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ISSN 0870-8118

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110
ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO

Quanto à compen~ação: ~ata-~e da regra antes sedeada no


§ 380,2? vel~o. ?uanto a ret~nçao: a Jurisprudência do BGH fizera
a apro:tm~çao ~ compensaçao css). A reforma acolheu esta última
ev?lu~ao, msenn~~-a, com a regra da compensação no capítulo
propno da prescnçao. '

. III. A prescrição não prejudica as pretensões derivadas da


h 1poteca ou do penhor - · § 216 J, N

N • • novo. a as prestaçoes acessórias


• '

sao atmgidas pela prescnção da principal - § 217 .


lente ao § 224 velh ' novo, eqmva- O NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS
' o.
DE ADESÃO/CLÁlJSULAS CONTRATUAIS GERAIS (*)

Pelo Prof. Doutor António Pinto Monteiro

1. Apresentação

"O novo regime jurídico dos contratos de adesão/cláusulas


contratuais gerais" foi exactamente o tema da conferência que
proferimos em 28 de Setembro de 2000, a convite do Conselho
Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados: Assim, 15 anos
depois de nos termos pronunciado sobre o regime jurídico que aca-
bava então de ser previsto, a mesma entidade repetiu o gesto, con-
vidando-nos a voltar ao tema, propondo-nos que analisássemos,
desta vez, o novo regime jurídico (1).
No decurso destes (cerca de) 15 anos de vigência da lei, o
texto inicial, de 25 de Outubro de 1985, foi efectivamente alterado,

(") Texto que serviu de apoio à conferência proferida em 28 de Setembro de 2000,


a convite do Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados, e que corresponde
quase integralmente ao trabalho que redigimos para os Estudos em Homenagem ao
Prof. Doutor Rogério Soares, intitulado "Contratos de adesão e cláusulas contratuais
gerais: problemas e soluções".
(I) Sobre a nossa conferência de 15 de Janeiro de 1986, cfr. ANTÓNJO PINTO MoN-
TEIRO, Contratos de adesão: o regime jurídico das cláusulas contratuais gerais instituído
pelo Decreto-Lei n. 0 446185, de 25 de Outubro, in "Revista da Ordem dos Advogados"
88
(ROA), ano 46, Lisboa, 1986, pp. 733, ss.; relativamente à nossa conferência de 28 de
( ) BGH 15-Dez.-1969, BGHZ 53 (1970), 122 _128 ( 125). Setembro de 2000, v. a breve notícia que dela se dá no "Boletim do Conselho Distrital de
Coimbra da Ordem dos Advogados", ano VI, n. 0 10, Coimbra, Março de 2001 , p. 39.
112
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
O NOVO REGIME JUR.ÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO 113

o que sucedeu duas vezes, em 1995 e em 1999, em ambos os casos nando, pois, estes contratos, mas limita o seu âmbito aos contratos
por razões ligadas à transposição da Directiva comunitária de
de adesão com consumidores. .
1993, sobre as cláusulas abusivas nos contratos com os consumi-
No plano doutrinal, a actualidade do tema é também evtde~te,
dores . A alteração de 1995, contudo, foi além do estritamente
como se comprova pelos inúmeros artigos de revista, monogr~fta~,
necessário para dar cumprimento ao imperativo comunitário, gra-
conferências, colóquios e congressos que o tomam. por obJ~cto.
ças a um assumido desejo do legislador nacional em melhorar as
Refiro, a título exemplificativo, que a "European Rev1ew ofPnva~e
soluções consagradas. De tudo isto iremos dar conta no presente
trabalho, ainda que de modo sucinto. Law" dedicou um número inteiro, em 1995, ao pro?lema, p~bh­
cando num volume especial os textos das conferencias profendas
Apetecia-nos dizer, para o efeito, retomando o discurso de há
em Itália, no Seminário de 29 e 30 de Setembro de 1994, promo-
15 anos, e como se de uma aula se tratasse, "minhas Senhoras e
meus Senhores, como vimos na aula anterior" ... , para analisarmos vido pelo Instituto Universitário Europeu, de _:1orença e). . ~
hoje, tão-só e apenas, o que se passou depois disso ... Este interesse pelos contratos de adesao, pelas cond1çoes
Mas como a "matéria" poderá estar já esquecida(!) e para que gerais dos contratos ou cláusulas contratuais gerais, pelos C_?ntra-
esta exposição seja mais facilmente acompanhada, vamos recordar tos "standard" ou contratos em série (a terminologia é ~anada e
de início, ainda que a traço grosso, o essencial dos problemas que pode levantar problemas, como direi mais à frente), este m:eresse
este novo e omnipresente modo de contratar suscita, assim como o da doutrina em analisar tais contratos ou modo de contrataçao e d?
essencial das soluções consagradas. E é neste contexto e nesta legislador em fixar o seu regime jurídico, dizia, corresponde .a
sequência que analisaremos depois, num segundo momento, as grande importância prática de que eles se revestem, na actuah-
novas soluções, o novo regime jurídico em vigor. dade. . , · d
Com efeito, estamos perante "uma manifestação Jundica a
modema vida económica" (subtítulo do conhecido estudo de Car-
2. Actualidade e importância los Mota Pinto sobre o tema, publicado em 1973) e), perante um

Como é sabido, foi o Decreto-Lei n. 0 446/85, de 25 de Outu-


(2) Cfr. a "European Review ofprivate Law" vol. 3, n. 0 2, 1995, .PP· ~ 73, ss, sob~e
bro, que instituiu entre nós o regime jurídico das cláusulas contra- The fmpact ofEuropean lntegration on Private Law: The Case ofthe ?rrectzve o~ Unja1r
tuais gerais. Diploma este que se mantém em vigor, com as modi- Tenns in Consumer Contracts (com artigos de C. Joerges, W. C. Whi~ord, A. Bena~nt,
ficações
0
que lhe foram entretanto introduzidas pelo Decreto-Lei Giorgio de Nova, Pinto Monteiro, E. Hondius, A. de Moor, M. Tenretro, Norbert Retch,
n. 220/95, de 31 de Agosto, e, há pouco tempo, de novo, pelo S. Weatherill, H. Koch, E. Rodríguez, L. Cannada-Bartoli, H. Collins e W. van Gerven).
A mesma Revista haveria de voltar ao assunto em 1997, desta vez para dar conta da
Decreto-Lei n. o 249/99, de 7 de Julho. transposição da Directiva 93/ 13/CEE nos vários países da Co.munidade: cfr. o vol. .s. n.o 2,
Entretanto, em 25 de Julho dé 1996, entrou em vigor, na Ale- 1997, pp. 121, ss. (com artigos de E. Hondius, W. ~osch, E~c Balate, Thoma~ Wtlhel~s­
manha, a lei aprovada em 19 de Julho desse ano, que modificou a son, Helene Davo, Norbert Reich, Elisa Alexandridou, Gmdo Alpa, M. Elvmger, Pmto
Monteiro Javier Lete, Ulf Bernitz e Chris Willett).
célebre AGB-Gesetz, de 9 de Dezembro de I 976, a qual serviu de Ai~da com 0 mesmo propósito de actualização, convirá referir, de I a 3 de Julho de
modelo ao legislador português. 1999, em Bruxelas, a Conferência internacional organizada pela Comis~o Europei~ sob~e
Não querendo tornar-me cansativo, permitam-me que refira La Directive "c/auses abusives ", 5 ans apres. Evaluation et persp~ctzves pour I a~en_:r
ainda, pelo que respeita à União Europeia, a Directiva 93/13/CEE, (cujos trabalhos foram reunidos num volume que acaba de .~e~.pubhca.do pela C~m1s~ao
Europeia, onde se incluem, designadamente, os textos sobre L mté&:atton de ~a Duecttve
do Conselho, de 5 de Abril de 1993, relativa às cláusulas abusivas 93/13 dans les systemes législatifs nationaux", a cargo de M. Tenre1ro, T. Wtlhelmsson,
nos contratos celebrados com os consumidores. Esta directiva R. Bradgate, G. Alpa, Pinto Monteiro e T. Bourgoignie). . ~ . , .
proíbe as cláusulas abusivas ll()S contratos de adesão, discipli- (3) C. MOTA PINTo, Contratos de adesão. Uma m_a~?,esta~ao JUndJca da moderna
vida económica, in "Revista de Direito e de Estudos SocJats , Cotmbra, 1973, pp. 119, ss.
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modo de contratação típico da sociedade industrial moderna, fun~ adesão ou cláusulas contratuais gerais? estar-se-á, afinal, perante a
cionalmente ajustado às actuais estruturas de produção económica mesma coisa?
e à distribuição de bens e serviços. Dir-se-á que à produção e dis-
tribuição "standard" corresponde, no plano negocial, a contratação
"standard": produção em massa, distribuição em cadeia, contratos J. Características
em série. São necessidades de racionalização, planeamento, cele-
ridade e eficácia que levam as empresas a recorrer a este modo de É sabido, com efeito, que uma das características mais mar-
contratar, eliminando ou esvaziando consideravelmente as nego~ cantes do direito contratual contemporâneo é de um número signi-
ciações prévias entre as partes. ficativo de contratos - dos mais importantes da vida económica e
Mas se isto é assim no plano dos interesses que visam satisfa- empresarial moderna -· ser celebrado em conformidade com as
zer, a verdade é que tais contratos apresentam especificidades cláusulas previamente redigidas por uma das partes (ou até por ter-
várias em face do contrato tradicional ou negociado, que o legisla~ ceiro), sem que a outra parte possa alterá-las. Daí serem eles
dor pressupôs. Especificidades essas que rião podem deixar de ser designados por contratos de adesão, fórmula que traduz a posição
tidc:ts em conta e que consistem na inclusão, no contrato, de cláu~ da contraparte e realça o significado da aceitação: mera adesão a
sulas prévia e unilateralmente redigidas, que não foram negocia- cláusulas pré-formuladas por outrem. Avultam, nesta noção, três
das, antes elaboradas por outrem, para um número múltiplo ou características essenciais: a pré-disposição, a unilateralidade e a
indeterminado de contratos a celebrar no futuro. rigidez. São elas, a meu ver, as características que definem os con-
Estas especificidades implicam riscos ou pengos acrescidos tratos de adesão em sentido estrito.
para o aderente, isto é, para o parceiro contratual que celebra o Estes contratos são normalmente celebrados com base em
contrato aderindo às condições gerais utilizadas pela outra parte. cláusulas ou "condições gerais" previamente redigidas. Quer dizer,
Esses riscos acrescidos ou problemas especiais surgem em três
a pré-disposição, a que atrás me referi, consiste, via de regra, na
planos, como explicarei mais à frente: no plano da formação do
elaboração prévia de cláusulas que irão integrar o conteúdo de
contrato ou da tutela do consentimento; no da justiça contratual
todos os contratos a celebrar no futuro ou, pelo menos, de certa
das cláusulas; e no dos modos de reacção jurídica, particularmente
categoria de contratos: trata-se, "hoc sensu", de cláusulas contra-
de índole processual.
tuais gerais. A esta característica da generalidade anda associada
Mas há um problema prévio que tem de pôr-se: valerão as
uma outra, a indeterminação: as cláusulas são previamente redigi-
soluções da lei portuguesa, tal como as soluções de todas as leis
que disciplinam o problema sob o prisma das cláusulas contratuais das para um número indeterminado de pessoas.
gerais, para todos os contratos de adesão? Por outras palavras, É a intenção uniformizadora que leva a este procedimento, a
serão as normas consagradas em tais leis de aplicar sempre que o fim de os contratos que vierem a ser concluídos obedecerem todos
contrato seja de adesão ou, apenas, quando ele tiver sido con- ao mesmo padrão ou modelo. O que permite responder às necessi-
cluído com base em cláusulas contratuais gerais? dades de racionalização, planeamento, celeridade e eficácia que
Está em causa, como se vê, um problema de fundo, o qual impuseram e justificam, como já referi, o recurso a este modo de
levou à alteração da lei alemã em Julho de 1996, motivada pela formação do contrato.
directiva europeia de 1993. Problema este que se prende com a pró- Pensemos, entre tantos outros exemplos, nos contratos de
pria caracterização e compreensão do fenómeno, razão por que a seguros, bancários, de locação financeira ("leasing"), informáticos,
ele me vou referir em primeiro lugar, na exposição que se segue; e de transporte, de fornecimento de energia eléctrica, água e gás, de
que tem a ver, também, com o modo de o designar: contratos de prestação do serviço telefónico ou, até, nos contratos pelos quais se
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adquire, hoje em dia, um electrodoméstico ou outro bem de con- as cláusulas pré-formuladas o requisito da generalidade (ou o da
sumo corrente. indeterminação), caso em que haverá contrato de adesão (estando
Neles estão presentes, em regra, todas as características dos presentes as características da pré-disposição, unilateralidade e
contratos de adesão em sentido amplo: a pré-disposição, a unilate- rigidez) sem se poder falar de cláusulas contratuais gerais. E~tas
ralidade, a rigidez, a generalidade e a indeterminação. Alguém, últimas são previamente elaboradas, numa palavra, tendo em vista
normalmente uma empresa, elabora previamente as cláusulas (ou a celebração, no futuro, de múltiplos contratos, que serão de ade-
"condições") que irão fazer parte de todos os contratos que vier a são -mas tais contratos não deixarão de o ser se faltarem às cláu-
celebrar, seja com quem for. Isto não impede, naturalmente, even- sulas pré-formuladas os requisitos da generalidade e indetermina-
tuais negociações entre as partes quanto a alguns aspectos do con- ção.
trato - no essencial, porém, ele será regido, no todo ou em parte, Estamos assim perante um primeiro problema, particular-
pelas cláusulas previamente formuladas, sem que o aderente possa mente sentido nos países, como Portugal e a Alemanha, que, dis-
alterá-las. Tais cláusulas não são, pois, o resultado das negociações pondo de legislação sobre cláusulas contratuais gerais, têm de a
- pelo contrário, elas antecedem eventuais negociações, são ela- estender a todos os contratos de adesão quando o aderente for um
boradas antes e independentemente de quaisquer (hipotéticas) consumidor, por força da Directiva comunitária de 1993 (a já refe-
negociações. rida Directiva 93/13/CEE, do Conselho, de 5 de Abril).
Há, assim, que separar duas fases: a da elaboração das cláu- Esse alargamento do âmbito de aplicação da lei, como já
sulas, que antecede e abstrai dos contratos que venham futura- disse, veio a ser feito na Alemanha por lei de 19 de Julho de 1996,
mente a celebrar-se, a qual é uma fase estática; e a da celebração que introduziu alterações à AGB-Gesetz, de 9 de Dezembro de
de cada contrato singular, isto é, a fase em que se celebra efecti- 1976. No que a este ponto diz respeito, a alteração consistiu na
vamente o contrato com alguém, que é a fase dinâmica em que se consagração de uma nova norma - o § 24 a - para os contratos
constitui a relação contratual, em que se conclui o contrato dito de com consumidores (Verbrauchervertriige), preceituando-se, entre
adesão e que integra aquelas cláusulas. outras coisas, a aplicação dos §§ 5,6 e 8 a 12 também a cláusulas
Estas duas fases constituem dois momentos distintos do pro- pré-formuladas para uma única utilização, ou seja, a contratos de
cesso de contratação. E originaram diferentes designações para o adesão em que falte o requisito da generalidade.
mesmo fenómeno: com efeito, contratos de adesão, condições Já em Portugal, por sua vez, o problema permaneceu em
gerais dos contratos, cláusulas contratuais gerais, contratos "stan- aberto, apesar de o legislador ter pretendido transpor a directiva
dard", etc, tem sido, como se sabe, a terminologia utilizada em comunitária através do Decreto-Lei n. 0 220/95, de 31 de Agosto,
vários direitos para designar a mesma realidade. Pondo de lado a que introduziu modificações à lei portuguesa sobre cláusulas con-
distinção entre contratos de e por adesão - que poucos seguido- tratuais gerais: o Decreto-Lei n. 0 446/85, de 25 de Outubro. E o
res tem tido - , a alternativa tem-se colocado entre as expressões problema continuou em aberto porque o legislador de 1995 foi
contratos de adesão e cláusulas contratuais gerais (ou condições omisso em relação a este ponto.
gerais dos contratos). Sempre me pareceu, contudo, que este silêncio do legislador
Ora, se é certo que se trata, frequentemente, de designar de português poderia ser interpretado como um silêncio eloquente,
forma diversa o mesmo processo, a verdade é que, em rigor, a fór- permitindo que se estendessem as' soluções consagradas na lei a
mula contratos de adesão é mais ampla, podendo não coincidir todos os contratos de adesão - excepto a acção inibitória, que,
com a expressão cláusulas contratuais gerais. pela sua natureza, pressupõe cláusulas contratuais gerais - ,
Na verdade, em regra o contrato de adesão é concluído atra- "maxime" aos contratos com consumidores. Ao mesmo resultado
vés de cláusulas contratuais gerais; mas pode ac.ontecer que falte levava o princípio da interpretação da lei em conformidade com a
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directiva, sendo certo, por outro lado, que nada obstaria a que as . no plano do conteúdo, favorecem a inserção de cláusulas
outras medidas, pela sua razão de ser (sobre o consentimento e
contrat o, . d
· s. no plano processual, mostram a ma equaçao e msu z-
ifi N •

abuszva , . . ., . t · ·
sobre o conteúdo das cláusulas), se aplicassem, ainda que faltas- . ~ ·a do normal controlo JUdictano, que actua a pos erwrz,
czencl ti ·
sem às cláusulas pré-formuladas os requisitos da generalidade e depende da iniciativa processual do lesado e tem os seus e ettos
indeterminação (4). circunscritos ao caso concreto. . , " .
Devo recordar que o problema não se restringe às relações de Em face disto, um controlo eficaz tera de actuar em tres dtrec-
consumo. Se é verdade que a protecção do consumidor passa pelo ções: pela consagração de medidas destinadas a obter, em cada
controlo dos contratos de adesão, os problemas não devem, de todo contrato que se venha a concluir, um efectivo e real aco~d~ ~obre
o modo, confundir-se nem identificar-se. Pois se é certo que a todos os aspectos da regulamentação contratual; pela prozbzçao de
necessidade de controlar tais contratos é maior quando a contra- cláusulas abusivas; e pela atribuição de legitimidade processu~l
parte da empresa for um consumidor, a verdade é que o problema activa a certas instituições (como o Ministério Público) ou orgam-
é mais amplo, não se esgota na protecção do consumidor, colo- zações (como as associações de defesa do ~onsumidor~ ~ara desen-
cando-se também nas relações contratuais entre empresários. cadearem um controlo preventivo (que alem de permitir superar a
Foi esta a perspectiva correcta do legislador português (tal habitual inércia do aderente se mostra bem mais adequado à g~ne­
como já tinha sido a do legislador alemão), conforme mostrarei ralidade e indeterminação que caracteriza este processo negocial),
adi~te. Em todo o caso, não se duvida de que uma das principais isto é, um controlo sobre as "condições gerais" antes e indepen-
medidas da protecção do consumidor consiste na consagração de dentemente de já haver sido celebrado um qualquer contrato.
especiais mecanismos de controlo dos contratos de adesão. Por Se atentarmos bem, os dois primeiros tipos de problemas
outro lado, também não se duvida que foi essa "cruzada" dos tem- resultam, essenciahnente, da pré-fonnulação das cláusulas - daí
pos modernos- a protecção do consumidor- o grande impulsio- parecer-me que as soluções para eles encontradas não deva~ res-
nador dos vários diplomas legislativos sobre as condições gerais tringir-se, necessariamente, aos contratos celebrados atraves ~de
da e~presa que pelo mundo fora têm vindo a ser aprovados. O que cláusulas contratuais gerais. Já o último dos problemas e soluçoes
deseJ.o realçar, contudo, é que o fenómeno é mais amplo, não deve - o controlo preventivo - , porém, só Iaz sentido quando as cláu-
confmar-se às relações da empresa com os consumidores, antes sulas pré-formuladas forem gerais.
sendo de estender, em certos termos, também às próprias relações Vejamos, então, como fazer face a tais problemas, acompa-
entre empresários ou entidades equiparadas. nhando, para o efeito, a lei portuguesa, a qual consagrou, sem
dúvida, soluções importantes, na linha do modelo ~a AGB-
-Gesetz (5). Referir-me-ei, depois, à Directiva europeta e, por
4. Meios de controlo

Posto isto, passo a enunciar agora os principais problemas que (S) Seguirei de perto, em alguns pontos, trabalhos meus já publ~cados,. W:si~a­
os contratos de adesão levantam e as vias adequadas à sua solução. mente: Contratos de adesão: o regime jurídico das cláusulas contrahtars gerars mstztuído
pelo Decreto-Lei n. 0 446/85, de 25 de Outubro, in "Revis~a da Or~m.dos Adv~gados",
Esses problemas são, fundamentalmente, de três ordens: no ano 46, cit., pp. 733, ss. e Cláusula penal e indemnização, Coimbra, Ltvrana Almedma, 1990
plano da formação do contrato, aumentam consideravelmente o (reimpressa em 1999), pp. 75-82 e 747, ss. Mas ver, sobretudo, ALMEIDA CostAIMBNEZES
risco de o aderente desconhecer cláusulas que vão fazer parte do CoRDEIRO Cláusulas contratuais gerais. Anotação ao Decreto-Lei n. 0 446/85, de 25 de
Outubro. Almedina, Coimbra, 1986, MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil Portu-
guês, I, Parte Geral, tomo I, 2.• ed., Almedina, Coimbra, 2000, pp. 411, ss. e 427, ss., SousA
(') Voltaremos a este ponto mais à frente, n ... 6 e 7, onde analisaremos, respecti- RlBEIRO Cláusulas contratuais gerais e o paradigma do contrato, C01mbra, 1990, e
vamente, as alterações de 1995 e de 1999, tendo esta última pretendido ultrapassar essa INOdN~O GALVÃO TELLES, Das condições gerais dos contratos e da Directiva europeia
dificuldade. sobre as cláusulas abusivas, in "O Direito", ano 127. 0 , 1995, pp. 297, ss.
120
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
o NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO 121

ú~timo, à lei portuguesa que em 1995 modificou a lei até aí em


VIgor, bem. como à última e recente alteração, introduzida pelo das, Ou que o foram, mas com violação doJ:'. dever , )
de informação
A

Decreto-Let n. o 249/99, de 7 de Julho. (em prejuízo, assim, do seu co~ecimento etectiv<: , a consequen-
cia, nos termos do artigo 8. 0 , reside na sua exclusao dos contratos
singulares. . ~ . . ,
4.1. Consentimento Quer dtzer: nao se consrderam mtegradas no con~~to as clau-
sulas contratuais gerais que não respeitaram os reqms1tos da ~ua
inclusão; o que significa, em suma, que o acordo estabelecido
Assi~, no que respeita ao primeiro problema, a fim de com- entre as partes não abrange essas cláusulas (art. 8. 0 , ~Is.~) e b)).
bater o n_sco ~de de~conhecimento de aspectos significativos do Esta, igualmente, a solução imposta a cláusulas msendas em
c?ntrato, ~mpoe a let, no artigo 5. 0 , o dever de comunicação pré- formulários depois da assinatura de algum dos contraentes (art._ 8.0 ,
vza, e na mtegra, ao aderente, das cláusulas contratuais gerais que al. d)), bem como às cláusulas que, pelo contexto ~m q~e. surJam,
a empresa pretenda fazer inserir no contrato.
pela epígrafe que as precede ou pela sua apresentaçao grafica, p~­
. Esta com~c~ção deve ser feita de modo adequado e com a sem despercebidas a um contratante normal, colocado na postçao
d~~tda antecedencza, procurando o legislador, deste modo, possi- do contratante real (art. 8. 0 , al c)).
bzlzta_r ao aderente o conhecimento antecipado da existência das São abrangidas, por esta última norma, cláusulas que aparen-
c?ndições gerais que irão integrar o contrato, bem como 0 conhe- tam ser uma coisa mas, afinal, se revelam outra: por exemplo,
cimento do seu conteúdo, exigindo-lhe, para esse efeito, também a tendo em conta o contexto em que surge, ou até a epígrafe que a
ele, um comportamento diligente.
precede, uma cláusula de exclusão ou de limitação da re~ponsabi­
Acresce, a cargo de quem utilize as referidas cláusulas um lidade do predisponente disfarçada de cláusula de garantta.
dever de informação, consagrado no artigo 6. 0 , cuja exte~são Trata-se, creio, de impedir que se façam valer, perante o ade-
dependerá das circunstâncias, por forma a tornar acessível ao rente cláusulas que suscitam, justificadamente, reacções de sur-
a?er~nte a comP_reensão do seu conteúdo, mormente dos aspectos presd (serão as «Überraschende Klauselm), da lei alemã), por não
te~mcos envolvidos. Devem, ainda, ser prestados, nos termos da lhe ser exigível - pela forma ardilosa com que as mesmas foram
let, todos os esclarecimentos razoáveis que tenham sido solici- disfarçadas ou pela forma subreptícia ou camuflada com que
tados.
foram apresentadas - o seu conhecimento efectivo, ainda que
É claro que o conteúdo deste dever de informação, bem como previamente comunicadas. Prote~e-se,_ assim, a confianç~ _depo-
os termos po~ que ~eve ser feita a comunicação prévia das cláusu- sitada pelo aderente num conteudo diverso do real, legztzmada
l~s contra~a1s gerrus, dependem das circunstâncias, sendo de con- pelo comportamento fraudulento de quem as predispôs nesses
siderar, d~stgnadamente, o facto de existirem já anteriores relações termos.
c~n~atuar~ ou de o aderente ser uma empresa ou·um simples con- Em qualquer destes casos, pois, a solução ditada ~elo
sumidor fmal.
artigo 8. 0 , em coerência com a ratio desta forma de controlo, e ~e
. Partindo do princípio de que as cláusulas que tenham sido excluir do contrato as cláusulas contratuais gerais que não respei-
ObJecto de um acordo específico (v.g., cláusulas manuscritas) tra- taram os requisitos necessários à sua inclusão, mant~ndo-se _o .co~­
duzem melhor do que ~s outras um efectivo consenso, consagra-se, trato na parte restante, com recurso às normas suple!r~ras ~pl~c~vets
co,erentemente, no _artigo 7. 0 , a sua prevalência sobre quaisquer e, se necessário, às regras de integração dos negoc10s Jundtcos,
clausulas contratuais gerais.
consa_gradas no artigo 23 9. 0 do Código Civil.
Com~ o escopo da~lei é, neste campo, evitar a sujeição do ade- E a solução do artigo 9. 0 , n. 0 1, do Decreto-Lei em apreço,
rente a clausulas que nao lhe tenham sido previamente comunica- impondo-se, porém, a nulidade do contrato singular, nos termos da
123
0 NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO
122 ANTÓNIO PINTO MONTEIRO

~ em excesso pode conduzir ou equivaler, na prática, a uma


~esma n~rma, quando o recurso àqueles elementos não obste maçao ,
falta de informação! (6) A não ser que se ente~da--::- e haver~, por
a~n~ assim, a <<UII1a indeterminação insuprível de aspectos essen~ bolll fundamento para isso - que em sttuaçoes deste t1po o
c.tais» ou a «um desequilíbrio nas prestações gravemente atentató~ vezes, de informação não e, cumpn'do. Mas convem , ref1ect.rr, por
no da boa fé». ever
dúltimo, que a empresa ~oderá se~pre _argumentar que nao ~ ' 1
e a e .a
Completando, de certo modo, o controlo efectuado ao nível da
ue cabe seleccionar a mformaçao ma1s relevante para o consumi-
formação do acordo, dispõe ainda a lei (art. 10.0 ) , num outro capí-
dor ou mais perigosa aos seus interesses, sendo a este, pelo con-
tulo, de regras sobre a "interpretação e integração das cláusulas
trário, que lhe compete formular esse juízo, ~roc~e': ~ essa selec-
contratuais gerais", onde se acolhe o conhecido princípio de que in
ão perante toda a informação que ela lhe dtspombihza - desde
dubio contra stipulatorem. ç ' - . lh
que, como dissemos atrás, ela seja ad~quada, e nao eqmva ~· por
Numa breve apreciação sobre o sentido destas medidas direi
excessiva, injustificada ou desproporciOnada, a uma falta de znfor-
que elas se destinam a prevenir o aderente do risco de desco~heci­
m.ent? do (ou de parte do) conteúdo do contrato, procurando con- maçao.I
~
. . ,. . . . ,
Vem a propósito recordar que a Junsprudencta de vános pai-
tnbmr para o seu esclarecimento e suscitar a sua reflexão. Assu-
ses, numa fase recuada, em que mais timidamente a?ordo~ o p~o­
mem, no entanto, uma importância relativa.
blema, se escudou sob o controlo do consenso para 1mpedrr clau-
Prot~gem o aderente contra a inserção, mais ou menos
sulas inequitativas, afastando-as do contrato por alegado
subreptícia, de cláusulas prejudiciais aos seus interesses contri-
desconhecimento por parte do aderente. Tratou-se, freque~te­
buem para evitar decisões precipitadas, pouco reflectida~, e des-
mente de uma forma dissimulada de controlo sobre o conteudo,
pertam a sua atenção para os termos do contrato que vai subs-
crever.
de urr: controlo travesti, impulsionado por razões de (in)justi~a
do contrato, mas disfarçado de controlo sobre o consenti-
P~r outro lado, estas medidas poderão actuar, também, sobre
o predisponente, pelo efeito dissuasor que tenderão a exercer, em mento (1). . .
Não significa isto, no entanto, que as med1~s sobre a znclu-
regra, sobre ele, :orçando-o a moderar os seus intentos, pois sabe
são de cláusulas contratuais gerais em contratos smgulares e sobre
que as suas condtções gerais terão, assim, menos possibilidades de
escapar à atenção da contraparte. a sua interpretação e integração sejam, em si mes~as, inú~eis ou
A sua eficácia, porém, do ponto de vista da tutela do consu- inadequadas. Ao invés, tanto umas como ~utras se aju~~ a espe-
midor ou, em geral, do aderente, é reduzida, pois desde logo não 0 cificidade dos contratos de adesão e constituem um przme~ro passo
na protecção do aderente, procurando responder, de modo próprio,
protegem de cláusulas inequitativas ou abusivas a que terá de sub-
a um primeiro problema: o do conhecimento, pelo aderente, das
~eter-se, mesmo que_consciente dos riscos que corre, uma vez que
nao encontra alternativa real para a aquisição do bem ou serviço de cláusulas pré-fixadas. Mas a sua eficácia é reduzida, "maxime"
que carece e de que não pode prescindir. nas relações com consumidores finais.
Por outro l~do_. este tipo de medidas fracassa mesmo, por
vezes, no seu obje~tlvo, que é o de esclarecer o aderente a respeito
d? c?ntrato que _vai celebrar: por falta de tempo e/ou de preparação (6) Assim, por ex., poucos consumidores teriam a paciênci~ ~e ler um ma~ual de
informações de centenas de páginas .. . E talvez não seja mesmo eJUgwel, a quem 'use d~
tecmca, por resignação, conformismo ou porque tem consciência comum diligência", um comportamento diverso, embora isso dependa sempre, como e
~e que pouco ou nada lhe adianta, o consumidor não lê ou não se óbvio, de vários factores, entre os quais o tipo de operação efectuada e a natureza do bem
mteressa em conhecer em pormenor as condições do contrato. E o adquirido ou do serviço prestado. , . . .
(1) Ver, desenvolvidamente, o nosso estudo sobre Clausulas llmrtatrvas e de
problema nã? está, pr..?priamente, no cumprimento, pela empresa,
exclusão de responsabilidade civil, Coimbra, \985, pp. 348, ss.
do dever de mformaçao - basta pensar que, no limite, uma infor-
124
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO 125
0 NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO

4.2. Cláusulas proibidas


N~ rne sendo possível analisar aqui, naturalmente, um a a
O legislador, não descurando essa primeira forma de controlo, uma as cla' usulas proibidas nessas longas listas negras - ·as
ao
·' em outros sistemas, são elaboradas com base em :nteno-
teve consciência, porém, de que havia que fiscalizar directamente quats, eriências judiciais - , limito-me a chamar a atençao para
o conteúdo das próprias cláusulas contratuais gerais. Fê-lo de duas expaspectos , em ordem a facilitar a compreensão do modelo
areisguns
formas: por um lado, impondo a sanção da nulidade para certo tipo instituído. .
de cláusulas, que expressamente proíbe, nulidade essa invocável Assim, em primeiro lugar, parece-me Importante esc_l~ecer o
nos termos gerais (arts. 12. 0 e 24.0 ); por outro lado, consagrando sentido da distinção entre cláusulas absolutamente prozbzdas~­
uma acção inibitória, com finalidades preventivas. Comecemos são as que constam dos artigos 18. 0 e 2Lo,_tratando-se de relaçoes
pelo primeiro ponto. com consumidores finais, .ou apenas do artlg~ 18. 0 , tratando-~e de
O legislador adoptou, no essencial, como já referi, o modelo relações entre empresários ou entidades equtparadas - e clau~u­
alemão, enumerando uma série de cláusulas que proíbe em termos las relativamente proibidas - artigos 19. 0 e 22.0 , para.as relaçoes
absolutos, ao lado de outras, cuja proibição é relativa. O sistema é do primeiro tipo, ou só artigo 19. 0 , não estando envolvidos consu-
completado com a consagração de uma cláusula geral, assente na midores finais. . . ~ .
boa fé. Enquanto as cláusulas sujeitas a uma pr01b1çao relatzva per-
Mas re-Io com a novidade de, logo à partida, e em termos cla- mitem ao tribunal a sua apreciação em cada case: concr~t?, amda
ros, separar as relações entre empresários ou entidades equipara- que segundo um modelo objectivo, as outras sao p:o:b1das .er_n
das, das relações com consumidores finais, dedicando, a cada uma termos absolutos, ou seja, em qualquer caso; umas so sao prOibi-
delas, uma secção própria. das após valoração judicial, as outras são-no imediatamente,
A importância desta distinção reside no seguinte: enquanto, desde que constem do vasto elenco de cláusulas absolutamente
nas relações entre empresários ou entidades equiparadas, as cláu- proibidas. A •

sulas absoluta ou relativamente proibidas são apenas as que cons- Atente-se, por outro lado, no padrão ~e refer;ncza a ter em
tam, respectivamente, dos artigos 18. 0 e 19.0 , já nas relações com conta pelo tribunal, ao ajuizar sobre determmada claus~la, quand~
consumidores finais, porém, além destas cláusulas, são igualmente isso lhe é permitido, ou seja, quando se trate de uma clausul~ pr~t­
proibidas, de modo absoluto ou apenas relativo, as que constam bida apenas em termos relativos. Esse padrão de :eferenc;a,
dos artigos 21. 0 e 22.0 , respectivamente. "o quadro negocial padronizado" (nos termos dos artigos ,19. e
Quer dizer: tratando-se de relações com consumidores finais 22. 0 ), é um paradigma, é o modelo perante o qual se devera apr_:-
são proibidas tanto as cláusulas indicadas nas normas da respectiva' ciar, parece-me, determinada cláusula, consoante a su~ ad~~uaçao
secção (hoje, secção III), como, igualmente, as cláusulas proibidas ou divergência acentuada em relação ao quadro negoctal ttptco de
pelas secções anteriores: é a solução ditada pelo artigo 20.0 • determinado sector de actividade.
Compreende-se esta atitude do legislador, evidenciando espe-
o vasto elenco de cláusulas interditas, tanto em termos abso-
cial sensibilidade pela tutela dos interesses do consumidor final lutos como em termos relativos, não impede, contu?o,. q~e o~tras
cláusulas possam vir a ser proibidas, por decisão J~dtctal, amda
sem reduzir, porém, a fiscalização do conteúdo das cláusulas con-'
que não estejam incluídas em qualquer da~ refendas normas.
tratuais gerais a este sector. Na verdade, como o problema é mais É que, como já referi, a lei dispõe de uma clausula geral, ~sente
geral, a lei não descura a protecção dos próprios empresários e dos
no princípio da boa fé, perante o qu~l, te~do _er_n conta as ctrc~s­
que exerçam profissões liberais, quando intervenham apenas nessa tâncias, toda e qualquer cláusula tera de JUstificar-se (arts. 15. e
qualidade e no âmbito da sua actividade específica.
16. 0 , após a alteração de 1995).
126
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
o NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO 127

4.3. Acção inibitória


paração técnica dos ~ribunais, i~sistindo-se nos mecanismos extra-
-judiciais de resoluçao de conflitos.
ment~ ~~~~~~:rd~o::;::~: =~~~=· i~~b'%~r~~O::~ ~~~ple-
dhed!cado as disposições processuais) com finalidades(p ..""' pt~lo
Transitada em julgado a decisão proibitiva, não podem ser
incluídas em contratos singulares, que o demandado venha a cele-
( OJe, arts. 25.o e ss). '"'"en zvas brar posteriormente, as cláusulas contratuais gerais que foram
objecto dessa decisão, da mesma forma que não podem essas cláu-
Assim, independentemente da sua inclusã sulas continuar a ser recomendadas.
relação jurídico-negocial .á encetad , o numa concreta
gerais, elaboradas para utidzação fut~ ~s ~lausul~s co~tratuais Assim, se o demandado, vencido na acção inibitória, não aca-
tar a decisão judicial, vindo a incluir, mais tarde, num contrato sin-
lei, p;!em, d~~d~ logo, ser proibidas po; d:;is~:J~d~~:~dltas pela gular, cláusulas anterior_mente proibidas naquela acção, pode a
em legtttmtdade activa par .c. • , •
Público ( f. · : . a es1e eleito, alem do Ministério contraparte invocar a declaração incidental de nulidade contida na
o lCIOsamente, por mdica ã d p . decisão inibitória.
mediante solicitação de qualquer in~e~ess:do;o~:~éde Justtça ou Esta solução, nos termos em que é consagrada (actualmente,
termos, associações de defesa do c . ' ~· em certos no artigo 32. 0 ), não aproveita, contudo, todas as vantagens que um
cais, profissi~nais ou de interesses e~~~:i~~~ tas~o~J:~~es sindi- controlo preventivo apresenta, aspecto para o qual de há muito
Esta acçao pode ser intentada contra ue . . . venho chamando a atenção (8).
tos ou aceite propostas com base em 1, q 1 m proponha contra- Compreende-se que o aderente possa valer-se, sem mais, de

:;:~~,~~~:·:=.~~~:~:
~;~~as
(art.
~=::~~~~~~r~
clausulas ou de cláusulas substancialmente idênticas
anterior decisão inibitória, cuja natureza e finalidades justificam a
sua eficácia automática e ultra partes.
Mas o êxito desta diligência depende de o aderente ter con-
cluído o contrato com o mesmo sujeito vencido na acção inibitória.
. A sua finalidade é impedir a util. ~ , Não se verificando este requisito, já o aderente não poderá valer-
pro~bidas por lei, procurando assim o le~~~=~o::~rpaende cla~sulas se de anterior decisão inibitória, ainda que as cláusulas contratuais
vementes de u tr 1 ar os mcon- gerais proibidas nesta decisão sejam iguais ou do mesmo tipo das
critos ao caso :~~~t~ ~u?~n;~ a po~teriori, com efeitos circuns- que constam do seu contrato singular. Assim, a decisão proferida
tiva processual do lesado o JU llc~, e, .ependente apenas da inicia- pelo tribunal só pode ser oposta contra a mesma empresa (contra a
, . . , ' qua e VItima frequenteme t da
propna mercia e da falta de · ' n e, sua qual foi intentada a "acção inibitória"), não contra uma outra
traente poderoso. mews para enfrentar, sozinho, um con- empresa, ainda que as cláusulas desta sejam iguais às que o tribu-
Optou o legislador nacional, na esteira da lei alem- nal proibiu na "acção inibitória". Quer dizer, a eficácia ultra par-
fj1ar esta
tarefa de fiscar - . a, por coo- tes da sentença limita-se a quem pode invocá-la: qualquer pessoa
gerais ao poder jud~cia{Z:ç:~::~~=~;: ::.n~~~;:~~~o~~~~~::is que venha a celebrar um contrato com a empresa condenada -
mas só contra esta empresa.
;~~as~atraz .alguns mco~ve~ie~tes, designadamente do pontoç~~- A este propósito e neste contexto, um outro aspecto devo
mawr preparaçao tecmca e especi 1. - , -
ou comissão "ad hoc" teria - d . , a IZaçao que um orgao esclarecer. Se tiver havido um processo de controlo preventivo mas
der ao menos em . , . ' nao exxara, contudo, de se compreen- o tribunal decidir não proibir determinada cláusula, isso não signi-
is~nção ~e ind:~~~~~~~it;~~~;:;~n~~sa~ri~=~:s f:rantias
1
de e
soluçao tem vmdo a ser contestada, pela morosidade e ~en~: ;:~~ 1
( ) ANTóNIO P INTo M o NTEIRO, Contratos de adesão: o regime jurídico das cláu-
sulas oontratuais gerais. cit., pp. 760-763.
128
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
O NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO 129

fica, contudo que ess 1, 1 ~ .


~rde, se vier~ ser inc~~~~~ :~:a~~s~VI~= s~~pro!bida _ma~s A Directiva pretende regular as cláusulas abusivas nos con-

!:';:.;;;:_::~ '':;:'~:~;:is~ ~oibiç:~ ce:;,::a~l::;~::


contrato concreto,' por força' d ?roi IÇ~o ~m determinado
?: tratos com os consumidores. E aqui está, logo de início, alguma
ambiguidade. É que a Directiva não se aplica a todas as cláusulas
abusivas mas apenas às cláusulas que não tenham sido objecto de
concreto. as czrcunstanczas desse caso "negociação individual" (art. 3. o, n. 0 1).
Interessa dizer, ainda, que a lei (art 33 o d N
A proposta inicial abrangia todas as cláusulas abusivas. Esta
c?nsagra, como importante meio de pre;são. ;o~~:: acçao actual) posição foi muito criticada, especialmente pela doutrina alemã.
~:: na acçã~ inib~tória, a fim de incentivar o respe~:pr:~: ::~­ o Professor CANARIS considerou que a proposta da Comissão era
fi ça, uma s~n~ao p~c.uniária compulsória". Trata-s: de um~ incompatível com a Constituição alemã e que a Comunidade, se
.nhguradque o Codigo Ctvtl já acolhera em 1983 (art 829 o A) fosse aprovada aquela proposta, estaria a ultrapassar as suas com-
I1 a a" t "t"fr · .- ; na petências e a atentar contra a ordem jurídica privada dos Estados
as rem e ancesa, e que o legislador de 1985
para reforçar a eficácia da decisão tomada na acção inib~f~~:~Itou membros (1°). O Conselho acabou por restringir a directiva aos
contratos de adesão. Estou de acordo com a posição final do Con-
selho. Mas o que deve sublinhar-se, por isso mesmo, é que não se
S. A Directiva 93/13/CEE trata de uma directiva sobre as cláusulas abusivas nos contratos
com os consumidores, mas, antes, sobre cláusulas abusivas nos
Em 5 de Abril de 1993, no termo de um roce . contratos de adesão com consumidores.
~arc~d~ pelos sucessivos recuo~ em face da ~ropo~~~ ~~~i~~c~~ O que me leva a colocar uma segunda objecção. A Directiva
omAtssao, o Consel?o .adoptou fmalmente a Directiva 93/13/CEE restringe o seu campo de aplicação aos contratos entre profissio-
pesar do seu lumtado camp0 d - ~ ·
zido das med"d ~ ap1~caçao e do alcance redu-
. I as que consagrou, a Directiva é importante E .
metrEo lugar, pela protecção concedida contra as cláusula.s mbpz:- tratos de consumidores, in "Revista de Derecho Mercantil", n. 0 219, Madrid, 1996,
vas. m segundo lu 1 · . a usz- pp. 79, ss.; e La transposition de la directive européenne S!lr les clauses abusives au Por-
do contrato. Em ter~=;:~uas Imphcaçoes que. tem na teoria geral
N

tugal, in ERPL, vol. 5, 1997, pp. 197, ss.


estatuto do ..J gar, p~Io reconhectmento e reforço do Entretanto, ainda sobre a Directiva, além do estudo já citado de GALVÁO TELLBS
consumzuor como SUJeito carecido de . (supra, nota 5), e de MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil, cit., pp. 422, ss. e 466-
tecç~o. ~inalmente, porque ela constitui mais umuma espectai pro- -470, são de mencionar, recentemente: J. OLIVEIRA AscENSÃO, Cláusulas contratuais
momzaçao do chamado "d· ·~ passo para a har- gerais, cláusulas abusivas e boa fi, in ROA, ano 60, 2000, pp. 573, ss., MÁRIO Júuo
- . trez.o europeu dos contratos" DE ALMEIDA CosTA, Síntese do regime jurídico vigente das cláusulas contratuais gerais,
Estes sao, em hnhas gerais os méritos da Di . . 2.• ed., Lisboa, 1999, ALMENO DE SÃ, Cláusulas contratuais gerais e directiva sobre cláu-
penso que são_ r.nuitas as suas ins;ficiências. A Direc;i:~t~:~s~~ sulas abusivas, Coimbra, 1999, SINDE MONTEIROIALMENO DE SA, Das portugiesische
um ~asso posttivo, mas tímido e incompleto - , AGB-Gesetz und die Umsetzung der EG - Richtltnie über missbrãuliche Klauseln in Ver-

~:e~guo. ~imit~-me-ei, de seguida, a assinalar, ed;~~;::~u~:~ brauchervertrãgen, in "Boletim da Faculdade de Direito", Coimbra, 1997, pp. 173, ss.,
ALEXANDRE DIAS PEREIRA, A protecção do COIISumidor no quadro da directiva sobre o
tiv e sucmta, alguns dos aspectos positivos e negativos da direc- comércio electrónico, in "Estudos de Direito do Consumidor", n. 0 2, Coimbra, 2000
a, ao mesmo tempo que a confrontarei com a lei portuguesa (9). (pp. 43, ss.), pp. 75, nota 59, e 118, ss., bem como, já antes, o seu Comércio electrónico
na sociedade da informação: da segurança técnica à con.fwnça jurídica, Almedina, Coim-
bra, 1999, pp. 104, ss., e sobretudo a tese de doutoramento de SouSA RIBEIRo, O problema
(9) Acompanharei de perto trabalh . . do contrato. As cláusulas contratuais gerais e o princípio da liberdade contratual, Coim-
Impact ofthe Directive on Un'àir Te . ~s meus antenores sobre a Directiva: The bra, 1999, pp. 585, ss.
"E R . '.!' rms m o...-onsumer Contracts on p t La .
uropean evJew of Private Law" (ERPL) I 3 or uguese w, m (1°) Cfr. CLAus-WILHELM CANARIS, A liberdade e ajustiça contratual na "socie-
condiciones generales de los contrat l dv_o . .' 1995, pp. ;31, ss.; E/ problema de las dade de direito privado", in "Contratos. Actualidade e evolução", Universidade Católica
os y a zrecllva sobre clausulas abusivas en los con-
Portuguesa, coord. ANTóNIO PINTo MoNTEIRO, Porto, 1997, pp. 49, ss., 64-65.
130
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
O NOVO REGIME JURíDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO 13 1

nais e consumidores (art. 1. 0 , n. o 1). Há aqui uma manifesta


a de 1985, por influência da ''AG~-
Mas a lel portugu~s.
influência da lei francesa (Lei n. 0 78-23, de 10 de Janeiro de 1978). .
- ("cláusulas contratuais
O Conselho terá querido conciliar dois modelos, o alemão e o fran- -Gesetz", utilizou _esta ultm~a ~x~ssao en" = "conditions géné-
cês. Daí resultou uma directiva ambígua e até contraditória: ela não gerais"""' "allge~eme Ges~~~~:n: nã~gmeramente linguístico.
é, por um lado, uma directiva sobre cláusulas abusivas (pois estas
rales du contraí ). E o p d desão já o sabemos, é mais ampla,
cláusulas também surgem em contratos negociados), antes, funda- É que a fórmula c?ntratos e a .d' ré~ formuladas por uma das
bastando que as cl~usulas te::o s;n~Jir no seu conteúdo. Não se
mentalmente, sobre contratos de adesão; mas também não é, por
partes e a outra na~ tenh_a p
outro lado, em rigor, uma directiva sobre contratos de adesão, pois
láusulas pré-elaboradas para um
exige a intenção ~Ifo~Izadoraa~número "múltiplo" [Vielzahl}
estes não são exclusivos das relações entre profissionais e consu-
número "indeterm.mado ~u par
midores! Daí a pergunta: qual o objectivo essencial da Directiva?
- condições gerais, utilizada
Impedir cláusulas abusivas? Controlar os contratos de adesão? de contratos) subjacente a ~xpressao

portugue~a ~~!::~~a -~es~o


A meu ver, verdadeiramente, nem uma coisa nem outra: a Direc-
tiva visa, é certo, proteger o consumidor contra cláusulas abusivas pelas leis resulta que esta se aplicará
- mas só nos contratos de adesão. Ora, do art. 3 a .d d. .da com vista a uma utlhzaçao
que a cláusula não tenha SI o r~ .Igi , , exigido para o controlo
Estou de acordo em que o consumidor necessita de protecção
generahz~ a es e o o 2) O ue levanta(va) o pro~lema e
. d ( t último reqUisito so e d
especial nestes contratos. Mas os problemas dos contratos de ade-
são não se esgotam na protecção do consumidor nem as cláusulas estabelectdo no art. 7· ' n. · q "AGB-Gesetz") tena de ser
1 · rtuguesa (tal como a ·
abusivas são privativas dos contratos com consumidores. Em saber se a ei po . , frente que fez o legis1a-
modificada neste ponto. :rere~~! ~~~g~slador de 1999.
0
minha opinião, a directiva deveria ter ido mais longe e abranger
também as relações contratuais entre empresas ou entidades equi- dor de 1995- e, p~steno~e . ' - têm a ver apenas com o seu
paradas, ainda que, neste caso, diferenciando-as das relações com As insuficiências .da J?trecti:t~aZos contratos entre profissio-
consumidores, estabelecendo, para estes últimos, um controlo mais limitado camp~ de aphcaça~: res respeito dos meios de controlo
apertado. Foi o que fez a lei portuguesa. Por outro lado, a Directiva nais e consumid?res: Ta; em ;uém do que seria desejável.
só teria ganho em clareza e eficácia se o seu objectivo tivesse sido consagrados a Duecttva Icou a d desão levantam fundamen-
o de controlar os contratos de adesão (ou, pelo menos, os contra- Como já d~sse, os con:~tos e ;elo que as solu~ões devem
tos celebrados com base em "condições gerais"). Ter-se-ia conse- talmente, três ttpos de pro edmas, trolo· sobre o consentimento,
, d três formas e con · ,
guido, na mesma, a protecção do consumidor, mas tei-se-ia ido actuar atraves e , ul no lano processual. Ora, se e
sobre o conteúdo das claus as ~ po~tes ela ficou, contudo, a
muito mais longe. ·
0
certo que a Directiva deu passos Im ,
O art. 3. da Directiva levanta uma outra dificuldade: o n. 0 1
restringe a aplicação da directiva a cláusulas que não tenham sido meio caminho. n· f não estabelece regras sobre a forma-
objecto de "negociação individual" e o n. o 2 esclarece que é esse o Na verdade, a .Irec Iva destinadas a combater o risco de se
caso sempre que a cláusula "tenha sido redigida previamente e, con- ção do acordo, ou seJa, regrash . to de várias cláusulas desse
sequentemente, o consumidor não tenha podido influir no seu con- . ntrato sem con eclmen .
celebrar um co t 5 o de forma tímtda e quase
teúdo, em especial no âmbito de um contrato de adesão ". A termi- contrato. Limita-se a condsagrar,l~o a;~s ~;rem redigidas "de forma
nologia, neste sector, como já vimos, é bastante variada: "standard t obrigação e as c ausu o .
en passan , a , " ue também alude no art. 4. o' n. 2 , l!"
contract", "contrat d'adhésion", "allgemeine Geschãftsbedingun- clara e compreensivel ~a q t - mat·s cavorável ao consumi-
gen", etc. Em Portugal, como em outros países, a doutrina tem utili- . , · d "mterpre açao li ,
fine) e o pnnclplO a . . dubio contra stipulatorem/.1
zado, indiferentemente, as expressões "contratos de adesão", "con- dor" (in dubi.o pro c~nsumatore, l~o or exemplo, como fez a le~
dições gerais dos contratos", "cláusulas contratuais gerais". A Directiva devena ter consagra ' p §§ 2-7 da le1
portuguesa (arts. 4 .o_g ·o e 1o.o-11.o, semelhantes ao
132 ANTÓNIO PINTO MONTEIRO 133
0 NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO

alemã), deveres de comunicação, prévia e na íntegra, das cláusulas Esta é, pois, urna medida muito importante da Directiva,- e
contratuais gerais; deveres de informação e de esclarecimento· e lei portuguesa também já consagrara em 1985, atraves da
regras contra cláusulas de surpresa e contra cláusulas inseridas ~m que a
chamada "acçao- tnt
· 'b'ttona
' · " , como exp1'tquei· .
formulários depois da assinatura do contrato. Com a consequência
de, que o não cumprim~nto de tais deveres e regras impede que as
clausulas possam ser mvocadas - ou seja, essas cláusulas não 6. o Decreto-Lei n. 0
220/95
fazem,parte do contrato, não houve acordo sobre elas.
E e~ta uma primeir~ forma de controlo, ainda que pouco efi- Em 31 de Agosto de 1995 foi publicado o Decreto-Lei
c~, ~estmada a proporciOnar o conhecimento prévio das cláusulas n.o 220/95. Assim, dez anos depois, o Decreto-Lei n:o 446/8~ (qll:e
pre-ftxadas e o esclarecimento de quem se limita a aderir a elas. · troduziu no ordenamento jurídico português o regune da ftscah-
Ao mesmo tempo, a consagração de tais deveres terá um efeito ~:ção judicial das clausulas contratuais ge.ra!s) foi a~tera~o.
dissuasor sobre a empresa que recorre a cláusulas standard. A o motivo dessa alteração foi a transpostça? da Duecttv.a
directiva ficou aquém do que seria de esperar - as regras consa- 93/13/CEE. Mas o legislador aproveitou a oportumdade para modi-
gradas no art. 5. 0 são insuficientes. ficar outras normas, não por força da Directiva, antes porque os
Mas o controlo mais eficaz, como já disse, é o que se exerce direc- dez anos de vigência da lei trouxeram alguns en~ina~entos. .
tame~te sobre o conteútfo do contrato. Para o efeito, a lei deve proibir A meu ver, a maior dificuldade posta pela J?uectiva respeitava
as clausulas abusivas. E o que faz a Directiva, nos arts. 3. 0 , 4. 0 e 6. 0 , ao facto de esta, no art. 3. 0 , parecer desejar aphcar-se sempre que
bem como, ne-- anexo, na lista de cláusulas que presume abusivas. uma cláusula não tenha sido objecto de "negociação individual",
Este foi, sem dúvida, um passo importante que a Directiva 0 que normalmente acontece quando ela haja sido "redigid~ previ-
deu. Mas também aqui me parece que a directiva deveria ter ido amente". Daí que se suscitasse o problema de saber se a le1 P?rtu-
mais longe. O sistema de controlo da lei portuguesa é mais com- guesa de 1985, sobre "cláusulas contratuais gerais", carecena de
pleto, exigente e rigoroso, corno expliquei. ser alterada neste ponto, a fim de passar a abranger to~os os con-
Por último, .no ~ue toca ~s providências a consagrar no plano tratos de adesão, ainda que faltassem às cláusulas pre~tspostas os
processual, a Drrectlva preve efectivamente, no art. 7. o, que os requisitos da generalidade e indeterminação, isto. é, amda que ~
Estados-membros adoptem medidas desta índole. Tais medidas só cláusulas tivessem sido pré-elaboradas tendo em VIsta um determi-
se aplic~~o q~ando as cl.áusulas tiverem sido "redigidas com vista nado contrato e não uma série ou um número múltiplo de contra-
a uma utthzaçao generalizada", ou seja, quando se estiver perante tos de certo tipo. . .
c,~áusu~~s.. "sta~~ard",, P.erante "cláusulas contratuais gerais" É que da conjugação dos n.os 1 e 2, do art. 3.~ ~a Duectt.va
( AGB ; condtttons generales du contrat"). resulta que esta pretende abranger as claus_ulas redigtdas previa-
Prete~de-se, c~m medidas desta natureza, como já referi, mente e a que o consumidor se limita a adenr, s.em que as.~esmas
superar o mconventente de a aplicação da lei, no comum dos cláusulas tenham necessariamente que revestir os reqmsttos ~a
casos, ~epen~er da iniciativa processual do lesado, que muitas generalidade e abstracção ou. te~ sido re~igidas a fi~ ?e o predis-
vezes nao arnscará envolver-se num litígio judicial contra uma ponente uniformizar uma séne mdetermmada ou rnúlttpla de con-
empresa. Em segundo lugar, procura-se, com estas medidas ultra- tratos. Numa palavra, para este efeito, no sistema consagrado. pela
passar a dificuldade de a decisão do tribunal só produzir' efeito Directiva é a ausência de "negociação individual" que defme o
para ~ c~so concreto que julgou. Por último, um controlo deste tipo seu campo de aplicação. _ . .
c?nsh~ uma forma ~dequada de fiscalizar cláusulas que são redi- Poder-se-ia entender que talvez nao fosse mdtspensável alte-
gidas nao para um so contrato, antes para um número múltiplo ou rar a lei portuguesa só por esta razão. Isto porque. po~e sustentar-
indefinido de contratos. -se que só a acção inibitória, pela sua natureza e fmahdades, pres-
134
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
0 NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO 135

supõe necessariamente a existência de 1,


E neste aspecto não haveria d fc c_ ausulas contratuais gerais. para este efeito, uma simples norma que mandasse aplicar a lei
também ela parte do princípi~s~on onnt~ade c?m a Directiva, pois (excepto as disposições sobre a acção i~ibitória) a todas as cláusulas
a cláusulas contratuais "red· "d e que t~ts medtdas só se aplicarão redigidas preVIamente, nos termos actma expostos, ao menos nas
ra/izada" (art 7 o n o 2) Asigt as com VIsta a uma utilização aene- relações com os consumidores fmais (1 1).
. · ' · · outras formas d ó
tuguesa (sobre o consentimento e s b e ~ntrolo da lei por- Quanto ao mais, as alterações a que se procedeu, por força da
0
pela sua razão de ser. poderia ? re conteudo das cláusulas) Directiva, não foram muitas nem muito significativas - o que se
tos de adesão em q'ue as 1~ aplicar-se 1 ou estender-se a contra~
, _~; c ausu as da empr t. compreende, pois a lei portuguesa já consagrava, no essencial, os
pre-.;ormuladas _ ainda q , esa tvessem sido objectivos e as medidas que a Directiva veio impor. E saúda-se ter
em que, portanto, não tives:; ~;v~~a dete;n:~nado contrato - e sido esta a lei aprovada, mantendo o rigor técnico, a contenção e a
ção individual, Esta fc . . - (possibthdade de) "niwocia- articulação sistemática -indispensáveis a um texto desta índole.
. · 01 a postçao para . . . o
a let de 1995 ter sido publ" d b que me mclmet, antes de Houve, de todo o modo, algumas modificações, retoques e adita-
tca a em ora sem t. .
que, por razões de certeza od~ri pre lvesse afirmado mentos: nuns casos, importados da Directiva; noutros, por razões
ou acrescentar em todo ' p a ser vantajoso alterar 0 art. 1. o ligadas a uma pretendida melhoria da lei.
' 0 caso, a 1guma nonna I"
Ietra, a lei, a fim de que não ex· t" , . • amp tando, na sua Há, no entanto, duas novas e importantes medidas que o
- , . IS tssem duvtdas sob .
çao as sttuações compreendidas n0 art 3 o d . r~ a sua aplica- Decreto-Lei de 31 de Agosto tomou e que merecem ser destacadas
Ora d d , · · a DtrectJVa e aplaudidas, a par de outras que suscitam alguns reparos. Vou
' a ver a e e que entretanto sur ·u ..
mas que não veio esclarecer devidame g:t um novo diploma - referir-me apenas às primeiras, pelo significado que contêm, e que
aquele que mais dúvidas suscit nte este ~onto, exactamente correspondem, aliás, a apelos que eu já tinha feito ('2).
opinião, de duas uma· ou o Ie .alvadpera_nte_ a Directiva. Na minha Na sua versão de 1985, a lei excluía do seu campo de aplica-
- . · gts a o r nao mterv ·nh ção as "cláusulas impostas ou expressamente aprovadas por enti-
que nao vaha a pena "mexer'' · D I a, por entender
·Intervmha, . amda que também no ecreto-Lei n ·o 446/8 5; ou, se
. dades públicas com competência para limitar a autonomia pri-
convenientemente este probl por outra_s razões, deveria ter tratado vada" (art. 3. 0 , n. 0 1, al. c)). Este preceito era demasiado amplo,
Na sua versão inicial a leet.rr;aal, o que me parece que não fez! levando a que a lei, aparentemente, deixasse de se poder aplicar a
tratuats . , 1< ava no art 1 o d 1,
gerais elaboradas "de _, , · · ' e c ausulas con- alguns dos casos em que essa aplicação mais se justificaria: por
tuída por cláusulas contratuais ante'!"ao1 ; esta expressão foi substi- ex., a contratos de seguros, a contratos de fornecimento de água,
. - . gerats e aboradas " , . gás, telefone, a contratos bancários, etc. E isto porque existem,
czaçao mdividua/, A modific _ fc . sem prev1a neao-
. açao ot corre ta , · o·
corresponde à Directiva Mas sub . f c ' e mrus expressiva e
bastava para que a leis~ apl' sts ta o problema de saber se isso 11
Toda esta matéria relativa ao problema da transposição da Directiva pelo
, . tcasse ou se pelo 00 tr · · . . ( )
necessano que se tratasse de cla'u I ' . n ano, sena amda Decreto-Lei n. 0 220/95, mormente no tocante ao ponto em análise e aos argumentos sus-
. . da aeneralida-Je e . À su as .contratuais que revestissem · ceptíveis de serem utilizados para conseguir o resultado querido pelo legislador comunitá-
reqwstto ó' uj muetermznação c · 0
rio, foi por nós tratada nos trabalhos referidos na nota 9. A estes haverá que acrescentar a
para o problema continuaria · reto que a resposta posição por nós reafirmada na Revista "Actualidade Jurídica", Ano I, n. 0 11, Fevereiro de
modificação da lei me inclin a ser aql~ela _Para q~e eu já antes da 1998, p. 3, ss. 5-7, bem como, mais recentemente, na Conferência de 1 de Julho de 1999,
requisitos não se verificasse ava o ap tcaçao da let mesmo que tais em Bruxelas (cfr. supra, nota 2), que consta do nosso texto sobre La Directive "clauses
o princípio da interpretação~;:ost~o q~ poderá reforçar-se com abusives ", 5 ans apres - l 'intégration de la Directive 93113 dans le systeme législatifpor-
tugais (pp. 71-78 da publicação da Comissão Europeia ou pp. 523-536 do "Boletim da
menos no âmbito das relaçoe-s con orml ~de com a Directiva, ao Faculdade de Direito", Coimbra, 1999).
. com consumtdores , (12) Quer no Congresso, no Porto, da UCP, em Abril de 1995, sobre "Responsabi-
que o legtslador, tendo intervind d . - , mas o certo e
de forma clara e inequívoca o, e~7na ter encarado e resolvido lidade civil: o presente e o futuro" (a respeito do art. 3. 0 , n.0 1, al. c)), quer no nosso Dm-
esse pro erna. E poderia ter bastado tratos de adesão: o regime jurídico das cláusulas contratuais gerais, cit., p. 762 (a res-
' peito do registo e da publicidade da sentença).
136
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
O NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO 137

nesses domínios, entidades públicas c . .


sobre as empresas que celebra ta. om poderes de flscahzação \ dúvida que suscitamos tem a ver com a posição que vínha-
cesse que aquela fórmula legal m I~.c~ntratos. E~bora me pare- mos subscrevendo, que tendia já, antes da alteração de 99, para a
de corrigir o seu alcance literalpdermt ~~ tdnterpretaçoes susceptíveis aplicação do Decreto~Lei n. 0 446/85 (excepto a acção inibitória) a
emasta o amplo dad ,
o melhor seria revogá-la, por não se justificar ' ~ ver e e q_ue todos os contratos de adesão e não apenas àqueles que fossem
lador acabou precisamente de faz , · E foi o que o Iegis- celebrados através de cláusulas contratuais gerais. E isto por três
U . er, o que e de saudar ordens de razões, que passamos a expor em termos simples (1 4).
ma outra dificuldade cuja solu - 1·d ·
não se ter previsto um se;iço de ç~ a et e 1985 adiara, era de Poderá dizer-se, desde logo, que essa seria a solução compatí-
gerais proibidas por decisão ·udicia{efsto das. cláus_ulas contra~ais vel com o silêncio da lei, que seria assim um silêncio eloquente, pois
pelo Decreto-Lei n.o 220/95 (~ 35 o) ste servi~O v:w a ser previsto 0 legislador de 95 quis transpor a directiva, foi esse o "objectivo
remeterem a esse serviço cópia das d
'.~ma obf!gaçao de ?s tribunais básico" do Decreto-Lei 1). 0 220/95, como se afirma no Preâmbulo do
tenham proibido o uso ou a recom:~~ transitadas em Julgado que diploma- ora, não se tendo tocado neste ponto, dir-se-á que isso
gerais ou declarem a nulidade de cl, u1 ça? de. cláusulas contratuais revelava um entendimento segundo o qual a lei já se aplicaria a
gu1ares. Também esta é uma medid aus d
as msendas e
.
tra
. m con tos sm-
.
todos os contratos de adesão, não sendo indispensável alterá-la.
registo contribuirá para facilitar a he a~laudir, pois.a publicidade do Depois, em segundo lugar, à mesma solução conduzia o princípio da
.- . .
dectsoes o con eczmento de tais lá ul das
JUdiciais que as tenham 'b'd c us as e interpretação da lei em conformidade com a Directiva, ainda que
prot 1 o ou declarado nulas.
tão-só no domínio em que este princípio é susceptível de ser invo-
cado. Por último, e fundamentalmente, porque nos parece que era
7. O Decreto-Lei n. o 249/99 esta a solução que mais se harmonizava com a ratio legis.
Na verdade, no tocante a este último argumento, parece-nos que
Entretanto, em 7 de Julho d 1999 :t401• •
a razão decisiva destes limites acrescidos à liberdade contratual é a
n. o 249/99 Este dipl · e pubhcado o Decreto-Lei
a Comiss-. . orna VIsou, no essencial, sanar o diferendo com ausência de negociações. É certo que há outras razões a justificar
não ter m:~~~p~~~J'.:e~~ en~~der. desta, 0 legislador português esses limites acrescidos, com destaque para as que sublinham a
E ta e a rrecttva 93/13/CEE de 5 de Abril dimensão colectiva do fenómeno e o afastamento do direito suple-
s va em causa, fundamentalmente bl ' ·. · tivo e das concepções de justiça que lhe subjazem através de um
analisado neste e em outros trabaJh te'o. pro ema -Ja por nós
· os an nores (13) d n· "diktat" unilateral, organizado e sistemático (1 5). Tudo isto é cor-
tiV~ pretender abarcar todos os contratos de ad - ( - e a rr~c­
recto. Mas importa proceder a distinções importantes, consoante o
nars e consumidores) ao passo 1. esao entre profissw-
sobre as cláusulas co~tratuais ge;~i: asóe~o~gu~sa, sendo uma lei tipo de problemas e a modalidade de controlo em causa.
aos contratos de adesão celebrados dtr , d
tcan.a, ~par~ntemente, Com efeito, estamos em crer que é fundamentalmente a pré-
tra:os de adesão que tivessem por bas~~%u e:a vza, Isto e,. aos co~­ -elaboração das cláusulas e a ausência de negociações que justifi-
Da.t que, aparentemente elo men s as ~ontratuais gerazs. cam as medidas de controlo no plano da formação do contrato -
comunitário _ a lei pot!gue _os - el ~ontranando o legislador mormente os especiais deveres de comunicação e de informação e
sulas pré-elabo;adas faltass sa nao s~ ~p rcasse (?) qu~do às cláu- as regras sobre "cláusulas-surpresa" - , bem como as medidas que
terminação (am· da em os requtsitos da generalidade e inde-
que o contrato fosse de ad - ·fi
requisitos das pré-disposição unilateralidad esa?, .Viden tcando-se os 14
( ) Acompanhamos a posição expressa na entrevista que demos à Revista
• e e ngi ez). Actualidade Jurídica, Ano I, n. 0 11, Fevereiro de 1998, pp. 3-8, esp. 5-6, e já antes, nos
nossos trabalhos sobre El problema de las condiciones generales de los contratos y la
( '3) Cfr . directiva sobre cláusulas abusivas en los contratos de consumidores, cit., pp. 95-96,
·• supra, n... 2 (os dois últimos parágrafos) 3 5 6 be
e (li). • ' e , m como as notas (9) 98-99 e 101, e La transposition de la directive européenne sur les clauses abusives au
Portugal, cit. , pp. 200-201.
139
O NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO
138 ANTÓNIO PINTO MONTEIRO

. as cláusulas do contrato, o que sucede quan?o um co~~


integram o controlo do conteúdo, pela consagração de um vasto negocta:e limita a ter de aderir, se quiser contratar, a clausulas pre-
elenco de cláusulas absoluta e relativamente proibidas. traente trem e sem possibilidade de as alterar.
Já o controlo preventivo actuado através da acção inibitória, -elaboradas por ou 'b '[idade de o aderente defender os
F lha neste caso, a posst L - d
porém, só releva perante cláusulas contratuais gerais, isto é, .a ' ntribuir autonomamente para a conformaçao 0
perante cláusulas que preencham os requisitos da generalidade e seus mteresses, de co tades alma do contrato, mais não traduz,
indeterminação. Pois se as cláusulas, apesar da sua pré-elaboração contrato: do acordo. de ;~~ão vontade e dos interesses de uma da_s
eh
e rigidez, se destinarem a um só contrato ou a uma única utiliza- de facto, o qu~ a _tmp 'do . se ao aderente não é dada a posst-
Daí os Imutes acresct s. 1 ·
ção, deixa de poder funcionar o controlo preventivo que a acção
inibitória visa. Aqui, sim, é fundamentalmente a dimensão colec-
1fz:J~de de se defender pef:los1hse~ Pterrvóp~~~ :eif~ t~:e~~t=r ~b~~~~~
omnensar essa a a, m .
tiva que justifica esta forma de controlo. Por isso a própria Direc- lador a ~ r l'não funciona ou funciona mal em tats casos,
tiva 93/13/CEE, no seu art. 7. 0 , faz depender a consagração de O mecam~mo con:~temente o modelo de justiça contratual a que
medidas desta índole de cláusulas "redigidas com vista a uma uti- ftacassan o,conco limites acrescidos à liberdade contratual,
lização generalizada" (n. o 2). conduz. Dat, repete-se, os 'b 'nd e cláusulas em contratos de ade-
impondo-se deveres ou proL L o-s. ' tos ne ociados.
Em contrapartida, todavia, faz sentido exigir o cumprimento são, diferentement~ do que sucede?act~amdcoen~:ciaçõ~s com tudo o
dos especiais deveres de comunicação e informação, por exemplo, O , asstm como a ausen d
'. r
b '

bem como o respeito pelas proibições legalmente consagradas, ra, ~e~ . se verifica em todos os contratos e
que isso stgmftca_ e unp tca, t'tut' a razão de ser das especiais
ainda que às cláusulas, desde que pré-elaboradas, faltem os requi- d - e como e ela que cons 1 . 'b' , . )
sitos da generalidade e indeterminação, se não houver negociações a esao, l das na lei (salvo a acção tm ttona '
medidas de contro o consa~ra . , a licar a todos os contratos
individuais. Cremos que as preocupações são idênticas, num e estas m:_didas _serão (ou ~en~Ja~!~efom (oufossem) celebrados
noutro caso. A falta de participação do aderente na elaboração das de adesao e nao apenas aque e~ q . Assim sendo conseguir-
cláusulas e a falta de negociações -melhor, o afastamento da pos- atra~és de ~láusulas ~on!ratua~s~~;:~~ pretendido peÍa Directiva.
sibilidade de participar em qualquer desses momentos - justifi- -se-ta, por vta he~eneutlca, oque esta nossa posição estivesse cor-
cam que sejam combatidos os riscos acrescidos de desconheci- De todo o mo o~ me~mo ue o roblema tenha entretanto
mento das cláusulas e do seu teor abusivo ou injusto, através das
medidas de controlo que a lei previu. Do·ponto de vista da tutela
r~ctda, nas-eor ~~~:e~~:cp~~e~i: l';gislativa. Esta foi, aliás, a po~ição
vm o a . , 'd do além do mats, as
do aderente, é irrelevante que tais cláusulas se destinem apenas a ara que sempre nos inchnamos, const eran ' - roblema
si ou a uma generalidade de contratos. ~-1ficuldades e insegurança suscitad~s p_ela soluçao do pé , do
· (16) D ue já dtscordamos, por m, e
É que num contrato negociado, rectius, num contrato em que por via interpre~attva . o q bl foi solucionado (?) pelo
existe a possibilidade de negociar com o parceiro, cada uma das modo pouco fellz por que o pro ema
partes tem a possibilidade de se defender, de acautelar os seus inte- Decreto-Lei n.o 249/99 (17).
resses, de comparticipar na modelação do contrato; se não o faz,
. i ue a lei deveria esclarecer este ponto,
podendo fazê-lo, dir-se-á que sibi imputet. Já não assim, porém, se ( 16)De iure condendo, pareCia-nos, po s, ~ adas (salvo a acção inibitó-
. d · d'to de as soluçoes consagr
não houver negociações, melhor, se não houver a possibilidade de sem prejuízo, todavia, e IUre con I todo' tratos de adesão. Ver os nossos trabalhos
ria) deverem desde logo aphcar-se a s os con
citados na no.ta ~14). b rdar (e a passo rápido), ainda que o d~ploma
(' 5 )Aspecto jã devidamente realçado por MoTA PINTO, Contratos de adesão, cit., (17) E so este p~nto ~ue vamos a~~ o 23 o no tocante às cláusulas ambtguas _e
p. 130, e a que, na actualidade, SousA RrBEJRo, O problema do contrato, cit., pp. 456, ss., também introduza modificaçoes aos ~- . e M. ' amos lt'mitar-nos repito, à modt-
. - • 1 ecnvamente as v '
ao direito de confhtos ap1tcave ' resp o . . da qual o legislador de 1999 achou
confere especial ênfase e ·desenvolvimento no cootexto da sua posição, que privilegia a _ grada tual no 2 do art. I. , atraves
dimensão colectiva na busca das razões que justificam "a especificidade distintiva" das ficaçao consa no ad~fi ulda.des colocadas pela Directiva 93/13/CEE.
por bem ultrapassar as t te
cláusulas contratuais gerais e do regime legal consagrado.
140
ANTÓNIO PINTO MONTEIRO
O NOVO REGIME JURÍDICO DOS CONTRATOS DE ADESÃO i41

E uma primeira observação que não pode deixar de fazer-se


• n. o 2 ' no
Depois, há uma cont.r~dlçaoN:overdade, a lei fala de, "cláu~
tem a ver, em geral, com a menor qualidade e rigor do texto da lei, · - ,
seio do propno
t cante ao tempo verbal utllt~a~?·. dualizados", e não de clausulas
a começar logo pelo Preâmbulo do diploma. Entre outros reparos
(como, por ex., o incorrecto modo de citar a Directiva, o que, infe-
:~nserir, ~e
o las inseridas em contratos m lVI o tempo verbal utilizado no
lizmente, vai constituindo prática generalizada do Diário da Repú-
blica!), cremos que é de lamentar que o legislador de 99 não saiba o que ?fiodse t"''"j.':Z,"
:;,mpode influenciar"_ Pois se
ou se tenha enganado quanto à data do Decreto-Lei n. o 220/95, que termo da frase: o . , e~/na . " o verbo deveria vtr no passa o
não é de 31 de Janeiro, como se diz no Preâmbulo, mas de 31 de trata de cláus~las ,G~) I_?Ser~d:i~fluenciar- e não no ~rese~te!
Agosto! É certo que o Decreto-Lei n. 0 220/95 saiu com essa incor- - que o destmatar~o nao por~tende ver as cláusulas insendas, tsto
recção na epígrafe - mas foi logo rectificado pela Declaração de Mero lapso? Ou ~era que ~e p a resenta ao aderente, antes da
Rectificação n. o 114-B/95 (DR, I Série-A, n. o 201/95, Suplemento, é incluídas no ' contrato que s~ p deveria falar-se de proposta e
' celebração? Só que, a ser asstm,
de 31 de Agosto), além de que bastava reparar na data do Diário da sua
na ,, . " r
República em que foi publicado (31 de Agosto de 1995) para de No de "contrato . - "na-o pode influenctar ' tca-
imediato se detectar aquele lapso. . 'to da expressao , " ·
Amda a respei . 1' .gualmente a clausu1as CUJ 0
Mais grave do que isso, porém, foi o modo por que o legisla- mos sem saber porquê! A let apdtc~-~e~tinatário não pode influen-
onteúdo previamente elabora o. ueA? Porque há ou houve
dor
0 de 1999 decidiu transpor o art. 3. o da Directiva. O art. 1. 0 ,
aente? Por erro do destinatan~ .. or
0 c - d ·nifluenczar porq · , . ? p
n. 2, do Decreto-Lei n. 446/85, passou a ter a seguinte redacção, ciar"- mas nao po e l
0
por força do Decreto-Lei n. 249199: "O presente diploma aplica- coacção moral do outro contr I' . ~ ções de facto ou de dtretto,
dolo daquele? Em suma, q~e Imt ~ 'conteúdo das cláusulas?
-se igualmente às cláusulas inseridas em contratos individualiza-
. t, ·0 de mfluenctar o . 'd f'
dos, mas cujo conteúdo previamente elaborado o destinatário não impedem o destma an "sem révia negocial indzvz ua e
pode influenciar".
8
Teríamos claramente preferido- como chegá- Porque elas foram ~Iabo~das ockdas, pela contraparte, à qu~l
mos a dizer (1 ) - uma alteração semelhante à que o legislador ale- ão vão poder ser dtscutlda.s, neg d s "subscrever ou acez-
mão introduziu
0 àAGB-Gesetz, aprovada em 19 de Julho de 1996 (§
n
nada mais resta do ~ue l'mztar-se
l
e a estava já no n. o 1 d o
a terisso
24 a, n. 2). Pois do que se trata é de estender as soluções da lei tar"? Mas se é asstm, c~m~p~e~e~écnica utilizada pelo (novo)
das cláusulas contratuais gerais (menos a acção inibitória) aos mesmo art. 1. o••não se ap a~ ~: ~rpegado, nesse ponto, à letra do
o 2 que se afigura demasw .
contratos de adesão a cujas cláusulas faltem os requisitos da gene-
ralidade e indeterminação, nos tennos já explicados. ::rt_ 3'.•, n.• 2, da Directi-:_a.
ce ue a lei pretenda abranger -,
Tal como foi aprovado, o actual n. o 2 do art. 1. o suscita várias De todo o modo, nao pare q
reservas. A expressão "contratos individualizados", desde logo,
. d r ar a _ contratos que não seiam
:.~
de adesão, so
.
"rectius", seJa e ap te l uer proposta previamente e a-
pelo facto de terem por b~e u:na \u;eqinfluenciar ... Seria ir longe
não merece a nossa simpatia e destoa dos restantes preceitos da lei, 1
onde não volta a ser utilizada ( 19).
borada que o destmatário na? p . Ia sua imprecisão e falta de
. d também a Directiva, pe ( )
demais, apesar e 'tuir suporte para tal... 20 ·
8 rigor, não deixar d? ~ode; cons~l da elo termo "destinatário". Tal
(1 ) Cfr. os nossos trabalhos sobre E/ problema de las condiciones genera/es de Uma outra duvtda e susctta p o 2 se aplica qualquer que
los contratos y la directiva sobre cláusulas abusivas en los contratos de consumidores, d e que o novo n. -
como está, depreen e-s . , . " simples consumidor ou nao.
seja a qualidade do "destmat~rzo ' era já o âmbito de aplicação
cit.,Portugal,
au La transposition de la directive européenne sur les clauses abusives
101,p.e 201.
pp. 99 e cit.,
9
O que se harmoniza com aque e que
..
0

(1 ) Só no n. 1 do art. I. o se fala em "negociação individuar, mas para contrapor


à negociação colectiva, que não afasta a aplicação do diploma (salvo na medida em que
seja abrangida pelas excepções do art. 3. 0 , ai. e)).
e )) Sobre o ponto, cfr. LARENzfWOLF' Allgemeiner Tel.1des B uro
.. ·oer/ichen Rechts,
8." ed., München, 1997, p. 787.
142 ANTÓNIO PINTO MONTEIRO

do Decreto-lei n. 0 446/85, desde o início, que nunca se limitou a


disciplinar as relações com consumidores. É certo que a Directiva
visa apenas os contratos entre profissionais e consumidores
(art. 1. 0 , n. 0 1). Mas isso não impede que o legislador interno vá
mais longe, como parece ter ido. Teria sido útil, de todo o modo,
uma explicação no Preâmbulo do diploma. Até porque a lei alemã,
que também não limita o seu campo de aplicação às relações com
consumidores, restringiu a alteração de 96, todavia, aos contratos O DIREITO DE REGRESSO DO VEND;DOR FINAL
com consumidores ("Verbrauchervertrãge": § 24 a). DE BENS DE CONSUMO ( )
Por último, o actual n. 0 2 do art. 1. 0 , ao alargar o âmbito mate-
rial de aplicação da lei, não exceptuou a acção inibitória. Parece-
-nos, contudo, pelas razões já antes enunciadas, que o controlo pre- Pelo Conselheiro Paulo Mota Pinto
ventivo actuado através da acção inibitória pressupõe cláusulas
contratuais gerais, só neste caso ganhando relevo e razão de ser.
É significativo que o § 24a da AGB-Gesetz, introduzido em 1996 SUMÁRIO:
para dar cumprimento à Directiva, não inclua, entre os preceitos ta no direito português vigente e na
I. - O problema. II. - A. respos tos da venda de bens de con-
que manda aplicar aos Verbrauchervertriige, os §§ 13 e ss, que .
Directiva 1. 999
;44/CE relattva a certos aspec • . t .
direito portugues v1gen e,
' • •
f as a ela relativas. a
)
0 . •
equivalem, na lei alemã, aos arts. 25. 0 e ss da lei portuguesa sobre sumo e das garan I_ • bl 4
de interpretação do artigO ..
b) O artigo 4." da dtrecttva; c) Pro em;s S . "tos· b) A questão dares-
a acção inibitória. lll. - Regime do direito de regresso:_ ac u~~~ss~postos; d) Objecto;
ponsabilidade directa do pro?~t~~· i Prazos· bb) Ónus do vendedor
e) "Acções e condições de exerclctod. afi~tos· cc) Ónus da prova da ante-
8. Conclusão . · e denunctar os e et ' · •t
de exammar a cotsa "d d . d"' Questões processuais. f) Ltmt es
rioridade da falta de confomu a :_. u'
Aqui fica, para concluir, nas suas linhas gerais, um retrato das à disponibilidade. IV. - Conclusoes.
soluções consagradas pela lei portuguesa, desde a sua versão ini-
cial, de 1985, até à versão actualmente em vigor, após as modifi- 1_ o problema
cações operadas em 1995 e em 1999. Pese embora esta última . d" - d produção e cornerciali-
reforma, em termos menos felizes, a lei acolhe soluções que me É sabido que n~s actuats c~ ~ç~e~o ~e funções económicas e
parecem francamente positivas e adequadas aos principais proble- zação com uma mmto acentua vts~ a adora maioria
mas que este modo de contratação levanta. com~ especializaçãoddedcad~;~~:;:;e:~e~~n~~; final (1), mas
Haverá, todavia, que prosseguir o caminho aberto pela acção dos bens -. sobretu o os
inibitória, sendo no p/àno preventivo e abstracto, independente da
Prof Doutor Mário Júlio de
posição que possa tomar o singular aderente de uma relação nego- . tudos em homenagem ao
() Artigo escnto para os es .
·
. de Católica Portuguesa.
cial concreta, que importa sobretudo insistir, "maxime" quando se Almeida Costa, organizados pela un:verslda f do com que se fala de consumo no
pretenda defender eficazmente o consumidor. t') Expressão utilizada, n~o no sen 1 de "uso não profissional", relev~nte
. 208 o do Código Civil, mas stmplesmente no d ~..hgo 2 o o o 1 da Lel de
Finalmente, quanto à law in the courts, importa referir que é amgo · ·d nos tennos o ... " · ' · ' .
para a qualificação do autor como c~~~;9~r,de 31 de Julho). A expressão "consumtdo-
hoje significativa e importante a jurisprudência publicada neste Defesa dos Consumidores (LDC - t ; L i n o 446/85 de 25 de Outubro.
. " é como se sabe a usada no Decre o- e . ,
domínio, o que faz dela, nesta medida, uma efectiva law in action. res fimats , '

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