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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por estar comigo em todos os momentos e por não me deixar
desistir.
À minha amada mãe, que há dois anos partiu e deixou saudades eternas.
Ao meu filho, Gabriel Antunes Frankenberger, simplesmente por existir e por me dar
forças para nunca desistir.
Ao meu querido Guilherme Nazareno Flores, por ter me incentivado a iniciar esta
trajetória e me apontar os caminhos para que ela se tornasse possível.
Ao meu querido amigo Tiago Mikael Garcia, pelos gestos que teve para comigo
durante esta caminhada, que somente um amigo verdadeiro teria.
E finalmente, ao meu querido Orientador Dr. Alexandre Morais da Rosa, por ter
confiado em mim e ter dedicado parte de seu precioso tempo para me orientar com
sua sapiência, desde o início até a conclusão deste trabalho.
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Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale
do Itajaí, a Coordenação do Curso de Mestrado Profissionalizante em Gestão de
Políticas Públicas, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer
responsabilidade acerca do mesmo.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 85
8
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
de estupro, seja ele de vulnerável ou não, pois em ambos os casos, tal crime é de
uma hediondez absurda, chega a soar estranho aos ouvidos. A “Exceção de Romeu
e Julieta” enfoca a necessidade de se “garantir tanto o direito da vítima quanto do
acusado. Nem pela sacralização da vítima, nem pela demonização do acusado,
mas, sim, pela busca da verdade e da justiça do caso concreto.” (João Batista Costa
Saraiva).
João Batista Costa Saraiva, juiz de Direito do Juizado Regional da Infância e
da Juventude de Santo Ângelo/RS, afirma “que o entendimento de que toda relação
sexual com menor de 14 anos é crime, pode criminalizar também a conduta de
muitos adolescentes e pré-adolescentes na descoberta da sexualidade. Assim, ele
avalia que a Exceção de Romeu e Julieta, que não reconhece a presunção de
violência quando a diferença de idade entre os protagonistas seja igual ou menor de
cinco anos, deve ser considerada nas Varas da Infância e da Juventude, na
operacionalidade do art. 217-A do Código Penal.” É o que se poderia chamar, talvez,
de flexibilização do artigo 217-A do CP diante dos casos de relações sexuais entre
adolescentes, quando ambos estão, juntos, na fase de suas descobertas.
O Estado, através do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA -, garante,
em seu artigo 17 que “o direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade
física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da
imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e
objetos pessoais”. No momento em que a lei 12.015/2009 foi criada, provavelmente
não se pensou em casos assim, que um vulnerável poderia também figurar como
agente causador, em tese, deste crime. O artigo 17 do ECA deixa bem claro o quão
é intocável a integridade em seu todo, da criança e do adolescente. Como então se
deveria proceder diante de dois adolescentes, um menino e uma menina, os quais,
pela própria natureza da fase em que se encontram, estão vivendo em meio às
descobertas, principalmente as descobertas sexuais, que resolvem conhecer juntos
sua sexualidade, mantendo então relações sexuais? Este adolescente menino que,
até o momento não é um infrator, passará a ser tratado como tal, à luz do artigo 217-
A do Código Penal. Assim, praticamente se ignora as palavras do artigo 17 do ECA,
quando da criação de uma lei que criminaliza taxativamente a conjunção carnal ou o
ato libidinoso com menor de catorze anos, quando ambos (autor e vítima) estão em
“processo de maturação” (Alexandre Morais da Rosa).
Nesse sentido, o terceiro capítulo, aborda com mais afinco a conhecida, nos
13
soluções.
Políticas públicas tomam forma de programas públicos, inovações
tecnológicas e organizacionais, subsídios governamentais, rotinas administrativas,
decisões judiciais, coordenação de ações de uma rede de atores, gasto público
direto, contratos formais e informais com stakeholders, dentre outros (SECCHI,
2012).
No entendimento de ABAD (2003):
A política pública [...] representa aquilo que o governo opta por fazer ou não
fazer, frente a uma solução. [...] é a forma de concretizar a ação do Estado,
significando, portanto, um investimento de recursos do mesmo Estado [...]
Admitindo-se delegar ao Estado a autoridade para unificar e articular a
sociedade, as políticas públicas passam a ser um instrumento privilegiado
de dominação [...] A política pública, ao mesmo tempo em que se constitui
numa decisão, supõe certa ideologia da mudança social, esteja ela explícita
ou não na sua formulação. [...] Essa decisão é o resultado do compromisso
de uma racionalidade técnica com uma racionalidade política.
1.3 Adolescência
é mais frequente nos países avançados, nas classes mais favorecidas, bem como
em uma sociedade que goze de uma mente mais esclarecida.
Diante de tantas variações de países, de cultura e de classes sociais, não é
fácil estabelecer os limites etários para definir a adolescência, havendo variações
entre os países.
Haffner (1995), autora americana, define duas fases principais:
Basta um olhar atento para nos darmos conta de que a História humana é
aquela de sua miséria e de seus conflitos repletos de horror e violência. A
humanidade nasceu junto com a lei. E esta traz consigo, na origem, o
inevitável dos abusos e excessos. O homem, por sua precariedade e por
ser desprovido de uma barreira natural à sua agressividade, carece de ser
acolhido amorosamente e reconhecido por sua fala. Precisa construir limites
e valores que lhe permitam respeitar a si e ao outro, o que só acontece se
puder estabelecer um profundo laço com a geração que o antecede; pais,
professores, representantes da autoridade da lei e da política. Caso
contrário, o que se segue é o caos e a errância.
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imediato. A representação do corpo sexuado é diferente nos dois sexos, pelo fato de
que no homem os órgãos genitais principais são externos e visíveis, enquanto que
na mulher eles não são diretamente visíveis (por exemplo, a vagina) (WEREBE,
1998).
São fatores biológicos que criam as condições básicas para a presença e o
desenvolvimento da sexualidade na adolescência: a maturação das gônadas
constitui a condição biológica fundamental para a prática de certas atividades
sexuais. Por outro lado, as mudanças físicas e fisiológicas, na puberdade, criam
novas capacidades físicas, despertam novos interesses, desejos e provocam, ao
mesmo tempo, certa instabilidade, pois o indivíduo deve se acomodar a um corpo
em transformação. A puberdade rompe com o equilíbrio de maneira rápida e violenta
(WEREBE, 1998).
Quando a amizade e as rivalidades deixam de se fundar sobre a comunidade
ou o antagonismo das tarefas realizadas ou a realizar; quando elas buscam se
justificar pelas afinidades ou repulsões morais; quando elas parecem interessar mais
a intimidade do ser do que as colaborações ou conflitos afetivos, é o anúncio de que
a infância já foi minada pela puberdade. (WALLON, 1968).
Contudo, não são apenas as necessidades sexuais que se intensificam na
adolescência – e em geral não podem se satisfeitos na realidade – que explicam os
sonhos eróticos acordados. O meio em que vive o adolescente é cada vez mais
erotizado. Os estímulos deste meio exercem uma influência importante sobre estes
sonhos: canções românticas e seus intérpretes, estórias românticas e sexuais
apresentadas pelo cinema e televisão, estórias e heróis não apenas da literatura de
boa qualidade, como também das publicações pornográficas. Até mesmo o noticiário
de “fatos diversos” da televisão e dos jornais, relatando ocorrências ligadas ao sexo,
em geral violências e crimes, podem influir sobre as fantasias e fantasmas dos
adolescentes (WEREBE, 1998).
[...] não existe apenas um modelo de família e muito menos uma “família
modelo”. Há variações segundo as culturas, e dentro de uma mesma
sociedade coexistem diferentes tipos de família: famílias ampliadas (como
na África, incluindo não apenas os pais, os filhos, mas outros parentes),
famílias numerosas, família nuclear restrita, uniões livres (concubinato),
famílias reconstituídas após separações, divórcios ou viuvez
(compreendendo, às vezes, filhos de cada um dos cônjuges e/ou dos dois),
famílias poligâmicas, famílias monoparentais (constituídas, em geral, por
mães viúvas, mães abandonadas, mães solteiras, mães com vários filhos
de pais diferentes, por apenas um dos cônjuges, no caso de casais
separados ou divorciados), famílias com filhos adotivos, etc.
Desde meados do século passado até os dias de hoje tem-se observado nos
ordenamentos jurídicos uma tendência a acolher o ser humano como centro e o fim
do direito. Esta inclinação encontra-se reforçada pela adoção do princípio da
dignidade da pessoa humana, em nível constitucional, como valor do Estado
Democrático de Direito, tal qual ocorreu na Constituição brasileira de 1988
(MARTINS, 2003).
Curiosamente, foi a constituição da Alemanha, de 24 de maio de 1949, que
primeiro acolheu a dignidade da pessoa humana, estabelecendo expressamente em
seu art. 1º, nº 1, que: “A dignidade humana é inviolável. Respeitá-la e protegê-la é
obrigação de todos os Poderes estatais”.
No Brasil, este princípio foi inserido expressamente no art. 1º, inciso III, da
Constituição Federal.
No entanto, a dignidade da pessoa humana não é uma criação constitucional,
mas um dado preexistente a toda experiência especulativa que, em face de sua
relevância e conteúdo filosófico, foi constitucionalizado como fundamento da
República Federativa do Brasil. Na verdade, a Constituição brasileira transformou a
dignidade da pessoa humana em valor supremo do Estado brasileiro e, em especial,
do sistema jurídico-constitucional.
Bobbio (2004) afirma que os direitos do homem, democracia e paz são três
momentos necessários do mesmo movimento histórico: sem direitos do homem
reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem democracia, não existem as
condições mínimas para a solução pacífica de conflitos. O autor diz ainda que “o
problema fundamental dos direitos do homem não é tanto o de justificá-los, mas o de
protegê-los”. Em outras palavras, uma coisa é falar deles e justificá-los, e outra é
garantir-lhes efetiva proteção. O mesmo raciocínio se aplica em relação à dignidade
da pessoa humana (MARTINS, 2003).
O princípio da dignidade da pessoa humana constitui a base, o alicerce, o
41
Nota-se que o ECA tem por base o princípio da dignidade da pessoa humana,
ao dispor expressamente que a criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana.
O texto da lei 8.069/90 – o ECA – está de acordo com as estipulações da
Convenção sobre os Direitos da Criança adotada pela Assembléia Geral da
Organização das Nações Unidas, de 20 de novembro de 1989, assinada pelo
governo brasileiro em 20 de janeiro de 1990, tendo se transformado em norma de
direito positivo interno, desde que, aprovada pelo Decreto Legislativo nº 28/1990, do
Congresso Nacional.
Anterior ao ECA, o que consolidava as leis de proteção aos menores era o
Código de Menores do Brasil, o qual foi concluído e aprovado em 12 de outubro de
1927, através do Decreto nº 17.943-A, conhecido também como Código Mello
Mattos. O Código Mello Mattos estabeleceu duas classes de protegidos: o
abandonado e o delinquente, ambos menores de 18 anos.
Já nesta época “surge a compreensão de que a recuperação do menor não
passa pela repressão e punição, mas pela assistência e reeducação da
comportamento, devendo ser utilizada através de uma pedagogia corretiva”
(KAMINSKI, 2002).
Em outubro de 1979, através da Lei nº 6.697 foi instituído o novo Código de
Menores. Da mesma forma que o código substituído, o código de 1979 não foi uma
lei de proteção genérica, isto é, dirigida a todos os adolescentes e crianças
brasileiros. Somando uma categoria às antes existentes, o novo código foi dirigido
somente a três classes de menores: a) abandonados – material, intelectual e
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A criança [...] passa a ser vista com absoluta prioridade, como sujeito
portador de direitos e pessoa em estágio privilegiado de formação e
desenvolvimento. Até a chegada do Estatuto, suas questões nunca haviam
sido consideradas ou tratadas como prioridade nacional, sobretudo com a
afirmação de garantias de primazia de proteção e socorro, de preferência de
atendimento, de preferência nas políticas sociais, e de destinação
privilegiada de recursos públicos (KAMINSKI, 2002).
PRINCÍPIOS REGRAS
GRAU DE Elevado grau de abstração Abstração
ABSTRAÇÃO relativamente reduzida
GRAU DE Por serem vagos, carecem de São suscetíveis de
DETERMINABILIDADE mediação do juiz ou legislador aplicação direta.
que os concretizem. Prescrevem uma
Prescrevem comandos de exigência (impõem,
otimização. permitem ou proíbem).
PROXIMIDADE DA São standarts das ideias de Normas vinculativas
IDEIA DO DIREITO justiça e direito com conteúdo
meramente funcional.
NATUREZA Os princípios têm natureza
normogenética, pois são os
fundamentos das regras.
APLICAÇÃO DE Coexistem princípios As regras colidentes
INTERPRETAÇÃO colidentes. Ponderação. excluem-se.
Subsunção.
Fonte: (CANOTILHO, 1998)
Não existe diferença substancial entre um crime (que significa o mesmo que
delito) e uma contravenção penal. O legislador, mediante critério político
criminal, ao proibir determinado comportamento sob ameaça de sanção de
natureza penal, é que fará a opção, de acordo com a gravidade do fato.
Como, na verdade, é a pena cominada em abstrato que dita essa
gravidade, o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Decreto-Lei nº
3.914, de 9 de dezembro de 1941) criou um critério de distinção entre o
crime e a contravenção penal, dizendo: Art. 1º Considera-se crime a
infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de
prisão simples ou multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.
Sob o aspecto formal, crime seria toda conduta que atentasse, que colidisse
frontalmente contra a lei penal editada pelo Estado. Considerando-se seu
aspecto material, conceituamos crime como aquela conduta que viola os
bens jurídicos mais importantes. Na verdade os conceitos formal e material
não traduzem com precisão o que seja crime (GRECO, 2013).
O limite fixado para a maioridade, pelo novo Código Civil, fez surgir
polêmica acerca da revogação das normas do ECA que regem a
possibilidade de aplicação e cumprimento de medidas sócio-educativas até
os 21 anos de idade (arts. 5º do Código Civil e 121, § 5º, do ECA).
Entender, no entanto, que a nova lei civil teria revogado implicitamente os
dispositivos do ECA é interpretação que ensejaria a imunidade, frente ao
ordenamento jurídico, daqueles que cometessem atos infracionais às
vésperas de completar 18 anos de idade [...] Ademais, a norma do § 5º do
art. 121 da Lei n. 8.069/90 tem uma razão própria de existência,
completamente diversa daquela que estabelece a capacidade civil. A lei
infanto-juvenil apenas pretendeu fixar uma idade limite para que o jovem em
conflito com a lei ficasse submetido ao cumprimento de medida sócio-
educativa, em nada se relacionando com a autorização ou não para a
prática dos atos da vida civil.
Vale lembrar que os atos infracionais praticados pelo adolescente não podem
configurar maus antecedentes depois de atingida a maioridade.
da infância e da juventude.
Contudo, o Conselho Tutelar não detém a competência funcional para
proceder nas investigações a fim de elucidar a autoria do ato infracional. Tal
atribuição cabe à polícia judiciária.
Nesse sentido:
Cabe lembrar que nos locais que ainda não há instalações do Conselho
Tutelar, suas respectivas atribuições serão exercidas pela autoridade judiciária, de
acordo com o art. 262, do ECA.
1998).
Como já dito antes, estas medidas não são taxativas, “pelo que devem as
autoridades competentes estar sempre atentas para outras possibilidades de
atuação para além daquelas especificadas” (TAVARES, 2013).
conflito [...] Todavia, compreendera que existe um limite [...] tornando-se necessário
um autodisciplinamento do conflito” (BOBBIO, 2004).
Assim, em meio às lutas e conflitos, o desenvolvimento da sociedade, bem
como a busca por conhecimentos ocorreu e vem ocorrendo até hoje, e de igual
forma, no que se refere à sexualidade.
Com a nova redação do art. 213, introduzida pela Lei nº 12.015/2009, não há
que se falar mais que estupro só ocorre com conjunção carnal, que seria a
introdução do pênis masculino na vagina feminina, pois, como visto, o homem agora
pode ser vítima do referido crime sexual. Aliás, mister assentar ainda que agora, ao
que se depreende da leitura do novo tipo, se houver a introdução de pênis postiço
na vagina, haverá crime de estupro. Ademais, o sujeito ativo, que antes era só o
homem, agora também pode ser a mulher, pois, como visto, o crime também ocorre
quando alguém é constrangido mediante violência ou grave ameaça “a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.
Assim, constata-se que diante da fusão do agora revogado crime de atentado
violento ao pudor (art. 214) ao novo crime de estupro (art. 213), os sujeitos ativo e o
passivo do referido crime agora podem ser tanto o homem como a mulher, logo, a
conceituação do crime de estupro como conjunção carnal (introdução do membro
genital masculino na vagina da mulher), mediante violência ou grave ameaça, cai
por terra, pois o crime, para a ocorrência, não depende exclusivamente da
introdução do membro genital masculino na vagina da mulher, ocorrendo estupro,
por exemplo, em caso de penetração anal ou prática de outro ato libidinoso.
O crime que antes era bipróprio (exigindo assim condição especial do sujeito
ativo que somente poderia ser o homem, e do sujeito passivo que somente era a
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mulher) passou a ser crime comum, podendo ser praticado por homem ou mulher,
bem como podendo ter como sujeito passivo o homem, a mulher e o transexual, não
importando se este tenha realizado a operação para mudança definitiva de suas
características sexuais.
A lei 12.015/2009 trouxe ainda mais uma modificação, inserindo o novo art.
217-A:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º. Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência.
§ 2º. Vetado.
§ 3º. Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4º. Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Não é prudente, nem mesmo razoável, que o juiz atenha-se somente às letras
da lei, pois a valoração maior está na preponderância da justiça. Presumir de
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maneira absoluta a vulnerabilidade em fatos onde ela não existe, pode fazer
surgir certas injustiças irreparáveis, como por exemplo, subtrair a liberdade de ir
e vir de uma pessoa inocente.
Cada adolescência é única, singular, e como tal deve ser respeitada em sua
alteridade. Aí reside a ética de respeito ao desejo do sujeito e dos atores jurídicos
(ROSA, 2011).
Cabe a jurisprudência:
[...] será equivocado delegar ao juiz um papel de mero aplicador da lei: uma
tal situação importaria em considerá-lo um burocrata do direito. Sua missão
de constituir a norma jurídica concreta, a nosso ver, transcende este nível
de entendimento para alcançar uma posição de maior realce no dinâmico
processo de (re)definição do direito, inclusive no direito penal. Se é – e
deve ser – imparcial em relação às partes litigantes, já não poderá ser
indiferente a tudo que está à sua volta, principalmente àqueles fenômenos
que ocorrem no meio social. A postura crítica do juiz é de capital
importância para a realização da justiça material [...] O exercício da política
jurídica deverá visar, como assevera o citado autor, à realização da norma
com validade material, que deve estar conforme aos valores da justiça e
utilidade social. E isto ocorre, ao nível de constituição do direito pela
atividade jurisdicional, através da leitura crítica e atualizada do direito
positivo, para a qual não se dispensam as consultas às várias dimensões
axiológicas da sociedade. E mais. [...] o juiz recorrerá à sua mundividência –
ao modo de sentir e ver criticamente os fenômenos sociais –, para a
constituição da norma jurídica concreta. Nesta mundividência, [...] estão
integradas percepções puramente humanas, distantes de qualquer
conotação de neutralidade científica, das quais não se descartam as noções
morais. Noções estas que são essenciais para a redefinição do direito penal
(também o sexual) [...].
João Batista Costa Saraiva lembra que, segundo Shakespeare, Romeu tinha,
à época a idade aproximada de 16 anos e Julieta, presume-se, tinha 13 anos de
idade. Neste caso, se Romeu se apaixonasse por Julieta, como de fato se
apaixonou, teria ele sido levado ao Juizado da Infância e da Juventude, de acordo
com a Lei 12.015/2009, na condição de estuprador, nos moldes do art. 217-A,
explica Saraiva (1999).
Esta teoria, que pode ser traduzida no Brasil como Exceção de Romeu e
Julieta, trata-se de uma hipótese de “descriminalização da conduta de estupro de
vulnerável, quando a diferença etária entre os protagonistas for entre três ou, no
máximo, cinco anos de diferença. Assim, estando os atores na mesma faixa de
desenvolvimento físico, psíquico, emocional, não haveria a possibilidade de se
reconhecer o delito de abuso sexual.
Saraiva (1999) afirma que a introdução do art. 217-A na norma penal, pode
trazer às Varas da infância e da juventude um número grande de meninos e
meninas que estão no despertar da sua sexualidade e das suas descobertas, e que
por isso, não deveriam ser responsabilizados penalmente por esta conduta.
Nota-se que não houve, por parte do legislador, argumenta SARAIVA, o
cuidado em prever uma hipótese de exceção nos casos em que houve apenas um
processo amoroso e de descoberta entre adolescentes, os quais são “precocemente
estimulados pela vida moderna”. A condução equivocada de tais situações podem
trazer prejuízos irreparáveis aos adolescentes envolvidos, como traumas,
frustrações e outras consequências negativas.
Nesse sentido:
Poderíamos traduzir, com vista à utilização de seus conceitos por aqui, como
“Exceção de Romeu e Julieta”, inspirada nos célebres amantes juvenis imortalizados
pelo gênio de Willian Shakespeare. Consiste em não reconhecer a presunção de
violência quando a diferença de idade entre os protagonistas seja igual ou menor de
cinco anos, considerando que ambos estariam no mesmo momento de descobertas
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Neste caso, o Habeas Corpus 73662/MG trouxe à luz uma reflexão que se
faz necessária quanto ao caráter cronológico da suposta vítima, ou seja, atualmente,
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crianças de 11 anos se parecem com moças de 16, 17, 18 anos ou mais. Assim, até
que ponto é viável deixar de analisar a lei seca e ignorar o “envelhecimento da
sociedade”, bem como caracterizar, responsabilizar ou deixar de responsabilizar
uma pessoa apenas levando em conta sua idade cronológica, ignorando todos os
demais aspectos, tais como psíquicos, psicológicos, fisiológicos, físicos, culturais e
outros?
Refletindo desta forma, o Ministro Marco Aurélio bem disse "Alfim, cabe uma
pergunta que, de tão óbvia, transparece à primeira vista como desnecessária,
conquanto ainda não devidamente respondida: a sociedade envelhece; as leis,
não?”
Se a legislação brasileira reconhece a condição de adolescente desde os
doze anos de idade; permite que viaje desacompanhado por todo território nacional,
autoriza sua privação de liberdade na hipótese de autoria de um delito, além de
diversas outras prerrogativas, como o direito de ser ouvido e sua palavra
considerada; exagera a norma a fixar em 14 e não em 12 anos a idade limite, ao
menos sem estabelecer uma regra como a “Exceção de Romeu e Julieta”.
Em matéria de relacionamento sexual entre adolescentes, a nova regra do
art. 217exagera em face da realidade do País e de nossa adolescência, podendo
criminalizar a conduta de muitos adolescentes e pré-adolescentes na descoberta de
sua sexualidade. Vejam a hipótese de um namoro entre adolescentes ou pré-
adolescentes, entre um menino de 13 anos e uma menina de 11 anos, que resolvam
realizar “manobras sexuais investigatórias”, para colocar a questão em termos
jurídicos. O que fazer? E se isso forem condutas homossexuais, que acabam
produzindo as reações mais estapafúrdia dos pais e as vezes da própria escola,
chamando polícia , criando escândalo, criminalizando a descoberta da sexualidade.
A “Exceção de Romeu e Julieta”, inspirada na “Romeo and Juliet Law” dos
americanos deve ser considerada, especialmente nas Varas da Infância e
Juventude, na operacionalidade deste art. 217-A do Código Penal.
Com as alterações trazidas pela Lei 12.015/2009 a respeito do estupro de
vulnerável, tem-se tornado cada vez mais necessário uma reflexão, acerca da
prática sexual entre adolescentes da mesma faixa etária. Tal reflexão já tem por
base o instituto do Direito Comparado, haja vista a utilização da teoria Exceção de
Romeu e Julieta em vários países do mundo.
78
cruéis e monstruosos atos de seus pais, no seio familiar. Há que se dizer ainda, que
tais jovens, durante suas declarações, chegaram a afirmar que não sabiam, à época
do início das agressões sexuais, que tais atitudes tratavam-se de um crime.
Assim, independente do objeto desta pesquisa, é gritante a necessidade de
um programa de educação sexual, tanto na cidade de Araquari, quanto na cidade de
Itajaí, bem como todas as demais cidades. Tal programa, constituído, conforme dito
anteriormente, por uma equipe multidisciplinar, traria resultados positivos tanto
àquelas meninas de 11 ou 4 anos de idade que sofrem abusos sexuais dentro de
suas próprias casas, por parte de seus próprios familiares, quanto àquelas
adolescentes de 12, 13 ou 14 anos que estão descobrindo sua sexualidade,
juntamente com seus colegas do sexo oposto, que estão também nas mesmas
situações de descobertas de seu próprio corpo, bem como, na fase em que os
sentimentos começam a aflorar e que por conta disso, não podem e não devem ser
tratados como criminosos, à luz das interpretações secas e ao pé da letra das leis.
Tal programa, como sugestão, seguiria os moldes do PROERD – Programa
Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, aplicado nas escolas por
policiais militares às crianças e adolescentes.
A principal característica deste programa é a idade na qual é aplicado, ou
seja, o PROERD começa a ser aplicado nas escolas para crianças na faixa etária de
10 anos de idade. Segundo a maioria dos especialistas na área de prevenção, a
idade de 10 anos é a ideal para construir na consciência infantil e futuramente
adolescente, a diferença do certo e do errado, do permitido e do não permitido, do
legal e do ilegal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo fazer uma abordagem jurídica e social do
ato infracional análogo ao estupro de vulnerável.
O trabalho foi elaborado em três capítulos, divididos da seguinte forma:
REFERÊNCIAS
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BOBBIO, Norberto. A ERA dos direitos. A ERA dos direitos. Rio de Janeiro, RJ:
Autor e editor, 1999.
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2011.
GOMES, Luiz Flávio. Maioridade civil e as medidas do ECA: Direito Penal. Revista
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Acesso em 2 de setembro de 2014.
GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 7.ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2013.
LASSWELL, Harold Dwight. Politica: quem ganha o que, quando, como. Brasilia:
UNB / Departamento de Teoria Literária e Literat, l984.
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http://jus.com.br/artigos/18760/a-importancia-das-fases-psicossexuais-do-
desenvolvimento-infantil-segundo-freud-para-melhor-proteger-o-psiquismo-da-
crianca-e-do-adolescente
http://tj-rs.jusbrasil.com.br/noticias/2083474/lancado-novo-volume-da-revista-do-
juizado-da-infancia-e-da-juventude.