1) João Manuel Cardoso de Mello analisa o desenvolvimento econômico tardio da América Latina e contesta alguns aspectos do pensamento da CEPAL, propondo uma abordagem que leva em conta aspectos sociais de dependência.
2) O autor descreve como o capitalismo se desenvolveu de forma peculiar e tardia na América Latina, passando por estágios como economia colonial, economia primário-exportadora e economia mercantil-escravista, marcados por relações de subordinação.
3) Cardoso de Mello argumenta que
Descrição original:
As Raízes Históricas no Desenvolvimento Capitalista Latino-Americano; Das Raízes do Capitalismo Tardio à Industrialização Retardatária; e O Nascimento e a Consolidação do Capital Industrial
Título original
Resenha da obra O Capitalismo Tardio de João M. Cardoso de Mello
1) João Manuel Cardoso de Mello analisa o desenvolvimento econômico tardio da América Latina e contesta alguns aspectos do pensamento da CEPAL, propondo uma abordagem que leva em conta aspectos sociais de dependência.
2) O autor descreve como o capitalismo se desenvolveu de forma peculiar e tardia na América Latina, passando por estágios como economia colonial, economia primário-exportadora e economia mercantil-escravista, marcados por relações de subordinação.
3) Cardoso de Mello argumenta que
1) João Manuel Cardoso de Mello analisa o desenvolvimento econômico tardio da América Latina e contesta alguns aspectos do pensamento da CEPAL, propondo uma abordagem que leva em conta aspectos sociais de dependência.
2) O autor descreve como o capitalismo se desenvolveu de forma peculiar e tardia na América Latina, passando por estágios como economia colonial, economia primário-exportadora e economia mercantil-escravista, marcados por relações de subordinação.
3) Cardoso de Mello argumenta que
Resenha da obra O Capitalismo Tardio de Joo M. Cardoso de Mello
As Razes Histricas no Desenvolvimento Capitalista Latino-Americano
Com caractersticas sociais e razes histricas, sem sombra de dvida, peculiares, os pases da Amrica Latina refletiram em seu desenvolvimento econmico, ao longo de um demorado processo de caminhada ao pleno modo de produo do assalariamento, um certo capitalismo (o capitalismo tardio) que, por sua vez, reflete tal peculiaridade. com sua ateno voltada organizao social, tanto no cenrio nacional quanto no mundial, previamente anlise econmica em si, que Joo Manuel Cardoso de Mello, atravs de sua formao em sociologia pela Universidade de So Paulo, nos apresenta a sua contribuio teorizao do capitalismo tardio. O capitalismo tardio caracterizado na Amrica Latina foi previamente abordado pela grande economista luso-brasileira Maria da Conceio Tavares em sua obra Acumulao de Capital e Industrializao no Brasil. Tavares foi uma das mentes que, atravs de suas reflexes sobre a situao econmica de pases perifricos, compuseram a Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe (CEPAL), instituio cujo pensamento contestado por Cardoso de Mello. a partir desta contestao que surge o dilogo com Tavares, entre outros pensadores, porm com pleno reconhecimento da contribuio desta corrente para a teorizao econmica acerca de pases em desenvolvimento. Parecendo desconsiderar os sculos de dependncia socioeconmica dos pases latinoamericanos (perante as economias centrais), o paradigma Cepalino nos apresenta a teoria do crescimento para dentro, ou seja, que os pases perifricos deveriam focalizar sua fora produtiva no desenvolvimento de um mercado interno e s assim alcanariam os nveis de desenvolvimento adequados, em oposio ao vigente crescimento para fora, que era caracterizado pelas economias basicamente exportadoras. Como alternativa ao modelo da CEPAL, Cardoso de Mello se prope a um estudo reformulado sobre o desenvolvimento
econmico da Amrica Latina, a partir de uma anlise de aspectos sociais de dependncia e
subordinao, tanto em aspectos mercadolgicos quanto tecnolgicos da escala produtiva.
Das Razes do Capitalismo Tardio Industrializao Retardatria
Para entendermos como se d o processo de desenvolvimento do capitalismo em qualquer sociedade preciso que haja, indiscutivelmente, uma contextualizao histrica. Poderamos versar sobre os primrdios do que um dia viria a possibilitar o modo de produo capitalista, a acumulao primitiva, na tentativa de entender as razes de nosso capitalismo tardio. Entretanto, como dito no comeo, a histria da Amrica Latina um tanto peculiar, desde, por que no, a nossa migrao proveniente da sia, o que nos colocou em atraso diante da concretizao das civilizaes que se estabeleceram em torno do bero da humanidade; at a maneira exploratria pela qual fomos colonizados a partir do sculo XV. Portanto, de uma maneira peculiar, tardia, se preferir, que surge o capitalismo latino-americano, exposto por Cardoso de Mello com suas devidas especificidades. No primeiro captulo de O Capitalismo Tardio, o autor nos apresenta uma transio que ocorre na Amrica Latina, quando este continente penetra em um novo estgio de desenvolvimento: as economias primrio-exportadoras. Segundo o pensamento Cepalino, o modo de crescimento para fora a causa do surgimento desse modelo econmico. Em tal cenrio podemos notar a mudana de Economia Colonial, passando por um estgio transitrio de Economia Primrio-Exportadora at, futuramente, chegarmos Economia Mercantil-Escravista Cafeeira Nacional. Neste cenrio de transio, o autor abre a indagao sobre a diferena, que deve ser exposta para fim de anlise, entre a economia colonial e a primrio-exportadora. Segundo Cardoso de Mello, a diferena reside no modo de insero das economias nacionais latino-americanas na nova diviso do trabalho (p. 32). Aqui podemos notar sua primeira tendncia contrariedade acerca do pensamento Cepalino, pois a primeira evoluo em direo ao desenvolvimento capitalista parte de um reconhecimento dos territrios perifricos pelas economias centrais dominantes, antes, colnia [...] depois, Estado-Nao (p. 32), ou seja, de uma internacionalizao da economia. Diante de tal cenrio de crise da Economia Colonial nos pases Latino-Americanos, uma srie de fatores, como a Revoluo Industrial, a acumulao prvia do capital mercantil, a formao do Estado Nacional e a existncia de recursos produtivos, contriburam para, por
exemplo, no Brasil, o que culminaria na consolidao da economia mercantil-escravista cafeeira
nacional e, mais tarde, no inevitvel assalariamento dos trabalhadores. No que tange a transio para o trabalho assalariado, fatores como a diminuio dos salrios pela alta oferta ocorrida com a imigrao italiana (assim como a oferta em si), a remunerao diferida, a maior, e indiscutvel produtividade do trabalhador assalariado etc. Entretanto, o cenrio de subordinao continuava caracterstico entre os pases latino-americanos e europeus. Acerca do processo de industrializao na Amrica Latina, as concluses devem seguir a mesma linha das alcanadas na anlise das razes do desenvolvimento capitalista. Tentar buscar a separao de ambos seria como tentar separar, assim como fez David Ricardo, a escala da distribuio da renda da escala da produo da mesma. Assim como o capitalismo se desenvolveu em situao de dependncia, o prximo estgio (o de afirmao das foras produtivas), a acumulao, a consequente industrializao ocorrer, por um longo perodo de tempo, de maneira restringida. A industrializao que se percebe uma mera expanso das exportaes, o que caracteriza uma reduzida atividade industrial. Este setor era incapaz de se alimentar por si s e se tornava cada vez mais dependente das naes maduras e j dominantes do mercado. Segundo a CEPAL, a nao deve se voltar para dentro e focar no investimento, bem como seu estmulo. Eis que surge, no campo do desenvolvimento industrial, a problemtica enfrentada por Cardoso de Mello e pela corrente Cepalina: a industrializao nacional a partir de uma situao perifrica (p. 101). diante desta problemtica que o autor expe um dos pontos mais importantes de sua obra em questo. Segundo Cardoso de Mello, para resolvermos a problemtica da industrializao a partir de uma situao perifrica, o ncleo da anlise deve ser a clara incompatibilidade entre um possvel desenvolvimento econmico de uma Nao dependente e uma diviso de trabalho que foi a responsvel pela situao de dependncia desta economia. Desta forma, diferentemente do que pregava a CEPAL, devemos iniciar a anlise de um parmetro externo (ajustes de oferta e demanda) ao invs de voltar a ateno aos aspectos endgenos de economias onde a acumulao , como vimos, se no ausente, precria.
Ao introduzir a problemtica da industrializao retardatria, o autor retoma o raciocnio
paralelo ao nascimento das economias capitalistas exportadoras. O que se presenciou com o surgimento das economias primrio-exportadoras foi o nascimento do capitalismo, entenda-se como assalariamento, na Amrica Latina, mas no do modo capitalista de produo, pois, para tal, necessrio que ocorra, paralelamente ao assalariamento, o surgimento das foras produtivas capitalistas. A concluso lgica a que o autor nos expe de que a reproduo de maneira ampliada do mesmo no est assegurada no setor interno das economias dos pases latinoamericanos, isso devido ausncia da evoluo das foras de produo, cuja natureza e ritmo esto determinados por um certo processo de acumulao de capital (p. 103), reforando a impossibilidade de uma anlise endgena com o intuito de promover o desenvolvimento do capitalismo industrial nestas naes. Partindo de economias exportadoras capitalistas nacionais em um momento em que naes com processo de acumulao capitalista mais antigo dominavam o mercado mundial de maneira monopolista, a industrializao brasileira vai se concretizar a partir de um longo processo, nascendo de momentos de extraordinria expanso cafeeira e de grande oferta de mo de obra imigrante capaz de suprir as necessidades dos setores produtivos, bem como gerar mais demanda por consumo. Continuando a anlise a partir da tica da produo brasileira, Cardoso de Mello nos mostra a sua subordinao, mesmo com a evoluo consequente da expanso cafeeira. Como dito previamente, a industrializao no Brasil ocorre de maneira restringida em vrios aspectos. A ausncia de indstrias de bens de produo um exemplo claro. Insuportveis (p. 119) como Joo Manuel Cardoso de Mello descreve os riscos do investimento privado em um capitalismo onde as foras produtivas no foram ainda bem estabelecidas, um capitalismo dotado de bases tcnicas muito estreitas (p. 119), com margens de lucro muito baixas (quando no negativas), cabendo ao Estado a criao de uma melhor estrutura que incentivasse o maior investimento por parte dos detentores do capital previamente acumulado. Em contrapartida, a indstria de bens de consumo se tornou mais acessvel por aspectos como simplicidade da tecnologia empregada e grande disponibilidade no mercado internacional.
O Nascimento e a Consolidao do Capital Industrial
Este perodo de transio, que compreende o nascimento do capitalismo, com a culminao do trabalho assalariado e o fim da escravido em 1888 e sua consolidao com o incio da industrializao restringida em 1933 depois dos dois ciclos de expanso e crise do caf expostos por Cardoso de Mello; se estende, ainda, por muitos anos. Em linhas gerais, O Capitalismo Tardio apresenta, de forma clara e cientfica, aquilo a que se prope que revisitar a anlise acerca do desenvolvimento capitalista de pases latinoamericanos. A leitura nos remete a ideias no somente econmicas, mas tambm sociais (de fato, duas cincias que se complementam). Em um cenrio de desenvolvimento capitalista desigual, no podemos analisar as naes como se apresentassem as mesmas condies prvias ao surgimento do capitalismo, especialmente em um continente que, como afirmado desde a introduo deste trabalho, possui caractersticas to especficas, fruto de nossa tendncia guerra e dominao. Um ciclo vicioso onde a periferia se encontra estagnada justamente por se encontrar em situao perifrica s pode ser quebrado com uma revoluo na diviso mundial do trabalho. Caso contrrio, as regies centrais continuam a fomentar todos os seus setores, enquanto a periferia global no consegue evoluir alem de setores primrios da economia. Apesar de deixar claro, a julgar por sua concluso, que no se caracteriza a inteno de usar o exemplo brasileiro para resolver o problema de outras naes da Amrica Latina, podemos apontar como um ponto negativo a ausncia de estudo sobre outros pases. O Brasil um pas de caractersticas nicas no continente, no somente pela colonizao lusitana ao invs da espanhola, mas tambm por condies fsicas. evidente que nenhum pas latino-americano possui a capacidade produtiva brasileira, tanto pela maior quantidade de fora de trabalho, quanto pela vastido de terras produtivas no territrio tupiniquim.