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Índice

Introdução..................................................................................................................................2
Origem do direito de habitação.................................................................................................3
Natureza......................................................................................................................................5
Caracteristicas............................................................................................................................5
Constituição................................................................................................................................5
Objectos dos direitos de uso e habitação..................................................................................6
Delimitação positiva do direito de uso e de habitação.............................................................6
Relação do direito de uso e habitação com o usufruuto..........................................................9
Titularidade dos direitos de uso e de habitação.......................................................................9
Conclusão..................................................................................................................................11
Bibliografia...............................................................................................................................12

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Introdução
No presente trabalho abordaremos sobre as temática dos direitos de uso e habitação,
uma classe pertencentes ao direitos reais de gozo, sua origem e evolução histórica, sua
autonomia face ao usufruto e sua natureza.

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O direito real de uso teve sua gênese no direito romano, na sua origem tinha esta figura
uma clara distinção do usufruto.

O direito de uso atribuía ao seu titular, o uti ou usus.

O usufruto, atribuía ao seu titular para além do usus o frui.

Nesse contexto o usuário de desse direito se limita a princípio, na utilização da coisa,


qualquer utilização dos frutos derivados da coisa lhe são eliminados ou vedados.

O direito de uso estava inicialmente, restringido apenas a coisas infrutíferas, deste modo
estando o uso confinado as coisas não frutíferas, o gozo cabia ao usuário enquanto o
direito durava, estando o proprietário excluído do mesmo.

A evolução subsequente mostra uma extensão do direito de uso as coisas frutíferas, o


gozo entre o usuário e a fruição do proprietário, que podia promover a produção de
frutos.

O direito de uso sobre coisas frutíferas gerou problemas práticos sobre a questão de
saber se o usuário poderia fazer seus alguns frutos, ou seja se podia

No desenvolvimento desta figura alargou-se o seu âmbito de aplicabilidade e passou a


aplicar-se as coisas frutíferas, tal abrangência provocou vários problemas de origem
pratica, no que tocava se o usuário poderia como seus alguns frutos.

A doutrina entende que a abrangência do uso as coisas frutíferas se converte no


alargamento do conteúdo do direito do usuário a uma certa fruição.

A fruição admitida com tal alargamento obrigava que a fruição pressuporia a princípio
uma estrita ligação com o uso da coisa, devia consistir numa projeção desse uso sobre a
coisa.

Essa ligação foi já evidenciada por Justiniano dentro da percepção de satisfação das
necessidades próprias e da família do titular do uso. (Vieira. A. José, direitos reais de
Angola)

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Origem do direito de habitação
O direito de habitação surgiu igual o direito de uso no direito romano, que se
diferenciando do uso, só no período de Justiniano se tornou no direito real autônomo.

Justiniano unificou os tipos de habitatio num único direito que distinguiu do uso e do
usufruto, como tipo autónomo de direito real.

O direito de habitação conferia ao titular uma forma mais restrita de uso, com um
escopo determinado, a habitação da coisa mas ao mesmo tempo lhe dava o poder de
fruição.

Os direitos de uso e de habitação mantiveram-se no período intermédio e foram


acolhidos nas codificações civis das principais ordens jurídicas europeias.

O direito de usar a coisa alheia começou por não se usar a coisas frutíferas como se
refere Ulpianus,” aquele, a quem for deixado coisa alheia pode usar, não pode fruir!”

Depois o seu conteúdo foi se estendendo paulatinamente a fruição de frutos. Com a


reserva de serem consumidos no mesmo local. (Justos. Santos, direitos reais)

Verifica-se deste modo que tanto José Vieira e santos justos, são unanimes quanto a
origem e evolução desses institutos, principalmente no que diz respeito ao alargamento
do usos a coisas frutíferas.

No direito Angolano define-se o direito de uso como a faculdade de servir de certa coisa
alheia e haver os respectivos frutos, na medida das necessidades, quer do titular quer da
sua família.

E quando esse direito incidir sobre imóveis chama-se direito de habitação.

No entanto verifica-se que o nosso direito acolheu de certa forma a visão romana pois
justinianea incluindo ao uso a fruição ou o gozo pleno da coisa.

O direito de uso é um direito real de gozo de uma coisa, na medida das necessidades do
titular e da sua família (Ascensão, (2012) pag 479)

O direito de habitação é um direito real que a lei não constituirá sequer um tipo diverso
do direito de uso, pois haveria uma mera variação do objeto. De harmonia com o art
1484 o direito de habitação seria simplesmente direito de uso quando se refere a casas.

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A lei designa usuário o titular do direito de usos, e morador o titular do direito de
habitação

Para Oliveira Ascensão a expressão direito de uso é impropria já que este direito não
concede só o usus ao seu titular mas também a fruição

Natureza
Os direitos de uso e de habitação pertencem à categoria dos direitos reais de gozo, que
são aqueles que atribuem o aproveitamento da coisa através de uma combinação de
poderes que consubstancia o gozo da coisa.

Os direitos de uso e habitação são, como os outros direitos reis menores, direitos sobre
coisa alheia. Isto faz deles direitos reais autônomos, tipos legais específicos de
aproveitamento de coisas corpóreas, e não meras derivações ou desmembramentos da
propriedade, que é um direito distinto. Estes não constituem meros subtipos do direito
do usufruto, o conteúdo típico do aproveitamento atribuído ao usuário e ao morador
usuário, mostra uma conformação diversa na limitação no poder de fruição, no confinar
da titularidade a pessoas singulares, na proibição de transmissão e oneração, mesmo na
funcionalização do uso admitido, aspectos que sublinham uma natureza tipica diversa
do usufruto e a autonomia própria de um tipo singular de direitos real. (Vieira, José
(2012) direitos Reais de Angola)

Características
O direito de uso e de habitação são direitos reais de gozo, não exclusivo, limitado e
temporário, que tem por objeto uma coisa alheia, todavia, é limitado à satisfação das
necessidades do titular e da sua família.

É ainda um direito estritamente pessoal e por isso, intransmissível e insusceptível de ser


onerado com qualquer garantia real. (Ascensão. Oliveira, direitos reais, ed. 2020)

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Constituição
O nosso código determina que os direitos de uso e de habitação constituem-se pelos
mesmos moldes que o usufruto, ou seja podem ser constituídos por contratos,
testamento, disposição da lei mas não por usucapião. (Art. 1293, alínea b)

Objectos dos direitos de uso e habitação


São objectos dos direitos de uso e de habitação tanto as coisas moveis e imóveis, o
direito de habitação incide simplesmente a coisas imóveis, e dentro do circulo destas
coisas, casas de habitação

Na visão do professor, José Viera a determinação do objeto dos direitos de uso e direitos
de habitação, levanta outra vez a problemática de se saber se o titular do direito de uso
pode incidir sobre coisas frutíferas, o mesmo responde afirmativamente a esta questão,
no entanto é necessário que a coisa deve ser apta a permitir de alguma forma o gozo que
o conteúdo típico do direito de uso do seu titular.

No entanto a validade do acto constitutivo de direito do uso fica em perigo se a coisa se


afigurar imprestável para qualquer aproveitamento quer para uso ou fruição suscitado
pelo direito de uso.

Podem também ser objetos do direito de uso coisas consumíveis. Tendo em conta que
no regime do uso a alienação da coisa encontra-se proibida, art. 1488º do C.C. fazendo
com que deixem de ser objetos do direito de uso as coisas que o seu uso implica
directamente uma alienação, como é o caso do uso sobre o dinheiro. (vieira. Jose,
direitos reais de Angola)

Portanto, quando o uso tiver por objecto coisas consumíveis pode o usuário servir-se
delas, mas é obrigado a restituir o seu valor, findo o uso, no caso de as coisas terem sido
estimadas. Se não foram a restituição será feita pela entrega de outras do mesmo gênero,

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qualidade ou quantidade, ou do valor destas na conjuntura em que findar o uso (arts.
1451º nº 1 e 1490º do C.C.)

Delimitação positiva do direito de uso e de habitação


O direito de uso tem evidentemente um conteúdo de aproveitamento que integra poderes
de gozo da coisa sendo o seu núcleo fundamental constituído por dois:

 O poder de uso da coisa


 O poder de fruição da coisa, na medida das necessidades do titular e da sua
família.

A estes dois poderes acrescem um limitado poder de transformação, um poder de


renúncia e um de reivindicação.

O poder de usar a coisa não está confinado a um fim especifico, como sucede no direito
de habitação. No respeito pela substancia da coisa e pelo seu destino econômico, o
usuário pode usar a coisa para qualquer fim nomeadamente, no contexto de uma
atividade económica.

O uso da coisa é um uso exclusivo. Durante a oneração da propriedade de um direito de


uso, o proprietário esta inibido de a usar, cabendo exclusivamente ao usuário servir-se
dela.

O direito real de habitação molda-se em atenção ao objeto, casas de morada e ao fim do


gozo: a habitação do morador usuário. O seu conteúdo típico é no entanto o mesmo do
direito de uso incluindo os poderes de uso e de fruição. Em sentido diferente entende-se
que o poder de fruição não integra o conteúdo do tipo de direito de habitação.

Poderia pensar-se que afetação de uma casa em termos de direito de habitação


envolveria somente o uso para este fim. Quanto ao uso, e tendo em conta o sentido que
demos conta no ponto anterior, estamos convictos que ele se reveste de exclusividade
mesmo que as necessidades do morador usuário ou da sua família se limita a uma parte
dela, está limitação liga-se unicamente ao poder de fruição e não ao uso da coisa. E só
não será assim, se o objeto de direito de morada seja somente parte do imóvel e todo
ele. A limitação do objeto a uma parte da coisa limita naturalmente o uso do morador
usuário. (Viera, José. Direitos reais de Angola)

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O poder de disposição não integra o conteúdo típico dos direitos de uso e habitação. A
transmissão e oneração do direito encontram-se expressamente proibidas (art. 1488º do
C.C.)

Delimitação negativa dos direitos de uso e habitação

Os direitos de uso e habitação têm dois limites negativos implícitos e um explicito. Este
último consta na parte final do nº 1 do artigo 1484º e respeita, como dissemos ao poder
de fruição do titular.

Os limites negativos implícitos são os mesmos do usufruto: o respeito pela forma e pela
substancia da coisa.

O desenvolvimento paralelo do usufruto e dos direitos de uso e habitação permite


justificar está extrapolação dos limites negativos do usufruto para os tipos de direito de
uso e de habitação. A sua lógica é a mesma do usufruto e o seu fundamento positiva o
artigo 1490º do C.C.

O regime jurídico do usufruto tem a função de fornecer a base normativa parra a


delimitação negativa dos direitos de uso e habitação.

O limite negativo explicito previsto no art. 1484º nº 1 exprime a origem histórica do


direito de uso.

Delimitar negativamente o direito de uso e o direito de habitação implica fixar


primeiramente o âmbito das necessidades que a lei alude. Este âmbito deve ser objetiva
e subjetivamente recortado.

Do ponto de vista subjetivo, para além do titular do direito de uso ou de habitação,


consideram-se igualmente as necessidades da sua família, o que alarga potencialmente a
medida de frutos cujo aproveitamento se propicia por via daquele direito. O art. 1487º
fixa imperativamente os membros da família incluídos na determinação da medida
concreta da fruição permitida.

Do ponto de vista objetivo, no poder de fruição do usuário ou do morador usuário


apenas se abrangem as denominadas necessidades diretas, isto é, aquelas que podem ser
satisfeitas através dos frutos. De outro modo, não restaria nunca frutos para o

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proprietário e o usuário e o morador usuário teriam na pratica uma fruição igual a do
usufrutuário.

Excluído fica, assim, o aproveitamento indireto dos frutos. A alienação dos frutos para
obter dinheiro ou a permuta daqueles com as outras coisas está vedada ao usufrutuário,
mesmo se só com estes bens o usuário ou morador usuário obteria a satisfação das suas
necessidades. (Viera, José. Direitos reais de angola)

Relação do direito de uso e habitação com o usufruto


O uso e habitação dão o gozo temporário da coisa, podendo tomar o aspecto de usufruto
limitado visto que, esse gozo apenas é concedido na medida das necessidades pessoais.

O artigo 1490º Manda aplicar aos direitos de uso e habitação, sempre que possível as
disposições que regulam o usufruto. Mais precisamente, estabelece o art. 1485º que os
direitos de uso e habitação se constituem e estinguem pelos mesmos modos que o
usufruto, com exceção da usucapião (art.1293º). Também nunca há constituição de
direito de uso e habitação por lei. Poderá haver usufruto legais mas não usus legais.

Pelo contrário, temos de entrar em conta pelo menos com mais causa de extinção do
direito de uso, além das extinção do usufruto: a cessação da necessidade pessoal que
justificava a constituição do direito. Se o morador usuário deixar de viver na localidade
onde se o encontra a habitação, extingue-se o direito de habitação. ( Ascensão, Oliveira,
direitos reais)

Proibição de transmissão e oneração

Nem o direito de uso nem o direito de habitação ortigam ao seu titular o direito ou poder
de transmissão e de oneração, art. 1488. Do mesmo modo, tanto o usuário como o
morador usuário estão proibidos de ceder o gozo da coisa, seja a título oneroso ou
gratuito. (Viera, José. Direitos reais de angola)

Caso o usuário ou morador usuário violarem tal disposição legal, o negocio jurídico em
causa é nulo. O vício é duplo, falta de legitimidade no disponente art. 892 e a violação
de norma legal imperativa art. 294º ambos do C.C.

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Titularidade dos direitos de uso e de habitação
No que diz respeito aos direitos de habitação, dada a finalidade do mesmo, a habitação
do titular, não restam duvidas de que apenas pessoas singulares podem ser titulares dele.

Quanto aos direitos de uso, discute-se em geral se as pessoas jurídicas podem ser
titulares deste direito. Na doutrina opina-se que o código civil não confere a
possibilidade de o direito de uso ser constituído a favor de pessoas jurídicas,
argumentando que com a medida das necessidades, pessoais e familiares, atendidas para
a fixação da extensão deste direito somente as pessoas singulares podem ser titulares do
mesmo.

Percorrendo o regime jurídico do direito de uso, deparamos com sucessivos argumentos


que impossibilitam em termos de sentido a titularidade de um direito de uso por pessoas
jurídicas, não tanto porque estás não possam ter necessidades, mas porque o
enquadramento das necessidades do titular com as da sua família (art. 1484 nº1 e
1487º), a que acresce o critério de fixação da medida dos frutos ( as necessidades
pessoais do usuário, art.1486º ), pertinente apenas para pessoas singulares, não deixa
campo de sentido senão para estes.

A explicação para isto reside na origem deste tipo de direito real, virado para
necessidades alimentares do titular e da sua família. Bem moldado para sociedades pré-
capitalistas, de base rural, ele tende a perder pertinência na feição capitalista das
sociedades modernas do mundo ocidental, onde o uso tem de se integrar na dinâmica
econômica da exploração dos bens em processos produtivos complexos, os quais
ocorrem no âmbito empresarial e não numa lógica de economia de subsistência de cariz
familiar. (Ascensão. J. Oliveira, direitos reais)

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Conclusão
Portanto, os diretos de uso e habitação são verdadeiros direitos reais de gozo e
autônomo, com a sua evolução desde o seu surgimento em Roma, Passou também a
constituir-se direitos de uso e habitação não só as coisas infrutíferas mas também as
coisas frutíferas mas com certas limitações, concedendo o direito de fruição só para a
satisfação das necessidades do titular do direito e da sua família.

Não se pode confundir os direitos de uso e habitação com o usufruto, apesar de


admitirmos existir uma estreita relação entre esses direitos.

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Bibliografia
 Vieira, J., A. (2018). Direitos Reais De Angola. 3ª Edição. Coimbra Editora,
Portugal – Coimbra.
 Justo, A., S. (2020). Direitos Reais. 4ª Edição. Coimbra Editora, Portugal.
 Ascensão, J., O. (2012). Direitos Civil Reais. 5ª Edição. Coimbra Editora,
Portugal.
 Portaria nº 22 869, (1967). Código Civil. 4ª Edição.

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