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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FCLAR- FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS

CIÊNCIAS SOCIAIS (NOTURNO)

FICHAMENTO BASEADO NA OBRA: “ALL THE WORLD WAS AMERICA”-


JOHN LOCKE, LIBERALISMO E PROPRIEDADE COMO CONCEITO
ANTROPOLÓGICO.

PIETRA DA CRUZ BERGHE

2018
FRANCO, Maria Sylvia Carvalho. All the World was America. São Paulo. Revista
Usp, 1993.

Nesta obra, Maria Sylvia apresenta uma análise minuciosa e crítica acerca do
Segundo Tratado sobre o Governo de John Locke, abordando o que circunda o
liberalismo e a propriedade como conceito antropológico dentro do contexto da
época (XVII). Trará ainda a análise crítica do filósofo, C. B. Macpherson, baseado
nas dicotomias existentes no discorrer do tratado de Locke a respeito da “igualdade
natural”, que explicita uma tese que os homens são todos iguais, dotados de razão,
ao mesmo passo em que essa igualdade se contrapõe em uma desigualdade
alicerçada em uma antropologia baseada no trabalho.

Partindo do ponto anterior, Macpherson, concebe que o que Locke considera em


sua sociedade, generaliza, de caráter típico, a qualquer outra sociedade civil. Maria
Sylvia se contrapõe dado às circunstâncias do séc XVII: “Parece estranho predicar
essa lisa conformidade ao positivo, em se tratando de um filósofo que viveu no
século XVII, num mundo virado de ponta- cabeça, em meio à dúvida universal
instaurada como método, à demolição de toda autoridade transcendente, à perda
das certezas até a subversão do próprio sentido das palavras.” (p.34)

A autora aborda uma perspectiva da obra de Locke mais profunda e aponta outras
abordagens. Na sua análise da visão de Locke, o Estado de Natureza se dá na
propriedade privada, direito de todos, pois todo indivíduo pertence a uma espécie
na natureza, sendo semelhantes ao outro (humano, no caso) e desse modo,
naturalmente igual. Partindo daí, a natureza, nessa temática só é efetivada enquanto
últil. O homem só é de fato espécie quando age n natureza, se apropria dela em
atividade que frutifica. Dá- se aí neste contexto o trabalho e o homem proprietário. A
razão também nasce do Estado de Natureza, portanto o homem dotado de razão,
sem desigualdade nela, razão universal. Neste entendimento, todos são livres para
fazer escolhas, há aqueles que fazem bom uso da dita razão e outros que não.
Locke então trará que o trabalho é o meio de usar de bom modo dessa razão e
consequentemente conquistar sua propriedade privada. Quando a razão (tida
também como lei natural, explanada a frente) não é executada para esse bem, o
indivíduo que escolheu dessa forma é considerado como defeituoso, feroz,
selvagem, animalesco, separado dos humanos perfeitos, proprietários que frutificam.
Se estabelece assim, que só o homem proprietário participa da comunidade dos
homens.

Maria Sylvia traz também que o Estado de Natureza, já propriamente dito, é regido
por uma lei também natural e só é efetivada na atividade de cada um. Todos são
executadores da lei. Quando o indivíduo infringe essa lei natural, não se usa da
razão, ele se torna uma ameaça para o proprietário que poderá usar da repressão
como punição ao transgressor. Legitimando- se o poder dos perfeitos sobre os
defeituosos e também o domínio sobre aqueles denominados de escravos, sendo
repreendidos como operadores nas terras do proprietário ou penalizados: “(...)
revela- se a antropologia de Locke necessariamente fundada no indivíduo, em
consequência, a identidade originária como essencial para validar as diferenças. A
desigualdade entre os homens aparece já no interior das formulações da lei natural,
exposta desde o início como sua negação. A observância do direito prevê a
transgressão, em nome da igualdade, que faz de todo homem depositário da justiça,
faz também de cada um o juiz que julga e pune o desigual, o criminoso. ” (p.43)
Locke então legitima a violência, o Estado de Guerra, contra os excluídos, rompendo
com a sociedade indivisa, igual, harmoniosa postulada também no tratado.

Esse mais novo Estado é gerado a partir do Estado de Natureza, ou seja, a autora
esclarece de forma embasada que Locke não se contradiz, não discorre de forma
ambígua. O Estado de igualdade leva a desigualdade pelos meios citados
anteriormente. O englobamento destes fatores legitima o próprio liberalismo que
comparado a atualidade vivenciada não se difere e ainda se dá continuidade.

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