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A produção do fracasso escolar

Introdução

A reprovação e a evasão escolar tem sido um problema sério na década de 80, mas mais que
isso, isso tem sido um problema persistente, inclusive a várias reformas educativas

Dados sobre a situação da educação no Brasil entre 1940 e 1979:

Um estudo realizado por Moysés Kessel em 1954 mostra a dramaticidade da educação na


década de 40, dos que se matricularam pela primeira vez em 1945 apenas 4% concluíram o
primário em 1948, sem reprovações, dos 96% restantes metade metade não concluiu sequer o
primeiro ano. Trinta anos depois Barretto não nos autoriza qualquer otimismo e segundo estudo
realizado, embora o II Plano Nacional de Desenvolvimento (1975 a 1979) tenha estabelecido o
índice de 90 de escolarização do primeiro grau (Ensino Médio) no final da década a taxa de
escolarização de crianças entre 6 e 14 anos foi de 67,7% e mais que isso, o texto mais a frente
fala que as melhorias educacionais apontadas pelo governo foram relativizadas por Barretto,
que aponta que entre 1964 e 1961 a cada 1.000 crianças que ingressavam no primeiro ano da
escola primária, 395 passavam para o segundo ano sem reprovações e apenas 53 atingiam os
oito anos de escolaridade. De 1971 a 1978 (na vigência, portanto, da 5692/71) a cada 1.000
crianças que se matriculam na primeira série, 526 se matriculam na segunda série no ano
seguinte, e 180 conseguiram terminar a oitava série em 1978.

Sobre a pesquisa e a importância de ouvir as crianças nas pesquisas sobre o fracasso escolar:

O livro fala sobre a importância de ouvir as crianças para que estas não sejam apenas úmeros
frios e por isso o livro trabalha com uma pesquisa feita numa escola da periferia de São Paulo,
onde foram feitas entrevistas com pais, alunos e professores. A importância de ouvir as
crianças ainda não foi incorporado as pesquisas sobre fracasso escolar.

Primeiro capítulo: Raízes históricas das concepções sobre o fracasso escolar: Triunfo
de uma classe e uma visão de mundo
Páginas de 26-

A autora começa falando que os primeiros pensadores do problema da educação brasileira


acabaram por impor uma forma de pensar este problema que ainda hoje é reproduzida, este
forma é um reflexo das teorias educacionais pensadas nos Estados Unidos e nos países do
leste europeu e a pergunta que a autora faz é se estes pensadores ao refletir os problemas da
educação os fazem de sua própria visão de mundo e esta influencia o que o autor pensa, ou ao
contrário disso, é a realidade que influência o autor. A autora aqui fala da importância de se
aproximar do objeto de estudo, neste caso, das crianças e da escola.

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Para entender as razões que principalmente a escola para os pobres é uma escola deficitária
este capitulo tem como objetivo vislumbrar a filiação histórica dos reveses das crenças das
dificuldades que existam sobre a pobreza e seus reveses e da escola dificuldade de
escolarização para este segmento da população.

Para alcançar tal objetivo é preciso falar dos contornos da natureza epistemológica que permita
captar o que é a realidade social e para tal é preciso se perguntar o que é a ciência, e o que ela
faz a partir e além do que ela parece ser e neste retorno é inevitável o encontro com as
sociedades indústrias capitalista, com as políticas nacionais de educação e com as ciências
humanas, especialmente a psicologia, mas a autora destaca que a pretensão não é fazer uma
analise histórica do modo capitalista de produção, porém apenas fazer um quadro sociológico
suficiente para refletir sobre a natureza das concepções dominantes sobre o fracaso escolar
numa sociedade de classes.
A era das revoluções e a era do capital

O séc. XIX e suas manifestações é filho legitimo das revoluções francesa e industrial e a
construção em 1780 do primeiro sistema fabril moderno, isso é as indústrias têxteis da região
de Lancashire.

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Hobsbawn (1982) disse que a grande revolução de 1789-1848 não foi o triunfo da indústria
como tal, mas da indústria capitalista; não da igualdade e da liberdade como tal, mas da classe
média ou da 'burguesia liberal; não da economia moderna ou do Estado Moderno, mas o das
economias e dos Estados em uma determinada região (parte da Europa e trechos da América
do Norte) e este processo de passagem da sociedade feudal a capitalista não se deu sem
grandes convulsões sociais e o texto fala sobre as mudanças inexoráveis do período.

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Ao citar Hobsbawn a autora fala do processo que transformou o artesão ou em empregado ou


em capitalista industrial e nesta parte o livro fala sobre como se deu este processo.

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A Produção Do Fracasso Escolar —


Histórias de Submissão e Rebeldia”,
escrito por Maria Helena e proposta
por Edson da aula Psicologia Escolar
e das Necessidades Especiais.
FACULDADE DAS AMÉRICAS (FAM)

1. INTRODUÇÃO

O clássico escrito pela doutora em Psicologia Escolar e do


Desenvolvido foi escrito na década de 70 e lançado, pela
primeira vez, em 1990. Trata-se de uma pesquisa de campo feita
com alguns colegas na intenção de “causar impacto na
comunidade científica acadêmica”. Maria Helena buscou no
íntimo dos moradores do bairro Jardim Felicidade e também no
relato do corpo docente da única escola pública local as
justificativas das evasões e reprovações existentes.

Abordando o conceito histórico e entrevistando todas as partes


desse todo, Maria inovou o olhar para com os alunos, expondo a
realidade escolar dos alunos e professores em seus fatores tanto
internos quanto externos. O método utilizado pela autora foi a
entrevista e a observação, além de apoiar-se nas denúncias já
existentes para com o descaso da sala de aula por parte de seus
profissionais educacionais e até mesmo, historicamente,
médicos e psicólogos.

O rótulo e o diagnóstico construíram seu legado dentro da


escolarização, anos depois, os responsáveis educacionais se
encontram nesse cenário de preconceito, muitas vezes
inconsciente, e os alunos estavam à mercê do favoritismo e do
descaso. Acostumados a serem tratados como incapazes, muitos
pais mostram também aderir dessa crença, disseminando o
pensamento de hereditariedade classicista e deficiência
cognitiva biológica por parte dos favelados.

Em uma obra regada de exposição dos estereótipos e


preconceitos, Maria aborda também a segregação dentro das
próprias favelas, o conceito de desfavelamento e até mesmo a
repulsa de uns mais bem colocados no mercado de trabalho
sobre os moradores de puxadinhos e barracos, mostrando que
até mesmo o pobre tem vergonha de ser pobre.
2. A CHEGADA DA INDÚSTRIA

É possível fazer ligações do passado com a visão atual em


relação a periferia. O trabalhador industrial era anteriormente
um camponês, que com o advento da chegada da indústria e da
implantação agressiva do capitalismo, acabou perdendo suas
terras e precisando migrar para as cidades na tentativa de
sobreviver. Os operários recebiam pouco e viviam em condições
miseráveis, o trabalho em excesso e o salário extremamente
baixo faziam com que eles estivessem abaixo da dignidade
humana, que tira a essência do homem e o transforma em
figuras que remetem a animalidade.

O sentido de animalidade na vida operária era relacionado com


os desejos e necessidades humanas uma vez que os homens só se
sentiam livres na satisfação de suas necessidades fisiológicas,
mesmo que ainda fossem muito insuficientes. Nessa época as
teorias socialistas começaram a surgir juntamente de
movimentos revolucionários, Karl Marx dizia que a vida do
operário ia “além do sacrifício, era mortificação”, mas a guerra
contra a burguesia não se solidificou e, segundo Hobsbawn, “a
súbita, vasta e aparentemente inesgotável expansão da
economia capitalista mundial forneceu alternativas políticas aos
países mais avançados”, ocasionando no “recuo da revolução
política e no avanço da revolução industrial”.

Por volta de 1848 deu-se início a “Era Do Capital”, esta buscava


defender os interesses da classe burguesa, tornando os pobres
uma espécie de “ameaça controlável” na participação política de
uma pseudo democracia.

2.1 A POLÍTICA E O VOTO

O liberalismo clássico era a ideologia política adotada pela


burguesia da época. A Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789 era um documento de exigências da burguesia,
porta voz dos pobres e seus desejos perante a sociedade, esta
burguesia não visava a igualdade social democrática, mas sim
um “manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios dos
nobres”, tendo como pauta a previsão da “existência das
distinções sociais, o direito à propriedade privada e a igualdade
perante a lei”.

Os discursos dessa classe social para a população pregavam visar


o bem estar de todos, porém, abrangiam apenas os interesses
dos mais ricos e não possibilitavam a ascensão social da classe
trabalhadora, em relação ao voto, a escolarização só foi
disponibilizada para alfabetizar a população suficientemente
para que eles pudessem votar, tendo em mente uma
manipulação desses mesmos votos para instaurar a
“democracia” mais conveniente para privilegiar os ricos.

Os operários não conseguiam se escolarizar devido à grande


necessidade de trabalhar, abrir mão da educação acabava não
sendo uma escolha, mas sim a única opção mediante a
sobrevivência. A iniciativa do escolanovismo foi tornar a
educação um direito de todos, mas como a vida do pobre não
possuía brechas para viver além das indústrias, eles abdicavam
de seus direitos aos estudos, deixando a política nas mãos da
burguesia.

2.2 O SONHO DA ASCENSÃO

As pessoas aceitavam qualquer salário e viviam o conceito de


desumanização, no meio da promiscuidade e da miséria. Com o
passar do tempo, o sonho igualitário ganhou forças e a ascensão
econômica começou a instigar os trabalhadores. Como a
burguesia acreditava em meritocracias e disseminava essa
ideologia, o pobre passou a almejar os estudos visando crescer
socialmente.

Alguns trabalhadores das indústrias recebiam salários maiores


devido as experiências e especializações, no intuito de tornar a
mão de obra industrial mais bem qualificada para ofertar
melhores serviços aos patrões, surgiram o SENAI e o SENAC.
Ambos eram focados na qualificação desses profissionais
industriais, na ideia de que profissionais mais qualificados
geravam melhores resultados para os patrões e,
consequentemente, ganham um pouco a mais do que os demais
funcionários.

A meritocracia abordada na época não existia de fato. Os


privilégios eram advindos do nascimento e mesmo com
funcionários bem especializados, era muito difícil uma ascensão
realmente significativa com todas as barreiras e a vida ainda
miserável na qual o pobre era sujeitado.

3. A FILOSOFIA FRANCESA

Não demorou muito para que teorias sobre o porquê o pobre não
conseguia status social elevado começassem a ser criadas e
propagadas. A burguesia se isentava de qualquer culpabilização
pela vida imoral das classes mais baixas, o que levou os teóricos
a alimentar uma percepção sobre superioridade biológica de uns
perante outros, como se os menos afortunados só o fossem por
determinação genética e incapacidade de desenvolvimento
intelectual, fruto do fracasso socioeconômico deles e de suas
famílias.

Com o avanço do iluminismo as teorias clericais foram


abandonadas e substituídas pelas argumentações científicas, as
quais deram margem para a interpretação particular dos
filósofos franceses, que eram, na época, parte da burguesia. A
igreja afirmava que todos os homens provinham de uma mesma
fonte, alegando que todos eram iguais enquanto a filosofia dizia
que o homem vinha de múltiplas fontes, logo, haveriam espécies
distintas física e psiquicamente.

Os teóricos como Saint-Simon afirmavam que os negros eram


biologicamente mais inferiores aos brancos intelectualmente e
que se fossem submetidos exatamente ao mesmo meio social e
educacional, ainda assim não de desenvolveriam como os
europeus, essas teses eram também abraçadas pelos
antiescravistas da época.

Analisando o cenário descrito no livro é perceptível que o


discurso dos antiescravistas tinha como base ideológica o horror
a imoralidade introduzida nos brancos que eram provenientes
da escravidão, não na simpatia com os negros. Vale ressaltar que
nesse balanceamento de escravidão e mão de obra assalariada,
os antiescravistas afirmavam que era mais rentável o
trabalhador assalariado do que a mão de obra escrava.

Os liberalistas utilizavam o racismo como uma forma de


justificação as diferenças entre classes, o que pode gerar uma
“impossibilidade de crescimento moral, econômico e
intelectual”, uma vez que se convence o oprimido que ele é
culpado pela sua própria opressão. Utilizavam, também, a
“capacidade de dominação” como argumento para provar uma
superioridade pré-determinada, segundo Poliakov “os senhores,
por definição, são superiores aos escravos”, a teoria ariana era
propagada até mesmo dentro das escolas por ser considerada
uma ciência de origem biológica.

O que diferia os liberais dos socialistas da época é que o


liberalismo ainda tinha como base esses conceitos de privilégios
de raças, enquanto o socialismo visava a igualdade coletiva e não
era adepta aos conceitos biológicos de adaptação dos mais
desenvolvidos ou homens geneticamente mais capacitados do
que outros, segundo Poliakov. Charles Darwin era utilizado
também na argumentação a favor da escravidão, tendo como
pauta a obra “Origem das Espécies” que dissertava sobre a
sobrevivência e a adaptação dos animais mais desenvolvidos,
como se os servos fossem menos adaptados do que seus
senhores.

4. A MEDICINA E A EDUCAÇÃO

No intuito de entender o porquê algumas crianças aprendiam


mais do que outras na visão prática e menos teórica como trazia
a filosofia da época, a medicina e a psiquiatria passaram a se
interessar pelo desenvolvimento dos alunos dentro da sala de
aula. Como a medicina era embasada em diagnósticos e
tratamentos, os alunos com dificuldade foram rotulados com
possíveis doenças psicológicas que os impediam de aprender,
trazendo o conceito de anormalidade da psiquiatria para a sala
de aula, os alunos com essas dificuldades eram tidos como
“idiotas”, e o termo biológico não foi, então, extinto da
escolarização.

A segregação foi consolidada na criação de “pavilhões especiais”


que separavam os considerados inaptos dos “mais
desenvolvidos”, a escola abraçou o termo “anormais escolares” e
junto com os médicos da área, eles procuravam anormalidades
orgânicas nos alunos. Após esse período, os psicólogos e os
pedagogos aderiram a “avaliação das aptidões”, abordando
teóricos como Piaget, Rousseau e Binet no estudo das
“diferenças individuais de rendimento escolar em todo o
mundo”. As clínicas se tornaram então uma “fábrica de rótulos”,
onde o intuito era diagnosticar esses alunos e não os inserir de
forma adequada na escolarização.

A psicologia escolar perdeu o caráter pedagógico muito tempo


depois quando parou de estudar o aluno e começou a olhar pelo
lado metodológico. Ao entender que a realidade do aluno era o
fator pelo qual ele não se adaptava aos métodos de ensino, uma
reforma no pensamento dos professores passou a ser o objetivo,
visando a desmitificação do biológico e incluindo o lado
ambiental, o qual gerava uma percepção sobre as
potencialidades individuais e a particularidade do próprio aluno,
revelando que as crianças possuíam diferentes motivações e por
isso cada uma tinha uma forma diferente de aprender, teoria
essa que até hoje é difícil de ser aplicada com eficiência.

De acordo com a autora, para a educação ser igual é necessária


uma igualdade de todo os outros fatores.

5. A VISÃO DAS PROFESSORAS

Adeptas dessa carga de preconceito enraizado historicamente, as


professoras da escola tinham discursos nobres que se
contradiziam logo em seguida, revelando o caráter inconsciente
da visão que tinham dos alunos e da periferia. Muitas das
entrevistadas eram carregadas de um certo “medo” em relação
aos entrevistadores, buscando uma perfeição metodológica e
discursiva na frente deles inicialmente, o que foi mudando ao
longo da conversação com os responsáveis pela pesquisa de
campo.

É perceptível como a natureza dos discursos muda durante uma


simples entrevista, palavras que vão de “o professor não aposta
na criança, acha que a criança de periferia não tem condições,
não tem saúde, falta demais e tem problema de alimentação”
para “fico em dúvida porque a autovalorização eu desenvolvi,
mas ele não aprendeu” é contraditória e mostra que mesmo com
a causa nobre de entender a significância metodológica do
professor, mas ao mesmo tempo afirmar o pensamento enlatado
de que alguns não têm capacidade suficiente para aprender.

6. A REALIDADE DO ALUNO

A teoria da carência cultural é inteiramente baseada no


ambiente sociológico em que a criança está inserida, trocando a
justificativa da incapacidade intelectual pela cultura local, o
preconceito é novamente disseminado dentro das salas de aula.

O ambiente das favelas é, de fato, menos propício a motivação


do que o ambiente burguês. Os moradores do bairro vivem em
casas pequenas com muitos moradores e em sua maioria vivem
vidas miseráveis, buscando diariamente a sobrevivência.
Enquanto a burguesia se ocupa dos pensamentos de ascensão e
ambições mais elevadas, o pobre consiste em acreditar no fim da
luta pela sobrevivência, sem sonhos tão grandes a serem
alcançados, a maioria se contenta com a estabilidade para viver
com o mínimo de dignidade, o que pode gerar uma
desmotivação no aluno em entender que quando se nasce pobre,
dificilmente o futuro dele estará além dos barracos das favelas.

6.1 A DIVISÃO DENTRO DAS FAVELAS

Além do preconceito dentro das escolas existe também a


vertente de divisão entre os próprios moradores da favela do
bairro Jardim Felicidade, alguns moradores que possuem
melhor estabilidade e condições de moradia olham os demais
como intrusos, buscando se diferenciar deles ressaltando os
bens materiais que possuem ou se referindo a eles como
“coitadinhos”.

As entidades que cuidam do bem estar dos moradores como a


SAB buscam constantemente o desfavelamento da região,
afirmando que “eles não vão conseguir, a área é nossa, é área
verde”, ressaltando uma guerra do pobre contra o próprio pobre,
porém que está em condições ainda mais precária.

7. CONCLUSÃO

Avaliando o cenário descrito no livro, a atualidade não está tão


distante do passado e mesmo após os 20 anos de lançamento da
obra, o tema ainda é frequente dentro das escolas e enraizado na
sociedade. O preconceito com a figura periférica é cultural, a
segregação entre ricos e pobres consiste ainda na ideia de que o
favelado é “sujo”, imoral e de baixo intelecto, é comum utilizar
termos como “favelado” na intenção de ferir a dignidade de
alguém quando não deveria ser aceitável atacar outras pessoas
com argumentos de origem hereditária, fatores imutáveis. A
utilização do termo favelado provém dos estereótipos adquiridos
historicamente, da pseudo superioridade que uns carregam em
relação aos outros.

A cultura da superioridade é tão presente no cotidiano que as


competições ocorrem em indivíduos do mesmo meio, assim
como foi descrito na segregação dentro da própria favela. Esse
conceito pode facilmente ser colocado dentro das escolas, no
ambiente de trabalho ou até mesmo na vida social das pessoas,
estas que buscam sempre se destacar diante das outras, numa
tentativa ilusória de aceitação e popularidade que só é aceita
pelos igualmente corruptos e desmoralizados, uma vez que se
entende que não existem seres superiores, não há espaço para a
disseminação das ideias cujo objetivo é diminuir uns aos outros.

A superioridade retratada no livro é ainda presente na própria


argumentação dos escritores do livro, que ressaltam a pobreza e
o currículo do morador da favela que tentava mostrar sua
superioridade em relação aos vizinhos:

“…Diz o sr. Laércio, 34 anos, oriundo do interior de São Paulo,


filho de trabalhadores rurais que fez o supletivo de primeiro
grau já adulto e atualmente trabalha como auxiliar de
administração, mas se considera um administrador de empresas
e faz questão, durante toda a entrevista, de se diferenciar dos
demais moradores enumerando os cômodos de sua casa e os
bens materiais que possui”.

A intenção de ressaltar a pobreza da origem do morador e o


trabalho de baixa valorização financeira e de status mostra que
até mesmo as causas mais nobres são carregadas de
superioridade, desta vez, utilizada pelos escritores que são
contra a ideia de que uns são melhores que outros.

A forma liberalista da época tinha a intenção nobre, mas não era


aplicada de fato. A extinção do conceito de posição social
mediante a hereditariedade é uma das características principais
para a extinção dos estereótipos e do comodismo social, além da
autodesvalorização e a falta de motivação para construir a vida
com dignidade independente do ambiente de nascimento ou
posição socioeconômica, a igualdade total é uma utopia
construída pelo socialismo, reforçando a ideia de que o mundo
só é mal porque uns tem mais do que os outros, o que acaba
reforçando os estereótipos ao invés de extingui-los e cria na
mente do pobre uma rivalidade contra os ricos, como se eles
ainda fossem culpados pelo seu fracasso. O conceito
meritocrático não existe em uma sociedade que se vitimiza e
nem em uma sociedade que explora, há uma linha tênue entre
lutar contra a exploração e culpar automaticamente o outro pelo
fracasso, a primeira te impulsiona a solidificar metas e atingir
objetivos enquanto a outra te faz refém da própria realidade,
tornando-a além de uma barreira, um ponto de chegada.
A ideia de Maria de que “para a educação ser igual é necessária
uma igualdade de todo os outros fatores” é igualmente utópica.
Como a igualdade plena é meramente fantasiosa, é fácil perceber
que essa ideia se resume em afirmar que a educação nunca será
meritocrática, fadando o aluno ao fracasso de se tornar uma
vítima do próprio vitimismo social uma vez que a
hereditariedade é propagada nos discursos onde colocam os
fatores externos como determinantes.

A respeito da solução ideológica para a finalização desses


preconceitos dentro de sala de aula, é possível afirmar que tal
fato só se consolida depois de diversas reformas de caráter
construtivista, visando a desmitificação da incapacidade do
pobre diante das classes mais altas. O professor é tão
responsável pela educação do aluno quanto seus pais e o próprio
aluno, não existe troca de conhecimento sem engajamento de
ambas as partes e o apoio materno nos primeiros anos escolares
também podem motivar ou desmotivar a criança, tendo
relevância na construção das metas e dos objetivos para a vida
adulta.

É importante lembrar ao leitor que sempre haverá preconceito,


mas que ele não pode jamais ser tolerado

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