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ALUNO: Hael Nascimento Leite MATRÍCULA: 202032505

A segunda parte do texto das pesquisadoras Alinne Nogueira Silva Coppus e Denise
Maurano, intitulado "(Ab)usos do corpo: um olhar psicanalítico", oferece uma reflexão
profunda e complexa sobre a relação entre corpo e psicanálise. As autoras exploram várias
questões fundamentais, e neste resumo com análise crítica, vamos examinar os principais
pontos levantados.

A introdução do estudo começa com uma contextualização importante, destacando o


impacto da pandemia de COVID-19 em 2020 e como isso forçou as pessoas a reavaliar em
suas vidas, seus ritmos e corpos. As autoras enfatizaram a relevância de uma abordagem
psicanalítica para entender como o corpo se insere nesse contexto de incertezas e
mudanças. Esta introdução humanizada nos conecta imediatamente à experiência
compartilhada da pandemia e à necessidade de uma abordagem psicanalítica mais
sensível.

As autoras destacam a conexão entre CORPO e PSICANÁLISE, enfatizando que “é


raro um sujeito que não inclua o corpo ao falar de si mesmo”. Isso ressalta a importância
desse corpo na experiência humana e até mesmo na prática psicanalítica. A psicanálise é
apresentada como uma ferramenta de escuta que permite ao sujeito explorar impasses,
conflitos e angústias relacionadas ao corpo, proporcionando uma relação única com o
saber.

Um dos principais questionamentos levantados é: “o que a psicanálise tem a dizer


sobre o corpo?” As autoras então destacam que Freud já estava atento à forma como o
corpo se apresenta durante a sessão, como no caso da paciente Elizabeth Von R. Isso nos
lembra que o corpo é uma parte essencial da experiência humana e a psicanálise não pode
ignorá-lo. Por isso mesmo elas se aprofundam em exemplos clínicos específicos para
ilustrar essa relação entre corpo e análise, o que poderia enriquecer o texto.

Também é explorada a importância da imagem do corpo e sua relação com a


identidade do sujeito. Aqui, as duas autoras fazem referência ao "estádio do espelho" de
Lacan, que descreve como o sujeito se reconhece em uma imagem e começa a construir
sua própria identidade. A transição para o "esquema óptico" de Lacan é uma adição
valiosíssima, pois destaca o papel do simbólico na construção da imagem do eu. Isso
mostra como a LINGUAGEM e o OUTRO desempenham um papel fundamental na
formação da identidade do sujeito.

O texto também toca no tema do gozo, especialmente em relação à imagem do


corpo. As autoras mencionam o gozo de Schreber e as imagens inesquecíveis na
experiência analítica. O gozo é um conceito central na teoria lacaniana e refere-se a uma
satisfação ou prazer psicológico que é experimentado no nível do inconsciente e que muitas
vezes não está ligado ao prazer físico ou sexual convencional. É uma experiência complexa
e muitas vezes angustiante, relacionada ao desejo humano, à falta e à linguagem.

O texto ao abordar a formação da identidade à partir da perspectiva da imagem do


corpo, destacando como essa imagem desempenha um papel fundamental na construção
do "eu", se relaciona bastante à experiência de pessoas transgêneras que muitas vezes
passam por um processo de reconhecimento e construção de identidade de gênero que
envolve a relação com sua própria imagem corporal. Pessoas transgêneras frequentemente
experimentam uma desconexão entre sua identidade de gênero e seu corpo físico, podendo
ser ser vista como uma forma de dissonância entre o gozo psicológico (a identificação de
gênero) e o corpo físico (o sexo atribuído ao nascimento).

Também é discutido como o sujeito se aliena na imagem especular, acreditando que


a imagem refletida no espelho representa sua identidade e tal conceito pode ser aplicado à
experiência de pessoas transgêneras que frequentemente se sentem alienadas em seus
corpos atribuídos ao nascimento, buscando uma identidade de gênero que ressoe com sua
autopercepção. Isso pode se manifestar com sintomas de ansiedade, depressão e disforia
de gênero, além de poder se relacionar com a experiência de busca por uma identidade de
gênero que corresponda ao seu sentido interno de si mesmas.

A teoria de Lacan também enfatiza a importância da linguagem na construção da


subjetividade, que para diversas pessoas envolve a busca por linguagem e narrativas para
descrever e comunicar sua identidade de gênero. Se imaginarmos que a linguagem é como
um espelho no qual você se vê quando nasce, e você ainda não tem uma compreensão
completa de quem é, de suas emoções e de como se encaixa no mundo. É como se você
fosse uma tela em branco! À medida que você cresce, começa a aprender palavras e
símbolos que descrevem suas experiências e sentimentos.

Através dessas palavras, você começa a entender e nomear o que está


acontecendo dentro de você e ao seu redor. Aqui é onde a questão da identidade de gênero
se torna relevante. Enquanto você cresce, percebe que as palavras e símbolos
convencionais descrevem adequadamente (ou não) como você se sente em relação ao seu
gênero. Talvez você se identifique como um gênero diferente daquele que foi atribuído a
você no nascimento e isso pode se tornar uma experiência desafiadora, porque a linguagem
que a sociedade usa muitas vezes não reflete sua verdadeira identidade.

Em resumo, a teoria de Lacan sobre a importância da linguagem na construção da


subjetividade nos ajuda a entender como a busca por linguagem e narrativas para
descrever e comunicar a identidade de gênero é uma parte essencial da jornada de muitas
pessoas transgêneras. É um processo humano e profundamente pessoal de se reconhecer
e se afirmar em um mundo onde a linguagem muitas vezes define quem somos. Essa busca
nem sempre é fácil, pode haver estigmas sociais, falta de compreensão por parte dos outros
e até mesmo conflitos internos. Mas é um processo importante e valioso, pois envolve a
afirmação da sua identidade autêntica, onde você está tentando se reconhecer no espelho
da linguagem de uma forma que seja fiel à sua verdadeira identidade.

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