- O objetivo desta investigação é discutir o lugar e o valor da classe ociosa como fator econômico na vida moderna. Era preciso prestar certa atenção à origem e linha de derivação dessa instituição. Em alguns pontos, a discussão se dá com base na teoria econômica ou na generalização etnológica, que até certo ponto ainda pode ser desconhecida. - Os dados empregados para ilustrar ou acentuar o argumento foram preferencialmente retirados da vida cotidiana, por observação direta ou notoriedade óbvia. Esperamos que ninguém seja ofendido em seu sentido literário ou em sua capacidade científica por nosso recurso a fatos familiares. O costume de citar fontes Introdução - A instituição da classe ociosa surge em estágios avançados da cultura bárbara, como na Europa e no Japão feudal, onde as diferenças entre as classes são obrigatórias e as classes mais altas se dedicam a funções honoríficas como guerra, sacerdócio, esportes e ocupações governamentais, excluindo as funções industriais. A classe ociosa se divide em subclasses com diferentes funções não industriais, compreendendo nobres, sacerdotes e seus agregados. - Os chefes e a nobreza são os detentores dos meios de produção e dos recursos, e vivem de rendas e tributos provenientes do trabalho dos seus subordinados. Há uma clara divisão entre exploradores e explorados, e as hierarquias sociais são extremamente rígidas e desiguais. A religião, as crenças e os valores morais são utilizados para justificar e perpetuar essa ordem social, e todas as atividades econômicas, políticas e culturais estão subordinadas à manutenção do poder dos dominantes sobre os dominados. Esse estágio de barbárie ocorre em sociedades pré-modernas, com baixo nível de desenvolvimento tecnológico e de divisão do trabalho, e é caracterizado pela desigualdade, exploração, violência e ausência de liberdade e igualdade de oportunidades. - A evolução da classe ociosa na cultura bárbara e mostra como as tribos caçadoras nômades apresentam os primeiros estágios dessa diferenciação, com uma distinção entre as ocupações masculinas e femininas, mas ainda não há uma classe ociosa claramente definida. Conforme as funções se especializam, a linha de demarcação passa a dividir as funções industriais das não industriais, e as funções industriais se desenvolvem a partir das tarefas que cabiam às mulheres nas primitivas comunidades bárbaras, como a fabricação de objetos de uso doméstico e a produção de alimentos. - divisão de tarefas entre homens e mulheres em diferentes culturas, desde as bárbaras até as selvagens primitivas. Nas culturas bárbaras, embora o trabalho masculino fosse essencial para a sobrevivência do grupo, os homens não o consideravam como trabalho e não se equiparavam às mulheres, cujas tarefas eram consideradas rotineiras. Já nas culturas selvagens primitivas, a diferenciação de tarefas era menos definida e não havia uma classe ociosa. No entanto, esses grupos representam apenas uma pequena parte da raça humana e podem ser casos de degeneração de culturas superiores de barbárie. - comunidades primitivas sem uma classe ociosa definida, que são pacíficas, pobres e têm um sistema econômico sem propriedade individual dominante. A instituição da classe ociosa surgiu durante a transição de um modo de vida pacífico para um mais guerreiro. A diferenciação entre funções dignas e indignas persiste como preconceito corriqueiro mesmo na vida moderna, mas é uma diferenciação de caráter pessoal, nada tendo a ver com superioridade e inferioridade. - como a discriminação entre fatos é fundamentada em interesses específicos que mudam com o tempo. Uma análise dos fatos sempre destaca aspectos relevantes que são pertinentes ao interesse dominante do momento. Portanto, os fundamentos da discriminação e do critério de classificação de fatos mudam à medida que a cultura evolui e o ponto de vista dominante muda. O texto exemplifica isso com a discriminação entre ocupações industriais e não industriais, que é uma forma transmutada da discriminação bárbara entre proezas espetaculares e trabalhos rotineiros. Os economistas que mantêm a tradição clássica afirmam que o "domínio do homem sobre a natureza" é o fato característico da produtividade industrial. Antigamente, a antítese não era entre o homem e a criação bruta, mas entre o mundo animado e o mundo das coisas inertes, e o termo "animado" não cobria todas as coisas vivas e abrangia muitas outras. - divisão de trabalho em sociedades primitivas, onde as atividades são divididas em proeza e indústria. Proeza é a atividade espetacular, não industrial, que requer habilidades físicas e agressividade, como caça e guerra, e é desempenhada pelos homens. Indústria é o esforço para criar algo novo a partir da matéria passiva e bruta, e é desempenhada pelas mulheres e pelos membros do grupo incapazes do trabalho de homens. A divisão de trabalho entre os sexos é influenciada por diferenças físicas e de temperamento. As atividades masculinas de caçar e lutar são de natureza predatória, enquanto as atividades femininas são assíduas e uniformes, de moldar a matéria. O trabalho masculino é visto como aquisição pela força, enquanto o trabalho feminino é produtivo. - trata da discriminação entre proezas e trabalhos rotineiros, destacando que as tarefas que são consideradas proezas são dignas e nobres, enquanto as que não contêm elementos de proeza, especialmente as que implicam em subserviência ou submissão, são indignas e humilhantes. O conceito de dignidade, valia ou honra é importante para o desenvolvimento das classes e das diferenças de classe. O texto argumenta que o fundamento psicológico para esse conceito é o instinto de artesanato, que leva à emulação ou disputa entre os indivíduos quando se fazem comparações habituais de eficiência. O texto também descreve como a competição se torna a forma aceita e digna de auto-afirmação em culturas que valorizam a agressão e os despojos como prova de força excepcional, enquanto o trabalho produtivo e o serviço prestado a outro são considerados como atividades indignas e desagradáveis. - autor argumenta que, na evolução cultural, a luta sempre esteve presente, mesmo nos estágios mais primitivos de desenvolvimento social, mas a mudança de atitude espiritual é o resultado de mudança nos fatos materiais da vida do grupo, à medida que surgem as circunstâncias materiais favoráveis à atitude predatória. A cultura predatória é impraticável nos tempos primitivos enquanto não se desenvolvem as armas do grupo ao ponto de tornarem o homem um animal temível. O autor também defende que a diferença fundamental entre a fase de cultura pacífica e a fase predatória é uma diferença espiritual, não mecânica. A fase cultural predatória se firma gradualmente, pelo crescimento cumulativo de aptidões, hábitos e tradições predatórios; tal crescimento se deve a uma mudança na vida do grupo, de circunstâncias tendentes a desenvolver e conservar os traços da natureza humana e as tradições predatórias.