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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.

3)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

HC TJ: 2157489-37.2021.8.26.0000

TAINÁ SUILA DA SILVA, brasileira, advogada, inscrita na

OAB/SP nº 375.399, com escritório na Rua José Polli nº 34, Vila Industrial, São

José dos Campos, onde recebe intimações, vem, respeitosamente, à presença de

Vossa Excelência, com fulcro no art. 5º, incisos LXVIII e LXXVII, da Constituição

da República e artigos 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar a

presente ordem de

HABEAS CORPUS com PEDIDO LIMINAR


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Em favor de TAINAN CARDOSO DOS SANTOS, que sofre

constrangimento ilegal em seu direito de ir e vir por força do acórdão proferido

no julgamento de Apelação Criminal pela 10ª Câmara de direito Criminal do

Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo.

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DOS FATOS

O paciente foi condenado como incurso no artigo 33, caput da

Lei 11.3434/2006, à pena de cinco anos de reclusão e 500 dias-multa, em regime

fechado.

Não havendo recurso defensivo, foi impetrado Habeas Corpus

perante o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, requerendo o

reconhecimento da nulidade em razão da violabilidade do domicilio e

subsidiariamente, a aplicação da redutora prevista no artigo 33 §4º da Lei de

drogas em seu patamar máximo de 2/3, bem como determinar a substituição da

pena privativa de liberdade por restritiva de direitos e o cumprimento de pena

em regime inicial aberto.

Entretanto, a ordem foi parcialmente conhecida, denegando-a

na parte conhecida, sob o fundamento de que a matéria não se pode ser

analisada diante dos estreitos limites de cognição do habeas corpus, razão pela

qual se impetra o presente mandamus nesta Corte.


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É a síntese.

DOS FUNDAMENTOS

Do cabimento do writ
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Antes de adentrar o mérito do presente habeas corpus, cumpre

salientar a idoneidade do remédio constitucional para reformar decisões ilegais

como a que ora se ataca.

A despeito da previsão do recurso especial no artigo 105, inciso

III, da Constituição da República, não há impedimento para que se utilize da

via do habeas corpus para atacar acórdãos prolatados pelo Tribunal de Justiça

local quando sofre o paciente constrangimento ilegal e em se tratando de

matéria de direito e não discussão sobre matéria fática.

Este era o entendimento deste E. Tribunal Superior, conforme

trecho do aresto abaixo colacionado:

“A existência de recurso próprio ou de ação adequada à análise do pedido não

obsta a apreciação das questões na via do habeas corpus, tendo em vista sua

celeridade e a possibilidade de reconhecimento de flagrante ilegalidade no ato

recorrido, sempre que se achar em jogo a liberdade do réu. (HC 70387/SP

HABEAS CORPUS 2006/0251700-1. Relator(a) Ministro GILSON DIPP

(1111). Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA. Data do Julgamento


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

17/05/2007. Data da Publicação/Fonte DJ 25/06/2007 p. 268)

No caso, o que se pretende através do presente writ é afastar a

manifesta ilegalidade na condenação pelo tráfico de drogas e a fixação da

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reprimenda, que vai ao contrario do que reza a jurisprudência deste Tribunal

Superior, causando constrangimento ilegal ao paciente.

Há desta forma, apenas a discussão sobre matéria de direito,

pelo que perfeitamente cabível a utilização do writ.

Entretanto, cediço é que este Egrégio Tribunal vem entendendo

pelo não cabimento do habeas corpus quando há previsão de recurso próprio

contra a decisão que se pretende reformar ou cassar. Contudo, dada a devida

vênia, o rigor técnico não pode se sobrepor à garantia fundamental do habeas

corpus, prevista no artigo 5°, inciso LXVIII, da Carta Magna, remédio heróico

destinado a garantir a liberdade de locomoção das pessoas.

Vale reproduzir, no ponto, fundamentação exarada pelo

Eminente Ministro Celso de Mello, ao proferir voto no julgamento do HC

110.118/MS pela Segunda Turma do Pretório Excelso, cuja ementa também

segue abaixo:

Ementa: Criminal. Impetração de habeas corpus substitutivo de recurso

especial. Admissibilidade. Peculiaridades do caso concreto. Concessão da


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

ordem. O eventual cabimento de recurso especial não constitui óbice à

impetração de habeas corpus, desde que o direito-fim se identifique direta e

imediatamente com a liberdade de locomoção física do paciente. Habeas corpus

concedido, para que o STJ aprecie o mérito do HC 176.122/MS.

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"Talvez a questão mais importante, neste caso, não seja a questão de fundo,

mas, sim, a controvérsia em torno da admissibilidade e pertinência do remédio

constitucional do “habeas corpus”, que não pode ser comprometido, em sua

eficácia e utilização, por razões, ainda que compreensíveis, de índole

pragmática.

Tenho para mim que a decisão emanada do E. Superior Tribunal de Justiça, da

lavra do eminente Ministro GILSON DIPP, mostra-se extremamente restritiva

quanto à utilização do “habeas corpus”, culminando por frustrar a

aplicabilidade e a eficácia de um dos remédios constitucionais mais caros à

preservação do regime de tutela e amparo à liberdade de locomoção física das

pessoas.

O E. Superior Tribunal de Justiça, no acórdão objeto desta impetração, não

conheceu da ação de “habeas corpus” lá ajuizada, por haver entendido tratar-se

de “utilização inadequada da garantia constitucional, em substituição aos

recursos ordinariamente previstos nas leis processuais”.

Ao assim decidir, o E. Superior Tribunal de Justiça salientou, com apoio em

fundamentação de que divirjo, que se vem registrando, no âmbito dos

Tribunais, “uma irrefletida banalização e vulgarização do 'habeas-corpus'”.

Preocupa-me, Senhor Presidente, abordagem tão limitativa das virtualidades


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

jurídicas de que se acha impregnado o remédio constitucional do “habeas

corpus” especialmente se se considerar o tratamento que o Supremo Tribunal

dispensou a esse importantíssimo

“writ” sob a égide da Constituição de 1891.

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(...)

Delineado, assim, esse itinerário que o "habeas corpus" percorreu em nosso

sistema de direito positivo, e consolidada , hoje, a função clássica

que lhe é inerente - não obstante as vicissitudes impostas a esse

importantíssimo remédio constitucional, tão temido por regimes autocráticos,

como o atesta o art. 10 do AI nº 5/68 -, causa-me preocupação essa nova

diretriz que vem de ser adotada pela colenda Quinta Turma do E. Superior

Tribunal de Justiça e que, caso eventualmente prevaleça, implicará gravíssima

restrição a um fundamental instrumento de proteção jurisdicional da liberdade

em nosso País.

Torna-se fácil concluir, do que venho de expor, que o E. STJ restringiu,

excessivamente, o alcance do remédio constitucional do “habeas corpus”,

impondo-lhe condicionamentos que a jurisprudência desta Corte Suprema

considera inadmissíveis ."

(HC 110.118/MS - MATO GROSSO DO SUL HABEAS CORPUS.

Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI. Relator(a) p/ Acórdão: Min.

JOAQUIM BARBOSA. Julgamento: 22/11/2011. Órgão Julgador: Segunda

Turma. Publicação PROCESSO ELETRÔNICO DJe-155 DIVULG 07-08-

2012 PUBLIC 08-08-2012)


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Portanto, sofrendo o paciente manifesto constrangimento ilegal

pelo acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça local, ainda que previsto o

recurso especial, perfeitamente cabível o presente o writ para o fim de sanar a

ilegalidade decorrente da condenação pelo tráfico de drogas.

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Da nulidade da prova obtida por meio ilícito

A Constituição da República Federativa do Brasil, em seu artigo 5º,

inciso LVI, veda qualquer prova obtida por meio ilegal.

O Código de Processo Penal, por sua vez, também não admite as

provas ilícitas, considerando como tais aquelas obtidas em transgressão a

normas constitucionais ou legais, dispondo que tais provas devem ser

desentranhadas do processo.

A Constituição Federal assegura a todo e qualquer indivíduo a

inviolabilidade do seu domicílio, constituindo um principio constitucional,

previsto no artigo 5º, inciso XI, da carta Magna.

As possibilidades de violação de domicilio do indivíduo são

taxativas, e podem ocorrer em apenas 05 (cinco) hipóteses: 1) com o

consentimento do morador; 2) em flagrante delito; 3) por motivo de desastre; 4)

para prestar socorro; e, 5) por determinação judicial, durante o dia.


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Em desatendimento a este mandamento constitucional, os agentes

da lei, em patente ato de ilegalidade, sendo praticado por funcionários do

Estado, que têm o dever de atuar dentro da legalidade, adentraram o imóvel e

surpreenderam os acusados dentro deste.

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Fato é que os agentes não adentraram no imóvel do menor

amparado por qualquer das 05 hipóteses permitidas pela Constituição da

República Federativa do Brasil, sendo patente a ilegalidade na obtenção das

provas.

Ao contrário, os próprios familiares do paciente ouvidos em juízo

afirmaram que não autorizaram a entrada da policia no local.

Em decisão recentíssima (Acórdão em anexo), em caso idêntico ao

do paciente em questão, o Superior Tribunal de Justiça nos autos do HC 662731

– SP concedeu a ordem para anular as provas decorrentes do ingresso policial

desautorizado no domicilio. Vejamos.


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Tal decisão reforça o entendimento atual e pacificado de que o

ingresso forçado na residência sem autorização judicial ou do morador


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(comprovadamente consentido) é ilegal e por isso as provas decorrentes devem

ser anuladas.

Ainda, nem se diga que permanência do crime autorizaria tal

comportamento. Isso porque a certeza da existência de drogas no local só

ocorreu depois da invasão da casa, sendo, portanto, posterior à violação. Não

tem, assim, o condão de tornar legítima uma conduta flagrantemente

inconstitucional em sua raiz.

É notório que as provas obtidas com a entrada dos policiais

decorrem de ato ilegal e, decorrendo de ato ilegal, estas não podem ser

utilizadas como elementos de prova. Toda a cadeia probatória remanesce

contaminada de nulidade.

Salientando que foi pacificado NAS DUAS TURMAS deste

Superior Tribunal de Justiça que não havendo comprovação de consentimento

válido para o ingresso no domicílio do paciente, deve se reconhecer a ilicitude

da provas.

Assim, sendo o domicílio e a privacidade bens jurídicos


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

constitucionalmente protegidos, no artigo 5º, incisos X e XI, da Constituição

Federal, a intervenção do Estado nestas esferas depende de autorização

judicial, no caso de busca e apreensão domiciliar, ou de fundadas razões, em

se tratando de buscas pessoais e veiculares, sob pena de violação destes

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princípios e consequente nulidade do ato. Portanto, a denunciação anônima

necessitará de corroboração em outros atos de investigação para que seu

conteúdo possa ser efetivamente averiguado por parte da autoridade policial.

No presente caso é patente que a suposta apreensão decorreu

apenas em uma denúncia anônima, sem qualquer tipo de investigação

precedente que a corrobora se. Assim, de rigor o reconhecimento de sua

nulidade.

Salientando que vem sendo entendimento recente nesre

Superior Tribunal de Justiça de anular processo, ou conceder a liberdade, por

ilegalidade de provas obtidas pela polícia ao invadir uma residência, pelo

mesmo entendimento acima exposto, já que o ingresso forçado de policiais em

uma residência, apoiado apenas em notícia anônima recebida pela polícia não

é suficiente para justificar a medida.

Ao julgar os pedidos nos autos do HC 611.934 - SP, a relatora

do caso, ministra Laurita Vaz, acatou a tese da defesa. Ela considerou nulas as

provas obtidas mediante busca e apreensão domiciliar e concedeu a ordem em

Habeas Corpus para colocar o acusado em liberdade, determinando a


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prolação de nova sentença, excluídas as provas ilícitas. Vejamos a ementa e

trechos da decisão.

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"Na hipótese vertente, o ingresso forçado na casa onde estava o

réu não possui fundadas razões, pois está apoiado em informação de

inteligência policial (notícia anônima) como único elemento prévio à violação

do domicílio", afirmou a relatora.

"Sem embargo, é amplo o leque de elementos que se prestam a

preencher o requisito de fundadas razões, pois deve haver compatibilidade com

a fase de obtenção de provas. De outra parte, elementos que não têm força

probatória em juízo não servem para caracterizar as fundadas razões".

Há também inúmeros exemplos do entendimento do STJ nos

seguintes precedentes:

HC 609072 / SP

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.

TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. INVASÃO

DOMICILIAR EFETUADA POR POLICIAIS MILITARES SEM

AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, NO PERÍODO NOTURNO.

AUSÊNCIA DE DENÚNCIA ANÔNIMA. INDIVÍDUO QUE,

AO AVISTAR A VIATURA POLICIAL, SE DIRIGE AO


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QUINTAL DE SUA CASA, ONDE É ABORDADO POR

POLICIAL QUE REALIZA BUSCA PESSOAL E, EM SEGUIDA,

BUSCA DOMICILIAR. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL

CONCEDIDA À RESIDÊNCIA/DOMICÍLIO QUE ABRANGE

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O JARDIM E O QUINTAL DA CASA, DESDE QUE CERCADO

POR NÍTIDO OBSTÁCULO QUE IMPEÇA A PASSAGEM DE

TRANSEUNTES. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. NULIDADE

DAS PROVAS OBTIDAS NA BUSCA E APREENSÃO.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. HABEAS

CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE

OFÍCIO.

1. O Superior Tribunal de Justiça, alinhando-se à nova

jurisprudência da Corte Suprema, também passou a restringir

as hipóteses de cabimento do habeas corpus, não admitindo

que o remédio constitucional seja utilizado em substituição ao

recurso ou ação cabível, ressalvadas as situações em que, à vista

da flagrante ilegalidade do ato apontado como coator, em

prejuízo da liberdade do paciente, seja cogente a concessão, de

ofício, da ordem de habeas corpus. (AgRg no HC 437.522/PR,

Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em

07/06/2018, DJe 15/06/2018)

2. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral,

que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial

apenas se revela legítimo - a qualquer hora do dia, inclusive


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

durante o período noturno - quando amparado em fundadas

razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso

concreto, que indiquem estar ocorrendo, no interior da casa,

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situação de flagrante delito (RE n. 603.616/RO, Rel. Ministro

Gilmar Mendes) DJe 8/10/2010).

Nessa linha de raciocínio, o ingresso em moradia alheia

depende, para sua validade e sua regularidade, da existência de

fundadas razões (justa causa) que sinalizem para a

possibilidade de mitigação do direito fundamental em questão.

É dizer, somente quando o contexto fático anterior à invasão

permitir a conclusão acerca da ocorrência de crime no interior

da residência é que se mostra possível sacrificar o direito à

inviolabilidade do domicílio.

Precedentes desta Corte.

3. A Corte Suprema assentou, também, que "o conceito de 'casa',

para o fim da proteção jurídico-constitucional a que se refere o

art. 5º, XI, da Lei Fundamental, reveste-se de caráter amplo (HC

82.788/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, 2ª Turma do STF,

julgado em 12/04/2005, DJe de 02/06/2006; RE 251.445/GO, Rel.

Min. CELSO DE MELLO, decisão monocrática publicada no DJ

de 03/08/2000), pois compreende, na abrangência de sua

designação tutelar, (a) qualquer compartimento habitado, (b)

qualquer aposento ocupado de habitação coletiva e (c) qualquer


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compartimento privado não aberto ao público, onde alguém

exerce profissão ou atividade" (RHC 90.376/RJ, Rel.

Min. CELSO DE MELLO, 2ª Turma do STF, julgado em

03/04/2007, DJe de 18/05/2007).

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4. Se o agente público não pode, sem o prévio consentimento do

proprietário, ingressar durante o dia sem mandado judicial em

espaço privado não aberto ao público, onde alguém exerce sua

atividade profissional, com muito mais razão esse raciocínio

permite concluir que o espaço que circunda a residência de um

cidadão, é delimitado por muros e contém portão também

constitui uma extensão de sua casa e está abrangido na proteção

constitucional da inviolabilidade domiciliar (CF, art. 5º, XI).

5. O mero avistamento de um indivíduo de pé no portão de sua

casa que, ao divisar uma viatura policial, se dirige para o

quintal ou para o interior de sua residência, sem qualquer

denúncia/informação ou investigação prévia, não constitui

fundamento suficiente para autorizar a conclusão de que o

cidadão trazia drogas consigo ou as armazenava em sua

residência, e tampouco de que naquele momento e local estava

sendo cometido algum tipo de delito, permanente ou não.

6. Situação em que, durante ronda noturna de rotina e sem

nenhuma denúncia prévia, após verificar que o paciente, que se

encontrava de pé no portão de sua residência, empreendeu fuga

para dentro do imóvel ao avistar a viatura policial, policial


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

militar transpôs o portão e seguiu o indivíduo até o quintal,

quando, então, teria visto o paciente jogando, na direção de sua

casa, um pote plástico branco. Realizada busca pessoal no

suspeito ainda no quintal da casa, foram encontrados dois

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.18)

pinos de cocaína em sua bermuda e, já dentro da residência, no

interior do pote plástico, outros 32 (trinta e dois) pinos de

cocaína. Muito embora, com efeito, a dispensa repentina e

rápida do pote pudesse levantar suspeitas que autorizassem a

busca pessoal, o fato é que a visão do ato suspeito somente foi

possível porque o policial militar já havia adentrado o portão

da casa do paciente e chegado até o quintal, em nítida violação

à proteção constitucional garantida ao domicílio.

7. Reconhecida a ilegalidade da entrada da autoridade policial

no domicílio do paciente sem prévia autorização judicial, a

prova colhida na ocasião deve ser considerada ilícita.

8. Se a denúncia indica como provas da materialidade do crime

unicamente aquelas derivadas de busca e apreensão reputada

ilícita, deve ser trancada a ação penal.

9. Habeas corpus de que não se conhece. Ordem concedida de

ofício, para, confirmando a liminar anteriormente concedida,

reconhecer a nulidade das provas de tráfico de entorpecentes

derivadas do flagrante na ação penal e, tendo em conta que

ditas provas ilícitas constituem a única evidência da

materialidade do crime imputado ao paciente, determinar o


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

trancamento da ação penal.

HC 610403 / MS

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.19)

HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO.

INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. CRIME DE TRÁFICO DE

ENTORPECENTES. ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA.

NÃO INTERPOSIÇÃO DE RECURSOS ÀS INSTÂNCIAS

SUPERIORES. INOCORRÊNCIA DE CERCEAMENTO DE

DEFESA. NULIDADE DAS PROVAS OBTIDAS. INVASÃO

DOMICILIAR EFETUADA POR POLICIAIS MILITARES COM

BASE, EXCLUSIVAMENTE, NA FUGA DO INDIVÍDUO

PARA O INTERIOR DA RESIDÊNCIA. TEORIA DOS FRUTOS

DA ÁRVORE ENVENENADA. RESTABELECIMENTO DA

SENTENÇA ABSOLUTÓRIA QUE SE MOSTRA DEVIDO.

WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE

OFÍCIO.

1. O habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de

recurso próprio, a fim de que não se desvirtue a finalidade

dessa garantia constitucional, com a exceção de quando a

ilegalidade apontada é flagrante, hipótese em que se concede a

ordem de ofício. Precedentes: STF, STF, HC 147.210-AgR, Rel.

Ministro EDSON FACHIN, DJe de 20/2/2020; HC 180.365AgR,

Relatora Ministra ROSA WEBER, DJe de 27/3/2020; HC 170.180-


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

AgR, Relatora Ministra CARMEM LÚCIA, DJe de 3/6/2020; HC

169174-AgR, Relatora Ministra ROSA WEBER, DJe de

11/11/2019; HC 172.308-AgR, Rel. Ministro LUIZ FUX, DJe de

17/9/2019 e HC 174184-AgRg, Rel. Ministro LUIZ FUX, DJe de

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.20)

25/10/2019. STJ: HC 563.063-SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS

JÚNIOR, Terceira Seção, julgado em 10/6/2020; HC 323.409/RJ,

Rel. p/ acórdão Ministro FÉLIX FISCHER, Terceira Seção,

julgado em 28/2/2018, DJe de 8/3/2018; HC 381.248/MG, Rel. p/

acórdão Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Terceira Seção ,

julgado em 22/2/2018, DJe de 3/4/2018.

2. Conforme a jurisprudência desta Corte Superior, tendo sido

comprovado que a Defensoria Pública foi devidamente

intimada acerca do teor do acórdão proferido em sede de

apelação criminal, não há qualquer ofensa ao devido processo

legal pelo fato da causídica não ter interposto recurso para as

instâncias superiores.

3. O Supremo Tribunal Federal definiu, em repercussão geral,

que o ingresso forçado em domicílio sem mandado judicial

apenas se revela legítimo - a qualquer hora do dia, inclusive

durante o período noturno - quando amparado em fundadas

razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso

concreto, que indiquem estar ocorrendo, no interior da casa,

situação de flagrante delito (RE 603.616, Rel. Min. Gilmar

Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 5/11/2015, Repercussão


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Geral - Dje 9/5/1016 Public. 10/5/2016).

4. O Superior Tribunal de Justiça, em acréscimo, possui

jurisprudência no sentido de que "A existência de denúncia

anônima da prática de tráfico de drogas somada à fuga do

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.21)

acusado ao avistar a polícia, por si sós, não configuram

fundadas razões a autorizar o ingresso policial no domicílio do

acusado sem o seu consentimento ou sem determinação

judicial" (RHC 89.853-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas,Quinta

Turma, julgado em 18/2/2020, DJe de 2/3/2020).

5. Na hipótese, o Tribunal de origem deu provimento ao

recurso ministerial para condenar o paciente pela prática do

crime de tráfico de drogas. Contudo, os policiais militares, ao

realizaram patrulhamento de rotina, invadiram a residência do

paciente sem qualquer tipo de informação prévia ou indício que

pudesse levar a crer que o paciente trazia consigo ou tinha em

depósito entorpecentes, valendo-se unicamente do fato de que

empreendeu fuga para dentro de sua residência ao notar a

aproximação da viatura policial, o que torna ilícita a apreensão

dos entorpecentes e, como consequência, das demais provas

produzidas.

6. Uma vez reconhecida a ilicitude das provas obtidas por meio

da medida invasiva, bem como de todas as que delas

decorreram, fica prejudicada a análise das demais matérias

aventadas na impetração.
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício,

para restabelecer a sentença absolutória, com fulcro no art. 386,

II, do Código de Processo Penal.

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.22)

Assim, sendo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça

de que provas originadas apenas de denuncias anônimas são ilícitas, bem como

que não havendo comprovação de consentimento válido para o ingresso no

domicílio do paciente, as provas também são ilícitas, de rigor o reconhecimento

da nulidade no presente feito.

Da aplicação da causa especial de diminuição da pena

Quanto à redução de pena, observa-se que o paciente é

primário e não há qualquer elemento que indique ser integrante de organização

criminosa ou se dedicar a atividades ligadas ao tráfico.

Portanto, não há fundamentação legal para não se reduzir a

pena nos termos do art. 33, §4º da Lei Antidrogas, no patamar máximo de 2/3.

A sentença condenatória deixou de aplicar a redutora no

patamar máximo sob o fundamento de que o paciente se dedicava as atividades

criminosas.

Cumpre salientar que não cabe à Defesa provar que o réu não
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

se dedicava às atividades criminosas, mas ao contrário, cabe à acusação, o que

não ocorreu no caso em tela.

Salientando que a defesa juntou vasta documentação

comprovando que o paciente trabalhava como montador de moveis e que

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.23)

estava abrindo uma adega para sustentar a si e a sua família.

O artigo 33, da Lei 11.343/06, em seu § 4º, traça diferenciação

entre a figura do “traficante organizado” – aquele que obtém lucros

consideráveis com a atividade – e aquele sujeito utilizado como “mão-de-obra”

barata do tráfico, atendendo ao princípio da isonomia.

Tal princípio é decorrência imediata do princípio republicano,

sendo que Ataliba (República e Constituição. Ed. RT: São Paulo, 1985; pg. 133)

afirma que ele se irradia sobre todos os dispositivos constitucionais:

Não teria sentido que os cidadãos se reunissem em república,

erigissem um Estado, outorgassem a si mesmos uma Constituição, em termos

republicanos, para consagrar instituições que tolerassem ou permitissem, seja

de modo direto, seja indireto, a violação da igualdade fundamental, que foi o

próprio postulado básico, condicional da ereção do regime. Que dessem ao

Estado – que criaram em rigorosa isonomia cidadã – poderes para serem usados

criando privilégios, engendrando desigualações, favorecendo grupos ou

pessoas, ou atuando em detrimento de quem quer que seja. A res pública é de

todos e para todos. Os poderes que de todos recebem devem traduzir-se em


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

benefícios e encargos iguais para todos os cidadãos. De nada valeria a

legalidade, se não fosse marcada pela igualdade.

A igualdade é, assim, a primeira base de todos os princípios

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.24)

constitucionais e condiciona a própria função legislativa, que é a mais nobre,

alta e ampla de quantas funções o povo, republicanamente, decidiu criar. A

isonomia há de se expressar, portanto, em todas as manifestações do Estado, as

quais, na sua maioria, se traduzem concretamente em atos de aplicação da lei,

ou seu desdobramento. Não há ato ou forma de expressão estatal que possa

escapar ou subtrair-se às exigências da igualdade.

Nesse sentido, Nelson Nery Júnior (1999, p. 42) assevera que:

Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente

os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades.

Daí decorre que a utilização de diferenciação na imposição de

penas àquele que pratica, reiteradas vezes, atividades criminosas, visando o

lucro fácil, e àquele que é encontrado em prática pontual se faz mister,

inafastável, vez que a conduta deste não revela maior periculosidade, tampouco

alto grau de perversidade.

Traz-se à baila, desse modo, entendimento que assim interpreta

o dispositivo supramencionado:
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

AGRAVO EM EXECUÇÃO. PROGRESSÃO DE REGIME.

TRÁFICO PRIVILEGIADO. AFASTADO O CARÁTER DE HEDIONDEZ. O

caráter hediondo do delito em questão foi afastado em sede de apelo. Além

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.25)

disso, o art. 2º da Lei 8.072/90 faz referência ao tráfico ilícito de entorpecentes,

sem enquadrar a figura do tráfico privilegiado como crime hediondo, sendo

vedada a interpreção extensiva em prejuízo do réu. E mostra-se incompatível o

caráter hediondo e a figura do tráfico privilegiado, pois a Lei 11.343/2006, ao

instituir a causa de diminuição de pena, exigiu que o agente fosse primário e

de bons antecedentes e que não se dedicasse às atividades criminosas, nem

integrasse organização criminosa típica, justamente por se tratar de conduta

que não revelasse maior periculosidade ou acentuado grau de perversidade, e

assim, passível de menor reprimenda.

Afastada a caracterização de hediondez, contida na lei 8.072/90,

devem ser reapreciados pelo Juiz da VEC, os demais requisitos subjetivos para

o deferimento da progressão (g.n.) (70046703732 RS – Relator: Catarina Rita

Krieger Martins, Data de Julgamento: 19/04/2012, Terceira Câmara Criminal,

Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 16/05/2012).

Ainda, a aplicação desta causa minorante representa o

reconhecimento do “traficante de primeira viagem”. Nas palavras de NUCCI:

Causa de diminuição de pena: cuida-se de norma inédita,


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

visando à redução da punição do traficante de primeira viagem, o que merece

aplauso. Portanto, aquele que cometer o delito previsto no art. 33, caput ou § 1º,

se for primário (indivíduo que não é reincidente, vale dizer, não cometeu outro

delito, após ter sido definitivamente condenado anteriormente por crime

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.26)

anterior, no prazo de cinco anos, conforme arts. 63 e 64 do Código Penal) e tiver

bons antecedentes (sujeito que não ostenta condenações definitivas anteriores),

não se dedicando às atividades criminosas, nem interagindo com organização

criminosa, pode-se valer de pena mais branda (g.n) (Leis penais e processuais

penais comentadas, RT, 2009, 2ª Edição, p. 361).

Assim, ao distinguir o pequeno traficante dos demais, a norma

infraconstitucional apenas atendeu à diretriz da Carta Magna, não havendo

qualquer ofensa a ela. Nesse sentido, leciona José Celso de Mello Filho:

(...) a exigência de individualização da pena, que é de índole

constitucional, deve ser analisada sob três aspectos principais: a) o da

individualização legal, operada pelo legislador, por meio da abstrata cominação

das sanções em função da maior ou menor gravidade objetiva do ilícito; b) o da

individualização judicial, efetuado pelo magistrado, por meio da sentença, no

momento da aplicação concreta da sanção pena; c) o da individualização

administrativa, concretizada na fase da execução da pena, ensejando-se, dessa

forma, nos estabelecimentos prisionais, um tratamento específico para cada

condenado (Constituição Federal Anotada, 2ª Ed. Saraiva, 1986).


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Destarte, tratando-se de ré primária, não havendo prova do

envolvimento anterior com atividade ou organização criminosa, é de rigor a

aplicação do privilégio, diminuindo-se a pena base em seu patamar máximo

(2/3), fixando-se, ao final, a pena de 01 ano e 08 meses de reclusão.

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.27)

- Da substituição da pena privativa de liberdade por restritiva

de direitos

Aplicada a causa especial de diminuição de pena prevista no

§4º do artigo 33 da Lei de Drogas, em seu patamar máximo, mostra-se

plenamente cabível a substituição por penas restritiva de direitos, bem como a

fixação de regime inicial aberto para o início do cumprimento da pena.

De acordo com a redação do artigo 44 do Código Penal, as

penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de

liberdade, quando:

a) aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro

anos (inciso I).

b) o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à

pessoa (ainda inciso I)

c) o réu não seja reincidente em crime doloso (inciso II) ou,


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

sendo reincidente o condenado, esta não se tenha operado em virtude de

prática do mesmo crime (§3º).

d) a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.28)

personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias do

crime indicarem que essa substituição seja suficiente (inciso III).

Importante verificar a dupla finalidade da substituição: evitar o

desnecessário encarceramento do condenado, impedindo, com isso, o seu

contato com presos que cumprem pena em virtude de prática de infrações

graves, afastando-o do ambiente promíscuo e degenerativo do sistema

penitenciário, bem como garantir o efeito preventivo da sanção.

No que tange os requisitos subjetivos, cumpre salientar que a

culpabilidade do recorrente não ultrapassará as raias do normal para a espécie.

As circunstâncias em que o fato se deu estão a demonstrar que a expiação de

sua reprimenda através de uma das penas alternativas previstas no artigo 43 do

Código Penal será suficiente.

Ademais, o paciente é primário. Nessas condições, é de se

reconhecer o direito subjetivo à substituição.

Os benefícios das penas alternativas em relação às privativas de

liberdade são vistos e vivenciados mundialmente.


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

A pena privativa de liberdade tem-se mostrado ineficaz no seu

aspecto ressocializador, devendo mesmo ser reservada àqueles casos de maior

gravidade, até porque tem tido efeito contrário: ao invés de regenerar o

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prisioneiro, desvirtua-o, desagregando-o do convívio social e familiar.

Aliás, Roberto Lyra, escrevendo a respeito da pena privativa de

liberdade, brilhantemente lembra algumas das suas desvantagens:

“...não tem finalidade; é onerosa para o

Estado, que custeia as despesas da manutenção do

condenado; não emenda, não corrige, não regenera; não

suprime a capacidade de prejudicar, não intimida e até

estimula os corrompidos e corromper os honestos,

desencoraja, rebaixa aos da família, enfraquece a noção de

dignidade pessoal, tira o emprego e a clientela, impelindo

à embriaguez e à vagabundagem, encaminhando o

primário à profissão criminal.” (Comentários ao Código

Penal, p. 76).

Acrescente-se, alhures, a opinião a opinião de João Benedito de

Azevedo Marques sobre as vantagens das penas alternativas, destacando o “seu

baixo grau de reincidência, o efeito pedagógico da sanção e em especial a

participação da sociedade”.
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

De mais a mais as denominadas regras de Tóquio – que no

dizer de Luiz Flávio Gomes é verdadeira Constituição Mundial em matéria de

penas alternativas – traça como primeiro e essencial objetivo das penas

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alternativas reduzir a aplicação da pena de prisão, expressado na Regra 1.5, in

verbis:

“Os Estados-Membros devem introduzir

medidas não privativas de liberdade em seus sistemas

jurídicos para propiciar outras opções, reduzindo deste

modo a aplicação das penas de prisão...”

Ad argumentandum tantum, registre-se também que em países

que adotaram na prática o sistema das penas alternativas, tais como Alemanha,

Cuba e Japão, o índice de reincidência é de apenas 25%, enquanto no Brasil –

que aplica penas alternativas a apenas 2% de seus condenados – o índice de

reincidência sobe para 85% dos casos.

Em que pese existir vedação legal para a substituição prevista

no artigo 44 da Lei 11343/06, tal dispositivo é inconstitucional, pois viola os

princípios constitucionais da individualização da pena, da separação dos

poderes, da isonomia, da razoabilidade, da proporcionalidade e da dignidade

da pessoa humana.
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Tanto é assim que o Senado Federal, pela Resolução nº 05/12,

suspendeu a execução da expressão "vedada a conversão em penas restritivas

de direitos", contida no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.

ATO DO SENADO FEDERAL


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Faço saber que o Senado Federal aprovou, e eu,

José Sarney, Presidente, nos termos do art. 48, inciso XXVIII, do

Regimento Interno, promulgo a seguinte

RESOLUÇÃO Nº 5, DE 2012.

Suspende, nos termos

do art. 52, inciso X, da Constituição

Federal, a execução de parte do § 4º do

art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto

de 2006.

O Senado Federal resolve:

Art. 1º É suspensa a execução da expressão

"vedada a conversão em penas restritivas de direitos" do § 4º do

art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, declarada

inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal

Federal nos autos do Habeas Corpus nº 97.256/RS.

Art. 2º Esta Resolução entra em vigor na data

de sua publicação.
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Senado Federal, em 15 de fevereiro de 2012.

Senador JOSÉ SARNEY

A razoabilidade funcionaria como “parâmetro para a aferição


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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.32)

da violação à igualdade ou justiça formal, compreendendo a seleção dos fatores

que devem ser considerados relevantes para um tratamento jurídico especial” 1.

Trata-se na verdade de uma medida de diferenciação que busca uma

justificação para um tratamento não uniforme.

Assim, não se verificando qualquer justificativa para este

tratamento diferenciado nos delitos envolvendo entorpecentes, pois aos demais

crimes hediondos é permitida a substituição da pena, tem-se que tal vedação é

ilegítima.

Por sua vez, o princípio da proporcionalidade visa limitar o

exercício do poder de punir do Estado, isto é, restringir a aplicação do direito

penal para delitos relevantes, além de adequar a prevalência de determinado

princípio, diante dos valores a serem protegidos.

No presente caso, tem-se que a aplicação da sanção penal da

pena privativa de liberdade em regime inicial fechado é demasiadamente severa

e desproporcional ao delito, não permitindo, ainda, que a pena imposta pelo

Estado cumpra a sua tríplice função.


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Ressalte-se que alguns crimes hediondos ou equiparados por

vezes são mais graves e causam maior clamor social que os delitos da Lei nº

11.343/06. Pode-se citar como exemplo o estupro, o homicídio praticado por

1 BUSTAMANTE, Thomas da Rosa. A razoabilidade na dogmática jurídica contemporânea: em busca de um mapa


semântico. In: Leituras complementares de direito constitucional. 2.ed., rev., atual., Editora Jus Podivm: Salvador, 2007, p. 84
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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.33)

grupos de extermínio, a tortura e o terrorismo, para os quais, salienta-se mais

uma vez, não há qualquer vedação à substituição da pena, desde que

preenchidos os requisitos do artigo 44 do Código Penal.

A violação ao princípio da proporcionalidade é manifesta, pois

não é proporcional que seja vedada de maneira expressa a possibilidade de

substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos ao delito

de tráfico, e isso não ocorra em relação a outros delitos apenados de maneira

mais gravosa, como por exemplo, alguns crimes elencados como hediondos.

Trata-se, portanto, de medida legal arbitrária, na medida em

que faz distinção sem ter por justificativa um bem jurídico relevante ou um

sentido legítimo, constituindo grave afronta ao princípio da isonomia.

Para ilustrar o significado do princípio da proporcionalidade,

cabe mencionar algumas passagens do brilhante voto proferido pelo eminente

ministro do Colendo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Habeas

Corpus 96.715-MC/SP, decisão publicada no DJE de 3.2.2009:


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

(...) o Poder Público, especialmente em

sede processual penal, não pode agir imoderadamente,

pois a atividade estatal, ainda mais em tema de liberdade

individual, acha-se essencialmente condicionada pelo

princípio da razoabilidade.
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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.34)

Como se sabe, a exigência da

razoabilidade traduz limitação material à ação normativa

do Poder Legislativo.

O exame da adequação de determinado

ato estatal ao princípio da proporcionalidade, exatamente

por viabilizar o controle de sua razoabilidade, com

fundamento no art. 5°, LV, da Carta Política, inclui-se, por

isso mesmo, no âmbito da própria fiscalização de

constitucionalidade das prescrições normativas emanadas

do Poder Público.

(...) Coloca-se em evidência, neste ponto, o

tema concernente ao princípio da proporcionalidade, que

se qualifica – enquanto coeficiente de aferição da

razoabilidade dos atos estatais – como postulado básico de

contenção dos excessos do Poder Público.

Essa é a razão pela qual a doutrina, após

destacar a ampla incidência deste postulado sobre os

múltiplos aspectos em que se desenvolve a atuação do

Estado – inclusive sobre a atividade estatal de produção


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

normativa – adverte que o princípio da proporcionalidade,

essencial à racionalidade do Estado Democrático de

Direito e imprescindível à tutela mesma das liberdades

fundamentais, proíbe o excesso e veda o arbítrio do Poder

extraindo a sua justificação dogmática de diversas


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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.35)

cláusulas constitucionais, notadamente daquela que

veicula, em sua dimensão substantiva ou material, a

garantia do ‘due process of law’.

Como precedentemente enfatizado, o

princípio da proporcionalidade visa a inibir e a neutralizar

o abuso do Poder Público no exercício das funções que lhe

são inerentes, notadamente no desempenho da atividade

de caráter legislativo. Dentro dessa perspectiva, o

postulado em questão, enquanto categoria fundamental

de limitação dos excessos emanados do Estado, atua como

verdadeiro parâmetro de aferição da própria

constitucionalidade material dos atos estatais.

Isso significa, dentro da perspectiva da

extensão da teoria do desvio de poder ao plano das

atividades legislativas do Estado, que este não dispõe de

competência para legislar ilimitadamente, de forma

imoderada e irresponsável, gerando, com o seu

comportamento institucional, situações normativas de

absoluta distorção e, até mesmo, de subversão dos fins


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

que regem o desempenho da função estatal.

A jurisprudência constitucional do

Supremo Tribunal Federal, bem por isso, tem censurado a

validade jurídica dos atos estatais, que, desconsiderando

as limitações que incidem sobre o poder normativo do


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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.36)

Estado, veiculam prescrições que ofendem os padrões de

razoabilidade e que se revelam destituídas de causa

legítima, exteriorizando abusos inaceitáveis e

institucionalizando agravos inúteis e nocivos aos direitos

das pessoas (...).

Observa-se que a manutenção da pena privativa de liberdade

em regime inicial fechado é demasiadamente grave e fora dos parâmetros para

atender às finalidades da pena, haja vista que as penitenciárias e demais casas

de custódia encontram-se abarrotadas de presos, sendo que tal segregação

deveria ocorrer apenas em casos de crimes de maior gravidade e que causassem

maior clamor social.

Ademais, o não reconhecimento da substituição da pena

privativa de liberdade por restritivas de direito, jogando o acusado em uma

instituição, como já dito, superlotada, sem as mínimas condições de reinserção

deste de forma harmônica na sociedade, fere valor republicano fundamental,

qual seja a dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III da Constituição da

República), haja vista que o paciente está sendo tratado como mero objeto do
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

processo, e não como sujeito de direitos, tendo seu ius libertatis aniquilado.

“O princípio da dignidade da pessoa

humana ilumina o núcleo essencial dos direitos


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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.37)

fundamentais do qual se irradiam, também na esfera

privada, os direitos da personalidade, tanto na sua versão

de integridade física como moral." (Ingo Wolfgang Sarlet.

Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na

Constituição brasileira de 1988, 2001, citado por Luís Roberto

Barroso em Diferentes, mas iguais: o reconhecimento jurídico

das relações homoafetivas no Brasil. Revista Diálogo Jurídico,

nº 16, 2007, Salvador).”

Assim, de forma a assegurar tal princípio, bem como reprimir o

delito de forma proporcional, tem-se que a medida compatível seria a

substituição da pena privativa por restritiva de direitos, conforme se depreende

da lição de Alberto Silva Franco 2, in verbis:

(...) Esta possibilidade, na verdade, retrata a

moderna tendência da política criminal pela sua adequação aos

princípios basilares do Estado democrático de Direito acolhidos

na Constituição Federal. Aliás, a possibilidade e finalidade

buscadas pela Lei 9.714/98, diminuir a superpopulação dos

presídio favorecendo a ressocialização do agente por vias


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

alternativas, não seria alcançada se equivocadamente não se a

aplicasse aos crimes hediondos e assemelhados, a uma, porque

inexiste restrição à sua efetivação, a duas, porque a maioria dos

casos de capitulação nos arts. 12 ou 13 da Lei 6.368/76 [atuais

2 Idem, p. 201.
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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.38)

arts. 33 e 34 da Lei 11.343/2006] não dizem respeito a situações

de real mercancia, como se verifica no quotidiano de nossos

Foros. O que nós, julgadores, observamos, é que com raras

exceções a quantidade de drogas apreendidas não é

significativa, e as pessoas processadas como traficantes

não o são de fato traficantes que dominam o comércio e a

distribuição de substâncias entorpecentes. São, de fato,

‘mulas’ ou pequenos varejistas ou distribuidores, e não

necessariamente ‘perigosos’ (...)

A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XLIII, equipara o

crime de tráfico de entorpecentes aos demais crimes hediondos.

Nesse mesmo sentido a Lei nº 8.072/90, que dispõe sobre os

crimes hediondos, em seu artigo 2º equipara aos crimes hediondos, o tráfico de

entorpecentes, a tortura e o terrorismo.

Verifica-se na lei que trata dos crimes hediondos que não existe
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

nenhuma vedação à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas

de direito. Nesse sentido destaca-se, mais uma vez, a lição de Alberto Silva

Franco3:

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.39)

A norma penal prevê a possibilidade de se

aplicarem sanções outras que não a pena privativa de liberdade

para crimes de pequena e média gravidade, como meio eficaz de

combater a crescente ação criminógena do cárcere. A disciplina

da Lei 8.072/90 e o disposto no Código Penal (art. 44) não são

incompatíveis. Em se tratando de réu primário e possuidor de

bons antecedentes, não há que se falar em óbice à substituição da

pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. STJ – HC

47.670 – rel. Nilson Naves – j. 05.10.2006.

(...)

Tendo em vista o entendimento acima, não

mais subsiste razão para que não se aplique aos condenados por

crimes hediondos, ou a ele equiparados, a substituição da pena

privativa de liberdade por restritivas de direitos, desde que

preenchidos os requisitos do art. 44 do Código Penal. (STJ – 5ª

T. – HC 67.162 – rel. Feliz Fischer – j. 13.03.2007).

É mister salientar, ainda, o fato de a Lei nº 9.455/97, que define o

crime de tortura, não vedar em nenhum momento a substituição da pena


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

privativa de liberdade por penas restritivas de direitos.

Assim, verifica-se ser plenamente possível a substituição da

3 FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 203.

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.40)

pena privativa de liberdade por penas restritivas de direitos, mesmo em se

tratando de crime hediondo.

Portanto, a vedação apenas para os delitos de tráfico de

entorpecentes fere o princípio constitucional da isonomia, pois não permite aos

condenados por crime de tráfico, equiparado aos demais crimes hediondos, o

cumprimento de pena alternativa.

Nesse sentido, é a doutrina de Rogério Sanches Cunha em sua

obra Lei de Drogas Comentada, sob Coordenação de Luiz Flávio Gomes, Editora

Revista dos Tribunais, São Paulo, 2007, páginas 233/234:

(...) Contudo, havendo na Lei 11.343/2006 a

proibição expressa de restritiva de direitos em relação ao tráfico,

nova discussão começa a ganhar força: é legítimo impedir o

benefício somente para o tráfico, delito também equiparado a

hediondo? O art. 44 da Lei 11.343/2006 não estaria tratando

situações iguais de maneira desigual? Ainda que sedutora a tese

da especialidade (lei especial revoga a geral), parece-nos que


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

restringir a vedação das penas alternativas apenas ao crime de

tráfico é ferir de morte o princípio da isonomia.

Urge transcrever também o lapidar magistério de Alberto Silva

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.41)

Franco:

“A questão da aplicabilidade da pena restritiva

de direitos em relação a crimes sobre droga sofreu, no entanto,

alteração em face da lei 11.343/06, de 23 de Agosto de 2006. O

art. 44, caput, do referido Diploma legal vedou explicitamente a

conversão das penas estatuídas pelos arts. 33, caput e seu §1º,

34, 35, 36 e 37 em restritivas de direitos. Não obstante a

expressa disposição legal, tudo está a indicar a incisiva

contrariedade da regra do art. 44 em relação aos princípios da

isonomia e da individualização da pena. Não há nenhuma razão

lógica para que se permita ao réu primário, de bons antecedentes,

não dedicado a atividades criminosas, nem integrante de

organização criminosa (art. 33, §4ª), a redução da carga

punitiva em um sexto a dois terços do quantum estabelecido no

preceito sancionatório do art. 33 e de seu §1º, e se negue, em

seguida, a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva

de direitos, apesar da ação criminosa não ter sido praticada com

violência ou grave ameaça à pessoa e da quantidade de pena

afinal fixada não ser superior a quatro anos. (...) Se o réu


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

reincidente pode ter substituída a pena privativa de liberdade se

a medida for socialmente recomendável e a reincidência não se

tenha operado em razão da prática do mesmo crime, porque não

poderia obter igual tratamento punitivo quem é réu primário, de

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bons antecedentes, não dedicado à atividade criminosa nem

integrante de organização criminosa? Por que empregar dois

pesos e duas medidas só porque se trata de crime sobre drogas?

Não se estaria nesse caso ferindo abertamente o princípio

constitucional da isonomia, na medida em que se dá tratamento

desigual a situações iguais? E não se estaria também impedindo

ao julgador o exercício da sua tarefa de individualizar a pena no

momento de sua aplicação? (Alberto Silva Franco, Crimes

Hediondos, RT, 6ª ed., 2007, p. 198).

O Supremo Tribunal Federal, em julgado do dia 1º/9/2010, no

HC n.º 97.256 (relator Min. Ayres Britto), declarou a inconstitucionalidade da

vedação contida na Lei 11.343/2006 à substituição de pena privativa de

liberdade por prestação alternativa, tendo sido ressaltado, ao se determinar que

fossem analisados os requisitos para a concessão da pena alternativa, que

“As penas restritivas de direitos são, em

essência, uma alternativa aos efeitos certamente

traumáticos, estigmatizantes e onerosos do cárcere (....).

No plano dos tratados e convenções internacionais,


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

aprovados e promulgados pelo Estado brasileiro, é

conferido tratamento diferenciado ao tráfico ilícito de

entorpecentes que se caracterize pelo seu menor potencial

ofensivo. Tratamento diferenciado, esse, para possibilitar

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alternativas ao encarceramento. É o caso da Convenção

Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e de Substâncias

Psicotrópicas, incorporada ao direito interno pelo Decreto

154, de 26 de junho de 1991. Norma supralegal de

hierarquia intermediária, portanto, que autoriza cada

Estado soberano a adotar norma comum interna que

viabilize a aplicação da pena substitutiva (a restritiva de

direitos) no aludido crime de tráfico ilícito de

entorpecentes. 5. Ordem parcialmente concedida tão-

somente para remover o óbice da parte final do art. 44 da

Lei 11.343/2006, assim como da expressão análoga

“vedada a conversão em penas restritivas de direitos”,

constante do § 4º do art. 33 do mesmo diploma legal.”.

Corroborando esse entendimento, vale ressaltar as lições do

professor e Procurador da República, Paulo Queiroz:

“Com efeito, não parece razoável que

sentenciados por crimes de tráfico e similar não tenham


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

direito à substituição, enquanto outros condenados por

delitos tão ou mais graves (v.g., peculato, concussão,

corrupção passiva, crime contra o sistema financeiro)

possam fazer jus ao benefício. Note-se, aliás, que o

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.44)

condenado por este e outros crimes (de dano, e não de

simples perigo, como é o tráfico), a exemplo do homicídio

culposo, tem em tese direito à substituição, apesar de se

tratar de crime contra a vida, e, pois, mais grave, desde

que a pena não seja superior a quatro anos, diversamente

do condenado por tráfico à mesma pena ou a pena inferior

a quatro anos, que não faria jus ao benefício. Ora, é

evidente que semelhante tratamento ofende o princípio da

isonomia, sobretudo porque o critério de aferição da

maior gravidade do crime (desvalor de ação e resultado) e,

portanto, da condenação, é essencialmente formal:

objetivamente, a pena cominada ou imposta;

subjetivamente, a existência ou não de antecedentes. (...)

Portanto, não parece justo ou razoável, nem conforme os

princípios de proporcionalidade, individualização da

pena e isonomia, que o juiz, ao condenar o réu por crime

de tráfico a pena não superior a quatro anos, não possa

substituí-la em virtude da só vedação legal, mesmo

porque a missão do juiz já não é mais, como no velho

paradigma positivista, sujeição à letra da lei, qualquer


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

que seja o seu significado, mas sujeição à lei enquanto

válida, isto é, coerente com a Constituição (Ferrajoli). O

juiz não é a boca que pronuncia as palavras da lei, como

pretendeu Montesquieu.

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.45)

Parece-nos enfim que, apesar da vedação

legal do art. 44 e 33, §4°, final, ao juiz é dado substituir,

fundamentadamente, a pena de prisão por pena restritiva

de direito, desde que as circunstâncias judiciais sejam

favoráveis ao réu e a substituição seja socialmente

recomendável, nos termos da lei e do Código Penal (art.

44), por ser a legislação penal fundamental.”


(http://pauloqueiroz.net/vedacao-de-pena-restritiva-de-

direito-na-nova-lei-de-drogas/)

É decorrência lógica do acima exposto que o princípio da

individualização da pena tem o condão de eleger a justa e adequada sanção

penal, quanto ao perfil e aos efeitos sobre o sentenciado.

Assim, é curial que a pena que mais se adéqua ao caso em

análise, por ser o paciente primário, é a prestação de serviços à comunidade,

pela constatação de que essa seria muito mais efetiva na reintegração social do

paciente do que uma pena privativa de liberdade.

Neste sentido:
Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

Processo HC 158624 / MG

HABEAS CORPUS 2010/0000754-4

Relator(a) Ministro HAROLDO RODRIGUES

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(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE) (8195)

Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento

21/10/2010 Data da Publicação/Fonte DJe 06/12/2010.

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE

DROGAS. PENA-BASE. FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO

LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS

DESFAVORÁVEIS. FUNDAMENTAÇÃO

INADEQUADA. REDUÇÃO DA PENA QUE SE IMPÕE.

CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO

ART. 33, § 4.º, DA LEI Nº 11.343/2006. FIXAÇÃO DO

QUANTUM INFERIOR AO MÁXIMO PREVISTO EM

LEI. QUANTIDADE DA DROGA APREENDIDA.

POSSIBILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE.

SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

POR MEDIDAS RESTRITIVAS DE DIREITOS.

PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS.

1. Inexiste fundamentação idônea para

justificar o aumento da pena-base quanto à culpabilidade

e consequências do crime, se consideradas contrárias ao


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

paciente de forma genérica e evasiva, não sendo

particularizado em que consistiram os aspectos negativos.

Em relação aos maus antecedentes, as certidões

consideradas não dão conta de condenações com trânsito

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 08/09/2021 11:38:03 (e-STJ Fl.47)

em julgado, em desconformidade com a jurisprudência

pacífica desta Corte, sendo certo, quanto aos motivos, que

o lucro fácil é circunstância inerente ao delito em questão,

restando evidenciado, assim, o constrangimento ilegal.

2. A redução da causa de diminuição em

1/2 (metade) se justifica em razão da quantidade de droga

apreendida (45g de cocaína).

3. Considerando a quantidade de pena

aplicada - 2 anos e 6 meses de reclusão -, reconhecida a

primariedade do réu e fixada a pena-base no mínimo legal

em razão das favoráveis circunstâncias judiciais, é de

rigor, respeitando-se o princípio da individualização da

pena, que a reprimenda corporal seja cumprida no

regime aberto, visto que não supera 4 anos, não tendo

lugar a aplicação literal do dispositivo inserido na lei de

crimes hediondos, eis que alheia às particularidades do

caso concreto, consoante vem sendo decidido pela Sexta

Turma desta Corte.

4. Muito embora, em momento anterior, a

Corte Especial deste Tribunal tenha rejeitado a Arguição


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

de Inconstitucionalidade no HC nº 120.353/SP, a partir

do julgamento do HC nº 118.776/RS (Relator o Ministro

Nilson Naves, DJe de 23/8/2010), esta Sexta Turma vem

reconhecendo a possibilidade de deferimento do

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benefício da substituição da pena privativa de liberdade

por restritiva de direitos aos condenados por delito de

tráfico cometido sob a égide da Nova Lei de Drogas. Esse

entendimento foi confirmado no julgamento do HC

149.807/SP, da relatoria do Ministro Og Fernades,

DJe de 20/9/2010.

5. Habeas corpus concedido parcialmente

para reduzir a pena imposta ao paciente na ação penal de

que se cuida a 2 anos e 6 meses de reclusão, que deve ser

substituída por duas penas restritivas de direitos, a serem

definidas no Juízo da Execução, e 250 dias-multa.

Acórdão

Vistos, relatados e discutidos estes autos,

acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior

Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das

notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conceder

parcialmente a ordem de habeas corpus, nos termos do

voto do Sr. Ministro Relator.

A Sra. Ministra Maria Thereza de Assis

Moura e os Srs. Ministros Og Fernandes e Celso Limongi


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

(Desembargador convocado do TJ/SP) votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Presidiu o julgamento a Sra. Ministra

Maria Thereza de Assis Moura.

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“HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÁFICO

DE ENTORPECENTES. CONSIDERAÇÃO INDEVIDA DE

CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS COMO DESFAVORÁVEIS.

EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. IMPROPRIEDADE.

OFENSA AO PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS

PENAS. REGIME PRISIONAL MAIS GRAVOSO.

INSUBSISTÊNCIA DAS RAZÕES QUE O

DETERMINARAM. INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO

ART. 33, § 2.º, ALÍNEA C, E § 3.º DO CÓDIGO PENAL.

SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE

PELA RESTRITIVA DE DIREITOS. POSSIBILIDADE.

1. Na espécie, verifica-se a total inidoneidade

da motivação apresentada pelo julgador, ao exercer o juízo de

convicção, uma vez que não houve, na primeira fase, a indicação

de razões válidas para a consideração de determinadas

circunstâncias como desfavoráveis ao Paciente, na medida em

que constituem questões inerentes ao tipo penal, imprestáveis,

portanto, ao fim colimado.

2. Fixada a pena-base no mínimo legal, inexistindo


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

circunstâncias judiciais válidas desfavoráveis ao réu – primário

e com bons antecedentes –, estando a pena-base fixada no

mínimo legal, não é possível infligir regime prisional mais

gravoso apenas com base nagravidade genérica do delito.

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Inteligência do art. 33, §§ 2.º e 3.º, c.c. o art. 59, ambos do

Código Penal.

3. Não subsiste qualquer empecilho à substituição da pena

privativa de liberdade pela restritiva de direitos, na hipótese,

uma vez que foi afastado o único óbice à benesse,

consubstanciado no caráter especial dos rigores do regime

integralmente fechado aos crimes hediondos e equiparados.

4. Ordem concedida para fixar o regime aberto

para o cumprimento da pena reclusiva imposta ao Paciente,

mediante as condições a serem estabelecidas pelo Juízo das

Execuções Penais, sendo a este também incumbido de examinar

se estão atendidos os requisitos subjetivos e objetivos à concessão

do benefício da substituição da pena privativa de liberdade por

restritivas de direito. Ordem concedida, ainda, de ofício, para,

mantida a condenação imposta, reformar a sentença de

primeiro grau e o acórdão, tão-somente, na parte relativa à

dosimetria da pena, que fica quantificada em 02 (dois) anos de

reclusão, e 16 (dezesseis) dias-multa. Por se encontrar em

idêntica situação processual, a teor do art. 580 do Código de

Processo Penal, estendo os efeitos da presente decisão ao co-réu


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

José Mário Calazans.”

(STJ; HC 92774/MG; Habeas Corpus

2007/0246556-4; Min. Laurita Vaz; T5 – quinta turma; data do

julgamento 06.03.2008; DJ 07.04.2008, p. 01).

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Cabe, ainda, citar os entendimentos recentes do Supremo

Tribunal Federal sobre a matéria:

HABEAS CORPUS. PENAL. TRÁFICO

DE ENTORPECENTES. SUBSTITUIÇÃO DA PENA

PRIVATIVA DE LIBERDADE POR OUTRA RESTRITIVA

DE DIREITOS. REQUISITOS. CONSTRANGIMENTO

ILEGAL EVIDENCIADO. EXCEÇÃO À SÚMULA

691/STF. REDUÇÃO DA PENA PREVISTA NO § 4º DO

ART. 33 DA LEI N. 11.343/2006, VEDADA A

SUBSTITUIÇÃO POR OUTRA RESTRITIVA DE

DIREITOS. SITUAÇÃO MAIS GRAVOSA.

INAPLICABILIDADE. 1. Condenação, por tráfico de

entorpecentes, a um ano e oito meses de reclusão, em

regime fechado. Presença dos requisitos necessários à

substituição da pena privativa de liberdade por outra

restritiva de direitos, bem assim ao regime aberto.

Constrangimento ilegal evidenciado, justificando exceção

à Súmula 691 desta Corte. 2. Redução de 1/6 a 2/3 da pena,


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

prevista no § 4º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, vedada a

substituição por outra restritiva de direitos. Situação mais

gravosa ao paciente. Inaplicabilidade. Ordem concedida,

parcialmente, de ofício, para garantir ao paciente a

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substituição da pena privativa de liberdade por outra

restritiva de direitos, bem assim para que, caso haja

reversão, o início da execução da pena privativa de

liberdade se dê em regime inicial aberto.

Ademais, a vedação legal genérica à aplicação do benefício

viola a reserva jurisdicional para análise da possibilidade ou não da

substituição em cada caso concreto, estando presentes os requisitos do artigo 44

do Código Penal, com inegável afronta ao princípio republicano da separação

entres os poderes.

Diante das considerações tecidas, verifica-se que para assegurar

o mais basilar dos princípios constitucionais, fundamento da República

Federativa do Brasil e protegido por diversos instrumentos internacionais, qual

seja, a dignidade da pessoa humana, além dos demais princípios constitucionais

da isonomia, da razoabilidade, da proporcionalidade, da individualização da

pena e da separação entre os poderes faz-se necessário afastar a incidência da

vedação do § 4º do artigo 33 e do artigo 44, ambos da Lei 11.343/06, com a

consequente substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de

direitos, vez que a proibição legal é inconstitucional.


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

- Da fixação do regime inicial diverso do fechado

O regime fechado foi fixado por força do no §1º do artigo 2º da


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Lei dos Crimes Hediondos.

Inicialmente, entende a defesa que não pode prosperar o disposto

no §1º do artigo 2º da Lei dos Crimes Hediondos, com a redação dada pela Lei n.º

11.464/07, que prevê o regime inicial fechado para os crimes hediondos ou

equiparados.

Ora, assim como o dispositivo que determinava o regime

integralmente fechado, o dispositivo em questão também afronta diretamente a

Constituição da República de 1988 em seu postulado fundamental da

individualização da pena, insculpido em seu artigo 5º, inciso XLVI.

Neste sentido, inclusive, manifestou-se o Plenário do Supremo

Tribunal Federal, declarando incidentalmente, no julgamento do Habeas Corpus

111.840, a inconstitucionalidade do referido dispositivo, decisão esta

sistematicamente desrespeitada pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Desta forma, a fixação do regime de cumprimento de pena deve

observar o disposto no art. 33, §§2° e 3°, do Código Penal. No caso, dado o

quantum da pena e a primariedade do paciente, impõe-se a fixação do regime


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

semiaberto para expiação da reprimenda e em caso de aplicação da redutora

prevista no §4º do artigo 33 da Lei 11.343/2006, a fixação do regime aberto.

Ainda, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça sumulou

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entendimento de que fixada a pena-base no mínimo legal, como no caso em tela, é

vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em

razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito

(Súmula 440). O que claramente, é o presente caso. Vejamos a R.sentença.

Também não há de se falar em inadequação do regime

aberto/semiaberto pelas consequências genéricas do crime de tráfico, pois a

gravidade em abstrato do crime deve ser objeto de análise pelo legislador, cabendo

ao magistrado, se assim entender pelas peculiaridades do caso concreto, impor

regime diverso, nos termos do §3° do supracitado artigo, desde que de forma

fundamentada.

Assim, uma vez aplicada a redutora prevista no §4º da Lei

11.343/2006 e preenchidos os requisitos elencados no artigo 33, § 2º, alínea c, e §

3º, c/c o artigo 59 do Código Penal, quais sejam, a primariedade, condenação


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

igual ou inferior a 04 anos, somado ao fator de serem as circunstâncias judiciais

favoráveis, o paciente em questão faz jus ao cumprimento da pena privativa de

liberdade em regime inicial aberto

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DA ORDEM LIMINAR

Presentes os requisitos autorizadores, requer-se a

CONCESSÃO DA ORDEM LIMINAR, devendo o presente pedido de Habeas

Corpus ser julgado, ao final, procedente, confirmando-se a liminar concedida

para a fim de reconhecer a nulidade em razão da violabilidade do domicilio e

subsidiariamente, aplicar a redutora prevista no artigo 33 §4º da Lei de drogas

em seu patamar Maximo de 2/3, bem como determinar a substituição da pena

privativa de liberdade por restritiva de direitos e o cumprimento de pena em

regime inicial aberto.

Requer seja a concessão da liminar convertida em decisão

definitiva.

Termos em que, Pede deferimento.

São José dos Campos, data do protocolo.


Petição Eletrônica protocolada em 08/09/2021 11:39:58

___________________________

TAINA SUILA DA SILVA

OAB/ SP 375.399

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