Você está na página 1de 6

Introdução à Legislação Minerária

A live foi conduzida por Maria Julia Salles, com a participação da Engenheira de Minas

Julieta Calegari, formada pela UFOP. Julieta atua principalmente na área de gestão de

processos minerário e ambientais.

Além de sua atuação como engenheira, Julieta é criadora do perfil @direitodamineracao no

Instagram, e produz conteúdos sobre gestão de processos minerários de forma simples,

prática e bem humorada.

Julieta se graduou no final de 2013, e escolheu essa área em um primeiro momento por

necessidade. Durante a graduação, Julieta não teve acesso ao conteúdo de uma forma

aprofundada, e foi atuando no mercado de trabalho que surgiu a necessidade de conhecer

melhor a parte regulatória da atividade de mineração.

Julieta já havia cursado 5 períodos do curso de Direito, o que pode auxiliar seu desempenho

na área de Legislação. Atualmente ela cursa uma pós graduação em Direito da Mineração.

O Brasil é um país rico em recursos minerais, os quais são bens passíveis de exploração. O

aproveitamento desses bens trazem diversos benefícios para a sociedade, de modo geral.

Porém, quais são as regras para essa exploração? O que uma empresa faz para ter direito

exclusivo de exploração em determinado local?

Toda atividade econômica, como a de mineração, pressupõem regras, para garantir

segurança a todos os envolvidos nesse processo. Essas normas variam de acordo com a

realidade de cada país.

A Importância do Conhecimento na Prática


Apesar de todo conhecimento técnico agregado durante a graduação, a compreensão sobre

Legislação Minerária, na prática, é fundamental para a atuação do profissional no mercado.

Em grandes empresas, geralmente existe uma equipe específica para cuidar dos processos

minerários. Porém, pequenas empresas ou autônomos precisam dar conta da parte técnica

de suas profissões, além de administrar os processos minerários. Por isso, é válido que todo

profissional tenha um aprofundamento nesta área, já que podem atuar em grandes ou

pequenas empresas.

A Legislação Minerária não é composta por apenas uma norma geral. Na verdade, existem

várias regras, e cada uma delas trazem disposições, que combinadas, formam um

ordenamento jurídico.

Logo, o ordenamento jurídico é um conjunto de regras que servem para disciplinar

determinada atividade (nesse caso, atividades de pesquisa e lavra).

Essas normas se combinam entre si para serem efetivas, e são hierarquizadas.

As principais normas que existem para a regulação e mineração são:

● A Constituição Federal;

● Código de Mineração;

● Regulamento do Código de Mineração;

● Algumas leis esparsas;

● Portarias e Resoluções da ANM.

O Direito é uma ciência que se adapta à realidade e demandas da sociedade, e estão

sempre sujeitas à alterações e mudanças;

Fundamentos
Os fundamentos da Legislação Minerária estão na Constituição Federal, o que podemos

chamar de nossa Carta Magna. Esses fundamentos são:

1. Os bens minerais são propriedades distintas das do solo. Ou seja, o proprietário de

uma fazenda, não necessariamente será proprietário dos bens minerais ali

presentes.

2. O bem mineral pertence à União, e ela pode autorizar que os interessados pesquisem

e lavrem os bens minerais presentes em determinada área. Assim, a União fiscaliza e

regula essas atividades.

3. O bem mineral pertence à União, porém o produto da lavra pertence ao

concessionário da lavra, levando em consideração que tenha sido lavrado dentro das

normas e leis vigentes.

4. A pesquisa e a lavra só poderão ser realizadas mediante a autorização e concessão

da união.

5. Só a União pode legislar sobre a mineração. Ou seja, só o Governo Federal pode

autorizar ou não as atividades minerárias. Esse fundamento difere-se da legislação

ambiental, por exemplo, que pode mudar de acordo com estado ou município.

6. Apesar dos bens minerais serem de propriedade da união, o proprietário da terra

onde os bens minerais estão contidos tem direito a uma participação no produto da

lavra. Ou seja, o proprietário de um imóvel rural onde existe uma mineradora

extraindo e vendendo um bem mineral, tem direito a receber uma porcentagem do

que o minerador ganha.

Os Fundamentos na Prática

Existe um órgão federal, chamado ANM (Agência Nacional de Mineração), responsável por

gerir esses processos minerários e bens minerais, além de fiscalizar e fomentar o setor.

Por exemplo, quando se pleiteia um título para pesquisa ou licenciamento junto à ANM, esse

processo ganha um número de identificação, e uma área específica delimitada por uma

poligonal.
Para explicar como atua o Código de Mineração, Julieta faz a seguinte reflexão: “Se vocês

fossem fazer uma lei para a pesquisa e lavra de mineração, o que essa lei precisaria

conter?”

● Quem poderia pesquisar e lavrar?

Nesse caso, seriam pessoas físicas? Empresas? Pessoas físicas estrangeiras? Empresas

estrangeiras?

● Quando essas atividades poderiam ocorrer?

Nesse caso, existiria um prazo para cada etapa das atividades?

O prazo do alvará para pesquisa é de 1 a 3 anos, podendo ser prorrogado.

A mineração é uma atividade de alto custo, e que leva tempo para trazer lucro para o

minerador. Logo, a regra geral é de que a mineração ocorra até a exaustão da jazida.

● Onde pode existir atividade de mineração?

A mineração é uma atividade de impacto e, para a segurança e preservação de certas áreas,

deve-se estabelecer quais são os lugares seguros para a sua execução.

● Como será exercida essa atividade?

Delimitar todos os procedimentos que envolvem a mineração também é importante.

O Código de Mineração responde a todos esses questionamentos, e traz as diretrizes gerais

que todas as normas seguintes terão que seguir.

O Princípio do direito de Prioridade


O princípio da prioridade estabelece que a outorga do direito de pesquisa e lavra leva em

consideração a ordem de requisições feitas junto ao órgão concedente. Ou seja, quem fez o

requerimento primeiro, em uma área livre, terá prioridade em receber a autorização.

Esse princípio é de extrema importância para proteger os direitos de quem investiu tempo e

dinheiro na pesquisa de uma área.

O Regulamento do Código de Mineração

Esse Regulamento é recente, e foi instituído em dezembro de 2018. É importante lembrar

que o Código de Mineração continua o mesmo, de 1967. O que difere é o Regulamento de

1968, que foi atualizado.

Esse Regulamento serve para pormenorizar algumas disposições gerais do Código, e para

viabilizar a atuação de atividades minerárias.

As Leis Esparsas

Elas tratam de temas isolados e mais específicos. A regulamentação da lavra garimpeira,

por exemplo, encontra-se em um lei esparsa, assim como o regime de licenciamento, que

atua na exploração de areia e brita, entre outros materiais para construção civil.

A Portaria 155/2016

Na rotina de quem trabalha com a legislação de processos minerários, podem surgir

dúvidas sobre situações muito específicas, que não estão no Código de Mineração e nem no

Regulamento do Código.

A Portaria Nº 155, de 12 de Maio de 2016, então, reúne regras e procedimentos mais

específicos sobre a legislação de mineração, o que facilita a gestão desses processos.

Observações Importantes
Julieta ressalta que estamos em uma nova fase e sujeitos a mudanças e adaptações. Por

exemplo, reuniões da diretoria colegiada da ANM estão sendo transmitidas ao vivo por

videoconferência, o que é considerado uma evolução por trazer mais transparência sobre as

decisões tomadas.

Dados sobre processos minerários estão sendo digitalizados e agora os protocolos ocorrem

digitalmente, o que também foi um grande marco, pois antes os processos eram apenas

físicos.

Outra ressalva é sobre a Declaração de Recursos e Reservas. Hoje, no Brasil, não existe uma

normatização e instrução técnica de como se faz o registro de informações de recursos e

reservas minerais pelos titulares de processos minerários (um relatório final de pesquisa,

por exemplo).

O que existe são as “melhores práticas” para que se faça as cubagens das reservas, por

exemplo, porém não existe uma instrução técnica para isso.

A boa notícia é que está prevista essa normatização sobre a Declaração de Recursos e

Reservas para em breve, o que facilitará a execução das atividades com a instrução de

técnicas e procedimentos específicos para se seguir.

Você também pode gostar