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ENCADEAMENTOS ANTROPOSSOCIAIS NA CONSTRUÇÃO

DA IDENTIDADE PENTECOSTAL MODERNA


1. INTRODUÇÃO

Nos estudos sociais hodiernos, conforme assevera Gahyva (2012), a produção literária
tem considerado paulatinamente a intrincada tarefa de distinção dos conceitos de classe
social, raça e nação. Para Tramontini (2013) o indivíduo age instintivamente, autonomamente
do que lhe é ensinado, contudo, não emancipadamente dos estímulos sociais.

Segundo Arias (2002, p.9): “A cultura não é algo dado, por uma determinação
biológica, mas, sim uma construção social e historicamente situada, [...]”, consequentemente,
é um produto histórico concreto, uma construção que se insere na história e especificamente
na história das interações que os váriados grupos sociais estabelecem entre si.

O pentecostalismo como um fenômeno peculiar nasceu no findar do século XIX,


todavia, por algum tempo, ele se manteve moderadamente despretensioso e restrito às
fronteiras estadunidenses. Conforme Matos (2006), o movimento teve seu surgimento em
1901, e sua ampla disseminação iniciou-se com o notável Avivamento da Rua Azusa, em Los
Angeles, no ano de 1906. Um dos diversos países alcançados foi o Brasil, onde o
pentecostalismo constitui na hodiernidade a maior parcela dos evangélicos.

Hare1 (1955) apud Queiroz Júnior (2012) asseverou que as confissões religiosas
tomadas como premissas que podem ser examinadas seriam um erro, sendo essas
asseverações derivadas de experiências pessoais não passíveis de prova.

Toda igreja ou religião nacional se estabeleceu fingindo alguma missão especial de


Deus, comunicada a determinados indivíduos. Os judeus têm o seu Moisés; os
cristãos têm Jesus Cristo, seus apóstolos e santos; os turcos a Maomé. (PAINE,
1794, p. 11)

Matos (2006) discorre que em 1905, Charles Parham iniciou uma escola bíblica na
cidade de Houston no estado do Texas. Um dos discípulos seduzidos por essa escola foi um
ex-garçom negro que era propagador de um movimento carismático denominado holiness,

1
HARE, R. M. Discussion about Theology and Falsification - Text B, apud Flew, 1955, p. 100.
William Joseph Seymour. Os EUA vivenciavam um período de discriminação racial bastante
exacerbada no sul do país e Parham era um apreciador desse movimento de exclusão social. –

Acerca disso, segundo Borba; Lima (2011), a exclusão social constitui um processo
de afastamento e privação de determinados indivíduos ou de grupos sociais em vários
domínios da estrutura da sociedade. – Seymour participava das palestras à parte, sentado
numa cadeira no corredor ao lado da sala. Ele era filho de escravos, tinha precária instrução,
limitada altiloquência e era cego de um olho.

Segundo Mokhtar (2010), estudos antropológicos são unanimes em mencionar a


existência de uma raça negra desde as mais distantes épocas da Pré-história ate o período
dinástico. Marcus2 (1975) apud Boahen (2010) relata a declaração de Menelik, imperador da
Etiópia, em 1895: “Os inimigos vem agora se apoderar de nosso país e mudar nossa religião
[...].” (MARCUS, 1975, p. 160)

Durkheim (1912) definiu a religião como um sistema de crenças e práticas


concernentes ao sagrado, que conectam os indivíduos em uma sociedade moral, dirigida por
valores e princípios característicos que satisfazem as necessidades do ser humano. Dessarte,
as religiões são relevantes manifestações sociais que agem na organização social de quaisquer
grupos.

Presentemente, o fenômeno religioso apresenta crescimento vertiginoso, tendo tido


seu impulso inicial no findar do século XIX – como contramedida do liberalismo e do
capitalismo clássico – como oposição a teoria socialista de Marx e Engels, e, após o declínio
do comunismo no findar do século XX, como o fim da guerra fria entre os EUA e a URSS,
marcado especialmente pela queda do muro que dividia as Alemanhas Oriental e Ocidental,
conhecido popularmente como Muro de Berlin, tendo servido como um forte referencial para
a construção de novos valores e como arquétipo de comportamento das sociedades existentes.

2. PROBLEMATICA

2
MARCUS, H.G. The Life and Times of Menelik II: Ethiopia 1844-1913. Oxford, Clarendon Press, 1975.
Por que o processo de afastamento e privação dos indivíduos ou dos grupos sociais
envolvidos no fenômeno ora examinado não foi capaz de dirimi-lo, sobretudo no Brasil, que
atualmente se destaca como um dos mais expressivos comungantes desse fenômeno?

3. OBJETIVOS

Nesse diapasão o presente estudo terá como seu objetivo geral buscar a compreensão
do processo de construção da identidade pentecostal sob a ótica antropossocial sem o prejuízo
teísta/deísta.

Para o alcance do objetivo geral a presente pesquisa estabelecerá como objetivos


específicos:

 Estabelecer uma conexão entre o fenômeno observado e as características culturais,


sociais e religiosas dos grupos que o principiaram;
 Identificar os mecanismos do processo de exclusão social ipso facto, isto é, como
consequência coerciva do fato, na sociedade americana pós abolicionista;
 Compreender como o fenômeno estudado, inicialmente circunscrito às fronteiras
estadunidenses, conseguiu romper as barreiras culturais, sociais e religiosas dos
grupos que o principiaram e se difundir globalmente.

4. JUSTIFICATIVA

Ponderando a importância do fenômeno elencado e a sua paulatina influência no meio


religioso global e, especificamente na sociedade brasileira, a autora do presente estudo
entende que se justifica um estudo mais aprofundado desse fenômeno sob a égide
antropossocial, permitindo, dessarte, a compreensão dos mecanismos constituintes do
mesmo.

5. CAMINHO METODOLOGICO

Quanto à sua natureza, conforme UNISANTA (2016), o presente trabalho se classifica


como Pesquisa Básica, isto por que objetiva suscitar conhecimentos originais proveitosos
para o progresso da ciência sem aplicação prática prevista, envolvendo verdades e interesses
universais.

Quanto à sua abordagem frente ao problema classificar-se-á como Pesquisa


Qualitativa, no qual Demo (1991) considera que há uma relação dinâmica entre o mundo
real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do
sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição
de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa, que, segundo Silva (2005):

Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte


direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os
pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu
significado são os focos principais de abordagem. (SILVA, 2005, p. 20)

Quanto aos seus objetivos, o presente trabalho caracteriza-se por ser uma Pesquisa
Exploratória, no qual visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a
torná-lo explícito e/ou a construir hipóteses.

Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram


experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a
compreensão. Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso.
(GIL, 2008, p. 41)

Quanto aos procedimentos técnicos, o presente se classifica, segundo Gil (1991),


como Pesquisa Bibliográfica, ao passo que foi elaborada a partir de material já publicado,
constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e com material disponibilizado na
Internet.

6. PROJETO DA PESQUISA

1. Introdução
2. Desenvolvimento Teórico
2.1. O Pentecostalismo Moderno: origens, público alvo e disseminação.
2.2. Os povos afros: constituição e cultura.
2.2.1. A colonização europeia.
2.2.2. A escravatura americana.
2.2.3. A abolição e o processo de organização social afro-americano.
2.3. O fenômeno do Pentecostalismo no contexto do resgate cultural dos grupos afro-
americanos.
2.4. O fenômeno do Pentecostalismo no contexto da inserção social dos grupos afro-
americanos.
2.5. Fatores antropossociais propiciadores à disseminação do fenômeno do
Pentecostalismo no Brasil.
3. Considerações Finais

REFERÊNCIAS

ARIAS, P. G. La cultura. Estrategias Conceptuales para comprender a identidad, la


diversidad, la alteridad y la diferencia. Escuela de Antropologia Aplicada UPS-Quito.
Ediciones Abya-yala, 2002.

BORBA, Andreilcy Alvino; LIMA, Herlander Mata. Exclusão e inclusão social nas
sociedades modernas: um olhar sobre a situação em Portugal e na União Europeia. Revista
Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 106, p. 219-240, abr./jun. 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n106/n106a03.pdf. Acesso em: 01/02/2022.

DEMO, Pedro. Avaliação qualitativa. São Paulo: Cortez, 1991.

DURKHEIM, Émile. 1996 [1912]. As formas elementares da vida religiosa: o sistema


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______, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 / editado por Albert Adu Boahen.–
2.ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010. 1040 p. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.brdownloadtextoue000324.pdf. Acesso em: 21/02/2022.

GAHYVA, Helga da Cunha. O inimigo do século: um estudo sobre Arthur de Gobineau


(1816/1882) / Helga Gahyva. – Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ, 2012.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.

______. Métodos e técnicas de pesquisa social / Antonio Carlos Gil. - 6. ed. – São Paulo:
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PAINE, Thomas. A era da razão – Vol. I, Uma investigação sobre a teologia verdadeira e a
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QUEIROZ JÚNIOR, Ilton de. A Filosofia da Religião de Antony Flew – Do Ateísmo ao


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