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FACULDADE DE DIREITO
ESTUDANTE
Valentina Lukembe
BENGUELA, 2021
UNIVERSIDADE KATYAVALA BWILA
FACULDADE DE DIREITO
ESTUDANTE
Valentina Lukembe
BENGUELA, 2021
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Raul Lukembe e Dionísia Hiuvo, fonte do meu conforto, pela coragem e
confiança transmitida nos momentos decisivos da minha vida;
À Dra. Suzana Vieira Cláudia Chaves, Dra. Sónia Santos Silva, Eng. Isaac Maria dos
Anjos, Dra. Ragaldina Duarte, Dr. Lourenço Flaviano Cambalo e o Dr. Jorge Capusso, pela
complexa e plural ajuda moral e económica;
Ao ilustre Me. Osvaldo Kidi Cambudo, pela sábia orientação durante a elaboração do
presente trabalho;
Aos meus colegas de caminhada curricular pelo carinho beneficiado durante a convivência
académica e todo apoio recebido;
ii
DEDICATÓRIA
iii
SIGLAS
Art. – artigo
iv
RESUMO
v
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS....................................................................................................... ii
DEDICATÓRIA ...............................................................................................................iii
SIGLAS ............................................................................................................................ iv
RESUMO .......................................................................................................................... v
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8
vi
2.3. Objecto de propriedade horizontal ....................................................................... 35
CONCLUSÕES ............................................................................................................... 48
SUGESTÕES .................................................................................................................. 49
vii
INTRODUÇÃO
O tema que nos propusemos trazer a discussão reflecte uma iniciativa concebida na
disciplina de Direitos Reais mediante as controvérsias doutrinárias apresentadas pelo
docente da cadeira, relativamente à temática “propriedade horizontal”. Trata-se de uma
figura que surgiu com a nova engenharia de construções, ou seja, o novo padrão de
construção mundial evidenciou acelerado crescimento, de modo que veio a existir, entre
variadas edificações de grande estrutura, edifícios com mais de cem andares, conjuntos
habitacionais com estrutura completa de lazer que abrigam mais de mil moradores, centros
comerciais com inúmeras lojas. Diante dessas grandes mudanças dos centros urbanos e da
engenharia, coube ao mundo jurídico o debate e a pesquisa no sentido de se atingir a
organização e a pacificação social, visto que, a paz social é o fim pretendido pelo direito.
1
Rafael Augusto da Silva MONTY, A natureza jurídica da propriedade horizontal e seus reflexos no
princípio da tipicidade dos direitos reais. Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Direito, Lisboa,
Abril de 2019, p. 8. Disponível em: https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/4454/1/DISSERTACAO-
2015.2-RAFAELAUGUSTODASILVAMONTY-20150277.pdf
8
Desta feita, fundamenta-se o instituto na lógica de dar resposta jurídica a uma nova
forma de organização física assente na construção de edifícios, com a partilha do mesmo
espaço ao nível do solo com a ocupação comum por diversos proprietários, tal como
sustenta o artigo 1414.º C.C. que “as fracções de que um edifício se compõe, em condições
de constituírem unidades independentes, podem pertencer a proprietários diversos em
regime de propriedade horizontal” e, na mesma lógica acrescenta o artigo 1415.º C.C., fala
em propriedade horizontal, que podem constituir-se as fracções autónomas que, além de
constituírem unidades independentes que sejam distintas e isoladas entre si, com uma parte
comum do edifício e uma saída própria para a via pública.
2
Trata-se, entre outros, dos requisitos enumerados no art. 1415.º C.C. No domínio da propriedade
horizontal ganha, em particular relevância as questões ligadas à destinação das várias fracções e também as
relativas à delimitação das partes do prédio que constituem fracções autónomas e partes comuns, cfr.: Luís
Carvalho FERNANDES, A conversão dos negócios jurídicos civis. Lisboa: Quid Iuris?, 1993, p.611,
3
Se um dono do prédio celebrou contratos-promessa de compra e venda de fracções autónomas,
antes ou depois de constituir a propriedade horizontal em relação a um prédio sem os requisitos legais, “a
celebração desses contratos torna eficaz o negócio constitutivo da propriedade horizontal e, portanto, opera a
conversão prevista no art. 1416.º C.C. O que, no caso tem como resultado que esses negócios valem como
contratos-promessa de compra e venda da quota correspondente à “pretensa” fracção. Não há, também,
obstáculo a que, com esse valor, se admita a execução específica dos referidos contratos”, Idem, p. 615.
9
quando o vício que atinge o negócio jurídico diz respeito ao objecto e não quando haja
qualquer outra deficiência no título constitutivo, como por exemplo um vício formal4.
Justificação do tema
Percebe-se que, apesar de já ter atingido certa maturidade, o tema ainda está em
crescente evolução seguindo a dinâmica e evolução social. Até hoje não há na doutrina e
nos ordenamentos jurídicos5 de diferentes países um posicionamento unânime, embora as
estruturas dos imóveis objecto do nosso assunto assumam a mesma orientação. Termos em
que, nasceu em nós, um interesse maior em investigar o tema para que, com base aos
fundamentos legais e doutrinários possamos perceber a posição adoptada pelo nosso
legislador ao enquadrar a figura da propriedade horizontal, precisamente às partes próprias
e as partes comuns entre os condóminos. O tema é, extremamente, debatido pela doutrina,
pelo que se propõe o aprofundamento por meio desta pesquisa em direito comparado.
Problema de investigação
4
O acto passa a valer como constitutivo de outros efeitos jurídicos: em vez de nascer um direito de
condomínio, nasce um direito de compropriedade e esta eficácia é atribuída ao negócio sem dependência dos
requisitos do art. 293º do C.C., salvo pelo que respeita à exigência de formal legal. Ibidem,
5
É o caso por exemplo de Portugal e Brasil, conforme vamos constatar neste trabalho no primeiro
capítulo, bem como os diferentes pontos de vista dos autores apresentados neste trabalho.
10
Mediante o problema de investigação, traçaram-se as seguintes perguntas de
investigação:
Geral
Específicos
11
características e relações com outros fenómenos6. Para nós permitiu descrever a
problemática da propriedade horizontal.
6
FARIA, Ana Cristina de; CUNHA Ivan da; FILIPE, Yone Xavier, Manual Prático para Elaboração
de Monografia, Editora Universidade São Judas Tadeu, 2007, p. 31
7
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria, Técnicas de Pesquisa, 5ª, edição, S. Paulo,
Atlas Editora, 2002, pág. 23.
8
RAMOS, Santa Taciana Carrilo e NARANJO, Earnan Santiesteban Naranj, Metodologia da
Investigação Científica, Escolar Editora, 2014, p. 129
12
Método Hermenêutico: é aquele que resulta da interpretação de certos assutos
com relevância jurídicas em termos de se saber em que medidas as informações fornecidas
respondem às questões inicialmente levantadas. Permitiu interpretar procurando determinar
o alcance e o sentido da doutrina e de algumas disposições legais.
13
CAPÍTULO I. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROPRIEDADE
HORIZONTAL
9
Sobre esta matéria, não sendo o nosso objecto de estudo, não vamos aprofundar, porém, trouxemos
apenas algumas notas esclarecedoras.
10
As disposições não referenciadas, fazem parte do Código Civil angolano.
11
Esta nota de plenitude não significa que o direito de propriedade (o direito real por excelência) seja
ilimitado, mas apenas que, no âmbito do domínio privado das coisas, não existe outro direito real com um
conteúdo idêntico e com a mesma eficácia absoluta ou externa (jus excluendi omnes allios).
12
Na mesma linha de pensamento, o professor Osvaldo Kidi CAMBUNDO, na sua obra «Noções
Fundamentais dos Direitos Reais», Editora FDUKB, 2021, p. 187, sustenta que, este “concede ao seu titular
o aproveitamento total da coisa, na medida em que lhe possibilita ter o monopólio sobre a coisa e
consequentemente todas as vantagens que a coisa proporciona”.
No mesmo pensamento, José Alberto VIEIRA, «Direitos Reais de Angola», in: Osvaldo Kidi
Cambundo (ibidem) acrescenta que “a propriedade confere ao seu proprietário o mais extenso aproveitamento
da coisa, e que a posição da propriedade no topo da hierarquia da atribuição real explica-se pela maior
extensão do aproveitamento da coisa concedido ao proprietário”.
13
Luís Pedro CUNHA; José Manuel QUELHAS e Teresa ALMEIDA, O Direito de Propriedade em
Angola: aspectos gerais da lei de terras, Boletim de Ciências Económicas - Homenagem ao Prof. Doutor
António José Avelãs Nunes, VOLUME LVII, Tomo II, Coimbra, uri:http://hdl.handle.net/10316.2/39764, 27-
sep-2021 12:27:02, 2014,pp. 1464-1465.
14
multidimencional ou transversal, na medida em que, a propriedade rústica é perspectivada
enquanto suporte “de abrigo ou de habitação da população”, “de riquezas naturais”, ou “do
exercício de actividades económicas”14.
Neste sentido, vale sublinhar que a propriedade horizontal está assente ao direito de
propriedade, ou seja, este direito é que faz nascer aquele (propriedade horizontal). É nesta
lógica que Osvaldo Cambundo, ressaltou que “a constituição de um edifício em
propriedade horizontal acarreta consigo alguns efeitos sendo um deles a criação de um
novo estatuto desse mesmo edifício, através do qual deixará de ser considerado como uma
coisa única para passar então a ser considerada um conjunto de coisas autónomas e
independentes entre si, apesar de estar no mesmo edifício”15, por isso, a necessidade de
darmos realce sobre o direito de propriedade para facilmente compreendermos a
propriedade horizontal.
1.2.1. Preliminares
14
José Alberto VIEIRA, Direitos Reais de Angola, Coimbra Editora, 2013, pág. 751 e s.
15
Osvaldo Kidi CAMBUNDO,ob. Cit., p. 200.
16
Entre vários, Cfr.: Henrique Manuel MESQUITA, Direitos Reais, sumário das Lições, in: Osvaldo
Kidi CAMBUNDO, ob. Cit., p. 200.
Cfr.: PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, Volume III (artigos 1251.º a
1575.º), 2.ª Edição Revista e actualizada – Reimpressão, Coimbra Editora, p. 391.
15
pela engenharia, ao criar edifícios cada vez mais avançados para o convívio em
condomínio 17.
Autores como Ribeiro Mendes, Rodrigues Pardal e Dias da Fonseca, atestam que há
mais de 2000 a. C., na cidade da Babilónia, eram realizadas vendas de fracções divididas
17
Rafael Augusto da Silva MONTY, Ob. Cit., p. 11.
18
Ibidem.
19
Luís Pedro Moitinho ALMEIDA, Propriedade horizontal, Coimbra: Almedina, 1996.p. 11.
20
Sandra PASSINHAS, A assembleia de condóminos e o administrador na propriedade horizontal, 2.ª
ed. Coimbra: Almedina, 2002, p. 92.
16
em casas. Na antiga Caldeia, mencionando a venda do rés-do-chão de uma casa, enquanto
o andar superior continuava a pertencer ao vendedor21.
21
Armindo Ribeiro MENDES, A propriedade horizontal no Código Civil de 1966. In Revista da
Ordem dos Advogados, p. 12; Francisco Rodrigues PARDAL e Manuel Baptista Dias da FONSECA, Da
propriedade horizontal no Código Civil e legislação complementar, pp. 69-70.
22
A. Menezes CORDEIRO, Direitos Reais, Lisboa: Lex Edições Jurídicas, 1993, p. 634.
23
Caio Mário da Silva PEREIRA, Condomínio e incorporações, p. 36.
24
Armindo Ribeiro MENDES, Ob. Cit., p. 13.
25
A. Menezes CORDEIRO, Ob. Cit., p. 635.
17
medieval, dadas as frequentes guerras, apertava-se entre muralhas, que limitavam o espaço
para a construção de habitações26.
O artigo 215.ºdo Costume de Orleans teve sua inspiração para tecer o artigo 664.º
do Código Civil Francês. Já na Itália, a propriedade horizontal teve presença no estatuto da
cidade de Milão, assim como na Alemanha, na Suíça e nos Estados da Europa
Central28.Sendo assim, percebe-se de forma clara a presença da propriedade horizontal na
Idade Média, momento este que intensifica o instituto da propriedade horizontal em
diversos regulamentos jurídicos da Europa em consonância com os estilos de habitação
presentes naquela época.
26
Francisco Rodrigues PARDAL e Manuel Baptista Dias da FONSECA, Ob. Cit., p. 71.
27
Francisco Rodrigues PARDAL e Manuel Baptista Dias da FONSECA, cit. Rafael Augusto da
Silva MONTY, ob. Cit., p. 18.
28
Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., p. 18.
29
Armindo Ribeiro MENDES, Ob. Cit., p. 18.
18
todos os proprietários, cada um em proporção do valor do andar que lhe pertence”, “o
proprietário de cada andar faz o soalho sobre que anda” e “o proprietário do primeiro andar
faz a escada que aí conduz, o proprietário do segundo andar faz, a partir do primeiro, a
escada que conduz a sua casa, e assim sucessivamente”30.
A partir dos anos que sucederam a I Guerra Mundial, entre 1914 a 1918,
principalmente em virtude das destruições catastróficas de cidades, verificaram-se diversas
30
Caio Mário da Silva PEREIRA, Condomínio e incorporações, p. 37.
31
Estabelecia o artigo 2617.º do citado Código: “o proprietário de edifícios não pode dividi-los
horizontalmente, entre vários donos, nem por contrato nem por ato de última vontade”. Cfr. MENDES,
Armindo Ribeiro. Ob. cit., p. 19-20, cit.: Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., p. 20.
32
O referenciado Código, no seu § 1014.º, estabelecia que “a restrição do direito de propriedade a
uma parte de um edifício, particularmente a um só andar, é inadmissível”. Ibidem.
33
Aquele Código, no seu artigo 675.º, estabelecia que “os diversos andares de uma casa não podem
ser objeto do direito de superfície”. Ibidem.
19
modificações sociais, jurídicas e económicas nos povos. Nesse período, a Europa
encontrava-se com suas habitações demolidas em diversos países, levando milhares de
pessoas a deslocarem-se para centros urbanos na busca de trabalhos em meio à
reconstrução e à industrialização das cidades. A busca pela sobrevivência tinha como
obstáculos, entre outros, de materiais de construção e de terrenos. Assim, atendendo a esta
crise habitacional, houve necessidade da elaboração de legislações de carácter temporário
sobre o inquilinato, construindo a posição do inquilino em termos de favor e proibindo o
aumento das rendas. A solução encontrada para superar a desvalorização do arrendamento
foi à venda fraccionada de andares em edifícios 34.Diante dessa realidade, as construções de
grandes blocos ganharam espaço nas cidades, facto que, causou grande destaque ao mundo
jurídico.
Nestes termos, os factos narrados acima causaram novo impacto e uma nova forma
de pensar as vantagens de uma propriedade por andares, ou seja, o legislador percebeu que
as casas em forma de andares tinham suas vantagens, principalmente por causa do êxodo
rural que naquela época se vivenciou na Europa, facto que, obrigou o legislador a tomar
certas medidas que favorecesse o inquilino.
34
Cfr. Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., p. 20.
35
Armindo Ribeiro MENDES, Ob. cit., p. 22.
20
legislações avançadas sobre a propriedade horizontal36. Nesta ordem da evolução
legislativa, entre vários países, podemos aqui destacar a evolução desta figura em
Portugal37 e Brasil.
36
Francisco Rodrigues PARDAL e Manuel Baptista Dias da FONSECA, Ob. Cit., p. 73-75.
37
Não se pode duvidar que a figura da propriedade horizontal em Angola (o mesmo que o Brasil e as
demais colónias portuguesas), encontra suas raízes no ordenamento jurídico português, até porque, em
Angola vigora o Código Civil de 1966, pelo Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de Novembro de 1966, do qual,
Portugal já introduziu várias alterações de forma evolutiva.
38
Cfr. Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., p. 20.
As Ordenações Filipinas resultaram da reforma feita por Felipe II da Espanha (Felipe I de Portugal),
ao Código Manuelino, durante o período da União Ibérica, mas foram promulgadas por seu filho e sucessor,
Felipe II de Portugal, em 11 de Janeiro de 1603. Constituiu a base do Direito Português durante séculos,
sendo o conteúdo legislativo com mais tempo em vigor em toda a história portuguesa. Esteve em vigor em
Portugal até à aprovação do Código Civil de 1867 e muitas provisões mantiveram-se vigentes no Brasil até a
promulgação do primeiro Código Civil brasileiro, em 1916. ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA – Biblioteca
Passos Manuel. Um olhar sobre as ordenações.
39
DIÁRIO DA REPÚBLICA – Decreto-Lei n.º 40.333/55.
40
Ibidem.
41
Artigo 2335.º, Código Civil português de 1867, anunciava: Se os diversos andares de um edifício
pertencerem a diversos proprietários, e o modo de reparação e concerto se não achar regulado nos seus
respectivos títulos, observar-se-á o seguinte: § 1.º As paredes comuns e dos tectos serão reparados por todos,
em proporção do valor que pertence a cada um. §2.º O proprietário de cada andar pagará a despesa do
21
andares. Contudo, após longo período de vigência, foi publicado o então Decreto-Lei n.º
40.333, de 14 de Outubro de 1955 que introduziu no conteúdo do preceito, questões
específicas e de maior complexidade, pelo que, demonstra de forma clara a necessidade de
evolução jurídica frente às demandas sociais e aos avanços da engenharia42.
concerto do seu pavimento e forro. §3. º O proprietário do primeiro andar pagará a despesa do concerto da
escada de que se serve; o proprietário do segundo andar da parte da escada de que igualmente se serve, a
partir do patamar do primeiro andar, e assim por diante”.
42
Cfr. Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., pp. 25-26.
43
Cfr. Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 40.333/55, cit. Ibidem.
44
Ibidem.
22
portanto, de um avanço no marco legislativo sobre a propriedade horizontal e que, até os
dias actuais, é a base da implementação concreta do instituto não só em Portugal, mas em
diversos outros ordenamentos jurídicos, havendo influenciado, directamente, o
ordenamento jurídico brasileiro e angolano.
Actualmente, esta matéria está regulada, no Código Civil Português, pelo Decreto-
Lei n.º 47.344, de 25 de Novembro de 1966, no Livro III – Direito das Coisas, Título II –
Do Direito de Propriedade, Capítulo VI – Propriedade Horizontal, entre os artigos 1414.º
ao 1438.º. Contudo, o legislador optou por abandonar a regulamentação de vários aspectos
anteriormente contemplados, o que foi logo criticado pela doutrina e suscitou questões e
problemas de interpretação, tornando-se objecto de abundante jurisprudência e
desfavorável ao progresso do instituto45. Em bom rigor, o regime da propriedade horizontal
surge como resposta jurídica a uma nova forma de organização física assente na construção
de edifícios, especialmente em altura, com a partilha do mesmo espaço ao nível do solo
com a ocupação comum por diversos proprietários 46.
45
Ibidem.
46
Cfr.:http://www.andersenballao.com.br/pt/materias/a-limitacao-ao-direito-de-propriedade-nos-
condominios-edilicios/. Acesso aos 12/08/2021.
23
1438.º-A do Código Civil), formando um conjunto incidível, os direitos de propriedade
exclusiva dos condóminos sobre as respectivas fracções autónomas e os direitos dos
mesmos condóminos sobre as partes comuns, por princípio moldados segundo o regime da
compropriedade (cfr. artigo 1420.º do Código Civil Português).
47
PEREIRA, Caio Mário da Silva, Condomínio e incorporações, p. 38.
48
Conforme previsto no título LXVIII do Livro 1.º, § 34, das Ordenações Filipinas.
UNIVERSIDADE DE COIMBRA – Instituto de História e Teoria das Ideias. Ordenações Filipinas.
24
condomínio em prédios de muitos pavimentos”49.Contudo, no Brasil, a evolução dos
grandes centros e da engenharia em construir prédios cada vez maiores e mais complexos
tornou fundamental a criação de normas condizentes com o novo padrão de edifícios.
Após alguns anos, o referido decreto foi actualizado pelo então Decreto-Lei n.º
5234/1943, de 08 de Fevereiro, abrangendo os imóveis com menos unidades e passando-se
para o mínimo de três pavimentos para se constituir a propriedade horizontal. Todavia, já
no ano de 1948, foi promulgada a Lei n.º 285, que modificou a redacção do artigo 1.º do
49
Washington de Barros MONTEIRO, Curso de direito civil, p. 225; Caio Mário da Silva PEREIRA,
Instituições de direito civil - direitos reais, p. 162.
50
Cfr. Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., p. 29.
51
Cfr. DIÁRIO DA REPÚBLICA – Decreto-Lei n.º 5481/28, cit.: Rafael Augusto da Silva
MONTY, ob. cit., p. 29.
25
Decreto n. 5481/1 928, e revogou o Decreto-Lei n. 5234/1943, passando então a considerar
o mínimo de dois ou mais pavimentos para caracterização da propriedade horizontal52.
Finalmente, a Lei n.º 459 1/1964 foi parcialmente revogada com o avento da Lei n.º
10406/2002, de 10 de Janeiro, que instituiu o novo Código Civil brasileiro. Este, por sua
vez, abordou o tema entre 1331.º ao 1358.º, inserindo no sistema jurídico brasileiro
alterações condizentes com o século XXI e, ao mesmo tempo, recepcionando diversos
dispositivos elaborados pela legislação de 1964.
52
Cfr. Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., p. 31.
53
João Batista LOPES, Ob. cit., p. 22, cit., Rafael Augusto da Silva MONTY, ob. cit., p. 32.
54
Pedro Elias AVVAD,Ob. cit. p. 13, Ibidem.
55
Ibidem.
26
CAPÍTULO II. A PROPRIEDADE HORIZONTAL E SEUS
REFLEXOS NO DIREITO ANGOLANO
De acordo com o professor Osvaldo Cambundo, o Código Civil não nos fornece
uma noção exacta de propriedades horizontal se caracteriza como um conjunto de poderes
que recaem sobre o condómino titular de uma fracção autónoma, integrada num edifício
constituído em regime de propriedade horizontal, mais os direitos sobre as partes comuns
do mesmo edifício. Nestes termos, Álvaro Moreira e Carlos Fraga, definem a propriedade
horizontal como a propriedade que incide sobre as várias fracções de constituírem unidades
independentes56, numa ordem em que, Osvaldo Cambundo defende que a propriedade
horizontal é uma modalidade de condomínio distinta daquele que vulgarmente conhecido
como o verdadeiro condomínio em que as residências estão separadas uma das outras 57.
56
Álvaro Moreira e Carlos Fraga, Direitos Reais.., p. 27, in. Osvaldo Cambundo, ob. Cit., p. 206.
57
Osvaldo Kidi Cambundo, ob. Cit., p. 206.
27
Realça Henrique Mesquita que “sobre cada edifício incorporado no solo recai, em
princípio, um único direito de propriedade, pertencente a um ou mais titulares, abrangendo
esse direito, não apenas a construção, mas também o solo em que a construção se implanta
e os terrenos que lhe servem de logradouro (artigo 204.º, n.º 2, do CC)” 58. Na óptica de
Pires de Lima e Antunes Varela, “este princípio sofre, porém, uma importante
derrogação com a admissibilidade da propriedade horizontal. O que caracteriza, com
efeito, este instituto é o facto de as fracções de um mesmo edifício que constituam
unidades independentes pertencerem a proprietários diversos, segundo o regime
estabelecido nos artigos 1414.º e seguintes” 59.
Quanto às partes comuns, os condóminos não exercem o gozo pleno quanto o fazem
nas partes autónomas. Nestes termos, “passar-se-á a reconhecer um direito de propriedade
plena para cada titular das respectivas fracções autónomas aí existentes, porquanto todos os
condóminos passam, a ser co-proprietários das partes comuns do mesmo edifício o que
58
Henrique Mesquita, Lições cit., p. 270.
59
Pires de Lima e Antunes Varela, ob. Cit., p. 391.
60
Osvaldo Kidi Cambundo, ob. Cit., p. 205.
28
como é óbvio, carecera ao nível de estatuto de um tratamento especial com regras
reguladoras das relações que necessariamente se vão estabelecer”61.
61
Ibidem, ob. Cit., p. 204.
62
Pires de Lima e Antunes Varela, ob. Cit., p. 393.
63
Henrique Mesquita, A propriedade horizontal no Código Civil Português, in. Revista de Direito e
de Estudos Sociais, ano XXIII – n.ºs 1-2-3-4, pp. 79 e ss. e p. 84).
64
Pires de Lima e Antunes Varela, ob. Cit., p. 393.
29
Nestes termos e segmentos, aos proprietários é vedado fazer actividades que de
alguma forma possam: prejudicar quer com obras novas, quer por falta de preparação,
a segurança, a linha arquitectónica ou arranjos estéticos do edifício; destinar a sua
fracção a usos ofensivos dos bons costumes; dar-lhe uso diverso do fim a que é
destinada, bem como praticar quaisquer actos ou actividades que tenham sido
proibidos nos títulos constitutivos ou posteriormente, a cargo de todos os
condóminos 65.
De tudo que foi dito, vale sublinhar que, para que o direito de propriedade
horizontal nasça, é necessário que o edifício esteja registado primeiramente em regime
de propriedade horizontal, cumprindo o disposto do artigo 1415.º, 1416.º, 1417.º, todos
do CC, pelo que deixa de haver o anterior direito de propriedade sobre todo o edifício
65
Osvaldo Kidi Cambundo, ob. Cit., p. 204.
66
Ibidem, p. 205.
30
(deixando de ser edifico de estrutura unitária), e passa a existir tantos direitos, quanto
às fracções autónomas do edifício 67.
67
Ibidem.
68
Pires de Lima e Antunes Varela, ob. Cit., p. 393.
31
integrado por habitações geminadas 69.Em todos eles, haverá sempre um elemento
comum: o muro ou parede divisória. O sou regime, no entanto, esta subordinado a regras
especificas (artigo 1370.º e ss.), que nada tem a ver com o instituto da propriedade
horizontal.
69
Ibidem.
70
Neste sentido, Henrique Mesquita, Revista cit., p. 85 e 86.Em sentido diferente, Rodrigues Pardal
e Dias da Fonseca, Da propriedade horizontal, 3.ªEd., 1983, p. 140 e ss.
32
de d’água, luz, aquecimento, etc. (tal é ocaso, por exemplo, das denominadas aldeias
turísticas) 71.
71
Pires de Lima e Antunes Varela, ob. Cit., p. 394.
33
sublinhamos a posição de alguns autores. Assim, doutrina há que defende que se trata
de um caso de compropriedade; alguma que o condomínio pertence a uma pessoa
colectiva, distinta das pessoas singulares que em cada momento a integram; outra ainda
defende que se trata de sociedade entre os condóminos 72.
72
Pires de Lima e Antunes Varela, ob. Cit., p. 395.
73
Ibidem.
34
Nestes termos, são acolhidos os ensinamentos de José Alberto Vieira que
entende que a propriedade horizontal é um tipo especial do direito de propriedade;
Álvaro Moreira e Carlos Fraga ao realçarem que a propriedade horizontal reveste uma
natureza dualista, na medida em que resulta do concurso de dois direitos, o direito de
propriedade plena sobre as partes privat ivas de cada condómino coexistindo esta, plena
propriedade com uma compropriedade das partes comuns 74 e; finalmente, a doutrina de
Mónica Jardim, Luís Manuel Teles de Menezes Leitão e Osvaldo Cambundo, ao
sustentar que o direito de propriedade horizontal constitui um direito real novo, na
medida em que o direito real de gozo autónomo e complexo faz nascer novos direitos
de propriedade sujeitos ao regime da propriedade horizontal 75.
Desse modo, cria-se um novo estatuto capaz de regulamentar uma posição dúplice
do condómino77, pois, de um lado, está o proprietário da fração e, de outro, o
comproprietário das áreas comuns. Em outras palavras, tem-se a dualidade do objeto da
propriedade horizontal, que se compõe da fração autónoma e das partes comuns do
74
Ibidem
75
Ibidem
76
Pires de Lima e Antunes Varela, Código civil anotado, p. 396.
77
José Alberto Vieira, Ob. cit., p. 636.
35
edifício 78, possibilitando o efetivo compartilhamento do solo para fins de habitação por
andares, em total consonância com o sistema jurídico e, acima de tudo, em prol dos
interesses sociais.
Segundo o disposto no artigo 1415.º do Código Civil, “Só podem ser objecto de
propriedade horizontal as fracções autónomas que, além de constituírem unidades
independentes, sejam distintas e isoladas entre si, com saída própria para uma parte comum
do prédio ou para a via pública”.
Nestes termos considera o professor Abílio Neto que “a ligação entre proprietário
sobre uma fracção autónoma do edifício e a comunhão sobre os restantes espaços comuns,
a lei no art. 1415.º do Código Civil, fala em propriedade horizontal79, que podem
constituir-se as fracções autónomas que, além de constituírem unidades independentes80
que sejam distintas e isoladas entre si, 81 com uma parte comum do edifício e uma saída
própria para a via pública” 82.Em outra perspectiva, os professores Antunes Varela e Pires
de Lima sustentam que “o requisito da separação e do isolamento das várias fracções não
78
Ibidem, p. 638; A. Menezes CORDEIRO, Ob. cit., p. 639.
79
Abílio Neto, Manual da propriedade horizontal. 3ª ed. Lisboa: Ediforum Edições Jurídicas, 2006,
p.17. Para que um edifício ou conjunto de edifícios possa ser submetido ao regime de propriedade horizontal
é indispensável que as diversas fracções que o compõem sejam susceptíveis de constituir unidades ou fogos
autónomos e independentes, distintos e isolados uns dos outros, tendo cada um deles saída própria para a via
pública, ou seja, cada fogo terá de constituir uma unidade adequada a um determinado uso ou destino,
constituindo assim uma unidade de utilização funcional.
80
Ver Abílio Neto, ob.cit., p. 18. Cada fracção autónoma não tem necessariamente de ser constituída
apenas por partes contíguas do imóvel, seja na horizontal seja na vertical: além ou fogo propriamente dito,
pode abranger arrecadações situadas na cave, no sótão ou no logradouro, uma garagem no interior ou exterior
do edifício, um direito a parqueamento, etc.
81
Esse isolamento pressupõe a separação mediante paredes e materiais que, com carácter
permanente, não só as dividam como também as resguardem.
82
Idem, "Razões de segurança – facilidade de evacuação das pessoas em caso de sinistro ou acidente,
aliadas à necessidade de garantir o acesso e correspondente saída aos vários condóminos do imóvel, levaram
o legislador a formular expressamente a exigência de todas as fracções disponham de saída própria, a qual
tanto pode ter lugar para uma parte comum do prédio, para o átrio, uma escada, para um logradouro, etc.,
como directamente para a via pública, ou talvez melhor porque mais abrangente, para um espaço público," p.
18.
36
se confunde com a exigência da sua autonomia. A questão de saber se cada uma das
fracções constitui uma unidade independente depende, em larga medida, do fim a que ela
se encontra adstrita”83.
A fracção pode ocupar dois ou mais andares, como pode reduzir-se, nos grandes
imóveis de construção moderna, a uma pequena parte dum andar, não exigindo a lei (ao
contrário do que faz o diploma brasileiro sabre a propriedade por andares) um número
mínimo de divisões para cada apartamento. Essencial é que cada uma delas possua os
requisitos de independência, separação e isolamento de que a lei não prescinde 85.
Sendo exigido o isolamento das fracções, não pode considerar-se conforme a lei a
prática que consiste em delimitar as garagens, quando o título lhes atribua natureza
privativa - considerando-as fracções autónomas de per si ou elementos de outras fracções,
através de linhas marcadas no pavimento (e não através de paredes). Tal processo apenas
será admissível quando a parte do imóvel afectada a garagens seja comum e as linhas de
demarcação se destinem tão-somente a disciplinar o poder de uso que a todos os
condóminos compete, assinalando o espaço reservado a cada um86.
83
Pires de LIMA e Antunes VARELA, Ob. cit.
84
Ibidem
85
Ibidem
86
Ibidem
37
Cada fracção autónoma não tem que ser necessariamente constituída por partes do
imóvel contiguas: pode compreender, por exemplo, além do andar ou apartamento
propriamente dito, uma garagem, uma divisão para arrumações nas águas furtadas ou na
cave, um galinheiro, etc. Além disso, pode haver elementos de propriedade exclusiva nas
pastes comuns do edifício (os contadores de agua e energia a as caixas do correio de cada
fracção autónoma silo colocados frequentemente numa parede comum). E também não e
impossível que certas coisas de propriedade exclusiva se situem em fracção autónoma
pertencente a outro condómino 87.
Desse modo, preceitua o artigo 1416.º que a falta de quaisquer desses requisitos
legalmente exigidos importa a nulidade do título constitutivo da propriedade horizontal e a
sujeição do prédio ao regime da compropriedade. Nesse caso, cada consorte terá como
atribuída a quota que lhe tiver sido fixada nos moldes do artigo 1418.º ou, ausente a
fixação, da quota respectiva ao valor da sua fração.
87
Ibidem
38
Em outras palavras, a inexistência dos referidos pressupostos sobre o objeto
descaracteriza a propriedade horizontal e remete o imóvel ao regime da compropriedade 88.
Nota-se que no caso de haver somente um proprietário do edifício e ocasionada a nulidade
do título, aplica-se o regime de propriedade singular e não da compropriedade 89. Assim,
observa Carvalho Fernandes que, “segundo entendimento corrente da doutrina,
corresponde este regime a uma aplicação da figura da conversão legal, ou seja, não
dependente dos requisitos da conversão comum, consagrados no artigo 293.º”90.
Por fim, há ainda a possibilidade apontada por Pires de Lime e Antunes Varela 91:
quando a falta dos requisitos legais sobre o objeto ocorrerem somente em relação a
algumas frações do edifício – por exemplo, de só uma das várias frações carecerem de
saída própria para área comum ou para a rua –, a sanção do artigo 1416.º deve valer apenas
para as frações irregularmente constituídas. Ou seja, entre os proprietários dela vigorará o
regime da compropriedade; sobre os restantes será aplicado o regime da propriedade
horizontal, observando-se as correções e os ajustes necessários.
88
Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, Ob. cit., p. 300.
89
José AlbertoVieira, Ob. cit., p. 640.
90
Luís A. Carvalho FERNANDES, Lições de direitos reais, p. 380-381.
91
Pires de LIMA e Antunes VARELA, Ob. cit., p. 401-402.
39
direitos: a propriedade plena de cada fracção autónoma que pertence a cada condómino
exclusivamente e a compropriedade das partes comuns que pertencem a todos92.
Há ainda a hipótese da constituição por negócio unilateral, quando efetuado por acto
do próprio proprietário do prédio que, muitas das vezes, utiliza-se dessa constituição para
92
Osvaldo Kidi Cambundo, ob. Cit.
93
Neste sentido, Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, Ob. cit., p. 295; Luís A. Carvalho
Fernandes, Lições de direitos reais, p. 376.
94
Estabelece o artigo 1412.º , n.º 1, Código Civil, “Nenhum dos comproprietários é obrigado a
permanecer na indivisão, salvo quando se houver convencionado que a coisa se conserve indivisa”.
40
alienar frações antes mesmo da construção95. Acredita-se ser mais coerente que se admita a
constituição da propriedade horizontal por um único proprietário sem a vinculação de
qualquer condição suspensiva, sob dois argumentos: não há impeditivo legal do artigo
1414.º, do Código Civil português; a presença da figura jurídica da propriedade horizontal
poderá coexistir perfeitamente com a de um único proprietário das frações autónomas, de
modo que ainda assim seja constituído o condomínio a fim de gerir as partes comuns do
edifício. Afinal, a unidade de proprietário das frações não significa a unidade de ocupantes
do prédio, como os arrendatários, por exemplo.
2.4.2. Usucapião
95
Em sentido contrário: Pires de Lima e Antunes Varela, Ob. cit., p. 406.
96
Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, Ob. cit., p. 296.
97
Armindo Ribeiro Mendes, Ob. cit., p. 5 8-59.
41
Portanto, para que a usucapião seja forma de constituição da propriedade
horizontal, a posse deverá ser equivalente a de um condómino em relação a determinada
unidade de prédio urbano. Além disso, devem estar presentes os requisitos legais para a
constituição da propriedade horizontal. Caso estes estejam ausentes, a propriedade será
adquirida na condição de compropriedade até que seja constituído o regime de propriedade
horizontal sobre todo o edifício 98.
98
Luís A. Carvalho FERNANDES, Lições de direitos reais, p. 377.
99
Armindo Ribeiro MENDES, Ob. cit., p. 59.
100
Luís A. Carvalho FERNANDES, Lições de direitos reais, p. 377.
42
previsão do código é acertada, uma vez que permite solucionar situações de
compropriedade forçada que, não raro, é propulsora de conflitos familiares e sociais.
O direito de propriedade sobre a fração autónoma está previsto no artigo 1420.º, n.º
1, do Código Civil, ao prever que “cada condómino é proprietário exclusivo da fração que
lhe pertence”. Por tratar-se do direito de propriedade um direito real de gozo por
excelência, poderá o titular da fração, utilizá-lo de forma plena, obedecidas as restrições
impostas ao próprio direito de propriedade pelo regime da propriedade horizontal.
101
Osvaldo Kidi Cambundo, ob. Cit.
44
compropriedade das partes comuns, não há possiblidade da divisão da coisa, ao contrário
do que acontece no direito de compropriedade, em que qualquer comproprietário pode
pedir a divisão da coisa, porque não está obrigado a pertencer na indivisão 102.
Em relação à última, aplicação das regras gerais da compropriedade, deve ser vista
sob dois aspectos: caso uma das frações pertença a mais de um proprietário, as regras da
compropriedade serão aplicadas diretamente sobre a situação de compropriedade da fração
autónoma; porém, em relação às partes comuns do edifício, como já demonstrado, as regras
da compropriedade deverão ser aplicadas de forma subsidiária às normas específicas do
regime da propriedade horizontal.
102
Ibidem
103
Artigo 1346.º, Código Civil: O proprietário de um imóvel pode opor-se à emissão de fumo,
fuligem, vapores, cheiros, calor ou ruídos, bem como à produção de trepidações e a outros quaisquer factos
semelhantes, provenientes de prédio vizinho, sempre que tais factos importem um prejuízo substancial para o
uso do imóvel ou não resultem da utilização normal do prédio de que emanam.
104
José Alberto Vieira, Ob. cit., p. 637.
45
Civil, ao estabelecer que é vedado ao condómino: prejudicar, quer com obras novas, quer
por falta de reparação, a segurança, a linha arquitetónica ou o arranjo estético do edifício;
destinar a sua fração a usos ofensivos dos bons costumes; dar à propriedade uso diverso do
fim a que é destinada; praticar quaisquer atos ou atividades que tenham sido proibidos no
título constitutivo ou, posteriormente, por acordo de todos os condóminos ou, ainda, por
deliberação da assembleia de condóminos aprovada sem oposição.
46
Finalmente, o art.1438.ºpermite recursos dos atos do administrador à assembleia do
condômino, ao qual pode ser convocada pelo condómino recorrer. Veja-se também o
disposto nos artigos. 1432.º n.º2e 3; 1433.º n.º1 referentes também à administração das
partes comuns do edifício.
47
CONCLUSÕES
48
SUGESTÕES
49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Código civil angolano, pelo Decreto-Lei n.º 47344, de 25 de Novembro de 1966.
52