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UNIVERSIDADE LUSÍADA DO PORTO

MESTRADO EM DIREITO CIVILÍSTICO


SEMINÁRIO DE ANÁLISE CRÍTICA DE LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA

UNIÃO DE FACTO E UNIÃO ESTÁVEL: UMA ANÁLISE


SEGUNDO O DIREITO COMPARADO ENTRE OS
ORDENAMENTOS JURÍDICOS PORTUGUÊS E
BRASILEIRO.

Nicole Aryane Alves de Souza

Porto
2023
NICOLE ARYANE ALVES DE SOUZA

UNIÃO DE FACTO E UNIÃO ESTÁVEL: UMA ANÁLISE


SEGUNDO O DIREITO COMPARADO ENTRE OS
ORDENAMENTOS JURÍDICOS PORTUGUÊS E
BRASILEIRO.

Trabalho acadêmico apresentado no 1º Semestre,


Mestrado de Direito Civilístico, como requisito para
obtenção de nota na disciplina de Seminário de Análise
Crítica de Legislação de Jurisprudência.

Prof. Doutor Sérgio Machado.

Porto
2023
ÍNDICE

Introdução...................................................................................................................................4

2 O Instituto da Família e Seu Valor no Ordenamento


Jurídico........................................................................................................................................5

2.1 O instituto da união estável/ de facto e sua


evolução......................................................................................................................................8

3 Requisitos para Configuração da União de Facto Segundo o Ordenamento Jurídico


Português...................................................................................................................................10

4 Requisitos para Configuração da União Estável Segundo o Ordenamento Jurídico


Brasileiro...................................................................................................................................14

5 Breves Apontamentos Sobre o Contrato de Coabitação no Ordenamento Jurídico


Português...................................................................................................................................17

Conclusão..................................................................................................................................19

Referências bibliográficas.........................................................................................................22
Resumo

O artigo tem por objetivo discutir a aplicação das regras de direito familiar nos ordenamentos
jurídicos português e brasileiro no que tange à configuração das uniões de facto e uniões
estáveis, respectivamente, a fim de compreender qual a regulamentação e proteção jurídicas
destinadas aos participantes dessa configuração familiar. O trabalho demonstrará como se
desenvolve a abordagem legislativa e jurisprudencial de ambos os institutos em seus respectivos
ordenamentos jurídicos, bem como os requisitos para sua configuração e sua viabilidade
segundo a garantia de direitos fundamentais aos participantes dessas entidades familiares. Dessa
forma, a pesquisa analisará como ambos os ordenamentos jurídicos compreendem o direito
familiar quanto à essa entidade familiar em específico, demonstrando as semelhanças e
diferenças entre os institutos nos seus países de aplicação. Por fim, serão analisadas as
problemáticas existentes no ordenamento jurídico português no que tange à regulamentação das
uniões de facto conforme a legislação vigente, quando comparado com a abordagem da
legislação brasileira vigente. O estudo desenvolveu-se a partir da pesquisa teórica por
intermédio de estudo bibliográfico de abordagem qualitativa, com ênfase em procedimentos
conceituais e críticos.

PALAVRAS-CHAVE: Direito familiar; direito comparado; união estável; união de facto.

Abstract

The article aims to discuss the application of family law rules in Portuguese and Brazilian legal
systems regarding the configuration of in fact unions and stable unions, respectively, in order
to understand what legal regulation and protection is for participants in this family
configuration. The work will demonstrate how the legislative and jurisprudential approach of
both institutes in their respective legal systems develops, as well as the requirements for their
configuration and their viability according to the guarantee of fundamental rights to the
participants of these family entities. Thus, the research will analyze how both legal systems
understand family law regarding this specific family entity, demonstrating the similarities and
differences between institutes in their countries of application. Finally, the problems existing in
the Portuguese legal system with regard to the regulation of unions in fact according to current
legislation will be analyzed, when compared to the current Brazilian legislation approach. The
study was developed from theoretical research through a bibliographic study of a qualitative
approach, with emphasis on conceptual and critical procedures.

KEYWORDS: Family law; comparative law; stable union; union in fact.


4

INTRODUÇÃO

A pesquisa consiste na análise do instituto das uniões de facto – no ordenamento


jurídico português – e uniões estáveis – segundo o ordenamento jurídico brasileiro –, fazendo
um paralelo entre os institutos e sua aplicação e efeitos em seus respectivos ordenamentos
jurídicos. O objetivo do trabalho é expor a execução dos institutos sob a análise do direito
comparado.
Ainda que notáveis as diversas discussões, mudanças de entendimentos e
reinterpretações das legislações no campo familiar ocorridas nos últimos anos em ambos os
ordenamentos jurídicos em comento, acarretando na inclusão e benefício de diversos modelos
familiares, tais mudanças significativas ainda não atingem o campo das uniões de facto em
sua totalidade, as quais c o n s i s t e m na manutenção de um relacionamento em que as
partes passam a viver em comunhão de leito, mesa e habitação – como se casados fossem – mas
sem direito ao registro civil.
Assim, a não expansão dos efeitos jurídicos, familiares e patrimoniais, da união de facto,
como acontece nas uniões estáveis no ordenamento jurídico brasileiro – as quais consistem na
manutenção de uma união por duas pessoas como se cônjuges fossem; e têm ampla equiparação
ao instituto do matrimônio e possibilidade de registo civil da comunhão – acarreta na restrição
de um modelo familiar merecedor de proteção pela figura estatal, como disposto pela
Constituição da República Portuguesa (CRP).
Com isso, a pesquisa problematiza os fundamentos utilizados para restrição dos efeitos
jurídicos das uniões de facto na legislação portuguesa, em prejuízo da proteção da entidade
familiar construída pelo afeto e considerada base da República Portuguesa. Para tanto,
apreciaremos em sede de direito comparado, a legislação civlista brasileira no que tange a
regulamentação das uniões estáveis, especialmente em análise aos princípios jurídicos
utilizados enquanto fundamentos para múltiplas alterações no direito familiar brasileiro, dentre
os quais a dignidade da pessoa humana, o primado da isonomia entre as entidades familiares, o
princípio da não-taxatividade das entidades familiares ou da pluralidade familiar e o princípio
da afetividade.
O estudo visa compreender a realidade de ambos os ordenamentos jurídicos e suas
peculiaridades legais na regulamentação de institutos que, a princípio, podem ser entendidos
como similares. Dito isso, a pesquisa propõe-se a investigar os fundamentos utilizados para
embasar a disposição da legislação civilista portuguesa – e o entendimento da jurisprudência
acerca do assunto; bem como analisar as consequências da visão portuguesa das uniões de facto
ao direito de família, pela análise do direito comparado, no que tange à legislação e doutrina
5

brasileira sobre as uniões estáveis.


O trabalho desenvolveu-se por intermédio de pesquisa teórico-doutrinário e análise
jurisprudencial e se centra em referenciais teóricos acerca da evolução das entidades familiares
em ambos os ordenamentos e no princípio da afetividade às uniões como fundamentos para
promoção da autonomia da vontade pela figura estatal nas relações privadas familiares. Desse
modo, o trabalho desenvolve pesquisa teórica de abordagem qualitativa, com destaque em
procedimentos conceituais e críticos.
O primeiro capítulo da presente pesquisa tem por objetivo abordar contexto geral do
histórico das entidades familiares nos ordenamentos jurídicos português e brasileiro e seus
valores no mundo jurídico, bem como as mudanças contundentes ocorridas nos respectivos
ordenamentos diante da dinamicidade das relações familiares no período contemporâneo. Além
disso, faz-se a conceituação do instituto das uniões de facto e uniões estáveis em seus
respectivos ordenamnetos, fazendo a análise paralela entre os institutos.
O segundo item propõe-se a fazer uma análise dos artigos da legislação civilista
portuguesa e da Lei das Uniões de Facto – Lei nº 7/2001 de 11 de maio – que dispõe de assuntos
referentes à temática da união de facto de maneira mais específica, bem como, são utilizadas
referências doutrinárias a fim de conceituar de forma específica o instituto no ordenamento
jurídico. Ainda, trataremos dos efeitos patrimoniais dos bens amelhados na constância da união,
comparando com o instituto do matrimônio.
O terceiro item expõe os requisitos para configuração das uniões estáveis no
ordenamento jurídico brasileiro, analisando as legislações civilista e constitucional, bem como
a utilização dos princípios que são fortemente utilizados como instrumentos norteadores para
aplicação da legislação brasileira. De antemão, é possível afirmar que seguem o fundamento
convergente à pluralidade e amplitude do direito de família vigente, conforme evolução das
dinâmicas familiares.
Por fim, no quarto e último item, trataremos de forma superficial acerca da
possibilidade de utilização do contrato de coabitação como forma de negociação jurídica entre
os unidos de facto com a finalidade de regular os efeitos patrimoniais da sua relação familiar –
devido à ausência de previsão legal – e as implicações desse direito contratual na seara familiar
no mundo jurídico.

2 O INSTITUTO DA FAMÍLIA E SEU VALOR NO ORDENAMENTO JURÍDICO

O instituto da família define-se enquanto cerne unificante e fortalecedor da sociedade


moderna. Analisando a evolução histórica do corpo social que compõe a sociedade, é fácil
6

identificar a dinamicidade com que as relações interpessoais se estruturam e se modificam de


acordo com as necessidades intrínsecas das relações afetivas. Assim, nas diversas legislações
supremas de cada ordenamento, a organização familiar pode ser identificada enquanto núcleo
comum e basilar de cada organização social, ainda que segundo a diversidade de crenças e
culturas de cada localidade – as quais devem ser analisadas com enfoque na evolução da
proteção de direitos fundamentais, respeitando a cultura local de cada sociedade, sempre que
possível.

Conforme elucida com excelência Maria Engrácia Leandro1

Com efeito, a família tem atravessado todas as épocas de profundas transformações


políticas, económicas e sociais que, no caso das sociedades ocidentais, foram passando
do predomínio das organizações estatais de poderes centralizados para sistemas mais
democráticos em que se valoriza, predominantemente, a liberdade, a racionalidade, a
igualdade de oportunidades e o indivíduo, ao mesmo tempo que se faz a transição da
economia camponesa para a economia industrial e para a terciária, como acontece
actualmente com a intensificação da urbanização das sociedades contemporâneas.

Assim, as características das organizações familiares de cada sociedade serão


identificadas não só segundo as referências atuais, mas conforme a evolução histórica e cultural
do local. Dessa forma, faz-se necessário que o Direito – mais especificamente no que tange ao
direito de família – enquanto norma reguladora das relações humanas em sociedade, não só
disponha acerca dos novos institutos familiares, como modifique-os no intuito de promover e
proteger as novas modalidades de relações interpessoais que prosperam segundo o ensejo da
dinamicidade das relações sociais.

Dito isso, os ordenamentos jurídicos contemporâneos ocidentais identificam a


organização familiar enquanto uma das instituições basilares da sociedade, merecedora de
proteção e respeito, independente da sua forma ou composição. Mais especificamente, em
análise aos institutos das relações afetivas nos ordenamentos jurídicos português e brasileiro, é
indubitável a presença de semelhanças na configuração da legislação familiar, de maneira geral,
tendo em vista o longo histórico colonial do Brasil para com Portugal, que durou de 1500 a
1822, período em que a vida em sociedade se iniciara, e por conseguinte, as relações sociais.

Assim, conforme a legislação magna de ambos os países, a família deve ser


identificada enquanto instituto basilar do Estado de Democrático de Direito. A legislação
superior portuguesa – Constituição da República Portuguesa (CRP) – prevê em seu artigo 36º,

1
Leandro, Maria Engrácia. (2006). Transformações da família na história do ocidente. Braga: Theologica, p. 02.
7

nº 1, o direito de todos de constituir família e de contrair casamento em condições de plena


igualdade.

De forma semelhante, no ordenamento jurídico brasileiro, a Carta Magna de 1988


(CRFB/88), que representou uma inovação na forma de se compreender uma construção
familiar, prevê em seu artigo 226º, caput, que “a família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado.”. É importante ressaltar que a mudança na concepção de família ocorreu
de maneira muito anterior, entretanto a legislação em vigor codificou valores já antes
sedimentados em sociedade.

Sobre o prisma da aplicação da temática família sob a égide do direito civil, o


doutrinador brasileiro Flávio Tartuce2 ressalta a necessidade de aplicação sob a interpretação
constitucional basilar.

Em suma, deve-se reconhecer também a necessidade da constitucionalização do


Direito de Família, pois grande parte do Direito Civil está na Constituição, que acabou
enlaçando os temas sociais juridicamente relevantes para garantir-lhes efetividade. A
intervenção do Estado nas relações de direito privado permite o revigoramento das
instituições de direito civil e, diante do novo texto constitucional, forçoso ao intérprete
redesenhar o tecido do Direito Civil à luz da nova Constituição.

Assim, a CRFB/88 conta, então, com a nova perspectiva do “Direito de Família


Constitucionalizado”, que engloba valores e princípios mais abrangentes, considerados direitos
fundamentais, como a dignidade da pessoa humana, prevista no artigo 1º, III; a isonomia entre
os direitos e deveres do homem e da mulher, além do tratamento igualitário destes em relação
aos filhos, prevista no artigo 5º, I; e a solidariedade social, prevista no artigo 3º, I; ficando
evidente o papel de protagonista que a afetividade ganha nas relações jurídicas.

Dessa forma, o direito de família moderno brasileiro conta com inovações e rege-se
especialmente por princípios – explícitos e implícitos no ordenamento. Dentre os quais, vale a
pena destacar: o princípio da ratio do matrimônio e da união estável – assim identificada a união
de facto no ordenamento brasileiro – segundo o qual a afetividade e a necessidade de completa
comunhão de vida são os fundamentos básicos da vida conjugal; o princípio da igualdade
jurídica entre os cônjuges e companheiros, no que tange aos seus direitos e deveres; o princípio
da igualdade jurídica de todos os filhos, também positivado nos artigos 227, §6º, CRFB/88 e
artigos 1.596 a 1.629 do Código Civil brasileiro (CC/2002); o princípio da pluralidade familiar,
que valoriza a família matrimonial e entidades familiares (união estável) de maneira equânime;

2
Tartuce, Flávio. (2006). Novos princípios do direito de família brasileiro. Seminário virtual: Âmbito Jurídico, p.
02.
8

e o princípio da liberdade, observado no livre arbítrio de constituir uma comunhão de vida


familiar por meio de casamento ou união estável.

Cabe ressaltar que estes são apenas alguns princípios que devem ser entendidos
enquanto base obrigatória para o melhor entendimento do direito de família na organização
jurídica brasileira, enquanto valores sociais a serem mantidos, e que servem como norte para
interpretação da legislação civilista familiar.

Assim, ressalta-se, de antemão, que os princípios no direito brasileiro são instrumentos


jurídicos que servem de auxílio ao legislador e ao interpretador da norma para atingir a máxima
efetividade na utilização e promoção de direitos fundamentais às partes no caso concreto.
Assim, não anulam a utilização da lei em sentido estrito; bem como, em regra, os princípios
jurídicos não são aplicados de forma isolada, mas de forma conjunta, a fim de que melhor se
aproxime da aplicação satisfatória dos direitos ali previstos.

Finalmente, feito breve paralelo entre os ordenamentos brasileiro e português, de modo


a explanar os valores e ideais primordiais do instituto da família nestes, seria inócuo que não
especifiquemos os institutos familiares principais a serem expostos, analisados e comparados
no presente trabalho: a união de facto e a união estável.

2.1 O INSTITUTO DA UNIÃO ESTÁVEL/DE FACTO E SUA EVOLUÇÃO

Para melhor entendimento do instituto das uniões de facto, é essencial dar enfoque à
perspectiva da mutabilidade das relações interpessoais, mais especialmente no que tange às
relações fundamentadas pela afetividade. Não obstante as limitações políticas e culturais de
cada sociedade – as quais inevitavelmente determinam a rapidez da evolução social no que
tange aos institutos legais – em ambos os ordenamentos jurídicos, o direito de família estabelece
uma nova roupagem na sociedade contemporânea. Isto é, a compreensão da entidade familiar,
agora não proveniente necessariamente de um casamento formal – entendido aqui enquanto
matrimônio, para fins legais – deve ser observada enquanto uma evolução jurídico-social, tendo
em vista a facilidade de construção e viabilidade financeira desse tipo familiar para muitos
núcleos afetivos. Especialmente, no que tange à realidade brasileira.

No mais, o instituto das uniões estáveis – ou “uniões de facto”, a depender do


ordenamento jurídico do qual a relação é proveniente – podem ser melhor compreendidas e
aceitas em cada aplicação jurídica quando analisadas segundo a construção legal e cultural de
cada local. Ora, há de se reconhecer que a atual conjuntura de cada ordenamento e as
características de seus institutos decorrem de uma evolução temporal.
9

No Brasil, o instituto da união estável surge como uma das diversas formas alternativas
de construção familiar ao matrimônio, sendo resultado das mudanças nos núcleos familiares da
contemporaneidade – que juntamente com a facilidade promovida pela informalidade e pela
economia financeira – torna-se uma forma de entidade familiar que aparece no ordenamento
pelos costumes e é acolhida pelo Direito.

Dada a importância da observação da evolução dos comportamentos sociais e da


necessária adaptação do direito a esse contexto, explica Fachin3

A observação social dos fatos nas relações familiares revela dados novos, como as
famílias monoparentais, as uniões entre pessoas do mesmo sexo, a filiação
socioafetiva, num horizonte que revaloriza a família desatando alguns nós. Clama-
se, e não é de agora, por um Direito de família que veicula amor e solidariedade.

Em verdade, uma lei se faz código no cotidiano concreto da força construtiva dos
fatos, à luz de uma interpretação conforme os princípios, época e valores
constitucionais. Será no porvir que a sociedade brasileira poderá nele ver uma família
aberta e plural, até por que não pode haver família plenamente justa numa sociedade
escancaradamente injusta.

De outra forma, o direito familiar português obteve larga influência do direito romano
e da doutrina imposta pela igreja – segundo os quais o matrimônio tinha carácter indissolúvel e
sacramental – e, posteriormente, nos séculos XII e XIII, obtém-se a construção jurídica do
instituto por meio do direito canônico, a ser aplicado pelo Estado, cuja normas tinham carácter
indissolúvel, perpétuo, monogâmico, heterossexual e sacramental. Apenas no final do século
XVIII, há a imposição de um modelo matrimonial universal – solene, sacramental, indissolúvel,
monogâmico e heterossexual – e contrário às práticas não solenes de construção familiar,
combatendo fortemente a “marginalidade” das relações particulares4.

Diante disso, pode-se entender a problemática do reconhecimento das uniões de facto


no cenário atual português, enquanto partes detentoras de direitos civis substanciais, os quais
devem ser regidos pelo direito de família, sendo o único requisito faltante a ser preenchido a
solenidade do negócio jurídico.

No entanto, com vistas a garantia e ampliação de direitos fundamentais nas sociedades


contemporâneas em questão, é pertinente observar as relações de facto pelo núcleo fundamental
da pluralidade familiar, acolhendo tanto os matrimônios quanto às uniões estáveis enquanto

3
Fachin, Edson Luiz. (2000). Teoria crítica do direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, p. 332.
4
Coelho, Francisco Pereira; Oliveira, Guilherme. (2003). Curso de direito da família: Introdução direito
matrimonial. Coimbra: Coimbra Editora.
10

núcleos familiares – tendo em vistas que podem coexistir em ambos os sistemas jurídicos, sem
acarretar na exclusão de uma em detrimento da outra; e da liberdade, fundamentando-a no livre
poder de constituir uma comunhão de vida familiar por meio de quaisquer um dos institutos já
referidos.

Em vistas disso, ressalta-se que a instituição do casamento permanece enquanto meio


básico para consagração marital familiar, não sendo suprimido no ordenamento jurídico pela
criação e acolhimento de quaisquer institutos familiares. Este continua por estar previsto nas
legislações dos ordenamentos jurídicos brasileiro e português. No entanto, como forma de
ampliação dos direitos fundamentais – especialmente quanto a autonomia da vontade das partes
a constituir família –, o instituto do matrimônio não deve ser visto como forma exclusiva e
excludente de formação familiar, mas como faculdade dada ao particular para gerir suas
relações privadas sem maiores intervenções do Estado, que trará instrumentos para realizações
de suas vontades, desde que estas não impliquem na impossibilidade de direitos coletivos.

No que tange a identificação e compreensão da união de facto enquanto núcleos


familiares possuidores de direitos a serem garantidos – equivalentes aos direitos matrimoniais
– os ordenamentos jurídicos brasileiro e português têm notáveis semelhanças e complexas
diferenças entre si, as quais devem ser analisadas e comparadas de maneira cautelosa pelo
pesquisador jurídico.

3 REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO DA UNIÃO DE FACTO SEGUNDO O


ORDENAMENTO JURÍDICO PORTUGUÊS

Tal como exposto anteriormente, a Constituição da República Portuguesa (CRP/1976)


dispõe em seu artigo 36º, nº 1, o direito de constituição familiar por todos e a liberdade de
contrair casamento em condições de plena igualdade. Ocorre que, tal disposição não deve ser
interpretada de forma ampliativa, de modo a compreender o instituto das uniões de facto de
modo análogo ao casamento no ordenamento português, pois estes institutos têm efeitos
diversos.
As uniões de facto, no ordenamento português, são relações reconhecidas quando os
indivíduos – chamados “unidos de facto” – vivem como se cônjuges fossem, mas sem qualquer
ato solene para transformação desta em uma relação marital, com todos os direitos e deveres
oriundos. Assim, conforme exposto por Francisco Coelho e Guilherme de Oliveira5

5
Coelho, Francisco Pereira; Oliveira, Guilherme. (2003). Curso de direito da família: Introdução direito
matrimonial. Coimbra: Coimbra Editora.
11

A união de facto constitui-se quando os sujeitos da relação ‘se juntam’, ou seja,


tratando-se de união de facto entre pessoas de sexo diferente, passam a viver em
comunhão de leito, mesa e habitação, como marido e mulher. Não sendo objecto de
registro civil, pois não vêm referida no art. 1º CRegCiv, nem de registro administrativo
(municipal), como acontece em alguns países, não se torna fácil saber quando a união
de facto se inicia.

Dessa forma, é visível a dificuldade de comprovação do instituto das uniões de facto,


já que não é possível qualquer tipo de registro da construção familiar no ordenamento jurídico
português, ainda que os unidos de facto desejassem fazê-lo; salvo se os mesmos optarem pelo
instituto do casamento em detrimento da união de facto, momento em que estes passam a ter os
direitos e deveres inerentes ao matrimônio.
Assim, a comprovação da existência dessas relações consideradas à margem do
instituto do matrimônio são, em grande maioria, de maneira testemunhal, já que, em regra, não
há uma prova documental pré-constituída. No entanto, não se devem excluir provas
documentais extraordinárias à relação, mas que possam ser comprovadas a favor ou contra ela,
a exemplo dos atestados de vida, residência e situação econômica dos cidadãos, apresentados
pelas juntas de freguesia, que podem ser utilizados pelas partes ou por terceiros interessados
para comprovação da relação. Ressalta-se que, nesses casos de apresentação documental
extraordinária, admite-se comprovação em contrário6.
Ainda, quanto aos requisitos inerentes à existência e efetividade do instituto, a
legislação civil prevê que para que sejam consideradas uniões de facto, os indivíduos
envolvidos deverão viver em condições análogas às dos cônjuges, ou seja, em comunhão plena
de vida, a qual deve ser entendida como comunhão de mesa, leito e habitação, duradoura e não
meramente fortuita ou concubinária.
A Lei da União de Facto (LUF) ainda determina em seu artigo 1º, enquanto requisito
obrigatório para configuração, o prazo mínimo de 2 (dois) anos da união previamente iniciada
para que esta seja detentora de proteção pela LUF. Bem como, que não se verifiquem presentes
os impedimentos previstos nos artigos 1601º e 1602º do código civil, dirimentes do casamento.
Ressalta-se que, anteriormente à legislação supracitada que regula o instituto desde
2001, a lei nº 135/99 previa enquanto requisito para configuração do instituto, que a união de
facto fosse proveniente de uma relação heterossexual, pela qual entendia-se que apenas as
relações baseadas na heterossexualidade eram protegidas pela lei. Felizmente, a legislação e a

6
Coelho, Francisco Pereira; Oliveira, Guilherme. (2003). Curso de direito da família: Introdução direito
matrimonial. Coimbra: Coimbra Editora.
12

jurisprudência7 atuais não definem questões de gênero e sexualidade como condição a ser
cumprida pelos indivíduos para que obtenham a proteção da lei sobre a sua união de facto
construída, passo que é considerado importante na garantia de direitos fundamentais e direitos
de personalidade.
Todavia, como inicialmente exposto, no que tange aos efeitos práticos do instituto da
união de facto, houve notadamente uma limitação pelo legislador português, que previu amarras
legais para comprovação e efetivação da relação de maneira análoga ao casamento. Isto é, os
artigos 3º, 4º e 5º da LUF preveem um rol exemplificativo de direitos concedidos aos unidos de
facto, dentre alguns muito próximos à proteção prevista aos cônjuges, como a proteção da casa
de morada e de família (art. 3º, alínea a). Por outro lado, nota-se que, em sua maioria, os direitos
detentores de proteção aos unidos de facto têm aspecto trabalhista, previdenciário e tributários,
momento em que o legislador português prima pela análise individualista do instituto,
esquecendo-se de quem deve ser o protagonista e motivo principal da união: o afeto. Perde-se
o carácter familiar o instituto ao passo em que o legislador pretende proteger primordialmente,
dentro do âmbito familiar, questões relativas à seara trabalhista e previdenciária.
Ainda, em matéria de paternidade, deve ser aplicado as disposições do código civil
português (CCiv.) no que couber, o que implica dizer que, o artigo 1871º, nº 1, alínea c, estipula
que esta presume-se quando, durante o período legal de concepção, a mãe e o pretenso pai
vivessem em união de facto; bem como, as responsabilidades parentais serão garantidas em
conjunto por ambos, quando a filiação for relativamente dos dois, conforme previsto no artigo
1911º, nº 1 da mesma legislação. Ainda, o artigo 1904º prevê que, findada a união de facto por
morte de um dos seus membros, as responsabilidades parentais ficam sob o exercício do
membro sobrevivo; enquanto o artigo 1911º, nº 2, prevê que rompendo-se a união de facto, será
aplicado ao regime do divórcio as responsabilidades parentais.
Por outro lado, é válido destacar que, ainda que a heterossexualidade não seja requisito
obrigatório para configuração do instituto, no que tange às maneiras alternativas de filiação, o
artigo 7º da LUF atribui aos coniventes de sexo diferente o direito de adoção em conjunto
segundo as condições estabelecidas no artigo 1979º do código civil português, ficando os unidos
de facto homossexuais submetidos ao regime de adoção por pessoas não casadas8.

7
O Tribunal da Relação de Lisboa, por meio da Apelação nº 6284/2006-8 de 15 de fevereiro de 2007, sob a redação
do relator Pedro Lima Gonçalves, ilustra “O casamento não é a única forma de constituir família; as uniões de
facto, registadas ou não, entre pessoas os memos sexo são também uma forma de constituir família”.
8
Cavaleiro, Tiago Nuno Pimentel. (2015). A união de facto no ordenamento jurídico português: análise de alguns
aspectos de índole patrimonial. Coimbra: Universidade de Coimbra, p. 10.
13

Bem como, o artigo 6º, nº 1 da lei 32/2006 prevê pela possibilidade de as pessoas que
não se encontrem separadas judicialmente de pessoas e bens ou separadas de facto; ou as que,
sendo de sexo diferente, vivam em condições análogas às dos cônjuges há pelo menos dois
anos, recorreram às técnicas de procriação medicamente assistidas, vedando assim os unidos de
facto homossexuais esse direito9.
No que tange à seara patrimonial, a Lei de União de Facto não dispõe especificamente
acerca dos regimes a serem adotados em caso de dissolução, ou do quinhão sucessório
específico a ser disposto, em caso de dissolução da união por morte de um dos membros, ao
membro sobrevivo, tais como dispostas tais condições no capítulo relativo ao instituto do
casamento na legislação civilista, respectivamente enquanto “regime de bens” e “meação” do
cônjuge sobrevivente na sucessão. Dessa forma, as questões de partilha patrimonial do casal
serão regidas pelo direito obrigacional e real, o que implica compreender que os membros da
união de facto, nesse momento, serão considerados “estranhos” um ao outro, podendo cada um,
contrair dívidas, arrendar, dar ou tomar arrendamento de imóveis e móveis de forma individual.
Sendo assim, a previsão proibitiva constante no artigo 1714º do código civil, pelo qual os
cônjuges não poderão contratar entre si em determinadas questões, não se aplica aos unidos de
facto.
Ocorre que, as relações familiares, em regra, têm como aspecto a vida em economia
comum, e na união de facto não seria diferente. Por esse motivo, tendo em vista a intenção de
manutenção da vida a dois de forma duradoura, e que durante esse período ambos os membros
da união de facto contraem dívidas, firmam negócios, adquirem bens e movimentam contas
bancárias, insurge a necessidade de haver uma forma de regular de forma notarial os aspectos
patrimoniais da relação.
O “contrato de coabitação”, então, poderia ser utilizado – se adotado no ordenamento
jurídico português – para inventariar bens, fizer presunções sobre a propriedade de
determinados bens, contribuição de cada um dos membros nas despesas, etc., devendo ser
apreciado cláusula por cláusula, de modo a não se configurarem em negócio jurídico ilícito ou
ilegal. Tal instrumento é aceito de forma recorrente em alguns países como Estados Unidos,
Canadá e Holanda, porém, em Portugal a questão ainda não tem sido posta em análise para
aplicação.
Logo, observa-se que o instituto das uniões de facto não é detentor de uma tutela legal
tão ampla como o instituto do casamento no ordenamento jurídico português; bem como, as

9
Cavaleiro, Tiago Nuno Pimentel. (2015). A união de facto no ordenamento jurídico português: análise de alguns
aspectos de índole patrimonial. Coimbra: Universidade de Coimbra, p. 10.
14

questões relativas ao casamento em muito não são interpretadas pelo jurista português de modo
ampliativo, de forma a abarcar as relações de facto de maneira análoga. É evidente a evolução
da questão por parte do legislador português nas últimas décadas, que tem demonstrado
progressivo reconhecimento de direitos aos unidos de facto – especialmente na seara laboral,
fiscal e previdenciária –, entretanto, face à dinamicidade das relações afetivas na atualidade, é
necessária maior – e mais sensível – tutela jurisdicional à questão, de modo a torná-la um
instituto detentor dos direitos de família, bem como o casamento.

4 REQUISITOS PARA CONFIGURAÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL SEGUNDO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Como exposto anteriormente, o ordenamento jurídico brasileiro utiliza-se de


princípios norteadores para melhor interpretação das disposições legais, a fim de garantir o
cumprimento de direitos fundamentais e de personalidade às partes interessadas. Dessa forma,
especialmente no direito de família, o jurista brasileiro, ao deparar-se com um caso de natureza
familiar, deverá considerar determinados princípios a fim de garantir a melhor execução da
norma, simultaneamente aos direitos constitucionais.
Tendo em vista essa nova lógica constitucional familiar, Helanne Barreto Varela
Gonçalves10 entende que:
a família vai muito além da mera conjugalidade, pois nasce e se desenvolve na busca
constante de proteção de seus membros e o princípio da solidariedade entre os
membros da entidade familiar bem traduz esse dever decorrente do afeto (...).
Factualmente, nota-se tamanha reformulação do conceito de família na sociedade
contemporânea, em muitos aspectos como o respeito às diversidades e diferenças 11. Nesse
cenário de protagonismo do afeto, o ordenamento jurídico brasileiro demonstra traços fortes de
valorização da família e promoção de sua pluralidade, conforme a necessidade das relações
familiares modernas, tutelando as diversas formas de construção familiar existentes na
atualidade, dentre as quais: as uniões estáveis.
A CRFB/88 prevê em seu artigo 226º, caput, a proteção especial do instituto da família
e identifica-a enquanto base da sociedade; bem como, o mesmo artigo ainda prevê em seu
parágrafo 3º, a proteção do Estado para com as uniões estáveis enquanto entidades familiares,
indicando até mesmo o dever de a legislação facilitar a transformação destas em casamento
quando da vontade dos coniventes.

10
Gonçalves, Helanne Barreto Valera. (2015). O respeito a liberdade de amar ou a Ruptura do modelo monogâmico
de família? Curitiba: Conpedi, p. 11.
11
Dias, Maria Berenice. (2005). Conversando sobre família, sucessões e o novo código civil. Porto Alegre: Livraria
do Advogado.
15

Dessa forma, no Brasil, as entidades familiares deverão ser observadas e identificadas


de forma ampliativa, segundo a forma do Direito de Família Constitucionalizado vigente no
país, que engloba valores e princípios mais abrangentes, considerados direitos fundamentais,
como a dignidade da pessoa humana, prevista no artigo 1º, III; a isonomia entre os direitos e
deveres do homem e da mulher, além do tratamento igualitário destes em relação aos filhos,
prevista no artigo 5º, I; e a solidariedade social, prevista no artigo 3º, I; ficando evidente o papel
de protagonista que a afetividade ganha nas relações jurídicas.
Sendo assim, o direito civil brasileiro, comunicando-se com o direito constitucional
brasileiro, segue a mesma finalidade de aplicar tais princípios a fim de garantir a proteção da
liberdade de formação familiar por cada indivíduo, segundo sua preferência e enquanto entidade
familiar detentora de direitos.
Como já exposto anteriormente, o direito de família moderno brasileiro conta com
inovações e princípios basilares na análise da casuística familiar. Dentre os quais, vale a pena
destacar: o princípio da ratio do matrimônio e da união estável – assim identificada a união de
facto no ordenamento brasileiro – segundo o qual a afetividade e a necessidade de completa
comunhão de vida são os fundamentos básicos da vida conjugal; o princípio da igualdade
jurídica entre os cônjuges e companheiros, no que tange aos seus direitos e deveres; o princípio
da igualdade jurídica de todos os filhos, também positivado nos artigos 227, §6º, CF e artigos
1.596 a 1.629 do Código Civil brasileiro (2022); o princípio da pluralidade familiar, que
valoriza a família matrimonial e entidades familiares (união estável) de maneira equânime; e o
princípio da liberdade, observado no livre arbítrio de constituir uma comunhão de vida familiar
por meio de casamento ou união estável.
Diante do exposto, no Brasil, as uniões estáveis são consideradas entidades familiares
merecedoras de respeito, proteção estatal e são detentoras de direitos análogos aos do
casamento, de maneira que serão, majoritariamente, institutos tratados da mesma maneira.
É relevante ressaltar que as uniões estáveis no ordenamento jurídico brasileiro, têm a
mesma essência das uniões de facto no ordenamento jurídico português: tratam-se de indivíduos
que vivem como se cônjuges fossem, unidos pela afetividade e compartilhando de mesa, leito
e habitação, de forma duradoura, não meramente fortuita ou concubinária. Entretanto, para cada
notável semelhança entre os institutos de ambos os ordenamentos, existem diversas diferenças
complexas.
À vista disso, o código civil brasileiro (CC/2002) prevê em seu título III os dispositivos
que determinam a existência das uniões estáveis no ordenamento brasileiro. Dentre as
condições de existência, o artigo 1.723º estipula que será considerada enquanto entidade
16

familiar a união estável entre homem e mulher, configurada na convivência pública, contínua,
duradoura e com a finalidade de construção familiar. Bem como na legislação portuguesa, o
parágrafo 1º do mesmo artigo ainda indica que os impedimentos do instituto do casamento
também serão aplicados ao regime das uniões estáveis.
Isto posto, a doutrinadora Maria Berenice Dias12, segundo o contexto familiar do
direito brasileiro, entende que “hoje, o que leva a inserir um relacionamento no âmbito do
Direito de Família é o afeto, independente da sacralização da união, da finalidade procriativa e
até do sexo de seus integrantes”.
Assim, de forma convergente e sem embargo da disposição legal, o Supremo Tribunal
Federal Brasileiro (STF) – órgão máximo da corte brasileira – decidiu em julgamento
conjunto13 que as uniões estáveis homoafetivas são consideradas entidades familiares, das quais
decorrem todos os direitos e deveres advindos de uma união estável entre homem e mulher,
razão pela qual a legislação em comento deverá ser interpretada de modo ampliativo, com a
finalidade de garantir os direitos de personalidade dos interessados.
Isto posto, a legislação civilista brasileira ainda dispõe, no mesmo capítulo, acerca das
responsabilidades paternais dos companheiros (artigo 1.724º); da possibilidade de conversão da
união estável em casamento, se do interesse dos envolvidos (artigo 1.726º); e, da aplicação do
regime da comunhão parcial de bens para regulação dos efeitos patrimoniais da união estável
(artigo 1.725º).
De forma convergente a legislação, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Supremo
Tribunal de Justiça (STJ) decidiram14, em 2017, que a união estável e o casamento possuem o
mesmo valor jurídico em termos de direito sucessório, isto é, os companheiros têm os mesmos
direitos a heranças que os cônjuges; sendo que, tal equiparação sucessória também abarca
cônjuges e companheiros homossexuais. Ambas as decisões têm repercussão geral e servem
para todas as lides sucessórias nas diferentes instâncias da Justiça.
Em face do posicionamento do judiciário brasileiro, percebe-se a aplicação equiparada
de vários dispositivos legais a ambos os institutos, sendo exemplos: as questões relativas a

12
Dias, Maria Berenice. (2005). Conversando sobre família, sucessões e o novo código civil. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, p. 67.
13
Por meio de ação de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132 e ação de Ação Direta de
Inconstitucionalidade nº 4277 julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil.
14
No ano de 2017, o STF, ao julgar os Recurso Extraordinário nº 878694 e o Recurso Extraordinário nº 646721,
reconheceu a inconstitucionalidade do artigo 1.730 do Código Civil, passando a aplicar o artigo 1.829 do Código
Civil também nas sucessões das famílias formadas pela união estável. Cumpre lembrar que esse já era o
entendimento do STJ: "Comprovada a existência de união homoafetiva, é de se reconhecer o direito do
companheiro sobrevivente à meação dos bens adquiridos a título oneroso ao longo do relacionamento." - (STJ
– Jurisprudência em tese – nº 50 – de 11.02.2016).
17

sucessão legítima, cuja organização ampara os cônjuges e companheiros de forma similar


(artigo 1.829º, II e III, CC/2002); impedimentos de testemunhas, pela qual cônjuges e
companheiros não serão admitidos como testemunhas (artigo 228, CC/2002); o direito a
pretensão alimentar por cônjuges e companheiros entre si (artigo 1.694, CC/2002), dentre
outros.
Assim, nota-se que o ordenamento jurídico brasileiro demonstra demasiado cuidado e
interesse em tutelar as formações familiares, garantindo direitos fundamentais e de
personalidade aos indivíduos envolvidos, e mantendo o enfoque na finalidade principal da
constituição familiar: o afeto. A intenção é que os direitos primordiais para vida em sociedade,
previstos na Constituição da República Brasileira de 1988, irradiem sobre todos os eixos do
Direito, criando uma forma de “constitucionalização” das interações sociais.

5 BREVES APONTAMENTOS SOBRE O CONTRATO DE COABITAÇÃO NO


ORDENAMENTO PORTUGUÊS

A admissibilidade de negócio jurídico entre os unidos de facto, visando a auto-


regulamentação das questões patrimoniais e pessoais da relação, através de contrato de
coabitação, tem sido suscitada de forma doutrinária no ordenamento jurídico português,
enquanto solução frente ao silêncio da Lei nº 7/2001 (LUF) sobre alguns efeitos do instituto. A
Recomendação nº. R (88) 3 do Comitê de Ministros do Conselho da Europa que trata sobre a
validade de contratos e disposições testamentárias entre indivíduos unidos de facto incentiva a
aceitação do instrumento por parte dos Estados membros. Tratar-se-iam de contratos que
regulamentem a propriedade de bens, celebrados entre os indivíduos unidos de facto, na
vigência ou na dissolução de sua convivência15.
Apesar da obrigação constitucional de conferir proteção jurídica às uniões de facto –
conforme disposição constitucional do artigo 36º, n 1º já supramencionada – e da notória
intenção do legislador de assim fazê-lo, a previsão do artigo 1.576º do código civil português
determina um nicho fechado de relações jurídico-familiares, o que implica no impedimento de
considerarmos as uniões de facto como entidades familiares. Dessa forma, sendo adotado o
direito comum para regulamentar os efeitos das uniões de facto, implica entender que o contrato
de coabitação – ainda que disponha acerca de um núcleo familiar – terá como parâmetro de
controle o regime de contratos do direito comum.

15
Cavaleiro, Tiago Nuno Pimentel. (2015). A união de facto no ordenamento jurídico português: análise de alguns
aspectos de índole patrimonial. Coimbra: Universidade de Coimbra, p. 17.
18

De modo superficial, cabe identificar alguns requisitos do regime de contratos que


devem estar dispostos à circunstância para que as partes possam celebrar o negócio jurídico.
Para tanto, o primeiro requisito que deve ser analisado será a autonomia dos indivíduos para
celebrarem tal contrato. Ora, o princípio da autonomia privada, presente no ordenamento
jurídico português, deve ser entendido como o poder, dado pelo ordenamento jurídico, de cada
sujeito regulamentar a constituição e disciplina, de modo vinculativo, das suas relações
jurídicas, sem prejuízo dos limites previstos pela lei.
Cabe ressaltar, que o princípio da liberdade decorre do princípio da autonomia privada,
e reconhece ao sujeito portador de autonomia, margem para livre modelação dos seus interesses
particulares, o que implica compreender que o Direito não poderá prever as situações em
concreto que poderão surgir, para assim, de modo antecipado, regulamentá-las, motivo pelo
qual é dado aos particulares essa capacidade de assim fazê-lo. É no âmbito dos negócios
jurídicos contratuais – e portanto, bilaterais – que a autonomia privada se releva mais intensa e
plena, relevando-se nesse contexto um corolário da autonomia privada: a liberdade contratual.
O artigo 405º do código civil português reconhece às partes a faculdade de, segundo
os limites da legislação, determinarem o conteúdo dos contratos, celebrar contratos com forma
prevista ou não no código civil e incluir nestes as cláusulas que melhor lhes atender às
necessidades. Sendo assim, ninguém pode ser impedido de contratar ou ser punido caso faça-o.
Dessa forma, as partes interessadas, no momento de feitura do contrato de coabitação,
poderão estipular de maneira conjunta o conteúdo contratual e determinar os seus efeitos
jurídicos, tendo em vista que o próprio ordenamento jurídico não assume as uniões estáveis
enquanto relação jus-familiar, o que implica no afastamento das limitações decorrentes do
direito de família, gozando de ampla liberdade contratual16.
Salienta-se que, não se trata de convenções antenupciais – as quais só poderão ser
celebradas de maneira anterior ao casamento e são insusceptíveis de alteração – mas de
contratos de coabitação, que poderão ser celebrados a qualquer momento. Além disso, tratam-
se de simples exercício da autonomia privada dos unidos de facto, pela qual entende-se que a
eficácia deste não dependerá de eventual reconhecimento jurídico da união de facto – segundo
os requisitos expostos no artigo 2º da LUF.
As restrições existentes à essa negociação podem ser citadas de modo específico, quais
sejam: o objeto do negócio jurídico não poderá digladiar-se com as disposições legais
imperativas já existentes, a ordem pública e os bons costumes, como disposto no artigo 280º da

16
Cavaleiro, Tiago Nuno Pimentel. (2015). A união de facto no ordenamento jurídico português: análise de alguns
aspectos de índole patrimonial. Coimbra: Universidade de Coimbra, p. 20.
19

legislação civil portuguesa. Ocorre que, devido à sujeição do contrato de coabitação à ordem
pública e bons costumes, as partes ficar-se-ão impossibilitadas de negociarem direitos e
obrigações de cunho pessoal – a exemplo dos deveres conjugais presentes no artigo 1676º da
mesma lei –, podendo acordar apenas sobre as questões patrimoniais advindas da união.
Além disso, é necessário pontuar que, conforme disposto pelo artigo 125º do CCiv, o
contrato de coabitação firmado entre menores de 18 anos – momento em que, em regra, cessa
a incapacidade do menor – é ferido de anulabilidade, ainda que seja existente a união de facto
pelos mesmos. Ainda, o mesmo efeito se repete aos interditos (artigos 138º e seguintes do CCiv)
e aos inabilitados (artigos 152º e seguintes do CCiv), os quais não dispõem de capacidade
negocial.
Ademais, quanto à forma a ser adotada para realização do negócio jurídico, este terá,
em regra, forma livre, a ser acertada pelas partes da forma que acharem-lhes melhor – de
preferência, na forma escrita como meio de garantir a segurança jurídica do negócio –; salvo
nas ocasiões em que o objeto do contrato exija uma forma predeterminada para sua realização,
momento em que a lei indicará a necessidade: por exemplo, a transmissão de direito sobre
imóvel deverá ser celebrada por contrato na forma de escritura pública ou documento particular
autenticado.
Assim, feita exposição breve acerca do dispositivo jurídico, o contrato de coabitação
a ser realizado entre os unidos de facto caracteriza-se como uma alternativa de regulamentação
dos efeitos patrimoniais relativos aos bens amealhados – e outras determinações – durante a
vigência da união. Todavia, como já exposto anteriormente, tal negócio jurídico não é utilizado
ou mesmo previsto pela legislação portuguesa de maneira concreta, com finalidade especifica,
sendo apenas uma análise jurídica doutrinária a ser realizada pelos juristas com a finalidade de
garantir direitos aos conviventes e eventualmente ser adotada como instrumento jurídico.

CONCLUSÃO

A união de facto ganhou importância significativa durante as últimas décadas no


ordenamento jurídico português, tornando-se uma forma alternativa de constituição familiar,
que de forma tradicional, era caracterizada pelo casamento. Entretanto, ainda que seja notável
o crescente esforço do legislador para dispor sobre o assunto, a lei nº 7/2001 de 11 de maio
(LUF), alterada pela lei nº 23/2010, de 30 de agosto, ainda contém diversas lacunas, para
20

questões importantes da construção familiar, que não podem deixar de serem resolvidas, como
por exemplo a questão patrimonial17.

Em face ao silêncio da LUF sobre os efeitos patrimoniais da união, criam-se no


panorama conjugal português maneiras de solucionar a questão, dentre as quais: a aplicação
analógica dos efeitos patrimoniais do casamento às uniões de facto, ou a formação de contrato
de coabitação para que os unidos de facto, por meio de negócio jurídico lícito e válido, possam
dispor da melhor forma dos bens ali amealhados na vigência da união. Dessas possíveis
soluções, parte majoritária da doutrina portuguesa entende pela inaplicação da analogia dos
efeitos patrimoniais do casamento às uniões de facto, tendo em vista a informalidade da união
como opção escolhida pelos conviventes. Da mesma maneira, o contrato de coabitação ainda
não é previsto no ordenamento jurídico português enquanto negócio jurídico válido e apto para
suas finalidades, todavia esse posicionamento acaba por se tornar inviável, tendo em vista que
a legislação portuguesa prevê pela possibilidade de as partes realizarem negócio jurídico sobre
qualquer assunto de forma válida e que não seja ilícito.

Atualmente, as questões patrimoniais relativas aos bens amealhados na vigência da


relação são partilhadas e reguladas pelo direito das obrigações e direitos reais, no que couberem,
como se os unidos de facto estivessem em sociedade.

Tendo em vista que o presente trabalho reside na comparação das legislações sobre as
uniões de facto – ou união estável – nos ordenamentos jurídicos português e brasileiro, faz-se
mister analisar o panorama conjugal brasileiro no que tange às uniões estáveis.

O direito familiar brasileiro, de forma divergente à legislação portuguesa, entende as


uniões estáveis como forma de construção familiar moderna, positivada na legislação civil, e
protegida pelo Estado de forma similar ao instituto do casamento, sem prejuízo de qualquer
uma das escolhas feitas pelos indivíduos enquanto melhor forma de formação familiar. Assim,
o instituto da união estável é regulado no Capítulo III do Código Civil Brasileiro, sem prejuízo
de aplicar as soluções previstas ao casamento de forma análoga, nas questões em que a
legislação não dispor sobre as uniões de facto.

Assim, nota-se que a estrutura legal do Brasil interpreta ambos os institutos de forma
equânime, tendo o legislador se utilizado de princípios constitucionais para embasar tal
entendimento, em especial, o princípio da dignidade da pessoa humana, que é o alicerce para

17
Cavaleiro, Tiago Nuno Pimentel. (2015). A união de facto no ordenamento jurídico português: análise de alguns
aspectos de índole patrimonial. Coimbra: Universidade de Coimbra, p. 47.
21

outros, dentre os quais: o princípio da autonomia e menor intervenção estatal, princípio da


pluralidade de formas de família e princípio da afetividade. Dessa forma, o Estado adota a
menor intervenção no âmbito familiar, fazendo-o apenas na intenção de proteger e viabilizar os
direitos dos indivíduos ali envolvidos.

Nesse mesmo entendimento estão Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho18
quando percebem que “A atuação estatal não poderia invadir essa esfera de intimidade, pois,
em uma relação de afeto, são os protagonistas que devem estabelecer as regras aceitáveis de
convivência, desde que não violem a sua dignidade, nem interesse de terceiros (...)”.
Dessarte, feita a exposição do panorama jurídico-familiar de ambos os países de forma
comparada, acerca do instituto das uniões de facto/estáveis, conclui-se pelo presente trabalho
que estes têm relevantes semelhanças e complexas diferenças entre si. É apreciável o interesse
do legislador português em regular as relações afetivas atuais, atualizando-se de acordo com a
dinamicidade das construções familiares, todavia, o mesmo demonstra tamanha preocupação
na banalização e exclusão do casamento enquanto forma tradicional de formação familiar, como
se não pudessem haver diversos modos de construí-la, cabendo ao particular escolher a melhor
modalidade para si, e ao Estado, proteger os indivíduos ali envolvidos.

No mais, o ordenamento jurídico português ainda encontra tamanho engessamento nas


questões relativas às uniões de facto diante do demasiado enfoque ao tradicionalismo familiar,
dando tamanha importância aos atos solenes e questões patrimoniais, esquecendo-se do
protagonista principal das uniões familiares: a afetividade.

A LUF dispõe de direitos relativos às uniões de facto que majoritariamente têm cunho
trabalhista, previdenciário e tributário, os quais não são únicos se tratando de uma unidade
familiar e não empresarial. Assim, em vista da atual solução obrigacional dada ao fim das uniões
de facto – por partilha de bens ou por tutela sucessória – nota-se um afastamento de tais uniões
do panorama familiar e conjugal, tratando-as enquanto sociedades empresariais, perdendo o
cunho afetivo da união.

De maneira convergente, Laís Arcanjo Marques19 afirma que

Negar a existência de direitos seria negar a própria dignidade dos que vivem neste tipo
de relação, reconhecer apenas direitos patrimoniais seria um equívoco, pois quem

18
Gagliano, Pablo Stolze; Filho, Rodolfo Pamplona. (2012). Direito de Família: As famílias em perspectiva
constitucional. São Paulo: Saraiva, p. 108.
19
Marques, Laís Arcanjo do Nascimento Teixeira. (2017). O reconhecimento do concubinato como entidade
familiar e as respectivas consequências no direito sucessório. Paraíba: Universidade Federal da Paraíba, p. 39.
22

mantém uma relação como esta tem a intenção de constituir uma relação de afetividade
e não de constituir uma sociedade de fato.

Por fim, nota-se, no âmbito das relações familiares a serem protegidas e promovidas
pelo Estado, que o ordenamento legal brasileiro demonstra melhor acolhimento às uniões
estáveis – dentre as diversas formas de formação familiar – lá existentes enquanto uniões
afetivas detentoras de proteção pelo direito de família. Tal aspecto deve, então, ser reanalisado
e considerado pelo ordenamento jurídico-familiar português, de modo a priorizar aspectos
afetivos merecedores de proteção estatal, e diferenciando-os de institutos empresariais, devido
à notável diferença de intenção dos envolvidos no momento de formação.

BIBLIOGRAFIA CITADA

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Marques, Laís Arcanjo do Nascimento Teixeira. O Reconhecimento do Concubinato como


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24

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Marco Aurélio.

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