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STJ-Petição Eletrônica recebida em 13/10/2021 19:16:00 (e-STJ Fl.

3)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO HUMBERTO


MARTINS, DIGNÍSSIMO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL
DE JUSTIÇA

Distribuição por prevenção aos HCs nº 326.033; 559.720 e 650.453

Os advogados AUGUSTO DE ARRUDA BOTELHO, ANA


CAROLINA ALBUQUERQUE DE BARROS e BRUNA ALCOLEA
ZAVATARO KWASNIEWSKI e o estagiário de direito ANDRÉ
ANTIQUERA PEREIRA LIMA, brasileiros, inscritos na seccional paulista da
O.A.B. sob os números 206.575, 356.289, 455.354 e 230.958-E, respectivamente,
todos com escritório na cidade de São Paulo/SP, na Alameda Santos, 1978, 16º
andar, conjunto 161, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência para
impetrar a presente

ORDEM DE HABEAS CORPUS

com pedido de liminar em favor de PEDRO HENRIQUE MASCENA DO


Petição Eletrônica protocolada em 13/10/2021 19:17:39

NASCIMENTO, brasileiro, solteiro, inscrito no CPF/ME sob o nº 398.071.308-


32, portador da Cédula de Identidade RG nº 48.978.512 SSP/SP, atualmente preso
no Centro de Detenção Provisória da Cidade de Campinas/SP, com endereço na
Rua Bulgária, nº 435, CEP: 13318-000, Bairro Vilarejo, Cabreúva/SP, ilegalmente

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constrangido por força do v. acórdão prolatado pela c. 15ª Câmara de Direito


Criminal do e. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que manteve
condenação embasada exclusivamente em reconhecimento pessoal colhido em
violação ao rito do art. 226 do CPP (Apelação Criminal n° 0000095-
50.2015.8.26.0569) (doc.1).

Os impetrantes arrimam-se nos preceitos inscritos nos artigos 5º,


LXVIII, da Constituição Federal, 647 e 648, inciso VI do Código de Processo Penal
e, ainda, nos relevantes motivos de fato e de direito que, em anexo, passam a expor.

Termos em que,
Pedem deferimento.
De São Paulo para Brasília, 13 de outubro de 2021.

Augusto de Arruda Botelho Ana Carolina Albuquerque de Barros


OAB/SP – 206.575 OAB/SP – 356.289

Bruna Alcoléa Zavataro Kwasniewski André Antiquera Pereira Lima


OAB/SP – 455.354 OAB/SP – 230.958-E
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EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA,


COLENDA TURMA,
DOUTA PROCURADORIA,

1) Condenação com base em reconhecimentos não confirmados


em Juízo;

2) Erro judiciário. Condenação de inocente baseada


exclusivamente em reconhecimento realizado de forma ilegal;

3) Inobservância do procedimento previsto no art. 226 do CPP.


Prova inválida. Contrariedade ao HC nº 598.886.
Precedentes.

4) Ausência de cotejo do acusado ao lado de outras pessoas.


Ausência de descrição prévia das características da pessoa a
ser reconhecida;

5) Induzimento ao reconhecimento. Experiências visuais


comprometedoras.

6) Comprovação documental e testemunhal de que o paciente


não esteve no local do crime.
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I – SÍNTESE FÁTICA E OBJETO DO WRIT

Inicialmente, é importante ressaltar que os impetrantes deste


Habeas Corpus não foram advogados do paciente nos autos da Ação Penal em que foi
condenado.

Recentemente tomaram conhecimento através de sua família das


graves ilegalidades que circundam o presente caso, oportunidade em que
concordaram em auxiliar na sua defesa pro bono, sensibilizados e certos de que se trata
da condenação de um inocente em razão de reconhecimentos pessoais realizados de
forma ilegal, que não foram confirmados em juízo.

Os impetrantes têm conhecimento das limitações acerca da


análise de provas em Habeas Corpus, ainda que se permita a valoração de sua
validade, conforme decidido no recente precedente de relatoria do Min. Rogério
Schietti Cruz1. No entanto, faz-se necessário um breve resumo da dinâmica da data
dos fatos.

Pois bem.

PEDRO foi condenado a 6 anos, 10 meses e 15 dias pela prática


de um roubo que não cometeu e está preso, atualmente, no Centro de Detenção
Provisória de Campinas/SP.
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No dia 13 de fevereiro de 2015, por volta das 12h20min, dois


assaltos ocorreram na cidade de Cabreúva/SP. Um grupo de criminosos roubou
um carro e, em seguida, assaltou um restaurante de beira de estrada.

1 HC nº 598.886
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Os assaltantes, saindo do restaurante, ainda teriam roubado um


segundo veículo (Montana), que serviu para a fuga de um dos integrantes do grupo.

Policiais Militares foram acionados e passaram a realizar buscas


nas rodovias, tendo localizado o veículo Montana colidido em uma alça de acesso.

Após, abordaram PEDRO, que retornava de motocicleta de um


de seus afazeres laborais, a aproximadamente 2km do local em que os reais
assaltantes deixaram o veículo roubado.

Não foram encontrados quaisquer dos bens subtraídos das


vítimas em sua posse.

Aparentemente, para os policiais militares o simples fato de estar


transitando a poucos quilômetros de distância do local em que o assaltante deixou
o produto do crime e de que o paciente tinha importância em dinheiro em sua posse
justificaram a sua “prisão em flagrante”.

Porém, antes de sua condução ao Distrito Policial, os policiais


militares levaram PEDRO até o local em que estava o veículo abandonado,
momento em que foi realizado uma espécie de reconhecimento pessoal prévio por
uma das vítimas, FRANCISCO, que era proprietário do carro.

Na delegacia, no “burburinho” do flagrante, FRANCISCO e


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outras vítimas reconheceram PEDRO após os policiais terem mostrado uma


fotografia dele como o “suposto assaltante”: um reconhecimento absolutamente
ilegal, feito à margem do que prescreve o Código de Processo Penal.

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Já na instrução, ocorreu uma verdadeira inversão do ônus


probatório e, enquanto a acusação não se desincumbiu de comprovar as imputações
feitas, a defesa de PEDRO apresentou todas as provas de sua inocência,
reconstituindo documentalmente todo o dia e trajeto dele na data dos fatos.

Assim, comprovou, por meio de vídeo e comprovante bancário,


que PEDRO havia sacado de sua conta os valores encontrados em sua posse
naquele mesmo dia. Comprovou, ainda, a licitude dos valores, que haviam sido
depositados em sua conta no dia anterior por um cliente dos serviços de
construção civil prestados por ele e seu pai (doc. 2).

O referido saque ocorreu às 11h47min, meia hora antes do roubo


em questão, em agência localizada a mais de 10km de distância do local dos fatos.

Além disso, comprovou por meio de testemunhas, vídeos e


comprovantes das compras feitas ao longo do dia, todo o seu trajeto. PEDRO não
esteve na proximidade do local do assalto e estava almoçando com a sua mãe no
momento dele, conforme declarações prestadas por duas testemunhas em Juízo.
(doc. 3).

Mas não foi só. Das 4 vítimas que o teriam reconhecido em sede
policial, somente uma foi ouvida em Juízo e confirmou o reconhecimento. Outras,
deram detalhes que confirmam que os reconhecimentos não seguiram os ditames
legais.
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Contudo, todo o esforço da defesa foi em vão, uma vez que para
a MM. Magistrada sentenciante (doc. 4) e Desembargadores do e. TJSP, bastaram
os reconhecimentos realizados em sede policial – absolutamente fora dos

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ditames legais - para configuração de sua autoria, pouco importando a prova


produzida em Juízo.

Diante de ilegal condenação – e de sua manutenção pelo e. TJSP


-, fundamentada em reconhecimentos ilegais não confirmados em Juízo, é que se
justifica a impetração do presente writ.

II – DO CABIMENTO DO WRIT

Antes de se adentrar o mérito da discussão, destaca-se que o


presente caso tem por paradigma o Habeas Corpus nº 598.886 (doc. 5), que fixou as
diretrizes para o reconhecimento pessoal, consolidando o entendimento desta c.
Turma com relação ao tema.

Diante da similitude dos casos, cumpre mencionar que naquela


ocasião o Ministro Relator Rogério Schietti Cruz assentou “que o exame da controvérsia
não demanda reexame de prova – inviável no rito de cognição estreita do habeas corpus
–, mas sim valoração da validade de prova, o que é perfeitamente admitido
no julgamento do writ”.

Ainda, assim como no HC 598.886, a condenação de PEDRO já


transitou em julgado – tendo em vista que o Recurso Especial (apresentado por sua
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antiga defesa) que levaria a matéria para análise desta c. Corte foi julgado
intempestivo.

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Ocorre que no acórdão paradigma, o trânsito em julgado da


condenação não impediu a análise da matéria por esta c. Turma, assim como não
deve impedir no presente caso.

Inclusive, é sabido que a doutrina majoritária entende que o


Habeas Corpus é capaz de enfrentar a coisa julgada. Vejamos:

Eis, então, uma questão de alto grau de complexidade. Poderia o habeas


corpus cumprir o papel da ação de revisão criminal, ou seja, enfrentando a
coisa julgada?
Em primeiro lugar, responde-se afirmativamente à questão, no que toca,
especificamente, ao fato de o habeas corpus poder rescindir a coisa
julgada. Basta ver o disposto no art. 648, III e VI, nos quais se contempla
o citado writ para combater condenações proferidas por juiz
absolutamente incompetente, ou veiculadas em processo absolutamente
nulo. Então, a coisa julgada, em si, não seria o problema.2

Pelas razões expostas, é caso de conhecimento da presente ação


constitucional. Subsidiariamente, pugna-se pela concessão da ordem de ofício,
diante do manifesto constrangimento ilegal sofrido pelo paciente.

III – DO CONSTRANGIMENTO ILEGAL

Bem se sabe que inúmeros casos de erro judiciário decorrem de


reconhecimentos que não seguem os ditames legais do art. 226 do CPP. Este grave
problema já foi enfrentado por esta c. Corte, que fixou diretrizes para a valoração
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da validade da prova de reconhecimento, na ocasião do julgamento do HC nº


598.886, tendo o Innocence Project Brasil e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa
(IDDD), organizações que os impetrantes integram, atuado como amicus curiae.

2 PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal. São Paulo: Atlas, 2021, p. 816.
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Naquela oportunidade, assentou-se o entendimento de i) que a


pessoa que tiver de fazer o reconhecimento seja convidada a descrever a pessoa que
deva ser reconhecida (inciso I); (ii) que a pessoa cujo reconhecimento se
pretende seja colocada, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem
qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a
apontá-la (inciso II); e (iii) que do auto de reconhecimento seja lavrado auto
pormenorizado, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao
reconhecimento e por duas testemunhas presenciais (inciso IV).

Ainda, de acordo com a interpretação expressamente adotada no


voto paradigmático proferido pelo eminente Min. Rogério Schietti Cruz, a
expressão “se possível”3 refere-se ao fato de as pessoas terem semelhança
física com o suspeito, e não à insuperável exigência de se colocarem várias pessoas
uma ao lado da outra4.

Tratando sobre o mesmo tema, porém em caso distinto, o Habeas


Corpus nº 630.949– impetrado pelo Innocence Project Brasil – anulou auto de
reconhecimento genérico, que igualmente não dizia nada além de formalmente
incriminar o investigado, por não respeitar as diretrizes acima elencadas.

Tais julgados, portanto, sintetizaram a correta interpretação dos


dispositivos legais relacionados ao reconhecimento.

Pois bem.
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No presente caso nenhum dos reconhecimentos que


embasaram a condenação de PEDRO seguiu os ditames legais.

3Inciso II do art. 226 do Código de Processo Penal.


4Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci, Código de Processo Penal Comentado. Rio de Janeiro:
Editora Forense, 2020, e-book.
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Isso porque, ou deixam de indicar se o acusado foi colocado


ao lado de outras pessoas (doc. 6), ou são genéricos, não contendo a necessária
descrição dos sinais característicos da pessoa a ser reconhecida, nem quantas ou
quais seriam as pessoas presentes, bem como não indicando, sequer, quem teriam
sido as testemunhas do ato (doc. 7), mais se assemelhando a formulários
padronizados.

Ao lado disso, as vítimas ao serem ouvidas em Juízo trouxeram


relevantes informações quanto ao procedimento adotado pela Autoridade Policial
para o reconhecimento, todas dando conta de se tratar de um procedimento
efetivamente à margem da legalidade.

A vítima NELSON – que não reconheceu PEDRO – afirmou


ter sido informado por um dos policiais que teria sido preso um dos assaltantes,
complementando: “Me mostraram uma foto, né? Da pessoa que eles
prenderam”5.

Ou seja, os policiais diziam ter prendido o assaltante,


afirmando que com ele foi encontrado o celular da vítima – o que não é verdade
uma vez que o único celular apendido em posse de PEDRO era de propriedade do
paciente – e, ainda, mostravam a fotografia dele antes mesmo do
reconhecimento pessoal: tudo isso com as vítimas assustadas, logo após terem
sido assaltadas.
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Não é à toa que naquele momento algumas vítimas, induzidas


pelo comportamento irresponsável dos policiais, reconheceram erroneamente o
paciente.

5 Trecho transcrito pelos impetrantes da gravação da audiência.


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Mais grave ainda, o que ocorreu no reconhecimento realizado


pela vítima Francisco.

Em juízo, tal vítima afirmou categoricamente que “os policiais


militares chegaram a me mostrar a fotografia [do paciente] no celular. O
reconheci na delegacia. Ele estava sozinho.” (doc. 1, fls. 16)

É o que se vê na transcrição de seu depoimento:

Juiz: Doutora?
Advogada: Se os PMs, no Distrito Policial, mostraram uma fotografia do
réu no celular.
Juiz: Os PMs chegaram a mostrar uma fotografia para o Sr. na...
Francisco: Chegou, eu reconheci (...)
Advogada: Na delegacia ele foi colocado com outras pessoas para o
reconhecimento?
Juiz: Na delegacia, quando o Sr. fez o reconhecimento ele estava sozinho
ou tinha mais gente com ele?
Francisco: Fizemos, estava todos os nove [vítimas]
Juiz: Não, sim, mas ele estava sozinho no reconhecimento ou tinham
outras pessoas ao lado dele?
Francisco: Estava sozinho.
Juiz: Estava sozinho.

Ou seja, além de confirmar que PEDRO estava sozinho, afirma


que os policiais mostraram uma fotografia do paciente antes mesmo do
reconhecimento em delegacia.
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Ocorre que antes desse ilegal procedimento, Francisco já havia


informalmente reconhecido PEDRO, mais uma vez em um expediente à margem
da legalidade.

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Consta dos autos que PEDRO foi abordado em local distante do


veículo abandonado e, após, levado até ele. Nesse momento, compareceu a vítima
Francisco, uma vez que o referido veículo era de sua propriedade.

Assim, se a mera apresentação de fotografia antes do


reconhecimento já é capaz de induzir a vítima ao reconhecimento, nesse caso, a
indução foi elevada à máxima potência.

Além de ter visto a fotografia do paciente mostrada pelos


policiais e sido informado que o “assaltante” estaria preso, Francisco foi até o
local em que seu carro foi encontrado e lá encontrou PEDRO, algemado ao
lado de seu veículo – não porque foi detido em posse dele, mas porque foi
levado até lá pelos policiais.

É o que se depreende do relato do policial militar ouvido em


Juízo, Sr. LUIZ CARLOS, que assertou:

Disseram ainda que um dos roubadores empreendeu fuga em um veículo


Montana, cor branca, de propriedade de um dos clientes do
estabelecimento. Os outros roubadores empreenderam fuga em um outro
veículo. Fomos no encalço do veículo Montana, que segundo informações,
estava sendo conduzido pela Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto
no sentido de Itu. Na alça de acesso a Estrada da Concórdia nos deparamos
com o veículo Montana que estava colidido. Ainda em diligências pela
Estrada da Concórdia avistamos o acusado que estava em uma
MOTOCICLETA. Abordado, nada de ilícito foi encontrado com o
acusado. O acusado portava apenas um aparelho celular e a
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importância em dinheiro de R$ 1.700,00. O acusado foi levado até o


local em que estava o veículo Montana e lá foi reconhecido por uma
das vítimas. [FRANCISCO]
(...)

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Às reperguntas pela defensora, respondeu: Pelo que me recordo o acusado


foi localizado a cerca de 02 km de distância do local em que estava o veículo
Montana. (doc. 8)

É grave o ocorrido: a vítima Francisco teve uma experiência


visual comprometedora, que influi sobremaneira no reconhecimento por ele
realizado.

Ora, pouco importa que no auto de reconhecimento


realizado por Francisco tenham sido indicadas as características físicas do
suposto autor do delito, pois tal documento foi lavrado em sede policial logo
após Francisco ter visto PEDRO algemado ao lado de seu carro roubado.

Convenhamos, era evidente que Francisco descreveria as


características do paciente, afinal sua memória estava contaminada com as
informações introjetadas pelos policiais.

Aqui, Excelências, cabe uma breve digressão:


surpreendentemente, na experiência norte-americana, 81% dos casos de roubo
com condenações revertidas tiveram como elemento fundamental para a
ocorrência erro judiciário o reconhecimento equivocado6.

Esses dados revelam a seriedade da questão e o acerto desta c.


Corte em exigir que o reconhecimento pessoal se dê respeitando a lei.
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Ocorre que, no presente caso a situação é ainda mais revoltante,


pois estes ilegais reconhecimentos não foram em sua totalidade confirmados em
Juízo.

6Segundo os dados colhidos pelo Banco Nacional de Exonerados. Disponível em:


https://www.law.umich.edu/special/exoneration/Pages/browse.aspx. Acesso em 13/10/2021.
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Apenas a vítima Francisco – curiosamente a que teve a


experiência visual mais comprometedora – confirmou o reconhecimento em
Juízo. Todos os demais reconhecimentos não foram submetidos ao crivo do
contraditório.

Era de se esperar, portanto, que tal fato fosse valorado de


maneira favorável ao paciente. Contudo, não foi o que ocorreu.

O e. TJSP fundamentou a manutenção da condenação do


paciente afirmando que ele “fora localizado saindo do matagal em lugar distante 2km desse
veículo subtraído (Montana)”, tendo em sua posse dinheiro em espécie.

E complementou: “Esses elementos, aliados ao fato de que não apenas


Francisco reconheceu o réu em ambas as fases da persecução penal (fls. 11 e 277), mas TAMBÉM
as vítimas Sidnei Maximo da Silva (fls. 14), Eric Bueno Correa (fls. 18) e Ariany Cristine
Araújo (fls. 20) o reconheceram em solo policial, sem sombra de dúvidas, tornam suficientemente
robusto o acervo probatório para fins de condenação do acusado” (grifos nossos - doc. 1, fls.
22)

Vê-se, portanto, que diante do irregular reconhecimento os e.


Desembargadores se sentiram à vontade para, como que em uma colcha de retalhos,
montar a versão mais prejudicial ao réu somente com os trechos que interessavam
a esse fim, demonstrando, pois, a influência que os irregulares reconhecimentos
Petição Eletrônica protocolada em 13/10/2021 19:17:39

tiveram no deslinde do caso.

Diz-se isso pois consta expressamente nos autos que o paciente


não foi encontrado em matagal algum. Ao contrário, foi abordado conduzindo
sua motocicleta, conforme depoimento em Juízo dos policiais que realizaram a sua

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prisão em flagrante (doc. 8). Da mesma forma, a quantia em dinheiro com ele
apreendida foi sacada de sua conta corrente, conforme comprovado no curso da
instrução penal (doc. 2).

De modo que resta evidente que os i. Desembargadores


deixaram-se contaminar pelos reconhecimentos ilegalmente realizados em sede
policial, os utilizando como prova suficiente para a condenação de PEDRO.

Diante do exposto, o que se vê é uma injusta condenação que,


após a instrução, somente subsiste em razão de reconhecimento induzido e
realizado em desconformidade com o regulamento processual penal e
jurisprudência desta c. Corte7.

Portanto, é necessária a intervenção para que se sane o


flagrante constrangimento ilegal a que está submetido o paciente, com a
declaração da nulidade dos reconhecimentos pessoais que levaram à sua
condenação, assim como da sentença e do acórdão condenatórios.
Petição Eletrônica protocolada em 13/10/2021 19:17:39

7 HC’s nº 630.949; 632.951 e 598.886.


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Recebido em 13/10/2021 19:16:00
STJ-Petição Eletrônica recebida em 13/10/2021 19:16:00 (e-STJ Fl.18)

IV – DA MEDIDA LIMINAR

O fumus boni iuris constata-se com a mera verificação de que


PEDRO foi condenado a 6 anos, 10 meses e 15 dias, exclusivamente com base em
reconhecimento realizado ao arrepio do art. 226 do Código de Processo Penal, o
que justifica a aplicação da tese fixada no HC nº 598.886 de que “à vista dos efeitos e
dos riscos de um reconhecimento falho, a inobservância do procedimento descrito na referida norma
processual torna inválido o reconhecimento da pessoa suspeita e não poderá servir de lastro a
eventual condenação, mesmo se confirmado o reconhecimento em juízo;”.

O periculum in mora, por sua vez, reside no fato de que PEDRO


está encarcerado, cumprindo a pena imposta, há mais de 25 dias no Centro de
Detenção Provisória de Campinas.

Requer-se, portanto, a concessão de medida liminar para


sobrestar os efeitos da condenação de PEDRO até o julgamento final deste
writ.

V – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, os impetrantes requerem a concessão da


Petição Eletrônica protocolada em 13/10/2021 19:17:39

ordem de Habeas Corpus para declarar a nulidade dos reconhecimentos


submetidos ao paciente, com a consequente anulação de sua condenação.

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STJ-Petição Eletrônica recebida em 13/10/2021 19:16:00 (e-STJ Fl.19)

Ainda, os impetrantes informam que a íntegra do processo


originário está digitalizada e acostada nos autos do AREsp nº 1.820.083/SP,
podendo ser consultada no sistema deste e. Superior Tribunal de Justiça

Requer-se, por fim, sejam os impetrantes intimados sobre a


inclusão em pauta de julgamento do presente writ, para que possam sustentar
oralmente suas razões de impetração.

Termos em que,
Pedem deferimento.
De São Paulo para Brasília, 13 de outubro de 2021.

Augusto de Arruda Botelho Ana Carolina Albuquerque de Barros


OAB/SP – 206.575 OAB/SP – 356.289

Bruna Alcoléa Zavataro Kwasniewski André Antiquera Pereira Lima


OAB/SP – 455.354 OAB/SP – 230.958-E
Petição Eletrônica protocolada em 13/10/2021 19:17:39

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