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RESENHA 3 - VEBLEN

"A teoria da classe ociosa"


- O objetivo desta investigação é discutir o lugar e o valor da classe ociosa como fator
econômico na vida moderna. Era preciso prestar certa atenção à origem e linha de
derivação dessa instituição. Em alguns pontos, a discussão se dá com base na teoria
econômica ou na generalização etnológica, que até certo ponto ainda pode ser
desconhecida.
- Os dados empregados para ilustrar ou acentuar o argumento foram preferencialmente
retirados da vida cotidiana, por observação direta ou notoriedade óbvia. Esperamos que
ninguém seja ofendido em seu sentido literário ou em sua capacidade científica por nosso
recurso a fatos familiares. O costume de citar fontes
Introdução
- A instituição da classe ociosa surge em estágios avançados da cultura bárbara, como na
Europa e no Japão feudal, onde as diferenças entre as classes são obrigatórias e as
classes mais altas se dedicam a funções honoríficas como guerra, sacerdócio, esportes e
ocupações governamentais, excluindo as funções industriais. A classe ociosa se divide em
subclasses com diferentes funções não industriais, compreendendo nobres, sacerdotes e
seus agregados.
- Os chefes e a nobreza são os detentores dos meios de produção e dos recursos, e vivem
de rendas e tributos provenientes do trabalho dos seus subordinados. Há uma clara
divisão entre exploradores e explorados, e as hierarquias sociais são extremamente
rígidas e desiguais. A religião, as crenças e os valores morais são utilizados para justificar
e perpetuar essa ordem social, e todas as atividades econômicas, políticas e culturais
estão subordinadas à manutenção do poder dos dominantes sobre os dominados. Esse
estágio de barbárie ocorre em sociedades pré-modernas, com baixo nível de
desenvolvimento tecnológico e de divisão do trabalho, e é caracterizado pela
desigualdade, exploração, violência e ausência de liberdade e igualdade de oportunidades.
- A evolução da classe ociosa na cultura bárbara e mostra como as tribos caçadoras
nômades apresentam os primeiros estágios dessa diferenciação, com uma distinção entre
as ocupações masculinas e femininas, mas ainda não há uma classe ociosa claramente
definida. Conforme as funções se especializam, a linha de demarcação passa a dividir as
funções industriais das não industriais, e as funções industriais se desenvolvem a partir
das tarefas que cabiam às mulheres nas primitivas comunidades bárbaras, como a
fabricação de objetos de uso doméstico e a produção de alimentos.
- divisão de tarefas entre homens e mulheres em diferentes culturas, desde as bárbaras até
as selvagens primitivas. Nas culturas bárbaras, embora o trabalho masculino fosse
essencial para a sobrevivência do grupo, os homens não o consideravam como trabalho e
não se equiparavam às mulheres, cujas tarefas eram consideradas rotineiras. Já nas
culturas selvagens primitivas, a diferenciação de tarefas era menos definida e não havia
uma classe ociosa. No entanto, esses grupos representam apenas uma pequena parte da
raça humana e podem ser casos de degeneração de culturas superiores de barbárie.
- comunidades primitivas sem uma classe ociosa definida, que são pacíficas, pobres e têm
um sistema econômico sem propriedade individual dominante. A instituição da classe
ociosa surgiu durante a transição de um modo de vida pacífico para um mais guerreiro. A
diferenciação entre funções dignas e indignas persiste como preconceito corriqueiro
mesmo na vida moderna, mas é uma diferenciação de caráter pessoal, nada tendo a ver
com superioridade e inferioridade.
- como a discriminação entre fatos é fundamentada em interesses específicos que mudam
com o tempo. Uma análise dos fatos sempre destaca aspectos relevantes que são
pertinentes ao interesse dominante do momento. Portanto, os fundamentos da
discriminação e do critério de classificação de fatos mudam à medida que a cultura evolui
e o ponto de vista dominante muda. O texto exemplifica isso com a discriminação entre
ocupações industriais e não industriais, que é uma forma transmutada da discriminação
bárbara entre proezas espetaculares e trabalhos rotineiros. Os economistas que mantêm a
tradição clássica afirmam que o "domínio do homem sobre a natureza" é o fato
característico da produtividade industrial. Antigamente, a antítese não era entre o homem e
a criação bruta, mas entre o mundo animado e o mundo das coisas inertes, e o termo
"animado" não cobria todas as coisas vivas e abrangia muitas outras.
- divisão de trabalho em sociedades primitivas, onde as atividades são divididas em proeza
e indústria. Proeza é a atividade espetacular, não industrial, que requer habilidades físicas
e agressividade, como caça e guerra, e é desempenhada pelos homens. Indústria é o
esforço para criar algo novo a partir da matéria passiva e bruta, e é desempenhada pelas
mulheres e pelos membros do grupo incapazes do trabalho de homens. A divisão de
trabalho entre os sexos é influenciada por diferenças físicas e de temperamento. As
atividades masculinas de caçar e lutar são de natureza predatória, enquanto as atividades
femininas são assíduas e uniformes, de moldar a matéria. O trabalho masculino é visto
como aquisição pela força, enquanto o trabalho feminino é produtivo.
- trata da discriminação entre proezas e trabalhos rotineiros, destacando que as tarefas que
são consideradas proezas são dignas e nobres, enquanto as que não contêm elementos
de proeza, especialmente as que implicam em subserviência ou submissão, são indignas e
humilhantes. O conceito de dignidade, valia ou honra é importante para o desenvolvimento
das classes e das diferenças de classe. O texto argumenta que o fundamento psicológico
para esse conceito é o instinto de artesanato, que leva à emulação ou disputa entre os
indivíduos quando se fazem comparações habituais de eficiência. O texto também
descreve como a competição se torna a forma aceita e digna de auto-afirmação em
culturas que valorizam a agressão e os despojos como prova de força excepcional,
enquanto o trabalho produtivo e o serviço prestado a outro são considerados como
atividades indignas e desagradáveis.
- autor argumenta que, na evolução cultural, a luta sempre esteve presente, mesmo nos
estágios mais primitivos de desenvolvimento social, mas a mudança de atitude espiritual é
o resultado de mudança nos fatos materiais da vida do grupo, à medida que surgem as
circunstâncias materiais favoráveis à atitude predatória. A cultura predatória é impraticável
nos tempos primitivos enquanto não se desenvolvem as armas do grupo ao ponto de
tornarem o homem um animal temível. O autor também defende que a diferença
fundamental entre a fase de cultura pacífica e a fase predatória é uma diferença espiritual,
não mecânica. A fase cultural predatória se firma gradualmente, pelo crescimento
cumulativo de aptidões, hábitos e tradições predatórios; tal crescimento se deve a uma
mudança na vida do grupo, de circunstâncias tendentes a desenvolver e conservar os
traços da natureza humana e as tradições predatórias.

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