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UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PAULO MYSZKO

É PRECISO FALAR DO HOLOCAUSTO EM SALA DE AULA

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA - PR


2020
UCAM – UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PAULO MYSZKO

É PRECISO FALAR DO HOLOCAUSTO EM SALA DE AULA

Artigo Científico Apresentado à Universidade Candido


Mendes - UCAM, como requisito parcial para a
obtenção do título de Especialista em História e
Antropologia.

SANTO ANTÔNIO DA PLATINA - PR


2020
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É PRECISO FALAR DO HOLOCAUSTO EM SALA DE AULA

PAULO MYSZKO

RESUMO

O intuito do presente artigo é refletir a respeito do aumento de casos de antissemitismo, da propagação de atos
intolerantes e neonazistas tanto através da internet quanto materialmente, explorar a necessidade de pesquisa e
ampla discussão com os alunos em sala de aula e apresentar uma alternativa para combater a onda de
intolerância, antissemitismo, revisionismo e negacionismo histórico que se propaga em vários países, inclusive
no Brasil. Com dados coletados em institutos especializados sobre o assunto, assim como após a análise crítica
do documentário ‘Marcha da Vida’, dirigido por Jéssica Sanders, este artigo tem como objetivo analisar a
importância de iniciar um amplo debate, aprofundar as pesquisas e orientar adequadamente os discentes dos
ensinos Fundamental II e Médio. Para este fim, realizou-se uma pesquisa bibliográfica considerando as
contribuições de autores como CARNEIRO (2015), SANDERS (2010) E SILVA (2018), entre outros,
procurando enfatizar a importância da pesquisa e do conhecimento sobre o Holocausto, assim como a
necessidade do professor em abordar o tema com profundidade em sala de aula.

Palavras-chave: Marcha da Vida. Holocausto. Antissemitismo. Intolerância.

Introdução
A ideia de produzir o presente artigo surgiu após a divulgação de notícias sobre o
aumento de atos antissemitas e de discursos de ódio propagados através das redes sociais,
principalmente por adolescentes, que muitas vezes por desconhecerem os fatos históricos, se
deixam levar por notícias falsas ou se envolvem de certa forma com ideias intolerantes e
destrutivas, assim como da divulgação de dados estatísticos que comprovam o aumento de
atos antissemitas ao redor do mundo.

Ao analisar os dados, notícias e os fatos em questão ficou a seguinte questão: - Como


o Holocausto é tratado em sala de aula? Na busca por um material adequado para abordar o
tema em sala de aula com adolescentes dos ensinos Fundamental II e Médio, surgiu o
documentário ‘Marcha da Vida’, dirigido por Jéssica Sanders e produzido em parceria com
entidades judaicas que tratam do tema Holocausto. Nesse documentário, onde adolescentes de
vários países viajam juntamente com os últimos sobreviventes do Holocausto para os locais
onde as maiores atrocidades foram cometidas na Segunda Guerra Mundial, o assunto foi
abordado de forma forte, porém numa linguagem de fácil entendimento para os jovens alunos.

Além disso, diante da necessidade em garantir a manutenção da história, dos fatos


históricos com o devido respeito, e, de combater as teorias revisionistas e negacionistas
através de um amplo debate sobre questões fundamentais dificilmente encontradas em livros
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didáticos no Brasil, uma pesquisa mais aprofundada nos documentos históricos, a análise do
referido documentário e os dados de institutos reconhecidamente renomados serviram de base
para este artigo.

O documentário utilizado, ‘Marcha da Vida’, apresenta a experiência de jovens de


diversas partes do mundo ao visitarem os campos de concentração e de extermínio mantidos
pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Um fato importante foi a união de
adolescentes com a última geração de sobreviventes do Holocausto, os quais relataram o que
passaram nos guetos, campos de concentração e de extermínio, e, visitam novamente os locais
onde foram torturados ou perderam seus entes queridos.

Essa experiência única de visitar os locais onde as maiores atrocidades do século


passado ocorreram, ouvir a história contada pelos últimos sobreviventes e seguir adiante até o
Estado de Israel, onde uma grande festa em celebração da vida marcou o aniversário de 60
anos daquele país, é mostrada no documentário de Jéssica Sanders, no ano de 2010. Mesmo
dez anos após o referido filme, o assunto continua relevante e importante para o meio
educacional.

Ainda para complementar a discussão sobre o Holocausto e auxiliar a combater as


teorias revisionistas ou negacionistas, foram pesquisados dados obtidos junto ao Memorial do
Holocausto, agências internacionais de pesquisas e demais fontes relacionadas ao tema que
serão explicitadas no decorrer do presente artigo.
A busca pela tolerância, pelo respeito e pela defesa da história como forma de auxiliar
na formação de jovens e adolescentes se faz presente neste artigo com dados, fontes e
informações.

Desenvolvimento
Durante o início do presente ano, inúmeros ataques à judeus ocorreram em diversos
países. Esses ataques antissemitas, que em alguns casos levaram suas vítimas ao óbito, foram
pesquisados e divulgados pela AFP, agência global de notícias, a qual divulgou no mês de
maio de 2020 um relatório sobre o aumento de casos de ataques antissemitas, principalmente
nos Estados Unidos. Ao abrir o relatório, os analistas da AFP afirmam que:

Um tiroteio em um supermercado kasher dos subúrbios de Nova York no início de


dezembro, um ataque com faca na casa de um rabino no norte de Nova York no final
do mesmo mês, um ataque à uma sinagoga da Califórnia em abril: a comunidade
judaica americana teve no ano passado "o nível mais alto de atos antissemitas desde
1979", segundo a ADL, uma organização que combate o antissemitismo e o racismo
(...) [AFP, Novo recorde de atos antissemitas nos EUA em 2019]
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Ainda com dados da AFP, em tom de alerta, a agência global de notícias, reproduz no
Brasil através da Revista Veja, outros artigos que relatam o aumento dos casos, de atos e de
atentados contra judeus ao redor do mundo. Em matéria veiculada pelo BOL/UOL Notícias,
cuja fonte também acima é citada, encontra-se o seguinte:

O Community Security Trust (CST), que contabiliza os atos antissemitas no país


desde 1984, informou ter registrado 1.805 em 2019, um aumento de 7% em relação
ao ano anterior (...) [AFP, Atos antissemitas batem recorde no Reino Unido em
2019]

Os ataques, até então relatados nos EUA e no Reino Unido tomaram as redes sociais
quando durante o início do ano de 2020, o rabino Gilberto Venturas, presidente da Sinagoga
Sem Fronteiras, denunciou criminalmente junto às autoridades competentes inúmeros ataques
virtuais à comunidade judaica brasileira, além de algumas pichações neonazistas em templos
judaicos no Nordeste Brasileiro. O rabino também realizou transmissões ao vivo abordando o
tema e denunciando atos de racismo, antissemitismo, intolerância religiosa e discriminação.

Mas, qual o motivo desse aumento de ataques antissemitas apresentado por


autoridades e pesquisadores da área? Essa questão pode ser facilmente explicada ao
identificar que o tema Holocausto geralmente é tratado em entidades especializadas no
assunto e abordado superficialmente no material didático brasileiro. Como por exemplo, no
livro História.doc – Manual do Professor, o assunto sequer faz menção dos seis milhões de
judeus assassinados, aborda superficialmente:

Com o prestígio em alta, os nazistas passaram a cumprir a grande meta de seu


programa racial: perseguir judeus e excluí-los da sociedade alemã. Como vimos, os
judeus foram o bode expiatório da Alemanha nazista. [VAINFAS (et al), 2015, p.
97]
Nenhuma citação sobre os tipos de torturas e atrocidades cometidas, nenhum dado
estatístico apresentado, seis milhões de vidas ignoradas no livro didático utilizado pelo ensino
público brasileiro. Ao contrário, o regime nazista é apresentado como forte poderoso e
vigoroso. Uma afronta a memória dos judeus e uma clara negligência à história e ao combate
ao antissemitismo.

É evidente que quando confrontadas as notícias e dados apresentados recentemente,


encontra-se a necessidade de aprofundamento no assunto em sala de aula, de levar mais
informações que possam auxiliar os alunos a um entendimento crítico, acurado e correto da
questão. Se faz necessária a pesquisa histórica e seu incentivo, o amplo debate e atividades
que possam desenvolver uma consciência crítica de jovens e adolescentes com relação ao
Holocausto.
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A apresentação de dados através de institutos que trabalham com o assunto, a busca


por autores e produções acadêmicas reconhecidas, e, a mostra de um documentário que traz os
depoimentos dos últimos sobreviventes dessa atroz parte da história podem ser úteis para o
desenvolvimento da empatia, da humanidade e do bom convívio social.

Ao professor que irá se deparar com livros didáticos que abordam superficialmente
essa questão, se faz necessário um complemento científico para que uma nova geração não
veja o neonazismo como algo forte e poderoso, mas sim como algo terrível, maléfico e que
deve ser combatido a cada geração.

Para aqueles que buscam material sobre o Holocausto, um dos institutos está
localizado no Brasil, na cidade de São Paulo, no Memorial da Imigração Judaica. Trata-se do
Instituto Memorial do Holocausto. Um local com amplo acervo interativo e audiovisual,
fotos, vídeos, objetos da época e instalações, aberto a visitações e com material disponível
virtualmente para pesquisas sobre o assunto. Dentre a justificativa do memorial se encontram
as seguintes palavras:

Entre 1933 e 1945 seis milhões de judeus foram assassinados de maneira


orquestrada, cruel e sistemática. E para trazer à tona a memória das vítimas dessa
tragédia, apontar as causas, mazelas e propor medidas concretas para que possamos
nos tornar mais civilizados e empáticos, foi inaugurado em novembro de 2017 o
Memorial do Holocausto, na cidade de São Paulo. [MEMIJ, Conheça o Memorial]

No site Brasil Escola pode-se encontrar também explicações sobre o antissemitismo, o


nazismo, o Holocausto e seguir cronologicamente a história pelas Leis de Nuremberg, a Noite
dos Cristais, a Segunda Guerra Mundial, os Campos de Concentração e de Extermínio como:
Auschwitz-Birkenau, Treblinka, Belzec, Sobibor, Chelmno e Majdanek.

O Holocausto é um dos acontecimentos mais marcantes do século XX. Os relatos


dos sobreviventes até hoje chocam o mundo, e a cada dia que se passa novas
informações são descobertas. [SILVA, Daniel Neves. "Holocausto"]

Vale ressaltar também o vasto arquivo virtual mantido pelo Instituto Arqshoah –
Holocausto e Antissemitismo, que estabelece um trabalho à frente da memória das vítimas do
Holocausto e dos arquivos históricos que derrubam todo o discurso revisionista e negacionista
que ganhou espaço nas redes sociais nos últimos anos. Como nas próprias palavras dos
representantes da Arqshoah, que demonstram todo seu trabalho e compromisso para com a
História:

A equipe de pesquisadores do Núcleo de Estudos Arqshoah é multi e interdisciplinar


com experiência no campo da pesquisa histórica, da História Oral, arquivística e
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informática. Este núcleo integra o LEER - Laboratório de Estudos sobre Etnicidade,


Racismo e Discriminação (LEER) do Departamento de História da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo. [ARQSHOAH,
Arqshoah, 2018]

Para completar, caso o docente queira aumentar o conhecimento de seus alunos com a
história sendo contada por sobreviventes do Holocausto e com imagens dos locais onde as
atrocidades ocorreram, numa linguagem jovem e que chegará facilmente ao entendimento dos
alunos, o documentário ‘Marcha da Vida’, dirigido por Jéssica Sanders e disponível
gratuitamente na internet através do YouTube, pode ser de grande ajuda. Como explicado em
sua sinopse:

Marcha da Vida conta a história da última geração de sobreviventes do Holocausto


em uma viagem com milhares de adolescentes de todas as partes do mundo para
conhecerem os campos de concentração na Polônia e refazerem a Marcha da Morte
entre Auschwitz e Birkenau. Filmado no Brasil, Estados Unidos, Alemanha, Polônia
e Israel, o documentário acompanha esta última geração de sobreviventes,
transmitindo aos adolescentes de São Paulo, Los Angeles e Berlim, a história e as
memórias do massacre que testemunharam.

Desta forma se fará possível compreender um pouco mais sobre o Holocausto e


conhecer também, além dos documentos historiográficos, a história por aqueles que
sobreviveram ao genocídio e à tortura deste obscuro período da história. A ampliação do
conhecimento sobre o tema poderá de fato auxiliar a mediar o amplo debate entre os alunos.

Conclusão

Diante do exposto, concluiu-se que o aumento de casos antissemitas com ataques


virtuais e até mesmo físicos à comunidade judaica é alarmante e pode ser considerado como
falta de informação a respeito do Holocausto assim como a forma o assunto é tratado muitas
vezes em sala de aula ou em alguns livros didáticos ao abordarem o nazismo. Como por
exemplo quando se encontram termos como regime poderoso ou até mesmo forte, sem fazer
sequer menção ao número de vítimas fatais do Holocausto, às torturas e experiências
desumanas realizadas com judeus.

O fato do assunto ser melhor abordado por entidades responsáveis em manter a


história fiel e combater o antissemitismo não diminui de forma alguma a importância do
professor em pesquisar, se aprofundar no tema e trazer o assunto a amplo debate em sala de
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aula no intuito de combater a intolerância, o antissemitismo e o aumento do movimento


neonazista.

Trabalhar com os alunos jovens e adolescentes um assunto tão sério e em muitas


comunidades, sensível, como o Holocausto, os horrores cometidos durante a Segunda Guerra
Mundial e trazer à tona as questões para a atualidade, demonstrando que através do estudo e
do conhecimento é possível se combater a ignorância e a intolerância, é uma forma de auxiliar
as futuras gerações a não incorrerem em erros cometidos no passado.

Foi apresentado também o documentário ‘Marcha da Vida’ como alternativa para


expor aos alunos a história com imagens e relatos de sobreviventes, numa linguagem de fácil
entendimento e com relatos fortes que levam à reflexão.

Foram apresentadas neste artigo a problemática, a justificativa e dados. Foi também


sugerido uma série de institutos e artigos que podem ser utilizados no meio acadêmico para
enriquecerem a aula.

Diante da facilidade em encontrar materiais de apoio de credibilidade histórica para


complementar o que falta no material didático público brasileiro, da facilidade em apresentar
um documentário com imagens e relatos reais, da importância em se trabalhar melhor as
questões sobre o Holocausto, a intolerância, o preconceito e a discriminação, é de se esperar
que o presente artigo possa despertar o interesse entre profissionais de educação para e que
desta forma venha auxiliar na educação e na formação de uma geração mais empática e social.

REFERÊNCIAS

AFP. Atos antissemitas batem recorde no Reino Unido em 2019. BOL/UOL


Notícias. Disponível em: https://www.bol.uol.com.br/noticias/2020/02/06/atos-antissemitas-
batem-recorde-no-reino-unido-em-2019.htm Acesso em: 10 nov. 2020.

AFP. Novos recordes de atos antissemitas nos EUA em 2019. UOL Notícias.
Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/afp/2020/05/12/novo-recorde-de-
atos-antissemitas-nos-eua-em-2019.htm Acesso em: 12 nov. 2020.

ARQSHOAH. Holocausto e Antissemitismo. Disponível em:


https://www.arqshoah.com/quem-
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somos#:~:text=Criado%20em%202006%2C%20o%20Arquivo,e%2030.09.2009%20(Proc.
Acesso em: 18 nov. 2020

CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Noite dos Cristais; Arqshoah. Disponível em:
https://www.arqshoah.com/acoes-educativas/5-noite-dos-cristais. Acesso em: 18 nov. 2020.

MEMIJ. Memorial do Holocausto. MEMIJ. Disponível em:


https://www.memorialdoholocausto.org.br/#topo Acesso em: 18 nov. 2020.

RFI. Pesquisa revela que 84% de judeus franceses de 18 a 24 anos foram vítimas
de atos antissemitas. G1/Globo.com. Disponível em:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/01/21/pesquisa-revela-que-84-de-judeus-franceses-
de-18-a-24-anos-foram-vitimas-de-atos-antissemitas.ghtml Acesso em: 02 nov. 2020.

SANDERS, Jéssica. Documentário: Marcha da Vida. Agência Judaica. Disponível


em: https://www.youtube.com/watch?v=Dpnhyrr3qq4 Acesso em: 25 out. 2020.

SILVA, Daniel Neves. "Holocausto"; Brasil Escola. Disponível em:


https://brasilescola.uol.com.br/historiag/holocausto.htm. Acesso em: 25 out. 2020.

VAINFAS, Ronaldo [et al], História.doc – Manual do Professor. Saraiva. São Paulo.
2015

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