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presente)
Este artigo resulta de compilação e organização pelo Professor Leonardo Labrada de uma
aula para qual fui convidada a ministrar pela Escola de Formação Política Castro Alves,
pela União da Juventude Socialista (UJS) e pelo Canal midiático E Se Fosse Você, da
jornalista e militante política Manuela D’Ávila, no conjunto do Debate “Entenda o
Fascismo para ser Antifascista”.
Escrevi em 2007:
Com estas características, este movimento que agora surge como exemplar para um
projeto de "recuperação moral brasileira", em que a evocação do seu lema: "Deus, Pátria
e Família" é recuperado como bandeira, cabe ressaltar que não é um tema desconhecido
pela Academia e por memorialistas. Reproduzo, a partir do que escrevi na minha Tese de
doutorado sobre as pesquisas sobre o integralismo:
"Entre os estudos consultados sobre o movimento que são, de certa forma, substanciais a
partir da década de 1970, estão os já clássicos trabalhos de Hélgio Trindade, Marilena
Chauí, Gilberto Vasconcellos, José Chasin, Ricardo Benzaquen de Araújo, Hélio Silva e
Ivan Alves. Com o alongar da pesquisa, que chega à atualidade, pude acompanhar o
surgimento de novos interesses e novas leituras sobre o movimento, a partir da década de
1990. Esta retomada pelo estudo do integralismo demonstra a sua importância na vida
política e social brasileira. Novas Teses sobre o integralismo foram produzidas por uma
geração mais recente. Os trabalhos de Carla Brandalise, Ivo Canabarro, João Fábio
Bertonha, Marcos Chor Maio, Renato Dotta, Gilberto Calil, Rosa Maria Feiteiro Cavalari,
Rogério Lustosa Vitor, estavam entre os mais importantes no período de elaboração da
minha Tese, entre outros[ii]. De modo geral, todos os autores relacionados contribuem
para a compreensão da participação integralista no pensamento político nacional. Dentre
eles, destaca-se o conjunto da obra de Trindade, ponto de referência para trabalhos
importantes produzidos sobre o integralismo. Esse autor analisa profundamente a gênese
do pensamento pliniano, seus desdobramentos ideológicos até a criação da AIB, e a sua
organização político-social. A partir de dados quantitativos e qualitativos, ele resgata
aspectos importantes que reconstroem a organização interna do integralismo. Na nova
historiografia sobre o integralismo sobressai-se o trabalho de Fábio Bertonha, que, ao
pesquisar a assimilação do fascismo entre os imigrantes italianos, desvendou lacunas
documentais que se achavam sob a poeira dos arquivos da Itália. Desta forma pode
comprovar a relação de proximidade, não só ideológica, mas de compromissos políticos
entre o integralismo e o regime europeu. " (CARNEIRO, 2007,p. 2).
No meu caso, a motivação surgiu enquanto cursava a minha segunda Graduação, em
História, na Universidade Federal Fluminense. Sendo orientada pela Professora Doutora
Ângela Castro Gomes, a meu trabalho de conclusão de curso versou sobre a história de
minha avó militante integralista na década de 1930 e recebeu o título “Família
Integralista: do lar à Nação, memórias de uma militante”. A metodologia da História Oral
foi utilizada e, através da análise dos depoimentos dados por esta militante, busquei suas
impressões sobre a vivência no movimento. O trabalho procurou estabelecer as conexões
entre cotidiano da mulher e da militante de um movimento com características fascistas
que não prescindia do caráter compulsório da participação de seus filiados.
O herói Ur-Fascista aspira à morte, anunciada como a melhor recompensa para uma vida
heroica. O herói Ur-Fascista espera impacientemente pela morte. E sua impaciência, é
preciso ressaltar, consegue na maior parte das vezes levar os outros à morte.” (ECO,
2002); transferência da violência para a uma sexualidade frustrada: “Como o sexo
também é um jogo difícil de jogar, o herói Ur-Fascista joga com as armas, que são seu
Ersatz fálico: seus jogos de guerra são devidos a uma inveja pênis permanente. (ECO,
2002)
Recuperando outro trecho de artigo por mim publicado (CARNEIRO, 2019), aponto a
pesquisa e análises do professor Francisco Carlos Teixeira da Silva como exemplar para
o fenômeno fascismo como persistência no mundo capitalista liberal e democrático:
Como escreve Silva, a linguagem fascista articula uma série de sintagmas e vocábulos
que, por repetição e saturação, normalização o improvável, o inumano, o ilógico e o
irracional, rebaixando o nível do debate político e constituindo-se em indispensável elo
de união entre os indivíduos em processo de fascistização” (DA SILVA, 2019), é possível
entender algumas das permanências morais que, num absoluto “fuzzy[iii]”, reúne
elementos das “tradições” religiosas descontextualizadas, assim como máximas morais
superadas por outros hábitos e relações sociais na história. Há nestas relações subjacentes
na civilização ocidental, as referências à cidade de Ur como um dos berços das
civilizações, mas também, como o ponto de partida de Abraão ou da nova aliança.
Segundo a análise de Deleuze e Guattari, o Urstaat original, surgido totalmente armado,
por um golpe de um senhor, é o “eterno modelo de todo Estado quer ser e
deseja”. (DELEUZE & GUATTARI, 1976, p. 275). (In CARNEIRO, 2019).
Para o curso de Doutorado, orientado pela Professora Ana Maria Mauad, dispus-me
investigar os mecanismos de construção das memórias integralistas a partir das estratégias
argumentativas de seus militantes que procuram seguir as linhas mestras delineadas pelo
Chefe da AIB à época da sua fundação. Dando continuidade ao trabalho com a História
Oral, que vinha fazendo desde a Graduação, entrevistei mais dez pessoas que participaram
ou ainda participam do movimento até estes tempos da pandemia COVID-19. E este
trabalho, com a análise da produção de memórias integralistas resultou na minha Tese de
Doutoramento, que teve como principal apoio, os relatos destes depoentes. A partir dos
depoimentos, analisei a trajetória de três gerações que se sucedem no integralismo. Cada
qual tentando responder as questões que afloram nas disputas pelos espaços de poder e
de representação da sociedade brasileira. Atualmente, considero que a quarta geração,
que surgiu da ruptura que descrevo abaixo, já se encontra superada por uma 5ª. Geração,
que se atualizou pela introdução de outras demandas e ideias estranhas à original
“Revolução do Espírito”.
Quanto à águia, esta ave, com capacidade de voo alto representaria, para Salgado, no
período em que o integralismo se organizava sob a sigla do Partido de Representação
Popular, a juventude perrepista. Os jovens do PRP, ligados aos Centros Culturais e da
Juventude eram chamados de “Águias Brancas”.
Tanto o Fascismo quanto o Integralismo são movimentos modernos, que só poderiam ter
existido na sociedade de massas do século XX, com seus meios de comunicação
(propagandas, jornais e rádio). São movimentos revolucionários, na perspectiva de uma
re-volução cíclica, de um retorno a referências anteriores ao iluminismo[ix].
A geração que participara do terceiro período por mim delimitado, que se iniciara após a
morte de Plínio Salgado, em 1975, era composta por aqueles que, independentemente de
idade, estavam procurando trazer à discussão e, mais que isto, torná-la fator de direção de
ações interventoras na sociedade brasileira, o integralismo. Esta geração estaria marcada
pela decepção com o modelo ocidental capitalista. A tentativa de se organizarem após a
morte de Plínio Salgado não levaria à uma união nacional, como a da década de 1930. Se
sentiram traídos com o processo de abertura que levou ao fim a ditadura militar. Entre
seus participantes estavam, também, os antigos águias-brancas, que passaram a assumir
a filiação ao PRP, e que se tornam referência, pois “guardiões” de uma memória da
convivência física com o próprio Chefe Salgado. Eram também aqueles que conseguiam
aglutinar no seu entorno o maior número de participantes que mantinham espaços de
referência, como a Casa de Plínio Salgado, um importante “lugar de memória” do
movimento. Atualmente, a ligação familiar dos novos com os velhos integralistas se dilui
no tempo. Os que mantiveram o integralismo em suas famílias viram perder, entre os
velhos e os jovens, a geração dos seus próprios filhos que escolheram outras bandeiras de
luta, inclusive de oposição. Este era o caso de dois antigos águias-brancas, Gumercindo
Rocha Dórea e Pedro Baptista de Carvalho. Um terceiro perrepista, Anésio Lara Campos
Jr., já falecido, era meio-irmão mais velho do ex-Senador Eduardo Suplicy, do Partido
dos Trabalhadores.
Algumas características que uniam essa nova geração, por exemplo, era o fato de alguns
frequentarem o escotismo. O catolicismo também é preponderante entre os novos
integralistas, como foi nas outras duas gerações. O interesse pela ordem militar, a crítica
à corrupção política, a descrença da democracia, os levam a sentirem necessidade de
rumo, de uma diretriz confiável num mundo materialista, a mercê do consumo, e
dominado pela mídia que despreza, segundo estes, a “elevação moral da sociedade”,
segundo os valores cristãos.
Portanto, percebe-se que é preciso tratar a análise deste movimento com suas
características próprias, singulares. A sua peculiaridade é demonstrada pelo processo de
construção dos integrantes do movimento de uma forma de pensar especial, baseada na
leitura do Manifesto Integralista de 1932. Como referência básica, este Manifesto integra
a fidelidade do Chefe Nacional à Encíclica Papal Rerum Novarum, assim como propõe à
sociedade uma organização tipicamente fascista. Catolicismo e fascismo dão, portanto, a
tônica a este movimento.
Durante toda a trajetória do movimento, então, se percebe a necessidade de manutenção
dos símbolos, ainda que a nova geração procure romper com as antigas certezas do
movimento, como a dedicação fiel e obediente à Doutrina do Sigma. Mas ainda são
mantidos os principais lemas integralistas, como a luta nacionalista, anticomunista,
antiliberal, moralista. A proposta de construção de um Estado Integral, que consideram
síntese de toda história, simbolizada pelo Sigma (Σ), é entendida como seu próprio fim e
vai sendo atualizada por cada geração que a reinterpreta de acordo com a conjuntura
histórica.
Assim sendo, a via percorrida pelo movimento integralista descrita acima ganha
contornos específicos na passagem de gerações e em suas intercessões. Através dos
depoimentos, em confronto com a literatura produzida pelo movimento em sete décadas,
propus-me atravessar a história do integralismo, tendo em vista comprovar a minha
hipótese principal na Tese: a da comprovação da manutenção de permanências que
evocam uma moral e visões de mundo que procuram solidificar num modus vivendi
integralista, toda uma espécie de cultura conservadora que atravessa e que é atravessada
pela perspectiva, sempre renovada, da busca de uma sociedade ordenada e hierárquica
que possibilite a eternização de uma sonhada utopia de um eterno retorno a um tempo
idealizado, de obediência à ordem divina cristã. É um tempo cíclico que é evocado. Isto
seria garantido pela força de uma ideia, a do Estado Integral, que garantiria, através da
ordem corporativa, a estagnação da dinâmica histórico-social com o controle da luta de
classes. Pela consolidação da soma, pela exclusão das diferenças, que é representada pelo
Sigma.
O filósofo e jurista Miguel Reale era o mais jovem dos três e participou como combatente
na Revolução Constitucionalista de 1932. Foi o intelectual responsável por dar volume
conceitual ao movimento, filtrando grandes pensadores da filosofia ocidental e
contemporâneos como Giovanni Gentili (1875-1944), Benedetto Croce (1866-1952),
Alfredo Rocco (1875-1935). Contribuiu para o movimento com suas discussões de cunho
humanitário, algo que vai distinguir o movimento integralista do fascismo italiano.
Também foi o responsável pela adoção da letra grega Sigma (∑) como símbolo do
movimento, que significaria a soma de cada indivíduo em uma unidade nacional, além de
ser a letra utilizada pelos primeiros cristãos gregos para identificar Cristo (Soteros:
Salvador).
O cearense Gustavo Barroso foi um importante folclorista, tendo escrito 128 livros, além
de ocupado cargos importantes, como o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional e
tendo ampla atuação na Academia Brasileira de Letras. Barroso era notadamente o mais
xenófobo/antissemita dos três, tendo extensa publicação sobre o tema
O lema “Deus, Pátria e Família” não é uma criação desse movimento, mas é incorporada
por alegadamente ter sido a última frase em vida do 6º Presidente do Brasil Afonso Pena
(1906-1909), vítima da gripe espanhola. O lema seria a base para o que os integralistas
chamam de tradição brasileira, que deve se tornar um projeto de Estado brasileiro, não
democrático, mas que também não se identifica com uma ditadura militar, mas sim com
um Estado forte e centralizado, organizado nos moldes do corporativismo. Neste sentido,
incorpora o Trabalho como base, mas não como direção participativa. A participação
política se faria por representação sindical, através da filiação do trabalhador ao sindicato,
havendo restrição ao voto universal, portanto.
Cabe ressaltar que, na atualidade, outro lema em voga como motivador da eleição do atual
presidente: “Brasil acima de tudo”, está citado como lema do Instituto Nacional de
Aperfeiçoamento da Raça (INPAR), sob a direção de Arlindo Veiga dos Santos, fundador
e presidente da Frente Negra Brasileira entre 1931 e 1934. Os Estatutos do (INPAR)
datam de 1935.
No lema integralista, Deus está acima de tudo e todos, sendo o espírito maior que “dirige
o destino dos povos[xi]”. A Pátria é a nação e o elemento unificador do povo[xii], que se
organiza em um modelo totalitário[xiii]. E, por fim, a Família, que é o alicerce da nação,
base desse Estado corporativo, a que os integralistas chamam de democracia orgânica.
Essa democracia, que se vale do voto indireto, se estrutura da seguinte forma:
Cada brasileiro se inscreverá na sua classe [profissional]. Essas classes elegem, cada uma
de per si, seus representantes nas Câmaras Municipais, nos Congressos Provinciais e nos
Congressos Gerais. Os eleitos para as Câmaras Municipais elegem o seu presidente e o
prefeito. Os eleitos para os congressos Provinciais elegem o governador da Província. Os
eleitos para os Congressos Nacionais elegem o Chefe da Nação, perante o qual respondem
os ministros de sua livre escolha. (Manifesto de 7 de Outubro de 1932).
A estrutura desse modelo de família reproduziria o lema; “Deus, Pátria e Família”. Acima
de todos os membros familiares está o chefe da família: o pai, provedor e trabalhador. O
chefe da família participa da política por meio das corporações de trabalhadores, que
substituem o conceito de sindicato, numa clara concepção salazarista[xiv] de controle das
classes trabalhadoras.
Logo abaixo na hierarquia familiar, submissa ao chefe de família, a mãe exerce a sua
função principal de senhora do lar e educadora dos filhos[xv]. Visto que a Família é a
base do Estado Integral, essa mãe educadora também seria a professora das escolas
integralistas (com classes separadas para meninos e meninas), além de ter seu papel
militante na vida política pública como a representação da mulher tradicional e direito ao
voto das eleições indiretas.
A doutrina Sigma, como visto acima, tem um alto nível de organização e estruturação,
tanto do ponto de vista ideológico como de funcionamento de sociedade. Esse talvez seja
o ponto que mais a difere do fascismo, visto que as suas características impossibilitam a
unificação de uma doutrina[xviii]. Ao abordar o aspecto humano em sua concepção de
Estado corporativista, os integralistas entendem que o Integralismo é uma doutrina
totalitarista (que unifica o funcionamento social sob uma única entidade) e não totalitária.
Consideram que na síntese integralista, seriam suprimidos os antagonismos das
contribuições “materialistas” dos iluministas, dos liberais, dos comunistas, socialistas e
mesmo dos idealistas. O Estado Integral, em defesa de uma unidade orgânica, deveria
integrar o descriminado: “O todo não deve absorver as partes (totalitarismo), mas integrar
os valores comuns respeitando os valores específicos e exclusivos (integralismo)[xix].”
A doutrina Sigma se totaliza ao adaptar a escatologia católica como o seu projeto de longo
prazo. Os integralistas, ao falecerem, se unem em uma milícia além-túmulo que
aguardaria o Apocalipse para, por meio da ressurreição da carne, desfrutarem a vida
eterna sob o Império do Cordeiro com o retorno de Cristo.
Componentes ideológicos:
Disseminação
Gerardo Melo Mourão (1917-2007), poeta brasileiro, foi levado a se filiar à Ação
Integralista Brasileira pelo intelectual católico Alceu Amoroso Lima[xxii] (1893-1983).
Esteve presente no momento em que o Integralismo chegou no Rio de Janeiro, quando
Plínio Salgado falou sobre o movimento na biblioteca do poeta modernista Augusto
Frederico Schmidt (1906-1965) na Rua Sachet n. 32 (conhecida como Travessa do
Ouvidor). Ali se encontravam os jovens[xxiii] do Centro Acadêmico da Faculdade de
Direito do Catete da Universidade do Brasil (UFRJ).
Rebeliões de 1935
No ano de 1930, Getúlio Vargas assumira a presidência com apoio de setores civis e
militares, pondo fim à chamada República Velha. O primeiro governo de Vargas
enfrentou grande descontentamento por parte dos brasileiros, que inclusive o viam como
uma ameaça à democracia. Em março de 1935 foi fundada a Aliança Nacional
Libertadora (ANL), um movimento democrático brasileiro e antifascista, cujo presidente
de honra foi Luís Carlos Prestes (1898-1990). A ANL se formara numa onda de
mobilizações populares antifascistas que tomaram a Europa. Com efetiva participação
dos comunistas, a ANL também se compunha de militares, liberais e católicos que se
opunham ao governo Vargas.
• Plínio Salgado: líder da Ação Integralista Brasileira (AIB) que mesmo contra a
democracia liberal burguesa se organiza no Partido Republicano Paulista para
iniciar seu projeto do Estado Integral de maneira gradual;
• Armando Sales de Oliveira (1887-1945): candidato pela União Democrática
Brasileira (UDB);
• José Américo de Almeida (1887-1980): ministro da Viação e Obras Públicas do
governo varguista, era o candidato pela situação.
A tensão do cenário político era palpável, principalmente pelo perfil radical da oposição
e das manifestações que buscavam depor o então presidente, contando inclusive com uma
aliança momentânea entre liberais e integralistas. Sem intenção de sair do poder, Getúlio
Vargas começa uma série de manobras articulatórias para um novo golpe, com a ciência
dos integralistas que esperavam que a Doutrina Sigma fosse a base da nova ditadura.
No dia 30 de setembro de 1937, foi noticiado pelo programa de rádio Hora do Brasil a
deflagração do chamado Plano Cohen, um projeto conspiratório judaico-comunista de
tentativa de tomada de poder. A conspiração fictícia foi elaborada pelo capitão do exército
Olímpio Mourão Filho, alta patente da AIB, com a intenção de amedrontar a população e
embasar o golpe varguista[xxv].
No dia 01 de novembro de 1937, Vargas, como teste da força integralista, os convida para
desfilarem em frente ao Palácio do Catete. Por volta de 50 mil integralistas se reúnem
para uma grande marcha, numa demonstração de força de apoio ao golpe. Segundo relato
de Gerard de Melo Mourão (LABHOI), a marcha teve uma estrutura similar a da via
crucis: os integralistas paravam em certos trechos do desfile e em cada trecho um orador
discursava de maneira inflamada.
A partir desse momento, uma perseguição do Estado Novo aos integralistas seria acirrada.
Plínio Salgado negaria o envolvimento com as insurreições e seria poupado até janeiro de
1939, quando foi encarcerado por poucos dias. Seria preso novamente em maio na
Fortaleza de Santa Cruz da Barra e, após um mês, seria exilado em Portugal até 1946.
Entre os mandatos para deputados federais, o PRP ocupou poucas cadeiras na Câmara
Federal (1945-1962), não compondo nem 10% do total do Congresso em nenhuma
legislatura.
Em 1964, Plínio Salgado foi um dos oradores da “Marcha da Família com Deus pela
Liberdade” em São Paulo, movimento de oposição ao presidente João Goulart. Apoiou o
golpe de 1964 que depôs o presidente João Goulart e instituiu a Ditadura Militar.
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Notas:
[ii] Obras sobre o integralismo utilizadas como base de análise da Tese: TRINDADE,
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(Trindade produziu vários trabalhos, hoje considerados clássicos e referência pelos
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outros diversos trabalhos, Bertonha demonstra a relação fascismo-integralismo e
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burguesa. Tese de Doutoramento, defendida em 2005 na UFF na qual Calil demonstra a
adaptação do PRP às regras liberais e seu distanciamento de algumas das idéias que eram
consideradas sólidas e inquestionáveis aos integralistas, como a questão da defesa do
nacionalismo; DOTTA, Renato. O integralismo e os trabalhadores –as relações entre a
AIB, os sindicatos e os trabalhadores através do jornal Acçâo (1936-1938). São Paulo:
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2004. Neste trabalho, a autora aponta contradições na construção da “democracia racial”
integralista
[iii] Referência que Umberto Eco utiliza para definir o ideário fascista: “O fascismo não
era uma ideologia monolítica, mas uma colagem de diversas ideias políticas e filosóficas,
um amálgama de contradições.” (ECO, 2017, p. 17).
Acesso em 17/07/2020
[viii] Em sua aula para a USJ intitulada “O Ovo da Serpente: origens teóricas e históricas
do Fascismo”, o professor João Quartim de Moraes cita um discurso de Benito Mussolini
(1883-1945), dado em Março de 1921, da qual extraímos o seguinte trecho: “Damo-nos
ao luxo de ser aristocráticos e democráticos, reacionários e revolucionários, legalistas e
legalistas, conforme as circunstâncias de local, momento e ambiente em que somos
compelidos a viver e agir.
[x] Intelectuais de importância como Dom Hélder Câmara e Roland Corbisier que,
posteriormente, se afastaram política e ideologicamente do integralismo.
[xii] A Nação Brasileira deve ser organizada, una, indivisível, forte, poderosa, rica,
próspera e feliz. (idem)
[xiii] Segundo esta perspectiva, o Brasil não poderia realizar a união intima e perfeita de
seus filhos, enquanto existissem Estados dentro do Estado, partidos políticos fracionando
a Nação, classes lutando contra classes, indivíduos isolados, exercendo a ação pessoal nas
decisões do governo. (idem, grifo nosso).
[xv] Plínio Salgado afirmara o contrário ao definir que “[...] a mulher integral, a mulher
que se realiza na sua plenitude biológica e espiritual, não é nem superior nem inferior ao
homem: é diferente.“ (SALGADO, Plínio, A Mulher no Séc. XX, p. 70;71
[xvi] Interessante notar o paralelo com as crianças de 1984, de George Orwell, que
também eram doutrinadas nas escolas e atuantes do regime totalitário como espiãs,
chegando mesmo a denunciar os próprios pais.
[xvii] Georg Wilhelm Friederich Hegel (1770-1831) afirmou que a história sempre se
repete. Karl Marx (1818-1883) complementou-o, dizendo que a primeira vez como
tragédia; a segunda, como farsa. (O 18 Brumário de Luís Bonaparte)
[xviii] Em seu livro O Fascismo Eterno, Umberto Eco elenca 14 elementos recorrentes
às concepções sócio/ideológicas fascistas que vão compor o que denomina “Ur-
Fascismo” e analisa a impossibilidade de organização unificada da aglutinação fanática
fascista.
[xix] Nota-se aqui referências do personalismo de Emmanuel Mournier (1905-1950),
ainda que essa linha de pensamento fosse antifascista.
[xxi] Hannah Arendt (1906-1975) vai se valer dessa discussão para delinear o conceito
de totalitarismo
[xxiii] Entre eles, o poeta e diplomata Vinícius de Moraes (1913-1980), ainda que seja
nebuloso se de fato aderiu ao movimento.
[xxiv] Ver CHAUÍ, Marilena. "Apontamentos para uma crítica da Ação Integralista
Brasileira". In Ideologia e Mobilização Popular. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
[xxv] Os Levantes Comunistas de 1935 já haviam sido utilizados como justificativa por
Vargas após a aprovação no Congresso da Lei de Segurança Nacional que suspendia a
validade da constituição de 1934 e fechava a ANL.
[xxvi] Dentre eles o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa (1937), o Zé Celso do
famoso Teatro Oficina.
[xxvii] Conhecido por forjarem o slogan “Halloween é o cacete, viva a cultura nacional.”