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Diferenças Entre o Arrebatamento e a

Segunda Vinda
Thomas Ice

Ao considerarmos a questão do Arrebatamento da Igreja, especialmente


o momento em que vai acontecer, é essencial que observemos as
diferenças que há entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda de Cristo.
Creio fortemente que o Novo Testamento indica que a Igreja será
arrebatada antes da sétima semana de Daniel. Uma razão-chave é que a
Bíblia ensina que o Arrebatamento é um acontecimento distinto da
Segunda Vinda de Cristo à terra. Em qualquer consideração sobre a
veracidade do momento em que ocorrerá o Arrebatamento, essa
distinção é de importância crucial.

A Importância das Distinções


O Dr. John Feinberg observa que distinguir entre o Arrebatamento e o
retorno de Cristo é de fundamental importância para o estabelecimento
do pré-tribulacionismo contra a afirmação não pré-tribulacionista de que
as Escrituras não ensinam tal visão.

...o pré-tribulacionista deve mostrar que há dissimilaridades suficientes


entre as passagens claras sobre o Arrebatamento e as passagens claras
sobre o Segundo Advento, como uma garantia de que os dois tipos de
passagens poderiam estar falando sobre dois acontecimentos que
ocorreria em momentos diferentes. O pré-tribulacionista não tem que
provar, neste ponto, (...) que os dois acontecimentos devem ocorrer em
momentos diferentes, mas somente que os dados exegéticos que partem
de passagens sobre o Arrebatamento e sobre a Segunda Vinda não
tornam impossível que os acontecimentos ocorram em momentos
diferentes. Se conseguir fazer isto, o pré-tribulacionista já mostrou que
sua visão não é impossível. E respondeu à mais forte linha de evidências
do pós-tribulacionista.[1]

Um fator chave no entendimento dos ensinos do Novo Testamento sobre


o Arrebatamento pré-tribulacionista gira em torno do fato de que duas
futuras vindas de Cristo são apresentadas. A primeira é para levar a
Igreja entre as nuvens antes da Tribulação de sete anos; e a Segunda
Vinda ocorre no final da Tribulação, quando Cristo retorna à terra para
começar Seu reino de mil anos. Aquele que desejar entendimento sobre
o ensino bíblico do Arrebatamento e do Segundo Advento deve estudar e
decidir se as Escrituras falam sobre um ou dois eventos futuros.
Contudo, muitos não-pré-tribulacionistas jamais tratam dessa questão.

Estruturando a Questão
Os pós-tribulacionistas geralmente argumentam que, se o Arrebatamento
e a Segunda Vinda forem dois acontecimentos distintos, separados por
pelo menos sete anos, então deveria haver ao menos uma passagem
nas Escrituras que ensinasse claramente essa questão na forma que
eles determinaram. Contudo, a Bíblia nem sempre ensina a verdade de
Deus dentro das formulações feitas pelo homem, de tal maneira que
responda diretamente a todas as nossas perguntas. Por exemplo, um
unitariano [adepto do unitarianismo] poderia projetar um tipo semelhante
de pergunta relativamente à Trindade que não é respondido diretamente
na Bíblia. “Onde a Bíblia ensina sobre a Trindade?”. Nós, que cremos na
Trindade, respondemos que a Bíblia ensina sobre a Trindade, mas a
revela de uma maneira diferente.

Muitas doutrinas bíblicas importantes não nos são apresentadas


diretamente, a partir de um único versículo, da maneira que alguém
possa pensar que a Escritura devesse fazê-lo. Geralmente é necessário
harmonizarmos as passagens em conclusões sistemáticas. Algumas
verdades são diretamente apresentadas na Bíblia, tais como a deidade
de Cristo (Jo 1.1; Tt 2.13). Mas doutrinas como a da Trindade e como a
da natureza encarnada de Cristo são produtos de harmonização bíblica.
Levando em conta todos os textos bíblicos que tocam num determinado
assunto, teólogos ortodoxos têm, ao longo do tempo, reconhecido e
determinado que Deus é uma Trindade e que Cristo é Deus-Homem.
Semelhantemente, uma consideração sistemática de todas as passagens
bíblicas revela duas futuras vindas. Não estou dizendo que a Bíblia não
ensina o Arrebatamento pré-tribulação, como fizeram alguns que deram
um falso sentido a comentários semelhantes no passado. O Novo
Testamento ensina, sim, o pré-tribulacionismo, embora ele possa não ser
apresentado de maneira que fique claro para alguns.

Os pós-tribulacionistas freqüentemente argumentam que o pré-


tribulacionismo é construído com base meramente em
um pressuposto de que certos versículos “fazem sentido” se, e apenas
se, o modelo pré-tribulacionista do Arrebatamento for pressuposto.
Entretanto, os pós-tribulacionistas geralmente não são bem sucedidos
em perceber que eles também são igualmente dependentes de
pressupostos semelhantes. O erro deles surge do fracasso em observar
distinções reais no texto bíblico por causa do pressuposto cegante de
uma única futura vinda de Cristo.

Todos concordamos que a carreira do Messias acontece na história em


torno de duas fases importantes relacionadas às Suas duas vindas ao
planeta Terra. A fase um aconteceu em Sua Primeira Vinda, quando Ele
veio em humildade. A fase dois começará em Seu segundo advento,
quando Ele virá em poder e glória. O fracasso em distinguir essas duas
fases foi um fator-chave na rejeição de Jesus, por parte de Israel, como o
Messias esperado. Da mesma forma, o fracasso em ver as distinções
claras entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda leva muitos a uma
interpretação errada do plano futuro de Deus.

A Natureza do Arrebatamento
O Arrebatamento é apresentado pela primeira vez por Jesus (Jo 14.1-3),
no Discurso do Cenáculo (Jo 13-16), quando Ele revelou aos Seus
discípulos a verdade sobre a nova era da Igreja, na noite anterior à Sua
morte. Paulo expande a apresentação que Jesus fez sobre o
Arrebatamento em uma de suas primeiras cartas, em 1 Tessalonicenses
4.13-18. A frase “seremos arrebatados” (1Ts 4.17) traduz a palavra
grega harpazo, que significa “seremos arrancados com força” ou
“seremos apanhados”. Os tradutores da Bíblia para a língua latina
usaram a palavra rapere, raiz do termo “raptar” e do termo “arrebatar”.
No Arrebatamento, os crentes que estiverem vivos serão “arrebatados”
nos ares, trasladados entre nuvens, onde Cristo estará pairando, em um
instante no tempo.

O Arrebatamento é caracterizado como uma “vinda para trasladar” (1Co


15.51-52; 1Ts 4.15-17), quando Cristo virá para Sua igreja. O Segundo
Advento é Cristo retornando com Seus santos que foram previamente
arrebatados, descendo dos céus para estabelecer Seu Reino terreno (Zc
14.4-5; Mt 24.27-31).

As diferenças entre os dois acontecimentos são harmonizadas


naturalmente pela posição pré-tribulacionista, enquanto que outras
visões não conseguem prestar esclarecimentos sobre distinções naturais
a partir dos textos bíblicos. O gráfico abaixo lista uma compilação das
passagens sobre o Arrebatamento colocadas em contraste com muitos
versículos que se referem à Segunda Vinda.

Baseados nas referências acima, podemos ver uma vasta diferença entre
o caráter das passagens que referenciam o Arrebatamento quando
comparadas às passagens sobre o Segundo Advento, como está
resumido na tabela abaixo:
Diferenças Adicionais
Paulo fala do Arrebatamento como um “mistério” (1Co 15.51-54), ou seja,
uma verdade não revelada até sua manifestação para a Igreja (Cl 1.26),
tornando-o um acontecimento separado. Por outro lado, a Segunda
Vinda foi predita no Antigo Testamento (Dn 12.1-3; Zc 12.10; Zc 14.4).

Para o crente, o movimento no Arrebatamento é da terra para o céu,


enquanto que no Segundo Advento é do céu para a terra. No
Arrebatamento, o Senhor vem para os Seus santos (1Ts 4.16), enquanto
que, na Segunda Vinda, Ele vem com os Seus santos (1Ts 3.13). No
Arrebatamento, Cristo vem apenas para os crentes, mas Seu retorno à
terra vai causar impacto em todas as pessoas. O Arrebatamento é o
acontecimento do traslado/ressurreição no qual o Senhor levará os
crentes “à casa do Pai” nos céus (Jo 14.3), enquanto que, no Segundo
Advento, os crentes retornarão do céu para a terra (Mt 24.30). Ed
Hindson diz: “Os diferentes aspectos do retorno de nosso Senhor estão
claramente delineados nas próprias Escrituras. A única questão real no
debate escatológico é o intervalo de tempo entre eles”.[2]

Problemas da Posição Pós-Tribulacionista


Uma das forças do posicionamento pré-tribulacionista é que este
consegue melhor harmonizar os muitos acontecimentos das profecias
sobre o final dos tempos por causa de suas distinções entre o
Arrebatamento e a Segunda Vinda. Os pós-tribulacionistas raramente
tentam responder a tais objeções e os poucos que o tentam lutam contra
os textos bíblicos, terminando em interpretações forçadas. Os pré-
tribulacionistas não precisam se esforçar para fornecer as respostas.
Quais são alguns dos problemas da posição pós-tribulacionista?

Primeiro, os pós-tribulacionistas exigem que a Igreja esteja presente


durante a septuagésima semana de Daniel (Dn 9.24-27), embora ela
tenha estado ausente durante as primeiras sessenta e nove semanas.
Daniel 9.24 diz que todas as setenta semanas são para Israel. O pré-
tribulacionismo não está em conflito com esta passagem, como está o
pós-tribulacionismo, uma vez que a Igreja é levada antes do início do
período de sete anos.

Segundo, os pós-tribulacionistas são obrigados a negar o ensinamento


do Novo Testamento sobre a iminência – o fato de que Cristo pode voltar
a qualquer momento. O pré-tribulacionismo não tem problemas com isto,
uma vez que afirma que nenhum sinal ou acontecimento tem que
preceder o Arrebatamento.

Terceiro, o pós-tribulacionismo pré-milenar não tem resposta para o


problema sobre quem povoará a terra no Milênio, se o Arrebatamento e a
Segunda Vinda acontecerem juntos. Como todos os crentes serão
trasladados no Arrebatamento e todos os incrédulos serão julgados,
porque a nenhum injusto será permitido entrar do reino de Cristo, então
ninguém seria deixado em corpos mortais para povoar o Milênio.

Quarto, o pós-tribulacionismo não é capaz de explicar satisfatoriamente


o julgamento das ovelhas e dos cabritos depois da Segunda Vinda (Mt
25.31-46). O Arrebatamento teria removido os crentes do meio dos
incrédulos no retorno de Cristo, tornando o julgamento das ovelhas e dos
cabritos algo desnecessário. Por outro lado, esse julgamento é
necessário se o pré-tribulacionismo for verdadeiro.

Quinto, Apocalipse 19.7-8 identifica a Igreja como a Noiva de Cristo, que


se preparou e acompanha Cristo dos céus para a terra na Segunda
Vinda (Ap 19.14). Como isso poderá acontecer se a Igreja estiver ainda
na terra esperando pelo livramento de Cristo enquanto, ao mesmo
tempo, estiver voltando com Ele? Mais uma vez, o pós-tribulacionismo
requer um cenário impossível, enquanto as declarações claras do texto
bíblico se encaixam perfeitamente no pré-tribulacionismo.

Conclusão
As diferenças claras entre a vinda de Cristo nos ares para arrebatar Sua
Igreja e Seu retorno ao planeta Terra com a Igreja são grandiosos
demais para serem vistos como um acontecimento único. Essas
distinções bíblicas proporcionam um forte embasamento para o pré-
tribulacionismo. Quando consideramos que à Igreja está prometido o
livramento da tribulação de Israel (Rm 5.9; 1Ts 1.10; 1Ts 5.1-9; Ap 3.10),
então segue apenas que a Igreja será arrebatada antes da Tribulação.
Tal esperança é, deveras, uma “Bendita Esperança” (Tt 2.13). Vem,
Senhor Jesus! Maranata! (Pre-Trib Perspectives)

Notas:
1. John S. Feinberg, “Arguing for the Rapture: Who Must Prove What and How” in
Thomas Ice e Timothy Demy, editores, When The Trumpet Sounds (Eugene,
OR: Harvest House Publishers, 1995), p. 195.*
2. Edward E. Hindson, “The Rapture and the Return: Two Aspects of Christ’s
Coming” in Thomas Ice e Timothy Demy, editores, When The Trumpet
Sounds (Eugene, OR: Harvest House Publishers, 1995), p. 157 (ênfase no
original).*

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