3 CULTURA CONTEMPORÂNEA E NOVOS DESAFIOS PARA A CLÍNICA GESTÁLTICA.
“MONOCORPO” EM UM MODELO UNIVERSALIZANTE E A CONFLUÊNCIA
DE TERAPEUTA NA GESTALT-TERAPIA: POR UMA CONSTRUÇÃO GESTÁLTICA DECOLONIAL
Tatiana De Paula Soares (tatiana.soares@gmail.com)
Este trabalho debate o modelo universal de corpo amparado em
normatividades e discute a confluência de gestalt-terapeutas fundamentadas em padrão único de corpo-norma calcado na herança colonial. A finalidade é refletir sobre a importância de protagonizar gestalt-terapias pluriversas circunscritas pelo contexto sócio-histórico. O propósito micropolítico é de localizar situações contemporâneas de opressões sociais invisibilizadas que atravessam o campo de gestalt-terapeutas enviesadas pelo universalismo cultural eurocentrado que move a roda-viva opressora. A relevância desse estudo é de contribuir aos estudos e à práxis da Gestalt-terapia, sob a temática de corpos plurais re-existindo a sistemas de alienação e confluências opressoras. Com o alicerce teórico decolonial, o entrelaçamento desse estudo se dá em corpo na Gestalt-terapia, a partir de Alvim (2014), pensamento “mono” baseado em Núñez (2021), transfeminismo no Brasil, sob o olhar de Nascimento (2021) e decolonialidades por Segato (2007) e Oyewùmí (2021). A crítica sobre a confluência no campo gestáltico é norteada por Billies (2005). O termo monocorpo, aqui proposto, vem inspirado em mono como único, um só e ao que Núñez (2021) articula modos universalistas de ser e monocultura do pensamento. Alvim (2016) ao realçar que a Gestalt-terapia coloca o lugar do corpo na experiência, trago para o debate, como o monocorpo, em uma perspectiva excludente, nos atravessa de modo a constituirmos monólogos e diálogos autocentrados e ainda, por qual lupa, transcendemos o lógico em uma perspectiva de campo e totalidade na Gestalt-terapia. A cultura universalizante de privilégios pelo embranquecimento se mantém com o que a própria ideologia colonial orienta. A busca ideária de nação homogênea é sustentada por apagamentos e estruturada em contexto de violências. Segato (2007) evidencia que um campo unificado de crença e a ideologia hegemônica em que corpos podem encontrar uma expressão global é um mito monocromático. Considerando as diferenças territoriais, a construção sócio-histórica colonial brasileira é de instituir corpos imersos em uma cultura onde reina o fundo branco do racismo pela branquitude e a generificação de corpos pela cisheteronormatividade. A urgência de enxergar corpos plurais e situados socio-historicamente relaciona-se à necessidade de ancorar a compreensão de temporalidade e espacialidade em Gestalt-terapia pela crítica fenomenológica. Para Billies (2005), a experiência concreta e vivida de privilégio e opressão pode influenciar as figuras que emergem para a terapeuta. A autora (2005) explicita exemplos cotidianos de confluência com a opressão sistêmica. Na Gestalt-terapia, modos de confluir com sistemas de opressão dão-se por: invisibilizar o significado da identidade de clientes que vive em lugar de racismo e exclusão; generalizar circunstâncias baseadas em experiências de grupos de privilégios; diagnosticar grupos de identidade, a partir de um modelo universalista; considerar lésbicas, gays ou pessoas transgêneras, com desenvolvimento debilitados ou carecendo de adequação à normatização do grupo familiar; tecer mediações visando conciliações, a partir de um modelo único e universalizante; crer que o atendimento de pessoas transgêneras só se torna viável por teorias específicas apartadas de outras. As relações de raça, classe e de desigualdades de gênero se entrecruzam para trazerem atribuições de sentido múltiplas. Decolonialidade, como produção de conhecimento transversal, visa fundamentar modos de sentidos na Gestalt-terapia que torçam atitudes imperceptíveis que ainda referendam o monocorpo crivado pela padronização de estilo, quer seja por aparência física, fala, gesticulação, escrita ou outras configurações associadas ao mito democrático de atender o bem comum. A pluriversalidade decolonial fundamenta a resistência a modos de opressão que beba de práticas de povos originários e africanos antes da colonização alijada da hierarquização do ser.