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ALUNO: Hael Nascimento Leite MATRÍCULA: 202032505

Reflexões sobre Transidentidade: Articulações entre Psicanálise, Corpo e Identidade

A compreensão da transidentidade requer uma abordagem multifacetada, conectando


psicanálise, corpo e identidade. No artigo "(Ab)usos do corpo: um olhar psicanalítico", de
Alinne Nogueira Silva Coppus e Denise Maurano, a relação entre psicanálise e corpo é
explorada. Destacam que o corpo é parte intrínseca da experiência humana, um ponto de
partida essencial na análise psicanalítica. A desconexão entre identidade de gênero e corpo
físico, frequentemente vivida por pessoas trans, reflete a dissonância entre o gozo psicológico
e a atribuição de gênero ao nascer. A imagem do corpo, conforme a teoria lacaniana,
desempenha um papel central na formação da identidade, e a busca por uma identidade de
gênero autêntica muitas vezes se traduz na busca por uma linguagem e narrativa que ressoem
verdadeiramente.

Este artigo oferece uma perspectiva psicanalítica profunda sobre a relação entre corpo
e identidade, destacando a importância do corpo na experiência humana. Ao abordar a teoria
de Lacan, ele nos ajuda a compreender como a imagem do corpo e o gozo estão
intrinsecamente ligados à formação da identidade. Isso é crucial para pensar nas experiências
de pessoas trans e trans não-bináries, que muitas vezes enfrentam desafios na reconciliação
entre sua identidade de gênero e seu corpo atribuído ao nascimento.

O livro "Trans - Uma Abordagem Curta e Curiosa Sobre a Variabilidade de Gênero"


de Jack Halberstam amplia a discussão, enfocando a variabilidade de gênero e a corporeidade
transmasculina como expressões não convencionais. Halberstam destaca a resistência à
normalização da experiência trans e a necessidade de preservar a multiplicidade e diversidade
dessas experiências. Ao conectar diferentes níveis de análise, o autor utiliza artistas famosos
da cultura pop (como David Bowie, Anohni, Prince e Grace Jones) para ilustrar a
experimentação corporal e de gênero, destacando a importância de desafiar normas sociais
para reconhecer a complexidade das identidades trans.

Tais discussões sobre as experiências trans no livro de Halberstam ampliam a


discussão, enfocando a variabilidade de gênero e a corporeidade transmasculina como
expressões não convencionais. Aqui é destacada a diversidade dessas experiências e a
resistência à normalização. Isso enriquece nossa compreensão das transidentidades,
destacando a importância de reconhecer e respeitar a multiplicidade de trajetórias e
identidades dentro da comunidade trans.

O livro "A Arte Queer do Fracasso" de Jack Halberstam também explora a estética do
fracasso como uma expressão política e criativa, desafiando normas opressivas. Esta
perspectiva se alinha com a luta trans por reconhecimento e existência para além das
palavras. Halberstam destaca como a estética do fracasso na arte queer oferece uma
alternativa valiosa às normas culturais estabelecidas, ecoando a resistência da comunidade
trans às expectativas sociais nos últimos séculos. Uma parte do texto ressalta a importância
de uma visão mais ampla da negatividade na arte queer como uma ferramenta de crítica ao
Status Quo e como uma forma de construir laços subversivos.

Ao abordar a estética do fracasso na arte queer, Halberstam oferece uma perspectiva


única sobre essa resistência política. Essa abordagem desafia normas opressivas e se alinha à
luta das pessoas trans e trans não-bináries por reconhecimento e existência. Isso nos leva a
considerar como formas alternativas de expressão e resistência podem ser aplicadas na
compreensão e apoio às identidades trans.

O artigo "Por Uma Psicanálise a Favor da Identidade" de Tania Rivera destaca a


relação entre psicanálise, identidade e política. Rivera critica a concepção psicanalítica
tradicional da identidade como algo alienante, ilusório e narcísico, propondo uma reflexão
sobre a identidade como reconhecimento pelo outro. Este ponto de vista conecta-se à luta das
pessoas trans por reconhecimento, evidenciando a necessidade de considerar a dimensão
política da identidade em nosso contexto brasileiro. Rivera argumenta a favor de uma ação
política que reconheça as diferenças historicamente negadas por discursos
pseudodesidentitários, sugerindo uma construção de laços subversivos.

O trabalho de Tania também proporciona uma crítica psicanalítica à noção de


identidade, questionando suas implicações políticas. Isso nos leva a refletir sobre como a
psicanálise pode ser uma ferramenta tanto para compreender quanto para questionar as
construções identitárias. Considerando também o contexto brasileiro, algo importante de ser
levantado em nossa disciplina e em nosso contexto social, se destaca a importância de
reconhecer as diferenças historicamente negadas, relevantes para a inclusão e compreensão
das identidades trans.

O artigo "Sobre Entrada em Análise e Encaminhamentos Clínicos" de Augusto


Coaracy e Mayara Pinho aborda questões de identidade do analista, destacando a necessidade
de sensibilidade ao considerar as demandas e condições históricas e sociais dos pacientes. A
discussão sobre recomendação de analistas se conecta diretamente à busca de pessoas trans
por profissionais de saúde que compreendam suas experiências únicas. Os autores sugerem
que o cuidado pode ser um pensamento dialético que inclui conflitos, contradições e
diferenças na recomendação de analistas, ressaltando a importância do respeito à diversidade
nas práticas clínicas.

Também é destacado os desafios enfrentados na busca por profissionais de saúde que


compreendam as experiências únicas das pessoas trans. Isso levanta questões CRUCIAIS
sobre a importância da sensibilidade e do cuidado na prática clínica, refletindo sobre como os
serviços de saúde mental podem ser mais inclusivos e acessíveis para a nossa comunidade
trans.

O artigo "O cis pelo Trans" de Amara Moira Rodovalho explora as metáforas de "cis"
e "trans", enfocando a sociedade cissexista e a luta das pessoas trans por seu reconhecimento.
O autor questiona críticas ao termo "cis" e destaca a importância de reconhecer a existência
trans para além das palavras. A reflexão sobre a existência trans vai além da linguagem,
incorporando a construção de um corpo alinhado à identidade como uma forma de resistência
à normatividade de gênero. Este texto contribui para a compreensão da complexidade das
identidades trans, desafiando definições rigidamente baseadas apenas na auto-identificação.

A crítica às críticas ao termo "cis" nos leva a pensar sobre a importância de linguagem
inclusiva. Isso contribui para a reflexão sobre como as palavras moldam a compreensão e
aceitação das identidades trans na sociedade. Ele destaca a importância da auto-identificação,
mas ressalta que, para pessoas trans, a existência vai além das palavras, envolvendo a
construção de um corpo que transmita sua identidade de maneira inequívoca.

Em síntese, ao articular psicanálise, corpo e identidade, estas obras evidenciam a


complexidade da transidentidade, ressaltando a importância de compreender e respeitar as
experiências únicas de cada indivíduo. Foi até mesmo por isso que eu as escolhi para compor
tal análise, são os textos que mais marcaram a minha passagem dentro da disciplina. A busca
por uma identidade autêntica transcende as palavras, incorporando o corpo como um espaço
de afirmação e resistência. Essa compreensão profunda é crucial para promover uma
sociedade mais inclusiva e respeitosa com a diversidade de experiências de gênero.

Referências:

Coaracy, A., & Pinho, M. (2023). Sobre Entrada em Análise e Encaminhamentos


Clínicos: A Respeito da Identidade e Corporeidade do Par Analítico. In “Princípios
psicanalíticos: de entradas e variedades casuais” (pp. 112-130). Editora Fi.

Coppus, A. N. S., & Maurano, D. (2021). (Ab)usos do corpo: um olhar psicanalítico. In


"(Ab)usos do corpo: um olhar psicanalítico" (pp. 170). Editora CRV.

Halberstam, J. (2000). A Arte Queer do Fracasso. Editora CEPE.

Halberstam, J. (2023). Trans - Uma abordagem curta e curiosa sobre a variabilidade de


gênero. Editora Devires.

Rivera, T. (2020). Por uma psicanálise a favor da identidade. Disponível em:


https://revistacult.uol.com.br/home/por-uma-psicanalise-favor-da-identidade/

Rodovalho, A. M. (2017). O cis pelo trans. Estudos Feministas, 25(1), 365-373.

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