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Discernir o chamado

(Luis María García Domínguez)


A realização madura da vocação pessoal exige daquele que a experimenta uma reflexão
prolongada, uma decisão ponderada e uma opção perseverante (13)
A Vocação, desde o ponto de vista cristão, é visto como um convite de Deus para a pessoa e em vista
do bem da comunidade, no qual a pessoa se esforça para perceber melhor esta inspiração recebida
para dar a melhor resposta possível para servir a comunidade cristã segundo o dom oferecido por
Deus. Como todo dom de Deus é em vista do bem de todo o seu corpo, é necessário que este dom
específico seja examinado, discernido e aprovado pela autoridade legítima desta comunidade
eclesial.
Existem muitos dons e diversos modos de servir a Deus. Este modo específico de servi-lo, o qual
chamamos vocação, tem diversas dimensões: a dimensão de consagração, fundada no nosso batismo,
pois é uma resposta a um convite pessoal de Deus para ser dele e viver com Ele de um modo
específico; a dimensão existencial, pois envolve todo o ser humano em toda as dimensões da sua
vida – espiritual, psíquica, corporal – e polariza unificando toda sua existência; a dimensão funcional
que o põe a serviço da comunidade de um certo modo de servir, seja no governo da comunidade, na
sua formação catequética, na oração.... O discernimento vocacional implica um exame de toda a
pessoa em todas suas dimensões e em todas as dimensões da vocação.

1. Discernir uma vocação


O discernimento vocacional não é só um processo psicológico, é sobretudo um processo de fé no
qual se busca captar o tipo e a autenticidade, as qualidades da chamada e em promover a
fidelidade a mesma. O discernimento busca distinguir a veracidade dos sinais vocacionais que
manifestam a autenticidade da vocação (chamada e resposta) do candidato para uma
determinada vocação. Tanto o candidato como seu acompanhante espiritual, devem entrar neste
discernir a vocação em uma ação conjunta com o Espírito Santo por meio da oração, da escuta da
palavra de Deus e do dialogo fraterno.
Discernir uma vocação implica para o candidato um exercício de busca da vontade de Deus sobre
ele e, ao mesmo tempo, um exercício de disposição livre de sua pessoa a realizar essa vontade
divina... Tanto o candidato como os representantes legítimos da Igreja têm como referência para
esse discernimento alguns sinais... critérios evangélicos e eclesiais, objetivados pela revelação e
pela tradição e propostos pela autoridade (19). Por isso, ao falar da vocação, é importante falar do
discernimento pessoal e dos critérios eclesiais para verificar se esta chamada é autêntica, mas
também da resposta pessoal e do modo de avaliar a existência de uma vocação.
1.1. Discernimento da vocação
Se pegamos a Sagrada Escritura, vemos que, por diversos modos, Deus chama pessoas diversas para
missões diferentes. Jesus mesmo chamou doze, aqueles que ele quis, colocou Pedro como autoridade
deixando uma certa estrutura na sua Igreja – tudo o que ligardes na terra será ligado no céu – e
deixando também diversos critérios aos apóstolos sobre o modo de agir na vida pessoal e no governo
da comunidade. Prometeu o Espírito Santo para que os conduzisse a verdade plena e os
acompanhasse naquele ministério. Assim, pouco a pouco, vai surgindo a comunidade eclesial
primitiva com um modo específico de ser e de obrar.
A Igreja primitiva começa a perceber tanto a necessidade de outras funções específicas como o surgir
de novos carismas dando origem a um processo de discernimento, de aprovação/desaprovação e
organização conveniente a serviço de toda a comunidade (cf. I Cor 12,14).
No início da vida consagrada não clerical na Igreja, S. Atanásio, escrevendo sobre a Vida de S.
Antônio, fala do modelo de vocação monástica livremente assumida, cuja característica principal é o
fato de ser uma resposta livre e generosa ao chamado do Senhor (Mt 6,34; 19,21)... que envolve
todas as dimensões da pessoa que se consagra, inteira e definitivamente, ao Senhor de sua vida
(21). Esta dimensão existencial engloba a mesma dimensão funcional do ministério ordenado, dado
que o ministro ordenado reflete o modo de ser e de viver de uma vida em Jesus, como dizia São
Paulo, um ser e um viver em Cristo (cf. Gal 2,20).
Segundo a visão antropológica cristã, cada pessoa é um ser em diálogo de amor contínuo com seu
Criador; um diálogo que tem seu início no momento da concepção e se estende por toda a vida.
Desde sua criação, a pessoa tem uma essencial imperfeição, uma disponibilidade e abertura a ser
interpelada pelo Outro que lhe criou para a comunhão. É neste diálogo onde Deus continua falando
ao coração do homem e mostrando o caminho da sua plenitude pessoal.
Esta é a razão pela qual alguns sentem o chamado a uma consagração particular aprofundando a
consagração feita a Deus de si mesmo no dia do batismo. Esse chamado a uma vocação de especial
consagração a Deus e ao serviço dos outros – Cristo chamou a si os que Ele quis para que estivesse
com Ele e para enviar a pregar onde Ele mesmo deveria ir – pode ser percebido de diversos modos:
por uma especial inspiração divina, um exemplo de algum consagrado, a experiência da adversidade
que suscita a compaixão pelos que sofrem, etc. (cf. Ex 3: a vocação de Moisés).
1.1.1 Discernimento Vocacional e Antropológico
A vocação é um dom e um mistério (JPII); é um dom de Deus e por isso é um mistério tão complexo
e tão íntimo; mas este dom é em vista do bem de todo o Corpo de Cristo. Por isso é ao mesmo tempo
um fenômeno eclesial, um chamado suscitado no interior de uma comunidade que vive sua fé e
suscitado em função do serviço da mesma comunidade; por isso toda vocação é confirmada pela
autoridade da comunidade cristã.
Discernir significa distinguir uma coisa de outra, para poder ver com mais claridade o que é isto
que eu me sinto inclinado/chamado a fazer; somente assim, conhecendo bem o que significa este
desejo, suas implicações e consequências, posso escolher com maior liberdade, decisão para coloca-
lo em prática com perseverança. Discernir implica uma análise da realidade (externa e interna do
candidato) segundo critérios objetivos em vista a decisões para viver segundo um estilo bem
concreto de vida (2312). Como a vocação é um dom de Deus, os critérios e as operações próprias do
discernimento não devem ficar em um nível meramente humano – aptidões para certo tipo de
profissão –, mas sobretudo deve tocar o nível espiritual. Por isso se necessita do discernimento de
espírito; em todo discernimento vocacional é necessário sentir e conhecer as várias moções que são
causadas no ânimo, as boas para receber e as más para rejeitar1.
Estamos falando de critérios sobrenaturais unidos aos critérios naturais da verdade, do bem e do
amor; são os valores cristãos, as perspectivas sobrenaturais, os critérios evangélicos. No
discernimento espiritual estão presentes diversas operações espirituais que permitem melhor dispor-
se a ação de Deus: a oração, as práticas de piedade, a vida sacramental frequente, o exercício moral
e espiritual da vida cristã, a mesma penitência.
1
I. Loyola, Ejercicios espirituales (3), em vocabulario de C. Dalmases, Sal Terrae, Santander 1990, 313.
Pela mesma estrutura antropológica, todo discernimento segue um seguinte esquema que vai da
percepção de um dom recebido, o chamado, a emoção, ao pensamento, ao juízo, a decisão
culminando com a ação. É esta percepção interna e externa que organiza a experiência humana
suscitando emoções, pensamentos e levando ao sujeito a considerar uma coisa como melhor ou mais
conveniente que outra, culminando finalmente com a decisão e a execução.
A matéria do discernimento tem sua origem na percepção que inclui já, certa elaboração da
experiência. A percepção do chamado de Deus passa pelos sentidos exteriores e interiores; a
memória traz consigo lembranças e experiências com uma riqueza emotiva dando a esta percepção
um certo significado histórico expandido; a experiência religiosa é cognitiva e afetiva, iluminadora,
dinamizadora e transformadora.
Os sinais vocacionais são percebidos como uma intuição pouca articulada como na fase do
apaixonamento. A possibilidade de ter vocação é sentida conforme o tamanho da força da atenção
que se dê a esta primeira percepção apaixonante. Somente depois virá os movimentos afetivos
correspondentes: sentimento da grandeza da vocação e/ou da inadequação pessoal (cf. Jer 1,4-10), a
dor pela renúncia (cf. Jovem rico), o amor confiado e a resistência, a alegria e a audácia (cf. Is 6,1-
13). O discernimento vocacional sabe acolher todos estes diferentes sentimentos e preocupações para
colocar-se junto a eles confiadamente nas mãos de Deus: “Senhor, que queres que eu faça?”
Após perceber os sinais iniciais, experimentar a diversidade dos sentimentos suscitados, colocar-se
livremente disponível ante Deus..., o discernimento busca descobrir o sentido destes movimentos
interiores, julgar sua origem e o lugar para onde apontam estas moções. Humanamente, o sujeito
precisa escutar e interpretar o que percebe, analisar o que sente, viabilizar o projeto, ver suas
vantagens e desvantagens. Mas isso não basta, pois a origem da vocação está em Deus. É necessário
um discernimento espiritual para tomar a decisão certa.
Santo Inácio fala de três tempos da eleição: inclinação firme da vontade que se move sem duvidar
do que quer escolher, o discernimento espiritual das moções interiores e o uso das potencias
intelectuais de forma tranquila e livre vendo os prós e contras. Em relação a eleição de vida, a
descoberta da própria vocação, ele recomenda o discernimento espiritual, embora também seja
humanamente recomendável ver os prós e contras (cf. I. Loyola, Ejercicios espirituales, em
Arzubialde, S. Ejercicios espirituales de San Ignacio – Historia y análisis, Sal Terrae, Santander
1991, 375-402).
Antes de entrar no discernimento espiritual vocacional, vamos falar da importância e do papel de um
acompanhamento devido, o diretor espiritual.
1.1.2 Discernimento acompanhado
Ninguém é bom juiz na própria causa! Não é algo ousado discernir um dom que vem de Deus? Como
fazer para saber que o que se sente é objetivo ou é algo da minha cabeça? O diretor espiritual é
fundamental neste papel. Sua função é garantir as condições para que o dirigido faça um bom
discernimento, ademais de fazer seu discernimento sobre esta vocação. É necessário recolher bem
os dados, estabelecer o ritmo dos tempos e processos, orar; ajudar a que seu dirigido se conheça bem,
que sinta, pense e julgue segundo os critérios evangélicos, a que se disponha a receber aquilo que
Deus quer da-lo, que distinga bem o dom recebido e se decida a colocar em prática com perseverança
o dom recebido por Deus.
O diretor espiritual não deve somente examinar se existe as qualidades objetivas necessárias, a
idoneidade, e ver se a intenção é reta e a resposta adequada... Se ficar somente nesta análise, ele não
chegará a discernir a vocação, a verdade ou não do chamado divino, mas se limitaria às qualidades e
capacidades que a pessoa tem para responder um eventual chamado de Deus. A avaliação
vocacional pretende dar uma palavra tanto em relação ao chamado quanto em relação a resposta,
tanto as moções sentidas quando aos dados da personalidade que concordam ou desentoam com estas
moções. Analisa também a consistência interior ou a sua falta no sujeito para viver e dar uma
resposta adequada a esta proposta de vida.

1.2 Critérios eclesiais da vocação


Para um bom discernimento, é necessário saber quais os critérios eclesiais das diversas vocações. O
candidato é membro vivo da Igreja; foi em seu seio onde foi suscitada, nascida, alimentada e crescida
esta vocação específica.
1.2.1 Critérios para o ministério ordenado
O mesmo Código de Direito Canônico enumera as condições de admissão ao ministério ordenado na
Igreja (cf. CDC 241, 235; 245-252; 255-258; 276-277)2. Fala também de irregularidades e
impedimentos (CDC 1024-1039; 1040-1051)3.
Dando por suposto a ausência de irregularidades, impedimentos, e cumprindo os requisitos
canônicos, resumidamente é necessário: fé íntegra, reta intenção, liberdade plena, adequada
idoneidade. Em relação a fé íntegra, é necessário ter uma formação cristã suficiente – conhecimento,
aceitação e uma vida segundo esta fé – que poderá ser completada posteriormente.
Sobre a liberdade para escolher a própria vocação, é necessário tanto a ausência de medo grave
exterior, mas também interior – pressões psicológicas –: capacidade de autodomínio,
autodeterminação, autonomia responsável manifestada nas opções feitas e na vida até então vivida.
A reta intenção na opção pelo ministério ordenado é a entrega total da própria vida a Deus, ao seu
serviço e ao serviço dos irmãos, e não por outros motivos de utilidade pessoal. Essa reta e correta
motivação é formada em uma relação pessoal com Cristo; é somente o amor a Deus e aos irmãos, a
vontade firme para se consagrar a ser todo e exclusivamente para o Senhor a motivação de tal
escolha.
1.2.2. Idoneidade e aptidão
A Igreja entende que Deus dá as qualidades a quem chama para uma missão (cf. S. Th., III, 27 a. 4c).
Para ser sacerdote, é necessário uma capacidade de fazer uma opção de vida definitiva e de
desenvolver o ministério de modo frutuoso (36) sendo um bom pastor que a dá vida pelas suas
ovelhas a exemplo do Bom Pastor. Para isso, é necessário saúde física e psíquica, dotes intelectuais,
maturidade humana, maturidade específica afetiva e sexual, assim como dotes humanos e morais
(36).
2
Recomenda-se ler estes números. O Bispo diocesano só admita ao seminário maior aqueles que, pelos seus dotes
humanos e morais, espirituais e intelectuais, saúde física e psíquica, e ainda pela vontade reta, sejam julgados aptos
para se dedicarem perpetuamente aos ministérios sagrados (CDC 241,1).
No seminário, a formação espiritual e a instrução doutrinal dos alunos harmonizem-se e orientem-se de tal modo que
eles, segundo a índole de cada um, juntamente com a maturidade humana adquiram o espírito do Evangelho e a união
íntima com Cristo (CDC 244).
3
Recomenda-se ler estes números. Somente se promovam às ordens aqueles que, segundo o prudente juízo do Bispo
próprio ou do Superior maior competente, ponderadas todas as circunstâncias, tenham fé íntegra, sejam movidos de
reta intenção, possuam a ciência devida, boa reputação, integridade de costumes, virtudes comprovadas e bem assim
outras qualidades físicas e psíquicas consentâneas com a ordem a receber (CDC 1029).
É preciso que sejam pessoas saudáveis sem defeitos físicos ou doenças que possam dificultar
gravemente seu ministério em sua dimensão sacramental e na dimensão pastoral de ensinar e
governar (36-37). O seminarista deve contar com uma inteligência suficiente para chegar aos
conteúdos culturais, filosóficos e teológicos necessários para o ministério e para compreender o
fundo das questões, manejando conceitos abstratos e chegando a convicções pessoais (38).
Homens equilibrados: só podem ser ordenados os que possuírem qualidades psíquicas congruentes
com a ordem que vão receber (CDC 1029); implica ter a capacidade para um consentimento livre e
consciente e para assumir as obrigações inerentes ao ministério. Maturidade psíquica implica reger-
se pela inteligência e pela vontade devidamente integrados, em vez de deixar-se governar pelas
tendências, necessidades, sentimentos, pelo mesmo inconsciente. A maturidade afetiva se mostra na
liberdade para um justo sentir e desejar, efeito da integração das forças motivadoras interiores
(39). A maturidade sexual, parte da maturidade afetiva, supõe a superação das diferentes etapas de
desenvolvimento, que alguns descrevem como a passagem do narcisismo homossexual à
heterossexualidade e do amor egoísta ao amor oblativo (40; cf. A. Cencini, Por amor, com amor, em
el amor, Sígueme, Salamanca (5), 908-934).
Sobre as aptidões morais, implica que o candidato seja um homem virtuoso: ser bom e fazer o bem.
Essa pessoa decide pelo bem e age coerentemente de modo a criar hábitos virtuosos que lhe
proporciona escolher e agir sempre no bem com mais facilidade, satisfação e criatividade diante das
diversas situações que a vida lhe apresenta.
Sobre as qualidades espirituais e sacerdotais daquele que vai ser configurado com Cristo Cabeça,
Pastor e Esposo (PO 14), implica a capacidade de uma internalização dos valores finais e
instrumentais do sacerdote que lhe permitam objetivamente ser santo (40). Supõe uma vida de
intimidade com Jesus Cristo na oração pessoal de tal modo que alcance uma piedade sincera de
acordo com as leis da Igreja que lhe permita viver uma relação viva com Cristo, a quem entregará
toda sua existência e com quem configurará seu modo de ser e obrar, com aquele que veio para
servir e dar a vida em resgate por muitos.
Diversos documentos eclesiais falam de diversas qualidades humanas necessárias ao candidato: o
sincero e humilde conhecimento de si e das próprias qualidades, a aceitação da própria história e
limitações, a capacidade de juízo crítico sobre si e sobre a realidade; a capacidade de controle, de
aceitação das frustrações, de trabalho perseverante e realista; capacidade de diálogo, tolerância,
trabalho em equipe; capacidade para tomar decisões livres e responsáveis; a coerência de vida e o
equilíbrio.
O juízo vocacional não se pode verificar mediante a comprovação quantitativa de sinais da chamada
e das qualidades necessárias para poder responde-la de modo pleno; precisa-se uma integração
orgânica e hierarquizadas destes sinais no candidato. Para poder analisar de modo orgânico a
possível vocação, propõe-se primeiro observar a existência de possíveis impedimentos à vocação
concreta, avaliar a presença, a força e a coerência dos valores cristãos e vocacionais no candidato: o
chamado vocacional, a fé íntegra, reta intenção e idoneidade espiritual e moral. Depois, é necessário
identificar a motivação vocacional consciente em relação as inconscientes e fazer um quadro das
diversas qualidades necessárias que possui para viver em um determinado carisma (46 47).
1.2.3. Critérios para vida consagrada.
O CDC 642-643 exige que quem queira entrar na vida religiosa seja um fiel católico (batizado), com
idade superior aos 17 anos, não atualmente casado, não pertencente a outro Instituto (nem ocultar
incorporação anterior, caso exista), a entrada livre por parte do candidato e do superior (sem
violência, medo grave ou engano); a reta intenção buscando entrar para a maior glória de Deus, bem
das almas, maior união com Deus e seguimento de Jesus Cristo. As qualidades necessárias, similares
as que vimos acima, podem ser resumidas em saúde física, psíquica, maturidade necessária, boa
índole (cf. 42-43), ademais das qualidades especificas para viver o carisma específico da
Congregação/Instituto a que se sente chamado.
2. A contribuição da psicologia na realização da própria vocação
2.1. Critérios psicológicos de maturidade humana
Dependendo da sua visão antropológica e da sua abordagem, pessoa sadia, normal, equilibrada... são
os diversos modos da psicologia falar de maturidade. Saúde mental, ademais da ausência de
sintomatologia psicopatológica, implica a resistência ao estresse e à frustração, a autonomia
intelectual e afetiva, a correta percepção da realidade, a atitude positiva em relação a si e aos outros,
a capacidade de ajuste as demandas do ambiente, competência, uma vida cheia de significado e
compromisso, a resiliência que é a capacidade de reação e recuperação após um trauma (cf. 65-68,
70-71).
Martin Seligman formula seis características da pessoa positiva e resistente. A primeira se refere a
forças cognitivas para aquisição e o uso do conhecimento para compreender o mundo e ajudar os
outros a compreendê-lo melhor: interesse pelo mundo, amor pela aprendizagem, pensamento crítico,
mentalidade aberta e capacidade de juízo e de mudar as próprias idéias em base a evidência;
criatividade, perspectiva.
A segunda se refere a forças emocionais que facilitam a consecução de metas diante das
dificuldades exteriores ou interiores: coragem diante da ameaça, da mudança, da dor; capacidade de
defender a postura que crê correta e obrar segundo as próprias convicções; enfrentar a vida com
energia, perseverança e diligência obtendo satisfação nas obras empreendidas e bem terminadas;
autenticidade caminhando sempre na verdade e na responsabilidade das próprias ações.
A terceira se refere a forças interpessoais: humanidade, capacidade de relações profundas, de amar
e ser amado; simpatia, amabilidade, inteligência emocional sendo consciente dos próprios
sentimentos e dos sentimentos dos outros, empatia.
A quarta se refere as forças cívicas: justiça, lealdade, capacidade de trabalho em equipe; capacidade
de tratar as pessoas com a mesma dignidade; capacidade de liderança e organização.
A quinta se refere às forças que nos protegem dos excessos: moderação, capacidade de perdoar
dando uma segunda oportunidade sem ceder a vingança ou rancor; humildade sem buscar ser o
centro de atenção nem julgar-se especial; prudência nas decisões, disciplina nos próprios impulsos,
reações e ações.
A última característica de uma pessoa resistente se refere às forças que provêm a vida de
significado: a transcendência, apreço pela beleza das coisas; gratidão e esperança; sentido religioso
enquanto pensar que existe um propósito e um significado naquilo que ocorre no mundo e na própria
existência (cf. M. Seligman, La autêntica felicidade, Byblos, Barcelona 2005, 203s).
2.2 Antropologia da vocação cristã
A liberdade para a autotranscendência no amor supõe que a vocação divina é um chamado à
pessoa em sua totalidade; supõe que é um sim pessoal a Deus, uma disponibilidade para uma
missão salvífica universal; e supõe que a totalidade da disponibilidade se concretiza na aceitação
dos... valores de união com Deus objetivos e revelados (Mt 7,21-26; I Jo 5,2)4 e o seguimento de

4
Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas sim
aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus (Mt 7,21). Nisto conhecemos
que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos os seus
mandamentos (I Jo 5,2). 
Cristo amando como ele nos amou (Jo 13,34-35) 5, assim como os valores instrumentais do
seguimento de Cristo pobre, casto e obediente. (78-79)
Os constitutivos essenciais de uma pessoa com vocação compreendem estruturas, conteúdos e
dialéticas. A estrutura do eu-ideal é constituído pelos ideais pessoais e propostos pela vocação
cristã que o indivíduo escolhe realizar. O eu-atual é formado pelo conceito que a pessoa tem de si,
de seus atos singulares e como membro de um grupo, pelas características da própria personalidade
que conhece de si e aquelas que ainda não conhece.
Os conteúdos do eu são os valores ideais da sua existência – valores finais – e modos ideais de
comportamento. A união com Deus, o seguimento de Cristo, os valores da pobreza, castidade e
obediência constituem o ponto de referencia para entender a autotranscendência do amor da vocação
cristã (79-80).
As necessidades são tendências à ação fruto de um déficit do organismo ou de potencialidades
naturais inerentes que buscam realizar-se (80); elas podem ser neutras ou dissonantes à vocação
cristã chegando a formar inconsistências. É dos valores e das necessidades pessoais que se vem a
formar as atitudes da pessoa. A atitude é um estado mental pronto a um responder organizado
segundo as experiências e que exerce uma influência diretiva sobre a atividade mental e física; é um
modo estável de responder e atuar segundo as diversas situações que a vida oferece (80-81).
A atitude de ajuda aos outros pode ter seu fundamento nos valores da caridade cristã formando uma
consistência, um acordo entre o eu ideal e o eu-atual ou ser motivado por uma dependência afetiva
formando uma inconsistência, onde, mais que dar, busca-se receber. Nesta dialética do eu, o eu-ideal
é sempre consciente, mas o eu-atual pode ser consciente ou até subconsciente. A relação entre os
valores, atitudes e necessidades formam quatro tipos de consistências ou inconsistências psíquicas
(AVC 1, 205-209; 295-306; AVC 2, 32-34). A inconsistência psicológica se dá quando uma
necessidade é compatível com os valores, mas não com a atitude habitual. Uma in/consistência pode
ser central, se este atributo do eu é importante para o eu ideal e para a consecução dos próprios fins
(fim vocacional), para o eu-atual (enquanto objeto de forte atração ou repulsão afetiva, seja no nível
consciente ou inconsciente) e se existe uma inadequação das forças para controlar suas
manifestações. Aplicado isso a vocação, a primeira dimensão tem como horizonte próprio os valores
autotranscendentes e conduzem a virtude ou ao pecado. A segunda dimensão tem como horizonte
próprio os valores autotranscendentes e naturais combinados dispondo ao bem real ou ao bem
aparente. As três dimensões podem ter uma influência sobre a liberdade do homem para a
autotranscendência teocêntrica e para a vocação, seja de forma consciente (a primeira), de modo
subconsciente (a segunda) ou de forma patológica (a terceira) (84).
O sistema motivacional humano pode favorecer ou dificultar ao chamado vocacional influindo sobre
a liberdade e sobre o sistema de simbolização, principalmente os valores objetivos de Deus e os
valores subjetivos.
2.3. Aplicação da teoria à vocação
Podemos distinguir quatro passos do caminho vocacional: o dom e mistério do chamado de Deus
que fala ao coração humano mediante a graça e convida a ordenar a vida no amor de Deus; a
cooperação do homem que busca conhecer melhor este mistério. São percebidos por favor divino,
5
Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis
amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos
amardes uns aos outros (Jo 13,34-45).
valores antes não percebidos gerando toda a ressonância emotiva. O terceiro momento é a decisão de
empreender ou não o caminho optando pelos ideais vocacionais. O último momento é o processo de
integração deste eu em todos os elementos da personalidade no exercício diário de uma liberdade
efetiva que se transcende com a vida de Cristo.
Para que se dê esta integração, é necessária que os valores autotranscendentes sejam integrados às
disposições conscientes a virtude e a santidade; superado o pecado pela virtude, o segundo nível de
progresso se refere ao servir a Deus segundo um bem real implicando as dimensões conscientes e
subconscientes. Finalmente se busca a união de amor com Deus por si mesmo chegando a uma
entrega total de si ao Outro e aos outros com liberdade de si mesmo internalizando os valores de
Cristo. É necessário que o eu-ideal se integre ao resto da personalidade apropriando-se (fazendo-os
próprio) dos valores de Cristo, aceitando-os pelo valor que tem em si mesmo, não tanto pelas
vantagens que poderiam trazer a mim (87-88).
A maturidade na primeira dimensão (horizonte dos valores transcendentes e ideais) que exige
considerar não só o conteúdo (o quê) dos valores, mas também sua função (o porquê), aceitando e
vivendo-os pela sua importância intrínseca não tanto pela vantagem pessoal para favorecer a
internalização ou interiorização. A imaturidade na segunda dimensão atua como resistência a
internalização; o candidato não é consciente das suas frustrações e por isso as repete buscando
algum tipo de compensação na sua opção vocacional criando assim um círculo vicioso pois essas
gratificações não solucionam sua ansiedade. Também favorece a internalização ter expectativas
realistas e adequadas.
Pelo contrário, dificulta o crescimento vocacional a complacência no qual extrinsecamente se aceita
ou muda uma atitude ou valor para conseguir uma vantagem ou evitar um dano e a identificação no
qual se adotam atitudes e ideais não tanto pelo valor intrínseco, mas porque são importantes para a
pessoa que o adota (o tema da pureza de intenção). S. Inácio de Loyola diz à respeito: é preciso que
todos se esforcem por ter a intenção reta não apenas acerca do estado de sua vida, mas ainda de
todas as coisas particulares, sempre pretendendo nelas puramente o servir e o comprazer a Divina
Bondade por si mesma e pelo amor e pelos benefícios tão singulares para os quais nos predispôs
[internalização ou identificação internalizante], mas que por temor de penas ou esperança de
prêmios [complacências], embora disso devam também obter ajuda; e que sejam exortados amiúde
a buscar em todas as coisas Deus, Nosso Senhor, afastando, na medida do possível, de si o amor a
todas as criaturas [identificação não internalizante], por colocar esse amor no criador delas, a Ele
em todas amando e a todas Nele, conforme sua santíssima vontade (92).
A motivação humana é teleológica (em vista de um fim...) e axiológica (... para a realização de um
valor) porque tende a autotranscendência teocêntrica; quando o cristão escolhe sua vocação, tende
mais a autotranscender-se que a autorealizar-se. Por isso, a infidelidade nas atitudes
(comportamentos concretos) suscita menos sentimento de culpa que a infidelidade nos valores; por
isso também descuidamos mais das atitudes que dos valores. Porém, quanto mais uma pessoa for
inconsistente, será mais influenciado pelo ambiente.
3. Entrevista e avaliação vocacional
Para poder ajudar a discernir e a compreender melhor o chamado, se busca recolher os dados
pessoais necessários seguindo o método de entrevista profissional. Assim se pode compreender o
ambiente onde se origina a vocação e identificar os sinais vocacionais no quadro de toda a vida ao
longo do seu desenvolvimento humano, intelectual, religioso e vocacional. Isto é essencial para quem
faz o acompanhamento vocacional, mas também para que a pessoa possa compreender melhor o
próprio chamado.
3.1. Metodologia da entrevista: entrevista, testes psicológicos, elaboração de dados, relatório final
Na entrevista, é necessário: fazer anotações transcrevendo com a maior fidelidade literal possível, ir
em profundidade, fazer um resumo final junto com o candidato vendo o seu parecer. Não esquecer de
tomar em conta as impressões da entrevista.
- Ficha de identificação
- situação vocacional presente e evolução vocacional (verificando a presenta/ausência dos temas
vocacionais, da relação com Jesus/Deus); problema que lhe preocupe no presente; perguntas abertas
existenciais
- história familiar: ver sistematicamente as figuras paternas e maternas e outras figuras parentais
(caso hajam: avós, tios); ver a relação com eles, com os outros (socialibilidade), valores, educação,
autonomia, autoestima, confiança, as manifestações afetivas (infância, adolescência, presente), suas
manipulações e agressividades
- história pessoal: sentimentos, pensamentos, imagem de si, amizades (relações entre iguais,
superiores, inferiores, sua importância para a pessoa, a capacidade de amar/confiar, entregar-se e
estabelecer relações profundas); mundo acadêmico e laboral; êxitos e fracassos, responsabilidade,
perseverança.
- sexualidade: identidade sexual segura (?) e maturidade psicossexual, manifestações sexuais em
pensamentos e atos que reflitam a necessidade psicológica de dependência, exibicionismo,
agressividade/domínio; qual a influência da Cultura de permissivismo, falta de compromisso e de
educação para o amor/doação; integração da sexualidade (vocação ao amor) em toda a pessoa. O
celibato pelo Reino dos céus requer uma opção serena, livre e madura/consciente sem repressão nem
complexos nem expectativas ingênuas sobre a facilidade e fidelidade com tal compromisso.
- traços de personalidade manifestados na visão de si (autoconceito), ideais, projetos, em
pensamentos, sentimentos e comportamentos:
* Visão de si (eu-ideal): como é agora (eu-atual consciente), o que gosta/desgosta de si, como os
outros lhe veem; qual é a concepção (o que significa para ti?) e vivencia dos valores/ideais cristãos e
religiosos
* Sentimentos mais frequentes (quais são, de onde vem, o que se faz com eles?): tristeza, alegria,
amor/ódio, ciúme, inveja, frustração, culpa, ansiedade
* Uso do tempo: como o utiliza?, quais são seus valores (seus 3 maiores desejos, o que faria se
ganhasse na loteria, como se vê em 10 anos?)
* Identificação: com quais personalidades/pessoas se identifica?
* Sonhos: quais são seus sonhos a “olhos aberto” e quando dorme?

- narração completa da história da vocação (após a narração da história pessoal): família, início,
medo, falhas, fidelidade, alegria/paz, certezas
- Experiência de Deus: como é Deus para a pessoa? como reza? Como vive sua vida cristã,
sacramentos, compromisso pastoral/apostólico (não só o que faz, mas qual a ressonância interior de
significado, por quê o faz?)?
- atração carismática (o quê e por que?), opinião sobre o Instituto, sobre a formação, votos, vida
comum, evangelização, carisma.
3.2. Segunda entrevista
É possível ter outra entrevista para completar/verificar a informação, gerar sentimentos, sentido,
confrontação/interpretação e proposta. Também se pode aplicar algum teste psicológico
3.3. A avaliação vocacional
Em vista a elaborar os dados obtidos na entrevista e ver suas qualidades. Sabendo que a graça de
Deus, a vontade pessoal e os ideais/valores não são medidos pelos testes psicológicos, busca-se um
diagnóstico de toda a vida vivida do candidato.
Busca-se conhecer o eu ideal (valores), eu-atual/real (necessidades), as dialéticas (virtude/pecado,
consistência/inconsistências, normalidade/psicopatologia) e comprovar se o valor/ideal cristão-
vocacional é real/constatado, vivo e vivido/operante. Passos:
- indagar possível presença de impedimentos, irregularidade canônica e psicopatologica
- descobrir quais são seus principais valores (que lhe movem na vida, pois esta é a base que guiará
suas decisões; um valor predominante se transforma num critério existencial de vida), ideais,
atrações predominantes (transcendentes, religioso [união com Deus], cristão [seguimento de Cristo],
consagrado/vocacional [seguimento de Cristo em pobreza, castidade, obediência, vida fraterna
comum, missão/ministério]).
- Maturidade cristã e vocacional (como estes valores são vivido afetiva e efetivamente?): suas
virtudes/pecados, chamada a santidade e progressiva transformação em Jesus, reação a Palavra viva
de Deus, resposta a graça divina...
*1ª dimensão: internalização/interiorização dos valores: valor feito próprio por motivo da
essência do mesmo valor e não por outros fins (complacência, identificação)
*valor das provas (como se viveu os momentos de provações?): verifica a autenticidade da
presença e da consistência dos valores. A vocação é germinal (chamada a crescer) e
vulnerável (ao ambiente porque se apoia em valores evangélicos e naturais).
* in/consistências vocacionais: qual é a relação entre os valores e as necessidades, eu-
ideal/atual, coerência de vida; se o valor conhecido e querido é vivido embora com a fraqueza
humana esporádica e com o combate espiritual... ou não.
*2ª dimensão. Bem real ou aparente? Quais são suas motivações naturais, suas necessidades
básicas e a relação entre as duas?
+necessidades dissonantes: agressividade, dependência afetiva, evitar o perigo,
complexo de inferioridade, exibicionismo, gratificação sexual, necessidade de
humilhação, inferioridade exagerada.
- se inconscientes, podem impedir a autotranscendencia vocacional; se
conscientes, levam a luta espiritual.
- uma necessidade pode gerar muitas atitudes afins
- qual a relação entre os principais valores vocacionais e as inconsistências?
Na vida real, qual é mais forte?
-qual a necessidade dissonante central que leva a inconsistência central? Tem
alguma dinâmica não controlada pelo sujeito? O valor vocacional é
significativo/importante para o eu atual?

+necessidades neutras: afiliação, ajuda aos outros, conhecimento, domínio, êxito,


ordem reação
+ necessidades não dissonantes: aceitação social, adquisição de autonomia, mudança,
sensibilidade, jogo, deferência
*Diante das tensões/inconsistências, o candidato os enfrenta com mecanismos de adaptação ou
defesa (imaturidade)?
+ os principais mecanismos de defesa são: pietismo, racionalismo; defesa de conteúdo: uso
das necessidades ou potencialidades não dissonantes para gratificação; mecanismo de defesa
primitivo (repressão, tentar distorcer parcialmente a realidade por meio do raciocínio).
+emoções disfóricas: ansiedade, tristeza, culpa, orgulho... mostram que a tensão não se
resolve de modo satisfatório acabando em conflitos psicológicos ou vocacionais.
*as necessidades centrais e as escolhas dos mecanismos de defesa geram estilos de personalidade
defensivos onde predomina a cabeça (por meio da ideação), o coração (por meio da
afetividade/emotividade), ou as mãos (por meio da atividade).
*sinais estruturais de patologia psicológica (é necessário um diagnóstico estrutural do sujeito
segundo um continuum que vai do psicologicamente normal, a uma leve desordem da personalidade
sem desorganização, com desorganização [borderline], com profunda desorganização [psicótico]):
difusão de identidade por meio de uma pobre integração dos aspectos contraditórios do eu;
mecanismos primitivos de defesa (repressão); menor capacidade de prova da realidade.
*Qual a influência do ambiente e da família?
* Maturidade vocacional:
+qual é/foi a incidência da vocação no desenvolvimento moral e de fé: uma experiência viva
de Deus, um projeto de vida, uma abertura à vida eterna, desejo de maior entrega/autodoação
+diante dos desafios da vida: internalização, identificação, complacência
+analisar os fatores existenciais porque indicam a unificação de energias a servido de Deus e
da sua glória: qual sua constância no estudo, trabalho, missão? Como é sua
fidelidade/qualidade na relação com Cristo e na vivência da castidade? Qual a capacidade de
relações interpessoais equilibradas entre iguais, superiores e inferiores?
*Síntese e conclusões que contenham o horizonte predominante dos valores que movem seu
obrar/existir cotidiano, principais problemas/dificuldades pessoais e vocacionais, um juízo global
sobre a capacidade de resposta livre (intencionalidade e vontade). Não pode faltar:
+ausência de impedimentos canônicos
+idoneidade: saúde física e psíquica suficiente, exclusão de patologia psíquica que implique
desorganização da personalidade; inclui um desenvolvimento adequado a idade e as
qualidades humanas necessárias para a vocação
+Fé integra e suficiente virtude: presença de valores cristãos e vocacionais conhecidos,
sentidos afetivamente e vividos na vida
+motivação reta: predomínio das consistências sobre as inconsistências (ausência de uma
motivação na escolha vocacional baseada principalmente nas necessidades dissonantes
inconscientes centrais)
+liberdade psíquica: ausência/escassa presença de enganos vocacionais; as dinâmicas
subconscientes que incidem sobre na vocação devem ser detectadas e acompanhadas pelos
formadores
+suficiente maturidade existencial constatada no predomínio da internalização diante da
complacência ou identificação não internalizante. suficiente maturidade existencial medida
para o exercício da sua vontade a serviço de sua intencionalidade vocacional consciente,
especialmente nas áreas mais significativas: relações, oração, trabalho.
5. Relatório e seguimento
5.1. Prognóstico favorável: capacidade e vontade de internalizar
- Normalidade psíquica: também são critérios desfavoráveis a fragilidade psíquica, estilos de
personalidade mais rígido (narcisista, paranoide) ou mais superficial (antissocial, histriônico).
- Maturidade e qualidades pessoais, especialmente a riqueza afetiva e bom desenvolvimento
intelectual.
- vontade eficaz, plasticidade e flexibilidade a fim de adequar/modificar atitudes e priorizar objetivos
- boa capacidade de introspecção e conhecimento de si, de compreensão intelectual e afetiva das
motivações e tensões pessoais; desejo de superação
-boa capacidade de relação e disponibilidade em deixar-se ajudar (boa colaboração com o
entrevistador)
- ter um ambiente estruturado que lhe permita um adequado desenvolvimento humano e vocacional:
vida de trabalho e convivência, oração e estudo, reflexão e intercâmbio.
- qualidade e boa formação/educação e vivência dos valores cristãos e vocacionais
-existem problemas não compatíveis com o início da formação, pois ser requer um tempo prolongado
para resolvê-los e para verificar que se mudou de forma mais ou menos estável: patologias psíquicas
como neuroses imobilizantes, transtornos patentes de personalidade, situações depressivas,
imaturidade afetiva ou sexual, problemas fortes de identidade sexual; falta de fé suficientemente
formada e personalizada ou incoerência patente em sua vida/virtude cristã (pecados habituais).

5.2. Relatório oral ao candidato


Pronunciamento claro sobre a presença, a autenticidade e a viabilidade da vocação, ademais do
pronunciamento sobre as questões que mais preocupam o sujeito no presente
- alusão a responsabilidade pessoal, aos problemas surgidos, as qualidades e valores presentes, a
psicodinâmica motivacional, as necessidades e defesas pessoais, conflitos, psicodinâmica vocacional
e propostas.
- alusão aos valores que regem sua vida, aos sinais vocacionais, as qualidades e seu exercício:
transcendentes (religiosa, moral), naturais, capacidade de reagir aos problemas/desafios
- o passado não determina, mas explica e até pode condicional o presente. Para compreender melhor
o eu-ideal e atual, ajuda muito escutar um relato da história pessoal e ver a psicodinâmica (e outras
necessidades e defesas) atuais buscando as centrais.

5.3. Relatório escrito à Instituição


Ademais da permissão escrita do candidato, deve conter:
- situação vocacional presente e principais problemas levantados
- elementos relevantes da história pessoal (e familiar)
- principais qualidades e limitações
- a resposta aos valores autotranscendentes morais, religioso, vocacionais (presença/ausência,
proclamação/vivência consciente); resposta ao chamado e suas dificuldades (e causas de resposta
consciente e livre, ou de imaturidade humana ou psíquica, ou derivado do bem real/aparente);
- 2-3 necessidades mais fortes e mais ou menos reprimidas e a sua relação com a vocação;
- mecanismos de defesa e outras características psicológicas (estilo, fragilidades psicológicas)
- recomendações.

5.4. Acompanhamento espiritual


Ajuda para o encontro com Deus e a uma resposta consciente e livre a sua Vontade, a transformação
em Cristo. Exige uma opção existencial por Cristo na própria vocação e uma abertura ao diálogo
sincero.
A pedagogia vocacional deve ajudar ampliar horizontes: cognitivo de sentido como Abraão; animar
decisões volitivas vitais como Jacó; abrir-se a consolação afetiva humana e do Espírito Santo.
-acompanhar a vocação primeira (discernida e aceita), vivida como enamoramento, encontro íntimo
que suscita admiração, agradecimento, ânimo, consolo. Pode entende-la racionalmente, mas não
quere-la afetivamente. Deve-se buscar ajuda-lo a abrir-se a Deus e ao seu mistério, a oração, ao
serviços aos demais, às rupturas necessárias para seguir pessoalmente a Cristo.
-acompanhar a crise da infidelidade (experiência de culpa e perdão): buscar um encontro vivo e
vivificador com a misericórdia divina para poder reconciliar-se consigo mesmo e com os demais.
Buscar as raízes centrais (motivações e necessidades) dos pecados.
-acompanhar rumo ao seguimento lúcido e consistente.

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