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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARA IZA PEREIRA PISANI e Tribunal de Justica do Estado de Sao

Paulo, protocolado em 29/11/2021 às 19:36 , sob o número WPRO21014477581.


(e-STJ Fl.503)
fls. 503

ADVOGADOS

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002353-55.2021.8.26.0003 e código 17AD80D6.
PROCESSO Nº 1002353-55.2021.8.26.0003

CARLOS MATIAS KOLB, devidamente qualificado nos autos do Recurso de


Apelação Cível em epígrafe, interposto nos autos da ação de Procedimento Comum Cível
promovida em face de BANCO PAN S/A, não se conformando com o V. Acórdão publicado no D.J.E.
em 05/11/2021, por seus advogados, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência,
interpor RECURSO ESPECIAL, com fundamento no artigo 105, III, alíneas a e c, da Constituição
Federal, consubstanciando-o nas anexas razões.

Ademais, informa o Recorrente que deixa de recolher as custas de preparo, tendo


em vista ser beneficiário da Justiça Gratuita.

Nessas condições, requer seu regular processamento mediante a remessa dos


autos ao Colendo Superior Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 1.030, V, do Código de Processo
Civil.

Termos em que,
pede deferimento.
São Paulo, 29 de novembro de 2021.
Documento recebido eletronicamente da origem

DEMÉTRIUS DALCIN AFFONSO DO RÊGO MARA PISANI


OAB/SP 320.600 OAB/SP 322.194

Dalcin & Pisani Advogados


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(e-STJ Fl.504)
fls. 504

ADVOGADOS

RAZÕES DE RECURSO ESPECIAL

RECORRENTE: Carlos Matias Kolb


RECORRIDO: Banco Pan S/A

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002353-55.2021.8.26.0003 e código 17AD80D6.
ORIGEM: Apelação Cível nº 1002353-55.2021.8.26.0003, cujo trâmite deu-se perante
a 37ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo, interposto pelo Recorrente e pelo Recorrido nos autos da ação de
Procedimento Comum Cível com mesmo número, cujo trâmite deu-se
perante a 05ª Vara Cível do Foro Regional do Jabaquara da Comarca de São
Paulo.

Egrégio Superior Tribunal de Justiça,

Colenda Turma Julgadora,

Ínclitos Ministros.

I. DA TEMPESTIVIDADE.

Preliminarmente, destaca-se que o presente recurso é manifestamente


tempestivo.

Isso porquê, nos termos do artigo 1.003, § 5º, c/c o artigo 219 do Código de Processo
Civil, o prazo para interpor o presente recurso é de 15 (quinze) dias.

Tendo em vista que o v. acórdão que negou provimento ao Recurso de Apelação do


Recorrente foi publicado em 05/11/2021, tem-se que o primeiro dia do prazo deu-se em 08/11/2021,
e considerando o feriado no dia 15/11/20201 (Proclamação da República), o prazo final para
apresentação do presente recurso se encerra no dia 29/11/2021.

Sendo assim, resta comprovada a tempestividade do presente recurso.

II. DOS FATOS.


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O Recorrente propôs ação revisional de contrato de financiamento imobiliário em face


do Recorrido visando a nulidade de cobranças indevidas, quais sejam:

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(e-STJ Fl.505)
fls. 505

ADVOGADOS

1. Cobrança de juros compostos no decorrer dos pagamentos do contrato,


verificando-se assim, a ocorrência de anatocismo. No mais, em relação ao mesmo
tema, verifica-se que o contrato firmado entre as partes, define como indexador
monetário o IGP-M (FGV), MUITO SUPERIOR AO ÍNDICE INFLACIONÁRIO

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OFICIAL IPCA (IBGE), motivo pelo qual deverá a dívida ser recalculada aplicando-se
os juros simples;

2. Juros remuneratórios em percentual de 13,97% a.a., o qual é superior


à taxa máxima permitida pelo BACEN para o período em que o contrato fora
firmado, de 7,72% a.a.;

3. Seguro Proteção Financeira, em flagrante venda casada, prática esta


vedada por lei, uma vez que impõe referida contratação como condição para concessão
do financiamento, única e exclusivamente com empresa do grupo Recorrido, sem sequer
estipular seu valor, cobrando-o com o acréscimo de juros sobre juros.

4. Taxa de Serviço no absurdo valor de R$ 980,00 (novecentos e oitenta


reais), bem como a genérica Taxa Mensal no valor de R$ 23,04 (vinte e três reais
e quatro centavos), tarifas estas, sem quaisquer destinações específicas
estabelecidas em contrato.

Devidamente citado, o Recorrido contestou o feito alegando, em resumo, ausência de


quaisquer irregularidades no contrato objeto do litígio.

Em seguida, a MMa. Juíza a quo proferiu a r. sentença de fls. 377/388, na qual decidiu
pela parcial procedência da ação revisional nos seguintes termos:

“(...) Ante o exposto, com fulcro no artigo 487, inciso I, do Código de


Processo Civil, julgo PROCEDENTE, EM PARTE, o pedido inicial a fim de
declarar nula de tarifa dos custos de administração “Valor do
Financiamento destinado ao pagamento das despesas acessórias
(devidas a terceiros)”, no valor de R$ 980,00 (item 3 -A.2 - fls. 36), e
condenar a ré à restituição simples de R$ 980,00 (novecentos e
oitenta reais), corrigidos monetariamente pela Tabela Prática do Tribunal de
Justiça, desde o desembolso, em 09.06.2012, e juros de mora de 1% ao mês,
desde a citação. Em razão da sucumbência recíproca, condeno as partes ao
pagamento das custas e despesas processuais, na proporção de 75% para a
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autora e 25% para a ré, bem como dos honorários advocatícios, os quais fixo
em 10% do valor da causa, diante do baixo valor da condenação e, ainda,
considerando-se o local da prestação do serviço, a complexidade da demanda
e o zelo do profissional na condução do feito, conforme preceitua o art. 85, §
2º, do Código de Processo Civil. Anote-se, todavia, que a autora é parte

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(e-STJ Fl.506)
fls. 506

ADVOGADOS

beneficiária da gratuidade da justiça, de modo que as obrigações decorrentes


de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade, nos
termos do artigo 98, § 3º, do Código de Processo Civil. Se interposto recurso
de apelação, intime-se o apelado a apresentar contrarrazões no prazo de

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quinze dias e, após, remetam-se os autos à Seção competente do E. Tribunal
de Justiça, acompanhados de eventuais mídias e objetos arquivados em
cartório, independentemente de juízo de admissibilidade, nos termos do art.
1.010, § 3º, do Código de Processo Civil. P.R.I.”. (g.n.)

Inconformado com o teor da r. sentença, o Recorrido interpôs recurso de apelação de


forma genérica, alegando novamente, ausência de quaisquer irregularidades no contrato objeto do
litígio, porém, o Recorrente também interpôs recurso de apelação visando a reforma da r. decisão
de parcial procedência.

Ocorre que, apesar do Recorrente demonstrar que as suas razões de irresignação


mereciam prosperar, em sessão de julgamento realizado em 28/10/2021, o E. Tribunal de Justiça a
quo negou provimento ao recurso de apelação do Recorrente (fls. 487/501), em contrariedade à Lei
Federal e ao entendimento desta Egrégia Corte.

No presente caso, o Tribunal validou parte do ato ilícito praticado pelo Recorrido, na
medida em que a inércia diante das cobranças ilegais e abusivas por parte do Recorrido, violam o
direito do Recorrente, lhe ocasionando diversos danos, inclusive, ratificando a DÍVIDA
INFINITA que vem enfrentando, visto que o Recorrente financiou o valor correspondente
a R$ 150.308,90 (cento e cinquenta mil, trezentos e oito reais e noventa centavos), já tendo pago
o valor de R$ 396.827,85 (trezentos e noventa e seis mil, oitocentos e vinte e sete reais e oitenta
e cinco centavos), mas ainda ter um saldo devedor no valor de R$176.627,62 (cento e setenta
e seis mil, seiscentos e vinte e sete reais e sessenta e dois centavos), o que não se pode admitir.

Dessa forma, ousa o Recorrente divergir do posicionamento adotado pelo E. Tribunal de


Justiça a quo, tendo em vista o v. acórdão estar completamente fora de sintonia com o entendimento
deste Superior Tribunal de Justiça, além de afrontar lei federal, aguardando-se, portanto, que esta
Egrégia Corte reforme o v. acórdão, determinando a nulidade das cláusulas que estipulam as
cobranças ilegais e abusivas, limitando os juros ao percentual médio estipulado pelo Banco Central,
o que, consequentemente, acarretará no recálculo do contrato de financiamento pactuado entre as
partes, pelas razões fáticas e jurídicas a seguir apresentadas.
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III. CABIMENTO DO RECURSO.

O Superior Tribunal de Justiça deve exercer a sua função de zelar pela aplicação
escorreita e uniforme do direito federal, sem contentar-se com interpretações dadas por outros

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(e-STJ Fl.507)
fls. 507

ADVOGADOS

Tribunais de Justiça, tidas apenas como razoáveis, que não coincidam com aquela que entenda como
correta e adequada ao caso discutido.

Consoante restará demonstrado nas razões do presente recurso, o v. acórdão atacado

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contraria Lei Federal e os precedentes jurisprudenciais desta Egrégia Corte, que se posiciona no
sentido de serem ilegais as cláusulas abusivas que colocam o consumidor em desvantagem frente a
relação de consumo, como no presente caso, em que o Recorrido embutiu no contrato tarifas sem
sequer demonstrar as suas destinações, impôs o pagamento de seguros (o que caracteriza a “venda
casada”), e cobrou o dobro do percentual de juros estipulado pelo Banco Central como média para o
período em que o contrato fora pactuado, o que não se pode admitir.

Assim, o Recorrente passa a demonstrar o cabimento deste recurso especial em razão


da infringência de Lei Federal e do comprovado dissídio jurisprudencial a justificar a reforma da r.
decisão recorrida. Senão vejamos.

III.1. PREQUESTIONAMENTO.

Mister destacar, neste tópico, que o Recorrido violou diversos dispositivos federais
(artigos 39, 46 e 51 do Código de Defesa do Consumidor), os quais, foram exaustivamente ventilados
por meio da inicial e no recurso de apelação apresentados pelo Recorrente.

Ademais, ao contrário do que sustenta o v. Acórdão proferido nos autos do recurso de


apelação cível, a jurisprudência deste Tribunal Superior, assim como do Supremo Tribunal
Federal, entende ser ilegal a capitalização dos juros, ainda que expressamente
convencionada, bem como, que o percentual de juros deve ser limitado a média
apresentada pelo Banco Central, quando este ultrapassar em 50% (cinquenta por cento) o
percentual médio de mercado, o que restou comprovado, tendo em vista que o Recorrido
cobrou o praticamente o dobro do percentual apresentado pelo BACEN.

Dessa forma, para que não pairem dúvidas a respeito do prequestionamento da matéria,
impõe-se a análise das peças suscitadas em que o Recorrente ressalta, com firmeza, a violação dos
dispositivos federais, conforme será demonstrado abaixo.

Nesse passo, verifica-se que o Recorrente provou na exordial e no recurso de apelação,


as cobranças ilegais e abusivas realizadas pelo Recorrido.
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Mesmo diante de tais comprovações, a MMa. Juíza a quo proferiu a r. sentença de fls.
377/388, na qual decidiu pela parcial procedência da ação.

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(e-STJ Fl.508)
fls. 508

ADVOGADOS

Em seguida, inconformado com o teor da r. sentença da MMa. Juíza a quo, o Recorrente


interpôs recurso de apelação (fls. 391/414), corroborando o mesmo entendimento já exposto na
exordial.

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Ocorre que, apesar do Recorrente demonstrar que as suas razões de irresignação
mereciam prosperar, em sessão de julgamento realizada em 28/10/2021, o E. Tribunal de Justiça a
quo negou provimento ao recurso de apelação do Recorrente (fls. 487/501), em contrariedade à Lei
Federal e ao entendimento desta Egrégia Corte.

Nessas condições, tem-se presente o preenchimento das razões do apelo especial, pois
aferidos os requisitos de admissibilidade que lhe são pertinentes, notadamente pelo
prequestionamento do dispositivo federal tidos por malferidos pelo v. acórdão recorrido, ao que
vem disposto no artigo 255, § 1º do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça.

Não incide, portanto, à espécie, os óbices consubstanciados nas Súmulas 282 e 356 do
Colendo Supremo Tribunal Federal, aplicáveis, mutatis mutandis ao apelo especial, no pertinente ao
prequestionamento, salvo de qualquer dúvida, devidamente configurado.

Dessa forma, as questões concernentes à violação dos dispositivos suscitados no


presente recurso foram substancialmente prequestionadas, fazendo-se necessária, senão
imperativa, a reforma do v. acórdão.

IV. DO DIREITO.

IV.1. DA RELAÇÃO DE CONSUMO E DO DIREITO À REVISÃO.

Inicialmente, cumpre destacar que o Código de Defesa do Consumidor disciplina


comando constitucional de ordem pública e interesse social previsto no artigo 5º, XXXII e artigo 170,
V da Constituição Federal.

Ao contrário do que vem sendo repetido e erroneamente alegado pelas instituições


financeiras, a relação estabelecida entre as partes consiste em relação de consumo. Assim,
evidentemente, o Código de Defesa do Consumidor se aplica ao contrato de financiamento
objeto do litígio, conforme entendimento da Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça e
da ADIN 2591-1, julgada em 07.06.2006 pelo pleno do Superior Tribunal Federal.
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Acerca da proteção contratual contra disposições abusivas de contrato o Código de


Defesa do Consumidor dispõe em seu artigo 6º o seguinte:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...)

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(e-STJ Fl.509)
fls. 509

ADVOGADOS

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as
tornem excessivamente onerosas (...).

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Destaque-se que a norma supracitada consagra o direito imprescritível ao dirigismo
contratual, incidente sobre pactos maculados de nulidades, conforme artigo 51 da Lei 8.078/90,
transcrito abaixo:

Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais


relativas ao fornecimento de produtos e serviços que
IV - Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-
fé ou a equidade (...)
§ 1º - Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
III - Se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se
a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras
circunstâncias peculiares ao caso.

Assim, no caso em questão, dada a existência de obrigação desproporcional verificada


no contrato de financiamento objeto do litígio, com disposição de cláusulas nulas de pleno direito,
sobressai a necessidade do dirigismo contratual estatal previsto no Código de Defesa do Consumidor,
que relativizou o princípio pacta sunt servanda, inclusive por força do regramento da teoria geral dos
contratos disciplinados nos artigos 113 e 422 do Código Civil.

Portanto, pacificado o entendimento de aplicação do Código de Defesa do


Consumidor às instituições financeiras e da relativização do pacta sunt servanda, patente
a necessidade do dirigismo estatal para tornar as obrigações do contrato (ora discutido)
proporcionais, de modo a declarar nulas as cláusulas que estipulam a cobrança de tarifas indevidas
para limitar a cobrança dos juros remuneratórios ao máximo estabelecido pelo Banco Central, revisar
o valor das prestações pagas pelo Recorrente e restituir o excesso eventualmente pago, direito este
que será demonstrado a seguir.

IV.2. DO CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL PELO ARTIGO 105, INCISO III, ALÍNEA A,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

IV.2.a. DA NULIDADE DO VALOR EXIGIDO A TÍTULO DE SEGURO. IMPOSIÇÃO DO


RECORRIDO PARA CONTRATAÇÃO DE EMPRESA DO MESMO GRUPO ECONÔMICO. VENDA
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CASADA CONFIGURADA. CLÁUSULA NULA. INFRIGÊNCIA AO ARTIGO 39, INCISO I DO CDC.

Conforme amplamente exposto pelo Recorrente nos autos, verifica-se no contrato em


questão, a imposição pelo Recorrido da contratação de Seguro Proteção Financeira, como
condição para concessão de financiamento, única e exclusivamente com empresa

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pertencente ao mesmo grupo econômico da financeira Recorrida, sem sequer estipular o


valor total da referida cobrança, descrevendo tão somente, o valor a ser pago mensalmente, o
que sofre com a capitalização de sua cobrança cumulada com os juros compostos.

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Assim, tem-se que o valor inicial cobrado pelo banco Recorrido era de R$ 816,97
(oitocentos e dezesseis reais e noventa e sete centavos) mensais, porém, com a correção pelo
índice IGPM (FGV) o seu valor em novembro de 2021 está em R$ 1.320,29 (um mil, trezentos
e vinte reais e vinte e nove centavos), ou seja, as parcelas mensais sofreram um reajuste de R$
503,32 (quinhentos e três reais e trinta e dois centavos), o que, com o decorrer do tempo, será
ainda mais onerado.

Ato contínuo, imperioso ressaltar que através desses pagamentos mensais, o


Recorrente já efetuou o pagamento no valor superior a R$ 61.236,04 (sessenta e um mil,
duzentos e trinta e seis reais e quatro centavos), somente à título dos seguros, conforme pode-
se constatar no quadro de fls. 126 dos autos principais.

Ora Excelência, tal prática é abusiva e lesa o direito do consumidor por não lhe dar a
opção de escolha de contratação ou não de referido seguro, ou até mesmo por não o deixar optar
pela seguradora pertencente ao grupo do Recorrido ou qualquer outra oferecida no mercado.

Conforme o entendimento desta Egrégia Corte, com tal prática, resta demonstrada a
chamada “venda casada”, uma vez que o Recorrente não teve a real opção de contratar ou
não referido seguro e, caso optasse por contratar, escolher entre a seguradora do Recorrido ou
qualquer outra disponível no mercado. Vejamos o trecho do contrato já preenchido pelo Recorrido
que claramente obriga o consumidor, ora Recorrente:

Assim, para que o contrato de financiamento fosse entabulado entre as partes,


o Recorrente foi compelido a assinar um documento, frise-se, já preenchido pelo
Recorrido, com a contratação do seguro já assinalada, subtraindo seu direito de consumidor à livre
escolha no mercado.

Demais disso, fica evidente a ocorrência da “venda casada”, já que a seguradora


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responsável pelo contrato objeto do litígio é a empresa Pan Seguros S/A (CNPJ nº
33.245.762/0001-07), a qual, pertence ao mesmo grupo econômico da financeira Recorrida,
que omitiu tal informação do Recorrente, ou seja, não lhe dando a opção de contratar ou não referida
empresa.

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fls. 511

ADVOGADOS

Com isso Excelência, confere-se outra abusividade praticada pelo Recorrido no contrato
em questão, além das tarifas ilegais praticados no contrato firmado entre as partes.

Isso porque a prática de “venda casada” é PROIBIDA POR LEI, conforme disciplina

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o Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 39, inciso I, que assim preceitua:

Art. 39 “É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de
outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”.

Portanto, indiscutível a ilegalidade na cobrança do Seguro Proteção Financeira,


imposto de forma unilateral pela financeira Recorrida como condição para concessão de
financiamento ao Recorrente, caracterizando-se venda casada, vedada por lei, devendo, assim, ser
declarada nula de pleno direito a cláusula 4 do contrato de financiamento, bem como, seja
restituído ao Recorrente os valores cobrados à maior pelo banco Recorrido, o que desde já requer.

IV.2.b. DA NULIDADE DA TARIFA IMPOSTA UNILATERALMENTE PELO BANCO RECORRIDO.


MAJORAÇÃO EXCESSIVA DO VALOR DA PARCELA. AUSÊNCIA DE CONTRAPRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS AO RECORRENTE. NULIDADE. APLICAÇÃO DOS ARTIGOS 46 E 51 DO CDC.

Neste tópico, o Recorrente comprova a abusividade e ilegalidade da tarifa estabelecida


e cobrada unilateralmente pelo Recorrido no contrato de financiamento firmado entre as partes, sem
que haja qualquer contraprestação efetiva de serviços ao Recorrente, senão vejamos.

Em momento algum o Recorrido informou ao Recorrente sobre as tarifas


pactuadas no contrato em questão, salientando que o Recorrente sequer recebeu uma via
do referido instrumento no momento da contratação, tampouco comprovou sua
contraprestação e finalidade, violando, assim, o direito básico do consumidor à informação, conforme
determina o artigo 6º, III c/c 46, ambos do Código de Defesa do Consumidor. In verbis:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:


III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
com especificação correta de quantidade, características, composição,
qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
Documento recebido eletronicamente da origem

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os


consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento
prévio, de seu conteúdo ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de
modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

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Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARA IZA PEREIRA PISANI e Tribunal de Justica do Estado de Sao Paulo, protocolado em 29/11/2021 às 19:36 , sob o número WPRO21014477581.
(e-STJ Fl.512)
fls. 512

ADVOGADOS

As cláusulas contratuais que impõem o pagamento de tarifas e demais serviços ilegais


no contrato de financiamento em questão se enquadram nas situações previstas no artigo 51, inciso
IV, do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe sobre a nulidade de pleno direito das cláusulas
contratuais que:

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002353-55.2021.8.26.0003 e código 17AD80D6.
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-
fé ou a equidade.

Ainda, o § 1º, inciso III, do citado artigo 51 estabelece ser nula a cláusula que:

se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a


natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras
circunstâncias peculiares ao caso.

Como já é de praxe nas práticas bancárias, no contrato de financiamento em questão o


Recorrido tão somente impôs ao Recorrente o pagamento de tarifa sem qualquer
informação adicional. Vejamos:

Ora, Excelência, tal valor foi embutido no contrato de financiamento sem qualquer
especificação de sua incidência e finalidade, sendo, portanto, ilegal e indevido, nos termos do artigo
46 do Código de Defesa do Consumidor, retro transcrito.

Ademais, verifica-se flagrante abusividade e ilegalidade na cobrança de tal


tarifa, uma vez que inexistem provas da natureza, do efetivo alcance dessa obrigação e da
efetiva prestação desse serviço, ficando o consumidor incerto quanto à existência de
contraprestação resultante dos valores pagos.

Desta forma, certo é que referidas cláusulas não obrigam o consumidor e violam os
princípios de probidade e boa-fé que deveriam ser inerentes aos contratos, na medida em que não
está claro o que se contrata!

A única hipótese imaginável de tal cobrança é a de cobertura de custos administrativos


da instituição financeira do Recorrido. Entretanto, por se tratarem de custos operacionais da
Documento recebido eletronicamente da origem

instituição financeira, tais valores já deveriam estar incluídos na taxa remuneratória do contrato,
sendo descabida sua cobrança de forma isolada e majorando excessivamente o valor da operação e
do custo efetivo total do valor financiado.

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(e-STJ Fl.513)
fls. 513

ADVOGADOS

Verifica-se que, não obstante a cobrança de altíssimos juros comumente aplicados, as


instituições financeiras acabam sendo remuneradas pelos inúmeros encargos exigidos de forma
abusiva dos consumidores.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002353-55.2021.8.26.0003 e código 17AD80D6.
Autorizá-las a repassar ao consumidor todas as despesas quando já se extrai
lucro da atividade, causaria um desequilíbrio nas relações com o consumidor e
possibilitaria dupla remuneração, pois já embutidas no custo da operação, de forma mascarada,
a transferência dos custos administrativos do Banco à parte hipossuficiente da relação.

Assim, Excelência, indiscutível que a tarifa exigida pelo Recorrido é abusiva e


ilegal, por flagrante ofensa aos artigos 46 e 51, inciso IV, do Código de Defesa do
Consumidor, pelo que deverão ser declaradas nulas de pleno direito as cláusulas do contrato que
preveem o pagamento da Taxa Mensal no valor de R$ 23,04 (vinte e três reais e quatro).

IV.3. CABIMENTO DO RECURSO ESPECIAL PELO ARTIGO 105, INCISO III, ALÍNEA C DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.

IV.3.a. DA NULIDADE DE PLENO DIREITO DA TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS DE


13,97% A.A. MÉDIA DE MERCADO INFORMADA PELO BACEN PARA O PERÍODO EM
PORCENTAGEM INFERIOR. ENTENDIMENTO PACÍFICO DA 2ª SEÇÃO DO STJ.

Com relação ao tema, conforme exaustivamente ventilado, cabe destacar que O


PRESENTE TÓPICO NÃO VISA LIMITAR OS JUROS REMUNERATÓRIOS À 12% AO ANO. Os
patronos que ora subscrevem entendem, assim como de maneira uníssona a jurisprudência, que o
pedido de limitação à 12% ao ano não merece prosperar.

Deixando-se claro o ponto acima apresentado, passemos a análise do direito do


Recorrente.

O dirigismo atribuído ao Conselho Monetário Nacional para “limitar, sempre que


necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de
operações e serviços bancários ou financeiros1” não significa a liberação dos juros a quaisquer níveis,
entendimento este compactuado por Arnaldo Rizzardo e Luiz Antônio Scavone Junior.

Desde 12.03.2003, a 2ª Seção do STJ se reuniu para uniformização de jurisprudência,


Documento recebido eletronicamente da origem

pacificando-se a favor da liberação dos juros remuneratórios, desde que observadas as taxas de
mercado (Recurso Especial nº 407.097/RS).

1
Lei 4.595/1.964, artigo 4, IX
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(e-STJ Fl.514)
fls. 514

ADVOGADOS

Com isso, restou pacificado que a abusividade da taxa de juros remuneratórios


deve ser verificada no caso concreto. Para tanto, observe a taxa média divulgada pelo Banco
Central para o período em que fora pactuado o contrato em questão (fl. 127):

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002353-55.2021.8.26.0003 e código 17AD80D6.
Fonte: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeries.do?method=consultarValores

Contudo, observe-se a absurda diferença entre o percentual aplicado no


contrato ora discutido e o percentual máximo previsto pelo BACEN para o período da
contratação:

TAXA PREVISTA PELO BACEN


PARA O PERÍODO DE MAIO TAXA PREVISTA NO
DE 2012 CONTRATO

7,72% AO ANO 13,97% AO ANO

Ora, o abuso é visível! A taxa praticada pelo banco Recorrido é muito superior à
média de mercado informada pelo Banco Central, sendo aplicável, ao caso, o artigo 51, IV,
do Código de Defesa do Consumidor, que é expresso ao dispor que “são nulas de pleno
direito as cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a
equidade”.

Em Ação Direta De Constitucionalidade julgada 2591 julgada improcedente em


07.06.2006 pelo pleno, o Superior Tribunal Federal pacificou o entendimento no sentido de que,
demonstrado no caso concreto flagrante excesso na prática de encargos financeiros, é necessária a
intervenção do Estado.
Documento recebido eletronicamente da origem

Em referida ADIN, o Superior Tribunal Federal deixou expresso que o Código de Defesa
do Consumidor não deve ser aplicado de forma direta e literal na limitação de encargos financeiros,
cabendo ao magistrado verificar no caso concreto se o pacto é nulo, para então aplicar o comando

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(e-STJ Fl.515)
fls. 515

ADVOGADOS

do artigo 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor que garante a modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou excessivamente onerosas.

Assim, é certo que quando da alegação de cobrança de juros abusivos, no caso, acima

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002353-55.2021.8.26.0003 e código 17AD80D6.
da média do mercado estabelecida pelo BACEN, faz-se importante a demonstração da citada
ilegalidade, como realizado nesta peça exordial através dos documentos anexados e das teses
invocadas, facilitando assim o acolhimento da tese apresentada. Neste sentido entende o professor
Cândido Rangel Dinamarco:

“O mais notório e ilustrativo dos ônus processuais é o da prova. Ao


demonstrar a ocorrência dos fatos de seu interesse, a parte está favorecendo
o acolhimento de sua própria pretensão (...)” (Instituições de Direito
Processual Civil - CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO - Vol. II, p. 205).

No mais, importante ressaltar que independente de as instituições bancárias brasileiras


não estarem sujeitas a limitações ordinárias quanto aos juros remuneratórios, houve decisão por
parte do C. Superior Tribunal de Justiça, através de orientação nº 1 (incidente de processo
repetitivo), que decide pela limitação dos juros remuneratórios à taxa média estabelecida
pelo BACEN em casos onde o abuso for constatado e coloque o consumidor em desvantagem
exagerada, nos termos do artigo 51, § 1º do Código de Defesa do Consumidor, abaixo transcrito.

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do


contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se


a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras
circunstâncias peculiares ao caso.

Segue abaixo a citada orientação nº 1 do Superior Tribunal de Justiça que


autoriza a limitação dos juros remuneratórios em situações excepcionais, ou seja, quando
houver um desequilíbrio contratual que coloque o consumidor em risco:
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(e-STJ Fl.516)
fls. 516

ADVOGADOS

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1002353-55.2021.8.26.0003 e código 17AD80D6.
Pois bem. Verifica-se no caso em deslinde que a simples limitação dos juros
remuneratórios à taxa estipulada pelo BACEN de 13,97% a.a. para 7,72% a.a., gera uma
redução significativa.

Desse modo, foram atendidos os dois requisitos impostos pelo Enunciado nº 1


desta Egrégia Corte para que seja possível a revisão da taxa de juros remuneratória, quais
sejam:

1º) A relação de consumo entre Recorrente e Recorrido, que é certa, conforme


artigo 3º, § 2º do Código de Defesa do Consumidor;

2º) A abusividade está cabalmente demonstrada pelos documentos anexos.

Assim, em cumprimento ao artigo 255, § 1º do RISTJ, o Recorrente esclarece que tanto


o v. acórdão recorrido, como o aresto paradigma proferido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul no Recurso de Apelação nº 70083556068, julgado pela 12ª Câmara Cível e relatado pela
Desembargadora Cláudia Maria Hardt, o qual foi julgado em 21/05/2020, (doc. 01), referem-se a
ação revisional, que tem como matéria a discussão sobre limitação dos juros
remuneratórios ao percentual médio apresentado pelo Banco Central.

Senão vejamos:
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Acórdão recorrido:
Apelação Cível nº 1002353-55.2021.8.26.0003, julgado pela 37ª Câmara de Direito
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Desembargadora Relatora Ana Catarina
Strauch, conforme d. decisão publicada no D.J.E. em 05/11/2021.

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(e-STJ Fl.517)
fls. 517

ADVOGADOS

Acórdão paradigma:
Apelação Cível nº 70083556068, julgado pela 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça
de Rio Grande do Sul, Desembargadora Relatora Cláudia Maria Hardt, conforme v.

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acórdão julgado em 21/05/2020.

À seguir, a convergência dos V. Arestos:

CONVERGÊNCIA DOS V. ARESTOS

ACÓRDÃO RECORRIDO ACÓRDÃO PARADIGMA

“APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS


JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO
REVISIONAL. TAXA DE JUROS
“Apelação - Cédula de Crédito Bancário
REMUNERATÓRIOS. LIMITAÇÃO À
- Financiamento de Imóvel- Juros
TAXA MÉDIA APURADA PELO BACEN.
Abusivos - Seguro proteção embutido no
ABUSIVIDADE VERIFICADA. 1. É possível
valor das parcelas - taxa de administração -
a revisão ampla dos contratos bancários à
Serviço de terceiros - Utilização do IGP-M
luz das normas do Código de Defesa do
para fins de reajuste - Capitalização de
Consumidor. 2. Juros remuneratórios
Juros - Tabela Price - Serviços de terceiros
contratados em patamar que discrepa
- abusividade reconhecida - Sentença de
substancialmente da taxa média de
parcial procedência - mantida - RECURSOS
mercado apurada pelo BACEN que deve
DESPROVIDOS” (TJSP; Apelação Cível
servir de parâmetro para a limitação. 3.
1002353-55.2021.8.26.0003; Relator
Havendo a cobrança indevida de valores,
(a): Ana Catarina Strauch; Órgão Julgador:
mostra-se viável a compensação e a
37ª Câmara de Direito Privado; Foro
repetição do indébito na forma simples. 4.
Regional III - Jabaquara - 5ª Vara Cível;
Honorários advocatícios fixados de forma
Data do Julgamento: 28/10/2021; Data de
adequada ao trabalho realizado e ao
Registro: 28/10/2021).
tempo despendido, com amparo no art. 85
do CPC. Honorários recursais devidos.
APELAÇÃO DESPROVIDA.

Assim, diante da demonstração dos pontos em que o v. aresto recorrido e o paradigma


convergem, é certo que o v. acórdão recorrido deu interpretação divergente quanto ao entendimento
consolidado por este Tribunal Superior e ao entendimento dos outros Tribunais Estaduais referente
Documento recebido eletronicamente da origem

a abusividade da cobrança que supera em 50% (cinquenta por cento) a taxa de mercado apresentada
pelo Banco Central, conforme ocorreu no presente caso.

No quadro abaixo, para melhor exposição, denota-se a divergência do V. Aresto


recorrido e do paradigma:

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(e-STJ Fl.518)
fls. 518

ADVOGADOS

DIVERGÊNCIA DOS V. ARESTOS

ACÓRDÃO RECORRIDO ACÓRDÃO PARADIGMA

“Tratam os autos, de Ação Revisional de

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Contrato c.c Tutela de Urgência, promovida “APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS
pelo autor (...) Além disso, observe-se que BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. TAXA
a MP 2.170-36/01, em seu art. 5º DE JUROS REMUNERATÓRIOS.
(declarado constitucional pelo C. STF LIMITAÇÃO À TAXA MÉDIA APURADA
quando do julgamento do RE nº PELO BACEN. ABUSIVIDADE
592.377/RS), prevê a admissibilidade da VERIFICADA. 1. É possível a revisão
capitalização de juros com periodicidade ampla dos contratos bancários à luz das
inferior a um ano por instituições normas do Código de Defesa do
integrantes do Sistema Financeiro Nacional. Consumidor. 2. Juros remuneratórios
Assim, é lícito à instituição financeira cobrar contratados em patamar que discrepa
juros em taxa superior à legal, capitalizados substancialmente da taxa média de
com periodicidade inferior a um ano (juros mercado apurada pelo BACEN que deve
sobre juros). Os valores cobrados a título servir de parâmetro para a limitação. 3.
de juros no caso em análise não se Havendo a cobrança indevida de valores,
afiguram abusivos, inexistindo qualquer mostra-se viável a compensação e a
indício de que excedam em muito os valores repetição do indébito na forma simples. 4.
de operações similares. Eles foram Honorários advocatícios fixados de forma
previamente informados ao autor na Cédula adequada ao trabalho realizado e ao
de Crédito Bancário, de modo que ele teve tempo despendido, com amparo no art. 85
liberdade para optar entre diversas do CPC. Honorários recursais devidos.
instituições e obter o financiamento APELAÇÃO DESPROVIDA.”
desejado (...)

Como se afere, as interpretações contidas nos Vv. Acórdãos recorrido e


paradigma são diametralmente opostas, justificando-se, portanto, a propositura do presente
recurso.

Dessa forma, é certo que esta Egrégia Corte se utiliza do entendimento no sentido
de ser abusiva a cobrança da taxa que supera em 50% (cinquenta por cento), o percentual
médio apresentado pelo Banco Central, sendo que, no v. Acórdão prolatado pelo Tribunal de
Justiça a quo, os D. Desembargadores não se utilizaram de referida interpretação, porquanto
julgaram que a taxa cobrada na cédula de crédito pactuada entre as partes é lícita, uma vez que
foram previamente informada ao consumidor, ora Recorrente.
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Diante do acórdão paradigma transcrito e colacionado no presente recurso, e tendo


cumprido fielmente o disposto nos artigos 255, § 1° do Regimento Interno do Superior Tribunal de
Justiça e 1.029, § 1° do Código de Processo Civil, verifica-se que o v. Acórdão recorrido é
merecedor de reforma, por estar em desacordo com o posicionamento deste E. Superior Tribunal

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(e-STJ Fl.519)
fls. 519

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de Justiça, cabendo, portanto, o presente Recurso Especial, o qual deverá ser conhecido e
provido, conforme aqui exposto.

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IV.3.b. VALOR CORRETO DA DÍVIDA. APLICAÇÃO DE JUROS SIMPLES E EXCLUSÃO DOS
VALORES COBRADOS ILEGALMENTE. RECORRENTE PASSA A SER CREDOR DO RECORRIDO.

Diante das flagrantes abusividades praticadas pelo banco Recorrido, que incluiu no
contrato firmado, taxa e juros indevidos, bem como, se utilizou da Tabela Price para realizar o cálculo
da dívida, novos cálculos foram realizados através do laudo pericial que instrui essa
exordial, oportunidade em que se constatou que o valor das prestações pagas pelo Recorrente
sempre foram muito superiores às realmente devidas.

Assim, conforme pode se constatar às fls. 18/20 do anexo de cálculos do laudo pericial
(fls. 102/126), considerando-se o valor financiado de R$ 11.000,00 (onze mil reais), excluindo-
se as tarifas indevidas e considerando-se o cálculo com os juros simples, o Recorrente
passa a ser CREDOR do valor correspondente à R$ 1.085,89 (um mil e oitenta e cinco reais e
oitenta e nove centavos), uma disparidade enorme, se considerarmos a cobrança ilegal das tarifas e
dos juros compostos, onde o Recorrente permanece devendo ao Recorrido o valor de R$ 176.290,52
(cento e setenta e seis mil, duzentos e noventa reais e cinquenta e dois centavos). Vejamos o trecho
retirado do próprio anexo de cálculos do laudo pericial:
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fls. 520

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Desta forma, imperiosa se faz a revisão dos valores das parcelas nos exatos
termos apontados no laudo pericial declarando-se como corretos os valores apontados às
fls. 20/25 do laudo, tornando equilibrada a relação contratual firmada entre as partes, devendo,
ao final, ser restituído o valor pago a maior pelo Recorrente, mesmo que sob a forma de
compensação.

V. DOS PEDIDOS.

À luz de todo o exposto, o Recorrente requer seja CONHECIDO E INTEGRALMENTE


PROVIDO O PRESENTE RECURSO ESPECIAL, para reformar o v. Acórdão de modo que seja
determinada a ilegalidade das cobranças efetuadas à título de seguros e tarifa, bem como, para
limitar a taxa de juros ao percentual médio estipulado pelo Banco Central, conforme amplamente
exposto nos tópicos acima, por ser esta medida mais consentânea com os preceitos de direito e de
justiça.

Termos em que,
pede deferimento.
São Paulo, 29 de novembro de 2021.
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DEMÉTRIUS DALCIN AFFONSO DO RÊGO MARA PISANI


OAB/SP 320.600 OAB/SP 322.194

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