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Faculdade de Direito

Trabalho em Grupo de Direitos Reais

Tema: Usufruto

Ano de frequência: 3º ano

Turma: Única

Regime: Pós - Laboral

Grupo nº 3

Os Docentes

_____________________________________

Cristóvão Chivela e José Manuel

Lubango, Abril, 2023


Trabalho em Grupo de Direitos Reais

Tema: Usufruto

Integrantes do grupo:

Nº Nome completo Nota Individual Nota em Grupo

Adriano Kanica

Esperança Ndakolo

Jeruza Graciete

Joaquim Gaspar João

Júlia Malombo

Lizito Simeão

Pedro Girão
Índice

INTRODUÇÃO .........................................................................................................................1

1. Noção .....................................................................................................................................2

2. Evolução histórica ..................................................................................................................2

3.2. Não exclusivo......................................................................................................................4

3.3. Temporário ..........................................................................................................................4

3.4. Limitado ..............................................................................................................................5

3.5. Ser objeto alheio .................................................................................................................5

4. Modalidades do usufruto (art. 1441.º) ...................................................................................6

5. Subtipos de usufruto ..............................................................................................................6

6. O objecto do usufruto.............................................................................................................7

6.1. Quase-usufruto ....................................................................................................................7

7.Constituição do usufruto .........................................................................................................8

7.1. Constituição por contrato ...................................................................................................8

7.2. Constituição por testamento ................................................................................................8

7.3. Constituição por usucapião .................................................................................................9

7.4. Constituição por disposição da lei ......................................................................................9

8.Regime jurídico .......................................................................................................................9

8.1. Regime geral .......................................................................................................................9

8.2. Regime especial ................................................................................................................10

9.Poderes do usufrutuário. .......................................................................................................10

9.1. Poder de uso da coisa. .......................................................................................................11

9.2. Poder de fruição. ...............................................................................................................11

9.3. Poderes de disposição. ......................................................................................................12

9.4. Poder de transformação.....................................................................................................13

10. Obrigações do usufrutuário. ...............................................................................................13

10.1. Obrigação de inventariar os bens do usufrutuário ..........................................................14


10.2. Obrigação de prestação de caução. ................................................................................14

10.3. Obrigação de consentir a realização pelo proprietário de obras e melhoramentos da


coisa. ........................................................................................................................................15

10.4. Obrigação de suportar as despesas da administração e reparações ordinárias ................15

10.5. Dever de avisar o proprietário em relação às reparações ordinárias. ..............................15

10.6. Obrigação de pagar impostos e outros encargos anuais que incidam sobre o rendimento
dos bens usufruídos. .................................................................................................................15

10.7. Dever de avisar o proprietário de qualquer facto de terceiro de que tenha notícia, sempre
que lhe possa lesar os direitos do proprietário. ........................................................................16

11. Direitos do proprietário de raiz ..........................................................................................16

12. Extinção do Usufruto .........................................................................................................17

CONCLUSÃO .........................................................................................................................18

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................20
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como finalidade o desenvolvimento da figura do usufruto, que se
encontra dentro do conteúdo dos Direitos Reais, prpriamente nos direitos reais de gozo.

Neste trabalho, faremos referencia a noção, a evolução histórica no Direito romano, até aos
dias de hoje, abordaremos rambém suas caracteristicas, constituição, suas modalidades, a sua
extinção, bem como outros aspectos relevantes.

Tendo como base de apoio, referencias bibiográfica, o Código Civil angolano e alguns
artigos cientifico.

1
1. Noção

O código civil no seu artigo 1439 dispõe que o usufruto “é o direito de gozar temporária e
plenamente uma coisa ou direito alheio, sem alterar a sua forma ou substância”

Nas famosas palavras do jurisconsulto Romano PAULO1 o usufruto “é o direito de converter


em utilidade própria o uso ou produto de coisa alheia mobiliária ou imobiliária”, a doutrina
considera esta definição tecnicamente mais rigorosa a cada do código civil.

2. Evolução histórica
Usufruto tem antecedentes no antigo direito grego, mas os seus traços fundamentais foram-lhe
conferidos pelo direito romano.

O Usufruto surge em Roma entre os séculos II e III a.C com o fim de atribuir à viúva um
rendimento adequado à sua subsistência, sem afetar a cota dos descendentes e dos outros
herdeiros. Desta forma os romanos afastavam a concepção familiar do “matrimónio cum manu”
e difundiam o novo “matrimónio sine manu”.2

Através do usufruto, o paterfamílias proporcionava a viúva ou outros familiares dos


indispensáveis meios de subsistência sem necessidade de os instituir herdeiros.

No entanto esta figura suscitou entre os romanos uma controvérsia pois não era claro se
usufruto é um direito real sobre a coisa alheia, ou antes, como uma propriedade sobre os frutos
da coisa. Só no princípio do século I é que o usufruto adquire a natureza de ius in re aliena,
distinguindo-se da propriedade.3

O usufrutuário não podia exceder os limites do conceito de fructus, ou seja, o direito de usar e
fruir a coisa, mantendo a sua substância.

Esta era responsável por reparações ordinárias da coisa, pela alimentação dos escravos, e pelas
despesas de doença. Podia, no entanto, abandonar a coisa para se eximir das responsabilidades.
O proprietário detinha o gozo dos elementos não considerados frutos, podia exigir ao
usufrutuário a realização de atos necessários à boa administração e restauração da coisa, podia
também exigir a prestação de uma caução (cautio usufructuario), em que o usufrutuário

1
D,7,1,1 “Usufructus est ius alienis rebus utendi fruendisalva rerum substantia”.
2
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág. 354.

3
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais, cit. pág. 336.

2
prometia que usaria a coisa segundo os critérios determinados e restitui-la-ia, no termo do
usufruto.

Ocorreram certas modificações no âmbito do usufruto, na época justinianeia, qualificando-o


como uma servidão pessoal (servitus personarum), e equiparando usufruto de coisas
deterioráveis ao usufruto de coisas consumíveis, reconhecendo usufruto a favor de pessoas
coletivas e estabelecendo limites máximos para a sua duração. O usufruto não sofreu grandes
modificações no direito intermédio devido à pouca influência dos direitos germânicos, nas
diversas codificações, o usufruto aparece disciplinado no código civil francês, no código civil
austríaco de 1811, no código civil alemão de 1896 e no código civil italiano de 1942.4

3. Características do usufruto

Pela definição dada pelo código civil no seu artigo 1439.º, retiram-se algumas características
do usufruto nomeadamente, que é um direito de gozo, não exclusivo, limitado, temporário e
ser objeto alheio.

3.1. Direito de gozo

Para Santos justo esta característica prende-se pelo facto de o usufrutuário poder usar, fruir e
administrar a coisa ou direito, embora deva respeitar o seu destino económico (art. 1444.º),
podendo também, transferir para os outros o exercício do seu direito e onerá-lo, salvo
restrições, só podendo ser efetuado por negócio intervivos, assim, o usufrutuário responde
também pelos danos que as coisas sofrerem por culpa da pessoa que o substituir.

Menezes Leitão, vai mais além dizendo que o usufruto atribui o gozo pleno de uma coisa sendo
que usufrutuário beneficia da generalidade dos poderes de gozo que a coisa seja susceptível de
proporcionar, não sendo o seu gozo circunscrito a determinadas faculdades, ao contrário do
que acontece noutros direitos reais menores.

Oliveira de Ascensão traz a questão de que se o usufruto tiver por objeto coisas consumíveis,
o usufrutuário pode servir-se delas ou aliená-las, mas é obrigado a restituir, findo o usufruto, o
seu valor, ou outra coisa do mesmo género, qualidade, quantidade ou valor considerando que
se encontra aqui uma situação semelhante ao usufruto, economicamente, no entanto
juridicamente a situação é muito diversa.5

4
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais, cit. pág. 336.
5
OLIVEIRA ASCENSÃO,Direito civil-reais. pág.471

3
Oliveira de Ascensão diz ainda que quando se impossibilita o gozo de coisa alheia a figura do
usufruto dissipa- se, portanto consumida coisa, o usufrutuário torna-se um mero devedor numa
obrigação a prazo6

3.2. Não exclusivo


O usufruto é um direito não exclusivo pois incide sobre uma coisa ou direito alheio,
concorrendo por isso necessariamente com outro direito, normalmente a propriedade, ou seja,
implica a existência de outro direito real sobre a mesma coisa (uma das características que que
o distingue da propriedade )7. Por esse motivo embora atribua o gozo pleno de uma coisa o
usufruto não constitui um direito pleno, mas antes limitado, em virtude de necessariamente
concorrer com outro direito.

3.3. Temporário
Usufruto não pode exceder a vida do usufrutuário quando se trate de pessoa física, e a sua
duração máxima de 30 anos no caso de pessoa colectiva. Se houver prazo estipulado, extingue-
se no seu termo excepto se usufrutuário morrer antes (art. 1443º.).

Esta característica advém da finalidade essencialmente pessoal do usufruto que justifica


também que se for trespassado o usufruto se extinga com a morte do cedente e não do
adquirente. A doutrina apresenta 2 razões que determinam a lei negar ao usufruto caráter
perpétuo: a falta estímulo para a conveniente exploração económica dos bens, e o obstáculo da
sua circulação.8

Admite-se, todavia, usufruto simultâneo e usufruto sucessivo a favor de várias pessoas,


podendo consequentemente nesses casos o usufruto passar por morte para os outros
usufrutuários, designadamente através do direito de acrescer, no caso de usufruto conjunto (art.
1442.º). Exige-se, no entanto, que as pessoas existam ao tempo em que o direito do primeiro
usufrutuário se torne efectivo (art. 1441º.) em ordem a evitar o prolongamento do usufruto que
resultaria da designação do concepturus como novos titulares9.

6
A situação até o consumo assemelha-se ao usufruto, tem-se, no entanto, o que Oliveira de Ascensão considera ser um anómalo usufruto.
7
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais, cit. pág. 337.

8
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág.357.
9
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais, cit. pág. 337.

4
3.4. Limitado

Usufruto é limitado pois o usufrutuário não pode alterar a forma ou substância da coisa
usufruída e deve também respeito ao seu destino económico (art. 1439.º).

Menezes Leitão refere que esta disposição tem, no entanto que ser articulada com o disposto
no 1446.º do código civil, porque não faz referência à forma e substância, mas antes ao destino
económico da coisa. Surgiu então por isso uma discussão na doutrina sobre qual a disposição
prevalente.
Para Oliveira de Ascensão, a exigência mais genérica é do artigo 1439.º do código civil, que
faz parte do próprio tipo de usufruto. Já a disposição do artigo 1446.º está integrada entre as
disposições supletivas pelo que poderia por isso ser afastada.10
Em sentido contrário, Menezes Cordeiro, defende que, sendo uma definição legal, o artigo
1439.º não tem natureza imperativa, pelo que usufrutuário não está vinculado a respeitar a uma
forma e substância, mas apenas o destino económico da coisa.11

Nesta senda Menezes Leitão defende a posição de Oliveira de ascensão pelo que uma vez que
a proibição de alteração da forma e substância da coisa é que faz parte do tipo legal do usufruto,
sendo o respeito pelo seu destino económico uma disposição supletiva, cuja observância diz se
afigurar não essencial.12

3.5. Ser objeto alheio


Esta é uma característica trazida por Santos Justo em que, refere que a lei dispõe expressamente
que o usufruto pode incidir sobre uma coisa ou direito alheio. Segundo o princípio da
coisificação os direitos reais devem versar sobre coisas, logo a possibilidade de usufruto incidir
sobre um direito suscita algumas dúvidas.

A função económico-social originária do usufruto era proporcionar alimentos ao seu


beneficiário através da fruição de uma coisa, no entanto, encontra-se na doutrina quem
entendeu que esta função pode ser cumprida pela fruição de direitos de crédito, de autor etc.
Os críticos desta corrente de pensamento defendem que o usufruto de direitos de crédito não é
um direito real considerando assim um usufruto irregular. Os defensores desta corrente de
pensamento defendem que o usufruto não recai sobre os direitos, mas sim sobre os seus

10
OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Civil-Reais. pág.476.
11
MENEZES CORDEIRO, Direitos Reais. pág. 652.
12
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. pág. 338.

5
objectos, ou seja, a prestação. Consideram então que não se trata de um direito real, mas sim
de um direito de crédito sobre a designação iuris de usufruto.13

4. Modalidades do usufruto (art. 1441.º)


Usufruto pode ser constituído a favor de 2 ou mais pessoas, sendo que o usufruto concedido
a uma pessoa é o mais vulgar, o usufruto concedido a várias pessoas pode ser simultâneo ou
sucessivo.
Usufruto simultâneo é atribuído ao mesmo tempo, vigorando uma situação de contitularidade.
Se não foi estipulado nenhum prazo, usufruto extingue-se com a morte do último usufrutuário
que goza do direito de acrescer.14
O usufruto sucessivo é atribuído sucessivamente a diferentes pessoas. Neste caso os
usufrutuários entram na sua titularidade segunda ordem indicada no título depois de cessar o
direito do usufrutuário precedente. Não havendo prazo certo, o usufruto extingue-se com a
morte do último usufrutuário. Há, no entanto, a exigência legal de que as pessoas contempladas
no usufruto devem existir ao tempo em que o direito do primeiro usufrutuário se torna efetivo.
A doutrina estabelece que o momento decisivo para a Constituição do usufruto “simultâneo ou
decisivo” é o tempo em que o direito do primeiro usufrutuário se torna efectivo. Ex: Se o título
do usufruto for um testamento, não interessa a data em que foi feito, mas o tempo em que a
sucessão é aberta.15

5. Subtipos de usufruto
A lei angolana permite autonomizar alguns tipos de usufruto, diferenciando-se entre si em
função da coisa sobre a qual incidam. Encontramos os seguintes exemplos na lei.

—Usufruto de árvores e arbustos (arts. 1453.º e1454.º)

—Usufruto de mata e árvores de corte (art. 1455.º)

—Usufruto de plantas de viveiro (art. 1456.º)

—Usufruto de minas (art. 1457.º)

—Usufruto sobre animais (art. 1462.º)

—Usufruto de dinheiros (arts. 1463.º, 1464.º e 1465.º)

13
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág. 359.
14
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág. 360.
15
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág. 360.

6
Indo a par de Alberto Viera deixamos de fora os subtipos de usufruto que versam sobre
direitos, por não se constituírem usufrutos, por não terem uma coisa corpórea por objecto.16

6. O objecto do usufruto
Segundo o artigo 1439.º o objeto do usufruto pode ser uma coisa ou um direito alheio. A coisa
objeto do usufruto pode ser móvel ou imóvel e é sempre uma coisa corpórea.

No entanto, o direito do usufrutuário apenas tem natureza real se incidir sobre coisas
corpóreas, uma vez que só neste caso pode ser exercido diretamente sobre a coisa e é oponível
a qualquer terceiro, incluindo o proprietário de raiz.17

A coisa originariamente afecta ao usufruto pode sofrer modificações objectivas. Um exemplo


disso encontra-se na acessão. Se uma coisa se une ou se mistura com aquela que é objecto do
usufruto e o proprietário da coisa usufruída beneficia da acessão, o usufruto estende-se a ela
(art, 1449º.).

Usufruto pode igualmente ser constituído sobre uma quota em compropriedade, caso em que
o usufrutuário participa das vantagens e encargos da coisa paralelamente com outros
18
comproprietários durante o prazo de duração do usufruto (art.1405º.) . Nestes casos o
comproprietário não pode, porém, sem o consentimento dos outros, constituir usufruto sobre a
totalidade ou parte especifica da coisa comum, sob pena, de ser vista como oneração de coisa
alheia e consequentemente nula (art.1408.º e art.892º.).

Do artigo 1439º. parece ainda decorrer que o usufruto pode ter por objeto os direitos. Trata-
se de uma decorrência da doutrina que aceita poderem existir direitos cujo objeto seja outro
direito. Como exemplos, temos o usufruto de créditos “(artigos. 1463º. a 1466º.), usufruto de
direitos de participação social “(artigo 1467.º), o penhor de direitos (art. 679º. e seguintes)19
Alberto Vieira rejeita o usufruto de direitos sobre direitos, dizendo que o usufruto só poderá
referir-se a coisa corpórea que seja objeto do direito (usufruído), não ao próprio direito.

6.1. Quase-usufruto
Esta é uma figura trazida por Alberto Vieira, que surge em Roma. Nessa altura era
inconcebível o usufruto sobre coisas consumíveis sendo que os juristas, na altura designaram
de quase-usufruto, sendo o seu regime mais próximo do mútuo do que do usufruto

16
JOSÉ ALBERTO VIEIRA, Direitos Reais de Angola.
17
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. pág. 339.
18
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. pág. 338.
19
JOSÉ ALBERTO VIEIRA, Direitos Reais de Angola. pág. 630.

7
propriamente dito. O direito vigente manteve a ligação tradicional do quase-usufruto ao regime
do usufruto, tratando-o inclusivamente como tal. A matéria vem regulada no artigo 1452º. No
entanto Alberto Vieira, afirma que, o regime de quase-usufruto não constitui um verdadeiro
usufruto, apresentando traços muito mais próximos do regime jurídico do mútuo do que
daquele direito real.20

7.Constituição do usufruto
Sendo o usufruto um direito real os seus modos de constituição vêm tipificados no código
civil no seu artigo 1440.º. Assim sendo, o usufruto pode ser constituído por contrato,
testamento, usucapião, ou disposição da lei.

7.1. Constituição por contrato


A Constituição por contrato, pode resultar de qualquer contrato de alienação, seja, contrato
de compra e venda, doação ou permuta, de uma entrada em sociedade, ou de um contrato de
renda perpétua ou vitalícia. A doutrina apresenta duas vias para a constituição do usufruto: a
atribuição do usufruto e a reserva do usufruto. A atribuição do usufruto, ou constituição per
translationem, ocorre sempre que alguém constitui a favor de determinada pessoa (contraparte
ou terceiro), ficando com a nua propriedade. Já a reserva de usufruto ou constituição per
deductionem, ocorre sempre que alguém atribua a nua propriedade a outrem, reservando para
si o usufruto21. Pode ocorrer ainda a atribuição simultânea do usufruto e da nua propriedade a
adquirentes distintos, caso em que o alienante deixa de ter qualquer direito sobre a coisa. A
doutrina observa que a doação é o contrato mais frequentemente realizado, mas pode ocorrer
por via de contrato oneroso.22

7.2. Constituição por testamento


O testamento pode igualmente ser utilizado para constituir usufruto, podendo da mesma forma
estabelecer uma atribuição à reserva de usufruto. O artigo 2030º, no seu número 4 estabelece
que usufrutuário é sempre havido como legatário, mesmo que o seu direito incida sobre a
totalidade da herança. O artigo 2258º. estabelece que a deixa de usufruto, na falta de indicação
em contrário considera-se feita vitaliciamente, ou pelo prazo de 30 anos no caso de o
beneficiário ser uma pessoa colectiva.

20
JOSÉ ALBERTO VIEIRA, Direitos Reais de Angola. pág. 630 e 631.
21
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais. Pág.362.
22
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit.pág. 340.

8
7.3. Constituição por usucapião
Outra forma de constituição de usufruto é pela usucapião, o artigo 1287ºestabelece que, é a
posse de direito de propriedade ou de outros direitos reais de gozo mantida por um certo
lapso de tempo. Na doutrina houve quem entendesse que não se podia adquirir o usufruto
pela usucapião, pois, considerando que a posse é equívoca, ou seja, a posse do usufrutuário é
idêntica a posse do proprietário, (traduzindo-se ambas na da coisa e na da recolha dos seus
frutos), sendo assim impossível distingui-las.23
No entanto Santos Justo, defende que, esta posição não é correta pois o elemento subjetivo
permite distinguir as duas situações possessórias, sendo por isso que o legislador admitiu a
constituição de usufruto por usucapião. Admitindo ainda a possibilidade de a nova propriedade
ser adquirida por usucapião, podendo a posse ser exercida por intermédio de outrem.24

7.4. Constituição por disposição da lei

Tradicionalmente, destacava-se o usufruto dos pais sobre os bens do filho menor legítimo e
usufruto do cônjuge sobrevivo quando a sucessão legítima fosse diferida aos irmãos ou
sobrinhos do de cuius.25 Estas duas situações foram abolidas, dado que os pais passaram a ser
meros administradores dos bens dos filhos, e o conjugue viu a sua posição na classe de
sucessíveis passar para o primeiro ou segundo lugar, juntamente com ascendentes e
descendentes.26

8.Regime jurídico

8.1. Regime geral


O código civil dispõe que os direitos e obrigações do usufrutuário são regulados pelo título
constitutivo do usufruto, e na sua ausência verificam-se as disposições dos art 1446.º, 1447º.

É conferido ao título constituvo do usufruto uma notória flexibilidade, embora se deva respeitar
o principio da tipicidade dos direitos reais, sendo assim possivel estabelecer uma variedade de
poderes, e de caso para caso, excluir uma ou outra utilidade. No entanto Santos Justo, diz haver
um limite, o usufruto não pode incidir sobre a fruição de uma só utilidade.

23
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág. 363..
24
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais
25
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág. 364.
26
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit.pág. 341.

9
8.2. Regime especial
Regime especial compreende frutos alienados antes da colheita (art.1448), as acessões

(art.1449), benfeitorias úteis e voluptuárias (art.1450.), as coisas consumiveis (art.1451), coisas


deterioráveis (art.1452.), perecimento natural de árvores e arbustos (art.1453) e o perecimento
acidental de árvores e arbustos (art.1454.).
Relativamente ao artigo 1448 se os frutos tiverem sido alienados antes da colheita, o que
Santos Justo acredita que só deve ocorrer depois da extinção do usufruto, a alienação subsiste,
mas o produto pertence ao proprietário, que deve indemnizar o usufrutuário das despesas de
produção. Está disposição legal decorre de um princípio que determina que a titularidade dos
frutos se estabelece no momento da colheita.27
Quanto à acessão o artigo 1449, estabelece que se a acessão ampliar a coisa, objecto de
propriedade, o usufruto amplia-se também. No que concerne ao regime das benfeitorias úteis
ou voluptuarias (art. 1450.), o usufrutuário possui a faculdade de as fazer, desde que não
alterem a sua forma ou substância nem o seu destino económico. As coisas consumiveis (art.
1451.), podem ser usadas ou alienadas pelo usufrutuário. No entanto o artigo também
estabelece que findo o usufruto o usufrutuário é obrigado a restituir o seu valor, género,
quantidade ou qualidade. O risco pelo perecimento da coisa antes de ser consumida onera o
proprietário de raiz. Por fim o regime das coisas deterioráveis (art.1452) impõe que o
usufrutuário, só é obrigado a restituí-las como se encontrarem no fim do usufruto, a não ser
que, sejam deterioradas por uso diverso daquele que lhes era próprio ou por culpa do
usufrutuário.

9.Poderes do usufrutuário.
Nos termos do artigo. 1446º, o usufrutuário pode usar, fruir e administrar a coisa ou direito
como faria um bom pai de famila, respeitando sempre o seu destino económico. Assim o
usufrutuário tem a faculdade de usar a coisa, administrá-la, fazê-la produzir frutos, colher os
frutos naturais e exigir os frutos civis.28 O usufrutuário tem ainda a possibilidade de proceder
à alienação ou oneração do seu direito.

27
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, cit. pág. 367.
28
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit.pág. 341.

10
9.1. Poder de uso da coisa.
Poder de uso da coisa tem grande amplitude e é indeterminado, sendo praticamente
equiparável ao poder do uso do proprietário do qual se distingue apenas pela limitação relativa
ao respeito pela forma e substância da coisa e supletivamente pelo seu destino económico.
Essas limitações não correspondem, porém, a obrigações específicas do usufrutuário, mas antes
limites ao seu poder de uso, pelo que se o usufrutuário os infringir viola o direito do
proprietário, sendo responsável nos termos da responsabilidade delitual, de acordo com o
critério da diligência de um bom pai de família.29
O limite quanto a forma e substância30 limita qualquer actividade do usufrutuário que altere a
forma ou substância da coisa, uma vez que pode prejudicar a futura restituição da desta. A lei
exclui o limite no caso das coisas consumíveis e atenua no caso das coisas deterioraveis , o
limite ao respeito pelo destino económico da coisa a doutrina diz que tanto pode ser
interpretado como destino económico a que objetivamente a coisa seja idónea ou o destino
atribuído pelo proprietário.
Menezes Leitão, considera que a melhor interpretação é segunda, uma vez que, aquando da
constituição do usufruto a expectativa do proprietário, é que a função económica venha a ser
alterada, justificando que é este o critério legal utilizado em vários tipos de usufruto exemplo:
arts1455º. número 1, 1456º, 1457º. número 1, 1458º.31

O proprietário pode mudar o destino económico da coisa, passando a ser esse o que o
usufrutuário deverá respeitar. O usufrutuário tem ainda outros limites ao seu uso da coisa
impostos pelo artigo 1445º. São abrangidos pelo poder do uso da coisa, as coisas acrescidas

(acessões) e todos os direitos inerentes à coisa usufruída (art.1449.º)

9.2. Poder de fruição.


O poder de fruição da coisa compreende a faculdade de perceber os frutos da mesma32. Em
consequência desse poder, usufrutuário só adquire a propriedade dos frutos a partir do
momento em que eles se separam da coisa-mãe, podendo exercer sobre eles todos os poderes
que competem ao proprietário. Menezes Leitão divide o poder de fruição, quanto à fruição
natural e quanto à fruição civil.

29
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 342.
30
Menezes Leitao diz que este limite resulta do cariz temporario do usufruto, sendo assim uma justificação a imposição desse limite ao
usufrutuário
31
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 342.
32
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 343.

11
Quanto à fruição natural, enquanto os frutos permanecerem ligados à coisa- mãe, pertencem
ao proprietário, tendo usufrutuário apenas o seu usufruto. No poder de fruição que compete ao
usufrutuário compreendem-se dois elementos, a faculdade de perceber os frutos e a aquisição
automática da sua propriedade com a separação da coisa, seja por ação do frutuário ou por
causa natural.33 Normalmente a aquisição da propriedade dos frutos apenas deve ocorrer no
momento da colheita (art.1448.º), “Se o usufrutuário tiver alienado os frutos antes da colheita,
e o usufruto se extinguir antes de serem colhidos, alienação subsiste, mas os respetivos
produtos pertencem ao proprietário, eventualmente deduzida a indemnização por despesas da
colheita”.
Uma vez que a transmissão da propriedade só se dá no momento da colheita, a extinção do
usufruto antes da mesma leva a que o usufrutuário não adquira a propriedade dos frutos, tendo
apenas feito uma disposição eficaz de um bem, que no final é atribuído a outrem.34 Alienação
é conservada, nos termos gerais do enriquecimento sem causa, sendo que o valor da colheita
deve ser atribuído ao proprietário

Quanto à fruição civil, esta corresponde a um rendimento de substituição, na medida em que


a fruição civil da coisa pelo usufrutuário implica necessariamente alguma substituição no gozo
da coisa, que é dado em determinada contrapartida. Ao contrário do que acontece com os frutos
naturais, a fruição civil não depende da colheita ou de outros actos materiais de separação da
coisa, mas sim da atribuição de um direito de crédito à contrapartida pelo uso da coisa.35

9.3. Poderes de disposição.


O primeiro poder de disposição do usufrutuário refere-se a transmissão do seu direito (1444.º
nº 1), ou seja, o usufrutuário pode transmitir o seu direito a terceiro, a título oneroso ou gratuito.
Esta transmissão tanto pode ser limitada ou estender-se a toda a futura duração do usufruto,
36
não pode, no entanto, ultrapassar os limites temporais do usufruto. A lei impõe uma
responsabilidade ao usufrutuário pelos danos que as coisas padecerem por culpa da pessoa que
o venha a substituir (art. 1444.º nº 2)

O segundo poder de disposição ocorre quando o usufrutuário onera o seu direito (art.1444.º)
pela constituição de outros direitos reais menores (de gozo, garantia ou aquisição), como as

33
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 342.
34
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 342.
35
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais.
36
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 344

12
servidões prediais, sendo que todos os encargos ficam limitados pela duração do usufruto
extinguindo-se se se extinguir o usufruto.

9.4. Poder de transformação


O usufrutuário beneficia ainda do poder de transformação, mas só se esta não contrariar os
limites de não alteração da forma ou substância da coisa, ou do seu destino económico. É o
que se estabelece no artigo 1450.º do código civil, que impõe limites as benfeitorias úteis ou
voluptuárias que o usufrutuário pode fazer sobre a coisa. A disciplina das relações que, por
este motivo se estabelecem entre o usufrutuário e o titular do direito maior faz-se por
remissão para o que prescrevem relativamente ao possuidor de boa-fé (art. 1450.º nº2); uma
vez que é no preceituado para a posse que continua a encontrar-se o assento principal da
matéria das benfeitorias.37

10. Obrigações do usufrutuário.


A lei impõe certas obrigações ao usufrutuário, que se integram no conteúdo do seu direito
real, reguladas no capítulo 3 no título 3º do código civil (arts. 1468.º a 1475.º)

− Obrigação de inventariar os bens do usufrutuário

− Obrigação de prestação de caução

− Obrigação de consentir a realização pelo proprietário de obras e melhoramento das


coisas

− Obrigação de suportar as despesas de administração e reparação ordinárias

− Dever de avisar o proprietário em relação a reparações extraordinárias

− Obrigação de pagar os impostos e outros encargos anuais que incidam sobre o


rendimento dos bens usufruídos

− Dever de avisar o proprietário de qualquer facto de terceiro de que tenha notícia virgula
sempre que ele possa lesar os direitos do proprietário.

− No entanto, José Alberto dos reis acrescenta, que as duas obrigações principais do
usufruto não estão reguladas neste regime38, nomeadamente:

37
OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Civil-Reais. Pág.475.
38
Estas já foram abordadas, por esta razão passaremos apenas a focar-nos nas restantes.

13
− Obrigação de respeitar a substância da coisa (art. 1439.º e 1450.º nº1) — Obrigação
de respeitar a forma do destino económico determinado pelo proprietário (arts 1439.º,
1446-º 1450.º).

10.1. Obrigação de inventariar os bens do usufrutuário


O usufrutuário tem obrigação de enumerar e descrever as coisas móveis imóveis objetos de
usufruto (artigo. 1468.º)

Menezes Leitão diz ser esta obrigação instrumental em relação à definição do âmbito do direito
do usufruto, bem como do objeto a restituir após a sua extinção, sendo que o seu cumprimento
deve ser feito com a assistência do proprietário de raiz, ou pelo menos, com a sua citação para
estar presente, em ordem a evitar divergências entre as partes39

A lei não refere quais as consequências da omissão deste dever por parte do usufrutuário, no
entanto a posição adoptada pela doutrina é a de que se o usufrutuário não cumprir não poderá
legalmente exercer as faculdades correspondentes ao usufruto40.

10.2. Obrigação de prestação de caução.


Se o proprietário exigir, deve o usufrutuário prestar caução para garantir a restituição da coisa
do seu valor ainda que de qualquer outra indemnização pela qual seja responsável.

Esta é outra obrigação do usufrutuário presente no artigo 1468.º b). Desta obrigação resulta a
chamada cautio usufuctuaria 41, que pode ser prestada nos termos gerais do artigo 623.º.

A reserva de usufruto ou usufruto per deductionem, constitui uma exceção pois a caução não
pode ser exigida ao alienante com reserva de usufruto, pudendo, nos outros casos, ser
dispensada no título constitutivo do usufruto segundo o disposto no artigo 1469.º. A falta de
prestação da caução exigida pelo proprietário pode vir a impedir o usufrutuário de exercer o
seu direito como lhe aprouver, ficando limitado à percepção dos rendimentos da coisa.

A não prestação da caução tem as consequências previstas no artigo 1470.º.

39
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 34
40
A. SANTOS JUSTO, Direitos Reais, pág. 370
41
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. cit. pág. 347

14
10.3. Obrigação de consentir a realização pelo proprietário de obras e melhoramentos
da coisa.
O usufrutuário tem obrigação de consentir ao proprietário quaisquer obras ou melhoramentos
que seja susceptível a coisa, esses melhoramentos estão presentes no artigo 1471.º No entanto
se as obras e melhoramentos aumentarem o rendimento líquido da coisa usufruída, o disposto
no artigo 1471.º estabelece que pertencem ao proprietário.

10.4. Obrigação de suportar as despesas da administração e reparações ordinárias


O usufrutuário é obrigado a suportar as despesas da administração e reparações ordinárias
indispensáveis para a conservação da coisa. Consideram-se ordinárias as reparações durante o
período de usufruto42 (art. 1472.º nº2), sendo extraordinárias àquelas que se possam considerar
anormais ou imprevisíveis.

O artigo 1472º. número 3 estabelece ainda que usufrutuário pode eximir-se das reparações ou
despesas a que esteja obrigado, renunciando ao usufruto.

10.5. Dever de avisar o proprietário em relação às reparações ordinárias.


Segundo o disposto no artigo 1473º. número 1 do código civil, usufrutuário não é obrigado a
realizar reparações extraordinárias na coisa. Consideram-se como extraordinárias àquelas que
sejam anormais ou imprevisíveis, as que importem alterações na estrutura essencial da coisa
ou que extravasem do normal rendimento da coisa implicando investimento de capital e as
previstas no artigo 1472º.

Assim o usufrutuario apenas têm o dever de avisar em tempo o proprietário para que ele às
possa mandar fazer.

Se às reparações foram necessárias devido a má administração do usufrutuário é este o


responsável e não o proprietário. Se, no entanto, depois de avisado o proprietário não fazer
reparações, o usufrutuário pode fazê-las às suas custas e exigir importância ao pagamento do
valor que tenham no fim do usufruto, desde que este valor seja inferior ao custo (art. 1473. nº3)

10.6. Obrigação de pagar impostos e outros encargos anuais que incidam sobre o
rendimento dos bens usufruídos.
O usufrutuário tem obrigação de pagar impostos ou quaisquer outros encargos anuais que
incidam sobre o rendimento dos bens usufruídos, dado que usufrutuário aufere durante o

42
Estas estão sujeitas a um limite maximo legal.

15
período de duração do usufruto o rendimento daquele bem, o legislador achou que seria justo
que este assumisse os encargos correspondentes, como taxas, encargos de condomínio
impostos, etc.43 Se os encargos forem exigidos ao proprietário, o usufrutuário tem a obrigação
de entregar ou reembolsar os valores exigidos.

10.7. Dever de avisar o proprietário de qualquer facto de terceiro de que tenha notícia,
sempre que lhe possa lesar os direitos do proprietário.
Sempre que o usufrutuário tenha conhecimento de facto de terceiro que possa lesar os direitos
do proprietário, por ter um dever específico de custódia da propriedade deve sempre avisa-lo.
No entanto o usufrutuário só está obrigado a comunicar os factos que cheguem ao seu
conhecimento, não tendo que procurar ativamente esse conhecimento na opinião de Menezes
Leitão.

Se não avisar o proprietário, o artigo 1475.º impõe que o usufrutuário esteja sujeito à
responsabilidade civil.

11. Direitos do proprietário de raiz


Usufruto constitui também para o proprietário obrigações, sendo que este em primeiro lugar
deve respeitar o usufruto constituído e a posse do usufrutuário, ou seja, não pode constituir
direitos que afectem o usufruto. Se não respeitar o direito do usufrutuário, o proprietário pode
sujeitar-se a responsabilidade civil pelos danos causados44.

Para além desta deve:

— Realizar obras extraordinárias de conservação da coisa artigo 1473

— Indemnizar o usufrutuário pela realização de obras extraordinárias de conservação da


coisa que não caibam aqueles suportar artigo 1473 número 2

— Deve indemnizar o usufrutuário por benfeitorias feitas na coisa.

No entanto o proprietário pode reagir contra o mau uso da coisa por parte do usufrutuário
extinguindo ou aplicando o disposto no artigo 1482.º, proprietário pode ainda dispor do seu
próprio direito transmitindo a terceiros ou onerando-o nos termos gerais45

43
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. pág. 349.
44
JOSÉ ALBERTO VIEIRA, Direitos Reais de Angola. pág. 640.
45
MENEZES LEITÃO, Direitos Reais. pág. 351.

16
12. Extinção do Usufruto
O art.1476 do Código Civil dispõe sobre os modos de extinção do usufruto. A norma,
entretanto, não é taxativa. O modos de extinção são estabelicidos quanto ao sujeito, ao
objecto ou a relação jurídica.
Assim sendo, quanto a relação jurídica pode se dar:
a) Pela morte do usufrutuário(art. 1476, al. a ): o usufruto extingui-se com a morte do
usufrutuário, caso seja, pessoa singular.
No caso de ser usufruto simualtaneo, extinguir-se-á o usufruto em relação a cada um dos que
falecerem, consolidando-se o dominio com proprietário, salvo se estipulado o direito de
acrescer, hipotese em que o quinhão dos falecidos cabe aos sobreviventes ate que faleça o
último usufrutuário.
b)Pela renuncia: o ato de renuncia do usufruto, ato unilateral do usufrutuário, faz com que a
propriedade se consolide nas maos do proprietário46
Na doutrina se debate se a culpa do mal uso por parte do usufrutuário daria lugar a extinção do
usufruto, como por exemplo, no caso de usufrutuário alienar o bem, visto que é um direito
inalienavél. Ademais, se o usufrutuário não presta os devidos cuidados de conservação da
coisa, de modo que esta se deteriora, ocasiona a extinção do usufruto.

Quanto ao objecto, somente ocorre pela destruição da coisa. A destruição total motiva a
extinção do usufruto. Se a perda for parcial, o usufruto subsiste em relação a parte remaneste.

Enquanto que a propria relação jurídica, poderá ocorrer das seguintes maneira:

---Pela cessação do motivo de que origina:se o usufruto convencional foi institudo devido uma
causa qualquer, cessado seu motivo, aquele se extingue.
---Pode também ocorrer na hipotese do usufruto legal, em que o pai possui o usufruto dos bens
do filho menor sob poder familiar. Se o filho atingir a maioridade, ou o seu pai for destituido
do pátrio poder, o usufruto se extingue.
O efeito da extinção do usufruto, é a restituição da coisa ao proprietário.
A doutrina refere que, terminado o usufruto, o proprietário pode demandar o usufrutuário ou
sucessores com acção de reivindicação, que a propriedade recupera imediamente, ipso iure, a
sua plenitude, e que o usufrutuário tem a obrigação positiva de entregar a coisa ao proprietário.

46
Maria Helena Diniz, Direito das Coisas, pág.391

17
Há no entanto, que ressalvar as coisas consumiveis: o usufrtutário é obrigado a restituir o seu
valor se tiverem sido estimadas ou a entregar outras do mesmo género, qualidade e quantidade
ou o seu valor na conjuntura em que findar o usufruto.

CONCLUSÃO
Depois de tudo que foi exposto sobre a figura ou o instituto do usufruto, conclui-se que , a
mesma figura é de suma importancia, visto que atribui um direito de aproveitamento da coisa
alheia, bem como a regulamentação deste mesmo aproveitamento, a conservação da coisa, as
disposições legais que o usufrutuário deve respeitar.

18
E nota-se uma preocupação por parte do ordenamento juridico angolano em proteger o
possuidor do direito de propriedade, restringindo o usufrutuário, inpodo-lhe um conteúdo
injuntivo, a titulo de exemplo, a parte final do art. 1439º do CC.
No usufruto a propriedade é desmembrada e os direitos do nu-proprietário e do ususfrutuário
coexistem. É um direito de uso e gozo em coisa alheia temporário, podendo ser concedido de
forma vitalícia.

19
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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• CORDEIRO, Antonio Menezes. Direitos Reais. 1. ed. Lisboa: Lex-Edições Jurídicas,


1993.

• ASCENSÃO, José De Oliveira. Direitos Civil: Reais. 5. ed. Coimbra: Coimbra editora,
1993.

• VIEIRA, José Alberto. Direitos Reais de Angola. Coimbra: Coimbra editora, 2013.

• LEITÃO, Luis De Menezes. Direitos Reais. Coimbra: Almedina, 2009.

• CORDEIRO, Antonio Menezes. Tratado de Direito Civil: Direitos reais. Coimbra:


Almedina, 2022. v. 14.

• ANTUNES, Henrique Sousa. Direitos reais. Lisboa: UCP Editora, 2017.

• https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4154778/mod_resource/content/0/Usufruto%
20-%20Uso%20-%20Habita%C3%A7%C3%A3o.pdf
• http://www.portalcatalao.com/painel_clientes/cesuc/painel/arquivos/upload/temp/5ac6
88572792e7ec7701aaff2e345e2c.pdf
• https://jus.com.br/amp/artigos/62012/classificacao-e-extincao-do-usufruto-direitos-e-
deveres-do-usufrutuario
• https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/o-usufruto-no-direito-frances-e-
alemao/normaslegais.com.brhttps://www.normaslegais.com.br › ...USUFRUTO
cgd.pthttps://www.cgd.pt › Site › PagesSabe o que é o direito de usufruto?
economias.pthttps://www.economias.pt › usufrutoUsufruto: o que é, como funciona e
quais os direitos e deveres luismmartins.pthttps://luismmartins.pt › 2021/02/15Direito
de Usufruto VS Direito de Uso e Habitação

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