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UNIFACVEST

ATIVIDADE INTEGRADORA III


MINIPROJETO DE AULA PARA O ENSINO MÉDIO
REFLETINDO SOBRE AS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS AO LONGO DA
HISTÓRIA

PLANO DE AULA

Tema:

Mergulhando na História do Brasil para, através do fato “abolição da


escravatura” entender e refletir sobre o preconceito, discriminação e
desigualdade racial no Brasil.

Objetivo Geral:

Conhecer aspectos da história do Brasil, tendo como viés a Abolição da


Escravatura e a partir dela refletir sobre preconceito, discriminação e
desigualdade racial no Brasil.

Objetivos Específicos:

• Tendo como ponto de partida o debate sobre acontecimentos


contemporâneos sobre racismo, desigualdade social e preconceito sofrido
por afrodescendentes em acontecimentos veiculados pela mídia.
• Identificar as diferentes formas de manifestação do racismo na sociedade
brasileira; analisar a situação da população negra brasileira durante o
período citado.
• Chegar a uma melhor compreensão acerca do processo histórico que
culminou com a abolição da escravatura, causas e consequências na
sociedade brasileira da época.
• Refletir sobre as consequências do processo histórico e o fato “Abolição
da Escravatura” e os desdobramentos para a população afrodescendente
na sociedade moderna.
• Aperfeiçoar a capacidade de reflexão e habilidade de correlacionar fatos
históricos com eventos contemporâneos.

Conceitos a serem trabalhados:


Racismo, discriminação racial, preconceito, desigualdade social e
econômica.

Desenvolvimento:

A proposta inicia-se com a proposição de um debate sobre


acontecimentos recentes que viralizaram nas redes sociais e que se
caracterizaram como racismo. Os mesmos serão apresentados para a discussão
da seguinte forma: Os alunos serão divididos em 3 grupos sendo que cada grupo
receberá um acontecimento para ser analisado, apresentado e discutido.

Caso 1- Entregador do Ifood, ocorrido em Valinhos


O caso de racismo que ganhou os noticiários nesta sexta foi registrado em um
bairro aparentemente de classe alta, em Valinhos, quando um sujeito de camisa
azul e short preto ofende e humilha o entregador do iFood Matheus Pires, além
de fazer gestos e afirmações racistas. O entregador não reage e tenta
argumentar contra o homem, que, exaltado, continua com seu repertório de
ofensas. Com a viralização do caso, a plataforma de entregas baniu o sujeito de
sua rede.
Notícia completa: https://g1.globo.com/sp/campinas-
regiao/noticia/2020/08/07/entregador-registra-boletim-de-ocorrencia-apos-
sofrer-ofensas-racistas-em-condominio-de-valinhos-video.ghtml. Consulta em
05/03/2023

Caso 2 - Titi, filha dos atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank


Em maio, o processo envolvendo Titi, filha dos atores Bruno Gagliasso e
Giovanna Ewbank, teve um novo capítulo. A garotinha foi ofendida nas redes
sociais pela socialite Dayane Alcântara Couto de Andrade, conhecida como Day
McCarthy. O caso ocorreu em 2017, os pais pedem uma indenização de R$ 180
mil e será julgado à revelia, já que Day não apresentou defesa e sequer nomeou
um representante.
Na ocasião, a agressora disse nas redes sociais que não entendia por qual
motivo as pessoas “ficavam no Instagram do Bruno Gagliasso, elogiando aquela
macaca” e ainda falou que “a menina é preta, tem cabelo horrível, de bico de
palha, e tem um nariz de preto, horrível”.
https://www.hypeness.com.br/2017/11/ataque-racista-contra-filha-titi-faz-
giovanna-ewbank-e-bruno-gagliasso-procurarem-a-policia/ Consulta em
05/03/2023.

Caso 3- Segurança em Baile Urucum, no Rio de Janeiro


Trio de amigos foi impedido de deixar a festa 'Baile Urucum' sem comprovar que
os celulares que carregavam eram deles. Seguranças queriam obrigar que eles
desbloqueassem seus telefones para provar que não eram roubados.
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/jovens-negros-denunciam-racismo-apos-
exigencia-de-desbloquear-celular-em-evento-no-rio/ Consulta em 05/03/2023.
1º. Momento: Distribuem-se cópias dos relatos acima para os grupos de alunos
previamente divididos. Os alunos devem socializar o relato e apresentar o que
mais lhes chamou a atenção. Devem também pesquisar ou relatar situações
vividas, presenciadas ou lidas nas redes sociais que se configuraram como
casos de racismo.
2º. Momento: Os alunos recebem o texto didático (Anexo 1) para leitura . Fazem
a leitura individual e em seguida o professor propõe alguns questionamentos
para direcionar o debate, tais como:
1. Segundo seus conhecimentos, quem teria sido responsável pela
Abolição da Escravidão?
2. Qual o papel da população negra e escrava neste processo?
3. Como esta população teria participado ou o que teria feito para
conseguir a abolição? Nesse momento, é importante que todos se expressem e
criem hipóteses acerca das respostas, a fim de que notem, de forma autônoma,
porém, intermediados pelo professor, as ausências nos discursos e visões
predominantes na história oficial e tradicional, mas também, dentro da própria
turma, visões diferentes sobre o mesmo fato histórico.
3º. Momento: Cada grupo apresenta para turma as reflexões e o debate que
fizeram a respeito do texto e das postagens da internet. Além disso, deverão
refletir sobre a afirmação do historiador João José Reis no documentário “A
última abolição”, no qual assevera: “Um jovem negro hoje está menos protegido
do que um jovem negro escravo no século XIX.”
Deverão se posicionar se concordam ou discordam da afirmação e, em seguida,
escolher dois integrantes do grupo para defenderem e argumentarem
positivamente sobre aquilo que discordam. O objetivo da escolha é que
desenvolvam, também, a habilidade de se colocarem no lado oposto de sua
opinião.

Avaliação:

- Participação Oral;
- Avaliação escrita em grupo.

Bibliografia:

A Era da Escravidão. Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro:


Sabin, 2009. (Artigos de José Murilo de Carvalho, Maria Alice Resende de
Carvalho, Lilia Schwarcz, Wlamyra R. de Albuquerque, Flávio Gomes, Hebes M.
Vainfas)
Link das reportagens:
https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2020/08/07/entregador-
registra-boletim-de-ocorrencia-apos-sofrer-ofensas-racistas-em-condominio-de-
valinhos-video.ghtml. Consulta em 11/03/2023

https://www.hypeness.com.br/2017/11/ataque-racista-contra-filha-titi-faz-
giovanna-ewbank-e-bruno-gagliasso-procurarem-a-policia/ Consulta em
11/03/2023

https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/jovens-negros-denunciam-racismo-apos-
exigencia-de-desbloquear-celular-em-evento-no-rio/ Consulta em 11/03/2023
ANEXO 1 - Texto didático

GABRIEL DIENSTMANN
A abolição da escravidão no Brasil

O início do século XIX foi marcado por transformações econômicas,


sociais e culturais. A Revolução Industrial, que iniciou no final do século XIX na
Inglaterra, instituiu o sistema capitalista moderno, que modificou as relações de
produção vigentes passando a ter como base o trabalho assalariado e a
propriedade privada dos meios de produção. As relações econômicas se
transformam, surgindo a ‘economia de mercado’, orientando as atividades
produtivas para a produção de bens de consumo de massa. A escravidão passou
a ser um empecilho para essa nova realidade europeia. O escravo, ao não
receber salário, não poderia fomentar a economia de mercado, pois não possuía
dinheiro para a compra dos produtos industriais vindos da Europa. O
pensamento liberal da época passou a condenar moralmente a escravidão.
Estes foram um dos principais motivos que levaram a Inglaterra do século XIX a
pressionar o Brasil pelo fim do tráfico negreiro e pela abolição do regime
escravista. A pressão inglesa fez com que o Brasil chegasse a decretar o fim do
tráfico negreiro no ano de 1831. Contudo, não havia interesse político ou
econômico para o Império que o levasse a fiscalizar a medida, o tráfico não só
se manteve como acabou sendo intensificado. Foi neste contexto que surgiu a
expressão (até hoje corrente) “para inglês ver”. A partir de 1845 o governo
britânico passa a interceptar e apreender navios negreiros brasileiros. Em 1850,
com a Lei Eusébio de Queiroz, o tráfico negreiro foi finalmente extinto no Brasil.
A produção do café, em plena expansão, passou a buscar alternativas para a
obtenção de mão de obra. Inicia-se o tráfico interno de escravos, com dezenas
de milhares de escravos sendo deslocados do Nordeste (que devido à crise na
produção de açúcar não demandava mais tantos trabalhadores) para o sudeste.
Em 1871, é aprovada uma nova lei que deixava explicita que a escravidão estava
prestes a acabar: a Lei do ventre livre. Todo filho de escravos que nascessem a
partir de então seriam libertos ao completar 21 anos. Apesar da interferência
internacional, as pressões internas tiveram papel fundamental no processo que
levou a abolição da escravidão no Brasil. Desde a chegada ao Brasil, inúmeros
escravos resistiram ao cativeiro das mais variadas formas possíveis. Em muitos
casos, chegaram a fugir, fundando suas próprias comunidades – os quilombos
– ou entraram na justiça contra seus senhores. Em outras ocasiões, se
rebelaram, algumas vezes chegando inclusive a matar seus senhores. A partir
da década de 1870, surge no Brasil o movimento abolicionista, primeiro
movimento de formação de opinião no país. Jornalistas, advogados, políticos e
profissionais liberais atuantes nos grandes centros urbanos passaram a fazer
campanha pelo fim da escravidão. Surgiram diversos projetos de abolição da
escravidão, desde os mais conservadores, que incluíam pesadas indenizações
aos senhores de escravos, até os mais radicais, que exigiam a libertação
imediata dos escravos seguida de medidas para inserir os escravos na
sociedade, como a distribuição de terras para que eles se tornassem pequenos
produtores independentes. Estes setores compreendiam que o escravismo
emperrava o desenvolvimento e a modernização do país e consideravam a
escravidão como ato desumano. Na década de 1880 foi criada a Sociedade
Brasileira contra a Escravidão e a Confederação Abolicionista do Rio de Janeiro,
com participação de personalidades como Joaquim Nabuco, André Rebouças e
José do Patrocínio. Estas entidades organizavam comícios, palestras, faziam
panfletos e publicavam jornais visando atrair o público para a causa, além de
promover, incentivar e acobertar fuga de cativos ou ajudar na compra ou
conquista da alforria. As mobilizações tomaram as ruas do Rio de Janeiro e o
movimento se tornou cada vez mais popular. Do outro lado, os barões do café,
muito influentes na economia e na política do império, pressionaram até o fim
para a manutenção do regime escravista. No dia 13 de maio de 1888, com a
decretação da Lei Áurea pela princesa Isabel, o Brasil se tornou o último país da
América a abolir a escravidão. A lei não foi seguida de nenhuma medida voltada
para a inserção do negro na sociedade. Mesmo liberto, os negros permaneceram
marginalizados, despossuídos de bens e propriedades, com acesso restrito a
educação, morando em áreas periféricas e tendo que se sujeitar a trabalhos
degradantes, muitas vezes ainda nas casas de seus antigos senhores, em troca
de baixos salários. Além disso, continuaram a sofrer com o preconceito e com o
racismo que marcou – e ainda marca – a sociedade brasileira, que muito
discriminou e tratou os afrodescendentes como sendo inferiores . Medidas
voltadas a reinserção dos negros na sociedade só passaram a ser adotadas nas
últimas décadas do século XX. A constituição brasileira de 1988 finalmente
reconheceu o direito de negros remanescentes de quilombos o direito a
propriedade. O racismo passou a ser considerado crime inafiançável. Foram
criadas políticas públicas visando a melhoria das condições sociais dos negros,
como é o polêmico caso da instituição de cotas raciais nas universidades. Todas
as estatísticas apontam para a persistência da desigualdade entre negros e
brancos em aspectos como renda familiar, educação, saúde, vítimas de
violência, mortalidade, entre outros. Quinta-feira passada foi aprovado no
senado o Estatuto da Igualdade Racial, que visa promover a inserção do negro
na sociedade em diversos âmbitos (cultural, educacional, social, trabalho etc.).
Os traços deixados em nossa sociedade por mais de três séculos de escravidão
e mantidos por uma mentalidade racista no século XX ainda marcam o Brasil do
século XXI.

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