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Volume 5 – Edição 3 – 2022_2

FACES DO FANATISMO: aproximações e reflexões à obra

Daniela Emilena Santiago¹; Pedro Henrique Ribeiro Oliveira²; Amanda Karoline Suzuki³

¹ Universidade Paulista (UNIP). Assis, São Paulo, Brasil. Assistente Social, Docente dos cursos de
Psicologia e Pedagogia da Unip. Mestre em Psicologia pela Unesp e Mestre em História pela Unesp e
Doutoranda em História pela Unesp. e-mail: santiago.dani@yahoo.com.br

² Universidade Paulista (UNIP). Assis, São Paulo, Brasil. Discente do curso de Psicologia. e-mail:
pedrooliverex@gmail.com

³ Universidade Paulista (UNIP). Assis, São Paulo, Brasil. Discente do curso de Psicologia. E-mail:
amandaksuzuki@gmail.com

RESUMO: O fanatismo apresenta-se como um fenômeno contemporâneo, contudo,


tem raízes históricas e sociais que o configuram enquanto tal. Repensar sobre esse
fenômeno requer embasamento teórico. Na obra analisada temos a apresentação de
vários eventos que caracterizam e definem o fanatismo, nos mais eventos afins e nos
auxiliam em lê-lo e interpretá-lo. A obra se apresenta como leitura necessária e
obrigatória a todos os estudiosos da área e demais pensadores que possuam
interesse na temática uma vez que se caracteriza como um manuscrito que apresenta
as principais informações sobre o Fanatismo, presente em várias áreas.

Palavras-chave: Fanatismo; História; Contemporaneidade.

ABSTRACT: Fanaticism presents itself as a contemporary phenomenon, however, it


has historical and social roots that configure it as such. Rethinking this phenomenon
requires a theoretical basis. In the analyzed work, we have the presentation of several
events that characterize and define fanaticism, in the most similar events and help us
in reading and interpreting it. The work presents itself as a necessary and mandatory
reading for all scholars in the area and other thinkers who are interested in the subject
since it is characterized as a manuscript that presents the main information about
Fanaticism, present in several areas.

Keywords: Fanaticism; Story; Contemporaneity.

Seção: Humanas.

Formato: Resenha.

Introdução
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O interesse pelo tema do Fanatismo adveio de nossa inserção no Doutorado


em História da Unesp, campus Assis-SP, devido aos estudos que realizamos na
disciplina de Teoria e Método, cursada no segundo semestre de 2018. Dessa
motivação inicial os estudos foram orientados para tal temática e isso nos apresentou
a obra Faces do Fanatismo, coordenada por Jaime Pinsky e Carla Bassanessi. A obra
em questão, partilhada com outros leitores e que também assinam o presente
manuscrito, motivou a elaboração do texto em questão. Trata-se de uma resenha do
livro escrita à seis mãos, visando a aproximação ao mesmo e ao tema basal que
aborda.
Cabe destacar que a obra foi organizada por Jaime Pinsky e Carla Bassanezi
Pinsky. Jaime Pinsky é historiador, doutor e livre docente em História pela
Universidade de São Paulo (USP), Brasil. Atualmente é docente aposentado
(Unicamp) e também é editor da Contexto, importante meio de divulgação de
pesquisas acadêmicas há mais de trinta anos no Brasil. Carla Bazzanezi Pinsky é
historiadora, com doutorado em Ciências Sociais e também membro do conselho
editorial da Contexto. Colaboram com a escrita do livro, ainda, os historiadores Maria
Luiza Tucci Carneiro e Peter Demant ambos da USP, além de José Alves de Freitas
Neto, também historiador da Unicamp. Outros historiadores como José Rivair Macedo
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Marco Mondaini também
colaboram com artigos para o livro. Além dos historiadores supracitados o livro traz
colaborações do sociólogo Carlos Alberto Pimenta da UNITAU e do jornalista Claudio
Camargo.
O livro faz uma apresentação de situações que, ao longo da história, e, nos
mais variados contextos, demonstram a expressão do Fanatismo. Para além da
questão da religião, a obra aborda expressões do fanatismo na política, nos esportes
e em outras áreas afins, oferecendo ao leitor informações que permitam o
conhecimento das várias maneiras de expressão dessa maneira de ler e interpretar a
realidade. Para a apreensão do conteúdo contido na obra, no decurso do texto,
apresentaremos as principais informações do mesmo, porém, é basal a leitura do
texto, na íntegra, para o conhecimento do mesmo. De maneira que, apresentaremos
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no item subsequente, e, o único a compor esse artigo, informações sobre a obra em


pauta.
Consideramos o presente texto extremamente importante ao passo que o
Fanatismo, expresso em várias áreas, pode trazer uma série de prejuízos ao gênero
humano. E, consideramos ainda que o presente texto interessa a todos aqueles que
buscam maiores informações sobre essa realidade. Quanto ao livro resenhado
consideramos que seja vital e imperativo que o mesmo seja cada vez mais publicizado
e lido e que chegue a vários outros leitores visando a dissipação desse saber.

Faces do Fanatismo: aproximações à obra

O estudo do fanatismo tem se mostrado extremamente relevante ao mundo,


posto que deparamo-nos cada vez mais com a expansão de uma série de “fanatismos”
que condicionam a vida do ser humano contemporâneo. Compreender esse fenômeno
requer o entendimento de que ele se apresenta por meio de múltiplas e variadas
expressões. Na obra aqui resenhada, percebemos o empenho dos historiadores
Jaime e Carla Pinsky em nos apresentar o fanatismo em suas múltiplas formas de
expressão na esfera da religião, do racismo, da política e do esporte. Os
organizadores contaram com a colaboração de outros nove autores, desde
historiadores a um sociólogo e um jornalista1.
O livro está distribuído em quatro grandes temas, a saber: Fanatismo Religioso,
Fanatismo Racista, Fanatismo Político e Fanatismo Esportivo. O primeiro bloco, que
aborda o Fanatismo Religioso, compõe-se de textos curtos e com muitas informações
históricas sobre o Islamismo, as Cruzadas, a Caça às Bruxas e as Seitas
Contemporâneas. No segundo bloco, o livro trata do Fanatismo Racista e indica como
representativo desse tipo de fanatismo a Ku Klux Klan, o Nazismo e o Neonazismo. O
terceiro bloco do livro versa sobre o Fanatismo Político e, então, nos mostra
expressões como o Stalinismo, os Kamikaze, o Macarthismo, a produção cultural
Maoísta e o terrorismo político. Concluindo a obra, a última parte discorre sobre o
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fanatismo no Esporte, em especial o caso dos “hooligans” e as torcidas organizadas


brasileiras.
O bloco sobre Fanatismo Religioso tem início com o texto “Fundamentalismo
Islâmico”, no qual temos a indicação de que o Estado Islâmico tem sido difundido desde
o profeta Maomé e tem influenciado muçulmanos de diversas formas, até mesmo na
consolidação de organizações terroristas como a Al Qaeda, que teve como líder Osama
Bin Laden. Na sequência, o texto “Cruzadas” apresenta o contexto da guerra santa, em
que a Igreja Católica passou a perseguir, na Idade Média, todos aqueles que eram
contrários à sua doutrina, especialmente Saladino, em disputa por Jerusalém. O texto
subsequente, intitulado “Caça às Bruxas”, nos descreve a perseguição empreendida,
na Idade Média, pela Igreja Católica em relação a mulheres que eram consideradas
bruxas. O último texto que compõe esse bloco, nomeado como “Seitas
Contemporâneas”, expõe uma série de seitas que surgiram no mundo a partir dos anos
90 e que estimulavam a adesão de fiéis a práticas incomuns, prevendo a segregação
dos membros e, em muitos casos, até a morte em nome de um ideal incomum. Figuram
como exemplo dessas seitas as surgidas na Guiana, de Jim Jones; na Califórnia, de
Vernon Howelf; a Ordem do Templo Solar, de Luc Jouret, na Genebra; o Grupo Porta
do Céu, de Chuck Scharmek; e o Ensino da Verdade Suprema, de Solo Asahara, em
Tóquio.
O ponto comum desse tipo de fanatismo é a utilização da religião para justificar
atos de separação dos povos. A religião é apresentada até como referência para
justificar as mais terríveis crueldades, como os assassinatos e sequestros da Al
Qaeda, ou mesmo o assassinato de mulheres e crianças indefesas pelas Cruzadas,
e ainda o fato de queimar mulheres em fogueiras simplesmente por manifestarem uma
fé distinta daquela que é professada pela Igreja Católica. Da mesma maneira, é o
fanatismo religioso, ou seja, a apropriação de princípios religiosos, que impulsionou
assassinatos coletivos como os ocorridos na Guiana, em que Jim Jones promoveu a
morte de todos moradores do sítio de sua seita, incluindo mulheres e crianças
pequenas por meio da ingestão de cianeto e analgésicos, e tantos outros tão
agressivos quanto. Nesse caso, a religião é usada como algo que impele os homens
a agir com violência, um tipo de entendimento de que tudo é permitido em nome da
defesa da fé.
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Inicialmente, os três primeiros textos são construídos de maneira a apresentar


eventos que aconteceram durante períodos mais antigos como as Cruzadas, e a Caça
às Bruxas, por exemplo. O último texto, no entanto, discorre sobre as Seitas
contemporâneas, demonstrando que a junção entre religião e agressão causada pelo
fanatismo religioso é algo que não é inerente ao passado, mas que se manifesta ainda
na contemporaneidade. A história não se repete, mas ela é cíclica. E, olhando o
passado notamos que os resíduos do fanatismo religioso ainda estão latentes nas
sociedades contemporâneas. Disso decorre a relevância da parte inicial do livro, pois
aborda os eventos vivenciados no passado e conclui com uma apresentação do
fanatismo religioso na atualidade.
O segundo bloco, por sua vez, Fanatismo Racista, contempla três textos, como
indicamos: Ku Klux Klan, Racismo Nazista e Neonazismo. Agora, percebemos um
deslocamento das discussões para compreender o fanatismo assentado nas
diferenças biológicas dos seres humanos. Nesse sentido, tais diferenças é que são
usadas para sustentar processos de discriminação e também de agressão das
pessoas, inclusive física. O Fanatismo Racista não recorre a valores religiosos mas é
pautado no entendimento de que há raças inferiores e superiores. O texto inicial, Ku
Klux Klan, indica-nos que a primeira vez que esse movimento surgiu foi em 1865, nos
Estados Unidos da América, e tomou grande fôlego nos séculos XX e XXI. Trata-se
de uma forma de entendimento de que o branco é superior ao negro e, portanto, deve
ser por ele subjugado. A Ku Klux Klan perseguiu e matou muitos negros não apenas
nos Estados Unidos, mas em várias partes do mundo. Suas vestimentas
características – uso de roupas brancas e o chapéu em formato de cone, também
branco – tornaram-se conhecidas em todo o mundo.
No texto subsequente, Racismo Nazista, vivenciamos a retomada do Nazismo
de Hitler, quando houve a perseguição de judeus e de negros na Alemanha. Neste
capítulo depreendemos que, também nesse caso, uma suposta superioridade
biológica atestada por Hitler embasaria atos de perseguição e a morte em campos de
extermínio. E, por fim, concluindo essa parte, deparamo-nos com a discussão a
respeito do Neonazismo. Neste texto final da segunda parte, é relatado o
ressurgimento dos ideais nazistas defendidos por Hitler e expressos nas condutas de
grupos como os skinheads e os nazi-skins. O neonazismo se caracterizaria, então,
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por total aversão a negros e também a grupos étnicos que fugissem do formato branco
e heterossexual de ser humano. Na verdade, o neonazismo persegue todos aqueles
que são diferentes dos padrões sociais impostos em determinadas regiões.
Assim, no Fanatismo Racista, os valores que sustentam as diferenciações vêm
de uma interpretação incorreta de que o aspecto biológico deveria definir hierarquias
sociais de importância. Assim, o que esses “fanatismos” têm em comum é que ambos
defendem que brancos são, por excelência, superiores aos negros. Por isso, negros
podem ser agredidos por brancos. No entanto, na variação neonazista, além dessa
suposta crença, encontramos ainda o entendimento de que demais minorias sociais
também devem ser subjugadas, e os grupos que mais sofrem com isso são, além dos
negros, os homoafetivos, as mulheres e até mesmo povos advindos de regiões
distintas, o que confirma esse tipo de fanatismo também como extremamente
xenofóbico. Cabe salientarmos que os atos de agressão e mesmo as mortes também
se fazem presentes neste tipo de fanatismo, e notamos, ainda, que essas expressões
não foram suprimidas do discurso contemporâneo. O texto relaciona um rol amplo de
dados que nos permitem compreender as várias expressões do fanatismo racial nos
mais diversos contextos. Também nesse caso os três textos iniciais nos remetem à
compreensão das expressões do racismo no início do século XX e também em finais
do mesmo século, ou seja, demonstram que essa conduta não foi suprimida das
sociedades contemporâneas, mesmo porque as expressões do novo nazismo têm se
ampliado. O grande contributo desse conjunto de textos é justamente asseverar como
esses fenômenos ainda estão presentes nas sociedades contemporâneas e destacar
as bases sob as quais se assentam, ou seja, interpretações incorretas de uma suposta
eugenia.
No terceiro bloco, Fanatismo Político, o texto que abre as discussões versa
sobre o Comunismo Soviético, instituído por Stalin, na Rússia, e que promoveu a
perseguição e a morte de muitas pessoas nos anos 1950. Por meio dessa leitura
somos informados de que Stalin perseguiu até mesmo pessoas vinculadas ao seu
partido político, e estendeu essa perseguição até aos amigos mais próximos,
promovendo um verdadeiro assassinato em massa e uma histeria coletiva. No
segundo texto desse bloco, a discussão que se nos apresenta é referente à Ação
Kamikaze, sendo apresentadas considerações importantes sobre os homens bomba
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japoneses, os quais se tornaram conhecidos como kamikazes. Os soldados japoneses


motivados pela crença no vento divino2 e sua adaptação do general Takajiro Ohnishi
à realidade da guerra foram impulsionados a atirarem os próprios aviões que
pilotavam contra as bases norte-americanas.
Na sequência desse bloco é discutido o Macarthismo, termo pelo qual ficou
conhecida uma perseguição a todos que eram considerados comunistas nos Estados
Unidos, nos anos 50. No texto sobre o Macarthismo, é apontado que o senador do
Wisconsin, Joseph Raymond McCarthy, foi o responsável por essa caçada aos
comunistas. Essa perseguição foi direcionada à população em geral, a atores famosos
e outras figuras de reconhecimento nacional. De maneira similar ao Macarthismo, o
texto subsequente nos apresenta o Comunismo Chinês instituído por Mao, nos idos
de 1968, na China da Grande Revolução. Mao perseguiu, prendeu, torturou e matou
milhares de pessoas por suspeitar que eram contrárias ao Comunismo Chinês. Além
disso, lançou o livro Vermelho de Mao, por meio do qual impôs aos chineses a
aceitação de seus princípios. Mao atraiu uma legião de fãs, sobretudo entre os jovens
e coordenou a maior perseguição política do governo chinês amparado pelo Estado e
pelo exército.
No último texto do bloco, os autores nos apresentam a discussão do Terrorismo
Político, destacando que desde os anos 60 e 70 tem se instaurado uma globalização
do medo pelo mundo. A globalização do medo aconteceria por meio da ação de
grupos terroristas que, vinculados a ideias extremistas, usam de violência intensa. O
texto disponibiliza um rol amplo de exemplos de ações desses grupos, começando
pela ação do grupo Setembro Amarelo, uma organização palestina que nos anos 70
realizou o sequestro de uma delegação esportiva durante as Olímpiadas de Munique.
Esse grupo se manifestava contra o capitalismo. Aliás, a tônica desses grupos tem
sido a de se colocar contrariamente ao capitalismo e aos países de maior
desenvolvimento capitalista, além de requererem independência relativa a países que,
porventura, controlem os países de origem dos grupos. Assim sendo, os autores citam
como referência a Brigada Vermelha, da Itália, e a Baader-Munhoff, da Alemanha,
ambas as organizações eram clandestinas e se contrapunham ao sistema econômico

2 O vento divino era uma prática em que os guerreiros japoneses se suicidavam ao enfiar uma adaga na barriga.
Essa era considerada uma morte honrosa. O livro, no entanto, não fornece detalhes dessa prática antiga e apenas
enfoca que o suicídio em prol da nação é algo fortalecido pelo vento divino e recuperado pelos kamikazes.
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vigente; e ainda mencionam a Euskadi Ta Askatasuna (ETA), organização do país


Basco, que foi criada em 1959 para resistir aos desmandos de Franco, na Espanha.
Este movimento surgiu como uma tentativa de libertação e rompimento a uma ditadura
e se converteu em uma guerrilha. E, por fim, fazem referência ao IRA, organização
também criada nos anos 70 para reivindicar a independência da Irlanda, mas que
acabou se convertendo em uma das organizações mais agressivas do mundo. Essas
manifestações usam de pesado armamento, agressões de toda sorte, e tudo quanto
mais consideram lícito para alcançar seus objetivos.
Também esse bloco é extremamente bem estruturado e construído. Parte das
apropriações indevidas do marxismo por Stalin na Rússia e por Mao na China, além
do Macarthismo nos Estados Unidos. Esses textos são basais, a nosso ver, pelo fato
de demonstrarem que a apropriação indevida de perspectivas teóricas, até mesmo as
mais críticas, também pode resultar em atos de fanatismo, como no caso de Stalin e
Mao. Na esteira dessa discussão nos são apresentados outros tipos de fanatismos
que também possuem como embasamento vertentes políticas como no caso dos
kamikazes. Novamente o livro adota a fórmula de apresentar eventos
cronologicamente, desde os acontecidos nos anos 50 e 60 até chegar aos fenômenos
mais contemporâneos. Aqui, não será a religião, nem a eugenia que sustentarão
ações agressivas e terroristas, mas sim os valores políticos.
Por fim, o último bloco, dedicado ao Fanatismo Esportivo, é estruturado por dois
textos que relacionam o fanatismo ao esporte. No texto inicial, somos apresentados
aos hooligans, que surgiram nos anos 60, na Europa. Basicamente, os hooligans são
torcedores espalhados pelo mundo e que usam de violência, agressão, e que estão
também vinculados a algum clube de futebol. Esses grupos são agressivos contra
torcedores de clubes adversários e são também violentos contra grupos específicos,
como negros, gays e imigrantes. O texto ainda alerta que há grande vinculação de
skinheads a esses grupos. Fazendo uma análise análoga à realidade brasileira, o
último texto apresenta um estudo das torcidas organizadas de futebol no Brasil, as
quais também usam de agressão quando se colocam contrárias a torcidas
adversárias. Também no Brasil, as expressões de agressão são extremas e, muitas
vezes, chegam até a resultar em mortes. Esse texto final é igualmente interessante,
posto que nos oferece uma nova possibilidade de pensarmos o fanatismo, a partir de
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práticas esportivas. No caso, o autor em ambos textos chama nossa atenção para o
fato de que o fanatismo inspira atenção, ao passo que o amor a um esporte ou a um
time de futebol resulta em atos de agressão. O último texto do bloco é o que está
especificamente voltado à realidade brasileira, ou seja, é o texto que aborda
especificamente um fenômeno inerente ao Brasil.

Considerações Finais

Dessa maneira, nas 279 páginas do livro, o fanatismo nos é apresentado e


demonstrado como um fenômeno que pode se expressar em diferentes contextos e
momentos. Os textos foram construídos de modo a nos permitir compreender os
objetos expostos, ou seja, são textos curtos, o que facilita a leitura. Importante frisar
que cada texto possui um rol amplo de dados e de informações que nos possibilitam
entender exatamente quando foi que os fenômenos aconteceram e uma série de
eventos a eles relacionados. A título de exemplo, destacamos a descrição do
fanatismo maoísta, em que são citados, com detalhes, nomes de vários políticos,
generais, vítimas, fornecendo-nos informações sobre as pessoas de destaque na
ocorrência dessa onda de fanatismo. No entanto, justamente pelo rol amplo de
informações e de detalhes, não é possível retomá-las nessa resenha.
A forma de construção do livro, muito bem engendrada por Jaime e Carla
Pinsky, no entanto, funciona como uma apresentação inicial dos assuntos. Por
exemplo, o texto sobre as Cruzadas nos fornece muitos dados sobre essa
organização e o tipo de fanatismo que aborda (religioso). Entretanto, caso o interesse
de quem leia esse livro seja o de um aprofundamento no tema, precisará recorrer a
outras leituras. A nosso ver, os organizadores pretenderam, com essa obra, instigar
os futuros leitores a pesquisar e a conhecer ainda mais sobre o assunto do fanatismo,
uma vez que os textos apresentados não possuem uma profunda análise. No entanto,
o ganho do livro está justamente nesse aspecto, uma vez que nos apresenta
formulações de fácil entendimento e nos convida a ir além de suas páginas, em busca
de dados mais específicos. A única ressalva que fazemos é acerca do último texto,
quando é discutida a relação entre fanatismo e futebol, uma vez que o autor repete
várias vezes, no decurso do artigo, qual seria o perfil daqueles que se vinculam aos
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hooligans, tornando o texto um pouco cansativo nesse sentido. Os demais textos, no


geral, apresentam uma construção muito coerente.
Outro aspecto que consideramos ter colaborado com a construção do livro foi
o fato de participarem dele historiadores, um sociólogo e um jornalista, isto é, houve
colaboração de profissionais de diversas áreas na estruturação do texto, tornando sua
composição interdisciplinar. Essa construção, a nosso ver, favorece e enriquece a
narrativa que passa a ser construída com os saberes de várias áreas. Há, no livro
inteiro, muitas imagens para demarcar eventos específicos que são narrados, no
entanto, a resolução dessas imagens mostrou-se precária, prejudicando, em alguns
casos, a identificação daquilo que se buscou representar.
O livro destina-se a todos os pesquisadores, estudiosos de fanatismo ou
pessoas que tenham interesse pelo assunto. No entanto, pensando especificamente
no momento político vivenciado atualmente pelo Brasil, não é exagero supor que o
livro em questão seja uma leitura socialmente necessária a nós, brasileiros. Entender
o fanatismo, conhecer suas formas de expressão pode ser um meio de evitar que suas
manifestações mais nefastas e agressivas consigam se instituir na sociedade
brasileira novamente. Aos que não residem no Brasil, a leitura também é bastante
válida, posto que ao longo da história, temos visto como o fanatismo e os atos a ele
vinculados são perigosos ao gênero humano. Por essa razão, o livro é recomendado
tanto para pesquisadores quanto para o público leitor em geral.

Referências Bibliográficas

PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Faces do Fanatismo. São Paulo:
Contexto, 2017.

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