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Resumo: Neste texto duas categorias Abstract: This text discusses diversity
conceituais contribuem para uma and identity. These two conceptual
melhor compreensão de fenômenos categories contribute to better
socioculturais em contextos de pós- understand the social and cultural
modernidade, quais sejam: diversidade phenomena of post modernity. The
e identidade. O sujeito que empresta black woman is the guy who gives
sua cosmovisão para pensarmos his ethos to think about ethnic and
sobre relações étnico-raciais e de racial and gender discrimination.
gênero enquanto elementos These relationships are thought of as
constitutivos de processos de components of identification
identificação e diversidade é a mulher processes and diversity. In Brazil, the
negra. No Brasil, sobretudo pelas black woman has been investigated
Ciências Sociais, a mulher negra tem mainly by the Social Sciences, as a
sido abordada como duplamente social being doubly stigmatized by
estigmatizada por ser portadora de having signs of inferiority related to
signos de inferioridade relacionados gender and race. Some of the
ao gênero e à raça. Alguns dos questions led to the production of
questionamentos que motivaram a the text presented here, these
produção do texto ora apresentado questions are: What is the specificity
são: Qual a especificidade da mulher of black women in Brazil? What are
negra no Brasil? Quais suas your chances of transit between
possibilidades de trânsito entre identity categories? What are the
categorias identitárias? Quais os social, cultural and political
mecanismos socioculturais e políticos mechanisms that are indicators of
indicadores de processos de re- processes of new signification of
significação de pertencimentos? belongings?
Palavras-chave: Diversidade, Key-words: Diversity, Identity,
Identidade, Étnico-racialidade e Ethnicity, Race and Gender.
Gênero.
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Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília – UnB. Antropóloga
e professora da Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão. Pesquisadora
das relações étnico-raciais e de gênero em perspectiva comparada e interamericana.
E-mail: lucianadeoliveira99@hotmail.com
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Apresentação
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dentre outras questões, uma tensão. Essa tensão diz respeito à étnico-
racialidade altamente estigmatizada que demanda por profundos
processos de re-significação para que seja minimamente positivada. Assim
como acontece com os sujeitos negros no Brasil, a mulher negra
despende grande esforço identitário para que a tensão gerada pelo seu
ser não resvale em sua auto-estima reduzindo, ou mesmo inviabilizando,
possibilidades de interações mais equânimes. O complicador desse
esforço identitário unilateral é que mais uma vez recai sobre os ombros
do sujeito subalternizado a responsabilidade total pela reversão de uma
situação de opressão na qual foi inserido de forma inferiorizada. Como
destaca Oliveira Dias (2004), a desconstrução de situações de opressão,
marginalização e subalternização deve ser um empreendimento de todos
os sujeitos que estejam envolvidos em uma trama social. Fanon (1983)
nos lembra que é necessário descolonizar mentes e corações de todos,
já que todos são responsáveis pelas padronizações ordenadoras das
relações socioculturais instituídas.
Conforme destacado anteriormente, a mulher negra pode ser
entendida como um sujeito social que concentra em si signos identitários
duplamente estigmatizados. Desta forma, ao consolidar essa identidade,
além de ter que operar com processos de re-significação da raça, a
padronização das relações de gênero institui o peso de ser mulher.
Historicamente associada ao trabalho mais pesado, portanto ao não
feminino, à mulher negra foram negadas características que pudessem
associá-la à fragilidade, docilidade, meiguice, frescor etc. Assim sendo, a
tensão que seu ser desperta cobra por uma associação de caracteres
entendidos inicialmente como antagônicos. Essas forças aparentemente
contrárias atuam em um mesmo ser e consequentemente provocam uma
sobrecarga nesse ser que responde de maneiras variadas. Seja como
uma expressão de tensão que estampa traços perversos de uma sociedade
opressora, ou enquanto manifestação de um desajuste de um ser que
concentra forças contraditórias, as mulheres negras na sociedade brasileira
atual provocam erosões em certezas associadas a pertencimentos. A
demanda que se apresenta e que não pode mais ser ocultada diz respeito
à extrema necessidade de desestruturação de padronizações responsáveis
pela subalternização de indivíduos que apresentam traços sobre os quais
os mesmos não exercem nenhum controle.
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Considerações finais
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Referências
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