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A ARTE DE PURIFICAR O
CORAÇÃO
2a edição – 2007
Spidlík, Tomás
A arte de purificar o coração / Tomás Spidlík ; [tradução Euclides
Martins Balancin]. — 2. ed. — São Paulo: Paulinas, 2007. — (Coleção água
viva)
Paulinas
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5
Índice
Índice........................................................................................3
Introdução................................................................................9
1. O mistério do bem e do mal............................................11
De onde provém o mal?...................................................11
Podemos aceitar a explicação do dualismo cósmico?..12
Todavia, em nossa carne, como diz são Paulo (cf. rm 7),
oculta-se o pecado; a carne se opõe ao espírito. Como
devemos entender essa oposição?..................................12
Como os antigos filósofos estóicos e também a moral
cristã ensinam a domar as paixões. São estas, então,
que devem ser consideradas como um mal?................13
Então, segundo o ensinamento cristão, o que deve ser
considerado “mal”? Quem é responsável por ele ter
vindo ao mundo?..............................................................14
No entanto, há no mundo tantos males dos quais não
nos sentimos culpados!....................................................14
2. A serpente no paraíso do coração...................................16
Qual a origem do pecado? Como interpretar a
narrativa bíblica sobre a serpente no paraíso?..............16
Como é que um simples pensamento pode causar o
mal?.....................................................................................16
Donde provêm tais impulsos para o mal?....................17
Todavia, no evangelho está escrito que o mal provém
do coração e não das coisas externas (mt 15,19). E
então?..................................................................................18
Então, vivemos sempre expostos às tentações.............18
Apesar disso, estamos internamente divididos. Isso
não é agradável. E, talvez, até mesmo cansativo.........19
Onde podemos encontrá-las?..........................................20
Essas experiências dos antigos monges ainda são
acessíveis e úteis às pessoas de hoje?.............................21
Costuma-se dizer que o verdadeiro pecado só acontece
quando intervém o livre consentimento que se dá ao
pensamento mau. Mas como saber, com segurança, se
consentimos livremente ou não?....................................21
O que é sugestão?..............................................................22
O que quer dizer “colóquio”?.........................................23
Por que o combate vem somente em terceiro lugar?...24
O que é consentimento?...................................................24
O que é paixão?.................................................................25
Então, só se chega ao pecado no quarto estágio?.........26
3. A vigilância do coração....................................................28
Sede vigilantes...................................................................28
O exemplo de Jesus...........................................................29
“Contradizer”....................................................................30
A força do nome de Jesus................................................31
Não seria melhor chamá-la de oração “a Jesus”?.........32
Podemos dizer que desse modo se eliminam as
sugestões para o mal?.......................................................33
A “sobriedade espiritual”, a atenção.............................33
É possível ficar sempre atento? Quem pode evitar as
distrações?..........................................................................34
Como educar-nos para estarmos atentos?.....................35
O ideal apatheia dos cristãos............................................36
Quatro paixões fundamentais.........................................37
Podemos eliminar todas as paixões? Além disso: Seria
bom tornar-nos completamente insensíveis?................38
Então, em que sentido devemos entender a apatheia tão
louvada pelos padres gregos?.........................................40
A apatheia e a caridade......................................................40
4. O discernimento dos espíritos........................................42
Rejeitar os pensamentos? Não todos, certamente!.......42
Por que se fala de “espíritos”, quando se trata de
pensamentos?....................................................................42
Quem é capaz de distinguir os bons dos maus
pensamentos?....................................................................43
Ainda existem profetas capazes de interpretar a voz de
deus?...................................................................................44
mas quem tem um pensamento suspeito não o revela
de bom grado a uma outra pessoa!................................45
Como é possível contar ao padre espiritual cada
pensamento?......................................................................45
Há muitas pessoas assim?...............................................46
Qual é a regra fundamental?...........................................46
Essa regra pode ser aplicada sempre?...........................47
Muitas vezes nos sentimos perturbados. Isso é normal?
.............................................................................................47
Como devemos nos comportar nesse estado de
desolação interior?............................................................48
Todavia, o desgosto nos enfraquece, tira-nos a vontade
de resistir!...........................................................................49
Por que experimentamos esses estados de ânimo tão
desagradáveis?..................................................................49
As provações, porém, não devem ser exageradas!......50
Cada um de nós tem suas fraquezas pessoais. Muitos
se desculpam, dizendo: “meu caráter é esse”. É
possível vencer os próprios defeitos?............................50
Como pode alguém conhecer a si mesmo?...................51
Muitos santos descreveram suas experiências para os
seus discípulos. Onde podemos lê-las?.........................52
5. Os oito pensamentos maus..............................................53
É possível fazer uma lista de todos os pensamentos
maus?..................................................................................53
Que lista tradicional é essa?............................................53
É a mesma lista dos “sete pecados capitais”.................54
O que é a gula?..................................................................54
A luxúria............................................................................55
A avareza............................................................................56
A tristeza, a inveja.............................................................57
É lícito querer superar o sucesso do outro?..................58
A ira.....................................................................................59
A ira descontrolada..........................................................59
Como vencer a explosão da ira?.....................................60
A preguiça..........................................................................61
A preguiça espiritual........................................................62
A tibieza segundo são Bernardo.....................................63
A soberba...........................................................................63
A soberba, o “último demônio”......................................64
A vanglória........................................................................65
Pode-se dizer que a soberba é a raiz de todos os outros
vícios?.................................................................................66
Mas que mal há em amar a si mesmo?..........................66
O que fazer para não se ter vontade própria?..............67
6. A experiência pessoal.......................................................69
As tentações sob a aparência de bem.............................69
Quando nos damos conta de ter feito essa triste
experiência, já não é tarde demais?................................70
JÁ notamos a regra fundamental: aquilo que perturba
provém do demônio.........................................................71
E se não percebermos logo essa perturbação?..............71
Há uma expressão que requer explicação: o
pensamento nos leva para algo mau ou fútil. Quantas
coisas fúteis passam pela nossa mente! São assim tão
prejudiciais?.......................................................................71
a fantasia é uma força natural que se desenvolve
segundo leis próprias?.....................................................72
Não somente as imagens da fantasia, mas também os
raciocínios podem ser fúteis!...........................................73
Como podemos saber, antecipadamente, se um
problema é ou não importante para a nossa vida?......74
Então devemos considerar nocivos os pensamentos
que não são coerentes com a vida?.................................75
Então, para distinguir bem se os pensamentos são úteis
ou não, devemos conhecer sua própria identidade?...76
Como podemos saber qual é a nossa vocação?............77
7. O método psicofisico dos esicastas.................................78
Ioga cristã?.........................................................................78
A paz do corpo..................................................................79
O movimento dos esicastas.............................................79
O peregrino russo.............................................................81
O método da oração incessante do “peregrino russo” 81
O texto clássico de Nicéforo............................................83
O simbolismo do corpo....................................................84
Sentar-se numa posição humilde....................................86
A cela fechada, a penumbra............................................87
A respiração.......................................................................87
Fixar a atenção onde está o coração...............................88
O calor.................................................................................90
Sensação de paz e de harmonia......................................90
O controle da energia vital..............................................91
Perigos a serem evitados..................................................91
Aviso prático......................................................................92
8. Orar “no coração”.............................................................94
Elevação da mente ou do coração?.................................94
Perigo de sentimentalismo?.............................................94
O coração na Bíblia...........................................................95
A integridade humana considerada de modo “estático”
.............................................................................................96
A oração do coração sob o aspecto “estático”...............97
A oração do coração sob o aspecto “dinâmico”...........98
Como podemos perceber a situação do coração?.........99
O coração, fonte de revelação........................................100
O coração puro, fonte de contemplação de deus.......101
O coração conhece a deus mediante as inspirações
interiores...........................................................................102
A oração do coração descrita pelos santos ocidentais
...........................................................................................103
Conhecer a si mesmo para conhecer a Deus...............104
A atualidade da oração do coração..............................105
Epílogo - Paul Claudel: o coração.....................................107
Introdução
O QUE É SUGESTÃO?
Este primeiro nível chama-se também “contato”. É
a primeira imagem fornecida pela fantasia, a primeira
idéia, o primeiro impulso. Assim, por exemplo, um
avarento que vê dinheiro solto e tem a idéia: “Eu poderia
escondê-lo”. Do mesmo modo, pode sobrevir-nos o
pensamento de que somos melhores do que os outros, o
impulso de deixar de trabalhar etc. Nesses casos, ainda
não tomamos nenhuma decisão. Simplesmente
constatamos que se nos oferece a possibilidade de fazer o
mal, e este se apresenta de forma agradável. Os
principiantes na vida espiritual se assustam: confessam
ter tido “pensamentos maus” até na igreja e durante a
oração.
O QUE É CONSENTIMENTO?
É o quarto estágio. Quem perdeu a batalha decide
executar, na primeira ocasião que tiver, aquilo que o
pensamento mau lhe sugere, dando seu livre
consentimento à sugestão da malícia. Nesse estágio,
comete-se o pecado, no sentido verdadeiro. E mesmo que
não se concretize exteriormente, o pecado permanece
interiormente. Trata-se daquilo que a moral chama de
“pecado da mente”. Infelizmente, as pessoas pouco
instruídas e inexperientes confundem os conceitos.
Acreditam que só pensar no pecado já seja ato peca-
minoso. Assim, essas pessoas se tomam escrupulosas e
confessam que não conseguem se libertar dos “pecados
da mente”.
Como sair dessa confusão? É preciso saber parar e
perguntar-se: “O que estou sentindo é atração pelo
pecado? Gosto disso? Sinto-me sensivelmente muito
atraído a realizá-lo? Vou cometê-lo? Não! Decido não
cometê-lo”. Esta última decisão nos deve consolar. No
momento em que a tomarmos, teremos descoberto a
nossa liberdade.
O QUE É PAIXÃO?
É o último estágio, o mais trágico. Quem sucumbe
aos pensamentos maus, muitas vezes enfraquece,
progressivamente, o seu próprio caráter. Nasce, então,
uma constante inclinação para o mal, que pode tornar-se
forte a ponto de ser muito difícil resistir-lhe. É
precisamente a paixão que torna a pessoa escrava da
bebida, do abuso do sexo, da ira incontrolada etc.
SEDE VIGILANTES
“Sede vigilantes, permanecei firmes na fé”, escreve
são Paulo aos coríntios (1Cor 16,13).
“CONTRADIZER”
O termo grego para o costume de contradizer é
antirrhêsis. Tornou-se tradicional, porque Evágrio
escreveu um livro com o título Antirrheticus (Instruções
para contradizer). O autor observou que Jesus, para
responder ao diabo, usara os textos da Sagrada Escritura:
“Não se vive somente de pão, mas de toda palavra que
sai da boca de Deus... Não porás à prova o Senhor teu
Deus... Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele prestarás
culto”.
A APATHEIA E A CARIDADE
Longe de ser uma espécie de insensibilidade
cadavérica, a apatheia — insensibilidade cristã — é, antes,
um “fogo devorador”, o fogo divino que queima todas as
tentações assim que estas surgem. O seguinte exemplo
fornecido por santo Efrém é de estilo bem popular, mas
muito expressivo: quando a sopa está quente, nenhuma
mosca consegue se aproximar; os insetos caem nela
somente quando ela esfria. Do mesmo modo, o coração
abrasado de amor a Deus destrói os pensamentos que a
ele se opõem.
O QUE É A GULA?
Um dito popular diz: “Não se vive para comer,
mas come- se para viver”.
A LUXÚRIA
Atribui-se a Buda o seguinte dito: “O ferrão do
instinto sexual é mais agudo do que a ponta que se usa
para domar os elefantes selvagens; queima mais do que o
fogo e possui um dardo que penetra até a alma”. Não nos
deve espantar o fato de tal instinto ser tão intenso, pois se
trata do instinto de preservação do gênero humano.
Entretanto, é preciso ressaltar que o ser humano deve se
conservar e se multiplicar de modo humano, com
decisões livres e morais. Na vida prática, são inúmeras as
aplicações da continência sexual. Os livros de moral estão
cheios delas.
A AVAREZA
A TRISTEZA, A INVEJA
A IRA
A cólera começa com sentimentos de aversão
contra aquilo que - realmente ou apenas na imaginação -
se apresenta como obstáculo ao nosso caminho. A
primeira coisa que queremos fazer é tirá-lo da nossa
frente. Vem-nos uma idéia de como fazer isso. Nasce,
então, a ira, que pode ser justa ou injusta.
A IRA DESCONTROLADA
Que ira deve ser considerada injusta? Do
sentimento de desprazer nascem, muitas vezes, o ódio e o
desejo de vingança. É quando sentimos prazer pela
desgraça alheia, humilhamos alguém com palavras e o
difamamos diante dos outros. Passamos, depois, a agir.
A PREGUIÇA
O termo grego akêdia tem um sentido mais amplo
do que o seu correspondente latino “preguiça”. Significa
um estado geral de desprazer, de cansaço, de
desinteresse: é a “tibieza”. Esse estado recebe também o
nome de “demônio do meio-dia” (cf. SI 90 [91],6), aquele
que assalta o monge na metade do dia, ou seja, quando
desapareceu o entusiasmo, a vontade de trabalhar. De
fato, os monges se levantavam muito cedo. Por isso, ao
meio-dia, já se sentiam cansados.
O mesmo se dá, de forma alegórica, ao chegarmos
ao meio-dia da vida, quando desaparece o entusiasmo
juvenil.
A PREGUIÇA ESPIRITUAL
É esse o nome que os autores latinos dão à acídia.
A SOBERBA
IOGA CRISTÃ?
A PAZ DO CORPO
Temos de admitir que, nas considerações
psicológicas dos autores gregos antigos, assim como na
linguagem dos ascetas cristãos, aparece um ponto fraco: a
atitude negativa para com a realidade corpórea. Os
cristãos não podiam considerar a matéria como coisa má.
Por outro lado, os ascetas sempre estiveram convencidos
de que o corpo criado por Deus continua sendo, após o
pecado, a esfera mais exposta às tentações do diabo. A
renúncia ao corpo é, por conseguinte, objeto constante de
exortações ascéticas.
O PEREGRINO RUSSO
Vamos começar com esse escrito um tanto tardio.
Contém a instrução do método corporal, exposta de
modo rudimentar. Seu autor é desconhecido. Em 1881
foram publicados em Kazan’, na Rússia, quatro relatos
nos quais um devoto peregrino narrava a sua busca para
adquirir o dom da oração incessante, pela repetição
contínua da Oração de Jesus. Várias vezes reimpressos
em russo e traduzidos em outras línguas, tais relatos se
tornaram não somente uma das mais conhecidas obras
da literatura espiritual, como também uma fonte de
grande importância para o estudo da espiritualidade.
O SIMBOLISMO DO CORPO
No método do peregrino russo encontramos
praticamente dois elementos “físicos” da oração: as
batidas do coração e a respiração.
A RESPIRAÇÃO
A regularidade da respiração sintonizada com a
oração é um exercício natural para quem deseja tão-
somente saborear as palavras da oração, no ritmo da
própria vida. Os termos “respirar” e “viver” são também
lingüisticamente aparentados, nas várias línguas. Em
eslavo, a palavra “verdade” (istina) significa
originalmente “aquilo que existe e respira”. Quem une o
nome de Jesus a cada respiração deseja perceber como a
realidade de Cristo penetra e dá vida a tudo aquilo que
existe. Mas quem respira regularmente sente a
necessidade de diminuir o ritmo e até mesmo de detê-lo.
O CALOR
A respiração regulada produz efeitos de calor, os
quais se difundem por todo o corpo, a partir do peito, e
dão sensação de alegria. A pulsação se torna mais forte e
pode vir acompanhada por fenômenos de visões
luminosas. Nessas ocasiões, porém, todos os autores
espirituais advertem severamente: trata-se de efeitos
naturais, não é a graça! Seria um erro perigoso crer que se
trata de experiência mística. O valor desses sentimentos
depende do uso que deles se faz para o bem da oração.
Tanto o calor como a luz são imagens do Espírito Santo.
Como imagens, podem servir para elevar a mente para a
realidade que representam. Contudo, procurá-las por si
mesmas seria pura idolatria.
AVISO PRÁTICO
Em todo caso, não devemos exagerar nem mesmo
com as precauções. Podemos tentar algo simples até
sozinhos. Por exemplo: estamos num ambiente tranqüilo.
A mão direita toma a esquerda para sentir o ritmo do
pulso. Procuremos harmonizar a respiração ou também o
caminhar com o mesmo ritmo. Depois de conseguir fazer
isso, repitamos uma breve oração-jacu- latória adequada
ao nosso estado de ânimo, aos sentimentos que nos
dominam. Rezando assim, por algum tempo, a experiên-
cia nos ensinará como aproveitar esse estado pacífico
para tornar mais intenso nosso diálogo com Deus Pai.
Desse modo, a oração se simplifica ao máximo,
mas, por outro lado, envolve todo o nosso ser, a alma e o
corpo. Assim a pessoa se sente unida a si mesma e
também com Deus.
O CORAÇÃO NA BÍBLIA