e que são fruto do
conhecimento indígena, era que a onça não atacava quando se
andava pelo menos em dupla, então era regra de segurança
nas aldeias que passei jamais andar sozinho e isso os setores
do governo responsáveis por esta instrução, como o CIGS do
EB, ensinam estas práticas que certamente foram
desenvolvidas pela necessidade de sobrevivência dos índios.
Um dia em umas dessas andanças com um especialista na
selva, nos deparamos com uma onça pintada, não a víamos
mas sentíamos seu forte odor, e ouvíamos seus esturros, como
estávamos em dupla ela não atacava, mas em dado momento
ele quis correr e eu o segurei dizendo que devíamos andar
juntos ou ela nos devoraria, o animal acabou indo embora.
68

Nossas vidas foram salvas fruto do conhecimento agregado


e desenvolvido pelos indígenas no decorrer dos séculos com
esse lindo animal, a onça. Todas estas informações de como
sobreviver estão escritos em um dos meus livros. Este na foto
abaixo. Ele é um manual de sobrevivência na selva, no mar, no
gelo e no deserto, pois em todos estes ambientes eu fiz cursos
de sobrevivências no Brasil e em outros países, ao que possam
se interessar, boa leitura.
69

Devido ao conhecimento indígena, o Brasil criou um centro de


instrução de sobrevivência na selva, dando cursos para
empresas brasileiras e estrangeiras de como sobreviver na
selva, entre elas a Petrobrás, as construtoras que operam na
Colômbia e África como a Odebrech, Andrade Gutierrez e
outras, e todos esse conhecimento é fruto da tecnologia
desenvolvida pelos índios em milênios.

O patrono do curso é o índio Ajuricaba, todo conhecimento


dos indígenas, inclusive muitos indígenas conhecidos por
caboclos dão aula, ensinam a arte da caça e da pesca, técnicas
70

de reconhecimento de trilhas de animais e pessoas, uma gama


tão grande que profissionalmente o curso leva em torno de 11
semanas com aulas manhã, tarde e noite.

Foto do autor

Este abrigo é conhecido no Brasil por rede de selva, um


abrigo que pode ser dobrado e cabe na mochila, de extremo
conforto, comparado as intempéries da selva, proporciona
abrigo para uma pessoa.

Porém, os indígenas façam abrigos temporários usado as


folhas de palmeiras, e recursos naturais usados por gerações,
diversos tipos de abrigos são confeccionados por eles que
variam em forma e tamanho, dependendo do tempo que ficarão
71

naquele local, quantas pessoas deve abrigar, como pode ser


visto na foto abaixo.

Tapiri duas águas 2º/10º GAV

Tapiri nativo – foto CIGS


72

Um abrigo temporário muito feito pelos índios para passar


uma chuvarada, ou quando ficam pouco tempo em uma área
é o Rabo de Jacú em alusão a cauda do pássaro de mesmo
nome.

Foto CIGS

Todo conhecimento que temos não somente da arte da


sobrevivência, mas também da farmacologia é graças a
sabedoria indígena com seus poderosos anestésicos, muitos
ainda desconhecidos da ciência, mas que aprovados no
73

decorrer de milênios por diversas gerações que descobriram


esses conhecimentos tão importante para o viver dos índios.

Esses poucos 30 anos que convivi com indígenas me faz


ver o quanto os europeus deixaram de aprender uma cultura
milenar tão rica quanto a cultura oriental, dona de seus
saberes reconhecidos por sucessivas gerações de índios que as
desenvolveram.
74

CAPÍTULO 5 TRABALHANDO O TUPI NO POVO XUKURU DO


ORORUBÁ

Historiadores afirmam que o Brasil provavelmente falaria


a língua Tupi, não fosse a expulsão dos jesuítas pelo marquês
de Pombal, segundo afirma Dias (2021) em sua tese de
Doutorado pela UFCE4.

Na segunda metade do século XVIII, a relação da


Companhia de Jesus com a coroa portuguesa muda
consideravelmente, e, em consequência dessa
mudança, as atividades apostólicas e educacionais
dos agentes de confiança da ação evangelizadora da
Igreja e do projeto colonizador da Coroa também
mudam. Acusados de responsáveis pelo atraso na
educação e de estarem formando um Estado com
língua, economia e governo próprio dentro da colônia,
os inacianos foram considerados uma ameaça tanto
para a Igreja como para o Estado, portanto, inimigos
e passivos de serem expulsos do domínio português
[...] A expulsão dos Jesuítas é o resultado de um
complexo movimento ideológico, que sinaliza uma
mudança de paradigma sócio-político-cultural que
inclui religião e economia e é definidor das relações
entre Estado lusitano e Companhia de Jesus; e
reforço na busca de consolidação de uma novidade na
forma de ser do Estado absolutista [...] a expulsão dos
Jesuítas do Brasil em 1759.

Os jesuítas primavam pela manutenção da educação e


catequese em língua nativa, motivo pelo qual estudaram o tupi
e aprofundaram seus estudos, escreveram a gramática tupi, a

4Dias, Roberto Barros. História da expulsão dos jesuítas da Capitania de Pernambuco


e anexas (Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte) em 1759: a disputa política e os
domínios da educação. Disponível em
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/25070 com acesso em 15/02/2021.
75

Bíblia em tupi, que está no museu do índio em Brasília, um


lindo museu que deve ser conhecido por todos os que querem
se aprofundar nesta temática.

FOTO: Bíblia em língua Tupi - Pe José de Anchieta -museu


do índio Brasília

Foto do autor

5.1 Tabela de aulas estudadas pelo povo Xukuru e sua


evolução
Navarro (2013, apud Barbosa 1956), relata que em
poucos países, principalmente da américa uma língua teve a
importância que conseguiu ter o tupi no Brasil, ao ser
76

estudada, falada e tida como língua nacional, porém esquecida


pela nossa cultura, destarte “o tupi foi a referência
fundamental de todos os que quiseram afirmar a identidade
cultural de nosso país. o seu conhecimento, sequer superficial,
faz parte da cultura nacional”.
Afirma Navarro (2013), que essa importante língua
nacional fez parte dos maiores movimentos nacionais como:
modernismo, romantismo e a literatura colonial, diversos
escritores clássicos utilizaram essa língua em seus escritos.
Realizaram estudos com o Curso Método Moderno de
Tupi Antigo, as professoras da aldeia São José e Couro Danta,
bem como as índias Vaniele que não é professora e a índia Ceça
também não docente. O curso foi esquematizado pelo Dr.
Eduardo Navarro com um livro de lições na língua tupi, um
dicionário tupi e videoaulas, bem como a retirada de dúvidas
pelos canais de comunicação e redes sociais, perfazendo um
total de 37 lições, e dois cadernos com listas de exercícios.

TABELA 5
AULA ASSUNTO OBSERVAÇÕES

Aula 1 Introdução Apresenta o curso e a sua


metodologia da aprendizagem da
• Foi apresentado a metodologia Língua Tupi.
do curso, bem como os
materiais didáticos a serem
utilizados: livro 1- Curso de
Participantes: professores da
método moderno de Tupi
Aldeia São José, Couro Danta e
antigo; 2- Dicionário Tupi
a índia Vanielle e Ceça e o
Antigo.
pesquisador e descendente
• Apresentadas as vídeo aulas
indígena Gabriel.
gravadas para serem
estudadas em conjunto com
cada lição.
77

Aula 2 Chegam os portugueses Estuda os relatos das primeiras


conversações dos portugueses
Capítulo 1 Estrutura: com os indígenas do litoral
• Texto / nomes e verbos / brasileiro.
explicação gramatical /
• Transformações fonéticas /
posposição em tupi /adjetivos Participantes: professores da
/ toponímia Aldeia São José, Couro Danta e
• Exercícios e a índia Vanielle, Ceça e o
• leitura complementar: Carta pesquisador e descendente
de Pero Vaz de Caminha a D. indígena Gabriel.
Manuel.

Aula 3 Reritiba Esta lição estuda a conversação


dos nomes de lugares e próprios
Estrutura: em um colóquio com os índios
• Texto / nomes e verbos / falantes do tupi antigo.
explicação gramatical /
• os possessivos
• transformação fonética Participantes: professores da
• nomes possuíveis e não Aldeia São José, Couro Danta e
possuíveis a índia Vanielle, Ceça e o
• transformações fonéticas: pesquisador e descendente
composição, com indígena Gabriel.
partículas e ênclises
• a interrogação em tupi
• pronomes e advérbios
interrogativos
• exercícios
• toponímia
• leitura complementar

Aula 4 O menino Pindobuçu Estudou-se nessa lição os


hábitos dos pequenos cunumins
Estrutura: (crianças), tendo como exemplo o
• Texto / nomes e verbos / menino Pindobuçu.
explicação gramatical /
• Verbos transitivos
• transformações fonéticas Participantes: professores da
• colocação dos termos da Aldeia São José, Couro Danta e
oração em tupi a índia Vanielle, Ceça e o
• toponímia pesquisador e descendente
• leitura complementar indígena Gabriel.
• exercícios
78

Aula 5 Em Upanema Essa lição apresenta a toponímia


brasileira, forte herança da
Estrutura: língua tupi.
• Texto / nomes e verbos /
explicação gramatical /
• toponímia Participantes: professores da
• leitura complementar Aldeia São José, Couro Danta e
• exercícios a índia Vanielle, Ceça e o
pesquisador e descendente
indígena Gabriel.

Aula 6 A chegada do Abaré Vimos nessa lição a conversação


da chegada do Padre Lourenço
Estrutura: na aldeia onde é recebido por
• Texto / nomes e verbos / Cunhanbebe.
explicação gramatical /
• Verbo irregular ‘U – comer,
beber, ingerir Participantes: professores da
• Verbo irregular Îur / ur (a) Aldeia São José, Couro Danta e
• Modo imperativo: formas a índia Vanielle, Ceça e o
irregulares do imperativo, pesquisador e descendente
a conjugação negativa do indígena Gabriel.
modo imperativo
(NA/NDA)
• Transformação fonética
• leitura complementar
• exercícios

Aula 7 Tupã nhe’enga Padre Vieira é apresentado aqui


em sua catequese para converter
Estrutura: os índios.
• Texto / nomes e verbos /
explicação gramatical /
• Os substantivos Participantes: professores da
pluriformes Aldeia São José, Couro Danta e
• Os substantivos a índia Vanielle, Ceça e o
pluriformes irregulares pesquisador e descendente
• Os substantivos indígena Gabriel.
transitivos
• Os numerais
• O modo permissivo
• Vocabulário de nomes e
verbos
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 8 Îagûara Îagûara, é onça em tupi, dela se


derivou na Europa a palavra
Estrutura: jaguar, de origem tupi. Fala-se
nessa lição sobre as caçadas dos
79

• Texto / nomes e verbos / índios e os animais selvagens da


explicação gramatical / floresta.
• O tempo nominal em tupi
• Transformações fonéticas
• A forma substantiva do Participantes: professores da
verbo Aldeia São José, Couro Danta e
• Verbos pluriformes a índia Vanielle, Ceça e o
• toponímia pesquisador e descendente
• leitura complementar indígena Gabriel.
• exercícios

Aula 9 O Curupira A riqueza do folclore indígena,


que chegou até nós e faz parte de
Estrutura: nossa cultura é o ponto alto
• Texto / nomes e verbos / desta aula.
explicação gramatical /
• O folclore na língua tupi
• Verbo irregular: estar Participantes: professores da
deitado. Aldeia São José, Couro Danta e
• Adjetivos pluriformes a índia Vanielle, Ceça e o
• Pronomes pessoais do pesquisador e descendente
caso oblíquo indígena Gabriel.
• Os graus do substantivo
• Transformação fonética
• A conjugação ‘mas’ em
tupi
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 10 Ao pé do fogo Vimos nessa lição o medo dos


índios de andar a noite, por
Estrutura: medo de Anhanga (diabo),
• Texto / nomes e verbos / criatura má da floresta, também
explicação gramatical / o curupira e outros.
• O futuro dos verbos
• Tema verbal incorporado
• As posposições Participantes: professores da
pluriformes Aldeia São José, Couro Danta e
• A forma negativa com RUÃ a índia Vanielle, Ceça e o
• Predicativos do pesquisador e descendente
substantivo indígena Gabriel.
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 11 Canção de amor A musicalidade tupi é


apresentada nesta lição, suas
Estrutura: lendas, tradições e costumes.
80

• Texto / nomes e verbos /


explicação gramatical /
Participantes: professores da
• Pronomes pessoais
Aldeia São José, Couro Danta e
objetivos
a índia Vanielle, Ceça e o
• O imperativo e o
pesquisador e descendente
permissivo na forma
indígena Gabriel.
negativa
• O sufixo -E'YM com ideia
de privação
• Interrogativos
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 12 A caçada É narrado nesta aula as


conversas entre Pindobuçu e seu
Estrutura: pai, e a arte de ensinar aos filhos
• Texto / nomes e verbos / a sabedoria da caçada, dos
explicação gramatical / trabalhos em grupos.
• O gerúndio
• Morfologia do gerúndio
• Transformação fonética Participantes: professores da
• Gerúndio com verbos Aldeia São José, Couro Danta e
transitivos e intransitivos. a índia Vanielle, Ceça e o
• Vocativo pesquisador e descendente
• Nomes de parentesco indígena Gabriel.
• toponímia
• exercícios

Aula 13 A pescaria A atividade de pesca para os


índios era ensinada
Estrutura: pedagogicamente, suas
• Texto / nomes e verbos / metodologias e a construção de
explicação gramatical / ferramentas para a atividade
• Gerúndio de verbos com pesqueira.
tema terminado em
consoante.
• Gerúndio de predicados Participantes: professores da
nominais. Aldeia São José, Couro Danta e
• Forma negativa do a índia Vanielle Ceça e o
gerúndio. pesquisador e descendente
• conjugação perifrástica do indígena Gabriel.
gerúndio.
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 14 Ybyrapytanga A extração de madeira escassa


na Europa é um dos pontos
Estrutura: chaves desta lição, como o pau-
81

• Texto / nomes e verbos / brasil que era considerada como


explicação gramatical / o carvalho na Europa.
• Verbo irregular ‘AB –
cortar, abrir, rachar,
fender. Participantes: professores da
• Modo indicativo Aldeia São José, Couro Danta e
circunstancial. a índia Vanielle, Ceça e o
• Morfologia com verbos de pesquisador e descendente
1ª classe. indígena Gabriel.
• Morfologia com verbos de
1ª classe.
• Sintaxe.
• O verbo ‘I/’É e suas
particularidades
• O gerúndio do verbo ‘I/’É
• Discurso direto/indireto
• Partículas É / AÉ
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 15 É guerra As guerras entre os tupis era


rotineira. Este capítulo descreve
Estrutura: diálogos de guerra desse povo,
• Texto / nomes e verbos / seus rituais antropofágicos e a
explicação gramatical / importância da guerra.
• Formas verbais e nominais
• Verbos irregulares
• Transformações fonéticas Participantes: professores da
com -MO Aldeia São José, Couro Danta e
• Verbo ‘I / É como auxiliar a índia Vanielle, Ceça e o
• O pronome reflexivo em pesquisador e descendente
Tupi indígena Gabriel.
• O indefinido OPÁ e suas
particularidades.
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 16 O Îuká-pyr-ama O foco desse capítulo são os


prisioneiros, e os rituais
Estrutura: antropofágicos, Ijuca Pirama é
• Texto / nomes e verbos / originário dessa tradição.
explicação gramatical /
• Nomes derivados de Ba’e
• Transformação fonética Participantes: professores da
• A voz causativo-comitativa Aldeia São José, Couro Danta e
• Verbo IKÓ com posposição a índia Vanielle, Ceça e o
• toponímia pesquisador e descendente
• leitura complementar indígena Gabriel.
82

• exercícios

Aula 17 Fazendo cauim Esta lição tem como foco a


culinária indígena tupi, em
Estrutura: especial a bebida que tem por
• Texto / nomes e verbos / base a mandioca, conhecida hoje
explicação gramatical / no tupi moderno por Caxiri.
• Verbo irregular EÎ (ÎO-S)
lavar
• Nomes derivados com Participantes: professores da
(S)AR(A) Aldeia São José, Couro Danta e
• Transformações fonéticas a índia Vanielle, Ceça e o
com com (S)AR(A) pesquisador e descendente
• Orações subordinadas indígena Gabriel.
adverbiais temporais em
tupi
• Orações subordinadas do
Português em tupi
• A construção Monhang
• toponímia
• leitura complementar
• exercícios

Aula 18 Abá-poru

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 19 A pajelança

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 20 Um funeral

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 21 O mito de sumé

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical /
83

• exercícios pesquisador e descendente


indígena Gabriel.

Aula 22 O boi tatá

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 23 A terra sem mal

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 24 O padre poeta

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 25 Tupã sy-eté

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 26 O Pai Nosso

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 27 Pitanguĩ-moraûsubara

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 28 Colóquio da chegada ao Brasil

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical /
84

• exercícios pesquisador e descendente


indígena Gabriel.

Aula 29 Colóquio da chegada ao Brasil


(II)
Participantes: professores da
Estrutura: Aldeia São José, Couro Danta e
a índia Vanielle, Ceça e o
• Texto / nomes e verbos / pesquisador e descendente
explicação gramatical / indígena Gabriel.
• exercícios

Aula 30 Karaibebé

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 31 Na aldeia de guaraparim

Estrutura:

• Texto / nomes e verbos / Participantes: professores da


explicação gramatical / Aldeia São José, Couro Danta e
• exercícios a índia Vanielle, Ceça e o
pesquisador e descendente
indígena Gabriel.

Aula 32 No horto

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 33 Monólogo de Guaixará

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, pesquisador e
explicação gramatical / descendente indígena Gabriel.

Aula 34 A negação de pedro

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 35 Na corte do rei da França


85

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 36 Carta do índio Diogo Camarão

Estrutura: Participantes: professores da


Aldeia São José, Couro Danta e
• Texto / nomes e verbos / a índia Vanielle, Ceça e o
explicação gramatical / pesquisador e descendente
• exercícios indígena Gabriel.

Aula 37 Palavras similares em


Português-Tupi-Xukuru
Participantes: professores da
Estrutura: Aldeia São José, Couro Danta e
a índia Vanielle, Ceça e o
• nomes e verbos correlatos pesquisador e descendente
nas línguas Tupi- indígena Gabriel.
Português-Xukuru /
explicação gramatical /
• Exercícios

Obs: esta aula foi criada pelo Ddo


Gabriel para ser trabalhada as
palavras correlatas das línguas
Tupi-Português-Xukuru.

AS CLASSES GRAMATICAIS PORTUGUÊS E TUPI


SUBSTANTIVO
Segundo Huback5 (2020, p. 14) os substantivos da Língua
Portuguesa são quanto aos diversos quanto ao gênero:
Em português, todos os substantivos sempre têm
gênero, que pode ser masculino ou feminino (não
existem substantivos neutros). É muito importante
saber se um substantivo é masculino ou feminino,
porque todos os elementos que se referem a ele
5
Huback, Ana Paula; Castellanos-Pazos, José Antonio; Moreira, Ricardo Antônio.
Gramática básica do português brasileiro. Disponível em
https://www.difusion.com/wp-content/uploads/2018/04/gramatica-portugues.pdf
acesso em 09 de outubro de 2020.
86

(artigos, adjetivos, pronomes demonstrativos, etc.)


devem ter o mesmo gênero. Os artigos o, a, os, as, um,
uma, uns, umas indicam o gênero de um substantivo:

Segundo Navarro (2005, p. 24) o substantivo em tupi


“sempre termina em vogal. Também um verbo, quando é
substantivado, deve terminar em vogal. Se seu tema acabar em
consoante, na forma substantiva (infinitivo) ele recebe o sufixo
– A”.
Há também no tupi transformações fonéticas, como
mostra Navarro (2005, p. 25) “a vogal I, átona, após uma outra
vogal, forma ditongo, tornando-se Î (semi-vogal).

PREPOSIÇÕES DO PORTUGUÊS E AS POSPOSIÇÕES DO


TUPI

Para Santana (2020, p.9) o “PRONOME é igual a palavra


que acompanha ou substitui o substantivo”, porém, para
Navarro (2005, p. 25) no tupi há uma troca do pronome por
uma posposição, conforme escreve que “as preposições do
português correspondem, em tupi, a posposições, porque
aparecem após os termos que regem”. São exemplos de
posposições em tupi as palavras pe, supé, suí e pupé.
Segundo Navarro em seu curso de tupi antigo, outra
curiosidade do tupi é que ele não possui flexão de número nas
palavras, como por exemplo a palavra tupi Peró significa
português ou portugueses, visto que não se flexiona quanto ao
número. Também não há artigos definidos e indefinidos
87

Na mesma aula Navarro descreve que a sintaxe em


português ocorre segundo uma classificação de S + V + O
(sujeito + verbo + objeto), enquanto que no tupi ela ocorre da
seguinte maneira: S + O + V (sujeito + objeto + verbo), embora
essa formação tenha evoluído até o tupi moderno que já tem a
mesma classificação de S + V + O (sujeito + verbo + objeto).

FIGURA 5: Vídeo aula do Curso de Tupi Antigo


88

FIGURA 5.1: Vídeo aula do Curso de Tupi Antigo aula 1

FIGURA 5.2: Vídeo aula do Curso de Tupi Antigo


89

FIGURA 5.3: Vídeo aula do Curso de Tupi Antigo- apresentação da


metodologia do curso

5.2 AS PALAVRAS EM PORTUGUÊS, XUKURU E TUPI


Foram estudadas as palavras nos diversos dicionários
indígenas para analisar a correlação das palavras com a
Língua Portuguesa, suas semelhanças fonéticas e na escrita e
evolução do Tupi no hodierno do Brasil Colônia com a língua
dos brasis, o tupi antigo, sua evolução ao tupi moderno o
Nheengatu utilizado na Amazônia hoje e suas derivações.

DICIONÁRIO XUKURU – PORTUGUÊS


Com o decorrer da colonização desde as sesmarias e
capitanias hereditárias, grileiros, posseiros e fazendeiros foram
expulsando as diversas etnias indígenas, bem como
aculturando-os com proibição do uso da língua materna
indígena e das tradições, muito bem ilustrado na figura abaixo.
90

Foto do antigo Museu da Língua Portuguesa antes do incêndio

Este proceder levou a extinção milhares de etnias


indígenas, muitos povos eram proibidos de falar em suas
línguas nativas e assim também ocorreu com o povo Xukuru
que hoje com apenas com 165 (cento e sessenta e cinco)
palavras, por isso a importância de recuperar este idioma e
fortalecer sua cultura.
Segundo relata Almeida (1997, p. 18), que em 1757 o
Marques de Pombal decretou pelo diretório pombalino a
extinção das aldeias indígenas, a proibição dos índios morarem
todos juntos, o que para ele era promiscuidade, dessa forma o
aldeamento Xukuru passou a ter o nome de vila de Cimbres,
91

nome de um povoado de Portugal, e com isso essa lei


regulamentava que os índios Xukuru’s, “a partir daquela data
falassem somente a língua portuguesa e em caso de
desobediência, os índios seriam punidos”, entre outras
imposições também constava que, “os índios deveriam ter
nome e sobrenome português”.
Segundo descreve a historiografia dos escritores
pesqueirenses, município onde fica a reserva demarcada
indígena Xukuru do Ororubá, esse foi o principal motivo de no
decorrer dos séculos toda língua indígena Xukuru e de outras
etnias terem sido esquecidas pelos seus povos, resistindo
apenas os anciãos do povo do Ororubá, o que permitiu ainda
ter as 165 (cento e sessenta e cinco) palavras.
Afirmava Chicão conforme escreveu Almeida (1997, p.
66), “o fato de não falarmos o português não faz a gente deixar
de ser Xukuru, somos índios mesmo falando o português”, mas
o anseio desse povo fica registrado nas últimas palavras do
Cacique Chicão que disse:
Ainda iremos buscar mais informações, elaborar
posições e ideias sobre a questão da língua no nosso
povo. Só sabemos que somos nós que temos que dar
respostas para isso, com a ajuda de especialistas.
Depois, com certeza, escrevemos mais sobre isso.

Por este motivo, e por ser descendente indígena do povo


encaixo-me nos anseios de alguém do povo, “somos nós que
temos que dar respostas para isso”, e também na segunda
proposição, “com a ajuda de especialistas”, uma vez que estou
na temática indígena a trinta anos em diversos países da
92

América do Sul, atendendo aos anseios do povo e do falecido


cacique ‘o Mandarú’.

VOCABULÁRIO PORTUGUÊS - TUPI


Foram estudadas e analisadas todas as palavras do
vocabulário Português-Tupi, Navarro (2013), com um total de
2.291 (duas mil, duzentas e noventa e uma) palavras, do PhD
e especialista em Tupi Antigo, o professor Eduardo Navarro da
USP, em seu dicionário as quais se distribuem da seguinte
forma.

TABELA 5.1: quantidade de palavras por letra no dicionário Português-


Tupi

PALAVRAS POR LETRA QUANTIDADE

A 311

B 144

C 277

D 83

E 218

F 131

G 59

H 15

I 69

J 20
93

L 74

M 140

N 47

O 55

P 220

Q 22

R 98

S 122

T 87

U 17

V 73

X 1

Z 8

TOTAL DE PALAVRAS 2.291

Estas palavras já foram traduzidas para a Língua


Portuguesa porque eram usadas na Colônia, segundo afirmou
Navarro (2005), muitas delas permanecem em uso até os dias
de hoje, muito do léxico do português do Brasil são palavras
adotadas do idioma Tupi Antigo, passou ao hodierno de nossas
conversas e livros como “tatu, capivara, pereba...” entre outras
conforme mostra Navarro (2013, XXIX).
Das 2.291 palavras do vocabulário Tupi-português
estudadas, e depois de analisar cada uma delas quanto a grafia
94

e a pronúncia, encontrou-se 27 palavras correlatas em escrita,


pronuncia ou ambas, conforme apresentado na tabela abaixo:

TABELA 5.2: palavras por letra no vocabulário Português-Tupi


Palavra em Português Palavra em Tupi Obs.
1. AIPIM AÎPI͂
2. BESOURO MANGANGÁ
3. BORRACHUDO PI’Ũ
4. CANINDÉ KANINDÉ
5. CAPIM KAPII͂
6. CAPIVARA KAPIBARA
7. CATINGA KATINGA
8. CHOCALHO MARACÁ
9. CUPIM KUPII͂
10. CUTUCAR KUTUK
11. FEITICEIRO PAÎÉ
12. FERIDA PEREBA
13. GATO-DO- MARACAJÁ
MATO
14. JABOTICABA ÎABOTICABA
15. JACARÉ ÎAKARE
16. JIBOIA ÎYBOIA
17. MACACO GÛARIBA
18. PACA PAKA
19. PAJÉ PAÎE
20. PIRANHA PIRÃÎA
21. TAMANDUÁ TAMANDÛÁ
22. TAQUARA TAKÛARA
95

23. TATU TATU


24. TOCAR MEMBY Esta palavra é
usada no povo
Xukuru até os
dias de hoje.
25. TUCANO TUKANA
26. VESPA KABA Os povos
amazônicos e
até os não
índios não
chamam vespa,
apenas kaba
27. URUBU URUBU
Fonte: Navarro (2013)

Nesta análise foram encontradas muitas palavras


correlatas no português e também no idioma Xukuru, uma
mostra clara da influência forte que essa língua teve entre os
índios do Nordeste e no Brasil Colônia e sucessivamente na
Língua portuguesa, a ponto de Navarro (2005), afirmar
enfaticamente que essa era na verdade a língua comum a todos
na Colônia, entre mercadores, africanos, portugueses e até
mesmo era a língua oficial do seminário dos jesuítas, que
substituíram o latim pelo Tupi para a ordenação dos
sacerdotes das províncias.
Ainda segundo Navarro (2005), não existem palavras
escritas no idioma Tupi que faça referência a onomatopeia, ele
simplesmente é imitado pelo mesmo som, como por exemplo
tossir ou tosse em tupi é u’u, imitado com um som de uma
pessoa tossindo.
96

A onomatopeia que é o som que emite os animais para


diversos fins como acasalar, defender-se são expressos na
Língua portuguesa de forma muito extensa, como mostra
Neves6 (2021) em sua lista de sons dos animais e a
onomatopeia. Exemplificando alguns deles segundo consta na
relação de Neves (2021) ela apresenta o animal, o som do
animal e a onomatopeia:

ANIMAL SOM DO ANIMAL ONOMATOPEIA

Abelha zumbir, zunir, zoar bzzzz

Abutre crocitar, grasnar, gritar croac croac, cuá

Águia grasnar, crocitar, piar croac croac, cuá

Andorinha grinfar, chilrear, gorjear pi pi pi

Anta assobiar cuí cuí cuí

Arara palrar, grasnar, taramelar reco-reco

Avestruz grasnar, roncar, rugir tam-tam, aaahn

Baleia bufar uuh uuh

Beija-flor arrulhar, trissar, gavear tri tri tri

Bem-te-vi cantar, estridular, assobiar bem-te-vi

Besouro zoar, zumbir, zunir zum zum zum

Bezerro berrar, mugir muuuu

Bode bodejar, balar, balir béééé

Boi / vaca mugir, berrar, bufar muuuu

6
Neves (2021) disponível em https://www.dicio.com.br/sons-de-animais/ com acesso em 04 de
fevereiro de 2021.
97

Búfalo bramar, berrar, mugir muuuu, moooo

Burro zurrar, relinchar, ornejar inhóóó inhóóó


FONTE: Neves (2021)

No idioma tupi o som que o animal emite ou que que


fazemos ele também é imitado pelo falante, que emite o mesmo
som, não tendo palavras para descreverem os diversos sons,
tossir por exemplo é feito o mesmo som de uma pessoa
tossindo, não se escreve, apenas se fala.
Durante anos pousei nas aldeias indígenas da Amazônia,
em muitos povos e etnias durante os anos de 1989 a 1996, e
quando se aproximava um helicóptero, eles eram os primeiros
a escutar, e o helicóptero estava a mais de 20 milhas, eles
apontavam e diziam: “Buru-buru”, pois era o som que o
helicóptero fazia, corroborando com Navarro (2005) e Navarro
(2013), eles ainda são falantes do tupi moderno, o Nhe’engatu,
e ainda repetem a mesma metodologia mais de 1500 anos
depois.

DICIONÁRIO TUPI – PORTUGUÊS


O dicionário Tupi – Português tem 8 mil vocábulos,
mostrando a riqueza de uma língua que tinha grande poder de
expressão segundo Navarro (2013, p.1-536), e como os
portugueses não tinham como criar milhares de palavras sobre
plantas, animais, fauna e flora, tiveram como única opção
aderir ao idioma Tupi Antigo, que passou a ser a língua do
brasil Colônia, e com ele se fazia comércio, rezava, ordenava
padres na congregação jesuíta, casava-se entre índios e
98

europeus e toda a vida da colônia passou a ser em torno da


língua nativa que originou o Brasil, e não fosse o marques de
Pombal afirma Navarro (2005), é possível que ela fossa a nossa
língua de hoje.
Navarro (2013, p.3), mostra quão sucinta era a língua tupi,
uma língua que conseguia sintetizar expressões, frases em
uma única palavra como por exemplo uma expressão que
também temos em nossa cultura, expressões que são
verdadeiras interjeições em forma de frase, “aandé” que
significa “mas não foi; não é assim”.
Um fato interessante descrito por Navarro (2013, p.3) é que
os índios falantes do Tupi, tinham hábito de colocar os nomes
de plantas, animais e outros seres da natureza em seus filhos,
como por exemplo “ABATIÚNA – milho escuro – nome de índio”,
entre outros fenômenos da natureza.
A toponímia brasileira, os antropônimos são de uma
riqueza cultural enorme, herdamos dos tupi’s muito mais que
muitos intelectuais imaginam, conforme escreveu Navarro
(2013, p.537) que “95% dos nomes geográficos brasileiros são
de origem indígena”, o tupi está na estrutura lexical do
português brasileiro, segundo o mesmo autor, as outras
línguas indígenas não tiveram esta mesma influência.
99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para mim escrever sobre indigenismo é sempre uma


grande alegria, poder contribuir com esses povos, que após
quinhentos anos de extermínios indígenas, no Brasil, na
América do Sul, Latina e do Norte, não há um só ano que esses
povos não sofram com o descaso em suas terras, mesmo sendo
uma garantia constitucional no Art. 231, que deu a garantia
mas não impediu os assassinatos, a maior mortandade do
Brasil e áreas não urbanas são por questões relativas a terra.

Nos mostra Navarro (2013) o maior especialista em língua


tupi de nosso país, Doutor nessa área pela PUC, que das
muitas palavras que falamos, 2.291 delas são de origem tupi,
ou as falamos da mesma forma que eles falavam como a
palavra tatu, capivara, e praticamente toda toponímia
brasileira, uma vez que os portugueses não mudaram os
nomes dos rios e acidentes geográficos, falamos tupi sem se
dar conta de que estamos nos utilizando de um idioma de
nossas ancestrais e é necessário que há conscientização para
o fortalecimento de nossa identidade cultural.
Segundo Navarro (2005) apud Cardoso A. mostra que , “o
tupi antigo ou clássico, falado por toda colônia brasileira nos
três séculos de sujeição a Portugal”, possibilitou um grande
acervo material e linguístico aos pesquisadores pós-modernos,
e a mim em especial pela farta quantidade de livros em
bibliotecas e museus brasileiros, embora pouco divulgado nas
escolas, e é isso que devemos trabalhar em nossa educação,
100

deixemos de lados as ideologias e trabalhemos forte nossa


matrizes étnicas, dentre elas e a mais importante os indígenas
pois são um povo originário constitucional, nossa maior e mais
importante matriz.
É interessante perceber como os costumes indígenas
permanecem, as tradições, os costumes, comparando os
escritos antigos do Frei Vicente de Salvador com as
observações aéreas que fiz nos trinta anos trabalhando para o
governo junto aos povos indígenas, em campanhas de
vacinação, remoção de índios feridos, com problemas de
saúde, e até mesmo para resolver conflitos, quando a esposa
de um cacique fugiu para outra aldeia e tivemos que conversas
com ela para voltar pois os povos indígenas iam declarar
guerra uns aos outros, fatos dessa natureza tive o privilégio de
participar.
Historiadores afirmam que o Brasil provavelmente falaria
a língua Tupi, não fosse a expulsão dos jesuítas pelo marquês
de Pombal, segundo afirma Dias (2021) em sua tese de
Doutorado pela UFCE, legando ao esquecimento essa língua
rica que faz parte do vocabulário do Português do Brasil.
Já imaginou o leitor um Brasil falante de Tupi, se
tivéssemos conservado a cultura e não dizimado os nossos
índios como ainda ocorre, teríamos uma riqueza cultural maior
do que já temos.
101

ALGUMAS OBRAS DO AUTOR SOBRE A CAUSA


INDIGENISTA

O indígena brasileiro: uma historiografia ISBN-13 : 979-8596958256


Sintese:
Estando na docência há mais de trinta anos, percebo quão raso e
insipiente é a formação de alunos e professores, quando esta se refere as
nossas raízes e matrizes étnicas, é necessário escrever livros, recontar
esta história tão bela que encheria de orgulho qualquer nação que a
nossa foi única na preservação de seus povos originários. Apesar de toda
brutalidade pela qual foram tratados os indígenas nas diversas colônias,
a monarquia portuguesa e os jesuítas conseguiram feitos inigualáveis nas
terras brasilis, o de manter uma extensão continental, falando uma
mesma língua, ainda que com um regionalismo forte nos traços
linguísticos. Somos a única nação do mundo que ainda tem 305 povos
indígenas, falantes de 274 línguas e pasmem, com 25 povos isolados que
nunca tiveram contato com seres humanos não-índios, isso só se
encontra aqui, também somos a nação do mundo que mais preservou
suas florestas, e por conta disso recebemos um crédito de carbono dos
outros países.
102

INDIGENISMO: NOSSOS POVOS ORIGINÁRIOS, UMA


HISTORIOGRAFIA DOS POVOS DA AMÉRICA ISBN-13 : 979-
8699951666
Em minhas pesquisas busquei explanar para os leitores uma forma fácil
de compreender a importância da evolução histórica do indigenismo no
Brasil e seu processo histórico, seus problemas e anseios para a
construção de uma sociedade mais justa e igualitária no campo histórico
e educacional, focando a relação entre o processo histórico do
indigenismo no Brasil em especial o povo Xukurú do Ororubá a partir
das grandes navegações e a brutal exploração dos índios pelos
navegadores, sua cultura, tradições e acima de tudo um resgate da dívida
histórica que se tem por estes brasileiros analisando sua evolução antes
e depois da demarcação, é inegável que nossa identidade multiétnica é
fortemente enraizada nos nossos povos originários: os índios, uma
história que não foi contada pela visão dos índios.
103

EL LIBRO DE LAS CANCIONES INDÍGENAS PARA MEJORAR LA


LECTURA Y ESCRITURA - ISBN-13 : 979-8687704953
Esta innovación pretende mejorar la dificultad de lectura y escrita de
Lengua Portuguesa de los alumnos indígenas en las escuelas Natureza
Sagrada y Rei Ororubá, ubicadas en la ciudad de Pesqueira. Fue diseñada
una intervención hecha con la grabación y transcripción de las
canciones, para ser utilizadas en las actividades en clase por las
profesoras indígenas, aplicadas a los veinte y seis alumnos del pré I al 3º
año en las dos escuelas con edades entre cuatro y diez años, a fin de
permitir que ellos se apropien de esta competencia de leer y con el recurso
didáctico específico, un libro propio de su realidad de indio, retratada en
forma de canciones. La metodología adoptada buscó las informaciones de
las profesoras en un análisis FODA, entrevista semi-estructurada y
cuestionario para elaborar un libro didáctico específico para realización
de actividades en sala, pudiendo ser monitoreado y evaluado por las
notas y registros del diario de los profesores.La innovación mostro su
eficiencia através de las notas y registros en el diario de clase y cuaderno
de planificación de las profesoras, al presentar que los alumnos pasaron
a cometer menos errores em la escritura y lectura de las palabras, sus
notas finales mejoraron, tuvieron más autonomía y fluencia en la lectura,
aumentaron las visitas a la biblioteca, fue elaborado un libro didáctico
específico, los alumnos elaboraron un álbum de palabras y se realizó una
capacitación para los profesores indígenas.
104

EDUCAÇÃO INDÍGENA - ISBN-13 : 979-8681052388


Este livro é fruto de trinta anos de pesquisa com índios da América do
Sul. De 1989 a 1996trabalhei com os indígenas da Amazônia, Venezuela
e Colômbia juntamente com o Ministério da Saúde vacinando e apoiando
nesta área. De 1997 a 2006 tive a oportunidade de pesquisar junto aos
índios do agreste e sertão pernambucano, em especial ao meu povo
Xukuru do qual sou descendente. Em 2006 fui para o Mato Grosso do
Sul e pude pesquisar junto aos indígenas daquele estado, e também com
os índios Guaranis do Paraguai e os da Bolívia. Tive ainda a oportunidade
de pesquisar para especialização na Universidade Católica de Campo
Grande MS juntamente aos indígenas da Argentina e do Chile, os
Mapuches, neste último país fiz o Mestrado em Educação com a
dissertação sobre educação indígena do meu povo, em 2014sai do Chile
direto para o Uruguai com o apoio da embaixada brasileira para morar
por um período e pesquisar o último país da Sulamérica e editar este
livro.
105

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Eliene Amorim de. Xukuru: Filhos da mãe natureza. Olinda:


Centro de Cultura Luiz Freire, 1997.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Rio


de Janeiro: Forense, 2001.

BRASIL. MINISTÉRIO DA CULTURA. Fundação Biblioteca Nacional


Departamento Nacional do Livro I-JUCA-PIRAMA, Gonçalves Dias, 2021.

BRASIL. LEI Nº 13.018, de 22 de julho de 2014. Política nacional de


cultura.

DE PAULA, Luís Roberto; Vianna, Fernando de Luiz Brito. Mapeando


políticas públicas para povos indígenas. Rio de Janeiro: Contra Capa
Livraria; LACeD/Museu nacional/UFRJ, 2011.

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. 18ª


Ed. Porto Alegre: L&PM, 2016.

IBGE. MAPA ETNO-HISTÓRICO DE CURT NIMUENDAJU. Rio de


Janeiro: IBGE, 1987.

KLEIN, Fernando. Nuestro passado indígena. Montevideo – Uruguay:


Ed. Zonalibro, 2012.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14ª Ed.


Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

MARTINEZ SARASOLA, Carlos. Nuestros paisanos los índios. Buenos


Aires: Del Nuevo Extremo, 2013.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. MÁRTIRES CONTEMPORÂNEOS: O


MARTÍRIO DO PADRE FRANCISCO. Fevereiro, 2020. Ddo PAULO
GABRIEL BATISTA (Author), Prof Tânia Maria Batista (Author), Sr
Francisco Barbosa Melo (Author)); ISBN-13 : 979-8708225573
Publisher: Independently published. Columbia, SC. USA.
106

MELO, Paulo Gabriel Batista de. METODOLOGIA CIENTÍFICA: QUEM


DISSE QUE É DIFÍCIL. Dezembro, 2020. Dda Daniele Tavares de
Miranda Correia (Author), Ddo Paulo Gabriel de Melo (Author), Tânia
Serpa Santos (Author); ISBN 9798595050395 / ASIN B08T4DG9LC
Publisher: Independently published. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. E-BOOK METODOLOGIA CIENTÍFICA:


QUEM DISSE QUE É DIFÍCIL. Janeiro, 2021, Formatação e
diagramação para E-BOOK. Dda Daniele Tavares de Miranda
Correia (Author), Ddo Paulo Gabriel de Melo (Author), Tânia Serpa
Santos (Author); ISBN 9798595050395 / ASIN B08T4DG9LC
Publisher: Independently published. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. O indígena brasileiro: uma


historiografia (Portuguese Edition), Janeiro 18, 2021. PAULO GABRIEL
BATISTA (Author); ISBN 979-8596958256/ ASIN
Publisher: Independently published. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. EDUCAÇÃO INCLUSIVA: Pontos e


Contrapontos para uma Escola do Futuro. Dezembro, 2020. Dda
Daniele Tavares de Miranda Correia (Author), Ddo Paulo Gabriel de
Melo (Author), Ddo Willys Fernandes Junior (Author);
ISBN9798588076128 / ASIN Publisher: Independently published.
Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Artigo científico publicado na UNINTER.


Título: A CONSTRUÇÃO DE LIVRO DIDÁTICO ESPECÍFICO
UTILIZANDO AS CANÇÕES INDÍGENAS PARA MELHORAR A
DEFICIENTE LEITURA E ESCRITA. Número: 317085. Data de
Submissão: 27/11/2020. Modalidade: COMUNICAÇÃO ORAL -
RESUMO EXPANDIDO. Área Temática: EIXO TEMÁTICO 2:
EDUCAÇÃO, HISTÓRIA E POLÍTICA. Autores: paulo gabriel batista de
melo.
107

MELO, Paulo Gabriel Batista de. FILÓSOFOS DE TODOS OS TEMPOS:


UMA HISTORIOGRAFIA CRONOLÓGICA DA FILOSOFIA. (Portuguese
Edition), Dezembro 14, 2020. PAULO GABRIEL BATISTA (Author); ISBN
9798581293423/ ASIN Publisher: Independently published. Columbia,
SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. E-BOOK: FILÓSOFOS DE TODOS OS


TEMPOS: UMA HISTORIOGRAFIA CRONOLÓGICA DA FILOSOFIA.
(Portuguese Edition), Dezembro 14, 2020. Formatação e diagramação
para E-BOOK PAULO GABRIEL BATISTA (Author); ISBN
9798581293423/ ASIN: B08TB79XBX
Publisher: Independently published. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Caminhos da filosofia: entre a


docência e a discência. (Portuguese Edition), Dezembro 09, 2020.
PAULO GABRIEL BATISTA (Author); Acsa Véras Nogueira Ferreira
(Author); ISBN 9798578654473/ ASIN Publisher: Independently
published. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. FICA COMIGO SENHOR: UMA


CAMINHADA COM PADRE PIO E A ESPIRITUALIDADE
FRANCISCANA. (Portuguese Edition), Dezembro 09, 2020. PAULO
GABRIEL BATISTA (Author); ISBN 9798579052339/ ASIN B08Q6NZYMT
Publisher: Independently published. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. A IGREJA: UMA REFLEXÃO A LUZ DO


CONCÍLIO VATICANO II (Portuguese Edition), November 30, 2020.
PAULO GABRIEL BATISTA (Author); Silva, Alberto Carneiro da (Author).
ISBN 9798574539590/ ASIN B08P666K4Y. Publisher: Independently
published. ASIN: B08P6B2LFG. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. A ARTE DA DOCÊNCIA: O QUE TODO


PROFESSOR DEVE SABER (Portuguese Edition), November 30, 2020.
PAULO GABRIEL BATISTA (Author). ISBN 9798574570951/
ASIN B08P666K4Y. Publisher: Independently published. ASIN
: B08LN5MXYQ. Columbia, SC. USA.
108

MELO, Paulo Gabriel Batista de. A IMPORTÂNCIA DE CRESCER NA


DOCÊNCIA: UM PLANO PARA O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E
SECRETARIA EXECUTIVA DO MEC EM 2020/22 (Portuguese Edition),
October 22, 2020. PAULO GABRIEL BATISTA (Author), DANIELE
MIRANDA (Author). ISBN: 9798551213727. Publisher: Independently
published. ASIN : B08LN5MXYQ. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. ARTIGO CIENTÍFICO: NOVO NORMAL


DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA PÓS-PANDEMIA (COVID 19): DOS
MODELOS EDUCACIONAIS TRADICIONAIS PARA UMA EDUCAÇÃO
HÍBRIDA E MULTIMODAL. Daniele Tavares de Miranda Correia. Paulo
Gabriel Batista de Melo. Revista Diálogos em Educação. 22/10/2020.
ISBN 978-65-87405-01-8.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Esquadrão Falcão: Égua do Esquadrão


pai d’égua. (Portuguese Edition) , October 7, 2020. PAULO GABRIEL
BATISTA (Author), CLEBER BRITO DANTAS GOES (Author), RODRIGO
LUIZ MOUTINHO RIGO (Author), DANIELE MIRANDA (Author). ISBN-13
: 979-8694640527. Publisher : Independently published. ASIN
: B08KMKW41K. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. EL LIBRO DE LAS CANCIONES


INDÍGENAS PARA MEJORAR LA LECTURA Y ESCRITURA (Spanish
Edition). ISBN-13 : 979-8687704953 Publisher : Independently
published (September 18, 2020)Language: Spanish; ASIN
: B08JDTRGTJ. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Personagens bíblicas da vida de Jesus:


pessoas que Jesus tocou e nós em uma reflexão teológica. ISBN-13
: 979-8685074287. Product Dimensions : 20.98 x 0.79 x 29.67 cm.
Publisher : Independently published (September 10, 2020). Language:
: Portuguese. ASIN : B08JF2DDT5. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Educação Indígena. ISBN-13 : 979-


8681052388. Product Dimensions : 8.26 x 0.22 x 11.68. inches.
Publisher : Independently published (September 8, 2020). Language:
: Portuguese. ASIN : B08HQ6WPX7. Columbia, SC. USA.
109

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Uma pedagogia que salva vidas, voar
para resgatar: Porque salvar vidas (Portuguese Edition) /
Paperback: 100 páginas / Editora: Independently published (22 de
agosto de 2020) / Idioma: Portuguese / ISBN-13: 979-8677559792 /
ASIN: B08GFRZFTX. Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Indigenismo: nossos povos


originários, uma historiografia dos povos da América. Nossos
ancestrais. Editora: Independently published (26 de agosto de 2020) /
Idioma: Portuguese / ISBN-13: 979-8677688188 / ASIN: B08GLQXPQZ.
Columbia, SC. USA.

MELO, Paulo Gabriel Batista de. Educação e cotidiano escolar. Melo IN


Azevedo. João Pessoa: CCTA – UFPB, 2020. ISBN – 978-65-5621-066-7.
(07 de setembro de 2020)

NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método moderno de Tupi antigo: a


língua do Brasil dos primeiros séculos. 3ª Ed. São Paulo: Global, 2005.

NAVARRO, Eduardo de Almeida. Dicionário de Tupi antigo: a língua


indígena clássica do Brasil. São Paulo: Global, 2013.

NETO, Pascoale Cipro; Ulisses Infante. Gramática da Língua


Portiguesa. São Paulo: Scipione, 2003.

PAIVA, Antônio Murilo de. O rastro dos mártires. Parnamirim: ILEAO,


2013.

PIRES, Janote. O descobrimento do Brasil no contexto da expansão


marítima ibérica ocorrida nos séculos XV e XVI. Recife: UFRPE,
Imprensa Universitária, 2000.

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. 4ª


Ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010.

Santana, Elias. Gramática Morfossintaxe. Livro eletrônico. Disponível


em www.grancursosonline.com.br. acesso em 09 de outubro de 2020.

SCHWENNHAGEN, Ludwig. Antiga história do Brasil: de 1000 a.C. a


1500d.C. 5ª Ed. Limeira, SP: Editora do conhecimento, 2008.

SOWELL, Thomas. Discriminação e disparidades. Rio de Janeiro:


Record, 2019.
110

VILARRUBIAS, Juan J. Grau. Voces indígenas de uso común em Chile.


3ª ed. Chile: Ediciones Oikos LTDA, 2001.

CONSULTAS ELETRÔNICAS
www.agenda21culture.net. Um compromisso das cidades e dos
governos locais para o desenvolvimento cultural. Acesso em 17 de
junho de 2020.

Bebê indígena é degolado. Disponível em


https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,pais-de-bebe-indio-
degolado-pedem-justica,10000006360 acesso em 13 de agosto de 2020.
Assassinato do cacique Xicão. Disponível em
https://averdade.org.br/2016/05/18-anos-do-assassinato-do-cacique-
xicao/ acesso em 13 de agosto de 2020.

Índio Galdino é queimado vivo na capital federal. Disponível em


https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2018/04/
20/interna_cidadesdf,675182/morte-do-indio-galdino-em-brasilia-
completa-21-anos-hoje.shtml acesso em 13 de agosto de 2020.

DIAS, Roberto Barros. História da expulsão dos jesuítas da Capitania


de Pernambuco e anexas (Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte) em
1759: a disputa política e os domínios da educação. Disponível em
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/25070 com acesso em
15/02/2021.

Você também pode gostar