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1) No Brasil, as mulheres casadas conquistaram o direito à capacidade civil plena

somente em 1962. Antes, prevalecia o Código Civil de 1916, segundo o qual elas eram
definidas como incapazes. Com base nos argumentos de Flávia Biroli (in: Família:
novos conceitos), comente esta questão, vinculando-a às classes sociais e ao tema do
“amor materno natural”

O código civil de 1916 definia e julgava a mulher casada como sendo incapaz
de realizar certas coisas e previa que elas precisavam da autorização do marido para
realizar certas ações, como trabalhar e ter direito a herança. Porem, em 1962 foi criada
uma lei que, com muita luta e perseverança das mulheres, também estas relacionadas as
classes sociais e vinculo ao amor materno, contribuiu para a emancipação feminina em
diversas áreas.
Não só a mulher, mas a família como um todo sofreu transformações
históricas com a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Essas revoluções são
decorrências do capitalismo, que alinharam a sociedade burguesa. Contudo, esses
fatores influenciaram diretamente na maternidade, tendo também as consequências
naturais voltadas a classe social em que pertencia a mulher, como foi argumentado por
Flavia Biroli em “Família: novos conceitos”.
Classe social consiste no grupo social formado por indivíduos que ocupam a
mesma posição no processo de produção, mas que, com o surgimento da família
moderna, moldada na sociedade burguesa, apresentou diferenças na participação da
mulher no mercado e os primeiros contatos da maternidade, que foram em razão da
necessidade e valores burgueses da época.
No ideal de família burguesa, o homem era responsável pelo trabalho
renumerado no mercado e a mulher responsável pela manutenção do lar e do cuidado
com os filhos. Já no contexto do operariado, não se inserem no modelo “ideal”, pois a
mulher também precisava ocupar uma posição no mercado de trabalho para ajudar na
renda, caracterizando a dupla jornada da mulher pobre.
Entretanto, a maternidade ligada a feminilidade as mulheres, torna-se um
aspecto problemático da família moderna. O alinhamento da sociedade burguesa ao
colocar a mulher como dona de casa entrega a elas um papel de incapacidade, pois a
maternidade diminui a chance da mulher em poder estudar, com a disposição, cuidado e
principalmente TEMPO, assim gerindo a elas uma profissionalização inferior com a
baixa qualificação em geral, levando a salários mais baixos em relação aos homens. E,
vale dizer, que nas classes sociais mais baixas a situação se agrava, com a necessidade
da mulher no mercado, muitas vezes recorrendo a empregos informais e precários.
Mesmo com a evolução nas relações de gênero e emancipação feminina em
muitos aspectos, o machismo ainda continua sendo muito presente com esse fator de
homem: trabalho\mulher: casa. Por exemplo, na maioria dos divórcios a guarda dos
filhos pertence a mãe, com a prioridade garantida pelo próprio Estado. Assim como, as
mulheres recebem licença maternidade de 120 dias e os homens de apenas 5 dias, dando
ênfase ao conceito de “amor materno natural”.

2) A partir da análise de Gilles Lipovetsky (in: A felicidade paradoxal), estabeleça três


distinções entre o culto material e o culto imaterial das marcas, mostrando: a) em que
momento cada um deles predomina no desenvolvimento da cultura de consumo; b) qual
é o significado da mudança entre essas duas formas de culto das marcas.

Tratando do culto material/imaterial, existem diversas dimensões por trás do


consumo das marcas. O consumo passou por três grandes momentos dentro do
capitalismo de consumo, tratando-se da Europa principalmente. A sociedade de
consumo antes garantida pela adoração e status gerida pelo nome que a marca
representada e seus valores, passou a ter mudança com a maior expressão de
individualidade e experiência do consumidor com o produto, que apesar de ainda ter
muito apreço pela qualidade por parte dos consumidores, as marcas passaram a
expressar melhor o sentimento do consumidor, de maneira subjetiva.

O consumo, assim como teve suas fases, passou por um processo de


transformação como forma de distinção social de consumir para si próprio, sendo esta
uma forma de expressão individual. Esse processo foi bastante democratizado com a
primeira fase da cultura de consumo, que abrangeu o período entre a Revolução
Industrial ate o fim da Segunda Guerra Mundial. Com a construção dos grandes
mercados nacionais e consequentemente do desenvolvimento do comercio em grande
escala com a Rev. Industrial, o cliente comprava em razão da Tripla Invenção: marca,
acondicionamento e publicidade.

Sendo assim, o consumidor julgava o produto em razão do nome que continha,


não embasado na qualidade e/ou comparação com a concorrência. Esse consumo
massivamente imaterial se consolidou na primeira fase do capitalismo de consumo, se
solidificou com o surgimento dos magazines. Por exemplo, existiam e ainda existem
certos produtos que ficam disponível apenas para x parcela da população devido a sua
exclusividade e alto custo, o que gerava muito interesse da população em massa em
adquirir, mas não pela qualidade e experiência pessoal, mas puramente por status, da
necessidade de se sentir aceito em um meio social.

Entretanto, com o termino da Segunda Guerra e o enorme crescimento


econômico/produtivo com a regulação fordista da economia, o culto material das marcas
passou a ganhar mais forma. A democratização da compra dos bens duráveis que antes
era voltada a elite, passou a se diversificar com a abundancia da sociedade, que
acompanhando a expansão econômica, integrando o aumento do salario e
consequentemente a difusão de credito e o acesso da massa, “imaterializou” a demanda
de uma forma individualizada, que antes era associada apenas as camadas mais ricas da
sociedade.

A segunda fase do capitalismo de consumo, não só caracterizou os valores


imaterialistas, como deu fim na tradição de consumo, dando origem a nossa distinção
das marcas nos dias atuais, compondo o que chamamos de hiperconsumo, que teve
origem na década de 70 e segue alinhado no nosso dia a dia. O hiperconsumo julga
totalmente a distinção entre o culto material e imaterial das marcas, pois tratando dessa
fase que estamos vivendo, o consumo para o outro passou a ser intrinsecamente para si
próprio.

Estamos vivendo em uma sociedade em que os consumidores são bem mais


instáveis, prezando pela qualidade de vida, enxergando os bens como serviço ao
individual e não pelo status. Explicitamente, o status do consumo passou a cair em
virtude do crescimento do valor imaterial das marcas, representando assim o predomínio
da liberdade do consumidor, de forma mais palpável, para que o consumidor possa se
expressar e se sentir livre na consciência do próprio olhar.

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