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ORGANIZAÇÃO:

@emersoncastelobranco
@ayresbarros

DETONANDO AS

DISCURSIVAS
PC-CE DIREITO PENAL
PROCESSO PENAL
DIR. ADMINISTRATIVO
DIR. CONSTITUCIONAL
TÉCNICAS DE DISCURSIVA
LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE
1ª EDIÇÃO
DETONANDO AS

DISCURSIVAS ÍNDICE
PC-CE PROGRAMAÇÃO GERAL

DISCIPLINA PROFESSOR(A) DIA/HORÁRIO PÁGINA

PROCESSO PENAL NESTOR TÁVORA 15/04 - 19H 01

LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE FLÁVIO ROLIM 16/04 - 19H 19

DIREITO PENAL JORDÃO SANTANA 17/04 - 14H 45

LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE PAULO FURTADO 17/04 - 17H 61

TÉCNICAS DE DISCURSIVA LÚCIO VALENTE 17/04 - 20H 79

LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE AYRES BARROS 18/04 - 14H 85

PROCESSO PENAL ANA CRISTINA MENDONÇA 18/04 - 17H 105

DIREITO PENAL DELEGADA ANNA VICTÓRIA 18/04 - 20H 127

DIREITO ADMINISTRATIVO ANA CLÁUDIA CAMPOS 19/04 - 19H 149

PROCESSO PENAL MARCOS MOREIRA 20/04 - 19H 167

DIREITO CONSTITUCIONAL CARDOSO NETO 21/04 - 19H 183

DIREITO ADMINISTRATIVO LUCAS MARTINS 22/04 - 19H 199

DIREITO ADMINISTRATIVO LIDIANE COUTINHO 23/04 - 20H 217

DIREITO CONSTITUCIONAL TERESA CRUZ 24/04 - 14H 233

DIREITO CONSTITUCIONAL RODRIGO GOMES 24/04 - 17H 253

DIREITO PENAL EMERSON CASTELO BRANCO 24/04 - 20H 269

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Trate da liberdade provisória sem fiança, indicando as suas hipóteses de cabimento.

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1° Hipótese: Tem direito ao instituto o sujeito autuado legalmente mas que agiu amparado por qualquer
excludente de ilicitude (art. 310, § 1°, CPP).
2° Hipótese: Tem direito ao instituto o sujeito enquadrado em flagrante legalmente mas que não se enqua-
dra nos requisitos de admissibilidade da preventiva (art. 321, CPP).
Na 1° hipótese de cabimento, o sujeito é compromissado a comparecer a todos os termos na persecução
penal, diante da devida convocação.
A concessão do instituto pode ser cumulada com medidas cautelares pessoais diversas da prisão.

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CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ
CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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Acerca do indiciamento, aborde fundamentadamente os seguintes itens:

a) Legitimidade da indiciar.
b) Requisitos formais.
c) Classificação.
d) Situação do “menor”.

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a) Cabe ao delegado privativamente promover o indiciamento no curso do inquérito policial, não se subme-
tendo a requisições do Ministério Público ou do juiz (art. 2°, § 6°, Lei 12.830/013).
b) É necessário despacho motivado, diante de análise técnico-jurídica, apontando a presença dos indícios
de autoria, da materialidade e das circunstâncias da infração (art. 2°, § 6°, Lei 12.830/013).
c) Indiciamento Direto: é aquele promovido na presença do suspeito.
Indiciamento Indireto: é aquele realizado quando o suspeito não está presente.
d) O CPP exigia a nomeação de curador aos indiciados entre 18 e 21 anos incompletos, chamados de “me-
nores”. Todavia, como o art. 5° do CC considera os maiores de 18 anos como absolutamente capazes,
resta concluir que o art. 15 do CPP está tacitamente revogado.

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Qual ou quais as formas estabelecidas no Código de Processo Penal para o interrogatório do réu pre-
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1° Regra (Geral): Ida do juiz ao estabelecimento prisional, desde que presentes os seguintes requisitos (§ 1°,
art. 185, CPP): Sala própria; Publicidade do ato; Presença do advogado; Garantia da segurança do juiz, auxili-
ares e do Ministério Público.

2° Regra (Especial): Interrogatório por Videoconferência/Interrogatório “on-line” é aquele implementado


com captação de som e imagem ao vivo, com transmissão por satélite ou tecnologia similar. Hipóteses (§ 2°,
art. 185, CPP): (i) Garantir a segurança pública: O risco existe quando o imputado integra organização crimi-
nosa ou é um risco de fuga no deslocamento. (ii) Impossibilidade de deslocamento do réu: É evidenciada por
uma grave enfermidade ou por outra condição de ordem pessoal. (iii) Risco de intimidação da vítima ou das
testemunhas: Tal hipótese só será implementada se não for possível ouvir a própria vítima e as testemunhas
pela videoconferência. (iv) Gravíssima questão de ordem pública: Ordem pública é sinônimo de paz social,
estando em risco pelo perigo de tumulto ou conturbação.

3° Regra (subsidiária): Condução do réu ao fórum. Se os requisitos para a implementação da regra geral
não estão presentes, o réu é conduzido ao Fórum (art. 185, § 7°, CPP). Sendo hipótese de videoconferências
mas inexistindo tecnologia, o réu será conduzido ao Fórum.

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Sobre a prisão temporária, regulada na Lei 7.960/89, trate fundamentadamente dos seguintes itens:

a) Conceito;
b) Requisitos;
c) Prazo.

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a) Conceito;
É uma prisão cautelar; Cabível exclusivamente na investigação, decretada pelo juiz a requerimento do
Ministério Público ou por representação da autoridade investigante e não pode ser decretada de ofício O
querelante e o assistente de acusação não foram contemplados como legitimados a provocar o magis-
trado. Possui prazo determinado e é necessário a presença dos requisitos do art. 1° da Lei 7960/89.

b) Requisitos;
Fumus Commissi Delicti e Periculum Libertatis. Os requisitos também estão previstos no art. 1° da Lei
7.960/89, quais sejam I- Imprescindibilidade para a investigação; II- Se o sujeito não tem residência fixa
ou identificação civil; III- Existindo indícios de autoria ou de participação em um dos crimes graves previs-
tos em lei.

c) Prazo.
Crimes Comuns: 5 + 5 dias.
Crimes Hediondos e Assemelhados: 30 + 30 dias.

Destaca-se que a decretação da temporária e a prorrogação do prazo exigem ordem judicial motivada,
com prévia oitiva do Ministério Público.

O mandando deve constar o prazo e o último dia da prisão (§ 4°-A, art. 2°, Lei 7960/89). O 1° dia (dia da
prisão) já é computado no prazo (§ 8°, art. 2°, Lei 7960/89). A temporária se auto revoga pelo decurso do
tempo e a libertação do sujeito independe da expedição de alvará de soltura (§ 7°, art. 2°, Lei 7960/89).

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José foi capturado em flagrante pela prática do crime de roubo simples, capitulado no art. 157 do CPP.
Considerando que todas as formalidades legais da captura e da lavratura do auto foram atendidas, e
que José não preenche s requisitos da prisão preventiva, qual será o comportamento do juiz na audi-
ência de custódia?

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1° Alternativa: Se a prisão é ilegal, caberá o pronto relaxamento.


2° Alternativa: Se a prisão é legal, o auto será homologado. Diante da homologação, o juiz pode implemen-
tar as seguintes medidas:
1° Medida: Se a prisão é necessária, o flagrante será convertido em prisão preventiva, desde que presentes
os requisitos do art. 312 do CPP (art. 310, II, CPP). Ademais, destaca-se que a conversão em preventiva só
ocorrerá se não forem mais adequadas as medidas cautelares não prisionais (arts. 319, 320, CPP).
2° Medida: Se o magistrado entender que a prisão não é necessária, concederá ao sujeito liberdade provisó-
ria, com ou sem o pagamento de fiança (art. 310, III, CPP).

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Considerando que a polícia invadiu a casa de Joaquim com o único objetivo de constrange-lo, mas du-
rante a invasão flagrou o morador com 5 kg de cocaína, podemos constatar que a prisão é legal? Justi-
fique.

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Não, nesse caso a prisão é ilegal. O domicílio é inviolável, havendo a exceção do flagrante delito. Contudo,
especialmente nos possíveis delitos de tráfico de drogas, os Tribunais Superiores possuem entendimento
consolidado que não basta o delito ser permanente, mas necessita comprovar a justa causa para legitimar a
violabilidade do domicílio, a fim de coibir abusos estatais, sob pena de ilegalidade da prisão em flagrante,
ilicitude da prova.

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Depois de iniciado o inquérito policial, o delegado de polícia constatou que o fato inexistiu. Convicto
que a investigação estava fadada ao insucesso, determinou o arquivamento do Inquérito. Pergunta-
se:

a) O delegado pode determinar o arquivamento da investigação?


b) O que o advogado do investigado pode fazer diante de um inquérito desprovido de justa causa?

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a) O delegado de polícia não pode determinar o arquivamento do procedimento de inquérito policial. Ao


terminar o inquérito, a autoridade policial envia os autos ao Ministério Público. A solicitação do arquiva-
mento deve ser efetuada por Promotor de Justiça, cabendo ao Juiz, primeiramente, decidir sobre o seu
arquivamento ou não, entendendo de forma diversa enviará o inquérito policial ao Procurador-Geral de
Justiça do Estado, que decidirá sobre o arquivamento, novas diligências ou oferecimento da denúncia.
b) O advogado deverá impetrar Habeas Corpus para trancar o inquérito policial. A falta de justa causa para
existência da investigação ou processo é fundamento para o arquivamento prematuro. Permite-se o
trancamento da investigação preliminar quando o fato não constitui infração penal, quando não há indí-
cios suficientes de autoria ou quando estiver extinta a punibilidade do agente. Da mesma forma, quando
não subsista lastro probatório mínimo de sustentabilidade procedimental.

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Quais são as consequências do arquivamento da investigação? Justifique.

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De acordo com a súmula 524 do STF, o arquivamento do IP, como regra, não faz coisa julgada material. Logo,
surgindo novas provas antes da extinção da punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa, cabe-
rá a oferta da denúncia. O arquivamento segue a cláusula “rebus sic stantibus” (o estado das coisas). O arqui-
vamento faz mera coisa julgada formal.

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Zélia, professora de determinada escola particular, no dia 12 de setembro de 2019, presencia, em via
pública, o momento em que Luiz, com 7 anos de idade, adota comportamento extremamente mal-
educado e pega brinquedos de outras crianças que estavam no local. Insatisfeita com a omissão da
mãe da criança, sentindo-se na obrigação de intervir por ser professora, mesmo sem conhecer Luiz
anteriormente, Zélia passa a, mediante grave ameaça, desferir golpes com um pedaço de madeira na
mão de Luiz, como forma de lhe aplicar castigo pessoal, causando-lhe intenso sofrimento físico e
mental. Descobertos os fatos, foi instaurado inquérito policial. Nele, Zélia foi indiciada pelo crime de
tortura com a causa de aumento em razão da idade da vítima. Após a instrução, confirmada a integra-
lidade dos fatos, a ré foi condenada nos termos da denúncia, reconhecendo o magistrado, ainda, a
presença da agravante em razão da idade de Luiz.

Considerando apenas as informações expostas, responda, de forma fundamentada, se a tipificação da


infração está correta.

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Tortura-castigo, vingativa ou intimidatória

Art. 1º Constitui crime de tortura:


(...)
II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego
de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental,
como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

 Sujeito ativo:

Trata-se de crime próprio.

Somente pode ser agente ativo do crime de tortura-castigo (art. 1º, II, da Lei
nº 9.455/97) aquele que detiver outra pessoa sob sua guarda, poder ou au-
toridade (crime próprio). STJ. 6ª Turma. REsp 1.738.264-DF, Rel. Min. Sebasti-
ão Reis Júnior, julgado em 23/08/2018 (Info 633).

Há um vínculo preexistente, de natureza pública, entre o agente ativo e o agente passivo do


crime. Logo, o delito até pode ser perpetrado por um particular, mas ele deve ocupar posição de garante
(obrigação de cuidado, proteção ou vigilância), seja em virtude da lei ou de outra relação jurídica.

 Art. 136 do CP x Tortura-castigo

Cuidado para não confundir a conduta do crime de “tortura-castigo” com a de um delito de “maus-
tratos”, previsto no art. 136 do CP:

Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia,
quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitan-
do-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de cor-
reção ou disciplina:
Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

Assim, deve-se concluir que a tipificação NÃO está correta, uma vez que a autora não tenha nenhum
vínculo com a vítima.
Além disso, deve ser AFASTADA a agravante da idade da vítima, em virtude da já aplicada causa de
aumento do art. 1º, §4º, II, da Lei de Tortura, sob pena de haver bis in idem.

Art. 1º (...) § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:


I - se o crime é cometido por agente público;
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adoles-
cente ou maior de 60 (sessenta) anos;

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Responda ao seguinte questionamento: De acordo com o STF, condutas homofóbicas ou transfóbicas
são consideradas crime? Por que?

Elabore um texto dissertativo de, no máximo 15 linhas.

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Teses fixadas pelo STF:

1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de crimi-
nalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas e
transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se,
por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na
Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o qua-
lifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);

2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da liberda-
de religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes,
pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre
outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por qual-
quer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o que se contiver em seus
livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, po-
dendo buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do
espaço, público ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configu-
rem discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade
ou a violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero;

3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos estrita-
mente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de índo-
le histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à
dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles
que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém posição de
hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à condição
de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de perversa
estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em em
13/6/2019 (Info 944).

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Segundo a doutrina, quais as gerações de leis da lavagem de capitais? Qual a adotada atualmente no
Brasil?

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Existem três gerações das leis que tratam do tema lavagem de dinheiro:

 As leis de primeira geração são aquelas que trazem apenas o delito de tráfico de drogas como
infração penal antecedente.
 As leis de segunda geração estabelecem um rol de crimes antecedentes, dos quais se pode lavar
dinheiro.
 Por fim, as denominadas leis de terceira geração são aquelas que admitem qualquer infração
penal como antecedente, que pode ser um crime ou uma contravenção penal.

A lei brasileira sempre foi uma lei de segunda geração, uma vez que trazia no seu art. 1º um rol de in-
frações penais antecedentes das quais poderia haver a lavagem de dinheiro proveniente delas. Entretanto,
com a alteração operada pela Lei n° 12.683/2012, ocorreu a revogação desse rol de infrações penais antece-
dentes, passando a ser possível a lavagem do produto de qualquer infração penal, razão pela qual se conclui
que a lei brasileira passou a ser uma lei de terceira geração.
Vale ressaltar que, se o crime tiver sido praticado antes da Lei nº 12.683/2012, o Ministério Público
deverá narrar um crime antecedente que se amolde a um dos incisos do art. 1º segundo a redação que vigo-
rava antes da novidade legislativa. Nesse sentido:
“(...) tendo o crime sido praticado antes da alteração legislativa [da Lei 12.683/2012],
a denúncia [deve ter] o cuidado de imputar ao paciente a conduta conforme previ-
são legal à época dos fatos” (STJ. 5ª Turma. HC 276.245/MG, DJe 20/06/2017).

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Quais são as fases do branqueamento de capitais? No que consiste o smurfing?

Elabore um texto, responde ao questionamento, com, no máximo, 15 linhas.

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Três etapas independentes:

(i) Colocação ou ocultação (placement): consiste na introdução do dinheiro ilícito no sistema financeiro,
dificultando a identificação da procedência dos valores de modo a evitar qualquer ligação entre o agente e o
resultado obtido com a prática do crime antecedente.

SMURFING OU ESTRUTURAÇÃO: essa técnica consiste na introdução de pequenas quantias em dinheiro através
de casas de câmbio ou de transações bancárias, com o respectivo envio de mínimas quantidades em espécie
a determinados lugares anteriormente escolhidos pelos criminosos, evitando-se assim, que tais operações
sejam notórias e despertem a fiscalização bancária, visto tratar-se, em um contexto global, de um grande
volume de dinheiro suspeito e fracionado. Em outras palavras, é o fracionamento de grandes quantias em
pequenos valores, que escapam do controle administrativo imposto às instituições financeiras. Buscando
uma justificativa para a utilização do vocábulo dado a esta modalidade de lavagem de dinheiro, ou seja,
smurfing, chegaremos à conclusão de que procede tal termo de alguns personagens em tamanho pequeno,
na cor azul, conhecidos no mundo dos desenhos animados como smurfs e que em castelhano são denomi-
nados pitufos.

(ii) Dissimulação ou mascaramento (layering): são realizados diversos negócios ou movimentações finan-
ceiras, a fim de impedir o rastreamento e encobrir a origem ilícita dos valores.

(iii) Integração ou reintrodução (integration): com a aparência lícita, os bens são formalmente incorpora-
dos ao sistema econômico, geralmente por meio de investimentos no mercado mobiliário ou imobiliário,
transações de importação/exportação com preços superfaturados (ou subfaturados), ou aquisição de bens
em geral.

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O juiz de determinada comarca brasileira possui atuação bastante enfática na repressão aos crimes
organizados. Em determinado dia, o referido magistrado recebeu robusta denúncia anônima que nar-
rava de forma detalhada a atuação da organização criminosa Comando Verde, inclusive com a indica-
ção do local em que eram guardados os armamentos e dos telefones dos líderes da organização, dian-
te dessas informações, após representação da autoridade policial, determinou a expedição de man-
dado de busca e apreensão e interceptação telefônica dos referidos terminais com base exclusiva-
mente em denúncia anônima.

Com base nessa situação hipotética, responda aos seguintes questionamentos de forma fundamen-
tada:

1. A denúncia anônima isolada seria fundamento para a decretação das referidas medidas, ainda
que devidamente requeridas?
2. Caso o questionamento seja negativo, quais as providências que a autoridade policial deverá ado-
tar antes de representar pela interceptação telefônica?

Quais são as fases do branqueamento de capitais? No que consiste o smurfing?

Elabore um texto, responde ao questionamento, com, no máximo, 15 linhas.

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É possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia anônima”?
NÃO. A medida de busca e apreensão representa uma restrição ao direito à intimidade. Logo, para ser
decretada, é necessário que haja indícios mais robustos que uma simples notícia anônima.
É possível decretar interceptação telefônica com base unicamente em “denúncia anônima”?
NÃO.
A Lei n.° 9.296/96 (Lei de Interceptação Telefônica) estabelece:
Art. 2º Não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando ocorrer
qualquer das seguintes hipóteses:
II - a prova puder ser feita por outros meios disponíveis;
Desse modo, a doutrina defende que a interceptação telefônica deverá ser considerada a ultima ratio,
ou seja, trata-se de prova subsidiária.
Tendo como fundamento esse dispositivo legal, a jurisprudência pacífica do STF e do STJ entende que é
ilegal que a interceptação telefônica seja determinada apenas com base em “denúncia anônima”. Veja:

(...) 4. A jurisprudência desta Corte tem prestigiado a utilização de notícia anônima como
elemento desencadeador de procedimentos preliminares de averiguação, repelindo-a,
contudo, como fundamento propulsor à imediata instauração de inquérito policial ou à
autorização de medida de interceptação telefônica.
5. Com efeito, uma forma de ponderar e tornar harmônicos valores constitucionais de
tamanha envergadura, a saber, a proteção contra o anonimato e a supremacia do inte-
resse e segurança pública, é admitir a denúncia anônima em tema de persecução penal,
desde que com reservas, ou seja, tomadas medidas efetivas e prévias pelos órgãos de in-
vestigação no sentido de se colherem elementos e informações que confirmem a plausi-
bilidade das acusações.
6. Na versão dos autos, algumas pessoas - não se sabe quantas ou quais - comparece-
ram perante investigadores de uma Delegacia de Polícia e, pedindo para que seus no-
mes não fossem identificados, passaram a narrar o suposto envolvimento de alguém em
crime de lavagem de dinheiro. Sem indicarem, sequer, o nome do delatado, os notician-
tes limitaram-se a apontar o número de um celular.
7. A partir daí, sem qualquer outra diligência, autorizou-se a interceptação da linha tele-
fônica.
8. Desse modo, a medida restritiva do direito fundamental à inviolabilidade das comuni-
cações telefônicas encontra-se maculada de nulidade absoluta desde a sua origem, visto
que partiu unicamente de notícia anônima.
9. A Lei nº 9.296/96, em consonância com a Constituição Federal, é precisa ao admitir a
interceptação telefônica, por decisão judicial, nas hipóteses em que houver indícios ra-
zoáveis de autoria criminosa. Singela delação não pode gerar, só por si, a quebra do si-
gilo das comunicações. Adoção da medida mais gravosa sem suficiente juízo de necessi-
dade. (...)
STJ. 6ª Turma. HC 204.778/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 04/10/2012.

Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia anônima”:


1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”;
2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui credibilidade (aparência mínima de proce-
dência), instaura-se inquérito policial (IP) ou procedimento de investigação criminal conduzida pelo
Ministério Público (PIC);
3) Instaurado o IP ou o PIC, a autoridade policial ou o MP deverá buscar outros meios de prova que
não a interceptação telefônica (como visto, esta é a ultima ratio). Se houver indícios concretos con-
tra os investigados, mas a interceptação se revelar imprescindível para provar o crime, poderá ser
requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado.

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CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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Conceitue infiltração de agentes, apontando sua natureza jurídica e especificando ao menos 03 previ-
sões legais da figura no ordenamento jurídico brasileiro.

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Infiltração de agentes é a introdução de agente público de forma dissimulada em quadrilhas, bandos,
associações, organizações criminosas com a finalidade de obter provas, bem como destruir esses grupos
criminosos. Só deve se optar pela infiltração de agentes quando não houver meio tão eficaz quanto.

Apenas agentes de polícia podem servir como infiltrados (polícia civil e polícia federal). NÃO se tem
admitido infiltração por PMs.

Em relação à natureza jurídica do instituto: trata-se de meio de obtenção de prova. É importante não a
chamar propriamente de meio de prova.

A Lei n° 9.034/95 (1ª lei de organizações criminosas) foi o primeiro documento que trabalhou de ma-
neira aberta a infiltração de agentes.
Quando surgiu a Lei n° 11.343/06, duas leis principais passaram a trabalhar a infiltração de agentes na
investigação de crimes.

ATENÇÃO: A Lei n° 9.034/95 foi revogada pela Lei n° 12.850/13, que detalhou este meio extraordiná-
rio de obtenção da prova. Com a revogação da Lei n° 9.034/1995, a infiltração de agentes passou a ser tra-
tada nas Leis 11.343/2006 e 12.850/2013.

Há duas recentes leis que mandam aplicar os meios extraordinários de obtenção de prova da Lei n°
12.850/13 na apuração de crimes que não necessariamente são praticados por organizações criminosas: lei
de terrorismo e lei de repressão ao tráfico de pessoas.

EM RESUMO: HÁ INFILTRAÇÃO DE AGENTES NA:


 Lei n° 11.343/06 (Lei de Drogas)
- expressamente.
 Lei n° 12.850/13 (Lei de OrCrim)
- expressamente.
 Lei n° 13.260/16 (Lei de Terrorismo)
- manda aplicar a Lei n° 12.850/13
- Art. 16. Aplicam-se as disposições da Lei nº 12.850, de 2 agosto de 2013,
para a investigação, processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei;
 Lei 13.344/2016 (Lei de repressão ao tráfico de pessoas)
- manda aplicar a Lei n° 12.850/2013
- Art. 9º Aplica-se subsidiariamente, no que couber, o disposto na Lei nº
12.850, de 2 de agosto de 2013;
 Lei 13.441/17 (alterou o ECA para prever a infiltração de agentes de polícia na internet).
-expressamente.

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João, Delegado de Polícia, atuava em duas investigações distintas: a primeira relacionada ao tráfico
de drogas e a segunda relacionada à organização criminosa. Em determinada situação, o Delegado de
Polícia retardou a intervenção policial em relação a ambas as condutas sem autorização judicial, mas
comunicou posteriormente o magistrado responsável em relação a utilização da técnica especial de
investigação denominada AÇÃO CONTROLADA.

Após a execução das medidas, os advogados responsáveis por acompanhar a investigação alegaram
que as referidas medidas não poderiam ter sido utilizadas sem prévia autorização judicial.

Elabore um texto dissertativo abordando os seguintes tópicos:

01. Em que consiste a ação controlada e a entrega vigiada.

02. O argumento do advogado está correto, é exigível autorização em ambos os casos?

03. Há previsão legal a respeito do instituto na Lei de Lavagem de capitais?

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Inicialmente, é possível visualizarmos que a ação controlada é uma medida especial de investigação tipifica-
da em 03 legislações distintas:

 Lei n° 12.850/13, Art. 8º. (Crimes relacionados à organizações criminosas).


 Lei n° 11.343/06, Art. 53. (Crimes relacionados à drogas). Denominada, doutrinariamente de
entrega vigiada.
 Lei n° 9.613/1998. Art. 1º, §6º. (Crimes relacionados à lavagem de capitais.)

Dessa maneira, preciso ressaltar uma informação de extrema relevância: O legislador SOMENTE exigiu auto-
rização judicial para a prática dessa diligência na Lei de Drogas (Lei n° 11.343/06), pois, nas outras legisla-
ções, é necessário haver apenas a prévia comunicação à autoridade judicial, no sentido de garantir a probi-
dade e segurança da medida.

AÇÃO CONTROLADA NA LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (ART. 8º, LEI N° 12.850/13)

Em relação às investigações relacionadas à organização criminosa, a Lei n° 12.850/13 não exigiu como requi-
sito a autorização judicial para ocorrer a realização da referida medida investigativa, basta que haja a comu-
nicação prévia por meio de ofício endereçando ao juiz, prescindindo de prévia autorização, nos termos do
artigo 8º:
Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa re-
lativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida
sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento
mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
§ 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comuni-
cado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao
Ministério Público.

AÇÃO CONTROLADA NA LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS (ART. 1º, §6º, LEI N° 9.613/1998)

Ação controlada na lei de lavagem de capitais é uma técnica especial de investigação que tem como objetivo
retardar a ordem de prisão de indivíduos ou as medidas assecuratórias de bens direitos e valores com o
intuito de não comprometer o andamento das investigações.

Essa medida específica foi materializada pelo art. 4-B e entendia-se existir a necessidade de ter-se a autoriza-
ção judicial para que pudesse ser implementar a ação controlada. Vejamos a redação do dispositivo:

Art. 4°-B. A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de bens, direitos ou


valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execu-
ção imediata puder comprometer as investigações.

Contudo, com o advento do Pacote anticrime (entrou em vigor em 20.01.20), atualmente, prevalece o enten-
dimento no sentido de não ser necessária existir a autorização judicial para a medida ser implementada.
Vejamos abaixo o texto legal do artigo 1º, §6º da Lei n° 13.964/19:

Art. 1º.
(...) §6º. Para a apuração do crime de que trata este artigo, admite-se a utilização da ação
controlada e da infiltração de agentes.

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1
Assim, se posiciona o doutrinador Renato Brasileiro :

(...) preferimos concluir que, ao introduzir o §6º ao artigo 1º da Lei 9.613/98, quis o legisla-
dor do Pacote Anticrime submeter os crimes de lavagem de capitais à mesma sistemática
da ação controlada prevista na Lei de Organização Criminosa (Art. 8º e 9º), do que se con-
cluir que, doravante, a utilização da referida técnica especial de investigação não mais es-
tará sujeita à necessidade de prévia autorização judicial, bastando apenas a comunicação
ao juiz competente pelas autoridades policiais ou administrativas, o qual poderá, então,
estabelecer seus respectivos limites materiais e temporais.

Sobre o tema tratado, conclui-se não ser imprescindível autorização judicial mediante representação da au-
toridade policial, porém deve-se realizar uma prévia comunicação a respeito da execução da medida.

AÇÃO CONTROLADA NA LEI DE DROGAS - ENTREGA VIGIADA (ART. 53, LEI N°11.343/06)

A entrega vigiada é uma das espécies de ação controlada, assim considerada pela maioria da doutri-
na, que tem como objetivo monitorar a venda de drogas ilícitas em tempo integral. Significa dizer que, tais
objetos ilegais são observados do ponto de partida até o destino final com o intuito de identificar os agentes
envolvidos na prática delituosa.

A medida em questão também encontra na Lei n° 11.343/06, (Lei de Drogas), no art. 53, conforme nos mos-
tra a redação abaixo:

Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei,
são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Minis-
tério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos
especializados pertinentes;
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou ou-
tros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a
finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de
tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde
que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de
colaboradores.

1
LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação criminal especial comentada: volume único 8.ed. rev., ampl. – Salvador: JusPODIVM, 2020, pag. 689.
2
Arte retirada de outro trabalho do autor.

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Pedro foi condenado por determinado delito considerado hediondo pela legislação. Diante dessa situ-
ação questiona-se, o regime inicial de cumprimento de pena a ser imposto a Pedro deverá ser obriga-
toriamente o fechado? Responda de forma fundamentada.

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3
Pedimos vênia ao professor Márcio André Cavalcante para transcrever suas lições retiradas do site
dizer o direito.

O que são crimes hediondos?


São crimes que o legislador considerou especialmente repulsivos e que, por essa razão, recebem tra-
tamento penal e processual penal mais gravoso que os demais delitos.
A CF/88 menciona que os crimes hediondos são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia, não
definindo, contudo, quais são os delitos hediondos.
Art. 5º (...) XLIII — a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
gas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles res-
pondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omi-
tirem;

Quais são os crimes hediondos no Brasil?


O Brasil adotou o sistema legal de definição dos crimes hediondos. Isso significa que é a lei quem defi-
ne, de forma exaustiva (taxativa, numerus clausus), quais são os crimes hediondos.
Esta lei é a de nº 8.072/90, conhecida como Lei dos crimes hediondos.

A tortura é crime hediondo?


NÃO. O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos. Estes três delitos (TTT)
são equiparados (assemelhados) pela CF/88 a crimes hediondos. Em outras palavras, não são crimes hedi-
ondos, mas devem receber o mesmo tratamento penal e processual penal mais rigoroso que é reservado
aos delitos hediondos.

A Lei nº 8.072/90, em sua redação original, determinava que os condenados por crimes hediondos ou equi-
parados (TTT) deveriam cumprir a pena em regime integralmente fechado:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpe-
centes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: (...)
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente em
regime fechado.

Em 23/02/2006, o STF declarou inconstitucional este § 1º do art. 2º por duas razões principais, além de ou-
tros argumentos:
a) a norma violava o princípio constitucional da individualização da pena (art. 5º, XLVI, CF/88), já que
obrigava o juiz a sempre condenar o réu ao regime integralmente fechado independentemente do caso con-
creto e das circunstâncias pessoais do réu;
b) a norma proibia a progressão de regime de cumprimento de pena, o que inviabilizaria a ressociali-
zação do preso.
STF. Plenário. HC 82959, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/02/2006.

Diante dessa decisão, o Congresso Nacional editou a Lei nº 11.464/2007, modificando o § 1º do art. 2º da Lei
nº 8.072/90:
Redação original Redação dada pela Lei 11.464/2007
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será § 1º A pena por crime previsto neste artigo será
cumprida INTEGRALMENTE em regime fechado. cumprida INICIALMENTE em regime fechado.

3
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/429e4a44bec547a527df987730b19aab?categoria=11&subcategoria=116

42
O novo § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/2007, continua sendo inconstitu-
cional? Os vícios de inconstitucionalidade que existiam na redação original permanecem? Esse dispositivo, em
sua nova redação, continua violando o princípio constitucional da individualização da pena?
SIM. O STF decidiu que o § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/2007,
ao impor o regime inicial fechado, é INCONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. HC 111.840/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, 27/6/2012 (Info 672).

Vejamos os principais argumentos utilizados para se chegar a essa conclusão.

• A CF prevê o princípio da individualização da pena (art. 5º, XLVI). Esse princípio também deve ser ob-
servado no momento da fixação do regime inicial de cumprimento de pena. Assim, a fixação do regime prisi-
onal também deve ser individualizada (ou seja, de acordo com o caso concreto), ainda que se trate de crime
hediondo ou equiparado.
• A CF prevê, no seu art. 5º, XLIII, as vedações que ela quis impor aos crimes hediondos e equiparados
(são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia). Nesse inciso, não consta que o regime inicial para es-
ses crimes tenha que ser o fechado. Logo, não poderia o legislador estabelecer essa imposição de regime
inicial fechado, por violar o princípio da individualização da pena.
• Desse modo, deve ser superado o disposto na Lei dos Crimes Hediondos (obrigatoriedade de início
do cumprimento de pena no regime fechado) para aqueles que preencham todos os demais requisitos pre-
vistos no art. 33, §§ 2º, e 3º, do CP, admitindo-se o início do cumprimento de pena em regime diverso do fe-
chado.
• O juiz, no momento de fixação do regime inicial, deve observar as regras do art. 33 do Código Penal,
podendo estabelecer regime prisional mais severo se as condições subjetivas forem desfavoráveis ao con-
denado, desde que o faça em razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar a neces-
sidade de maior rigor da medida privativa de liberdade do indivíduo.

A partir dessa decisão do STF, a pergunta que surge é a seguinte:


Qual é o regime inicial de cumprimento de pena do réu que for condenado por crime hediondo ou equipa-
rado (ex.: tráfico de drogas)?
O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex.: tráfico de drogas) não
tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também o regime semiaberto ou aberto, desde que
presentes os requisitos do art. 33, § 2º, alíneas “b” e “c”, do Código Penal.
Assim, será possível, por exemplo, que o juiz condene o réu por tráfico de drogas a uma pena de dois
anos de reclusão e fixe o regime inicial aberto.

Em suma:
A hediondez ou a gravidade abstrata do delito não obriga, por si só, o regime prisional
mais gravoso, pois o juízo, em atenção aos princípios constitucionais da individualização da pena
e da obrigatoriedade de fundamentação das decisões judiciais, deve motivar o regime imposto
observando a singularidade do caso concreto.
Assim, é inconstitucional a fixação de regime inicial fechado com base unicamente na he-
diondez do delito.
STF. 1ª Turma. ARE 935967 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 15/03/2016.
STF. 2ª Turma. HC 133617, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/05/2016.

O STF apreciou o tema sob a sistemática da repercussão geral e fixou a seguinte tese:
É inconstitucional a fixação ex lege, com base no art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/1990, do regime
inicial fechado, devendo o julgador, quando da condenação, ater-se aos parâmetros previstos no
artigo 33 do Código Penal.
STF. Plenário. ARE 1052700 RG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 02/11/2017.

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No direito brasileiro, adota-se, no âmbito espacial, como regra, o princípio da territorialidade. Dada,
porém, a relevância de certos bens, protege-os o direito até mesmo contra crimes praticados inteira-
mente fora do Brasil, em respeito a certos princípios. É o que chama a doutrina de aplicação extrater-
ritorial condicionada ou incondicionada, conforme o caso, da lei penal brasileira. A esse respeito, é
correto afirmar que; A lei brasileira é aplicável, por força do princípio da personalidade, ao crime pra-
ticado no estrangeiro por brasileiro, falando a doutrina, nesse caso, de extraterritorialidade condicio-
nada.

a) Discorra sobre os princípios que regem sobre Direito Penal no Espaço.


b) É possível aplicar a Lei Brasileira em crimes ocorridos fora do Território Brasileiro?
c) O vice-Presidente da República sendo vítima de crime contra vida no Canadá, qual lei aplica-se ao
caso?

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• Conceito de territorialidade
• Citar referidos artigos no código penal
• Espécie de Extraterritorialidade

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Os Princípios Penais estão presentes na constituição federal.

a) Discorra sobre o princípio da Legalidade e seus desdobramentos.


b) Explique sobre as formas de integração e Interpretação da Lei penal.

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• Conceito de acordo com a constituição e a lei penal


• Diferenciando Analogia, interpretação extensiva e intepretação analógica
• Citar qual é admitida e suas formas

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Qual Conceito de Crime para o Direito Penal?

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• Conceito doutrinário de crimes


• Teoria adota-finalista
• Teoria tripartidade
• Conceito Analítico

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Discorra sobre os crimes omissivos e suas espécies.

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• Previsão na Lei art. 13 § 1


• Diferença entre garantidor e demais modalidades
• Possibilidade de admitir Culposo

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Explique sobre o instituto da Tentativa e suas modalidades.

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• Previsão do código penal


• Relação doutrinária – conceitos
• Espécies
• Crimes que admitem
• Crimes que não admitem

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Godofredo, Delegado de Polícia, aproveitando-se das facilidades trazidas pela sua função, após apre-
ensão de alguns objetos oriundos de um furto, apropriou-se de uma furadeira avaliada em R$ 150, 00
(cento e cinquenta reais).

a) Qual o crime cometido por Godofredo?


b) Caso Godofredo resolva restituir a furadeira antes do recebimento da denúncia, sua pena poderá
ser extinta? Fundamente.
c) No caso hipotético, poderá ser aplicado o princípio da insignificância em face do valor do bem?
Fundamente trazendo os requisitos inerentes ao princípio da insignificância, bem como o atual
posicionamento do STJ acerca do tema.

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• Peculato
• Crime contra Administração
• Impossibilidade de perdão
• Instituto do arrependimento posterior
• Citar súmula 599 STJ

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No dia 15/01/2014, Robson e o adolescente ABC de 15 anos, se uniram a Missias com a finalidade de
cometer múltiplos roubos pela cidade, e Fernando Bezerra, Ivo Martins, Vinicius Silva primeiramente,
os três se dirigiram ao posto de combustível ALEM AM, onde, enquanto Robson aguardava no interior
do veículo, fazendo a função de motorista, ABC e Missias, cada um munido com arma de fogo calibre
38, entraram na loja de conveniência do posto e, sob a ameaça das armas, determinaram que a
funcionária do caixa lhes desse o dinheiro faturado até então. Neste instante o proprietário do posto
que estava no escritório, saiu e lutou com o adolescente ABC. Diante da situação, Missias desferiu
quatro tiros em direção ao proprietário, tendo por erro de execução, acertado o adolescente ABC, de
raspão, no braço. Após isso, Missias pegou o dinheiro que estava no balcão e, com o adolescente,
entrou no carro em que Robson os aguardava, os quais fugiram do local. Ocorre que, foram
identificados no curso das investigações policiais. Nos autos do Inquérito Policial foi comprovado que
apenas Robson convidou o menor para o cometimento do crime e que foi subtraída do caixa a quantia
de R$ 150,00.

Considerando a situação hipotética, indique e justifique quais os delitos cometidos por Robson e Mis-
sias.

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• Tipificar as condutas do envolvidos
• Roubo Majorado
• Latrocínio tentado
• Conduta do menor
• Erro de execução

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Quais requisitos para aplicar o privilégio em crimes patrimoniais? Quais crime tem incidência?

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• Requisitos de acordo com a Lei Penal


• Crimes com violência e grave ameaça
• Citar Consequências do privilegio

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A Lei nº 12.850/13, definiu organização criminosa e dispôs sobre a investigação criminal, os meios de
obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. Quanto à
investigação e os meios de obtenção de provas, discorra sobre o instituto da ação controlada e aborde
os seguintes aspectos:

a) o conceito e alcance do instituto.


b) a necessidade de prévia autorização judicial.

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Espera-se que o aluno entenda o conceito e o alcance do instituto da ação controlada com base no que dis-
põe a Lei nº 12.850/13, notadamente no seu artigo 8º.

Nesse sentido, conforme o referido dispositivo legal, a ação controlada consiste em retardar a intervenção
policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que
mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz
para a formação de provas e a obtenção de informações. Quanto ao seu alcance, o art. 8.º, da referida Lei,
que não restringe o procedimento às ações policiais, faz expressa menção às intervenções administrativas,
como no caso das receitas estaduais e federais.

Quanto à necessidade de prévia autorização legal para a materialização do referido procedimento, o pará-
grafo 1.º do art. 8.º da Lei nº 12.850/2013, dispôs que o retardamento da intervenção policial deverá ser pre-
viamente comunicada ao juiz competente, sendo dispensada assim uma prévia autorização judicial. Esta é a
interpretação majoritária da doutrina e jurisprudência.

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Décio, jornalista, teve seu telefone interceptado pela polícia civil do Ceará, sem prévia autorização
judicial, para que fosse descoberta a fonte de uma reportagem, tendo em vista que um determinado
integrante de uma organização criminosa voltada à prática de roubos a banco estaria repassando
informações importantes sobre a estrutura criminosa da referida organização. Com as interceptações
foi possível desvendar alguns crimes e identificar alguns integrantes. Após tomar conhecimento que
fora interceptado, Décio consentiu a utilização do conteúdo das conversas no inquérito policial, vi-
sando ajudar nas investigações. Nesse contexto, disserte sobre a validade da prova colhida pela polí-
cia.

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Espera-se que o aluno entenda que a interceptação telefônica é uma diligência que só pode ser utilizado,
quando atender os preceitos previstos na Lei nº 9.296/96.
Nesse sentido, a interceptação telefônica consiste na captação de conversa feita por terceiro, sem o conhe-
cimento dos interlocutores (interceptação telefônica stricto sensu).
Tal diligência só poderá ser efetivada, em observância aos artigos 2º e 3º, da Lei nº. 9.296/96, quando houver
indícios razoáveis da autoria ou participação em infração penal punida com reclusão, desde que devidamen-
te autorizado pelo juiz mediante representação da autoridade policial (cláusula de reserva de jurisdição).
No caso, a prova colhida pela polícia é nula, pois não houve prévia autorização judicial, nem tampouco o in-
terlocutor interceptado era autor ou participe de qualquer crime investigado.

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José, conhecido traficante, foi preso em flagrante por manter em depósito maconha e crack, no exato
momento em que vendia a Mário cinco papelotes de maconha para consumo. Na ocasião, Mário tam-
bém foi preso por se encontrar na posse dos referidos papelores de maconha para consumo próprio.
O delegado de polícia autuou José duas vezes pelo crime de tráfico de drogas, em que pese a varieda-
de dos entorpecentes, e pela associação ao tráfico. Mário foi autuado pelos crimes de associação ao
tráfico e posse de drogas para consumo. Nessa situação, o delegado de polícia agiu corretamente?
Justifique a sua resposta.

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O aluno deve reconhecer que o delegado de polícia agiu de forma incorreta quanto a autuação de José duas
vezes pela prática do crime de tráfico, bem como pela prática do crime de associação ao tráfico, pois, a vari-
edade de condutas e de drogas, no mesmo contexto fático, não configura pluralidade de crimes, mas crime
único.

Quanto ao crime de associação para o tráfico, previsto no art. 35 da Lei nº 11.343/06, não restou configurado
no caso concreto para ambos os agentes, pois, para sua configuração é necessário que duas ou mais pesso-
as se associem para o fim de praticar, reiteradamente ou não, os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º ,
34 e 36, da lei de drogas.

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CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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Tipifique, de forma fundamentada, as condutas praticadas pelos seguintes agentes, apontando os
possíveis crimes que podem ser configurados no caso.

1 – Um investigador de polícia, com o objetivo de obter uma confissão, por meio de violência e grave
ameaça, constrange pessoa presa, causando-lhe sofrimento físico e psicológico, porém não consegue
alcançar o seu objetivo.
2 – O escrivão de polícia que presencia a prática da conduta perpetrada pelo investigador de polícia e,
dolosamente, se omite em evitar.

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O aluno deve reconhecer que o investigador de polícia praticou o crime de tortura persecutória na forma
consumada, com incidência de causa de aumento pena, pelo fato de ser agente público, nos termos do art.
1º, I, a e §4º, I, da Lei 9.455/97. Deve ser destacado que o crime se consuma de forma antecipada (crime for-
mal), independentemente da vítima ter ou não confessado algum fato de interesse da investigação policial,
bastando o mero constrangimento por meio do emprego de violência ou grave ameaça.

Quanto à conduta o escrivão de polícia, o aluno deve reconhecer que o mesmo praticou o crime de tortura
por omissão (tortura imprópria), nos termos do art. 1º, §2º, da lei 9.455/97, pois se omitiu em face da condu-
ta do investigador, quando tinha o dever de evitá-la, ficando suscetível a uma pena de detenção.

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CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ
CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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De acordo com a nova lei de abuso de autoridade, pergunta-se: os crimes previstos na lei podem ser
cometidos por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de
exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído, independentemente do fim especial de agir
para prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro? Justifique sua resposta.

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O aluno deve responder e justificar que os crimes elencados na nova lei de abuso de autoridade (lei nº
13.869/19), nos termos do art. 2º, podem ser praticados por qualquer agente público, servidor ou não, da
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e de Território. No entanto, no termos do art. 1º, §1º, da referida lei, exige-se do
agente delituoso uma finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou,
ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.

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Alberto, negro e jogador de futebol de salão, durante uma partida, é chamado pelos torcedores do
time adversário de gorila, os quais também atiraram bananas no meio da quadra. Caso a polícia civil
identifique os torcedores, estes deverão ser responsabilizados por qual crime? Justifique sua respos-
ta.

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O aluno deve responder e justificar que as condutas dos torcedores se amoldam ao crime previsto no art.
140, §3º, do Código Penal, que prevê a figura típica da injúria racial. Deve destacar que o comportamento
demonstrado na questão não se enquadra como crime de racismo, previsto na Lei nº 7.716/89, pois o que
houve foi uma atribuição de qualidade negativa relacionada à cor da vítima.

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Quanto à Lei de crimes hediondos (Lei nº 8.072/1990), disserte acerca dos sistemas definidores dos
crimes hediondos e aponte o adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro.

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O aluno deve conceituar os três sistemas de definição dos crimes hediondos e deve apontar que o brasil
adotou o sistema legal, nos seguintes termos:

1. Sistema judicial – nesta modalidade, a lei não traz um rol de crimes rotulados como hediondos, caben-
do ao juiz a discricionariedade de rotular livremente a hediondez do crime de acordo com cada situação
concreta.
2. Sistema legal – adotado pelo brasil, em tal sistema, a lei traz um rol taxativo de crimes rotulados como
hediondos e estes só serão assim considerados se estiverem previstos no referido rol, não cabendo ao
juiz fazer qualquer juízo de valor quanto à hediondez do crime, independentemente das circunstâncias
fáticas em questão.
3. Sistema misto – a lei traz um rol exemplificativo de crimes rotulados como hediondos, ao passo que o
magistrado poderia atribuir a hediondez a um delito que não esteja no referido rol ou retirá-la de um
crime que lá esteja, a depender do caso concreto.

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A Lei nº 11.340/2006, também conhecida como Lei Maria da Penha, criou mecanismos para coibir e
prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, estabelecendo, entre outras, medidas de
proteção às mulheres em situações de abuso e de agressões. Considerando as disposições da lei em
referência e o entendimento dos tribunais superiores, discorra sobre os seguintes tópicos.

1 – Procedimento a ser instaurado pela autoridade policial nos crimes de lesão corporal leve, de ame-
aça e de injúria cometidos contra a mulher em situação de violência doméstica, levando-se em consi-
deração a natureza da ação penal nos respectivos crimes.

2 – Possibilidade de retratação da vítima, no âmbito policial, quanto aos crimes indicados.

3 – Possibilidade de aplicação da Lei n.º 9.099/1995 e de seus institutos despenalizadores nos casos dos
referidos crimes cometidos em âmbito doméstico contra a mulher.

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O aluno deve responder os tópicos das questões nos seguintes termos:

1 – Em observância a ADI n.º 4.424/DF, do STF, a natureza da ação penal do crime de lesões corporais prati-
cadas no âmbito doméstico é sempre pública incondicionada. Nesse mesmo sentido, o STJ, por meio súmula
542, também entende que a ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica
contra a mulher é pública incondicionada. Nesse sentido, a autoridade policial deve instaurar inquérito poli-
cial de ofício, independentemente de representação da vítima. Quanto aos crimes de ameaça e injúria, estes
são, respectivamente, de ação penal pública condicionada e de ação penal privada, conforme previstos no
Código Penal.

2 – Conforme dispõe o art. 16 da Lei n.º 11.340/2006, uma vez instaurado o inquérito policial, é incabível, no
âmbito policial, a retratação da ofendida, o que somente pode ser realizada perante a autoridade judiciária
competente, em audiência especial designada com tal finalidade.

3 – No que tange à aplicabilidade da Lei n.º 9.099/1995 e, por conseguinte, de seus institutos despenalizado-
res, o art. 41, da Lei Maria da Penha, veda a aplicação daquela lei nas hipóteses de violência contra a mulher,
alcançando todo e qualquer crime, independentemente da quantidade da pena. Nesse sentido, como conse-
quência, temos a não aplicabilidade dos institutos da suspensão condicional do processo, da transação pe-
nal e da composição civil dos danos.

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COMO ESTRUTURAR AS QUESTÕES DISCURSIVAS
FINALIDADES

 criar o sentimento de segurança na estruturação da discursivas;


 tirar o medo de escrever;
 usar técnicas para responder as questões e nunca deixá-las em branco;
 orientar quanto às tarefas a serem enviadas para correção: técnica da semi-cola.

Muitos alunos possuem dificuldade na produção textual. Isso tem a ver com a falha na nossa formação escolar. Não
praticamos a escrita na escola, e na faculdade os professores têm priorizado as questões de múltipla escolha. Por
isso, passamos por toda a vida acadêmica acumulando essa deficiência.

Encare este programa como uma oportunidade de evoluir também nesse ponto. Escrever é fruto da prática, e você
terá muitas oportunidades para praticar a escrita, tanto nas questões discursivas, como nas peças. Serei bastante
criterioso na avaliação e, quando necessário, indicarei os caminhos para a evolução contínua.

Existem algumas técnicas que, se aplicadas corretamente, vão melhorar de forma imediata a qualidade das suas
respostas em questões discursivas. Vamos a elas.

A TÉCNICA DAS TRÊS MULHERES

A primeira técnica é a “ABORDAGEM DAS TRÊS MULHERES”. Todas as vezes que for responder provas discursivas,
pense, portanto, em TRÊS MULHERES: A LEI, A DOUTRINA E A JURISPRUDÊNCIA. Nem sempre será possível usá-las
todas em suas respostas, mas tenha em mente que temas jurídicos demandam a análise legal, doutrinária e juris-
prudencial do assunto questionado.

Como as provas, em geral, permitem a consulta apenas à lei seca, dificilmente você conseguirá se lembrar exata-
mente da posição do STJ ou do STF sobre um certo assunto, ou o número de uma Súmula específica. O mesmo
acontece com as posições doutrinárias. Muitas vezes temos a informação de que determinada posição é majoritária,
mas não temos certeza quais autores a defendem.

Uma saída para isso é fornecer a informação de forma mais ampla, sem citar dados muito específicos. Veja alguns
exemplos:

“No Brasil, a doutrina majoritária adota a teoria tripartida do crime. De acordo com o posicionamento preferido pelos
autores nacionais, o crime é um fato típico ilícito e culpável”.

A informação objetiva é a de que no Brasil a teoria tripartida é a preferida. Só que eu posso não me lembrar quais
autores, especificamente, a adotam ou não. A saída para isso é usar termos como “a doutrina ou a posição majoritá-
ria”. O mais importante é que você indique na resposta a informação de que essa é a posição preferida pela doutri-
na.

“Segundo a jurisprudência pacífica dos Tribunais, o crime de latrocínio não deve ser julgado pelo Tribunal do Júri”.

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Mais uma vez eu uso essa estratégia para indicar a posição jurisprudencial, mesmo sem ter que apontar a súmula
ou julgado específico. Assim sendo, não deixe de apontar em todas as suas respostas AS TRÊS MULHERES, mesmo
que de forma aberta.

USAR ELEMENTOS DA PERGUNTA NA SUA RESPOSTA

O segundo artifício muito interessante é usar elementos das perguntas para enriquecer a sua resposta. Veja um
exemplo:

Analista - Concurso: Tribunal Regional Eleitoral - MG - Ano: 2013 - Banca: CONSULPLAN - Disciplina: Direito Consti-
tucional - Assunto: Princípios Constitucionais
Pode-se verificar, na Constituição brasileira, o Estado de Direito, Democrático e Social, de cunho fortemente consti-
tucional, a República e o pluralismo como princípios estruturantes. O Estado brasileiro se configura um Estado de
Direito. O Estado de Direito exige uma separação das funções estatais típicas em diferentes órgãos de soberania
para controle recíproco de atuação e para a limitação do poder, nos limites impostos pela Constituição. (Salgado,
Eneida Desiree. Princípios constitucionais estruturantes do direito eleitoral. Tese de Doutorado em Direito do Esta-
do. Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2010. p. 59.)

Considerando a passagem acima, disserte sobre o princípio do pluralismo político, abordando seu alcance no Estado
Democrático de Direito, juntamente com os demais princípios fundamentais da República, e sua relação com os
princípios da liberdade e da igualdade no direito eleitoral.

Ao analisar a questão, busque palavras que se repetem ou parecem exercer função primordial no texto motivador.
Perceba que o examinador usa o termo “Estado de Direito” por três vezes. Note, também, que o termo mais impor-
tante parece ser “pluralismo político”. Portanto, esses termos devem obrigatoriamente estar na sua resposta.

Eu pouco conheço sobre Direito Eleitoral, mas definitivamente eu iniciaria meu texto assim: “O princípio do pluralis-
mo político é uma das bases do Estado Democrático de Direito (...)”.

ESGOTAMENTO DO ASSUNTO

A terceira técnica é a do esgotamento do assunto. Basicamente, escreva tudo o que você conseguir se lembrar sobre
o assunto. Faça um “brainstorm” e construa sua resposta com o máximo de informações. Seja esnobe e mostre co-
nhecimento.

Observe este trecho: “O dolo normativo foi adotado pelos autores que defendiam a teoria causalista”.

Agora observe a técnica do esgotamento: “O dolo normativo, também conhecido como dolo colorido, foi adotado pelos
autores que defendiam a teoria causalista neoclássica da ação, também chamada de teoria normativa pura da culpabili-
dade”.

MAIS ALGUMAS DICAS

 Use frases curtas. Prefira o ponto final à vírgula;


 Escolha as palavras mais simples. Não use “epíteto” quando pode usar “apelido”.
 Porém, não deixe de empregar as palavras técnicas quando necessário;
 Evite abreviações. Use-as apenas para indicar os Códigos (CPB, CPP, ECA etc.);
 Pratique! Esta é outra palavra-chave para quem deseja escrever bem! Nada melhor do que praticar para aprimo-
rarmos cada vez mais aquilo que aprendemos!
 Também, não deixe de se posicionar firmemente e logo no início da resposta. Se te perguntarem se Coca-Cola é
preta ou azul escura, responda de pronto, mesmo que não tenha certeza.
 Deixe seu posicionamento bem claro logo de início, fundamentando depois com as 3 mulheres.

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INTRODUÇÃO

É IMPOSSÍVEL SER EXPERT EM TODAS • você não precisa dominar o assunto para fazer
AS DISCIPLINAS uma excelente prova discursiva.

• você tem que escrever durante o programa;


• você terá correções detalhadas;
PERCA O MEDO DE ESCREVER
• você conseguir avançar.

MÉTODO C. I. E. DE RESOLUÇÃO DE QUESTÕES


DISCURSIVAS:
Conhecer, Identificar, Estruturar.

1. CONHECER
2. IDENTIFICAR O DOMÍNIO SOBRE O ASSUNTO
3. ESTRUTURAR A RESPOSTA COM GATILHOS DE
PONTUAÇÃO

a) Conceituações e nomenclaturas em geral


b) Classificações e natureza
c) Comparações e diferenciações
CONHECER TIPOS DE QUESTÕES DISCURSIVAS d) Aplicação prática de instituto jurídico (princi-
palmente em Direito Penal) } caso concreto pra
você tipificar/analisar juridicamente

Primeira Situação: domina o assunto


Segunda Situação: conhece o assunto, mas não
o domina
IDENTIFICAR O DOMÍNIO SOBRE O ASSUNTO
Terceira Situação: tem apenas uma ideia geral
do assunto
Quarta Situação: desconhece o assunto

Primeiro Passo: identifique os pontos chave


Segundo Passo: faça um rascunho mental
(tempestade mental ou brain storming).
ESTRUTURAR A RESPOSTA COM GATILHOS
Terceiro: organize as ideias
DE PONTUAÇÃO EM CINCO PASSOS
Quarto: use as três mulheres (lei, doutrina e ju-
risprudência)
Quinto: revise e passe a limpo

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VAMOS PRATICAR

A Polícia Militar apresenta na delegacia uma pessoa surpreendida em flagrante portando uma arma de fogo
desmuniciada, a qual, segundo o próprio conduzido, seria utilizada para cometer roubos. Na condição de
Delegado de Polícia, qual seria a decisão mais adequada?

1º estruture resposta na sua mente e anote os pontos chave.


2º faça um rascunho mental (brainstorm).
3º Organize as ideias.
4º Use as três mulheres

QUESTÕES DISCURSIVAS PARA PRATICAR

Em relação ao tema Prisão em Processo Penal, dispõe o CPP, em seu art. 301, que qualquer do povo
poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
flagrante delito. Portanto, existe uma situação de flagrante obrigatório e outra de flagrante facultati-
vo.

a) Com base no artigo de lei mencionado, estabeleça correlação entre seu texto e as excludentes de
ilicitude invocadas para justificá-las. Em caso de excesso, correlacione cada situação com tipo pe-
nal violado.
b) Qual o sentido do termo “autoridade” no texto do art. 301, CPP?

a) A disposição legal prevê duas situações:

● Flagrante obrigatório, que impõe que toda autoridade deve prender quem se encontre em flagrante;
● Flagrante facultativo, que estabelece uma faculdade para qualquer outra pessoa prender quem se
encontre nessa situação.

No caso do flagrante obrigatório, o agente se encontra amparado pela excludente de ilicitude do estrito
cumprimento do dever legal. Já no flagrante facultativo, a pessoa estará amparada pelo exercício regular
do direito.

No caso de excesso cometido durante o flagrante obrigatório, pode ocorrer o crime de abuso de autori-
dade. O excesso cometido no flagrante facultativo pode gerar outros crimes, como constrangimento ile-
gal. (Valor 2,5)

b) O termo “autoridade” se refere às forças policiais. Portanto, não se aplica ao promotor e nem ao juiz, por
exemplo. (Valor: 2,5).

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A Justiça condenou a empregada doméstica Angélica Aparecida Souza, 19 anos, a quatro anos de pri-
são em regime semi-aberto por ter tentado roubar um pote de manteiga no dia 16 de novembro de
2005, no Jardim Maia, São Paulo. Considerando a notícia acima, responda de forma fundamentada.
Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de roubo?

A jurisprudência, majoritariamente, assinala para a impossibilidade da aplicação de determinado princípio


no crime de roubo, independentemente da valoração da lesão ou da grave ameaça. A fundamentação utili-
zada na maioria dos julgados reside no fato de ser o delito de roubo - art. 157 do CP - um crime complexo,
uma vez que unifica duas condutas típicas previstas como crime em um só tipo penal, e, principalmente, pela
indisponibilidade dos bens jurídicos tutelados por este delito, quais sejam, integridade física e a liberdade do
indivíduo.

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(CESPE - 2007 - TSE - Analista Judiciário - Área Judiciária - ADAPTADA)

Determinado juiz foi denunciado perante o tribunal de justiça por prática do crime de abuso de auto-
ridade. De acordo com a denúncia, o juiz invadiu a sala de aula do colégio de seu filho e ofendeu a pro-
fessora por ter retirado a criança da sala de aula. No momento da invasão, afirmou que a professora
não poderia retirar o filho de um juiz e, portanto, de uma autoridade da sala de aula. A professora,
então, tentou explicar os procedimentos da escola, mas o juiz, proferindo palavras de baixo calão,
mandou-a calar a boca, sob pena de prisão em flagrante delito, por mero capricho. A denúncia contra
o juiz foi oferecida, e com possibilidade de aplicação de pena de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos,
e multa.

Considerando a situação hipotética acima e a legislação e doutrina sobre o crime de abuso de autori-
dade, responda objetivamente o que se pede:

1. Qual espécie de abuso de autoridade o juiz praticou? Fundamente. (8pts)

2. Para que se configure o crime de abuso de autoridade, é dispensável a presença do elemento sub-
jetivo do tipo? Elenque esses elementos. (9pts)

3. É cabível algum instituto despenalizador? Fundamente. (8pts)

[ MÍNIMO 10 E MÁXIMO 20 LINHAS]

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1. Crime de abuso de autoridade previsto no art. 9º, caput, uma vez que ele decretou medida de privação
da liberdade em manifesta desconformidade com as hipóteses legais.

2. É indispensável a presença do dolo específico.

3. A lei traz os seguintes elementos: de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda,
por mero capricho ou satisfação pessoal.

4. Suspensão condicional do processo, previsto na Lei N. 9099 de 1995 – Lei dos Juizados Especiais Crimi-
nais.

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(CESPE / CEBRASPE - 2003 - PC-RR - Delegado de Polícia Civil – ADAPATADA)

Um agente de polícia, com o intuito de obter informações acerca da autoria de um roubo de jóias,
algemou um receptador conhecido na região e passou a agredi-lo com socos e pontapés, bem como
com choques elétricos, causando-lhe sofrimento físico e mental. Tendo com base o texto acima, res-
ponda de forma objetiva e fundamentada o que se pede:

1. Qual crime o agente de polícia praticou? (12 pontos)

2. Em de condenação, a perda do cargo é automática? (8pontos)

3. Poderá haver como efeito da condenação a interdição para ocupar cargo público? Por quanto
tempo? (4pontos)

[MÍNIMO 5 E MÁXIMO 10 LINHAS]

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1. Crime de tortura, na modalidade tortura prova, previsto no art. 1º, inciso I, “a” da Lei de Tortura. (Art. 1º
Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de tercei-
ra pessoa;)
2. Constitui efeito automático da condenação a perda do cargo, função ou emprego público, não cabendo
ao juiz analisar se ele perde ou não o cargo.
3. Acarretará a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

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(FDRH - 2013 - PC-RS - Escrivão e Inspetor de Polícia - 2° Parte)

O agente policial A, empregou métodos truculentos contra a vítima Z (causando-lhe intenso sofrimen-
to físico) a fim de obter confissão acerca de um suposto crime de estelionato que ela teria praticado.
Como decorrência, embora o agente policial A não tenha agido diretamente com unimus necandi, a
vítima Z veio a óbito. O agente B, superior imediato do agente A, podia e devia ter agido para evitar o
ocorrido, já que a tudo assistiu; entretanto, preferiu se omitir para “não se incomodar".

Tendo como base o texto balizador, responda de forma fundamentada e objetiva ao que se pede a
seguir:

1. Qual o crime o agente policial A praticou? (10pontos)

2. O crime praticado pelo agente policial A é considerado crime hediondo? Fundamente. (10 pontos)

3. Qual a espécie de crime de tortura praticada pelo agente B? Fundamente. (5pontos)

[MÍNIMO 10 E MÁXIMO 20 LINHAS]

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1. Tortura qualificada pela morte; Crime preterdoloso.
Art. 1º, § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a
dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
2. Trata-se de um crime equiparado a hediondo, e não hediondo.
3. trata-se do crime de tortura omissiva, uma vez que se omitiu quando tinha o dever de agir.

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(DELEGADO DE POLÍCIA – PCSE – 2018 – CESPE)

João, penalmente imputável, prevalecendo-se de sua relação com Maria, com quem mantinha vínculo
afetivo por aproximadamente doze anos, praticou contra ela vias de fato — contravenção penal que
sujeita o infrator a pena de prisão simples de quinze dias a três meses ou multa —, tendo-lhe puxado
os cabelos e lhe dado violentos empurrões. Logo após tais agressões, João foi conduzido à delegacia de
polícia e apresentado à autoridade policial competente, para as providências legais cabíveis. A partir
dessa situação hipotética e dos dispositivos das Leis n.º 9.099/1995 — Lei dos Juizados Especiais Cíveis
e Criminais — e n.º 11.340/2006 — Lei Maria da Penha —, redija um texto dissertativo que responda,
justificadamente e de acordo com os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais majoritários, as
seguintes indagações.

1. No procedimento judicial acerca da contravenção penal de vias de fato sujeita ao rito da Lei Maria
da Penha, poderão ser aplicados os institutos da transação penal e da suspensão condicional do
processo, previstos na lei que rege os juizados especiais cíveis e criminais? Em sua resposta, dis-
corra, à luz do entendimento do STJ e do STF, sobre a abrangência semântica do termo “crime” no
âmbito da Lei N. 9.099 de 1995. [valor: 15 pontos]
2. Considerando-se a sanção prevista caso João seja condenado pela contravenção penal de vias de
fato, será viável a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ou
pela aplicação isolada de multa? [valor: 10,00 pontos]

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SUGESTÃO DE RESPOSTA:

1. Nos termos do Art. 41 da Lei nº 11.340/06, aos crimes praticados com violência doméstica e familiar con-
tra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099/95. No entanto, o Su-
premo Tribunal Federal (STF) entendeu que, apesar do silêncio do art. 41 ao não citar contravenções pe-
nais, esse dispositivo legal da Lei Marida da Penha deverá ser interpretado de como a abranger crimes e
contravenções, visando dar uma maior efetividade na proteção às mulheres vítima de violência domésti-
ca e familiar. Não poderão ser aplicados os institutos da transação penal e da suspensão condicional do
processo, previstos na lei que rege os juizados especiais cíveis e criminais.

2. Não é possível a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ou pela apli-
cação isolada de multa, mesmo que se trate de infração de menor potencial ofensivo.
Fundamentos: Art. 17 da LMP, com base nas Súmulas 536 e 538 do STJ.

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(PROF. AYRES BARROS)

Disserte os crimes hediondos, apontando necessariamente sua previsão constitucional e o conceito


de mandado constitucional de criminalização, sistema adotado para definir crimes hediondos e suas
características, bem como as consequências constitucionais.

[MÍNIMO 05 E MÁXIMO 10 LINHAS]

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1. Constituição Federal de 1988 (CF/88) traz em seu Art. 5º, inciso LXIII, um mandado constitucional de cri-
minalização, que indicam matérias sobre as quais o legislador ordinário não tem a faculdade de legislar,
mas a obrigatoriedade de tratar, protegendo determinados bens ou interesses de forma adequada e,
dentro do possível, integral.
2. 03 sistemas: legal, judicial ou misto. A CF/88 adota de forma expressa o sistema legal, ao dispor que a lei
irá prever taxativamente os crimes que são considerados como hediondos.
3. Os crimes hediondos são insuscetíveis de fiança, graça e anistia.

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CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ
CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

PROVA DISCURSIVA
RESPOSTA DEFINITIVA

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(TJPR - 2017 – CESPE)

Aponte a previsão legal da figura do agente de polícia infiltrado, na legislação brasileira, elencando os
tipos penais que a admitem.

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SUGESTÃO DE RESPOSTA:

1. PREVISÃO LEGAL –

• Previsão legal Lei 11.343/06 — art. 53, I (lei de drogas);


• Lei 12.850/13 — art. 3º, VII e 10 (lei de organização criminosa) (admitindo-se 10 a 14/15, ou 10 e seguin-
tes, ou 10 e §§)
• ECA- Admitindo-se alteração do ECA no art. 190-.A

2. Tipos penais que a admitem

a) Lei de drogas (11.343/06 — rol não taxativo (incidentes em todos os tipos penais previstas na legislação
ou indicando os arts, 28, 33 §§ 2º, 3º e 4º, 34, 35, 36, 37, 38 e 39)

b) Lei de organização criminosa — 12.850/13 - Infrações penais praticas por organizações criminosas (art.
1º, §1º e art. 2º) - Infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; (art 1º,
§2º, I) - Organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo
legalmente definidos. (art. 1º, §2º, II e/ou art. 16 da lei 13260/16).

c) ECA em rol taxativo Art. 190-A - A infiltração de agentes de polícia na Internet com o fim de investigar os
crimes previstos nos arts. 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. 154-A, 217-A, 218,
218-A e 218-B do Decreto-Lei n° 2.848 de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), (admitindo-se 240 a
241-D do ECA)

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CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ
CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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RESPOSTA DEFINITIVA

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(PROF. AYRES BARROS)

Disserte sobre a conduta de porte de drogas para consumo pessoal (art. 28, Lei de Drogas) apresen-
tando, necessariamente:

1. a natureza jurídica do referido dispositivo legal, apontando se é crime, contravenção ou infração


penal sui generis;

2. consequências jurídicas, especialmente sobre suas penas;

[MÍNIMO: 10; E MÁXIMO: 20 LINHAS]

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1. Natureza jurídica de Crime. Não se trata de infração penal sui generis. Não se trata de crime. Ocorreu a
despenalização (STF)
"O Plenário do Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento de Questão de Ordem suscitada
nos autos do RE 430105 QO/RJ, rejeitou as teses de abolitio criminis e infração penal sui generis pa-
ra o crime previsto no art. 28 da Lei 11.343/06, afirmando a natureza de crime da conduta perpetrada
pelo usuário de drogas, não obstante a despenalização". RE 430105 2811.3432. Ordem denegada.
(90090 DF 2007/0210677-3, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 03/12/2009,
T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/02/2010).
2. Penas: Art. 28, Lei de Drogas - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comu-
nidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ


CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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RESPOSTA DEFINITIVA

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(INSTITUTO AOCP – CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR DE SANTA CATARINA – ADAPTADA)
[PROF. AYRES BARROS]

De acordo com a Lei Federal nº 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), considerando que Marcos
Moreira fosse residente da zona rural Cearense e necessitasse de um instrumento mais adequado
para caçar javaporcos invasores de sua propriedade, os quais efetivamente caçados seriam utilizados
para alimentação, qual tipo de autorização ele poderia obter e quais seriam os requisitos necessários?

[MÍNIMO 05 E MÁXIMO 10]

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Estatuto do Desarmamento –

o
Art. 6º, § 5 Aos residentes em áreas rurais, maiores de 25 (vinte e cinco) anos que comprovem depender do em-
prego de arma de fogo para prover sua subsistência alimentar familiar será concedido pela Polícia Federal o porte
de arma de fogo, na categoria caçador para subsistência, de uma arma de uso permitido, de tiro simples, com 1
(um) ou 2 (dois) canos, de alma lisa e de calibre igual ou inferior a 16 (dezesseis), desde que o interessado compro-
ve a efetiva necessidade em requerimento ao qual deverão ser anexados os seguintes documentos: (Redação dada
pela Lei nº 11.706, de 2008)

I - documento de identificação pessoal; (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)

II - comprovante de residência em área rural; e (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)

III - atestado de bons antecedentes. (Incluído pela Lei nº 11.706, de 2008)

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(Delegado de Polícia - Concurso: PCRJ - Ano: 2012 - Banca: FUMARC)

Discorra sobre o instituto jurídico do arquivamento implícito e suas formas.

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O chamado arquivamento implícito é fenômeno que ocorre, segundo parte da doutrina, quando o Ministério
Público deixa de incluir na denúncia algum dos acusados ou parte dos fatos constantes das peças de infor-
mação, não apresentando, quanto aos fatos excluídos, qualquer tipo de manifestação.

Ressalte-se que poderia o titular da ação penal, na promoção ou cota que acompanha a denúncia, requerer
ao juiz o traslado das peças para que elas retornassem à delegacia, com fins de dar continuidade à investiga-
ção ou, ainda, entendendo ser caso de arquivamento, oferecer a denúncia em face dos indiciados contra
quem há indícios de autoria e requerer o arquivamento em relação àqueles cujos indícios estivessem ausen-
tes, o mesmo ocorrendo com fatos supostamente delituosos. Entretanto, no arquivamento implícito o MP
nada manifesta, oferecendo uma denúncia, digamos, parcial.

Neste caso, sustenta a doutrina que haveria um "pedido" ou manifestação tácito de arquivamento, contra o
qual o juiz poderia se insurgir, aplicando o art. 28 do CPP (enquanto aplicável a antiga redação), mas, como
não o fez, apenas recebendo a denúncia em relação à parte dos fatos ou agentes, teria se concretizado o
arquivamento com relação aos fatos ou agentes omitidos na peça acusatória. Neste caso, uma futura denún-
cia, ou mesmo um aditamento da denúncia já existente, para a acusação dos fatos anteriormente excluídos
de forma tácita, dependeria do surgimento de novas provas, aplicando-se à hipótese o teor da Súmula 524
do STF.

O arquivamento implícito, assim, poderia ser objetivo (arquivamento tácito de fatos) ou subjetivo (arquiva-
mento tácito de supostos agentes). Em ambos os casos, busca a doutrina minoritária garantir a segurança
jurídica.

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(CESPE – 2013 - PCBA - Investigador de Polícia)

Silas, Juca e Celso, armados com pistola 380 e revólver de calibre 38, abordaram Célia na saída de um
shopping center na cidade de Salvador – BA e, mediante grave ameaça, obrigaram-na a ingressar no
próprio veículo, juntamente com os três. Dentro do veículo, os agentes constrangeram a vítima a lhes
entregar cartões bancários e as respectivas senhas. Pretendendo utilizar os referidos cartões em
compras e em saques em caixas eletrônicos, os autores do delito restringiram a liberdade de Célia
como forma de assegurar o sucesso da empreitada delituosa. Silas assumiu a direção do veículo e
rumou para a saída do estacionamento. Policiais civis da delegacia do bairro que lanchavam em
estabelecimento comercial próximo ao estacionamento do shopping center presenciaram a ação dos
agentes dentro do veículo e imediatamente empreenderam perseguição aos criminosos. Ao perceber
que estava sendo seguido, Silas dirigiu o veículo em direção à cidade de Feira de Santana – BA. Ao
entrar no perímetro urbano da cidade, Silas, que dirigia em alta velocidade, perdeu o controle do
veículo, que se chocou contra um muro. Os agentes prenderam em flagrante Silas e Juca, tendo Celso
sido levado para hospital mais próximo em estado grave. Nada foi subtraído da vítima, que foi
libertada pelos policiais.

Em face dessa situação hipotética, indique, com base no Código Penal e no Código de Processo Penal:

1- o(s) crime(s) perpetrado(s) por Silas, Juca e Celso;


2- o local em que ocorreu a consumação do(s) crimes(s);
3- a quem e em que localidade deverão ser apresentados os presos;
4- o juízo competente para conhecer, processar e julgar a(s) infração(ões) penal(is).

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o
1. Os agentes praticaram o crime de extorsão mediante restrição da liberdade (art. 158, § 3. , do CP).
2. Trata-se de crime formal, cuja consumação se dá com a privação da liberdade da vítima, portanto, em
Salvador –BA.
3. Ocorrendo a prisão em flagrante, os presos devem ser conduzidos à delegacia mais próxima do local da
captura, portanto, em Feira da Santana – BA, para fins de lavratura do auto de prisão em flagrante (CPP,
art. 290).
4. Conforme art. 70 do CPP, será competente para o processo e julgamento o local em que consumada a
infração, ou seja, a Comarca de Salvador- BA.

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(PCRJ - Delegado de Polícia – 2001)
A autoridade policial instaurou inquérito, ex officio, visando apurar a prática de crime de homicídio
doloso duplamente qualificado ocorrido em sua circunscrição. As 4 (quatro) testemunhas presenciais
do fato já foram identificadas, porém, ainda não foram ouvidas por se encontrarem em viagem pro-
fissional. O laudo de exame cadavérico comprova a causa mortis da vítima: traumatismo craniano
produzido por projétil de arma de fogo. Os familiares da vítima juntam aos autos do inquérito cartas
ameaçadoras para a vítima onde constavam os seguintes dizeres: “Você ainda vai pagar caro por tudo
que fez. Sua boca vai amanhecer cheia de formiga”. Assinado: “Tício”.
Segundo informes, não comprovados, o motivo do crime seria “dívida” oriunda de tráfico de entorpe-
centes praticado por Tício.
A autoridade policial, necessitando concluir o inquérito a fim de indiciar Tício, representa à autorida-
de judiciária competente pela decretação da quebra do sigilo telefônico de Tício, a fim de identificar
suas ligações telefônicas pretéritas e confrontá-las com os números dos telefones da vítima e, ainda,
interceptação telefônica de Tício para descobrir seu possível envolvimento com o tráfico ilícito de
drogas.
Diante dos fatos, pergunta-se:
o
a) A legislação em vigor (Lei n 9.296/1996) permite a decretação da medida, no caso concreto? Res-
ponda objetivamente à luz da Constituição da República Federativa do Brasil.
b) É admissível a decretação da prisão temporária de Tício a fim de ser investigada sua autoria e/ou
participação no referido homicídio?
Responda objetivamente à luz da Teoria Geral da Prisão Cautelar.

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Resposta apresentada pelo examinador (Paulo Rangel) e indicada em sua obra:


Letra a)
"A resposta é negativa. A interceptação telefônica, durante a fase do inquérito policial, tem a natureza jurídi-
ca de medida cautelar preparatória da ação penal e somente pode ser adotada se estiverem presentes os
pressupostos de toda e qualquer medida cautelar, quais sejam: o fumus boni iuris e o periculum in mora.
O fumus boni iuris está representado pela presença de indícios suficientes de autoria ou participação do indi-
ciado em infração penal. No caso em tela, não há informações seguras que apontem Tício como autor, mas
sim informações que devem ser pesquisadas durante as investigações. Nesse caso, não existe o fumus boni
iuris.
O periculum in mora pela imposição de que a prova não pode ser feita por outros meios de prova. No caso,
em tela, existem outros meios de prova além da interceptação telefônica: carta ameaçadora que deve ser
submetida a exame grafotécnico (art. 174 do CPP) e as testemunhas que estão apenas ausentes, mas exis-
tem e devem ser ouvidas. Nesse caso, não há também o periculum in mora. Ausentes os pressupostos legais,
a medida é inviável, sob pena de se produzir prova ilícita.
No caso da interceptação telefônica do possível envolvimento de Tício com o tráfico ilícito de entorpecentes,
temos que é inadmissível pelo simples fato de que, segundo a lei, somente é possível se o fato investigado
o o
constituir infração penal punida, no máximo, com pena de detenção (art. 2 , III, da Lei n 9.296/1996), ou seja,
somente é admissível interceptação de fato já ocorrido, fato pretérito e não para se descobrir se o fato
ocorreu ou não. A dúvida que leva à interceptação é quanto a autoria e não com relação à materialidade, à
infração penal em si.
Outro aspecto que deve ser levado em consideração na pergunta é referente à quebra do sigilo de dados da
comunicação telefônica e não da interceptação telefônica, em si. Ou seja, quer-se obter dados da comunica-
ção que já foi feita, portanto, ligações pretéritas.
o
Entendemos que a Constituição, quando se refere a salvo, no último caso, por ordem judicial (art. 5 , XII) está
se referindo tanto a dados como a comunicações telefônicas e, nesse caso, presentes os pressupostos legais
(fumus boni iuris e periculum in mora), admite-se a decretação da quebra de dados das comunicações telefô-
nicas. Do contrário, se assim não entendermos, estaremos protegendo o criminoso da era digital. Contudo,
no caso em tela, como não estão presentes os pressupostos legais, não é possível a decretação da medida
de quebra de dados.
Obs. O leitor-candidato não deve sublinhar palavras em sua resposta na prova para que não seja entendido
como identificação da prova, sob pena de eliminação do concurso. Nós apenas o fizemos para chamar a
atenção de palavras chaves."
Letra b)
"A resposta é negativa. A prisão temporária é espécie de prisão cautelar de natureza processual e, como tal,
deve ter os pressupostos de toda e qualquer medida cautelar, quais sejam: o fumus boni iuris e o periculum in
mora.

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O fumus boni iuris está representado pela necessidade de fundadas razões de autoria ou participação do
o o
indiciado nos crimes elencados no inciso III do art. 1 da Lei n 7.960/89, enumeração essa taxativa, ou seja,
somente é admissível decretação de prisão temporária em um dos crimes ali elencados, sob pena de haver
prisão manifestamente ilegal. Nesse caso, há um pressuposto legal: crime previsto naquele rol. Porém, sem
as fundadas razões, não se admite prisão. Fundadas (e não imaginadas) razões são elementos de convicção
que nos levam a indicar que Tício, no exemplo, é autor ou partícipe do fato crime. No caso, não existem.
o
O periculum in mora encontra-se nos incisos I e II do art. 1 da lei citada e deve coexistir, obrigatoriamente,
com o fumus boni iuris do inciso III, sob pena de não termos os dois pressupostos para adoção da medida
extrema. Nesse caso, não existe a imprescindibilidade da prisão para as investigações policiais. Observe-se
que existem testemunhas a serem ouvidas e uma carta que pode e deve ser objeto do competente exame
grafotécnico, nos exatos limites do art. 174 do CPP, sendo odioso lançar mão de uma medida extrema e ex-
cepcional em face da liberdade de locomoção do investigado quando o Estado ainda pode adotar outras
medidas menos severas para concluir a investigação. No Estado Democrático de Direito, não se admite que
se adote a medida mais grave para depois se adotar a menos grave. Devemos trazer para o processo penal o
princípio de direito público denominado “princípio da proibição do excesso”, ou seja, no caso concreto, se o
Estado pode lançar mão da oitiva de testemunhas e do exame grafotécnico da carta ameaçadora, por que,
desde logo, como primeira medida, irá prender o investigado? Seria uma opção odiosa diante do quadro
investigatório que se apresenta. Assim, primeiro vamos ouvir as testemunhas e realizar o exame grafotécni-
co para tentar identificar a autoria do referido homicídio. Depois, identificada a autoria, iremos analisar a
necessidade da prisão, porém, com o inquérito já concluído, onde o Ministério Público poderá oferecer de-
núncia e, se for o caso, requerer a prisão preventiva.
Entendemos que a prisão temporária é medida de caráter inconstitucional, pois admite prisão para investi-
gar e não investigar para, se necessário for, prender.
Destarte, inadmissível é a prisão temporária de Tício por ausência dos pressupostos legais de toda e qual-
quer medida cautelar, além de sua inconstitucionalidade ao admitir prisão de suspeito para saber se ele é
autor ou partícipe do fato-crime."

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(UEG – PCGO - Delegado de Polícia – 2013)
A interceptação das comunicações telefônicas é técnica especial de investigação sigilosa, marcada
pelo contraditório diferido, tendo inegável conteúdo cautelar. Assim, explique, analisando a valora-
ção das provas, em que consiste, em relação às interceptações telefônicas, a serendipidade de primei-
ro e segundo graus.

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Resposta (oficialmente) esperada pela banca:


Encontros fortuitos: no curso das interceptações telefônicas podem surgir outros fatos penalmente relevan-
tes, distintos da situação objeto das investigações. Tais fatos podem envolver outras pessoas ou o próprio
investigado.
a) serendipidade ou encontro fortuito de primeiro grau - quando os encontros fortuitos são de fatos cone-
xos ou continentes com os fatos sob investigação. Nesse caso, a prova produzida pode ser valorada pelo
juiz.
b) serendipidade ou encontro fortuito de segundo grau - quando se trata de fatos não conexos ou quando
não exista continência com os fatos sob investigação. Nesse caso, a prova produzida vale como notitia
criminis.

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(FUMARC – PCRJ – Delegado de Polícia – 2012)

A autoridade policial está investigando um crime de homicídio. Foram encontradas amostras biológi-
cas no local do crime. Gala, a principal suspeita do delito, recusa-se a fornecer padrões biológicos para
confronto de DNA. Não obstante, sabendo que Gala estava gestante, o Delegado, no dia do parto, diri-
giu-se ao Hospital onde ela dera à luz, com equipe técnica de legistas, e apreendeu a placenta da indi-
ciada, realizando, então, o confronto de DNA com o material apreendido no local do crime, concluindo
pela autoria da indiciada. Proceda a análise jurídica do caso.

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Sugestão de resposta:

Deveria o candidato abordar os seguintes aspectos:

- O amparo da recusa da indiciada relativamente ao fornecimento de amostras biológicas na garantia de


não autoincriminação ou princípio nemo tenetur se detegere;
- diferenciar as provas invasivas das provas evasivas;
- indicar que as provas invasivas, que dependem de intervenção corporal se submetem à garantia de não
autoincriminação;
- discorrer sobre a possibilidade de utilização das provas evasivas apenas quando encontradas na cena do
crime e quando voluntariamente descartadas, o que não inclui a placenta indicada na questão, que, em-
bora res nullius, é derivada do corpo da investigada, que recusou-se a fornecer o material biológico ao
exame de DNA.

Obs. A questão encontra-se inspirada no julgamento da questão de ordem pelo STF no caso Gloria Trevi, no
qual o exame na placenta somente ocorreu em face da ponderação de interesses ou direito individual coleti-
vo.

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(FAURG - PCRS - Delegado de Polícia – 2006 - adaptada)

Antônio é policial civil e atua na Delegacia de Repressão a Roubos. No sentido de prender assaltante
que atua no centro da Capital, passa a caminhar por locais perigosos portando uma pasta executiva,
sendo acompanhado de perto por outros policiais disfarçados. Antônio é abordado pelo suspeito, ar-
mado com o revólver, que acaba sendo preso pelos demais policiais.

Pergunta-se:

- De que flagrante se trata?

- Deverá o delegado de polícia lavrar o auto de prisão em flagrante? Responda discorrendo sobre a
tipicidade material e processual do flagrante.

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O candidato deveria indicar tratar-se de flagrante preparado, cuja possibilidade encontra-se vedada pela
Súmula 145 do STF. Assim, embora presente a tipicidade material, resta ausente a tipicidade processual do
flagrante, motivo pelo qual não deverá o delegado lavrar o APF.

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(INÉDITA)

Diferencie as figuras do agente infiltrado, agente disfarçado e agente provocador, indicando da vali-
dade e classificação dos flagrantes possivelmente praticado por estes.

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Sugestão de resposta:
A atuação do agente infiltrado (arts. 10 e 10-a da lei 12.850/2103), que depende de autorização judicial, ca-
racteriza-se pela dissimulação, engano e interação; leva, em regra, ao flagrante retardado ou diferido.
Já o agente disfarçado ou encoberto (arts. 17 § 2º. e 18, par. ún. da Lei 10.826/2003 e 33, §1º., IV da Lei
11.343/2006) não apresenta envolvimento prévio com o agente delituoso, bem como não provoca o aconte-
cer típico, sendo certo que sua atuação é um indiferente causal à prática delitiva. A conduta criminal é pree-
xistente, o que viabiliza o flagrante delito, que consiste em modalidade de flagrante esperado.
A figura do agente provocador (entrapment) está associada ao flagrante preparado ou provocado, modali-
dade ilegal de prisão, conforme Súmula 145 do STF. Neste caso, evidencia-se a ausência de vontade primária
na conduta delitiva do provocado, já que o agente provocador provoca o acontecer típico, sendo o verdadei-
ro responsável pelo motivo causal. Assim, o dolo do agente é causado ou artificial, caracterizando hipótese
de crime impossível, na forma do art. 17 do CP.

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(Adaptação das questões Cespe – Bacen – Procurador – 2013 e – UEG - PCGO – Delegado – 2008)

A Polícia Civil tomou conhecimento, por meio de telefonema anônimo, de que determinado Prefeito
estaria envolvido na prática de condutas delituosas relacionadas ao desvio de verbas provenientes da
União. Considerando essa situação hipotética, responda, de modo justificado, aos seguintes questio-
namentos: (i) É possível a instauração do inquérito policial após a denúncia anônima? (ii) Consideran-
do que a Lei Orgânica do Município estipula ser o prefeito insuscetível de prisão, nas infrações penais
comuns, enquanto não sobrevier sentença condenatória, poderá o delegado representar por sua pri-
são temporária ou preventiva? (iii) Qual o juízo competente à análise e deferimento da medida caute-
lar?

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Sugestão de resposta:

Atualmente , é muito comum nos depararmos com questões interdisciplinares, ou seja , questões que abor-
dam temáticas de disciplinas distintas. É o que ocorre no presente caso, em que a questão também aborda
Direito Constitucional.

O candidato deverá abordar:

i) Que, a princípio, é inadmitida a instauração do inquérito policial exclusivamente com base em denúncia
anônima ou apócrifa (delatio criminis inqualificada), devendo o delegado, ao receber a informação anô-
nima, proceder diligências prévias, as quais poderão, se demonstrado lastro sério e fundado acerca do
fato noticiado, poderá instaurar o inquérito policial.

ii) Quanto ao item (ii), sustentar a inconstitucionalidade do preceito da lei orgânica municipal que estipula
ser o prefeito insuscetível de prisão. As leis orgânicas dos municípios não dispõem de competência para
outorgar ao prefeito a prerrogativa extraordinária da imunidade às prisões em flagrante, preventiva e
temporária, prevista constitucionalmente apenas para o Presidente da República, enquanto chefe de Es-
tado (art. 86 § 3º. da CRFB). Assim, poderá o delegado representar pela prisão do Prefeito, desde que
presentes os requisitos necessários à decretação da medida (para a preventiva, arts. 312 e 313 do CPP;
para a temporária, art. 1º. da Lei 7.960/89). O candidato deve fazer uma breve abordagem dos referidos
requisitos.

iii) O candidato deve abordar que, embora a competência para o processo e julgamento do Prefeito, por
prerrogativa de função, esteja constitucionalmente prevista para o TJ em que exerce a função, será ne-
cessário identificar se, no caso concreto, a verba supostamente desviada já se encontrava incorporada
ao patrimônio municipal, de forma a definir a eventual competência do TRF, conforme súmulas 208 e
209 do STJ e 702 do STF.

Ressalte-se ainda que, embora o STF tenha dado nova interpretação ao instituto da prerrogativa de função,
estabelecendo limites para a aplicação do instituto, no caso concreto o enunciado indica crime relacionado à
função exercida, praticado durante seu exercício, o que viabiliza a adoção da prerrogativa.

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CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ
CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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RESPOSTA DEFINITIVA

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OBS.: Questões extraídas de concursos de Inspetor, Agente, Escrivão e Delegado de Polícia Civil.

No curso de uma investigação policial, atendendo a representação da autoridade policial, foi autori-
zada judicialmente medida de busca e apreensão de bens e documentos, a ser realizada em endereço
determinado, conforme descrito no competente mandado. De posse do mandado, os agentes de polí-
cia, acompanhados da autoridade policial, chegaram ao sobredito imóvel somente no período notur-
no, devido a vários contratempos havidos no decorrer das diligências. Confirmado o endereço, cons-
tatou-se a presença de várias pessoas no interior do imóvel, entre elas, o proprietário da casa, indici-
ado no inquérito policial que originou o mandado de busca e apreensão. Adicionalmente, constatou-
se a existência de três veículos na garagem do imóvel. Considerando a situação hipotética acima
apresentada, redija um texto dissertativo acerca do instituto da busca e apreensão no processo pe-
nal. Ao elaborar seu texto, aborde, fundamentadamente, os seguintes tópicos.

A) Natureza jurídica da busca e apreensão, seus objetivos e suas características e normas gerais.
[valor: 7,00 pontos]

B) Requisitos para o cumprimento da busca e apreensão em suas modalidades domiciliar e pessoal.


[valor: 6,00 pontos]

C) Relativamente à situação hipotética apresentada: possibilidade jurídica de realização da diligên-


cia no horário noturno. [valor: 3,00 pontos]

D) Relativamente à situação hipotética apresentada: possibilidade jurídica de realização de busca


pessoal nas pessoas encontradas no interior do imóvel, bem como no interior dos veículos estaci-
onados na garagem. [valor: 3,00 pontos]

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Tópicos que devem ser mencionados na resposta:

• O instituto da busca e apreensão no processo penal é procedimento de natureza eminentemente caute-


lar, com previsão na Constituição Federal e no Código de Processo Penal, sendo medida restritiva de di-
reitos individuais com o objetivo de acautelamento: de material probatório necessário à prova da infra-
ção ou à defesa do réu e de coisa, de animais e até de pessoas que não estejam ao alcance espontâneo
da justiça.
• Art. 5.º, incisos e X e XI, da Constituição Federal.
• Art. 240 e seguintes do Código de Processo Penal
• Os requisitos indispensáveis para a execução da busca domiciliar são: a) Ordem judicial escrita e funda-
mentada; b) Indicação precisa do local, dos motivos e da finalidade da diligência; c) Cumprimento da dili-
gência durante o dia, salvo se o morador consentir que seja realizada à noite; d) A qualquer hora do dia
ou da noite, independentemente de mandado judicial ou consentimento do morador, por ocasião de fla-
grante delito. Já a busca pessoal não depende de autorização judicial para o seu cumprimento, mas
apresenta como requisito essencial e indispensável a fundada suspeita de que o indivíduo porte consigo
ou em seus pertences armas, instrumentos do crime, objetos necessários à prova do fato delituoso, en-
tre outros. É também legalmente autorizada quando determinada no curso da busca domiciliar (art. 244
do CPP).
• Em se tratando de busca pessoal e havendo fundadas razões para a execução da diligência, esta poderá
ser realizada a qualquer hora do dia ou da noite, porquanto independe de autorização judicial nesse sen-
tido; todavia, tratando-se de busca domiciliar, esta somente se dará no horário noturno se for consentida
pelo morador. Não havendo consentimento deste, a diligência somente poderá ser executada durante o
dia.

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RESPOSTA DEFINITIVA

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João foi indiciado em inquérito policial (IP), e, no curso deste, o juiz competente, de ofício, decretou a
prisão temporária do dito indiciado. Para defender seus interesses, João constituiu um advogado que,
na primeira oportunidade, requereu ao delegado de polícia responsável acesso a todos os elementos
de prova no curso do IP, para permitir a ampla defesa de seu cliente, de modo a se garantir, assim, o
devido processo legal.

Acerca da situação hipotética acima apresentada e do IP, redija um texto dissertativo que atenda, de
modo fundamentado, às determinações e aos questionamentos seguintes.
A) Apresente o conceito e a finalidade do IP. [valor: 2,00 pontos]
B) Descreva as características do IP. [valor: 4,00 pontos]
C) Comente sobre o valor probatório do IP. [valor: 2,00 pontos]
D) A instauração de IP é indispensável? [valor: 2,00 pontos]
E) Na situação considerada, a prisão temporária de João, nos moldes em que foi decretada — de ofí-
cio — foi legal? [valor: 4,00 pontos]
F) Na situação considerada, há fundamento legal para o direito de acesso do defensor de João aos
elementos de prova no curso do IP? Em sua resposta, destaque o entendimento do Supremo Tri-
bunal Federal a respeito. [valor: 5,00 p

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• art. 4.º do CPP.
• O IP é um procedimento administrativo inquisitório e preparatório
• A finalidade do IP é a apuração de fato que configure infração penal e a respectiva autoria para servir de
base à ação penal ou às providências cautelares, ou seja, possibilitar que o titular da ação penal possa
ingressar em juízo.
• Características do IP: o IP é procedimento escrito, sigiloso e inquisitivo, marcado pela oficialidade, oficio-
sidade, autoritariedade e indisponibilidade, discricionariedade e temporariedade.
• valor probatório relativo
• artigo 155 do CPP:
• o IP não é uma fase obrigatória da persecução penal
• artigo 12 do CPP
• o juiz não pode decretar de ofício a prisão temporária de indiciado, a qual dependerá de representação
da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, conforme dispõe o art. 2.º da Lei n.º
7.960/1989
• Súmula Vinculante 14 do STF: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa, conforme interpreta-
ção do art. 5º, inciso LV, da CF.

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RESPOSTA DEFINITIVA

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Discorra sobre os princípios penais da reserva legal; da anterioridade da lei penal e da intranscendên-
cia da pena, abordando o conceito de cada um, sua natureza jurídica e seus objetivos.

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• Tais princípios constitucionais mencionados no enunciado integram o capítulo dos direitos e das garanti-
as fundamentais, estando previstos no art. 5.º da Constituição Federal de 1988.
• Reserva legal e da anterioridade da lei penal podem ser resumidos da seguinte forma: “não há crime sem
lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.
• A lei penal retroage para beneficiar o réu.
• O princípio da intranscendência da pena prevê que nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, es-
tendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
• Relacionam-se ambos os princípios ao valor da segurança jurídica e à limitação dos poderes de persecu-
ção criminal do Estado à conformidade com a lei, para garantia do indivíduo.

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RESPOSTA DEFINITIVA

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João, penalmente imputável, prevalecendo-se de sua relação com Maria, com quem mantinha vínculo
afetivo por aproximadamente doze anos, praticou contra ela vias de fato — contravenção penal que
sujeita o infrator a pena de prisão simples de quinze dias a três meses ou multa —, tendo-lhe puxado
os cabelos e lhe dado violentos empurrões. Logo após tais agressões, João foi conduzido à delegacia de
polícia e apresentado à autoridade policial competente, para as providências legais cabíveis. A partir
dessa situação hipotética e dos dispositivos das Leis n.º 9.099/1995 — Lei dos Juizados Especiais Cíveis
e Criminais — e n.º 11.340/2006 — Lei Maria da Penha —, redija um texto dissertativo que responda,
justificadamente e de acordo com os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais majoritários, as
seguintes indagações.

1. No procedimento judicial acerca da contravenção penal de vias de fato sujeita ao rito da Lei Maria
da Penha, poderão ser aplicados os institutos da transação penal e da suspensão condicional do
processo, previstos na lei que rege os juizados especiais cíveis e criminais? Em sua resposta, dis-
corra, à luz do entendimento do STJ e do STF, sobre a abrangência semântica do termo “crimes” no
âmbito da Lei n.º 9.099/1995. [valor: 7,25 pontos]

2. Considerando-se a sanção prevista caso João seja condenado pela contravenção penal de vias de
fato, será viável a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos ou
pela aplicação isolada de multa? [valor: 7,00 pontos]

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• O art. 41 da Lei n.º 11.340/2006 estipula que “aos crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei n.º 9.099, de 26 de setembro
de 1995
• Tanto o STJ quanto o STF consideram que, diante da finalidade da norma e do seu enfoque jurídico-
constitucional, o art. 41 da Lei n.º 11.340/2006 afasta a incidência da Lei n.º 9.099/95, concedendo ao
termo ‘crimes’ empregado no referido dispositivo legal uma acepção ampla em sinonímia à expressão ‘in-
frações penais’, abrangente tanto de ‘crimes propriamente ditos’, como de ‘contravenções penais’”.
• A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos
ao rito da Lei Maria da Penha
• Em se tratando da contravenção penal de vias de fato, de infração dolosa com violência à pessoa, o art.
44, I, do Código Penal desautoriza a substituição da prisão por penas restritivas de direito.
• Súmula 588 do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave
ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição de pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos.”

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No mesmo contexto fático, Alfredo estuprou, matou e ocultou o cadáver de Lúcia, que era filha de
Cláudio, delegado na cidade onde os fatos ocorreram. Como responsável por apurar os fatos crimino-
sos, Cláudio presidiu toda a fase inquisitorial e relatou o inquérito policial. Após a fase de apuração
policial, o Ministério Público local ofereceu denúncia contra Alfredo, a qual foi recebida, e requereu à
autoridade policial que fosse indiciado um partícipe que não constava no inquérito. Oportunamente,
a defesa de Alfredo pugnou pela nulidade do inquérito policial, alegando que toda a persecutio crimi-
nis in judicio estava contaminada em razão da suspeição da autoridade que o conduziu — Cláudio,
delegado e pai de Lúcia. Acerca da situação hipotética apresentada e do instituto do inquérito policial,
redija um texto dissertativo que aborde, de forma fundamentada, os seguintes aspectos.

1. Regularidade, ou irregularidade, do pedido de indiciamento de partícipe feito pelo Ministério Pú-


blico local e do procedimento adotado pelo delegado relativamente a esse pedido. [valor: 4,25
pontos]

2. Validade, ou nulidade, da peça inquisitorial, conforme o posicionamento do STF, caso procedente


a arguição de suspeição da autoridade policial. [valor: 4,00 pontos] 3 Características e tipo de ação
penal a que se destina cada uma das seguintes modalidades de instauração de inquérito: noticia
criminis de cognição inqualificada; noticia criminis de cognição mediata; e noticia criminis de cog-
nição coercitiva. [valor: 6,00 pontos]

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• O Ministério Público não pode requisitar nem requerer o indiciamento de suspeito/partícipe ao delegado
de polícia, por se tratar de ato privativo da autoridade policial, conforme previsto no art. 2.º, § 6.º, da Lei
n.º 12.830/2013
• A possibilidade de a autoridade policial declarar-se suspeita espontaneamente é desnecessária, uma vez
que a situação hipotética descreve que o inquérito foi por ela conduzido e concluído.
• Conforme entendimento consolidado do STF (HC 121008/DF), eventual suspeição de autoridade que pre-
sida o inquérito policial não o invalida, uma vez que o inquérito é peça meramente informativa e dispen-
sável a que o juiz dará o valor que esta merecer.
• Após o recebimento da denúncia, quaisquer questões referentes a eventual suspeição do encarregado
do inquérito serão consideradas meras irregularidades.
• Noticia criminis de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada/denúncia anônima ou apócri-
fa: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento da ocorrência de um crime de forma direta,
por meio de suas atividades funcionais rotineiras, podendo concretizar-se a partir de denúncias anôni-
mas, delação apócrifa, notícias veiculadas na imprensa etc. Conduz à instauração de ação penal pública
incondicionada (art. 5.º do CPP)
• Noticia criminis de cognição mediata ou indireta, provocada ou qualificada: ocorre quando a autoridade
policial toma conhecimento da ocorrência de crime por meio de algum ato jurídico de comunicação for-
mal do delito, entre os previstos na legislação processual. Pode concretizar-se por meio da vítima, de
qualquer pessoa do povo, de juiz, do Ministério Público, do ministro da Justiça e por representação do
ofendido. Pode dar ensejo à instauração de inquérito nos crimes de ação penal pública incondicionada,
de ação penal pública condicionada e de ação penal privada (art. 5.º do CPP);
• Noticia criminis de cognição coercitiva: ocorre na hipótese de prisão em flagrante delito, em que a auto-
ridade lavra o respectivo auto independentemente da natureza da ação. Entretanto, nos crimes de ação
penal pública condicionada e de ação penal privada, sua lavratura apenas poderá ocorrer se houver, res-
pectivamente, representação ou requerimento do ofendido (art. 5.º do CPP).

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Em uma ação de combate ao tráfico de drogas em determinada cidade, a polícia civil, por meio de de-
partamento especializado em repressão ao narcotráfico, prendeu um homem que portava vinte qui-
los de entorpecentes, balança de precisão e certa quantia em dinheiro, em cédulas trocadas. Esse in-
divíduo foi encontrado em um bar de sua propriedade, oportunidade na qual foi algemado e conduzi-
do à delegacia. A operação deflagrada foi possível após a prisão de outro traficante, que forneceu as
informações em confissão extrajudicial realizada em sede inquisitorial após a utilização de meios de
tortura. Considerando essa situação hipotética, disserte sobre o princípio da proibição à tortura, à luz
da Constituição Federal de 1988, da doutrina e do entendimento do STF. Em seu texto, aborde, fun-
damentadamente, os seguintes aspectos:

1. proibição à tortura como direito fundamental e efeitos jurídicos de eventual violação a esse direi-
to; [valor: 5,00 pontos]

2. extensão dos efeitos da violação ao princípio fundamental da proibição à tortura, no que se refere
aos sujeitos; [valor: 5,00 pontos] 3 limites para o uso de algemas em operações policiais. [valor:
4,25 pontos]

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• A Constituição Federal perfilha expressamente, no art. 5.º, III, a proibição à tortura, assinalando que nin-
guém poderá ser submetido a tortura, nem a tratamento desumano ou degradante.
• O art. 5.º, inciso XLIII, determina que a lei considere como crime inafiançável e insuscetível de graça ou
anistia a prática da tortura, respondendo pelo crime os mandantes, os executores e os que, podendo evi-
tá-lo, se omitirem, sejam eles agentes públicos ou não.
• Súmula Vinculante n.º 11, que deverá ser expressamente mencionada pelo candidato: só é lícito o uso
de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria
ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de res-
ponsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato pro-
cessual a que se refira, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

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Juliana compareceu a delegacia de polícia, onde alegou que sua filha Maria, adolescente de treze anos
de idade, havia sido violentada, alguns dias atrás, por João, de trinta anos de idade. Realizado exame
de corpo de delito em Maria, foi constatado que ela havia praticado conjunção carnal em data recen-
te. Na presença do delegado, João afirmou que sabia a idade de Maria e que, de fato, havia praticado
com ela conjunção carnal sob o consentimento dela, visto que eles haviam iniciado um relacionamen-
to amoroso dias antes. Maria, também em depoimento ao delegado, afirmou que tinha praticado con-
junção carnal com João de modo consentido, pois tiveram um breve romance, e que ela já possuía
uma experiência sexual anterior. Acerca da situação hipotética acima descrita, responda ao questio-
namento do primeiro tópico abaixo e faça o que se pede nos tópicos subsequentes.

1. Houve prática de crime por parte de João? Se positiva sua resposta, esclareça qual foi o crime pra-
ticado. [valor: 3,75 pontos]

2. Comente sobre o consentimento da vítima. [valor: 3,50 pontos]

3. Disserte sobre a existência de relacionamento amoroso entre João e Maria e a experiência sexual
anterior de Maria. [valor: 3,50 pontos]

4. Disserte sobre a possibilidade de ter ocorrido erro de proibição na hipótese considerada. [valor:
3,50 pontos]

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• João cometeu o crime de estupro de vulnerável. (Art. 217-A do Código Penal).
• O fato de a vítima ter dado o seu consentimento não afasta a ocorrência do crime de estupro de vulne-
rável. Isso porque tal crime se configura como prática de conjunção carnal com menor de quatorze anos
de idade, independentemente da presença de grave ameaça ou violência (real ou presumida), pois o cri-
me possui presunção absoluta de violência, que não é descaracterizada pelo consentimento da vítima.
• A existência de um relacionamento amoroso entre o agente e a vítima bem como a existência de experi-
ência sexual anterior de vítima menor de quatorze anos de idade também não afastam a ocorrência do
crime de estupro de vulnerável.
• Ao afirmar que sabia que a vítima tinha treze anos de idade, o agente demonstrou ter consciência de que
mantinha relacionamento sexual com uma adolescente protegida pela lei, sendo-lhe exigido o claro en-
tendimento, como adulto, da ilicitude do delito de praticar conjunção carnal com menor de quatorze
anos de idade. Não admitindo, portanto, o erro de proibição.
• Súmula n.º 593 do STJ: “O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática
de ato libidinoso com menor de quatorze anos de idade, sendo irrelevante eventual consentimento da ví-
tima para a prática do ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso
com o agente.

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Com o emprego de uma chave falsa, José entrou no depósito de um estabelecimento comercial de
material para construção, de onde subtraiu para si objetos da empresa, avaliados em R$ 200, e, tam-
bém, um telefone celular, avaliado em R$ 100, posteriormente identificado como pertencente ao vigia
do local, que o havia deixado sobre uma mesa em frente ao depósito, ao sair para realizar uma ronda.
Em seguida, José empreendeu fuga. Após investigações e a juntada de laudo de avaliação dos bens e
do laudo que atestou no inquérito ser falsa a chave, José foi acusado de ser o autor do fato, oportuni-
dade em que, também, foi devidamente atestada a sua primariedade. O inquérito está em fase de
elaboração de relatório. Com relação à situação hipotética acima descrita, disserte a respeito dos se-
guintes aspectos:

1. tipificação da conduta de José e possibilidade de coexistência de qualificadora com o privilégio no


crime em questão; [valor: 3,50 pontos]

2. emprego de chave falsa; [valor: 3,50 pontos]

3. valor dos bens subtraídos e primariedade do agente; [valor: 3,50 pontos]

4. concurso de crimes e sua consequência. [valor: 3,75 pontos]

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• José praticou o crime de furto qualificado e privilegiado (art. 155, § 2.º e § 4.º, III, do CP), uma vez que a
qualificadora do emprego de chave falsa, por ser objetiva, pode coexistir com o privilégio decorrente do
pequeno valor dos bens subtraídos e da primariedade do agente, que é uma circunstância subjetiva.
• Súmula 511 deste Superior Tribunal de Justiça.
• O emprego de chave falsa qualifica o crime de furto.
• O valor dos bens subtraídos, somados, totaliza R$ 300, montante que não permite a aplicação do princí-
pio da insignificância, pois é superior a 10% do salário mínimo vigente, e indica um potencial lesivo e re-
levante da conduta aos patrimônios das vítimas. Todavia, tal quantia, ainda que não insignificante, é de
pequeno valor, pois inferior ao valor do salário mínimo vigente, e permite a incidência do privilégio nos
furtos cometidos.
• Hipótese de concurso de crimes, especificamente, o concurso formal. O concurso formal fica caracteri-
zado em razão de o agente ter praticado, em uma mesma e única ação, dois crimes idênticos de furto,
mas que atingiram patrimônios diversos. Nesse caso, tem incidência o art. 70 do CP, que determina a
aplicação de somente uma das penas de um dos crimes de furto, aumentada de um sexto até a metade.

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(@profanaclaudiacampos)

CASO CONCRETO

O Estado do Ceará está realizando obras de duplicação de uma estrada. Para tanto, foi necessária a
interdição de uma parte da pista, deixando apenas uma faixa livre para o trânsito de veículos.

Apesar das placas sinalizando a interdição e dos letreiros luminosos instalados, Manoel Moura,
dirigindo em velocidade superior à permitida, distraiu-se em uma curva e colidiu com algumas
máquinas instaladas na faixa interditada, causando danos ao seu veículo.

Analisando a situação hipotética apresentada acima, redija um texto dissertativo que responda,
necessariamente, aos seguintes questionamentos:

 Em nosso ordenamento, é admissível a responsabilidade civil do Estado por ato lícito?


 Considerando o caso acima descrito, está configurada a responsabilidade objetiva do Estado do
Ceará?
 Manoel Moura terá direito de receber uma indenização do Estado do Ceará?

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 O Estado, de acordo com o art. 37, § 6º da CF/88, responde pelos danos causados por seus agentes, res-
ponsabilidade esta que pode decorrer tanto de atos ilícitos quanto lícitos. O fundamento da responsabili-
zação no caso dos atos ilícitos é a ofensa ao princípio da legalidade; já no caso de atos lícitos, é o princípio
da isonomia, visto que deve existir igualdade na repartição dos encargos sociais.

 Entretanto, apesar de o Estado poder vir a ser responsabilizado pela prática de atos lícitos, no caso narra-
do não existirá a responsabilização, nem subjetiva e nem objetiva, do Estado, visto que o acidente aconte-
ceu por culpa exclusiva da vítima, que é uma excludente da responsabilidade estatal.

 Por fim, Manoel Moura, ainda que ingresse com uma ação de indenização perante o Estado, não terá Di-
reito a receber nenhuma indenização, pois conduzia seu veículo em velocidade superior à permitida, sem
observar a sinalização existente, o que configura sua culpa exclusiva no acidente, rompendo assim o nexo
de causalidade entre a ação estatal e o dano sofrido.

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CASO CONCRETO

Em determinada ação de execução movida pela União em desfavor da Construtora Zigma Ltda., o po-
der público indicou para penhora um pequeno prédio de três andares de propriedade da executada.

Durante a execução, tentou-se a alienação judicial do bem, mas não houve interessados. Assim, foi
requerida – e efetivada – a adjudicação do imóvel para a Fazenda Pública.

Passados dois anos da efetiva adjudicação, sobreveio queda nas receitas públicas, obrigando a União
a alienar o bem.

Analisando a situação hipotética apresentada acima e com base na nova lei geral de licitações e con-
tratos (lei 14.133/21), redija um texto dissertativo (20 linhas) que responda, necessariamente, aos se-
guintes questionamentos:

• A venda do imóvel a particulares deve ser precedida de licitação?


• Qual modalidade licitatória deverá ser utilizada para a alienação do imóvel?
• Poderá ser utilizada a modalidade da concorrência para a alienação do imóvel?

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 Segundo o art. 37, XXI da Constituição federal, a Administração, ressalvados os casos previstos na legisla-
ção, deverá licitar quando desejar contratar objetos, tais como: obras, serviços, compras e alienações.
Sendo assim, analisando o caso narrado pela questão, a Administração deverá licitar para realizar a alie-
nação do bem imóvel.
 E segundo a nova lei geral de licitações e contratos – lei 14.133/21, a licitação para realizar a alienação do
bem imóvel será realizada na modalidade do leilão. (art. 76, I, lei 14.133/21)
 Na antiga lei geral de licitações e contratos (lei 8.666/93) a alienação de imóveis era realizada, via de re-
gra, pela modalidade da concorrência. Entretanto, com a chegada da nova lei geral de licitações e contra-
tos (lei 14.133/21) ficou instituída que a alienação de imóveis deve ser realizada pela modalidade do lei-
lão, não se admitindo o uso de qualquer outra modalidade para tal finalidade. Sendo assim, atualmente,
usando-se a lei 14.133/21, não será permitido o uso da concorrência para a alienação de bens imóveis.

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CASO CONCRETO

Determinado município brasileiro publicou, em agosto de 2014, edital de concurso público destinado
ao preenchimento de sete vagas do cargo efetivo de analista de controle interno.

Márcia, filha do prefeito Emanuel, foi aprovada, ficando classificada em sétimo lugar. Ela tomou posse
no dia 02 de agosto de 2015.

Após o encerramento do mandato de Emanuel, que ocorreu em dezembro de 2015, a Polícia Civil des-
cobriu, em maio de 2016, que, dias antes da aplicação das provas, o ex-prefeito teve acesso ao conte-
údo das questões e o repassou à sua filha.

O Ministério Público teve conhecimento dos fatos em setembro de 2020. Ato contínuo, ajuizou ação de
improbidade administrativa em desfavor de Emanuel, em novembro de 2020, por ofensa aos princí-
pios da Administração Pública, requerendo, na oportunidade, dentre outras coisas, a suspensão dos
seus direitos políticos pelo prazo de oito anos.

Na resposta preliminar, Emanuel alega, basicamente, a prescrição da ação de improbidade.

Analisando o caso hipotético acima, redija um texto dissertativo e responda, fundamentadamente,


aos seguintes itens:

 A ação de improbidade administrativa está prescrita?


 Emanuel praticou ato de improbidade?
 Caso Emanuel tenha praticado o ato ímprobo, o tipifique e diga se ele gerou enriquecimento ilícito,
causou prejuízo ao erário, concedeu indevidamente benefício tributário ou atentou contra os prin-
cípios da Administração Pública.

É possível aplicar a Emanuel a punição de suspensão dos direitos políticos pelo prazo de oito anos?

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 A ação de improbidade não está prescrita. Pois, nos termos do Art. 23, inciso I, da Lei 8.429/92, o prazo
prescricional de cinco anos para se propor a ação de improbidade tem como termo inicial o término do
mandato de prefeito (Emanuel), que ocorreu em dezembro de 2015. Como a ação de improbidade foi
proposta em novembro de 2020, não houve a prescrição.

 Emanuel, prefeito de um município brasileiro, praticou ato que atenta contra os princípios da Administra-
ção Pública, visto que frustrou a licitude de um concurso público (art. 11, V, lei 8.429/92) para beneficiar a
sua filha, Márcia. Sendo assim, sua conduta será sim tipificada com ímproba.

 Entretanto, apesar de Emanuel ter praticado um ato ímprobo, não poderá receber a punição de suspen-
são de seus direitos políticos pelo prazo de oito anos, pois como o ato por ele praticado atenta contra os
princípios da Administração Pública (frustração da licitude do concurso), a Lei de Improbidade limita o
prazo da suspensão dos direitos políticos em até cinco anos, nos termos do Art. 12, inciso III, da Lei
8.429/92.

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CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ
CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

PROVA DISCURSIVA
RESPOSTA DEFINITIVA

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CASO CONCRETO

Rafael Andrade recebeu a notícia de que havia sido aprovado na 12ª colocação no concurso para Dele-
gado de Polícia e, agora, somente aguarda ser chamado para começar a exercer a tão sonhada profis-
são.

O Edital do concurso previra a existência de 10 (dez) vagas, além da formação de cadastro de reserva
com mais 20 (vinte) candidatos aprovados.

Analisando o caso hipotético acima, redija um texto dissertativo e responda, fundamentadamente,


aos seguintes itens:

 Rafael Andrade possui direito subjetivo à nomeação?


 Se houver a desistência de dois candidatos aprovados em melhor colocação que Rafael Andrade,
terá ele direito subjetivo à nomeação?
 A investidura de Rafael Andrade, caso venha a existir, acontecerá no momento de sua nomeação?

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 Rafael Andrade não possui direito subjetivo a nomeação já que não foi aprovado dentro do núme-
ro de vagas previsto no edital. Sendo assim, terá ele mera expectativa de direito.
 Todavia, caso exista a desistência de dois candidatos aprovados em melhor condição que Rafael
Andrade, terá este direito subjetivo à nomeação, visto que passará a figurar dentro do número
de vagas previsto no edital. Este entendimento encontra-se, inclusive, respaldado pelo próprio
STJ, o qual preleciona que o candidato aprovado fora do número de vagas previstas no edital de
concurso público tem direito subjetivo à nomeação quando o candidato imediatamente anterior
na ordem de classificação, aprovado dentro do número de vagas, for convocado e manifestar de-
sistência (AgRg no ROMS 48.266-TO).
 Por fim, a investidura de Rafael Andrade, caso venha a existir, acontecerá no momento de sua
posse, não da nomeação. Este entendimento encontra respaldo na Súmula 266 do STJ, no art. 7
da lei 8.112/90 e no art. 19 da lei 9.826/74.

CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ


CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

PROVA DISCURSIVA
RESPOSTA DEFINITIVA

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Discorra sobre o poder de polícia abordando e fundamentando, especificamente, os seguintes pontos:
conceito, atributos e jurisprudência do STJ relacionada ao ciclo (fases) de polícia.

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 O poder de polícia possui a finalidade de limitar a liberdade e a propriedade individual em benefício da


coletividade. Ademais, além deste conceito doutrinário, o poder de polícia também possui uma conceitu-
ação legal, conforme podemos analisar no art. 78 do Código tributário Nacional (CTN).
 Quanto aos atributos, o poder de polícia possui: discricionariedade, coercibilidade e autoexecutoriedade .
Estando estes atributos relacionados a características e prerrogativas advindas do regime público.
 A discricionariedade é uma regra na atuação do poder de polícia. Entretanto, nos atos de concessão de
licença, o ato será vinculado; a coercibilidade está relacionada ao poder de coerção, ou seja, o adminis-
trador poderá impor o ato ao particular, sendo permitido, inclusive, o uso da força física, dentro dos limi-
tes necessários; já a Autoexecutoriedade permite que o administrador pratique o ato sem a necessidade
de uma prévia autorização judicial.
 Por fim, a jurisprudência do Superior Tribunal de justiça alegou que o poder de polícia é composto por
quatro fases (ciclos de polícia): consentimento, fiscalização, sanção e legislação. Apenas podendo ser de-
legado a particulares os atos relacionados ao consentimento e fiscalização; já os atos de sanção e legisla-
ção (ordem de polícia) decorrem do poder de império do Estado, sendo assim, apenas podem ser exerci-
dos pelas pessoas jurídicas de direito público. (STJ - REsp 817.534/MG)

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CONCURSO PÚBLICO – POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO CEARÁ
CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

PROVA DISCURSIVA
RESPOSTA DEFINITIVA

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DISSERTAÇÃO DIRETA

Discorra sobre o princípio da autotutela abordando e fundamentando, especificamente, os seguintes


pontos: conceituação do princípio da autotutela, revogação e anulação dos atos administrativos, en-
tendimento jurisprudencial relacionado ao tema.

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 O princípio da autotutela está relacionado ao controle interno, ou seja, permite que a Administração ana-
lise seus próprios atos. Fiscalização esta que poderá ocorrer tanto em relação à legalidade dos atos, quan-
to no que se refere aos aspectos de conveniência e oportunidade.
 E, como decorrência da autotutela, a Administração poderá vir a gerar a extinção de seus próprios atos,
sem a necessidade de intervenção do poder judiciário. Sendo assim, os atos administrativos poderão vir a
ser anulados, caso contenham vícios que os tornem ilegais; ou revogados por motivo de conveniência e
oportunidade.
 Este entendimento se encontra pacificado na jurisprudência pátria e está sedimentado na Súmula 473 do
Supremo Tribunal Federal.

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CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

PROVA DISCURSIVA
RESPOSTA DEFINITIVA

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Discorra sobre o tema organização administrativa abordando e fundamentando, especificamente, os
seguintes pontos:

A) fenômeno da desconcentração e da descentralização.

B) cite três características das autarquias.

B) cite duas diferenças entre as empresas estatais.

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 O fenômeno da desconcentração surge quando uma pessoa reparte internamente as suas funções entre
seus órgãos. Podemos citar o exemplo de quando a União (pessoa política) divide suas atribuições entre a
Presidência da Repúblicas (órgão) e os Ministérios (órgãos); já a descentralização repassa as funções de
uma pessoa para outra. Exemplo, quando a União (pessoa política) transfere determinada atribuição para
uma autarquia federal (pessoa jurídica).
 As autarquias são pessoas jurídicas de direito público, criadas diretamente por meio de uma lei ordinária
específica, conforma preleciona o art. 37, XIX, CF, desempenham atividades típicas de Estado e não po-
dem ser instituídas para prestar serviços públicos.

163
 Quanto às empresas estatais (empresas públicas e sociedades de economia mista), apesar destas possuí-
rem inúmeros pontos de semelhança, podemos citar dois pontos fundamentais que as distinguem: a) ca-
pital – a empresa pública possui capital integralmente público; já a sociedade de economia mista possui
capital tanto nas mãos do setor público quanto do privado (particulares), entretanto, a maioria de seu ca-
pital pertence ao poder público; b) forma de organização – a empresa pública poderá adotar qualquer
uma das formas admitidas em direito; já as sociedades de economia mista, necessariamente, devem ado-
tar a forma de sociedade anônima (S/A).

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PROVA DISCURSIVA
RESPOSTA DEFINITIVA

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Analisando a nova lei geral de licitações e contratos – lei 14.133/21, discorra sobre o tema licitações
abordando e fundamentando, especificamente, os seguintes pontos:

A) quais são as modalidades licitatórias previstas na nova lei 14.133/21?

B) segundo a lei 14.133/21, a fase da habilitação será realizada antes ou depois do julgamento das
propostas?

C) a lei 14.133/21 previu casos de contratação direta?

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 A nova lei geral de licitações e contratos – lei 14.133/21, previu em seu texto cinco modalidades licitató-
rias, quais sejam: pregão, concorrência, concurso, leilão e diálogo competitivo. (art. 28, lei 14.133/21). Vale
ressaltar que as modalidades do convite e da tomada de preço, antes previstas na lei 8.666/93, foram re-
vogadas pela nova lei geral de licitações e contratos, logo, não são mais consideradas modalidades licita-
tórias.

165
 Outra grande inovação da nova lei geral de licitações e contratos foi instituir que, via de regra, o julgamen-
to acontecerá antes da fase da habilitação, conforme podemos depreender da análise do art. 17 da lei
14.133/21. Esta inovação busca garantir uma maior celeridade ao certame.
 Por fim, da mesma forma que a legislação anterior – lei 8.666/93, a nova lei geral de licitações e contratos
– lei 14.133/21, também previu hipóteses de contratação direta por meio da dispensa (art. 75, lei
14.133/21) e inexigibilidade (art. 74, lei 14.133/21) de licitação.

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PROVA DISCURSIVA
RESPOSTA DEFINITIVA

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Conforme disposições normativas do Código de Processo Penal, tão logo tenha conhecimento da prá-
tica da infração penal, as autoridades policiais devem se dirigir ao local do crime com o propósito de
adotar uma série de providências até a chegada dos peritos. Diante da necessidade de resguardar os
elementos de informações sem vícios, resposta:

a) como deve proceder a autoridade policial até a chegada dos peritos?

b) quais as etapas da cadeia de custódia?

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CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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RESPOSTA DEFINITIVA

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Por ocasião da prisão em flagrante de Augusto por venda de material pornográfico envolvendo crian-
ça e adolescente para uma rede de pedofilia com atuação nacional, ao invadirem a casa deste, polici-
ais apreenderam um computador, dois notebooks, uma máquina fotográfica e quatro aparelhos celu-
lares encontrados no local. Apreenderam ainda equipamentos de filmagem e de fotografia, tudo para
servir como prova para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias. Em requerimento dirigido
ao Delegado de Polícia, a defesa de Augusto solicitou a devolução dos bens apreendidos sob o argu-
mento de que os policiais não tinham ordem judicial de busca e apreensão domiciliar. No mesmo do-
cumento, a defesa requereu ainda que o Delegado responsável apurasse o possível cometimento de
crime de abuso de autoridade dos agentes. Diante da situação exposta, redija um texto dissertativo
sobre a busca e apreensão domiciliar, seu conceito, sua natureza e limites, fundamentando acerca da
licitude da apreensão dos bens de Augusto, considerando a ausência de ordem judicial nesse sentido.

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RESPOSTA DEFINITIVA

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Sobre os crimes que deixam vestígios, responda os seguintes questionamentos:

a) o exame de corpo de delito é obrigatório?

b) a confissão do autor do delito pode suprir a ausência do exame de corpo de delito na hipótese de
desaparecimento deste?

c) qual a exata diferença entre exame de corpo de delito direto e indireto?

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Ramon foi indiciado pela prática de homicídio. A autoridade policial, com o propósito de realizar o
procedimento investigatório da reprodução simulada dos fatos, determinou a notificação de Ramon,
que se negou a comparecer à delegacia e a participar da reprodução dos fatos passados. No caso hi-
potético em análise, a autoridade policial poderá obrigar, sob pena de prisão, Ramon a participar da
reprodução simulada do fato delituoso? Disserte fundamentadamente sobre os direitos do indiciado
no curso da investigação criminal.

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Numa área dominada por tráfico de drogas, agentes de polícia passaram a realizar uma série de in-
cursões nos domicílios do local para realizar prisão em flagrante pelo crime de tráfico ilícito de dro-
gas. Dentre as inúmeras invasões à domicílio, encontraram drogas ilícitas em quatro casas, efetuando
a prisão em flagrante dos traficantes. Responda, de forma fundamentada, aos seguintes questiona-
mentos a respeito da legalidade da entrada na residência:

a) ao entrarem nas residências os policiais agiram de maneira legal?

b) caso a ação dos policiais seja considerada ilícita, quais serão as consequências dessa ação?

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Bastante ferida, Ana Maria compareceu à delegacia de polícia e noticiou que acabara de ser agredida
fisicamente com inúmeros golpes de faca por seu companheiro, um médico. A mulher afirmou, ainda,
que essas ações contra sua integridade física se repetiam havia cinco anos. Ato contínuo, os agentes
policiais compareceram ao local dos fatos e lá verificaram que o médico se encontrava detido pelos
vizinhos e portando a faca ensanguentada que havia sido usada no crime. Nessa situação hipotética,
deverá ser lavrado o auto de prisão em flagrante? Qual espécie de flagrante aplica-se ao caso? Aplica-
se a Lei Maria da Penha? Em quanto tempo deve ser concluído o inquérito policial?

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Mais de vinte e quatro horas após ter matado um desafeto, Roberto foi preso por agentes de polícia
que estavam em seu encalço desde o cometimento da ação criminosa. Na abordagem, os agentes
apreenderam com Roberto uma faca, ainda com vestígios de sangue, envolvida na camiseta que a
vítima vestia no momento do crime. Nesse caso, discorra, de forma fundamentada, sobre a possível
ilegalidade da prisão em flagrante de Roberto, abordando a natureza e as espécies de prisão em fla-
grante.

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Discorra sobre o conceito e a natureza jurídica do termo circunstanciado de ocorrência (TCO), diferen-
ciando-o do inquérito policial. Ao final, aponte a sua hipótese de incidência e os requisitos necessários
para a sua elaboração.

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Disserte sobre o princípio da inafastabilidade de jurisdição.

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TEM QUE FALAR SOBRE O ART. 5º, XXXV, CF.

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Disserte sobre a Polícia Federal.

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TEM QUE FALAR SOBRE O ART. 144. PARÁGRAFO 1º, CF.

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Disserte sobre a extradição de brasileiro nato.

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TEM QUE FALAR SOBRE O ART. 5º, LI, CF.

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Disserte sobre o direito à vida.

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TEM QUE FALAR SOBRE O ART. 5º, CAPUT, inciso III, XLVII, CF.

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Em um certo país (República Teta), o poder constituinte originário, ao produzir uma nova Constitui-
ção, insere no respectivo texto os seguintes artigos:

“Art. 28 - A produção, alteração e revogação de leis ordinárias se dará por manifestação da maioria
simples no Parlamento da República, em um único turno. (...)
Art. 63 - No que se refere às normas materialmente constitucionais, a manifestação do poder consti-
tuinte derivado reformador somente será reconhecida se o processo de votação for aprovado pela maioria
de 4/5 do total de membros do Parlamento da República, em votação a ser realizada em dois turnos.
Art. 64 – No que se refere às normas meramente formais da presente Constituição, a manifestação do
poder constituinte derivado reformador se dará por intermédio de manifestação de maioria simples dos
membros do Parlamento da República, em um único turno. (...)
Art. 100 dos ADCT (Atos das Disposições Constitucionais Transitórias) – Ficam integralmente revogadas
as normas da Constituição anterior.”

Diante do exposto e seguindo o quadro teórico adotado no sistema jurídico-constitucional brasileiro,


responda às questões a seguir.

a) Quanto à estabilidade, é possível considerar que a nova Constituição deve ser classificada como
rígida? Justifique.

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a) A constituição somente pode ser classificada como “rígida” quando exige, no processo de modificação
pelo poder constituinte derivado reformador, solenidades e exigências formais especiais, diferentes e
mais difíceis que aquelas exigidas para a formação e modificação de leis comuns (ordinárias e comple-
mentares). No caso em tela, em razão do disposto nos Arts. 63 e 64 da Constituição da República Teta,
temos uma Constituição semirrígida (ou semiflexível), assim considerada aquela em que alguns dispositi-
vos podem ser modificados livremente pelo legislador, segundo o mesmo processo de elaboração e mo-
dificação das leis ordinárias (conforme Art. 28 da Constituição da República Teta), enquanto outros são
modificáveis por meio de solenidades e exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que aque-
las exigidas para a formação e modificação de leis comuns (ordinárias e complementares).

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O Presidente da República editou o Decreto X, que regulamentou a Lei Federal Z. Ocorre que o Con-
gresso Nacional, ao examinar o teor do Decreto X, entendeu que ele criava direitos não previstos na
Lei Federal Z, ferindo, portanto, o princípio da legalidade.

Considerando a situação hipotética apresentada, responda, de forma fundamentada, aos itens a se-
guir.

a) Que medida poderia ser adotada pelo Congresso Nacional para retirar os efeitos do Decreto X?

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a) Caso o Congresso Nacional entenda que o Decreto X exorbitou do poder regulamentar, é possível sustar
os seus efeitos, com base na competência outorgada pelo Art. 49, inciso V, da CRFB/88, editando um de-
creto legislativo (Art. 59, inciso VI, da CRFB/88).

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Em uma Federação, sob o argumento de que, entre os governantes do estado Alfa (os anteriores e o
atual), consolidou-se uma forma de atuação administrativa que privilegia de forma desmedida a po-
pulação de determinada região geográfica, a população das outras regiões passou a pleitear autono-
mia política por meio de grandes manifestações. Para tanto, alimentam a pretensão de formar um
novo estado-membro, a ser denominado estado Beta.

Diante do quadro acima e considerando o que informa o sistema jurídico-constitucional, responda aos
itens a seguir.

a) De acordo com a CRFB/88, é viável a formação do estado Beta?

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a) Trata-se de desmembramento, ou seja, o estado original perde um pedaço de seu território e de sua
população, que passam a formar um novo estado. O Art. 18, § 3º, da CRFB/88, prevê a ocorrência desse
fenômeno.

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No segundo ano do seu segundo mandato consecutivo, Maria da Silva, governadora do estado Alfa,
divorcia-se de seu marido, Antônio da Silva, com quem era casada há muitos anos.

Antônio da Silva, que, no momento, não exerce qualquer cargo eletivo, mas sempre almejou concor-
rer ao cargo de senador, filia-se, em razão da separação, ao partido político oponente ao de sua ex-
mulher. Ocorre que o partido solicita a ele, que, em vez de candidatar-se ao Senado Federal, apresen-
te-se como candidato a governador do estado Alfa, de modo a suceder sua ex-mulher.

Diante do exposto, responda aos itens a seguir.

a) Antônio da Silva pode concorrer aos referidos cargos (senador ou governador)?

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a) Segundo o Art. 14, § 7º, da CRFB/88, o cônjuge do ocupante do cargo de governador é inelegível no terri-
tório de jurisdição do titular do cargo, salvo se já fosse titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.
No caso concreto, Antônio da Silva é alcançado pelo instituto na inelegibilidade reflexa, já que, marido da
governadora e sem exercer qualquer cargo eletivo, não poderia, por conclusão lógica, ser candidato a
senador ou governador. O fato de estarem divorciados não altera a situação de Antônio da Silva, pois se-
gundo a Súmula Vinculante nº 18 do STF, “a dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do
mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no Art. 14, § 7º, da Constituição Federal”. Assim sendo, não
poderá Antônio da Silva concorrer a qualquer cargo no estado Alfa.

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Advogado, consultor jurídico e autor de obras jurídicas. Graduado
pela Universidade de Fortaleza – UNIFOR. Pós-graduado em Direito
Processual Civil pela Universidade Cândido Mendes – UNICAM/RJ -
em convênio com o Curso Ênfase. Pós-graduando em Direito Admi-
nistrativo pela Estácio de Sá em convênio com o Complexo de Ensi-
no Renato Saraiva – CERS. Professor de diversos cursos preparató-
rios para concursos públicos, Exame da Ordem e pós-graduação.

(ProfLucasMartins/2021)

O Estado do Ceará, após delegar uma série de serviços públicos a empresas da iniciativa privada, via
descentralizações por colaboração, instituiu, mediante lei específica, a Agência Estadual Detonando –
AED, agência reguladora criada no intuito de regular a atuação das concessionárias e permissionárias
do referido Estado. Ocorre que, após a promulgação da referida lei, a entidade entrou em funciona-
mento sem que seu ato constitutivo fosse registrado no órgão competente. Além disso, para compor o
conselho diretivo da agência, o Governador do referido Estado, sem submeter à Assembleia Legislati-
va, nomeou seu primo João. Com base no caso apresentado, responda as indagações a seguir.

a) A agência reguladora AED integra a Administração Pública do Estado do Ceará? Justifique.

b) A instituição da agência reguladora foi regular? Justifique.

c) A nomeação de João foi regular? Justifique.

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a) A agência reguladora AED integra a Administração Pública do Ceará, na medida em que toda agência
reguladora tem status de autarquia de regime especial, logo entidade da Administração Pública indi-
reta.

b) A instituição da agência reguladora foi regular. Nos termos do art. 37, XIX, da Constituição Federal, so-
mente por lei específica poderá ser criada autarquia. Como agência reguladora é autarquia, exige-se lei
específica para sua criação, o que ocorreu no caso apresentado. Ademais, por se tratar de pessoa ju-
rídica de direito público, não se exige registro de seu ato constitutivo em qualquer órgão, tratando-
se, portanto, de lei criadora (e não apenas autorizativa).

c) A nomeação de João não foi regular, por não ter sido submetida à aprovação da casa legislativa esta-
dual. A nomeação dos dirigentes das agências federais é condicionada à aprovação do Senado Federal.
Pelo princípio da simetria, a nomeação dos dirigentes das agências estaduais é condicionada à aprova-
ção das respectivas assembleias legislativas. Apesar disso, o fato de João ser primo do Governador, não
impediria sua nomeação, na medida em que a vedação ao nepotismo, expressamente rechaçada pela
súmula vinculante 13, se limita a parentes de terceiro grau, não atingindo, portanto, primo, que é paren-
te de quarto grau.

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CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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(ProfLucasMartins/2021)

Pedro é inspetor da polícia civil do Estado do Ceará e veio a participar de uma importante diligência,
onde assumiu papel de destaque na prisão de um conhecido traficante de Fortaleza. Por ter amizade
com Pablo, diretor do setor de imprensa do órgão, pediu que a operação fosse divulgada enfatizando
sua participação. Nesse sentido, saiu uma nota no site institucional com a foto e o nome de Pedro.
Com base no caso apresentado, indaga-se: a publicidade realizada foi legítima? Justifique.

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A publicidade realizada não foi legítima. Nos termos do art. 37, §1º, da Constituição Federal, a publicidade
dos atos dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não po-
dendo constar, por exemplo, nomes ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou ser-
vidores públicos. Trata-se de decorrência do princípio da impessoalidade sob a ótica do agente público e da
teoria do órgão, também chamada teoria da imputação volitiva.

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CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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RESPOSTA DEFINITIVA

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(ProfLucasMartins/2021)

Entende-se por regime jurídico administrativo o conjunto harmônico de princípios que disciplinam o
exercício da função administrativa. Um desses princípios é o princípio da publicidade. Sobre o referido
princípio, responda às indagações a seguir:

a) O princípio da publicidade é princípio reconhecido da Administração? Justifique.


b) O princípio da publicidade é princípio absoluto? Justifique.
c) O princípio da publicidade é sinônimo de publicação? Justifique.

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a) Não. O princípio da publicidade é princípio explícito da Administração, mencionado expressamente, por


exemplo, no art. 37, caput, da Constituição Federal. Por se tratar de princípio explícito, é também deno-
minado princípio conhecido. A nomenclatura princípio reconhecido é associada aos princípios implícitos,
isto é, que não estão expressamente mencionados na norma jurídica. Dessa forma, o princípio da publi-
cidade não é princípio reconhecido (implícito), mas sim princípio conhecido (explícito).

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b) Não. Nenhum princípio que integra o regime jurídico administrativo é absoluto, na medida em que todos
eles podem ser relativizados, quando estiverem em colisão. No que diz respeito ao princípio da publici-
dade especificamente, pode ser relativizado em situações cujo sigilo da informação seja imprescindível à
segurança da sociedade e do Estado (art. 5º, XXXII, CF/88) ou à intimidade/privacidade da pessoa.

c) Não. Publicação é apenas uma das formas de se viabilizar a publicidade na atuação da Administração,
mas não a única. Nesse sentido, enquanto publicidade é gênero, publicação é espécie.

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CARGO: INSPETOR DE POLÍCIA CIVIL / ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL

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(ProfLucasMartins/2021)

Antônio é agente de trânsito e, em um determinado dia, avista o carro de Alexandre, rapaz que atu-
almente está saindo com sua antiga namorada. Movido por vingança, Antônio decide aplicar uma
multa de trânsito ao rapaz, que, diga-se de passagem, tinha estacionado seu carro em local permitido.
Ao perceber a situação, Alexandre se dirige até Antônio e começa a registrar, por meio de seu celular,
a situação. Antônio, irritado, acaba por derrubar o celular de Alexandre alegando que ele não poderia
registrar sua atuação profissional sem sua autorização, na medida em que isso violaria sua imagem.
Dias após o ocorrido, Antônio recebe em sua casa a notificação da infração, vem a impugná-la, mas
não logra êxito. Com base no caso apresentado, responda o seguinte.

a) A conduta de Antônio ao multar Alexandre foi correta? Justifique.

b) A conduta de Antônio ao proibir que Alexandre registrasse a ocorrência foi correta? Justifique.

c) A aplicação de multa de trânsito decorre de qual poder administrativo?

d) Caso Alexandre não pague a multa espontaneamente, poderá a Administração vir a executá-la
diretamente? Justifique.

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a) Não. Por ter agido “movido por vingança”, Antônio agiu com desvio de finalidade. É dizer, não agiu bus-
cando o interesse público, mas sim seu interesse particular. Trata-se também de conduta que viola o
princípio da impessoalidade. Por haver desvio de finalidade, a multa aplicada pelo servidor caracteriza
ato administrativo ilegítimo, por padecer de vício em um dos elementos do ato: finalidade. Aliás, trata-se
de vício insanável, caracterizando ato nulo que sequer poderia ser convalidado.

b) Não. Em princípio, a atuação da Administração Pública deve ser pautada na transparência por imposição
do princípio da publicidade, previsto expressamente no art. 37, caput, Constituição Federal.

c) Trata-se de manifestação do poder de polícia. Nesse sentido, a Administração pode restringir direitos e
liberdades individuais em prol da coletividade.

d) Não. A multa administrativa, embora dotada de coercibilidade (meio indireto de coerção), não é dotada
de autoexecutoridade (meio direto de execução). Por essa razão, sua execução não pode ser realizada
pela própria Administração, demandando ação judicial.

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(ProfLucasMartins/2021)

No que diz respeito à presunção de legitimidade dos atos administrativos, responda as indagações a
seguir.

a) A presunção de legitimidade é elemento dos atos administrativos? Justifique.


b) A presunção de legitimidade está presente em todos os atos administrativos? Justifique.
c) A presunção de legitimidade é presunção juris tantum? Justifique.

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a) Não. Presunção de legitimidade é atributo dos atos administrativos (e não elemento ou requisito).
b) Sim. Todas as espécies de atos administrativos são dotadas de presunção de legitimidade. Por essa ra-
zão, é atributo universal dos atos administrativos, ao contrário, por exemplo, da imperatividade, atribu-
to presente apenas em atos restritivos.
c) Sim. Entende-se por presunção juris tantum aquela que admite prova em contrário, também denomi-
nada presunção relativa. A Administração não precisa comprovar que seus atos administrativos foram
praticados em conformidade com a norma jurídica, entretanto, nada obsta que o destinatário venha a
provar o contrário. Trata-se de mera inversão do ônus da prova, sendo, portanto, perfeitamente admiti-
da a prova em contrário.

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(ProfLucasMartins/2021)

No que diz respeito aos agentes públicos, responda as indagações a seguir.

a) Um escrivão da polícia civil se enquadra em qual espécie de agente público? Justifique.


b) Um escrivão da polícia civil pode ser remunerado mediante vencimentos? Justifique.
c) Um escrivão da polícia civil atualmente tem direito de greve? Justifique.

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a) Escrivão da policia civil é agente público da espécie agente administrativo ou servidor público em sen-
tido amplo.
b) Não. Nos termos do art. 144, §9º c/c art. 39, §4º da Constituição Federal os servidores policiais mencio-
nados no rol daquele dispositivo serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela
única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação
ou outra espécie remuneratória. Os vencimentos são espécie de remuneração formada por parcela
composta, que se contrapõe exatamente à remuneração formada por parcela única (subsídio). Dessa
forma, um escrivão da polícia civil não pode ser remunerado mediamente vencimentos, já que a Consti-
tuição impõe que sua remuneração ocorra mediante subsídio.

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c) Não. Apesar da Constituição Federal literalmente vedar a greve apenas aos militares (arts. 42, §1º e 142,
§3º, IV), o Supremo Tribunal Federal (ARE 654.432), interpretando a Constituição sistematicamente, veio a
ampliar essa vedação aos demais agentes da segurança pública definidos no rol do art. 144 da Constitui-
ção Federal. Nesse sentido, além dos militares, os demais agentes da segurança pública atualmente não
possuem direito de greve.

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(ProfLucasMartins/2021)

Em uma determinada perseguição policial, o inspetor Paulo, pertencente à Polícia Civil do Estado do
Ceará, acabou perdendo o controle da viatura, vindo a colidi-la com o carro de Lucas, que estava diri-
gindo de forma regular. Ocorre que o inspetor Paulo não teve a intenção de causar qualquer dano a
Lucas, bem como não veio a agir de forma culposa. Após 4 anos do ocorrido, Lucas ingressou com ação
indenizatória em face do Estado do Ceará. Com base nos dados apresentados e no que diz respeito à
responsabilidade civil do Estado brasileiro Indaga-se: o Estado do Ceará deverá indenizar Lucas? Justi-
fique.

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Sim. Em princípio, a responsabilidade civil do Estado brasileiro, nos termos do art. 37, §6º, da Constituição
Federal, é objetiva, isto é, não se exige elemento subjetivo (dolo ou culpa) por parte do agente público para
que o Estado venha a responder por eventuais danos causados ao terceiro lesado. Nesse sentido, mesmo
que Paulo não tenha agido nem com dolo nem com culpa, o Estado deve responder pelo dano causado a
Lucas, bastando que esse comprove o dano sofrido, a conduta do agente e o nexo de causalidade. Ademais,
as ações indenizatórias em face do Poder Público, por força do art. 1º do Decreto 20.910/32, prescrevem em
cinco anos da data ou do fato do qual se originarem. No caso, não houve prescrição, já que Lucas ingres-
sou com a ação indenizatória transcorridos quatro anos do dano sofrido.

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(ProfLucasMartins/2021)

No que diz respeito ao controle da Administração Pública, indaga-se:

a) O Poder Judiciário sempre realiza controle judicial?


b) O controle judicial é sempre de legalidade?

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a) Não. O Poder Judiciário realiza controle judicial quando controla atos administrativos praticados por
agentes de outro Poder de Estado (controle externo). Quando controla, contudo, seus próprios atos ad-
ministrativos, realiza controle administrativo (controle interno). Dessa forma, o Poder Judiciário pode
realizar controle judicial (controlando atos de outro Poder) ou controle administrativo (controlando seus
próprios atos).
b) Sim. Quando à natureza do controle (aspecto controlado), o controle da Administração se subdivide em
controle de legalidade e controle de mérito. Ao contrário do controle administrativo, que pode analisar
tanto a legalidade como o mérito dos atos praticados pela Administração, o controle judicial se restringe
em analisar a legalidade. Dessa forma, o controle judicial é sempre de legalidade.

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A conduta de um agente público deve ser pautada pelos preceitos legais a que este está submetido.
Nessa linha, a Lei nº 8.429 de 1992 dispõe sobre as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos
em que esses preceitos não forem observados, mais precisamente nos casos de improbidade adminis-
trativa. Discorra sobre os atos de improbidade administrativa, abordando, necessariamente, os as-
pectos a seguir:

a) Qual a natureza jurídica do ato de improbidade administrativa?

b) Quais os tipos de atos de improbidade administrativa tratados na Lei nº 8.429 de 1992?

c) Um estagiário temporário e sem remuneração do AGU que permita que terceiro não autorizado
utilize o computador do Tribunal para fins particulares estará sujeito às penalidades previstas na
Lei nº 8.429 de 1992? Justifique.

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Concurso público é o principal instrumento de garantia do sistema de meritocracia na organização
estatal, um dos pilares dorsais do estado social de direito brasileiro, condensado e concretizado na
Constituição Federal de 1988. Suas qualidades essenciais são: ser concurso, o que implica genuína
competição, sem cartas marcadas, e ser público, no duplo sentido de certame transparente e de con-
trole amplo de sua integridade. R. Esp. 1.362.269/CE, Segunda Turma, rel. min. Herman Benjamin, DJe
de 1.º/8/2013 (com adaptações).

Considerando que o fragmento de texto precedente tem caráter unicamente motivador, redija um
texto dissertativo acerca da existência de direito subjetivo à nomeação de candidato aprovado em
concurso público, consoante a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

Em seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:

a) As hipóteses em que há direito subjetivo à nomeação dos candidatos aprovados em concurso pú-
blico;

b) As características das situações excepcionais que podem motivar a recusa da administração em


nomear novos servidores aprovados em concurso público.

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Um candidato foi convocado para realizar teste de aptidão física de um concurso público cujas fases
compreendiam a realização desse teste, contudo, na data designada para o teste, ele estava impossi-
bilitado de realizá-lo, em razão de problema de saúde, comprovado por atestado médico. No edital do
concurso público, não havia nenhuma previsão de que qualquer candidato pudesse realizar uma das
provas de segunda chamada.

Com base nessa situação hipotética, redija um texto dissertativo que responda, de forma fundamen-
tada, às seguintes indagações.

a) Qual princípio da administração pública se aplica ao caso concreto?

b) O candidato poderá realizar o teste de aptidão física em segunda chamada?

c) Sob que circunstância é admissível realizar o teste de aptidão física em outra data?

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Tício, motorista de uma empresa concessionária de serviço público de transporte de passageiros, co-
mete uma infração de trânsito e causa danos a passageiros que estavam no coletivo e também a um
pedestre que atravessava a rua. Considerando a situação hipotética narrada, responda aos itens a
seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.

a) Qual(is) a(s) teoria(s) que rege(m) a responsabilidade civil da empresa frente aos passageiros usu-
ários do serviço e frente ao pedestre, à luz da atual jurisprudência do Supremo Tribunal Federal?

b) Poderiam as vítimas responsabilizar direta e exclusivamente o Estado (Poder Concedente) pelos


danos sofridos?

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No âmbito do direito administrativo, a atuação do Estado está submetida ao chamado regime jurídi-
co-administrativo, que se expressa por meio do binômio prerrogativas-sujeições. As prerrogativas são
concedidas à administração pública no intuito de fornecer os instrumentos e os meios necessários ao
regular exercício de suas atividades, com vistas à concretização do interesse público. As prerrogativas
concedidas à administração pública incluem os poderes administrativos, em especial o poder de polí-
cia.

Considerando que o texto precedente tem caráter unicamente motivador, redija um texto dissertati-
vo atendendo ao que se pede a seguir:

a) Discorra sobre o conceito de poder de polícia e cite dois exemplos de atos administrativos que
expressam esse poder;

b) Discorra sobre os ciclos ou fases do poder de polícia;

c) Apresente as distinções entre polícia administrativa e polícia judiciária explicitando, para cada
uma dessas polícias: o objeto de incidência, as infrações tratadas e os órgãos competentes para
seu exercício.

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Determinada Sociedade de Economia Mista federal, exploradora de atividade econômica, é objeto de
controle pelo Tribunal de Contas da União, o qual verifica, em tomada de contas especial, que há edi-
tais de licitação da estatal que contêm critérios de julgamento inadequados. Sobre o caso, empregan-
do os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente, responda aos itens a
seguir.

a) Uma sociedade de economia mista que explora atividade econômica pode ser submetida ao con-
trole do Tribunal de Contas? (Valor: 0,60)

b) O Tribunal de Contas pode determinar a aplicação de critérios que entenda mais adequados, para
o julgamento de licitações? (Valor: 0,65)

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O prefeito do município “P", conhecido como João do “P”, determinou que, em todas as placas de
inauguração das novas vias municipais pavimentadas em seu mandato na localidade denominada “E”,
fosse colocada a seguinte homenagem: “À minha querida e amada comunidade “E”, um presente es-
pecial e exclusivo do João do “P”, o único que sempre agiu em favor de nosso povo!”. O Ministério Pú-
blico estadual intimou o Prefeito a fim de esclarecer a questão.

Discorra sobra o caso e indique o princípio da Administração Pública que foi violado e por que motivo.

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Discorra sobre inexigibilidade de licitação. Ofereça dois exemplos distintos, com base na Lei de Licita-
ções.

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Instituto destinado a dar maior eficiência aos comandos constitucionais, a medida provisória possibi-
lita que, em situações excepcionais, o Presidente da República edite norma com força de Lei Ordiná-
ria. A avalanche de medidas provisórias, porém, vem atravancando o trâmite dos projetos de lei, o
que motivou nova orientação do então presidente da Câmara dos Deputados: a pauta não fica trava-
da em relação a matérias que não podem, em tese, ser objeto de medida provisória. Em relação ao
tema medida provisória, responda, fundamentadamente, aos seguintes itens.

a) Quais os limites para sua edição?


b) É possível Constituição Estadual prever edição de medida provisória pelo Governador do Estado?
Nesse caso, a norma constitucional estadual poderia estabelecer limites diferentes daqueles pre-
vistos na Constituição da República Federativa do Brasil?
c) É possível o controle jurisdicional dos requisitos de relevância e urgência da medida provisória?

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a) A medida provisória encontra limites materiais, estampados no §1º, do Art. 62, da Constituição Federal;
limites temporais, encontrados nos §§ 2º e 7º do referido artigo e limites circunstanciais, encontrados no
§ 10 do aludido dispositivo.

b) A resposta é afirmativa quanto à criação, pois a Constituição Estadual poderá criar Medidas Provisórias.
Por outro lado, a norma constitucional estadual deverá guardar os mesmos requisitos e limites da norma
da Constituição Federal, face ao mandamento da simetria das normas.

c) São requisitos indispensáveis às medidas provisórias a relevância e urgência, conforme dispõe o Art. 62,
caput da Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal, por longa data, entendeu não ser possível o
controle de constitucionalidade dos requisitos relevância e urgência, sob pena de violação ao princípio
da separação de poderes. Todavia, houve parcial mudança no entendimento da Corte, admitindo o exa-
me jurisdicional do mérito dos requisitos de relevância e urgência na edição de medida provisória em ca-
sos excepcionais, em que a ausência desses pressupostos seja evidente, como por exemplo, na abertura
de crédito extraordinário para destinar verba para a saúde que já deveria estar inclusa na lei orçamentá-
ria anual.

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No mês de março, um projeto de emenda constitucional foi rejeitado logo no primeiro turno de vota-
ção, realizado na Câmara dos Deputados. Em agosto do mesmo ano, esse projeto de emenda foi no-
vamente posto em votação na Câmara dos Deputados. Na sequência, determinado Deputado Federal,
contrário ao projeto de emenda e decidido a impedir sua tramitação, afirmou que iria acessar o Poder
Judiciário. Discorra sobre a possibilidade de o Poder Judiciário exercer controle sobre a tramitação da
emenda, bem como sobre a possível medida cabível no caso em tela.

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Há possibilidade de o Poder Judiciário controlar a constitucionalidade do processo legislativo do projeto de


emenda constitucional. No caso em tela o controle mostra-se viável em função da violação da limitação pro-
cedimental constante no art. 60, parágrafo 5º da CRFB. A única medida cabível ao caso é a impetração do
mandado de segurança perante o Supremo Tribunal Federal.

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João, vereador do Município X, e José, senador pelo Estado Y, ambos pertencentes ao Partido K, profe-
riram inflamado discurso em Brasília contra as atividades desenvolvidas por determinada autarquia
federal. Ao final, concluíram que os resultados alcançados nos últimos anos por essa pessoa jurídica
de direito público eram pífios, o que era mais que esperado, já que o seu presidente, o Sr. Antônio,
“era sabidamente inapto para o exercício da função”. Ao tomar conhecimento do discurso, o Sr. Antô-
nio ficou transtornado. Afinal, era servidor público de carreira e era conhecido por todos pela lisura e
seriedade do seu comportamento. Quanto aos maus resultados da autarquia, seriam sabidamente
decorrentes da crise econômica que assolava o país, não da incompetência do seu presidente. Por fim,
o Sr. Antônio procurou o seu advogado e disse que queria adotar as providências necessárias para a
responsabilização do vereador João e do senador José pelos danos causados à sua honra. Consideran-
do a situação hipotética apresentada, responda, de forma fundamentada, aos itens a seguir.

a) O vereador João e o senador José podem ser responsabilizados civilmente pelas ofensas à honra
do Sr. Antônio?

b) O vereador João e o senador José, nas circunstâncias indicadas, seriam alcançados por alguma
imunidade formal passível de influir na sua responsabilidade penal?

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a) O senador José não poderia ser responsabilizado civilmente, pois é inviolável pelas opinões e pelas pala-
vras correlatas ao exercício do mandato (Art. 53, caput, da CRFB/88), sendo certo que compete ao Con-
gresso Nacional fiscalizar e controlar os entes da administração indireta (Art. 49, inciso X, da CRFB/88).
Possui, portanto, imunidade material. Já o vereador João poderia ser responsabilizado, pois a inviolabili-
dade por suas opiniões e palavras é restrita à circunscrição do Município e ao exercício do mandato (Art.
29, inciso VIII, da CRFB/88).
b) O senador José possui imunidade formal, consistente na impossibilidade de ser preso, salvo em caso de
flagrante de crime inafiançável (Art. 53, § 2º, da CRFB/88) e na possibilidade de a tramitação do processo
penal que venha a responder ser sustada por deliberação do Senado Federal (Art. 53, § 3º, da CRFB/88).
O vereador João, por sua vez, não possui imunidade formal (Art. 29, inciso VIII, da CRFB/88).

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A Câmara de Vereadores do município Beta aprova projeto de lei que divide o mencionado município
em dois, sem qualquer espécie de consulta pública à população e sem realizar qualquer estudo prévio
de viabilidade do novo ente federativo. O prefeito de Beta veta o referido projeto e a Câmara derruba
o seu veto, promulgando a lei. Logo em seguida, o prefeito de Beta, inconformado com a norma apro-
vada, decide realizar um referendo a fim de saber a opinião da população local, a qual, após a consul-
ta, manifesta-se favoravelmente ao desmembramento. A partir da situação narrada, responda aos
itens a seguir.

a) A referida norma municipal é constitucional? Justifique.

b) À luz do sistema constitucional vigente, seria possível a fusão do município Beta com o Município
vizinho Alfa? Justifique.

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a) A norma municipal é inconstitucional. Conforme prevê o Art. 18, § 4º, da CRFB/88, compete ao Estado
autorizar, mediante lei ordinária, o desmembramento do município, desde que:
i) seja realizada consulta pública prévia com a participação dos interessados;
ii) seja apresentado e publicado Estudo Prévio de Viabilidade Municipal;
iii) se respeitem as limitações de calendário dispostas em lei complementar federal, a qual, por ainda
não existir, inviabiliza a criação de novos municípios.
b) Atualmente, nem a criação, nem o desmembramento e nem a fusão de municípios é possível até que
seja editada a lei complementar federal, prevista no Art. 18, § 4º, da CRFB/88, que discipline as limitações
de calendário para tais atos.

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Em uma Federação, sob o argumento de que, entre os governantes do estado Alfa (os anteriores e o
atual), consolidou-se uma forma de atuação administrativa que privilegia de forma desmedida a po-
pulação de determinada região geográfica, a população das outras regiões passou a pleitear autono-
mia política por meio de grandes manifestações. Para tanto, alimentam a pretensão de formar um
novo estado-membro, a ser denominado estado Beta. Diante do quadro acima e considerando o que
informa o sistema jurídico-constitucional, responda aos itens a seguir.

a) De acordo com a CRFB/88, é viável a formação do estado Beta?

b) O surgimento do estado Beta configurará o fenômeno da secessão? Justifique.

c) Caso seja criado o estado Beta, de acordo com o sistema jurídico-constitucional brasileiro, suas
competências materiais e legislativas estariam todas expressas na CRFB/88? Justifique.

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a) Trata-se de desmembramento, ou seja, o estado original perde um pedaço de seu território e de sua
população, que passam a formar um novo estado. O Art. 18, § 3º, da CRFB/88, prevê a ocorrência desse
fenômeno.

b) Não. O termo secessão é utilizado em Direito Constitucional para definir a separação de um estado-
membro ou território em relação ao país do qual fazia parte. O Brasil, por ser uma Federação (Art. 1º da
CRFB/88), é indissolúvel. Aliás, sendo a forma federativa de estado cláusula pétrea, nos termos do Art. 60,
§ 4º, da CRFB/88, não é possível por via de emenda constitucional a possibilidade de secessão.

c) Não, pois a CRFB/88 atribuiu aos estados-membros a denominada competência remanescente ou reser-
vada(Art. 25, § 1º, da CRFB/88), ou seja, as matérias não expressas ou não enumeradas no rol de compe-
tências dos entes federados são da competência dos estados-membros.

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Disserte sobre a competência concorrente prevista no art. 24 da CRFB/88.

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O art. 24 define as matérias de competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal. Nesse caso, a
competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. Em caso de inércia da União, inexistindo lei
federal elaborada pela União sobre norma geral, os Estados e o Distrito Federal (art. 24, caput, c/c o art. 32, §
1.º) poderão suplementar a União e legislar, também, sobre as normas gerais, exercendo a competência le-
gislativa plena. Se a União resolver legislar sobre norma geral, a norma geral que o Estado (ou Distrito Fede-
ral) havia elaborado terá a sua eficácia suspensa, no ponto em que for contrária à nova lei federal sobre
norma geral. Caso não seja conflitante, passam a conviver, perfeitamente, a norma geral federal e a estadual
(ou distrital). Observe-se tratar de suspensão da eficácia, e não revogação, pois, caso a norma geral federal
que suspendeu a eficácia da norma geral estadual seja revogada por outra norma geral federal, que, por seu
turno, não contrarie a norma geral feita pelo Estado, esta última voltará a produzir efeitos (lembre-se que a
norma geral estadual apenas teve a sua eficácia suspensa).

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Disserte sobre as Comissões Parlamentares de Inquérito – CPI previstas no art. 58, §3º da CRFB/88.

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As CPIs estão disciplinadas no art. 58, § 3.º, da CF/88, na Lei nº 1.579/52, na Lei n. 10.001/2000, na LC n.
105/2001 e nos Regimentos Internos das Casas. Pode-se afirmar que as CPIs são comissões temporárias,
destinadas a investigar fato certo e determinado. serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado
Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de 1/3 da totalidade de seus membros,
para apuração de fato determinado e por prazo certo.

As CPIs terão poderes de investigação, próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regi-
mentos internos das Casas.

O STF já decidiu que a CPI pode, por autoridade própria, sem a necessidade de qualquer intervenção judicial,
sempre por decisão fundamentada e motivada, observadas todas as formalidades legais, determinar: quebra
do sigilo fiscal; quebra do sigilo bancário; quebra do sigilo de dados; neste último caso, destaque-se o sigilo
dos dados telefônicos, a CPI não tem competência para quebra do sigilo da comunicação telefônica (inter-
ceptação telefônica). Convém destacar o § 1º do art. 4º da LC n. 105/2001, ao estabelecer que as CPIs, no

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exercício de sua competência constitucional e legal de ampla investigação, obterão as informações e os do-
cumentos sigilosos de que necessitarem diretamente das instituições financeiras ou por intermédio do Ban-
co Central do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários, devendo referidas solicitações ser previamente
aprovadas pelo Plenário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do plenário de suas respectivas
comissões parlamentares de inquérito.

A CPI também pode ouvir testemunhas, sob pena de condução coercitiva: as testemunhas prestarão com-
promisso de dizer a verdade, sob pena de falso testemunho. A elas é também assegurada a prerrogativa
contra a autoincriminação, garantindo-se o direito ao silêncio, ou quando deva guardar sigilo em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho (arts. 207 do CPP e art. 388, II, do CPC/2015). STF já decidiu que a condução coercitiva do Indici-
ado para fins de interrogatório não é possível por violar o direito ao silêncio, presunção de não culpabilidade,
liberdade de locomoção, dignidade da pessoa humana, com outra finalidade, como para fins de qualificação,
pode acontecer.

De outro lado, a CPI não pode determinar:

a diligência de busca domiciliar, nos termos do art. 5.º, XI, da CF, verificar-se-á com o consentimento do
morador, sendo que, na sua falta, ninguém poderá adentrar na casa, asilo inviolável, salvo em caso de fla-
grante delito, desastre ou para prestar socorro, durante o dia ou à noite, mas, durante o dia, somente por
determinação judicial, não podendo a CPI tomar para si essa competência, que é reservada ao Poder Judiciá-
rio;

a quebra do sigilo das comunicações telefônicas (interceptação telefônica), de acordo com o art. 5.º, XII,
a quebra do sigilo telefônico somente poderá ser verificada por ordem judicial, para fins de investigação cri-
minal ou instrução processual penal;

a ordem de prisão, salvo no caso de flagrante delito, por exemplo, por crime de falso testemunho: isso por-
que a regra geral sobre a prisão prevista no art. 5.º, LXI, determina que ninguém será preso senão em fla-
grante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária (e não CPI) competente, ressal-
vados os casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei — prisão disciplinar e
a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da medida durante o estado de defesa e não
superior a 10 dias, devendo ser imediatamente comunicada ao juiz competente (art. 136, § 3.º, I a IV, CF).

As medidas assecuratórias, como o sequestro, o arresto e a hipoteca legal, previstos nos arts. 125 e ss. do
CPP, bem como a decretação da indisponibilidade de bens de uma pessoa, medida que se insere no poder
geral de cautela do juiz, são atos tipicamente jurisdicionais.

As CPIs não podem nunca impor penalidades ou condenações. Concluídas as investigações, será encami-
nhado relatório da CPI aos chefes do Ministério Público da União ou dos Estados ou, ainda, às autoridades
administrativas ou judiciais com poder de decisão, conforme o caso, para a prática de atos de sua competên-
cia e, assim, existindo elementos, para que promovam a responsabilização civil, administrativa ou criminal
dos infratores.

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Discorra sobre os tipos de imunidades Parlamentares previstos no art. 53 da CRFB.

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A imunidade parlamentar pode ser de dois tipos: imunidade ou inviolabilidade material, real ou substantiva e
a a imunidade processual, formal ou adjetiva.

A primeira garante que os parlamentares federais são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos, desde que proferidos em razão de suas funções parlamentares, no exercício e
relacionados ao mandato, não se restringindo ao âmbito do Congresso Nacional, implicando a exclusão da
prática de crime, bem como a inviolabilidade civil, pelas opiniões, palavras e votos dos parlamentares (art.
53, caput). Assim, mesmo que um parlamentar esteja fora do Congresso Nacional, mas exercendo sua função
parlamentar federal, em qualquer lugar do território nacional estará resguardado, não praticando qualquer
crime por sua opinião, palavra ou voto.

Enquanto a segunda traz regras sobre prisão e processo criminal dos parlamentares (art. 53, §§ 2.º a 5.º, da
CF/88).

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Os parlamentares passam a ter imunidade formal para a prisão a partir do momento que são diplomados
pela Justiça Eleitoral, portanto, antes de tomarem posse. A única forma de prisão cautelar do parlamentar é a
prisão decorrente de flagrante de crime inafiançável. Nessa hipótese, de acordo com o art. 53, § 2.º, os autos
deverão ser remetidos à Casa Parlamentar respectiva no prazo de 24 horas, para que, pelo voto da maioria
absoluta de seus membros, resolva sobre a prisão. Nesse caso a votação dos congressistas acontecerá pelo
voto aberto. Portanto, se a Casa parlamentar decidir pela não manutenção do cárcere, a prisão deverá ser
imediatamente “relaxada”. Por outro lado, se a Casa mantiver a prisão em flagrante, conforme estabelece o
art. 306, § 1.º, do CPP, em até 24 horas, os autos deverão ser encaminhados ao STF (art. 53, § 1.º, c/c o art.
102, I, “b”, da CF/88), para que, então, sejam cumpridas as regras do art. 310 do CPP, observando-se a garan-
tia da audiência de custódia trazida pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019).

A imunidade dos parlamentares quanto ao processo ocorre com o recebimento da denúncia, por crime ocor-
rido após a diplomação, o STF dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela re-
presentado e pelo voto da maioria absoluta de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o anda-
mento da ação. O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo improrrogável de 45 dias
do seu recebimento pela Mesa Diretora, sendo que a sustação do processo suspende a prescrição enquanto
durar o mandato (cf. art. 53, §§ 3.º e 5.º).

Importante observar que não há mais imunidade processual em relação a crimes praticados antes da diplo-
mação. já que o STF só julgará crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções de-
sempenhadas.

Por fim, o art. 27, §1º da CRFB estende aos Deputados Estaduais as mesmas imunidades concedidas aos Fe-
derais. E o art. 29, VIII garante aos Vereadores a imunidade material nos limites do município em que exerce
a vereança.

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De acordo com a Constituição Federal em seu o Art. 1º a República Federativa do Brasil, formada pela
união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:

A soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciati-
va e o pluralismo político.

a) Analise a diferença entre Soberania e Autonomia.

b) Para o exercício da cidadania basta apenas exercício de direitos políticos? Explique no que consis-
te tal direito.

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a) Aluno deve analisar qual ente federativo detém Soberania (Republica Federativa do Brasil) e qual detém
autonomia. E diferença entre elas (representação interna e externa)
b) Analisar que a cidadania enquanto princípio é mais ampla, ou seja, trata-se da participação efetiva do
indivíduo na vida politica.

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Segundo a Constituição Federal de 1988, Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, sobre o art. 5º, analise:

a) Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Somente a
lei propriamente dita pode obrigar alguém a algo? Há outras formas de obrigar alguém a fazer ou
deixar de fazer algo?

b) É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. A proibição ao anonimato é a


única limitação ä liberdade de expressão?

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a) Analisar legalidade ampla do particular em detrimento da legalidade estrita para a Adm Publica

b) A liberdade expressão será imitada em vários aspectos, mas principalmente analisar o juízo de valor que
tem de fazer (exemplo: discurso de ódio, fake News...)

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Sobre a classificação das normas constitucionais quanto a sua aplicabilidade, quais são as 3 hipóteses
mais largamente estudadas? Discorra sobre cada uma delas e seus principais traços.

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Falar sobre aplicabilidade e eficácia das normas Plena, contida e Limitada.

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O Título II da Constituição Federal de 1988 trata dos direitos e das garantias fundamentais, abrangen-
do os direitos e deveres individuais e coletivos, os direitos sociais, os direitos de nacionalidade, os
direitos políticos e os direitos dos partidos políticos. A educação, a saúde, a moradia e a proteção à
maternidade e à infância, dentre outros, são direitos sociais expressamente previstos na Constituição
Federal.

a) Discorra sobre a aplicabilidade dos direitos sociais.

b) O Poder Público poderia extinguir direitos sociais sem a devida reposição ou substituição por ou-
tro direito equivalente?

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a) Normas programáticas e sobre a reserva do possível. Natureza prestacional e positiva

b) Princípio da Vedação ao retrocesso social

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Sebastian Coe foi informado de que órgãos de inteligência governamentais possuem arquivos com
registros de suas atividades cívicas. Curioso quanto ao seu conteúdo, requer o imediato acesso aos
registros. A autoridade competente indefere, aduzindo ser segredo de Estado. Nos termos da Consti-
tuição:

a) Qual Remédio constitucional deveria ser utilizado?

b) Caso quisesse apenas cópia das informações, seria utilizado o mesmo Remédio? Caso negativo,
qual seria o instrumento judicial adequado?

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a) Habeas Data

b) Mandado de Segurança - Direito de Certidão

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Pietro Ferrari nasceu no ano de 1990, no exterior (na Itália), durante serviço de seus pais, que eram
diplomatas, em prol do governo federal brasileiro. Pietro, hoje, deseja seguir carreira diplomática
brasileira. Sobre a situação apresentada, analise:

a) Qual a natureza da sua nacionalidade? Há necessidade de algum procedimento ou requerimento


por parte de Pietro?

b) Quais cargos Pietro pode concorrer ou ocupar? Há alguma vedação?

c) Se Pietro tivesse nascido no ano de 1985 e seus pais não estivessem a serviço do Brasil, ele poderia
se candidatar a Presidente da República? Explique.

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a) Nato - automático
b) Qualquer cargo. Não há vedação
c) Sim, caso preenchesse requisitos do art 12, I, c, da CF...residir no BR, fazer requerimento...ele viraria NA-
TO.

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Inácio, 19 anos, nascido e residente em Montes Claros, em pleno gozo de seus direitos políticos e de-
vidamente alistado em cartório eleitoral, cujo pai também nasceu em Montes Claros, mas a mãe nas-
ceu no Chile e não se naturalizou brasileira, querendo exercer plenamente a cidadania, resolve se
candidatar a uma vaga de vereador na Câmara Municipal de Montes Claros.

a) Há algum impedimento para a candidatura de Inácio? Qual?

b) Inácio pode concorrer a qualquer cargo no Brasil?

c) Caso seu pai fosse Prefeito de Monte Carlos, Inácio ainda assim poderia concorrer ao cargo de Ve-
reador? E a Deputado Estadual? Explique as duas situações.

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a) Não. Nenhum
b) Sim. Nasceu no BR logo NATO
c) Não inelegibilidade parentesco (território de jurisdição do titular). Sim, cargo pretendido fora da jurisdi-
ção do titular.

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Paula, guarda municipal e praticante de Crossfit, ao realizar suas atividades matinais, presencia um
furto em situação de flagrância. Muito bem preparada fisicamente, e por achar ser integrante da se-
gurança pública, corre atrás do meliante, que pula um muro com dificuldade, momento em que ela já
está a sua espera do outro lado. Efetua a prisão e o conduz a delegacia mais próxima.

Conforme a CF/88, analise:

a) A Guarda Municipal integra o rol do art 144 da CF?


b) Todo município tem o dever de criar a Guarda Municipal?
c) Paula tem direito a estabilidade? Quais os requisitos para aquisição? E após a estabilidade ela po-
deria perder o cargo?

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a) Não. Rol taxativo


b) Não. Poderão criar.
c) Sim. 3 anos de efetivo exercício e avaliação especial de desempenho. Sim. Sentença, processo adm., ava-
lição periódica de desempenho.

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Com um tiro alojado na sua cabeça, Richard foi ferido gravemente por Tobias. Na sequência, foi socor-
rido para o hospital da cidade, passou por cirurgia de urgência e foi internado na UTI. Cinco dias de-
pois de internação, veio a falecer em incêndio ocorrido nas dependências desse local. Discorra fun-
damentadamente sobre o exato enquadramento penal de Tobias, abordando a relação de causalidade
no Direito Penal.

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Ana foi ferida por José com vários socos e chutes, porque este não aceitava o término de um longo
relacionamento de dez anos. José fugiu. Ana recebeu medidas protetivas de urgência para assegurar
sua vida. Mesmo com a medida protetiva de urgência fixada, José voltou a procurá-la em sua casa
para conversar. Ana chamou a Polícia. Detido, José foi levado à Delegacia. No percurso, quebrou a ja-
nela da viatura, além de ter cuspido e xingado os policiais. Disserte fundamentadamente sobre o exa-
to enquadramento penal de José diante da situação em análise.

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Em razão da necessidade de trabalhar e não ter ninguém para cuidar do seu filho de três anos de ida-
de, Lourdes deixa a criança sozinha no apartamento durante o dia. Ao retornar do trabalho, percebeu
que seu filho tinha caído da varanda do segundo andar e faleceu. Desesperada, chamou socorro, que
imediatamente levou a criança ao hospital. No entanto, o esforço foi vão, pois o filho de Lourdes fale-
ceu em consequência dos ferimentos sofridos. A partir dessa situação hipotética, assinale o enqua-
dramento penal da conduta de Lourdes, verificando a possibilidade de aplicação de perdão judicial
em seu favor. Por fim diferencie dolo, culpa e preterdolo no Direito Penal.

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Ananias, com a finalidade de fornecer energia elétrica a seu pequeno ponto comercial situado em via
pública, efetuou uma ligação clandestina no poste de energia elétrica próximo a seu estabelecimento.
Durante cinco anos, ele utilizou a energia elétrica dessa fonte, sem qualquer registro ou pagamento
do real consumo. Em fiscalização, foi constatada a prática ilegal. Instaurado inquérito policial, Anani-
as compareceu à Delegacia e ofereceu a quantia de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) aos policiais para ar-
quivar o procedimento. Disserte fundamentadamente sobre a exata responsabilidade penal de Ana-
nias em relação aos fatos narrados, bem como a medida a ser adotada pela Polícia diante do caso.

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Armando estava em via pública com seu currículo na mão, considerando o fato de estar desemprega-
do. Ao observar aquela situação, Tirúbio apresentou-se como funcionário da sociedade empresária
que funcionava naquela rua e afirmou que teria um emprego para oferecer a Armando. Para isso,
Armando precisaria inicialmente apresentar seus documentos. Posteriormente, Tirúbio solicitou que
Armando lhe entregasse seu aparelho de telefonia celular, afirmando que iria ao interior do estabele-
cimento comercial para registrar o wi-fi no aparelho. Armando, então, entregou a Tirúbio seu celular
e permitiu que ele fosse ao estabelecimento, combinando de aguardá-lo em via pública. Uma hora
depois, entendendo que Tirúbio estava demorando, Armando o procurou no estabelecimento, desco-
brindo que, na verdade, Tirúbio nunca trabalhara no local e que deixara a localidade na posse do seu
telefone assim que o recebeu.

Os fatos são informados ao Ministério Público.

Com base apenas nas informações expostas, disserte sobre o exato enquadramento penal da conduta
de Tirúbio, diferenciando os crimes de furto mediante fraude, apropriação indébita e estelionato.

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Disserte fundamentadamente sobre o crime de estupro (art. 213, CP), esclarecendo os seguintes pon-
tos:

a) natureza jurídica;
b) ação penal;
c) momento consumativo; e
d) elemento subjetivo.

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Disserte fundamentadamente sobre o enquadramento penal da conduta do médico ginecologista
que, durante atendimento, pratica ato libidinoso contra paciente, aproveitando-se do consentimento
dado por ela para a realização de exame ginecológico. Por fim, responda quais os requisitos para a
configuração do crime de estupro de vulnerável (art. 217-A, CP).

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Sobre o crime de corrupção passiva (art. 317, CP), disserte fundamentadamente sobre as suas carac-
terísticas, diferenciando-o do crime de prevaricação (art. 319, CP).

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