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STJ-Petição Eletrônica recebida em 27/02/2023 07:59:50 (e-STJ Fl.

3)

Egrégio Superior Tribunal de Justiça,


Colenda Turma Julgadora,
Doutos Ministros,

ANA BEATRIZ DA SILVA GOMES, inscrita na OAB/MG 188.826, com endereço


profissional na Av. Augusto de Lima, 1800, sala 407, Barro Preto, Belo Horizonte/MG, com
fundamento no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, e arts. 647 e seguintes do
Código de Processo Penal, vêm a Vossa Excelência impetrar ordem de

"HABEAS CORPUS"

em favor de DEIVIDE ALLISON DOS SANTOS, natural de Serra do Salitre/MG,


nascido em 18/04/1989, filho de Sirley Alves dos Santos e Amilton Pedro dos Santos,
portador do RG 7966366, em face de constrangimento ilegal imposto pela 6ª Câmara
Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, que manteve a excessiva e
incorreta dosimetria da pena, promovendo constrangimento ilegal referente a prisão por
tempo maior que o necessário, pelas razões e fundamentos a seguir expostos.

I. BREVE HISTÓRICO
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

No dia 10/04/2015 transitou em julgado acordão prolatado pela 6ª Câmara do


TJMG, que manteve a condenação do então apelante e fixou a pena de 24 anos, 06 meses e
15 dias de reclusão, em regime inicial fechado, pela prática do delito previstos no art. 121,
§2º, II, IV, art. 211, ambos do CP e art. 244-B do ECA. A decisão coatora manteve a
reprimenda da sentença que havia sido aplicada de forma incorreta.

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II. DO CABIMENTO DE HABEAS CORPUS PARA DESCONSTITUIÇÃO DE


FLAGRANTE ILEGALIDADE – AUSÊNCIA DE COTEJAMENTO
PROBATÓRIO – REMANEJAMETO DA REPRIMENDA CORPORAL –
DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO
O presente Habeas Corpus tem como finalidade a revisão da pena imposta ao
Paciente, já transitada em julgado, que, em resumo, promoveu a dosimetria da pena de forma
incorreta conforme será demonstrado.
O pedido pode ser analisado tão somente a partir do mencionado acórdão, da
sentença de primeiro grau e da certidão de antecedentes criminais. Não há dilação probatória
e análise de mérito. Tão somente matéria de direito, com teses já pacificadas por esta Corte.
1) Sobre o cabimento de Habeas Corpus substitutivo de recurso próprio, este
STJ já decidiu antes sobre a fungibilidade de habeas corpus com revisão criminal. Isso
porque, diante de matéria exclusiva de direito e com flagrante ilegalidade a substituição dos
meios de impugnação é possível.
A este respeito:

AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS


SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. NÃO
CABIMENTO. TRÁFICO DE DROGAS. SEGREGAÇÃO
CAUTELAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA NA
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. QUANTIDADE E
VARIEDADE DE DROGAS. INEXISTÊNCIA DE NOVOS
ARGUMENTOS APTOS A DESCONSTITUIR A DECISÃO
IMPUGNADA. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
I - A Terceira Seção desta Corte, seguindo entendimento firmado
pela Primeira Turma do col. Pretório Excelso, firmou orientação no
sentido de não admitir a impetração de habeas corpus em
substituição ao recurso adequado, situação que implica o não-
conhecimento da impetração, ressalvados casos excepcionais em
que, configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento
ilegal, seja possível a concessão da ordem de ofício.
II - A segregação cautelar deve ser considerada exceção, já que tal
medida constritiva só se justifica caso demonstrada sua real
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indispensabilidade para assegurar a ordem pública, a instrução


criminal ou a aplicação da lei penal, ex vi do artigo 312 do Código
de Processo Penal.
III - Na hipótese, o decreto prisional encontra-se devidamente
fundamentado em dados concretos extraídos dos autos, que
evidenciam que a liberdade do Agravante acarretaria risco à ordem
pública, notadamente se considerada a gravidade concreta da

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conduta atribuída ao Agravante, haja vista a apreensão de droga, em


quantidade e variedade, que denotam o envolvimento, ao menos em
tese, do Agravante com a mercancia ilícita de substâncias
entorpecentes;
nesse sentido, consta que foram encontradas, no contexto da
traficância desenvolvida, (422 porções de cocaína, 461 porções de
crack, 334 porções de maconha), além da apreensão de apetrechos
comuns à traficância, tais como balança de precisão e rádios
comunicadores, circunstâncias que evidenciam um maior desvalor
da conduta, a justificar a medida extrema em seu desfavor.
IV - A presença de circunstâncias pessoais favoráveis, tais como
primariedade, ocupação lícita e residência fixa, não tem o condão de
garantir a revogação da prisão se há nos autos elementos hábeis a
justificar a imposição da segregação cautelar, como na hipótese.
Pela mesma razão, não há que se falar em possibilidade de aplicação
de medidas cautelares diversas da prisão.
V - É assente nesta Corte Superior que o agravo regimental deve
trazer novos argumentos capazes de alterar o entendimento
anteriormente firmado, sob pena de ser mantida a r. decisão
vergastada pelos próprios fundamentos.
Precedentes.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 770.279/SP, relator Ministro Jesuíno Rissato
(Desembargador Convocado do Tjdft), Quinta Turma, julgado em
18/10/2022, DJe de 28/10/2022.)

No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal entende não obstante o trânsito em


julgado de sentença penal condenatória, as particularidades do caso autorizam a utilização do
Habeas Corpus como substitutivo da revisão criminal. Esse entendimento valoriza o Habeas
Corpus como um instrumento de defesa da liberdade de locomoção, quando os fatos se
mostrarem líquidos e certos.

EMENTA Habeas corpus. Penal. Posse ilegal de munição de uso


restrito. Artigo 16 da Lei nº 10.826/03. Condenação transitada em
julgado. Impetração utilizada como sucedâneo de revisão criminal.
Possibilidade em hipóteses excepcionais, quando líquidos e
incontroversos os fatos postos à apreciação da Corte. Precedente da
Segunda Turma. Cognoscibilidade do habeas corpus. Pretendido
reconhecimento do princípio da insignificância. Possibilidade, à luz
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

do caso concreto. Paciente que guardava em sua residência uma


única munição de fuzil (calibre 762). Ação que não tem o condão de
gerar perigo para a sociedade, de modo a contundir o bem jurídico
tutelado pela norma penal incriminadora. Precedentes. Atipicidade
material da conduta reconhecida. Ordem concedida. 1. A decisão
que se pretende desconstituir transitou em julgado, sendo o writ,
portanto, manejado como sucedâneo de revisão criminal (v.g. RHC
nº 110.513/RJ, Segunda Turma, Relator o Ministro Joaquim

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 27/02/2023 07:59:50 (e-STJ Fl.6)

Barbosa, DJe de 18/6/12). 2. Todavia, a Segunda Turma (RHC nº


146.327/RS, Relator o Ministro Gilmar Mendes, julgado em
27/2/18) assentou, expressamente, a cognoscibilidade de habeas
corpus manejado em face de decisão já transitada em julgado em
hipóteses excepcionais, desde que líquidos e incontroversos os fatos
postos à apreciação do Supremo Tribunal Federal. 3. O
conhecimento da impetração bem se amolda ao julgado paradigma.
4. O paciente foi condenado pelo delito de posse de munição de uso
restrito (art. 16 da Lei nº 10.826/03), sendo apenado em 3 (três)
anos e 6 (seis) meses de reclusão em regime fechado e ao pagamento
de 11 dias-multa. 5. Na linha de precedentes, o porte ilegal de arma
ou munições é crime de perigo abstrato, cuja consumação
independente de demonstração de sua potencialidade lesiva. 6. A
hipótese retratada autoriza a mitigação do referido entendimento,
uma vez que a conduta do paciente de manter em sua posse uma
única munição de fuzil (calibre 762), recebida, segundo a sentença,
de amigos que trabalharam no Exército, não tem o condão de gerar
perigo para a sociedade, de modo a contundir o bem jurídico
tutelado pela norma penal incriminadora. 7. É certo que a sentença
condenatória reconheceu a reincidência do paciente. Porém, bem
apontou a Procuradoria-Geral da República que a questão “está
pendente de análise em sede de revisão criminal, porque, ao que
parece, a condenação que gerou a reincidência refere-se ao
homônimo ‘José Luiz da Silva Gonçalves’.” 8. Não há, portanto,
óbice à aplicação do princípio da insignificância na espécie, sendo
de rigor seu reconhecimento. 9. Ordem concedida para, em razão
do princípio da insignificância, reconhecer a atipicidade material da
conduta imputada ao paciente.
(HC 154390, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado
em 17/04/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-087 DIVULG
04-05-2018 PUBLIC 07-05-2018)

2) No que diz respeito o manejo de habeas corpus para análise da dosimetria da pena
e alteração de regime inicial, como é o caso vertente, esta Corte também já entendeu cabível
desde que não demanda análise de prova e esteja presente flagrante ilegalidade. Neste sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. TRÁFICO


DE ENTORPECENTES. DOSIMETRIA. PENA INFERIOR A
8 ANOS. REGIME FECHADO. CIRCUNSTÂNCIAS
JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. CONSTRANGIMENTO
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. AGRAVO DESPROVIDO.


I - A parte que se considerar agravada por decisão de relator, à
exceção do indeferimento de liminar em procedimento de habeas
corpus e recurso ordinário em habeas corpus, poderá requerer,
dentro de cinco dias, a apresentação do feito em mesa relativo à
matéria penal em geral, para que a Corte Especial, a Seção ou a
Turma sobre ela se pronuncie, confirmando-a ou reformando-a.

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II - A via do writ somente se mostra adequada para a análise da


dosimetria da pena, quando não for necessária uma análise
aprofundada do conjunto probatório e houver flagrante ilegalidade.
III - O Plenário do col. Supremo Tribunal Federal declarou
inconstitucional o art. 2º, § 1º, da Lei n. 8.072/90 - com redação
dada pela Lei n. 11.464/07, não sendo mais possível, portanto, a
fixação de regime prisional inicialmente fechado com base no
mencionado dispositivo. Para tanto, devem ser observados os
preceitos constantes dos arts. 33 e 59, ambos do Código Penal.
IV - No presente caso, a quantidade de droga aprendida (35,54kg de
maconha) revela maior gravidade, o que justifica a manutenção do
regime inicial fechado, pois está de acordo com os parâmetros legais
expressos no art. 33, § 2º, b, do Código Penal.
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 766.321/SC, relator Ministro Jesuíno Rissato
(Desembargador Convocado do Tjdft), Quinta Turma, julgado em
18/10/2022, DJe de 28/10/2022.)

Também neste sentido:


PROCESSO PENAL E PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. ABSOLVIÇÃO.
REVOLVIMENTO DE PROVA. IMPROPRIEDADE DA VIA
ELEITA. DOSIMETRIA. IMPOSSIBLIDADE DE FIXAÇÃO
DA PENA-BASE ABAIXO DO MÍNIMO LEGAL. REGIME
PRISIONAL MANTIDO. ÓBICE À CONVERSÃO DA PENA
CORPORAL EM RESTRITIVA DE DIREITOS. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. O habeas corpus não se presta para a apreciação de alegações que
buscam a absolvição do paciente, em virtude da necessidade de
revolvimento do conjunto fático-probatório, o que é inviável na via
eleita.
2. Se as instâncias ordinárias, mediante valoração do acervo
probatório produzido nos autos, entenderam, de forma
fundamentada, ser o réu autor do delito descrito na exordial
acusatória, a análise das alegações concernentes ao pleito de
absolvição demandaria exame detido de provas, inviável em sede de
writ.
3. A individualização da pena, como atividade discricionária do
julgador, está sujeita à revisão apenas nas hipóteses de flagrante
ilegalidade ou teratologia, quando não observados os parâmetros
legais estabelecidos ou o princípio da proporcionalidade.
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

4. Descabe falar em fixação da pena-base abaixo do piso legal,


devendo pena ser mantida acima do mínimo estabelecido no
preceito secundário, máxime se considerada a presença de vetoriais
desabonadoras.
5. Mantido o quantum de pena, não se cogita da fixação de meio
prisional menos severo, bem como de conversão da sanção corporal
em restritiva de direitos.
6. Agravo desprovido.

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(AgRg no HC n. 767.083/SP, relator Ministro Ribeiro Dantas,


Quinta Turma, julgado em 11/10/2022, DJe de 18/10/2022.)

Conforme será observado, o caso vertente trata de ilegalidade no que se refere a


fixação da pena.

III. DA NECESSIDADE DE REDIMENSIONAMENTO DA PENA BASE DO


CRIME DE HOMICÍDIO QUALIFICADO

Na comarca de Patrocínio/MG, em 04 de setembro de 2014, o Paciente Deivide


Alisson dos Santos foi condenado pelo Conselho de Sentença, entre outros crimes, pela
suposta prática de homicídio qualificado (art. 121, §2º, I e IV, CP). Ao final do julgamento,
para este delito, foi fixada a reprimenda corporal de 21 anos de reclusão e, em sede de recurso
de apelação, o acórdão reduziu para 20 anos de reclusão, a ser cumprida em regime inicial
fechado.
Data maxima venia, tanto a sentença de primeiro grau, quanto o acórdão, que
manteve quase a sua integralidade, tiveram suas reprimendas fixadas acima de um patamar
mínimo de razoabilidade. Como será visto, tanto a fundamentação utilizada para desabonar
as circunstâncias judiciais da primeira fase, assim como o quantum de exasperação estão além
do razoável e, ante a ausência de dilação probatória, podem ser revistos.
Considerando que apenas a primeira fase da dosimetria da pena será aqui
questionada, eis que concentrou todo o aumento da pena e comportou 20 anos de prisão. O
Magistrado Presidente, respeitável doutor Serlon Silva Santos assim procedeu na dosimetria
da primeira fase.

III.1. Levantamento da sentença de primeiro grau e do acórdão coator


Em relação a CULPABILIDADE, a considerou mais alta que o normal e a
tratou como “fria e premeditada” com “intensa vontade de ceifar a vida da vítima” e “efetuou
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

dois disparos em sua cabeça”. Vejamos o inteiro teor:

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Na sequência, o ilustre julgador desvalorou a PERSONALIDADE, ao


fundamento de que a mencionada certidão mostraria predisposição para o crime. Esta
certidão apontada é a certidão de antecedentes criminais.

Confirmando e reconhecendo que a certidão de fls. 100/102 era apenas a CAC,


afirmou o acórdão:
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Os antecedentes foram considerados maculados.

Ao final, foi considerado que as CONSEQUÊNCIAS DO CRIME foram


graves, eis que a vítima teria 16 anos. Nesse sentido:

Feito isso, fixou a pena base em 20 anos de reclusão.

Em segunda instância, o acórdão manteve a pena base sob os mesmos


fundamentos. Senão, vejamos trecho do voto:
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(...)

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Modificando a sentença, o acórdão coator tão somente reconheceu a presença


da confissão espontânea e a compensou com a agravante da reincidência. Assim, ficou ao
final a pena de 20 anos de reclusão.

Sobre os “motivos” e “circunstâncias” do delito – ambos utilizados pela sentença


Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

para qualificar – nenhum foi incluído na dosagem da pena base ou como agravante
– impossibilidade de se fazê-lo ante a ausência de recurso do Ministério Público
Como é se observar na sentença, não houve majoração específica para incluir a
segunda qualificadora como agravante ou majoração na pena base. O Magistrado de piso e,

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com manutenção pelo acórdão, sem perceber, utilizou as duas qualificadoras reconhecidas
para, igualmente, qualificar o crime.

Então, como a segunda, que poderia ter sido utilizada fundamentadamente na


pena base, ou como agravante, não foi, não se pode mais ser utilizada em prejuízo do
Paciente.

III.2 Aspectos que merecem reparo.


III.2.1. Fundamentação incorreta.
Feito este levantamento, será demonstrado que houve excesso por parte do Juiz
Presidente e pela Câmara Criminal.
Sobre a CULPABILIDADE, em um delito de homicídio qualificado não
ultrapassa os limites da reprovabilidade já esperada pelo legislador dois disparos de arma de
fogo contra a cabeça do ofendido. Ao contrário. Propelir 02 (dois) disparos, provindo de
uma arma que comporta ao menos 6 projeteis, em uma empreitada com 02 (dois) réus e 01
(um) menor infrator, embora reprovável, está abaixo do esperado para atos criminosos
semelhantes.
Além disso, a suposta premeditação não consiste em fundamento idôneo para
considerá-lo mais reprovável que o normal. A razão para isso reside no próprio iter criminis,
onde a cogitação e preparação são doutrinariamente reconhecidas como antecessoras de
crimes e consistem em atos impuníveis. Afinal, não é plausível considerar a doutrina a
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

cogitação e preparação atos impuníveis e o julgador utilizar apenas os supostos pensamentos


como merecedores de sanção penal, majorando a pena.
Embora grave, o delito em tela não ultrapassa os limites de reprovabilidade já
previstos pelo legislador quando da opção pelo preceito secundário.

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Sobre a PERSONALIDADE, também não há o que se falar em desabonadora.


É unânime pela doutrina e pela jurisprudência que a personalidade não é um conceito
jurídico, mas do âmbito de outras ciências - Psicologia, Psiquiatria, Antropologia –, e deve
ser entendida como um complexo de características individuais próprias, adquiridas, que
determinam ou influenciam o comportamento do sujeito. Deve ser aferida a partir de laudos
específicos. Certidão de antecedentes não deve ser considerada.
Por fim, em relação a fundamentação sobre as CONSEQUÊNCIAS DO
CRIME, majoradas ao fundamento de a vítima ter apenas 16 anos, não pode ser mantida. A
idade da vítima se trata de “consequência do crime”, mas sim de circunstância objetiva
pessoal da vítima, situações absolutamente diversas.
Conforme se observa, todas as fundamentações trazidas pela Sentença e
mantidas pelo Acórdão são incorretas. Desrespeitam a orientação doutrinária e
jurisprudencial e, principalmente, acarreta prisão por tempo maior do que o necessário.
Então, todas elas devem ser suprimidas e a pena base deve retornar ao mínimo legal.

III.2.2. quantum de aumento exorbitante


Ainda que sejam mantidas as circunstâncias judiciais pelos seus próprios
fundamentos, há que se reconhecer que o quatum de aumento para elas ultrapassa o limite
convencionado pela doutrina e pela jurisprudência.
No caso, a pena corporal saltou de 12 (doze) para 20 (anos) em decorrência de
apenas 04 (quatro) circunstâncias judiciais.
Esse aumento compreende o equivalente a fração de 1/5 (um quinto) de
aumento para cada uma das três circunstâncias. Acima do convencionado pela doutrina e
jurisprudência que tem por regra estabelecer 1/8 (um oitavo) para cada uma.

IV. DA NECESSIDADE DE REDIMENSIONAMENTO DA PENA BASE DO


CRIME DE OCULTAÇÃO DE CADÁVER
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

Ainda neste julgamento, o Paciente foi sentenciado a pena de 01 (um) ano e 08


(oito) meses de reclusão e 16 (dezesseis) dias multa, pela suposta prática do crime de
ocultação de cadáver.

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IV. Levantamento da sentença de primeiro grau e do acórdão coator


Novamente, todo o aumento se concentra na primeira fase da dosimetria. No
caso, foi considerada desfavorável a circunstância judicial PERSONALIDADE em razão da
condenação pelo crime de furto presente na certidão de antecedentes criminais. Vejamos:

Os antecedentes foram tidos como desfavoráveis.

IV.2 Aspectos que merecem reparo.


IV.2.1. Fundamentação incorreta.
Embora grave, o delito em tela não ultrapassa os limites de reprovabilidade já
previstos pelo legislador quando da opção pelo preceito secundário.
Sobre a PERSONALIDADE, também não há o que se falar em desabonadora.
É unânime pela doutrina e pela jurisprudência que a personalidade não é um conceito
jurídico, mas do âmbito de outras ciências - Psicologia, Psiquiatria, Antropologia –, e deve
ser entendida como um complexo de características individuais próprias, adquiridas, que
determinam ou influenciam o comportamento do sujeito. Deve ser aferida a partir de laudos
específicos. Certidão de antecedentes, sobretudo quando há apenas uma condenação pelo
crime de furto, não deve ser considerada.
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

IV.2.2. quantum de aumento exorbitante


Ainda que sejam mantidas as circunstâncias judiciais pelos seus próprios
fundamentos, há que se reconhecer que o quatum de aumento para elas ultrapassa o limite
convencionado pela doutrina e pela jurisprudência.

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No caso, um delito com uma pena de 01 (um) ano de reclusão, não poderia ter
alcançado 01 (um) ano e 08 (oito) meses, se fosse respeitado o convencionado pela doutrina
e pela jurisprudência de aumento de 1/8.
Esse aumento foi o equivalente a um aumento de 1/3 para cada uma das
circunstâncias judiciais. Quase o triplo do estabelecido. Situação essa que merece ser
revertida.

V. DA NECESSIDADE DE REDIMENSIONAMENTO DA PENA BASE DO


CRIME DE CORRUPÇÃO DE MENOR

Ainda neste julgamento, o Paciente foi sentenciado a pena de 02 (dois) anos, 10


(dez) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, pela suposta prática do crime de corrupção de
menor.

V. Levantamento da sentença de primeiro grau e do acórdão coator


Na primeira fase da dosimetria persiste o aumento arbitrário. No caso, foi
considerada desfavorável a circunstância judicial PERSONALIDADE em razão da
condenação pelo crime de furto presente na certidão de antecedentes criminais, além dos
antecedentes.

Os antecedentes foram tidos como desfavoráveis.


Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

Ao final, foi estabelecida em 01 (um) ano e 08 (oito) meses de reclusão. Vejamos:

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Na segunda fase, ante a ausência de circunstâncias atenuantes e reconhecendo


a agravante da reincidência, a pena foi aumentada para 02 (dois) anos e 02 (dois) meses de
reclusão.

V.2 Aspectos que merecem reparo.


V.2.1. Fundamentação incorreta.
Embora grave, o delito em tela não ultrapassa os limites de reprovabilidade já
previstos pelo legislador quando da opção pelo preceito secundário.
Sobre a PERSONALIDADE, também não há o que se falar em desabonadora.
É unânime pela doutrina e pela jurisprudência que a personalidade não é um conceito
jurídico, mas do âmbito de outras ciências - Psicologia, Psiquiatria, Antropologia –, e deve
ser entendida como um complexo de características individuais próprias, adquiridas, que
determinam ou influenciam o comportamento do sujeito. Deve ser aferida a partir de laudos
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

específicos. Certidão de antecedentes, sobretudo quando há apenas uma condenação pelo


crime de furto, não deve ser considerada.

V.2.2. quantum de aumento exorbitante

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 27/02/2023 07:59:50 (e-STJ Fl.17)

Ainda que sejam mantidas as circunstâncias judiciais sopesadas do art. 59 do CP


pelos seus próprios fundamentos, há que se reconhecer que o quatum de aumento para elas
ultrapassa o limite convencionado pela doutrina e pela jurisprudência.
No caso, um delito com uma pena de 01 (um) ano de reclusão, não poderia ter
alcançado 01 (um) ano e 08 (oito) meses, se fosse respeitado o convencionado pela doutrina
e pela jurisprudência de aumento de 1/8. Esse aumento foi o equivalente a um aumento de
1/3 para cada uma das circunstâncias judiciais. Quase o triplo do estabelecido. Situação essa
que merece ser revertida.
Na sequência, ao reconhecer a agravante da reincidência, ao invés de estabelecer
o aumento de 1/6, assim como convencionado pela doutrina e pela jurisprudência, não o
fez. Ao invés disso, majorou a pena ao equivalente a uma fração de 1/3 para a reincidência.
O dobro do oportuno.

IV. DO PRAZO PARA JUNTADA DA MENCIONADA CERTIDÃO DE FL.


100/103
Tanto a sentença quanto o acórdão coator fizeram menção à certidão de
antecedentes de fls. 100/103, a qual foi utilizada pra sopesar a personalidade, considera-lo
com maus antecedentes e reincidente.
Até o momento, não foi logrado êxito em obter a referida certidão.
Todavia, prezando pela lisura e comprovação de todas as informações trazidas,
é necessário que Vossa Excelência conceda prazo para que seja juntada, o que se fará o mais
breve possível.

V. DO PEDIDO
Diante de todo exposto, pede-se que seja conhecido este habeas corpus e dado
provimento para reformar a decisão coatora, concedendo-se a ordem a fim de que seja
reconhecido:
1) Afastamento das circunstâncias judiciais (art. 59, CP) majoradas
Petição Eletrônica protocolada em 27/02/2023 08:08:04

incorretamente para o crime de homicídio;


2) Subsidiariamente, modificação do quantum de aumento;
3) Afastamento das circunstâncias judiciais (art. 59, CP) majoradas
incorretamente para o crime de ocultação de cadáver;
4) Subsidiariamente, modificação do quantum de aumento;

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 27/02/2023 07:59:50 (e-STJ Fl.18)

5) Afastamento das circunstâncias judiciais (art. 59, CP) majoradas


incorretamente para o crime de ocultação de cadáver;
6) Subsidiariamente, modificação do quantum de aumento do art. 59 CP e na
fração da reincidência.

Pede deferimento.

De Belo Horizonte para Brasília, 13 de fevereiro de 2023.

Ana Beatriz da Silva Gomes


OAB: 188.826
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