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01 As empreiteiras nacionais tiveram como momento-chave de seu período de


expansão a ditadura civil-militar inaugurada nos anos 1960. A proposta do
presente artigo é analisar em linhas gerais o desenvolvimento das empresas do
setor ao longo de regime.
01 Com o crescimento verificado em fins dos anos 60, as construtoras iniciaram,
desde aquele momento, um exitoso processo de atuação internacional,
realizando obras na América do Sul, África e Oriente Médio.
02 O processo de internacionalização das empreiteiras nacionais é sintoma do
poder e alta capacidade técnica verificados no setor e pode ser entendido não
pelo exiguidade do mercado interno ou da redução das demandas de obras no
país, mas pela própria superacumulação de capitais na economia brasileira e
redução das taxas de lucro sentidas na indústria de construção no cenário
doméstico.
02 Como afirmam os dois autores, defendido por políticas estatais de amplo
protecionismo, emergiu no fim da década um capital monopolista brasileiro,
principalmente em três setores-chave: o bancário e financeiro, o industrial
pesado e o da construção civil.
03 Na nossa concepção, é da própria característica específica do capital, da sua
lógica própria, tornar-se cada vez mais centralizado, adquirindo a marca
“monopolista”.
03 Verificamos ao longo de nossa pesquisa como houve um fortalecimento
recíproco e uma retroalimentação na parceria entre empresário brasileiros da
construção pesada e o regime implantado a partir de 1964.
04 [...] a consolidação de um mercado nacional para as empresas de construção
pesada se deu consoante a implementação da economia industrial, com suas
demandas de infraestrutura para a indústria e para as cidades.
04 O período JK foi um momento fundamental no fortalecimento desse mercado
nacional de obras públicas, mas foi durante a ditadura que o nível de atividades
do setor chegou a um patamar ainda superior e inédito na história econômica
nacional, com a realização de grandes projetos nas áreas de transporte e
energia, dentre outras.
04 A ditadura semeou assim a formação de grandes conglomerados nacionais da
construção pesada, o que gerou a grita e revolta dos pequenos e médios
empreiteiros, deslocados do mercado de obras no período.
04 O processo de incentivo ao grande capital ficou ainda mais patente com o
“convite” governamental, por meio de políticas favoráveis, à ramificação e
diversificação das atividades das empresas de engenharia [...] fazendo com que
elas passassem a atuar em ramos como a agricultura, mineração, petroquímica
etc.
05 Pôde-se verificar como os empreiteiros tiveram um processo de forte
articulação em diversos aparelhos privados de hegemonia, com várias
movimentações para formulação de projetos, atuação no mercado na forma de
cartéis, ação junto a agências específicas do aparelho de Estado e representação
direta na sociedade política.
06 Analisando a sociedade civil no Brasil, vimos vários exemplos da ampliação
seletiva do Estado, com fundação na ditadura de aparelhos privados de
hegemonia como Abemi, Abes, Sicepot-MG, Sinicesp, AEERJ e outras,
enquanto as organizações populares eram reprimidas e até proibidas, dando
origem a uma representação desigual na arena da luta de classe após a ditadura.
06 Pudemos verificar uma expressiva produção de ideologias por essa fração do
empresariado industrial, tentando aferir seus valores e concepções de mundo.
06 [...] com a defesa do desenvolvimento como meio para resolução dos
problemas nacionais, sendo necessária, para sua implementação, uma
infraestrutura adequada na forma de estradas, ferrovias, centrais elétricas, redes
de transmissão e distribuição etc.
06 [...] os empreiteiros atuaram junto à imprensa e outros órgãos de divulgação
para obter apoio às políticas de seu interesse, ou atuar junto às agências
estatais. Desenvolveram forte ação na imprensa, com a tomada do controle dos
jornais Correio da Manhã e Última Hora, além do grupo Visão.
07 Vimos também como os empreiteiros se articulavam com outros empresários,
nacionais e estrangeiros, com parlamentares e militares, o que lhes rendia
ingresso e força junto às agências estatais.
07 [...] o fortalecimento das empresas do setor se deu em um função de uma forte e
clara atuação de seus agentes nos postos-chave do aparelho de Estado, o que
incluía uma seleção dos principais empresário a serem beneficiados, acabando
por conformar os líderes do capital monopolista no setor.
08 Notamos um intenso beneficiamento dos empresários do setor pelas políticas
do período, seja através de medidas mais gerais, como o arrocho salarial e o
favorecimento de empresas intensivas em contratação de força de trabalho,
como em medidas específicas, como reserva de mercado, isenções, incentivos,
subsídios e ampla elevação dos recursos orientados para investimentos em
obras de infraestrutura.
08 Outra forma sob a qual as políticas ficaram evidentes foi nos grandes projetos
de engenharia da ditadura, como as grandes rodovias e centrais hidrelétricas.
08 O regime ditatorial fechado se mostrou ambiente bastante adequado para as
atividades e possibilidades de lucros para os empresários do setor. Não à toa, o
governo mais elogiado pelos empreiteiros foi justamente o que mais reprimiu e
torturou, o do general Emílio Médici.
08 O amordaçamento de mecanismos fiscalizadores, como a imprensa, o
parlamento e parte da sociedade civil, permitia aos empreiteiros maximizar
seus lucros com práticas ilícitas e tocar obras com rapidez, agilidade e sem
preocupação com os impactos do empreendimento.
09 Apesar da heterogeneidade desse grupo de empresários, pode-se dizer que a
maioria deles aderiu ao regime, assumiu a ditadura, a aplaudiu e, ao mesmo
tempo, a sustentou. Com a ideia do regime de se auto identificar com as
próprias imagens das obras públicas de grande envergadura postas em prática
durante o período, pode-se dizer que a ditadura tinha a cara dos empreiteiros e
os empreiteiros tinham a cara da ditadura.
11 A força econômica e política atual desses grupos é resultado da forma como se
procedeu a transição política no Brasil do regime ditatorial para o regime
democrático representativo.
12 Nesse sentido, se a ditadura dos empreiteiros – e de outros empresários
também, sobretudo industriais – acabou, dando lugar à república dos
banqueiros, os empreiteiros da ditadura têm se mostrado firmes e fortes nesse
novo contexto político.

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