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Aula 12 - O pensamento sociológico no Brasil (parte 1)

- No período entre a segunda metade do século XIX até 1928, grandes expedições de
investigação científica das culturas indígenas foram realizadas no Brasil. Esses estudos
foram importantes para o desenvolvimento da Antropologia Física e Cultural, com enfoque
nos negros e culturas africanas no Brasil. Esses estudos prepararam o caminho para a
posterior institucionalização do ensino e da pesquisa em sociologia no país.
- A fase dos precursores da nova ciência no Brasil significou a acentuação do pensamento
sociológico e político, tendo como principais referências o positivismo, o evolucionismo, as
teorias antropogeográficas, a escola antropológica italiana e, por fim, a ecologia humana e
a antropologia cultural anglo-americana.
- O período da Sociologia de Cátedra iniciou-se em fins do século passado, quando
cátedras de Sociologia foram introduzidas nas Faculdades de Filosofia, Direito e
Economia. As primeiras cátedras de Sociologia em Escolas Normais surgiram em 1924-25,
enquanto disciplina auxiliar da pedagogia, dentro do esforço democratizante do movimento
reformista pedagógico que tem sua expressão maior no movimento da Escola Nova.
- A fase da Sociologia Científica, que buscava a consecução de um padrão de
institucionalização e prática do ensino e da pesquisa em sociologia, teve início em meados
da década de 1930. A institucionalização acadêmica da Sociologia no Brasil ocorreu com a
criação da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (1933) e com a criação da
Seção de Sociologia e Ciência Política da Faculdade de Filosofia da Universidade de São
Paulo (1934).
- O desenrolar da indústria e do comércio nos grandes centros do país, especialmente em
São Paulo e no Rio de Janeiro, foi o que impulsionou o desenvolvimento da Sociologia no
Brasil. A redemocratização de 1945 e a mobilização político-ideológica dos anos 50 e 60
criaram condições favoráveis à expansão das atividades de ensino e pesquisa em
sociologia.
- Temas como população, imigração, relações étnicas, assimilação, educação, história
social, Direito, Ciência Política, estudos de comunidades, análises regionais, Sociologia
rural e urbana ocuparam posição de destaque na produção das ciências sociais brasileiras
durante esse período.
- Nos últimos anos, a Sociologia no Brasil tem acompanhado as mudanças sociais, políticas
e econômicas do país. A diversificação dos temas e das abordagens tem buscado ampliar
as possibilidades de reflexão sobre a sociedade brasileira. A Sociologia tem sido um
campo de estudo fundamental para a compreensão das relações sociais, culturais,
políticas e econômicas que permeiam o país.
- A Teoria da Modernização enfatiza as condições societárias, normativas e institucionais
necessárias para o desenvolvimento da "Sociologia Científica". A "Sociologia Científica" é
caracterizada pela adoção dos princípios básicos do conhecimento científico em geral e
pelo desenvolvimento de procedimentos de pesquisa refinados e poderosos. Espera-se
que um patamar superior de modernização societária leve à institucionalização plena da
"Sociologia Científica".
- Por outro lado, a Teoria do Neo-Colonialismo ou Neo-Imperialismo assume que a
persistência de uma situação neocolonial ou dependente implica estagnação econômica e
formas políticas autoritárias e, consequentemente, em um clima cultural desfavorável à
evolução das ciências sociais. A persistência da influência intelectual dos centros de
sociologia dos países centrais sobre a Sociologia latino-americana acarreta a
predominância de uma sociologia neocolonialista ou dependentista.
- A abordagem "nacional" tende a enfatizar a necessidade de uma "crise" da Sociologia
dentro da luta pela "libertação nacional" e por uma sociedade nacional popular
democrática socialista. A elaboração e dominância completa de uma "Sociologia Nacional"
considerada como a única forma possível de superação da "crise" da Sociologia, uma vez
que a persistência de qualquer prática da "sociologia científica" implicaria na persistência
de "neocolonialismo/neo-imperialismo cultural".
- A crítica marxista a ambas as abordagens implicou uma crescente diferenciação
paradigmática que foi potencializada pelo período de crise e diversificação da Sociologia
brasileira, sob o efeito das medidas repressivas dos regimes autoritários.
- III - Excurso - Sociologia e Cidadania: Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso
- Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso são dois dos principais sociólogos
brasileiros e suas obras são referências para o estudo da sociedade brasileira. A
reconstrução comparativa da evolução da obra de ambos permite identificar quatro etapas
distintas na obra de Florestan Fernandes.
- A Etapa de Formação Intelectual de Florestan Fernandes estende-se do seu ingresso na
Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo em 1941 até o momento em que
assume a Cadeira de Sociologia I em 1953. Nessa etapa, destacam-se os levantamentos
acerca do folclore e da mudança social em São Paulo, a organização social dos
Tupinambás e a função social da guerra na sociedade Tupinambá. Além disso, Fernandes
realizou a introdução para a tradução da Contribuição à Crítica da Economia Política de
Marx, em 1946, e escreveu uma monografia sobre a concepção de ciência política de Karl
Mannheim.
- Na Etapa da Sociologia numa Era de Revolução Social (1952-1967), Florestan Fernandes
historiciza a problemática original de sua obra, que passa a ser nucleada na relação entre
razão e possibilidades de construção da ordem social, industrial e democrática no Brasil. A
sociologia aplicada ocupa lugar de destaque em sua produção intelectual nessa etapa.
- Na Hipótese da Demora Cultural, Fernandes aponta a possibilidade de emergência de
disnomias em setores da vida social, estereotipados em termos de tensões entre padrões
recorrentes tradicionais de ação e padrões racionais emergentes de institucionalização e
ação.
- A Etapa da Reflexão sobre a Revolução Burguesa no Brasil (1967-1986) é marcada pelo
estudo da formação da sociedade brasileira e da relação entre a estrutura social e a
formação do Estado. Nessa etapa, Fernandes reflete sobre a revolução burguesa no Brasil
e sobre o papel dos intelectuais na construção de uma sociedade democrática e justa.
- Na Etapa da Militância-Cidadã (1986-1995), Florestan Fernandes dedica-se à luta pelos
direitos civis e pela construção de uma sociedade mais igualitária. Ele participa ativamente
do movimento pela redemocratização do país e contribui para a elaboração da
Constituição Federal de 1988.
- Assim, a obra de Florestan Fernandes é marcada pela reflexão crítica sobre a sociedade
brasileira e pelo engajamento na luta pelos direitos civis e pela construção de uma
sociedade mais justa. Suas contribuições para a sociologia brasileira e para o pensamento
crítico são fundamentais para a compreensão da realidade social do país.
- Já Fernando Henrique Cardoso, além de sociólogo, é também político e foi presidente do
Brasil de 1995 a 2002. Sua obra é marcada pela reflexão sobre a formação da sociedade
brasileira e suas contradições. Em sua tese de doutorado, intitulada "Capitalismo e
Escravidão no Brasil Meridional", Cardoso analisa a formação da sociedade brasileira a
partir do papel da escravidão na economia do país e como isso influenciou na formação
das relações sociais.
- Em seu livro "Os Donos do Poder" (1958), Cardoso analisa a formação do Estado
brasileiro a partir da oligarquia cafeeira paulista e como essa elite política se manteve no
poder ao longo do tempo. Em "A Democracia Possível" (1997), Cardoso reflete sobre a
construção de uma democracia no Brasil e as dificuldades enfrentadas nesse processo.
- Além disso, Cardoso também é autor de diversas obras sobre a globalização e o papel dos
países periféricos no sistema mundial. Em "A Nova Era da Política Internacional" (1992),
ele discute as mudanças no sistema internacional após o fim da Guerra Fria e as
consequências para os países periféricos. Em "A Globalização e o Estado Nacional"
(1999), Cardoso reflete sobre as transformações no sistema mundial e como o Estado
nacional pode se adaptar a essas mudanças.
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