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2018
PIOZZI, Patrizia. “Da Necessidade À Liberdade: Uma Nota Sobre As Propostas
De Diderot e Condorcet para o Ensino Superior. Campinas. Educ. Soc, Especial
2004.
Neste modelo, a educação deve ser igual para todos, expansiva, e uma vez
que isto se dá, os 'talentos' são encontrados com mais facilidade pois estão
concentrados nas famílias de classe mais inferior, que são a maior parte da nação.
Piozzi faz comparações em que distância Diderot do ideal de John Locke que
explicita a igualdade natural dos indivíduos, dotados de razão e construtores de sua
propriedade, fundamentando a legítima desigualdade entre eles, o que de forma
mais embasada dão origem a ascensão social pela meritocracia.
Partindo para Condorcet, que visa também o acesso dos cidadãos, sem
restrições, a todos os graus do ensino, com uma educação pública laica, Piozzi
realça uma continuidade da ruptura entre os enciclopedistas (Diderot) e os
revolucionários.
Em Condorcet a administração pública é dada aos instruídos, ou seja, a
soberania é popular constituída em oposição aos interesses mercantis.
As faculdades de jurisprudência e teologia, diferente de Diderot, são excluídas por
Condorcet que tem em vista que o monopólio destes por especialistas permite o
domínio sobre os homens dados como comuns. Para ele, o ensino religioso doutrina
e cega os profissionais que agem pela fé; o ensino de direito, cria castas de
conhecedores das leis e constituições, o que não permite assembleias eleitas e
julgadas pelo povo. Neste cerne, Condorcet busca reduzir as desigualdades sociais
indo para além do âmbito educacional, mas analisando também as desigualdades
econômicas e de instrução, "[...] creditando a perspectiva de sua diminuição menos ao
crescimento “espontâneo” do comércio e da indústria que à implementação de políticas
públicas de incentivo aos pequenos produtores e de proteção aos mais fracos, sobretudo
crianças, velhos e mulheres desamparados das classes populares, numa antevisão do que
no século XX se efetivaria como Estado de Bem-Estar Social." (PIOZZI, p.666-667).
Assim, é necessária uma reforma econômica e social, para que o ensino público
superior se torne para todos, universal.
A autora finaliza com uma análise ente o passado e atualidade que cabe aqui
exemplificar com o trecho correspondente : "A ousadia do pensar, na busca de meios
para encurtar o enorme espaço ainda existente entre o mundo atual e a era luminosa da
razão, traduz-se em propostas concretas: políticas capazes de corrigir as enormes injustiças
sociais ainda presentes na República nascida da revolução. Se me permitirem usar uma
expressão anacrônica, gostaria de finalizar dizendo que, nesta época tão marcada pela
contra-revolução, a ousadia do pensar e do agir continua viva nas correntes de opinião e
nas lutas das populações que, mundo afora, denunciam e combatem os crimes e as
mentiras dos poderosos. Na universidade, aqueles que se engajam, por meio de pesquisas
rigorosas e intransigentes, de experimentações inovadoras no campo da cultura e da arte, a
investigar e debater todos “os interesses humanos mais amplos”, contribuem, dessa forma,
a manter o sentido que os iluministas e os revolucionários de 1789 atribuíam ao saber e
ensino “superiores”, recolocando-os na trilha da utopia e do “progresso dos espíritos
humanos”." (PIOZZI, p.673-674).