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PREFÁCIO

A doutrina do Novo Testamento enfoca sobremaneira a Igreja e a


sua importância na economia de Deus. Ela é mais perfeitamente
representada pela sua aparição nas páginas do Novo Testamento.
Em Atos 2.42 descobrimos uma comunidade caracterizada por
três pilares que devem marcar a igreja ideal; zelo, amor e fervor.
O zelo se reflete pela perseverança na doutrina dos apóstolos. A
idéia expressa pelo verbete “perseverar” é dar constante atenção a
alguma coisa. Essa igreja era comprometida com a verdade das
Escrituras. Dessa forma a doutrina dos apóstolos representa o alicerce
que dá o conteúdo da nossa fé. A igreja não pode andar às escuras, pois
tem a Palavra de Deus (Sl119.105). Uma igreja zelosa é uma igreja que
ensina as pessoas a amar a palavra do Senhor.
O amor se reflete na perseverança na comunhão e no partir do
pão. O amor não é o que dizemos, mas o que fazemos. Hoje vemos as
pessoas transferindo o amor para o reino das coisas, mas o ministério de
Jesus era voltado para as pessoas e não para as coisas. Jesus se tornou
gente, para nos ensinar a acolher, amar e cuidar de gente. Dessa forma a
falta de amor pelas pessoas é o reflexo da falta de comunhão com Deus,
pois a palavra de Deus afirma "Se, porém, andarmos na luz, como ele está
na luz, mantemos comunhão uns com os outros”(1Jo.1.7a).
O fervor se reflete na perseverança nas orações. A igreja ideal é
uma igreja que tem fome de Deus. Uma igreja que não apenas acredita na
oração, ela ora. Uma igreja que antes de falar com poder aos homens,
falava primeiro com Deus. Através da oração a igreja primitiva acolhia as
pessoas nas suas necessidades e angústias. Devemos orar sempre, não
até Deus nos ouvir, mas até que possamos ouvir Deus.
Que possamos buscar ser a igreja ideal.

No Senhor
Rev. Cristiano Ribeiro do Nascimento
Pastor da IEC Kairós

1
SUMÁRIO

ESTRUTURA, FORMATO E TRADUÇÕES....................................... 03

ORIGEM E INSPIRAÇÃO ............................................................. 08

CARACTERÍSTICAS DA BÍBLIA ......................................................16

O CANON BÍBLICO ......................................................................21

O AMOR FRATERNAL..................................................................26

O AMOR NO ACOLHER ............................................................... 30

A COMUNHÃO NA IGREJA ..........................................................35

SUPORTANDO O IRMÃO ............................................................39

PRÁTICA DA ORAÇÃO .................................................................44

MEDITAÇÃO DA PALAVRA ......................................................... 48

VIDA DE ADORAÇÃO ..................................................................52

EXERCÍCIO DO JEJUM ................................................................56

2
LIÇÃO 01 ESTRUTURA, FORMATO E TRADUÇÕES
TEXTO BASE: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o
nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela
consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4)

Não encontramos o vocábulo “Bíblia” no texto das Sagradas


Escrituras. Esse nome provém do grego, tendo como origem o termo
“biblos” (coleção de pequenos livros).
A Bíblia divide-se em duas partes principais:
O Antigo ou Velho Testamento e o Novo Testamento, tendo ao
todo 66 livros, 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo. Esses livros foram
escritos no período de 16 séculos e tiveram cerca de 40 escritores. Foram
pessoas de diversas épocas, diversas línguas, profissões diferentes, mas
revelando uma mesma mensagem: Aquela que o Supremo Autor desejou
passar. Aqui está o grande milagre da Bíblia!

❶ O ANTIGO TESTAMENTO
Testamento vem do grego “diatheke” e significa aliança ou
concerto.
O termo Antigo Testamento foi usado pela primeira vez por
Tertuliano e Orígenes. A expressão "Antigo Testamento" surgiu no II
século d.C., tendo sido divulgada dessa forma pelos chamados "pais
latinos da Igreja", quando procuravam diferenciar as Escrituras hebraicas
(os textos sagrados dos judeus, que até aquela época eram denominadas
simplesmente de "Escrituras"), dos escritos que os apóstolos e discípulos
de Jesus passaram a escrever que foram denominados de as "Escrituras
gregas".
Foi escrito originalmente em hebraico, com alguns trechos em
aramaico e em persa. Divide-se basicamente em quatro grupos de livros:
Lei, História, Poesia e Profecia.
a) Lei - São 5 livros: Gênesis, Êxodo, Levíticos, Números e Deuteronômio.
Mais conhecidos como Pentateuco, esses livros tratam da origem de

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todas as coisas, da lei e do estabelecimento da nação israelita.
b) História - São 12 livros: de Josué a Ester. Ocupam-se da história de
Israel em seus diversos períodos, principalmente a Teocracia (governo de
Deus, sob os Juízes); a Monarquia (governo de um único rei, sob Saul,
Davi e Salomão); Divisão dos reinos de Judá e Israel, sendo Israel levado
cativo para a Assíria e Judá para a Babilônia; Pós-cativeiro (sob Zorobabel,
Esdras e Neemias, em conjunto com os profetas).
c) Poesia - São cinco livros, de Jó a Cantares de Salomão. O nome poético
deve-se ao gênero de seu conteúdo, não significa que sejam fantasiosos e
ficticios.
d) Profecia - São 17 livros, de Isaías a Malaquias. São classificados em
Profetas Maiores (5 livros, de Isaías a Daniel) e Profetas Menores (12
livros, de Oséias a Malaquias). O nome Profeta Maiores ou Menores não
tem nada a ver com o mérito ou notoriedade do profeta, mas,
principalmente, com a extensão do livro ou do ministério profético.

❷ NOVO TESTAMENTO
Logo depois da ressurreição de Cristo, aqueles que foram
testemunhas oculares de sua glória saíram pregando o Evangelho, a
todos os lugares. Isso era feito verbalmente. Com o passar dos anos,
surgiu à necessidade de registrar aquilo que ensinavam. Foi aí que os
livros do Novo Testamento começaram a ser escritos. É bom lembrar que,
enquanto o Antigo Testamento levou cerca de 1046 anos para ser escrito,
o Novo Testamento o foi escrito em menos de 100 anos.
O Novo Testamento tem 27 livros. Foi escrito em grego popular,
conhecido como Koiné. Os livros são classificados em quatro grupos,
conforme o assunto, ou seja: Biografia, História, Epístolas e Profecia.
a) Biografia - São os quatro Evangelhos. Descrevem a vida terrena de
Jesus e seu ministério. Os três primeiros Evangelhos são chamados de
Sinópticos devido ao paralelismo existente entre eles. Os Evangelhos são
os livros mais importantes da Bíblia. Os demais livros são uma preparação
para a vinda de Cristo ou uma explicação sobre a doutrina de Cristo.
b) História - É o livro de Atos dos Apóstolos. Registra a história da Igreja.

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c) Epístolas - São 21 cartas, e vão de Romanos a Judas. Elas contêm a
doutrina da Igreja. Podem ser classificadas da seguinte forma: (I) Nove
são dirigidas as igrejas (de Romanos a 2 Tessalonicenses); (II) Quatro são
dirigidas a indivíduos (1[ e 2ª Timóteo, Tito e Filemon); (III) Oito são
dirigidas a todos indistintamente (Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3
João e Judas). Estas são também chamadas universais, ou gerais.
d) Profecia - Trata-se do livro de Apocalipse ou Revelação. Esse Livro
aborda os eventos finais referentes ao universo, a terra, a igreja e ao
destino da humanidade.
Os livros, na Bíblia, não seguem uma ordem cronológica, pois são
agrupados conforme o assunto que abordam.

❸ TRADUÇÕES E AS LÍNGUAS ORIGINAIS DA BÍBLIA


Traduções
A septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica para o grego
koiné, traduzida em etapas entre o terceiro e o primeiro século a.C. em
Alexandria. A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou
Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois
setenta e dois rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam
nela e, segundo a história, teriam completado a tradução em setenta e
dois dias. A cronologia dessa tradução data do ano 285 a.C. Foi a
Septuaginta que organizou a Bíblia em capítulos e versículos, facilitando
assim a localização dos textos sagrados.
A VULGATA - Jerônimo de Belém (324 - 420 a.D), traduziu a Bíblia do
hebraico para o latim. É a versão oficial da Igreja Romana.
Em quase sua totalidade, os livros bíblicos foram escritos em
hebraico, aramaico e grego.
Línguas originais da bíblia
a) O Antigo Testamento - O hebraico é o idioma oficial da nação judaica,
sendo chamado também de “língua de Canaã (Is 19.18) e “língua judaica
ou judaico” (2 Rs 18.26-28; Is 36.13). Como a maior parte das línguas
semíticas, o hebraico lê-se da direita para a esquerda. Seu alfabeto é
composto por 22 letras, todas consoantes.

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Os trechos do Antigo Testamento escritos em aramaico são: Ed
4.8 a 6.18;7.12-26; Dn 2.4 a 7.28 e Jr 10.11.
O aramaico foi o idioma falado em Arã ou Síria e em grande
parte da Arábia Pétrea. Essa língua influiu profundamente sobre o
hebraico principalmente durante o cativeiro de Judá na Babilônia (587
a. C.). A influência do aramaico foi tão grande que ao voltar do
cativeiro o povo tinha essa língua como vernácula. No Novo Testamento
o aramaico já era bem conhecido, e foi à língua mais usada por Jesus e
seus discípulos. Jesus conhecia também o hebraico, pois leu as
Escrituras escritas nessalíngua.
b) O Novo Testamento - Foi escrito em grego. O grego do Novo
Testamento não é a língua erudita, mas uma versão popular, chamada
deKoiné.
Por ocasião do ministério terreno de Cristo, a língua sagrada dos
judeus era o hebraico; a falada, o aramaico; a língua oficial, o latim; a
universal, o grego.
Versões da bíblia
Versão João Ferreira de Almeida - Foi ministro do Evangelho da Igreja
Reforma Holandesa, em Batávia. Almeida traduziu primeiro o Novo
Testamento, terminando-o em 1670. Ele traduziu o Antigo Testamento
até Ezequiel 48.21, quando faleceu em 1691. Missionários amigos seus
completaram a tradução.
O texto de Almeida foi revisado em 1894 e 1925. Em 1951, a
Imprensa Bíblica Brasileira (Organização Batista Independente) publicou
a Edição Revista Corrigida”, abreviadamente ARC.
Uma comissão de especialistas brasileiros, trabalhando de 1945 a
1955 apresentou ultimamente a “Edição Revista Atualizada de Almeida
(ARA). Trata-se de uma obra com melhor linguagem e melhor tradução.
Além dessas há uma nova versão conhecida como
NAA – Nova Almeida Atualizada.
Nova Versão Internacional (NVI) - A Bíblia Nova Versão
Internacional (Bíblia NVI) foi realizada pela Sociedade Bíblica
Internacional e tem como seus objetivos principais, a clareza, a fidelidade
e a beleza de estilo. É a tradução intermediária entre a clássica Almeida e
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as traduções mais populares da Bíblia Sagrada.
Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) - É uma tradução da
Bíblia em linguagem moderna e inteligível em Língua Portuguesa. Foi
lançada no ano 2000 pela Sociedade Bíblica do Brasil. Pela linguagem
mais simples e coloquial, a NTLH é voltada às pessoas que ainda não
tiveram ou que tiveram pouco contato com a leitura bíblica clássica. É
bastante criticada, por ter uma grande diferença em relação às traduções
mais clássicas.

CONCLUSÃO
A bíblia sagrada é a palavra de Deus de Gênesis a Apocalipse, é a
revelação de Deus a humanidade. Palavra infalível que produz vida,
ilumina, liberta, santifica e mostra a vontade de Deus para a nossa vida.
Devemos buscar conhecer as Escrituras sagradas, pois sem elas
estaríamos às cegas. Como disse o salmista “Lâmpada para os meus pés é
a tua palavra e, luz para os meus caminhos” (Sl 119.105).

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LIÇÃO 02 ORIGEM E INSPIRAÇÃO
TEXTO BASE: “porque nunca jamais qualquer profecia foi
dada por vontade humana; entretanto, homens [santos]
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo ”
(2Pe 1.21)

❶ ORIGEM E SIGNIFICADO DO TERMO


Os estudiosos no assunto afirmam que a expressão Bíblia Sagrada
foi primeiramente adotada por João Crisóstomo, patriarca de
Constantinopla, no V século de nossa era.
Alguns outros nomes pelos quais a Bíblia é conhecida: Escrituras
(Mt 21.42); Sagradas Escrituras (Rm 1.2); Livro do Senhor (Is 34.16); A
Palavra de Deus (Mc 7.13; Hb 4.12); Os oráculos de Deus (Rm 3.2).
A Bíblia se apresenta como uma obra divina, mostrando ter sua
mensagem revelada por Deus aos autores, que foram inspirados pelo
Espírito Santo. Dois textos fundamentais, 2 Pedro 1.20,2.
“Primeiramente, porém, saibam que nenhuma profecia da Escritura
provém de interpretação pessoal; porque nunca jamais qualquer profecia
foi dada por vontade humana; entretanto, homens falaram da parte de
Deus, movidos pelo Espírito Santo” e 2 Timóteo 3.16 “Toda a Escritura é
inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a
correção, para a educação na justiça”, sustentam que a Bíblia é
divinamente inspirada e proveitosa para ensinar.

❷ INSPIRAÇÃO E REVELAÇÃO
A inspiração do Antigo Testamento é respaldada por várias
passagens que destacam a comunicação direta de Deus aos profetas, que
eram considerados mensageiros do Senhor, escolhidos e capacitados por
Ele para transmitir Sua mensagem. Alguns recebiam na forma de sonhos
(Gn 37.5); outros, por visões (Dn 7.2); alguns, por voz audível (1 Sm 3.4)
ou por uma voz interior (Os 1; J I 1). Outros recebiam revelações de anjos
(Gn 19), e alguns por intermédio de milagres (Ex 3; Jz 6). Deus ainda falava
com outras pessoas enquanto estas meditavam sobre a sua revelação na
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natureza (SI 19). Seja qual for o meio, como declara o livro de Hebreus:
“Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas
maneiras” (Hb 1.1). Seu compromisso era comunicar precisamente o que
Deus instruía, sem acréscimos ou omissões.
A natureza profética dos autores garante que o registro escrito
das mensagens era exatamente o que Deus desejava comunicar à
humanidade. Mesmo aqueles não explicitamente chamados de
"profetas" eram reconhecidos como porta-vozes de Deus, como no caso
de reis como Davi e legisladores como Moisés.
Expressões como "assim diz o Senhor" ou variações semelhantes
ocorrem freqüentemente na Bíblia, indicando que o autor está falando
em nome de Deus. Isso ocorre em diversas passagens, evidenciando a
clareza da fonte original da mensagem.
Além disso, a Bíblia se autodenomina a "Palavra de Deus" em
várias passagens, como Mt 15.6. E, assim, vocês invalidam a palavra de
Deus, por causa da tradição de vocês. Rm 3.2. Principalmente porque aos
judeus foram confiados os oráculos de Deus e 1 Pe 1.23. Porque vocês
foram regenerados não de semente corruptivel, mas de semente
incorruptivel, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.
Reivindicando assim autoridade divina, sendo indestrutivel, infalível e
suficiente para a fé e prática.
A abrangência da autoridade divina da Bíblia inclui todos os seus
conteúdos, palavras, tempos verbais e até a menor particula de uma
palavra. Apesar de não ser ditada mecanicamente, a Bíblia afirma que
Deus supervisionou sobrenaturalmente o processo de composição,
garantindo a perfeição do resultado. Isso é respaldado pela afirmação de
que Deus é a fonte de cada palavra das Escrituras.
Inspiração e revelação bíblica:
“Toda escritura é divinamente inspirada” (2Tm 3.16) declara
Paulo. Mas o que é inspiração? Literalmente significa “Sopro”. Assim
define Webster a inspiração: “A influência sobrenatural do Espírito de
Deus sobre a mente humana, pela qual os profetas, apóstolos e escritores
sacros foram habilitados para exporem a verdade divina sem nenhuma
mistura de erro”.
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Revelação - O termo significa “tirar o véu” é mostrar algo que
estava encoberto. Revelação é a ação de Deus pela qual Ele dá a conhecer
ao escritor coisas desconhecida, o que o homem, por si só, não podia
saber. Exemplo: O relato da criação (Gn 1,2).
Inspiração – O termo vem do latim inspiro que significa “soprar
para dentro”. Inspiração significa que Deus soprou para dentro do autor
bíblico a Sua verdade.
Então revelar é mostrar e inspiração é a influência no registrar do fato.
A Bíblia estabelece claramente que a revelação e inspiração
ocorrem na Palavra escrita, nas Escrituras, e não apenas nas idéias ou nos
autores. Referências como "Escrituras reveladas ou divinamente
inspiradas", "palavras", "livro" e outras indicam que o enfoque está nas
palavras específicas escolhidas por Deus. O Novo Testamento confere
autoridade ao Antigo utilizando freqüentemente a expressão "está
escrito", ressaltando que as palavras são provenientes "da boca de
Deus".
Ênfase nos Detalhes Verbais e Temporais
A precisão das palavras é crucial, como evidenciado por
passagens como Jeremias 26.2. Assim diz o Senhor: Fique no átrio da Casa
do Senhor e diga ao povo de todas as cidades de Judá que vem adorar na
Casa do Senhor todas as palavras que ordenei que você lhes dissesse. Não
omita nem uma palavra sequer. Até os tempos verbais são enfatizados,
como em Mateus 22.31,32. “Quanto à ressurreição dos mortos, vocês
nunca leram o que Deus disse a vocês: sou o Deus de Abraão, o Deus de
Isaque e o Deus de Jacó”? Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos.
Mostrando a importância de cada detalhe. A inspiração abrange desde as
palavras até as letras e até mesmo particulas mínimas das palavras.
Limitações da Inspiração
A inspiração não garante que todas as partes de uma parábola
transmitam verdade, que tudo na Bíblia seja literalmente verdadeiro, ou
que todas as afirmações sejam tecnicamente precisas pelos padrões
modernos. Há reconhecimento de hipérboles, perspectivas específicas e
diversidade de formas de expressão. A compreensão da inspiração

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envolve considerar os fenômenos das Escrituras, como números
arredondados, hipérboles e figuras de linguagem. Os dados da Bíblia
devem ser interpretados à luz desses fenômenos, reconhecendo que
tudo o que a Bíblia afirma é verdadeiro, mas o significado da verdade
deve ser compreendido considerando esses elementos.
Grau de Inspiração Bíblica – Igualdade
Não há diferentes graus de inspiração na Bíblia; tudo o que ela
afirma ou implica é igualmente inspirado, pois provém diretamente de
Deus. A verdade é absoluta e não pode ser graduada. Apesar disso, há
diferenças na importância das informações apresentadas.
Definição Bíblica de Inspiração
1 - Origem Divina: A fonte última da Bíblia é Deus, que a "soprou" ou
inspirou.
2 - Transmissão por Meio de Homens: A Bíblia chegou até nós por meio
de homens, embora tenha uma origem divina. Deus inspirou os autores,
respeitando suas personalidades e culturas. O processo de inspiração
não envolve Deus falando para o vazio, mas sim autores humanos
ativamente envolvidos na pesquisa histórica, reflexão teológica e
composição literária. A Escritura é considerada a Palavra de Deus e, ao
mesmo tempo, as palavras de seres humanos. Os autores humanos
expressaram suas personalidades, ênfases teológicas e estilos literários.
3 - Autoridade Escrita: A inspiração se relaciona com o texto escrito, as
Sagradas Escrituras (grapha), e não idéias ou pessoas inspiradas. A
expressão "está escrito" destaca a autoridade do texto diante do povo de
Deus.
4 - Autoridade no Texto Autográfico: A autoridade divina da Bíblia reside
no texto original, e qualquer erro nas cópias não pode ser atribuído ao
texto original.
5 - Inerrância do Texto Original: O texto original da Bíblia, sendo soprado
por Deus, é isento de erros. As cópias são inspiradas na medida em que
são precisas.
6 - Autoridade Final: A Bíblia é a autoridade final, acima de qualquer
ensinamento humano. Ela é a instância final em todas as questões que

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afirma ou implica.
7 - Canonicidade Limitada: A autoridade divina é exclusiva aos sessenta e
seis livros canônicos do cânon protestante; nenhuma outra fonte se
equipara ou sobrepuja as Escrituras.
Esses elementos constituem a base para a compreensão
evangélica da inspiração bíblica, enfatizando a igualdade na inspiração de
todas as partes da Bíblia e sua autoridade única e final.
Falsas teorias da inspiração da bíblia
a) Teoria da inspiração natural humana - Ensina que a Bíblia foi escrita
por homens com talento especial, nivelados a outros gênios da literatura.
REFUTAÇÃO: Essa teoria nega a influência sobrenatural, trazendo sérios
prejuízos para a fé. Os escritores da Bíblia afirmam que foi Deus quem
falou através deles (2 Sm 23.2; At 1.16; Jr 1.9; Ed 1.1; Ez 3.16-17; At 28.25).
b) Teoria da inspiração divina comum - Nivela a inspiração da Bíblia
àquela que hoje sentimos quando oramos, pregamos, cantamos,
ensinamos.
REFUTAÇÃO: Isso é errado porque a inspiração que hoje sentimos não é
completa como a que veio aos escritores bíblicos. Além disso, os
escritores recebiam essa inspiração de forma momentânea e específica
para o cumprimento de uma missão divina. Em diversos momentos
vemos a expressão veio sobre mim à palavra do Senhor, indicando uma
inspiração momentânea. É o que chamamos de inspiração especial.
c) Teoria da inspiração parcial - Ensina que somente algumas partes da
Bíblia são inspiradas. Segundo essa teoria, a Bíblia não é a Palavra de
Deus, apenas contém a Palavra de Deus.
REFUTAÇÃO: Se isso fosse verdade, como poderíamos saber quais as
partes que são inspiradas? II Timóteo diz que “Toda Escritura é inspirada
por Deus e útil para o ensino...”. Veja também em Jó 16.12; Mc 7.13; Ap
22.18-19.
d) Teoria do ditado verbal - Teoria que defende a opinião de que os
escritores bíblicos foram instrumentos passivos nas mãos de Deus
redigindo exatamente as palavras de Deus (a exemplo dos Dez
Mandamentos), não podendo ser levado em consideração a experiência
pessoal acerca do que se escrevia.
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REFUTAÇÃO: Faz dos escritores uma espécie de máquina que registra as
palavras ditadas por Deus sem usar o raciocínio próprio. Lucas, por
exemplo, fez extensa pesquisa sobre Jesus antes de escrever o Evangelho
(Lc 1.4).
e) Teoria da inspiração das idéias - Faz o contrário da anterior, ensinando
que Deus inspirou somente as idéias, deixando as palavras a cargo dos
escritores.
REFUTAÇÃO: Também não é verdadeira porque em inúmeros momentos
Deus colocou as palavras certas na mente dos escritores bíblicos (2 Pe
1.21; Hb 1.1; 1 Co 2.13; Ap 22.19).
TEORIA CORRETA DA INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA
Teoria da Inspiração Plenária ou Verbal - Ensina que todas as partes da
Bíblia foram igualmente inspiradas por Deus, e que houve cooperação
entre os escritores e o Espírito Santo que os capacitava. Eles escreveram a
Bíblia com palavras de seu vocabulário, mas sob poderosa influência do
Espírito Santo, e o que eles escreveram é a Palavra de Deus.
Provas da inspiração bíblica
a) Harmonia - Somente a palavra milagre explica esse acontecimento.
São 66 livros, escritos por cerca de 40 escritores, cobrindo um período de
16 séculos. A maioria desses homens não se conheceu. Viveram em
lugares distantes, falando línguas diferentes. Muitas vezes nada sabiam
do que já estava escrito, mas registram a mais pura mensagem vinda
diretamente da mente de Deus;
b) Confiabilidade - As profecias bíblicas (no sentido preditivo) se
cumpriram fielmente. Isso demonstra sua origem divina. O que Deus
disse se sucederá (Jr 1.12);
c) Contextualidade – Mesmo sendo um livro antigo a bíblia nunca fica
ultrapassada. Sua mensagem continua atual. Quando a ciência descobriu
que a terra era redonda a bíblia já dizia que o Senhor estava assentado na
redondeza da terra (Is 40.22);
d) Influenciadora – Não dá para negar que muitas vidas e até nações
foram transformadas quando passaram a meditar nas escrituras. É
inegável o sentimento de bem estar que ela produz. Ela tem sempre uma
mensagem que pode mudar o nosso estado;
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e) Foi aprovada por Jesus - Ele a leu (Lc 4.16-20); ensinou (Lc 24.27);
chamou-a de A Palavra de Deus” (Mc 7.13); cumpriu-a (Lc 24.44). Jesus
também afirmou que as Escrituras são a verdade (Jo 17.17).

❸ A SANTIDADE DE DEUS E DA PALAVRA


O tema da santidade é central na revelação divina, permeando
tanto a natureza de Deus quanto Sua Palavra. As palavras hebraicas
"godesh" e grega "hagios" são fundamentais, significando "ser separado".
Quando aplicadas a Deus, elas expressam Sua total separaçãodo mal e Sua
singularidade.
A santidade de Deus é multifacetada, refletindo Seu zelo peculiar,
exaltação, justiça, poder absoluto, singularidade total, pureza moral e
aversão ao mal. A Bíblia exalta a santidade de Deus em diversos
versículos, destacando Sua grandeza incomparável e Sua exigência para
que Seu povo também seja santo.
A Palavra de Deus compartilha a mesma qualidade de santidade,
sendo considerada sagrada desde os primórdios. Moisés colocou suas
palavras ao lado da arca da aliança, indicando sua importância (Dt 31.24-
26)
Jesus reconheceu a santidade da Palavra ao orar pela
santificação dos crentes por meio da verdade contida nela “Santifica-os
na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). A Bíblia é única em
seu poder salvífico e santificador, sendo capaz de purificar a igreja e
apresentá-la comogloriosa e irrepreensível diante de Deus “a [a igreja]
santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a
apresentar asi mesmo igreja gloriosa, sem macula, nem ruga, nem coisa
semelhante,mas santa e irrepreensível” (Ef 5.26,27).
Assim, tanto a santidade de Deus quanto a da Sua Palavra são
temas fundamentais que inspiram reverência, temor e adoração por
parte de Seu povo. Que possamos continuar buscando a santidade,
sendo transformados pela Palavra que é viva e eficaz, capaz de fazer-nos
sábios para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Que a igreja, nutrida por
essa compreensão da santidade divina, continue a crescer em
conhecimento da Palavra de Deus e a se assemelhar mais a Cristo.

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CONCLUSÃO
A Bíblia é o único livro na história da humanidade que revela a
Deus, ou ainda, que é a palavra do próprio Deus. Todas as demais obras
não conseguem provar por si próprio que tem como autor o Senhor de
todo o Universo. Somente a Bíblia conta a maior história de amor, jamais
revelada de outra forma, a não ser a do Senhor Jesus Cristo, para salvação
da humanidade. Somente a mensagem da Bíblia é capaz, na direção do
Espírito Santo, conduzir o homem em todas as áreas de sua vida: “Bem-
aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios... antes
tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl
1.1,2).

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LIÇÃO 03 CARACTERISTICAS DA BÍBLIA
TEXTO BASE: “Achadas as tuas palavras, logo as comi;
as tuas palavras me foram gozo e alegria para o
coração, pois pelo teu nome sou chamado, ó Senhor,
Deus dos Exércitos” (Jr 15.16)

A revelação de Deus ao homem através dos tempos tem sido por


meio das obras que Ele criou (Rm 1.20, Sl 19.1-6). Além das obras, a maior
fonte de revelação de Deus está em sua Palavra, a Bíblia Sagrada.
Costuma-se dizer que essa revelação é dupla, sendo a Bíblia a palavra
escrita e Cristo a palavra viva. Essa dupla revelação tornou-se necessária
devido à queda do homem.
Hoje veremos como é a palavra de Deus e porque essa palavra é
tão importante para o cristão.

❶ A INFALIBILIDADE
O conceito da infalibilidade da Bíblia, embora a palavra em si não
seja explicitamente utilizada nas Escrituras, é fundamentado em
afirmações contidas no texto sagrado. Jesus afirmou categoricamente
que "a Escritura não pode ser anulada" (Jo 10.35). A garantia divina da
eficácia da Palavra também é destacada por Deus através do profeta
Isaías, assegurando que Sua palavra cumprirá o propósito para o qual foi
enviada, não retornando vazia (Is 55.11).
A afirmação de Paulo sobre a Palavra de Deus como "os oráculos
de Deus" (Rm 3.2, BJ) reforça a sua natureza infalível. Embora a Bíblia não
utilize explicitamente o termo "infalível" para descrever a si mesma, as
declarações de Jesus, os ensinamentos dos profetas e as referências
apostólicas indicam claramente a confiança na incorruptibilidade e na
eficácia da Palavra divina.
Portanto, a infalibilidade da Bíblia é sustentada por essas
afirmações, destacando a confiança inabalável na sua autoridade e na
realização do propósito divino através dela. Este entendimento é crucial
para a nutrição espiritual e o crescimento da igreja, pois proporciona uma
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base sólida e inabalável para a fé e prática cristãs.
A INDESTRUTIBILIDADE
A indestrutibilidade da Bíblia é enfatizada por Jesus, que declarou
que nem um "jota" ou "til" da lei será omitido até que tudo seja cumprido
(Mt 5.17,18), indicando sua durabilidade além da existência do céu e da
terra. Isaías reforça essa idéia ao afirmar que, enquanto a erva seca e as
flores caem, a palavra de Deus permanece eternamente (Is 40.8). O
salmista também testifica que a palavra do Senhor permanece no céu
para sempre (SI 119.89).
A história da Bíblia é marcada por sua resistência diante de
adversidades. Mesmo enfrentando proibições, queimas e proibições, a
Bíblia continua sendo o livro mais vendido de todos os tempos. Este
testemunho histórico reforça a convicção de que a Palavra de Deus é
verdadeiramente indestrutivel, resistindo a todas as tentativas de
suprimi-la.

❸ A INFATIGABILIDADE
A infatigabilidade da Bíblia é destacada pela sua natureza
incansável e poder penetrante. Hebreus descreve a Palavra de Deus
como viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer espada de dois
gumes, capaz de discernir pensamentos e intenções do coração (Hb
4.12). Jeremias a compara a fogo e um martelo que quebra a penha (Jr
23.29), indicando seu impacto transformador.
O poder incansável das Escrituras é uma extensão do Deus
infinito, cuja força inesgotável se manifesta em Sua Palavra infalível. As
armas espirituais, incluindo a "espada do Espírito, que é a palavra de
Deus" (Ef 6.17), são poderosas em Deus para destruir fortalezas (2 Co
10.4). Agradecemos incessantemente a Deus pelo impacto da Sua
Palavra naqueles que a recebem não como palavra humana, mas como
Palavra divina operante naqueles que crêem (1 Ts 2.13).
Portanto, a Bíblia é uma fonte inesgotável de poder espiritual,
sendo comparada à semente incorruptivel que regenera e permanece
para sempre (1 Pe 1.23).

17
❹ A INERRÂNCIA
A inerrância da Bíblia é fundamentada na firme ligação com o
Deus que é a própria Palavra. Cada membro da Trindade Divina
contribui para este atributo, resultando em três argumentos distintos
que afirmam a ausência de erros na Escritura. Essa inerrância é uma
característica intrínseca da natureza divina da Bíblia, garantindo a
confiabilidade e perfeição de sua mensagem.
O argumento da inerrância da Bíblia é sustentado por três
perspectivas, cada uma relacionada a um membro da Trindade.
Argumento a partir de Deus, o Pai: Deus é incapaz de errar, conforme
afirmado na Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus. Portanto, a Bíblia não
pode errar. As Escrituras enfatizam a imutabilidade de Deus e Sua
incapacidade de mentir, garantindo a confiabilidade da Bíblia como Sua
Palavra.
Argumento a partir de Deus, o Filho: Se Jesus é o Filho de Deus, então a
Bíblia é a Palavra de Deus e não pode errar. A Bíblia ensina que Jesus é o
Filho de Deus. Logo, a Bíblia é a Palavra de Deus e é inerrante. Este
argumento destaca a autoridade divina de Cristo como base para a
inerrância das Escrituras.
Argumento a partir de Deus, o Espírito Santo: A terceira pessoa da
Trindade, o Espírito Santo, é chamada de "Espírito da Verdade". A Bíblia é
uma expressão do Espírito da Verdade. Portanto, a Bíblia não pode estar
em erro. O Espírito Santo inspirou os autores das Escrituras, e, como a
Fonte da verdade, Sua expressão na Bíblia é livre de erros.
Esses argumentos reforçam a inerrância da Bíblia como uma
característica intrínseca de sua natureza divina, refletindo a verdade
absoluta de Deus.
A objeção extraída da natureza humana da Bíblia é abordada e
refutada da seguinte maneira:
A objeção apresenta: A Bíblia contém palavras de homens. Homens
erram. Logo, a Bíblia também erra.
Refutação: A conclusão é inválida, pois os homens não erram o tempo
todo. Mesmo sem auxílio divino especial, os humanos podem evitar
erros. Autores das Sagradas Escrituras contaram com o auxílio divino.

18
Outro formato da objeção: A Bíblia é um livro humano. Os homens
podem errar. Logo, a Bíblia pode errar.
Falácia no argumento: Este formato não nega efetivamente a inerrância
da Bíblia. No máximo, mostra que a Bíblia pode errar, mas não que ela
realmente erra. A distinção crucial é feita ao afirmar que, na medida em
que a Bíblia é a Palavra de Deus, ela não pode errar.
Distinção importante: A Bíblia, sendo a expressão de homens, poderia
errar, mas não o faz. A Bíblia é inerrante no sentido mais firme como a
Palavra de Deus. A natureza dual de Cristo e da Bíblia permite essa
distinção entre inerrância no sentido firme e no sentido frágil.
Assim, a inerrância da Bíblia é defendida, considerando tanto sua
natureza divina quanto humana, e a capacidade de evitar erros é
sustentada pelo auxílio divino e pela dualidade presente na Palavra de
Deus.

❺ OUTRAS CARACTERÍSTICAS DA BÍBLIA


A Bíblia é descrita metaforicamente em várias passagens,
revelando diferentes aspectos de sua influência e importância:
Semente Salvadora (1 Pe 1.23): Pedro compara a Bíblia a uma semente
incorruptivel que regenera e perdura.
Leite Nutritivo (1 Pe 2.2): Pedro destaca a Bíblia como um leite espiritual
vital para o crescimento e desenvolvimento.
Alimento sólido (Hb 5.14): O autor de Hebreus apresenta as Escrituras
como alimento sólido para os maduros espiritualmente.
Água Purificadora (SI 119.9; Ef 5.25,26): A Bíblia é comparada à água que
limpa, purifica e guia, tanto pelo salmista quanto por Paulo.
Fogo Purificador (Jr 23.29): Jeremias descreve a palavra de Deus como
fogo que purifica e refina.
Espada Penetrante (Hb 4.13): O autor de Hebreus compara a Bíblia a uma
espada que penetra profundamente em nossos seres.
Remédio para a Doença do Pecado (SI 119.11): Davi expressa a função
terapêutica da palavra de Deus como um meio de evitar o pecado.
Lâmpada para os Pés (SI 119.105): Davi ilustra a Bíblia como uma
lâmpada que ilumina e guia em meio à escuridão.

19
CONCLUSÃO
A Palavra de Deus é o único manual do crente. Os manuais
existem para orientar as pessoas sobre os procedimentos corretos em
determinadas ocasiões. Dessa forma, a Bíblia nos ensina a servir ao
Senhor, a empregar bem as orientações deixadas por Deus para uma
vida feliz e para a correta realização de Sua obra. É também a Bíblia
que nos mostra o caminho da salvação, da santificação e da vida
eterna. A eficiência no uso da palavra vem do exercício constante, da
prática (1 Pe 2.9, 3.15; Ef 2.10; 2 Tm 2.15; Is 34.16; 55.11; Sl 119.130).

20
LIÇÃO 04 O CANON BÍBLICO
TEXTO BASE: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e
útil para o ensino, para a repreensão, para a correção,
para a educação na justiça, a fim de que o homem de
Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para
toda boa obra” (2Tm 3.16,17).

Cânon ou Escrituras Canônicas é a coleção completa dos livros


divinamente inspirados, constituindo a Bíblia. Cânon é uma palavra grega
que significa vara reta de medir, assim como uma régua de carpinteiro. A
palavra aparece no original em Ez 40.5. O termo "cânon" refere-se à regra
ou norma, especialmente quando aplicado à Bíblia, indicando quais livros
são considerados normativos para a fé e prática cristã. Os livros canônicos
são reconhecidos como inspirados por Deus, geralmente escritos por
profetas ou apóstolos (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.20,21; Ef 2.20; 2 Pe 3.15-17).
Há consenso entre o Judaísmo, o Catolicismo e o Protestantismo
sobre o cânon comum do Antigo Testamento, composto por trinta e nove
livros (vinte e quatro nas Bíblias judaicas). Esta coleção é denominada
"cânon comum".
No entanto, uma discordância significativa surge dentro do
Cristianismo em relação a onze obras literárias do período do Antigo
Testamento, conhecidas como apócrifos pelos protestantes e
deuterocanônicos pelos católicos. A Igreja Católica declarou esses onze
livros "infalivelmente" como parte do cânon no Concílio de Trento em
1546 d.C. Esses livros foram considerados canônicos e sua rejeição foi
condenada pela Igreja Católica.
O cânon comum inclui os livros reconhecidos universalmente,
enquanto a divergência entre as tradições cristãs reside na aceitação ou
rejeição dos apócrifos/deuterocanônicos. O Concílio Vaticano II reiterou
a inclusão desses livros na Palavra de Deus inspirada.

❶ APÓCRIFOS CATÓLICOS-ROMANOS
O debate em torno dos livros apócrifos envolve uma lista de obras

21
literárias consideradas canônicas pelos católicos.
Lista desses livros apócrifos:
1 - Sabedoria de Salomão (c. 30 a.C.) - Livro da Sabedoria. 2 - Eclesiástico
(Siraque, 132 a.C.) – Siraque. 3 - Tobias (c. 200 a.C.) – Tobias. 4 - Judite (c.
150 a.C.) – Judite. 5 - 1 Esdras (c. 150-100 a.C.) - 3 Esdras. 6 - 1 Macabeus
(c. 110 a.C.) - 1 Macabeus 7 - 2 Macabeus (c. 110-170 a.C.) - 2 Macabeus. 8
- Baruque (c. 150-50 a.C.) - Baruque 1—5. 9 - Carta de Jeremias (c. 300-
100 a.C.) - Baruque 6. 10 - 2 Esdras (c. 100 d.C.) - 4 Esdras*. 11 -
Acréscimos a Ester (140-130 a.C.) - Ester 10.4-16.24. 12 - Oração de
Azarias (século I a.C.) - Daniel 3.24-90 (Cântico dos Três Jovens). 13 -
Susana (século I ou II a.C.) - Daniel 13. 14 - Bel e o Dragão (c. 100 a.C.) -
Daniel 14. 15 - Oração de Manassés (séculos I-II a.C.) - Oração de
Manasses*
Estes livros foram considerados canônicos no Concílio de Trento.
Apesar de o cânon católico romano possuir onze livros a mais que a Bíblia
protestante, apenas sete livros a mais são evidentes no índice das Bíblias
católicas. Os quatro livros ou obras literárias adicionais não aparecem nos
índices, mas estão integrados em outros livros, como os Acréscimos a
Ester, a Oração de Azarias, Susana, e Bel e o Dragão.
Argumentos contra a canonicidade desses livros
O cânon judaico-protestante do Antigo Testamento, composto
por trinta e nove livros, é considerado o verdadeiro cânon. Os judeus da
Palestina, representantes da ortodoxia judaica, reconheceram esse
cânon como o verdadeiro, o mesmo utilizado por Jesus, Joséfo e
Jerônimo, além de muitos Pais da igreja antiga.
O verdadeiro teste de canonicidade é a "profeticidade", onde
apenas os livros escritos por profetas ou seus representantes autorizados
são considerados inspirados. A formação do cânon envolveu a
confirmação imediata pelos contemporâneos, evidenciada pelas
citações e aceitação dos livros ao longo do tempo.
Os livros apócrifos são questionados quanto à sua canonicidade.
Eles não alegam terem sido escritos por profetas, não possuem
confirmações sobrenaturais, carecem de profecia preditiva e não
contribuem com novas verdades messiânicas. A comunidade judaica
22
reconhecia o cessar dos dons proféticos antes da composição dos
apócrifos.
O testemunho continuo desde a antiguidade, incluindo Filo,
Flávio Joséfo e os mestres judeus de Jamnia, reforça a rejeição dos
apócrifos. Jesus e os autores do Novo Testamento não citaram os
apócrifos como Escrituras. Os Pais da igreja cristã, como Jerônimo, se
pronunciaram contra os apócrifos.
Os Reformadores, como Lutero e Calvino, negaram a
canonicidade dos apócrifos. A igreja cristã universal rejeita esses livros
por falta de profeticidade, ausência de citações no Novo Testamento,
exclusão do cânon hebraico e rejeição histórica.
Razões por que não reconhecemos os apócrifos como inspirados:
1) Não fazem parte do Cânon hebraico;
2) Os judeus não os reconhecem como inspirados;
3) Foram escritos num período de silêncio de Deus;
4) Cristo nunca fez citação de tais livros;
5) Eles possuem vários ensinos heréticos:
Em Tobias se ensina: A justificação pelas obras (4:7-11; 12:8),
Mediação dos santos (12:12) e Um anjo ensina a mentir (5:16-19);
Em Baruque se ensina: A intercessão pelos mortos (3:4);
Em Eclesiástico se ensina: Justificação pelas obras (3:33-34),
Tratar cruelmente os escravos (33:26,30;42:1,5) e Incentivo o ódio aos
samaritanos (50:27,28);
Em Sabedoria de Salomão se ensina: O corpo como prisão da alma
(9:15) e A salvação pela sabedoria (9:19);
Em II Macabeus se ensina: Oração pelos mortos (12:44-46), Culto
pelos mortos (12:43) e Intercessão pelos santos (7:28;15:14).

❷ O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO


O Novo Testamento, composto entre os anos 50 e 90 d.C., é aceito
pela maioria das correntes cristãs como composto por vinte e sete livros
inspirados e canônicos. Existem diversas evidências que respaldam a
concepção de que o cânon do Novo Testamento está fechado, sendo a
promessa de Jesus uma das mais fundamentais. Jesus assegurou um
23
cânon fechado ao limitar a autoridade de ensino aos apóstolos, que
faleceram antes do final do primeiro século. (Mateus 5.17; Hebreus 1.1,2;
1.4; 7.19; 9.23; 5.9; 9.12,15; 14.9; Colossenses 2.9; João 14.26; 16.13).
As evidências favoráveis ao encerramento do cânon incluem a
promessa de Jesus de que o Espírito da revelação completaria a revelação
bíblica, (João 14.26; 16.13) a providência de Deus na preservação da
Palavra (Salmo 139.1-6; 147.5; Romanos 1.19,20; 3.2; 2 Timóteo 3.16) e o
testemunho continuo da igreja. A revelação final e completa de Deus foi
confiada aos apóstolos, que foram escolhidos e capacitados por Jesus.
Além disso, os apóstolos, por meio de sinais apostólicos, confirmaram
sua autoridade na transmissão da revelação.
A preservação dos escritos apostólicos ocorre por meio da
providência divina e do zelo da igreja na preservação ativa dos escritos (1
Timóteo 5.18; 2 Pedro 3.15,16; 1 Tessalonicenses 5.27; Colossenses 4.16;
Judas 6,7,17). A igreja enfrentou desafios heréticos, como o de Marcião,
mas respondeu definindo oficialmente a abrangência do cânon, com
listas e coleções desde os primeiros séculos, culminando nos Concílios de
Hipona e Cartago (Mateus 10.8; Atos 5.9-11; 2 Coríntios 12.12; 1
Coríntios 9.1).
O consenso na cristandade sobre o fechamento do cânon
permanece até os dias atuais, evidenciando a proclamação da igreja
acerca da completude do Novo Testamento (João 14.26; 16.13).

❸ O FECHAMENTO DO CÂNON BÍBLICO


O fechamento do cânon bíblico encontra respaldo em diversas
evidências que fortalecem a solidez e integridade dos textos inspirados,
evidenciadas pela providência divina, pela preservação zelosa da igreja e
pela ausência de indícios de outros livros proféticos ou apostólicos.
Providência de Deus na Preservação: Não há evidências de perda
de escritos inspirados, indicando a providência divina na preservação
imediata e cuidadosa da igreja. Como Moisés, Elias e outros foram
sancionados por sinais e maravilhas, a confirmação sobrenatural dos
autores bíblicos destaca a singularidade da Bíblia. Êxodo 4:5, Números
16, João 3:2, Lucas 7:22, Atos 2:22, Hebreus 2:3-4, 2 Coríntios 12:12.
24
Ausência de Perda de Escritos Inspirados: O cânon bíblico é
exclusivo, não perdendo escritos inspirados. O contraste com outros
livros sagrados, como o Alcorão e o Livro de Mórmon, reforça a
singularidade da Bíblia como a Palavra de Deus, escrita por profetas e
apóstolos. Hebreus 2:3-4, 2 Coríntios 12:12.
Confirmação do Cânon: A Bíblia é sobrenaturalmente confirmada
como a Palavra de Deus, escrita por profetas e apóstolos que foram
sancionados por sinais, prodígios e maravilhas. Isso a diferencia de
líderes religiosos de outras tradições, ressaltando sua singularidade.
Êxodo 4:5, Números 16, João 3:2, Lucas 7:22, Atos 2:22, Hebreus 2:3-4, 2
Coríntios 12:12.

CONCLUSÃO
Por não conhecer adequadamente a Palavra de Deus, muitos
crentes se tornam fanáticos. Em vez de deixarem o Espírito Santo usá-los,
querem usar o Espírito Santo para fazer suas vontades. Por outro lado, há
os que conhecem a Palavra, mas a falta de correta e pronta orientação
espiritual, principalmente aos novos convertidos, podem resultar em
vidas desequilibradas e doentias pelo resto da existência. São pessoas
que ferem a si mesmas e as outras pessoas com as quais convivem, por
não compreenderem as riquezas da liberdade conquistada por Cristo (Sl
119.72; Ef 1.17; 1 Co 2.10).

25
LIÇÃO 05 O AMOR FRATERNAL
TEXTO BASE: “Um novo mandamento vos dou: que vos
ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que
também vós vos ameis uns aos outros” Jo 13.34

De onde vêm as guerras, os crimes, as rixas, as ofensas e tudo


aquilo que nos separam uns dos outros? Talvez pudéssemos explicar
como tendo origem na inveja, na cobiça, no egoísmo, no preconceito ou
na intolerância – e estaríamos certos. Mas o certo é que esse
comportamento degradante é resultado inevitável da ausência de Deus
no coração humano.
Nunca foi fácil a convivência entre os homens. Nem mesmo os
membros da primeira família se livraram desta angustia (Gn 4:8). Como
diziam os romanos antigos: “homem é o lobo do homem”.
Diante disto, podemos indagar: “Se a vida é assim, então, quem é
que pode cumprir o mandamento do Senhor de amarmos uns aos outros
(Jo 13:34)”? Somente os que foram lavados pelo sangue do Cordeiro e
regenerados pelo poder do Espírito Santo, podem cumprir este
mandamento. Mas, se mesmo com a ajuda de Deus é tão difícil uma inter-
relação amorosa, qual a vantagem de nos esforçarmos nesse sentido?
Veremos nesta lição, que esse amor recíproco é uma necessidade
vital para todos nós; é também um desafio constante e, além de tudo, é
uma bênção estimável da qual nenhum de nós pode abrir mão.

❶ UMA NECESSIDADE VITAL


Amar ao próximo é uma necessidade para nossa existência cristã,
pois esta é a prova que realmente estamos “vivos para Deus” (Jo 13:35;
1Jo 4:8). Mas a quem é que devemos amar? Alguém perguntou isso para
Jesus (Lc 10:29), Jesus ao responder nos ensina algumas lições
importantes:
1º Quem é o nosso próximo a quem devemos amar?
a) Pode estar sentado ao meu lado na igreja, mas também pode estar
caído na calçada, fora da igreja;
b) Pode estar dentro da minha casa, mas também pode estar na casa do
meu vizinho;
26
c) Pode estar se divertindo comigo, mas também pode estar sofrendo
sozinho.
Os judeus, por causa de uma interpretação equivocada de
Levítico 19:18, achavam que só deveriam amar pessoas da mesma raça.
Essa interpretação distorcida no fundo tinha origem no preconceito que
nutriam contra qualquer um que não fizesse parte de sua “panelinha de
santidade”.
2º O problema do preconceito
O preconceito mata os relacionamentos. Esse mal se faz presente
também entre nós de várias maneiras:
a) Em nossos critérios de avaliação: Feio e bonito, rico e pobre, branco e
negro, gente boa e marginal, amigo e inimigo, etc;
b) Na maneira de rotularmos as pessoas: “nortistas”, “caipiras”,
“gringos”, “crioulos”, “índios”, “coroas”, “carolas”, “tradicionais”,
“renovados”, etc;
c) Em nossas brincadeiras de mau gosto: barrigudo, magricela, careca,
quatro olhos, vesguinho, banguela, pixaim, gaguinho, dentuço, baixinho,
velho gagá, etc.

❷ UM DESAFIO CONSTANTE
Além de o amor recíproco ser de vital importância para nós os
cristãos, sua manifestação ou ausência acaba se transformando num
desafio constante ao pensarmos na vida daqueles que sofrem com a
indiferença do mundo moderno. Eles estão à busca de ajuda, de apoio, de
relacionamentos fraternais, de amizades sinceras, saudáveis,
equilibradas e discretas. Mas se forem a uma igreja onde o amor
recíproco não é constantemente ensinado, motivado e expressado,
correm o risco de encontrar um ambiente de solidão, indiferença,
hipocrisia, egoísmo, intolerância, aspereza, inveja, amargura,
maledicência e coisas ainda piores que as que estão acostumadas.
Jesus fez desse mandamento um desafio para Sua igreja, afim de
que possamos ser beneficiados e, ao mesmo tempo, manifestarmos
publicamente a nossa fé (Jo 13:35).
O “bom perfume” do amor fraterno deve extravasar, em toda sua
27
essência, para fora da igreja, a fim de cativar, com seu aroma suave,
aqueles que vivem neste mundo fétido. Somente quando a sociedade
inala a fragrância das palavras, dos gestos e das atitudes responsáveis
que nos levam a cuidar uns dos outros com amor fraternal, é que
reconhece a presença transformadora de Deus em nossa vida (2Co 2:15).

❸ UMA BÊNÇÃO INESTIMÁVEL


A ordenança de Jesus e dos apóstolos “amem uns aos outros”,
além de ser vital em nossa saúde espiritual e de se mostrar um desafio
constante para a igreja a qual servimos, é ainda um mandamento
abençoado, que traz muitos benefícios para a vida daqueles que o
praticam. Certamente, nada expressa mais vivamente essa bênção do
que a figura bíblica do corpo de Cristo, a Igreja (Rm 12:5).
O amor recíproco nos estimula a viver uns em favor dos outros,
assim como na figura do corpo, em que um membro sempre age no
propósito de beneficiar os demais (1Co 12:12-27; Rm 15:5; Fp 2:3).
Como podemos de forma prática, demonstrar esse amor?
a) Agindo com generosidade (2Co 9:11);
b) Socorrendo e servindo o próximo (Rm 12:13);
c) Trazendo encorajamento (2Co 1:4);
d) Procedendo com benignidade (Ef 4:32);
e) Sendo prestativos (Gl 6:2);
f) Dispondo-se a servir (1Pe 4:10);
g) Demonstrando sensibilidade (Rm 12:15);
h) Dando bons conselhos (Cl 3:16).

CONCLUSÃO
Se de fato queremos cumprir o mandamento do Senhor e amar
uns aos outros, assim como Cristo os amou, na certeza de que esse amor
recíproco é uma necessidade vital para todos nós, um desafio inestimável
do qual não podemos prescindir, então temos que aprender a olhar para
as pessoas da maneira como Deus as vê.
1º Temos que aprender a olhar as pessoas com os olhos da fé, não com o
julgamento superficial dos sentimentos (1Sm 16:7);
28
2º Temos que olhar as pessoas com discernimento, ajudados pelo
Espírito Santo, para entendermos a pessoa com ela, evitando, assim,
fazermos juízo errado (Rm 14:13);
3º Temos que olhar as pessoas “com olhar do coração” – vê-las com o
critério de Deus – alguém por quem Cristo morreu... Alguém que é
amado por Deus... Alguém a quem devemos amar (Jo 13:35).

29
LIÇÃO 06 O AMOR NO ACOLHER
TEXTO BASE: “Portanto, acolham uns aos outros, como
também Cristo acolheu vocês para a glória de Deus” Rm
15.7

“Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam


sendo salvos” (At 2:47). Desde o início, a igreja foi descobrindo que o
projeto de Deus abrangia muito mais do que supunham os discípulos.
Nos primeiros dias, a comunidade cristã era composta basicamente de
um seleto grupo, que teve o privilégio de ser pastoreado pelo Senhor
Jesus Cristo. Mas em poucos dias, o rol de 120 membros foi acrescido de
mais 3.000 convertidos (At 2:41), e a cada um deles se aplicava a mesma
ordenança: “Portanto, acolham uns aos outros, como também Cristo
acolheu vocês para a glória de Deus” (Rm 15:7).
A igreja mudou de aparência e desenvolveu-se muito desde
então, espalhando-se por toda a face da terra. Porém, sua característica
mais impactante com a qual marcou aquela primeira geração (o
acolhimento mútuo) parece que ficou esquecida. Sim, a igreja daqueles
dias vivia “louvando a Deus e contando com a simpatia de todo povo” (At
2:47). Por que contavam com a simpatia do povo? Porque viviam como
uma verdadeira família – pessoas tão diferentes, pequenos e grandes,
homens e mulheres, ricos e pobres, cultos e iletrados – acolhiam-se
mutuamente e compartilhavam tudo o que tinham. Isso causava
impacto.
A igreja de hoje dispõe de muitos meios para impactar a
sociedade: computadores, multimídia, grupos de coreografias, teatros,
corais, orquestras, bandas, programas em rádio e tvs, ministério variados
e muita mais. Ela realiza grandes eventos, enche auditórios e estádios,
promovem campanhas sociais, etc. Porém, infelizmente, nem todas as
igrejas da atualidade têm conquistado a “simpatia do povo”, pela falta de
qualidade, de santidade e, especialmente, de exercício prático do amor.
Há também deficiência no relacionamento entre irmãos e no cuidado
para com aqueles que são ainda débeis na fé (Rm 14:1).
30
Neste estudo procuraremos encontrar algumas maneiras simples
de obedecer à ordenança de Jesus, causando grande impacto na vida
daqueles que estão sendo introduzidos na comunidade da igreja, e
também perante a sociedade em que vivemos.

❶ DEMONSTRE INTERESSE
O mundo moderno, com seu ritmo alucinante, fez crescer a
população e aumentar a solidão. Pessoas se acotovelam nas ruas, nos
ônibus, nos metros, nas lojas, nas praias, nos estádios, mas ninguém
conhece ninguém, nem quer conhecer. Mas, na igreja, por menor e mais
apertada que seja Deus espera uma realidade bem diferente: o Senhor
quer ver manifestações de amor, de comunhão e de interesse mútuo.
Afinal, somos família, somos filhos de Deus! (Rm 15:1-3)
O conselho de Paulo é que não apenas cumprimentemos, mas
tenhamos a disposição de ajudar aqueles que estão chegando, os novos
convertidos e os fracos na fé, a carregarem os seus pesados fardos. Que
fardos são esses?
a) O fardo da carne: Aqueles que são ainda fracos na fé sofrem o conflito
antagônico entre carne e espírito; entre fazer a vontade Deus ou
satisfazer os desejos da carne. Precisamos demonstrar interesse por eles,
solidariedade e disposição para ajudá-los, aconselhá-los e interceder por
eles.
b) O fardo do mundo: Os novos convertidos e aqueles que não cresceram
na fé são bombardeados dia e noite pelos gracejos, insinuações e insulto
da sociedade, dos amigos e da própria família. Eles precisam do nosso
apoio e compreensão para vencer essa difícil etapa da vida.
c – O fardo do diabo: Ninguém está mais interessado na ruína daqueles
que já estão fracos do que Satanás. As tentações são constantes e, às
vezes, vêm até mesmo de dentro da igreja. Eles precisam sentir que
estamos interessados no bem deles, para que se sintam amparados,
fortalecidos.
Há um pensamento que diz: “A igreja é o único exército que
abandona seus feridos”. É triste, mas é verdade. Precisamos mudar essa
31
infeliz realidade. O abandono acontece pela falta de persistência, pelo
comodismo, pela indiferença e pelo desinteresse dos próprios cristãos.

❷ DEMONSTRE RESPEITO
Que responsabilidade Deus coloca nas mãos daqueles que já
cresceram um pouco mais na vida espiritual, em relação aos que ainda
estão fracos?
a) Os fortes devem suportar as fraquezas dos fracos (Rm 15:1) –
“suportar as debilidades” significa: agüentar, tolerar, mas também
carregar, apoiar. No contexto do versículo, o sentido parece ser este
último “carregar e apoiar”. No entanto, devemos fazer isso sempre
demonstrando o máximo respeito.
b) Os fortes devem se preocupar com os fracos (Rm 15:1) – Na igreja do
Senhor, não cabe a figura do egocentrismo; aquele que só pensa nos seus
problemas e busca apenas os seus próprios interesses. Nosso interesse
deve ser pelos fracos, lembrando-nos que o fraco também é digno.
c) Os fortes devem promover o bem-estar dos fracos, a fim de edificá-los
– Paulo disse que “cada um de nós deve agradar o seu irmão, para o bem
dele, a fim de que ele cresça na fé” (Rm 15:2), como já havia ensinado:
“Por isso procuremos sempre as coisas que trazem a paz e que nos
ajudam a fortalecer uns aos outros na fé” (Rm 14:19 NTLH). Mas, se não
fizermos isso com todo respeito, acabamos levando-os a tropeçar em vez
de edificá-los (Rm 14:13-15).

❸ DEMONSTRE ACEITAÇÃO
O “corpo de Cristo”, que é a igreja, é como coração de mãe –
sempre cabe mais um! Sempre deve haver espaço e ministério para
aqueles que estão chegando (1Co 12:7-14). Em cada um de nós há muitas
diferenças na estrutura física, na aparência, na formação, no
temperamento, na criação, no estilo de vida, na educação e em outras
áreas também. Por isso, para a boa convivência é imprescindível nos
adaptarmos a essa imensa colcha de retalhos, na qual tanta diferença,
quando bem trabalhada, contribui para a edificação de todos.
Em Romanos 15:7 Paulo diz: “Portanto, aceitem uns aos outros para a
glória de Deus, assim como Cristo aceitou vocês” (NTLH). A questão é:

32
por que Cristo nos aceitou? O que havia de bom em nós para que
merecêssemos tamanho amor e consideração? Bem sabemos que
não havia nada de bom em nós e que o amor de Deus por nós é
gratuito, isto é, não fizemos por merecer. Deus nos amou e, apesar
de nossas fraquezas, nos aceitou como Seus filhos. Por isso, seguindo
esse exemplo, o que se espera de nós é que saibamos dar de graça
aquilo que recebemos de graça: amor, aceitação, perdão, carinho e
amizade.
Espera-se que os fortes na fé expressem, pelo menos, duas
atitudes:
1º Aceitem os fracos (Rm 14:1): Assim como Deus nos aceitou quando
éramos fracos e crianças na fé, também devemos proceder para com
aqueles que se mostram fracos espiritualmente.
2º Aceitem os fortes (Rm 15:7): Nós fomos aceitos pela família divina
quando Deus Pai nos amou, Deus Filho graciosamente Se deu por nós e
Deus Espírito Santo nos revestiu com uma nova natureza e nos capacitou
a entrar na família de Deus. Agora é nossa vez de manifestarmos alegria
ao acolher uns aos outros, sem competições, sem vangloria, sem
rivalidade (Fp 2:4).

❹ DEMONSTRE ESPERANÇA
Paulo termina seus conselhos dizendo: “Que Deus, que nos dá
essa esperança, encha vocês de alegria e de paz, por meio da fé que vocês
têm” (Rm 15:13 NTLH). O que dava esperança ao apóstolo era ver o
progresso que o evangelho vinha promovendo na vida dos cristãos
romanos (Rm 1:8). E era essa esperança que lhe permitia momentos de
alegria e paz. Os crentes romanos ainda não eram perfeitos, mas já
demonstravam algumas mudanças.
Da mesma forma, devemos depositar esperanças na restauração
ou progresso espiritual daqueles que hoje se acham fracos na fé, isto é,
aqueles com quem temos convivido e cujo esforço para melhorar se
percebe. Nossa esperança lhes dará esperança, nossa alegria lhes trará
alegria e nossa paz os fará descansar na certeza de que são vitoriosos.

33
CONCLUSÃO
Precisamos resgatar o que fez tanto sucesso no passado, na igreja
primitiva – a mutualidade cristã – não porque tenha sido um modismo
que deu certo, mas por ter sido a estratégia que Deus criou para eles e
para nós. Somos família de Deus, corpo de Cristo, irmãos uns dos outros,
por isso é imprescindível que haja entre nós acolhimento amoroso.
Exercite o acolhimento! Ligue para alguém que você tem sentido
falta na igreja. Envie uma mensagem. Faça uma visita. Precisamos cuidar
uns dos outros.

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LIÇÃO 07 A COMUNHÃO NA IGREJA
TEXTO BASE: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que
não haja entre vós divisões; antes, sejais todos
inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no
mesmo parecer” 1 Co 1.10

Comunhão é ter tudo em comum e partilhar da mesma crença. A


palavra grega koinonia, “comunhão”, significa compartilhar ou participar
mutuamente de algum evento comum ou acordo. No Antigo Testamento,
“a idéia de comunhão” diz respeito ao relacionamento do homem com o
seu próximo (Sl 133:1). A comunhão no cristianismo envolve tanta o
relacionamento entre os irmãos como também com o Pai, com o Filho
(1Jo 1:3) e com o Espírito Santo (2Co 13:13).

❶ COMUNHÃO: DESEJO DE CRISTO


Jesus rogou ao Pai dizendo: “... a fim de que todos sejam um; e
como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que
o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que
me tens dado, para que sejam um, como nós somos; eu neles, e tu em
mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo
conheça que tu me enviaste e os amastes, como também amastes a mim”
(Jo 17:21-23). Este é o grande ensino de Jesus acerca da comunhão e esta
deve ser a grande meta da igreja de Jesus. Só há uma maneira de o mundo
crer que Deus enviou Jesus, se formos um com Ele, assim como Ele é com
o Pai. Só há uma maneira do mundo conhecer que Deus enviou a Jesus, se
Jesus estiver em nós, assim como o Pai está em Jesus, se formos perfeitos
em unidade, assim como Jesus é perfeito em unidade com o Pai. Este
trecho do Evangelho de João revela a intimidade de Jesus com o Pai,
indicando o desejo eterno de Deus, a saber, sermos todos um com o Pai
(v.21).

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❷ COMUNHÃO: DESEJO DOS PRIMEIROS CRENTES
O desejo do Pai e do Filho foi impresso na igreja. Os textos de Atos
2:42-47; 4:32-53 juntos se completam e mostram o começo da igreja de
Jerusalém. Era uma igreja que se caracterizava pela comunhão, sinais
sobrenaturais, solidariedade de seus membros, testemunho da
ressurreição de Cristo, e pelo poder atuante do Espírito Santo na vida dos
discípulos. Tais características são indispensáveis na vida da igreja em
todas as eras e em todos os lugares. A igreja de Jerusalém, logo nos seus
primeiro dias, vivia o que diz o texto, “... Todos os que creram estavam
juntos e tinham tudo em comum...”, “... Da multidão dos que creram era
um o coração e a alma...” (At 2:44; 4:32). Em seus primeiros passos a
igreja de Jerusalém deu ao mundo uma lição de koinonia. O texto
sagrado é mais profundo do que imaginamos inicialmente, pois revela
que não se tratava apenas de compartilhar algo, mas também de
unidade. ”Coração” diz respeito ao centro da vida. “Alma” é a sede das
emoções, fala dos mesmos afetos e sentimentos (Fp 2:2-3). Todos os
crentes tinham o mesmo propósito, a mesma esperança, servindo o
mesmo Senhor.

❸ COMUNHÃO: DESEJO DO APÓSTOLO PAULO


Quando o apóstolo Paulo escreve a primeira epístola aos
Coríntios, imediatamente trata do problema de divisão, que
descaracterizava potencialmente a igreja em sua comunhão. Ele rogava
aqueles crentes que falassem a mesma coisa, que não ocorressem
divisões, que fossem inteiramente unidos, na mesma disposição mental
(1Co 1:10). Terminando sua epístola aos Filipenses, roga a duas mulheres
que pensem concordemente, no Senhor (Fp 4:2). Certamente o
comportamento dessas mulheres não condiziam com a identidade cristã
nos termos da comunhão. Paulo, então, faz um apela para que prováveis
desavenças fossem sanadas. Determinados comportamentos são
nocivos e podem comprometer a comunhão da igreja. A igreja deve se
preservar dessas armadilhas. Aos Colossenses, Paulo recomendava: “...
Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente...” (Cl 3:13-14).
Portanto, comunhão é fator primordial. A igreja que pretende avança na

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sua missão deve, antes de qualquer outro esforço, buscar a comunhão
dos seus membros entre si e com Deus, para então estar qualificada para
outras pretensões.

❹ COMUNHÃO: DESEJO DA IGREJA EM TODOS OS TEMPOS


A história da igreja nos revela que muitos crentes morreram por
causa da perseguição aos cristãos. Nesses momentos de extrema
dificuldade a comunhão foi essencial. Há relatos de muitos que
morreram abraçados. Paulo, mesmo, faz referência a Epafrodito que
arriscou a própria vida em seu favor, ao chegar “as portas da morte”
quando “se dispôs a dar a própria vida” (Fp 2:29-30). Quem hoje daria a
sua vida pelo seu irmão ou se arriscaria por ele? Que espécie de
comunhão temos em nosso meio? O que falar de Blandina, mártir que,
devido à fragilidade física, era tema de preocupação de seus
companheiros de cárcere. À morte caminharam juntos. A comunhão que
havia entre essa gente sustentava a igreja nos momentos mais difíceis.
Hoje, muitas vezes nos deparamos com irmãos que se afastam de outros
menos afortunados, como se caminhássemos por caminhos distintos.
Que comunhão é essa?
Para o reformador João Calvino, a igreja deveria ser uma
comunidade onde houvesse o estimulo e o encorajamento para o
exercício da fé e da obediência, e sua qualidade maior deveria ser
norteada pela “comunhão dos santos”, mesmo que implicasse uma
vivência em meio a lutas, privações e perseguições.
Lutero entendia a igreja não propriamente como povo de Deus,
mas como a comunhão dos crentes ou “comunhão dos santos”, refletindo
a unidade da fé, compartilhada por todos da comunidade.

CONCLUSÃO
A palavra koinonia é geralmente traduzida, na ótica latino-
americana, por “comunhão”, “fraternidade”, “solidariedade”. H. Cox diz
que a fraternidade é o “aspecto da responsabilidade da igreja que exige
uma demonstração visível daquilo que a igreja está dizendo no querigma
(anúncio da fé) e apontando na sua diaconia”.

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Karl Barth fala da igreja como sendo “a demonstração da intenção
de Deus para toda a humanidade”. Assim, a igreja é mais do que uma
simples esperança. Ela é o lugar onde a esperança já se tornou realidade,
onde o futuro já assumiu uma forma concreta.
Diante deste breve resumo sobre esta grande responsabilidade, é
necessário nos situarmos neste contexto de igrejas do qual fazemos
parte. Mais ainda, devemos particularizar tudo isto numa auto-
avaliação, até percebermos o quanto temos, ou não, contribuído para
que haja comunhão em nossas igrejas.

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LIÇÃO 08 SUPORTANDO O IRMÃO
TEXTO BASE: “Suportai-vos uns aos outros, perdoai-
vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de
queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos
perdoou, assim também perdoai vós” Cl 3.13

As sociedades humanas e suas instituições de maneira geral


apresentam vários problemas no que diz respeito aos relacionamentos
interpessoais: intrigas, inveja, amarguras, disputas por posições de
destaque, mentiras, entre outras. Infelizmente o cenário nas igrejas não é
tão diferente! Há uma crise nos relacionamentos também dentro das
igrejas. Por isso, a relação entre os cristãos é um dos temas
constantemente abordado na Bíblia.
Na Igreja Primitiva, por exemplo, existiam pessoas de todos os
tipos. Elas tinham opiniões diferentes, modos diferentes de fazer as
coisas, bem como graus diferentes de maturidade. Algumas pessoas
eram mais lentas em fazer morrer a “natureza carnal e pecaminosa” e a
revestir-se com o “novo homem”. Outras tinham orgulho de sua
espiritualidade e das coisas que haviam alcançado de Deus. Outras ainda
eram muito críticos, invejosos e algumas eram muito briguentos.
Algumas tinham maneirismos terríveis, enquanto outras tinham
temperamentos explosivos.
Em resumo: eram pessoas imperfeitas e ainda pecadoras, apesar
de serem crentes dedicados. Por estes motivos todos, Paulo exorta os
crentes a que deveriam “suportar” uns aos outros. Todos se encontravam
em um mesmo estado de imperfeição – de uma ou de outra maneira.
Todos precisavam se submeter ao Espírito Santo para andar de modo
digno do chamado que haviam recebido.
A Igreja dos dias de hoje enfrenta estes mesmos tipos de
problemas. Pessoas ainda são pessoas. Então, o conselho ainda é válido.

❶ ENTENDENDO O MANDAMENTO
Viver o termo “uns aos outros” em um ambiente social onde
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imperam o egoísmo e o individualismo, caracteriza-se como um dos
grandes desafios a serem enfrentados. Em meio a tanta diversidade de
pessoas, é inevitável que os problemas surjam e, associado a estes
problemas, a dificuldade de aceitação. É dentro deste conceito de
dificuldade de aceitação do outro que se torna tão importante esse
mandamento.
A palavra suportar aparece diversas vezes na Bíblia e com os mais
variados significados: dar apoio ou apoio, sustentar, agüentar.
Suportar uns aos outros é tolerar de forma graciosa aquelas
atitudes que consideramos desagradáveis, ofensivas e até mesmo
pecaminosas da parte de nossos irmãos na fé. O verbo grego também
traduz a idéia que a repreensão, a disciplina e a correção sejam adiadas,
tanto quanto possível, visando permitir o ofensor reconhecer seus erros
e corrigi-los por ele mesmo.
Deus é paciente para conosco, e Ele nos ama como nós somos,
independente das nossas fraquezas. Nós também devemos imitar nosso
Deus e suportar nossos irmãos em Cristo com suas fraquezas.
Quando obedecemos a este mandamento nós contribuímos para
a manutenção tanto da unidade quanto da paz no seio da igreja. Quando
somos rápidos demais em apontar os erros, os maus hábitos, os
problemas de personalidade e até mesmo os pecados nos outros, nós
contribuímos para que um espírito de julgamentos e de crítica surja em
nosso meio. Se nos irritarmos e nos irarmos facilmente uns contra os
outros então, as sementes da discórdia e da divisão serão semeadas em
nosso meio.

❷ SUPORTAR É ESFORÇAR-SE PARA MANTER A UNIDADE


Vejamos alguns versos onde suportar significa agüentar, tolerar,
esforçar-se com o fim de manter a unidade do corpo de Cristo.
“Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-
se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência.
Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns
contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo,
porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito” (Cl 3.12-14).
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“Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna
da vocação que receberam. Sejam completamente humildes e dóceis, e
sejam pacientes, suportando uns aos outros com amor. Façam todo o
esforço para conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Efésios
4.1-3).
Nestes dois versos escritos pelo apóstolo Paulo a ordem de suportar
diz respeito ao dever que cada um de nós tem de agüentar, de tolerar com
paciência aqueles que consideramos mais difíceis de nos relacionarmos
no corpo de Cristo. Todos nós conhecemos pessoas a quem
consideramos chatas, pegajosas e desagradáveis seja por motivos do
nosso coração ou pelas características da própria pessoa.
A verdade é que todos nós somos péssimas companhias às vezes.
Todas as pessoas em um momento ou outro são difíceis. Portanto,
lembre-se de que você não é uma pessoa agradável em todo o tempo e
muitas vezes, se faz necessário que outras pessoas tenham paciência
com você.
A ordem bíblica é que no corpo de Cristo devemos suportar uns aos
outros em amor mesmo as mais difíceis, as mais complicadas. Suportar as
debilidades de outra pessoa não é agradável, não é fácil, mas é
abençoador e transformador tanto para quem suporta como para quem
é suportado.
Nos dois versos Paulo da ênfase ao amor, pois toda ação que
exercemos de mutualidade deve ser realizada permeada de amor. Sem
amor nada do que fazemos tem sentido e validade para Deus. O amor é o
elo que nos une e nos capacita a conservarmos a unidade do Espírito por
meio da paz.
O verbo suportar, do grego “anechomenoi” tem o sentido de um
esforço que se deve fazer para manter algo para cima. Dentro do contexto
apresentado por Paulo a idéia é de nos esforçarmos para mantermos
nossa relação saudável com nossos irmãos.
Certamente Paulo não está dizendo que você deve ser conivente
com o pecado das demais pessoas, mas que temos que agüentar
pacientemente os nossos irmãos, e, em nossa jornada devemos
caminhar perdoando-os até que eles possam vencer suas fraquezas.
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Por outro lado podemos dar a estes irmãos o suporte, no sentido de
apoio, de sustentação para que eles vençam suas fraquezas e
permaneçam firmes na fé. Esta é a segunda forma que podemos
encontrar sentido na palavra suportar.

❸ SUPORTAR É ESFORÇAR-SE PARA RESTAURAR O IRMÃO NA FÉ


“Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês,
que são espirituais deverão restaurá-lo com mansidão. Cuide-se, porém,
cada um para que também não seja tentado. Levem os fardos pesados
uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo. Se alguém se considera
alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” (Gl 6.1-3).
Embora a palavra “suportar” não aparece no texto, mas seu
principio aparece através da palavra grega “bastazete” que significa levar
ou carregar. Normalmente quando lemos “levem os fardos pesados uns
dos outros” logo pensamos que o texto está falando de ajudarmos as
pessoas em suas necessidades básicas, em suas necessidades materiais.
Usamos muito este texto para o despertamento da ajuda social. Contudo
precisamos ler o texto dentro do seu contexto.
Levar os fardos pesados aqui é dar suporte aos irmãos que
precisam de restauração. Paulo está falando de irmãos que foram pegos
em pecado, possivelmente foram pegos mentindo, adulterando,
roubando, adorando falsos deuses, e outros pecados. Os mais espirituais
deveriam ajudá-los em sua restauração, ajudá-los a se manterem firmes
na fé para que eles não fossem vencidos pelo pecado. É dentro deste
contexto que Paulo diz levem os fardos pesados uns dos outros. Ele está
dizendo dêem suporte uns aos outros para que possam lidar com as
conseqüências de seus pecados, ao invés de julgá-los ou ficarem numa
atitude de soberba, se considerando melhores que eles. Este suporte
será dado através da prática das outras ordens de mutualidade, como
aconselhar, ensinar, exortar, tudo feito sempre por amor a Cristo, ao
irmão e feito com amor.

CONCLUSÃO
Em sua epístola, Tiago nos recomenda o seguinte: “Sabeis estas
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coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar” (Tg 1:19). O apóstolo Pedro diz:
“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros,
porque o amor cobre multidão de pecados” (1 Pedro 4:8).
Quando tivermos que corrigir ou repreender a um irmão,
devemos fazê-lo sempre com uma atitude de amor, com humildade e
desejando o melhor para ele e não motivados por desamor ou vingança.
Quando somos acintosos em nossas confrontações recebemos
em troca uma resposta à altura do nosso próprio acinte ou provocação,
pois a palavra dura suscita a ira, mais a branda alivia o furor (Pv 15.1).
Sempre que suportamos nossos irmãos tanto no sentido de
agüentar pacientemente suas falhas, como também de darmos a eles
suporte para vencerem suas falhas vivemos a pratica de uma
espiritualidade centrada no outro.

43
LIÇÃO 09
PRÁTICA DA ORAÇÃO
TEXTO BASE: “E Deus não fará justiça aos seus
escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite,
ainda que tardio para com eles?” Lucas 18:7

Crescer é um processo natural na vida de todo cristão. Quem


nasceu de novo, por meio do Espírito Santo, deve crescer na graça e
conhecimento de Jesus Cristo (2Pe 2:18).
Assim como no crescimento físico, o desenvolvimento espiritual
depende de uma boa alimentação, acompanhada de exercício espiritual,
a dieta bíblica para o nosso crescimento espiritual é composta por alguns
alimentos básicos. A oração é o primeiro deles. A oração produz a
nutrição espiritual. Quem ora, cresce espiritualmente. Quem não ora
vive na estagnação e no ostracismo.
Todos os grandes servos de Deus foram pessoas de oração. A
oração é o prato principal que acompanha todos os outros ingredientes
da alimentação espiritual. James Huston lamenta: “Muitos de nós
reservamos tempo para nos exercitarmos ou fazermos dietas para
mantermos nossos corpos saudáveis, mas recusamo-nos a encontrar
tempo para a oração, para a saúde de nossas almas”.
A lição de hoje é sobre a oração. Na parábola que Jesus contou
sobre o dever de orar (Lc 18:1-8), encontramos uma síntese do ensino
bíblico acerca da oração.

❶ O QUE É ORAR?
“Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia
e noite, embora pareça demorado em defendê-los?” (Lc 18:7)
Este versículo ensina-nos a compreender o que é oração. Orar
é clamara a Deus. Em seu livro “Oração: O refúgio da Alma”, Richard
Foster classifica vários tipos de oração: Oração simples, do desamparado,
do exame, de lágrimas, de renúncia, de formação, de aliança, de
adoração, de descanso, sacramental, incessante, do coração, meditativa,
contemplativa, comum, peticionária, intercessória, de cura, de

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sofrimento, de autoridade e radical.
Jesus ensina que orar é clamar, pedir com insistência e
determinação (Lc 11:9- 10). O clamor vem acompanhado de
lágrimas,
sentimento de um coração aflito e necessitado. Quem sofre grita
e clama por socorro (Sl 40:1). Jesus praticou o clamor (Hb 5:7). A oração
revela a batalha entre o meu querer e a vontade de Deus (Mt 26:38-
39). Orar é render-se a vontade de Deus.
Paradoxalmente, Jesus também ensina que orar é não aceitar as
injustiças da vida e do mundo como algo natural e comum. Na figura da
viúva que pedia para o juiz iniquo, aprendemos que orar é uma ação
revolucionária ou de inconformação. Somente os insatisfeitos e
inconformados oram. A viúva não aceitou a injustiça do juiz iníquo.
A viúva sempre foi, na bíblia, um símbolo tipico dos inocentes,
impotentes e oprimidos (Êx 22:22-23; Dt 10:18; 24:17; 27:19; Sl 68:5; Is
10:2; Jr 22:3).

❷ QUANDO E COMO ORAR?


A parábola do juiz iníquo resume uma lição fundamental: o dever
de orar sempre e nunca esmorecer. Observe que Jesus fala quando e
como devemos orar.
Quando : Sempre, em todas as horas e circunstâncias. Orar ou clamar a
Deus dia e noite (Sl 55:17; 1Ts 5:17)
Como: Sem esmorecer ou ficar exausto (2Co 4:1,16; Gl 6:9; Ef 6:9;
Ef 3:13). Orar de maneira constante até obtermos a resposta de Deus.
W. Hendriksen apresenta cinco possíveis razões pelas quais as
orações sempre são respondidas:
● Ensina-nos a paciência e outras virtudes;
● Aumentar nossa gratidão quando finalmente recebermos a bênção;
● Porque Deus nos reserva uma bênção maior ((Jo 11:5-6);
● Por razões que estão fora da esfera da experiência humana (Jo 1:6-12);
● E por outras razões conhecidas somente por Deus.

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❸ QUEM DEVE ORAR?
Na parábola, Jesus fala que o dever de orar é para os seus
escolhidos (Lc 18:7). Observe que Jesus fala no plural, seus escolhidos. A
oração é para todos os seus, homens e mulheres, jovens e velhos, líderes
e liderados.
A bíblia ensina que todo cristão verdadeiro foi escolhido por Deus
para a salvação (2Ts 2:13), para uma vida de santificação (Ef 1:4), para
frutificar e produzir boa obras (Jo 15:16; Ef 2:10), mas, principalmente
para orar. Os crentes debatem demasiadamente sobre a doutrina da
eleição para a salvação e esquecem da eleição para a oração.
Os primeiros cristãos da igreja primitiva entenderam e praticaram
a doutrina da eleição para a oração. A primeira reunião da igreja após a
ascensão de Jesus foi uma reunião de oração (At 1:12-14). Quem estava
naquela reunião? Uma variedade de pessoas, homens e mulheres,
famílias e, principalmente, a liderança da igreja. Toda a igreja reunida em
oração, de forma unânime (At 2:46; 4:24; 5:12). Eles entenderam que a
vida cristã sem oração era algo impossível.

❹ POR QUE DEVEMOS ORAR?


A bíblia apresenta algumas razões por que devemos orar.
Citaremos algumas, de forma pontual.
● Orar é um mandamento – 1Ts 5:17; Mt 7:7-12
● Orar é uma necessidade – Lc 11: 5-8; 18:1-8
● Orar é um privilégio – Mt 6:6; 11:25-27
● Orar é um meio de graça ou de sermos abençoados espiritualmente –
Mt 26:41; Rm 8:26-27.
A razão fundamental para orar apresentada por Jesus, na
parábola do juiz iníquo, é que Deus responde as nossas orações, ainda
que Ele pareça demorado (Lc 18:7; Sl 66:19-20; Jr 29:12-13). Em oração, o
crente fala a um Pai amoroso e não a um juiz iníquo (Lc 11:13).

❺ APRENDENDO A ORAR?
Não devemos orar para aparecer, mas numa postura espiritual
adequada. James Houston diz: “Orar é tomar a decisão de ficar sozinho
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diante de Deus, sem ter de jogar para a platéia ou fazer comparações
que nos desviem de nosso propósito”. A oração é uma posição ou
postura diante de Deus, algo muito maior do que fazer ou dizer palavras
bonitas e corretas teologicamente.
Veja o modelo da oração do Pai Nosso (Mt 6:5-13). Nesta oração
devemos nos colocar na condição de filhos, de adoradores, de súditos, de
servos, de dependentes, de pecadores e de espiritualmente fracos.
A oração do Pai Nosso pode ser dividida em três partes:
1ª Relacionamentos (Pai e os irmãos);
2ª Responsabilidades (honrar o nome de Deus, declarar o Seu senhorio;
3ª Pedidos (necessidades diárias, perdão e livramento espiritual).
Em João 14:13-14, temos um pequeno resumo de como devemos
orar:
● Orar é pedir ao Pai (Jo 14:13) – Mt 6:9; 7:11. Isto envolve humildade
submissão a vontade de Deus (1Jo 5:14);
● Orar é pedir em nome de Jesus (Jo 14:13) – 1Tm 2:5. Ele é o nosso
mediador e somente por meio dEle somos abençoados (Ef 1:13);
● Orar é pedir por tudo (Jo 14:13) – Fp 4:6. Não existem limites para
pedirmos a Deus, contudo, a motivação deve ser santa(Tg 4:2-3);
● Orar é pedir com fé, na certeza que será respondido (Jo 14:14) – Sl
66:20. Jesus garante que dará resposta a nossa oração;
● Orar produz resultados: a glória de Deus (Jo 14:14) – Sl 115:1-2. Tudo o
que Deus é e faz é promover a Sua glória.

CONCLUSÃO
A oração é o primeiro alimento para o nosso crescimento
espiritual. Se você deseja crescer, ore. Com certeza o Espírito Santo o
ajudará (Rm 8:26-27). Seja um novo convertido ou um crente mais velho,
todos devem orar. W. Wiersbe diz: “Uma das evidências de que uma
pessoa é nascida de novo é o seu desejo de orar. Creio que quando o
Espírito Santo entra no coração, o novo crente deseja orar”.

47
LIÇÃO 10 MEDITAÇÃO DA PALAVRA
TEXTO BASE: “presbíteros que há entre vós, eu,
presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos
de Cristo, e ainda coparticipante da glória que há de
ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há
entre vós, não por co ns t rang ime nt o, mas
espontaneamente” (1Pe 2.1,2)

Desde 1991, a Organização Mundial de Saúde (OMS), em


associação com a UNICEF, promove uma campanha mundial no sentido
de proteger, promover e apoiar o aleitamento materno. A UNICEF calcula
que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida pode evitar,
anualmente, 1,3 milhões de mortes de crianças menores de cinco anos.
O leite materno é um alimento completo para o recém-nascido
até os seis primeiros meses de vida. Ele contém todas as proteínas,
açúcar, gordura, vitaminas e água que o bebê necessita para ser saudável.
Após os seis meses, a alimentação deve ser acrescida com outros
alimentos.
Todo cristão recém-nascido precisa ser amamentado. Ele
necessita do genuíno leite espiritual da palavra (1Pe 2:2). Assim como um
bebê chora pedindo o leite materno, todo cristão deve desejar
ardentemente o leite da palavra.
A lição de hoje é sobre a palavra de Deus, o alimento principal da dieta
espiritual do cristão.

❶ O LEITE NA BÍBLIA
A palavra leite (halab) aparece 40 vezes no A.T., literalmente para
indicar o leite de animais (Dt 32:14) e o leite humano (Is 28:9), e
figuradamente descreve abundância e fartura (Êx 33:3; Lv 20:24). No
Novo Testamento, a palavra leite (Gala) aparece 5 vezes: (1Co 3:2; 9:7; Hb
5:12-13; e 1Pe 2:2).
O leite foi um alimento importante no cardápio de Israel. bebia-se leite
de vaca, ovelhas e cabras (Dt 32:14; Pv 27:27; Is 7:22). Os produtos
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derivados do leite eram bastantes consumidos, principalmente a
manteiga o queijo e a coalhada (Gn 18:8; Is 7:22). O leite era colocado
num saco e couro e este sacudido e espremido até que se formasse
manteiga (Pv 30:33). O queijo também era feito do leite (2Sm 17:29)
Leite e mel foram usados de forma combinada, metaforicamente,
para indicar a abundância da terra prometida (Dt 6:3; Js 5:6).
Provavelmente, o leite era misturado ao vinho e ao mel (Gn 49:12; Ct 5:1;
Is 55:1). A palavra de Deus é comparada ao mel, alimento rico e nutritivo
(Sl 19:10; 119:103; Ez 2:3; Ap 10:9).

❷ A PALAVRA COMO ALIMENTO


Em nosso texto básico, Pedro chama a Bíblia de “o genuíno leite
espiritual”. Ele compara o crente a uma criança recém-nascida que
necessita dessa palavra para o seu crescimento. A palavra é o leite
materno do cristão recém-nascido.
É PELA PALAVRA QUE SOMOS GERADOS OU NASCEMOS
ESPIRITUALMENTE
Um cristão nasce espiritualmente por meio da palavra. Pedro declara
isto em 1Pe 1:23. Paulo usa a mesma idéia sobre a santificação da igreja
realizada por Jesus (Ef 5:26).
A palavra também é comparada a uma semente que produz vida
(Mc 4:14-20; Tg 1:18; Hb 4:12)
No contexto de missões e evangelização, Paulo também declara
que a fé vem ou nasce pelo ouvir a palavra de Deus (Rm 10:17).
É PELA PALAVRA QUE CRESCEMOS OU SOBREVIVEMOS
ESPIRITUALMENTE
É por isso que Pedro diz que devemos deseja-la ardentemente.
Um recém- nascido expressa esta necessidade pelo choro ardente.
O alimento da palavra é uma necessidade da alma (Sl 42:1-2). O
alimento da palavra é suficiente, não precisa de adições, só a palavra (Sl
1). Cuidado com o leite falso, com o falso ensino.
O salmista Davi declara que a palavra de Deus produz restauração,
sabedoria, alegria, visão, segurança e justiça (Sl 19:7-9).
O salmo 119 apresenta a excelência da palavra de Deus. E o
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salmista declara os efeitos ou significados que a bíblia tem para ele:
● Felicidade (Sl 119:1-2);
● Santificação (Sl 119:9,11);
● Consolo (Sl 119:50);
● Sabedoria (Sl 119:98-100);
● Direção (Sl 119:105);
● Paz (Sl 119:165)
É PELA PALAVRA QUE SOMO SANTIFICADOS
Jesus é que declara esta verdade (Jo 17:17). A santificação do
crente acontece por obra do Espírito Santo, que se utiliza da palavra.
No salmo 119, a palavra é colocada como fonte de purificação
(Sl 119:9;11).
É PELA PALAVRA QUE SOMOS APERFEIÇOADOS E HABILITADOS
PARA O SERVIÇO
Em 2Tm 3:16-17, aprendemos três importantes lições:
1ª O QUE É A PALAVRA?
Ela é inspirada por Deus (2Pe 1:20-21);
2ª QUAL SUA UTILIDADE?
Ensinar, repreender, corrigir e educar (Sl 119:98-100);
3ª QUAL A SUA FINALIDADE?
Aperfeiçoar o seu leitor e habilitá-lo para toda boa obra (2Tm
2:15).
É por que precisamos ler e estudar a bíblia diariamente. Ela é o
alimento necessário para o nosso crescimento.

❸ COMO SE ALIMENTAR DA PALAVRA?


Há muitas sugestões sobre como estudar a bíblia. E cada pessoa
deve utilizar a melhor ou a mais adequada à sua necessidade.
Sugerimos alguns princípios que devem ser considerados no
estudo individual da bíblia:
 RESERVE UM TEMPO DIÁRIO PARA A LEITURA DA BÍBLIA
A leitura deve diária e acompanhada de meditação no texto (Sl 1:2-3).
Faça uma refeição diária com o alimento celestial;
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 LEIA ESPECIFICAMENTE A BÍBLIA
Não substitua a leitura bíblica pela leitura de comentários bíblicos,
dicionários ou sermões (Jo 5:39);
 LEIA A BÍBLIA SEMPRE ACOMPANHADA COM ORAÇÃO
O entendimento do texto é obra de Deus (Sl 119:18). Precisamos da
iluminação do Espírito Santo para ir além da mera letra. Aproxime-se
dabíblia com humildade (1Co 8:1-3);
 LEIA A BÍBLIA PARA AUMENTAR O SEU CONHECIMENTO DE DEUS
Conhecemos a Deus por meio Escritura Sagrada. Lembre-se que Ele é
uma pessoa. Ele se auto revela no texto sagrado, o qual leva-nos a uma
comunhão mais íntima com Ele (Is 55:6-11);
 LEIA A BÍBLIA COM O OBJETIVO DE PRATICÁ-LA
Não seja um mero ouvinte ou estudante da palavra, mas um operoso
praticante (Tg 1:22-25).

CONCLUSÃO
Ao encerrar esta lição, quero enfatizar a importância do estudo da
bíblia acompanhado da oração (Sl 119:18). Assim como salmista,
devemos reconhecer que a palavra de Deus, está repleta de maravilhas e
que só podemos contemplar estas maravilhas se Deus abrir nossos olhos
espirituais. Por isso, devemos orar ao estudarmos a palavra.

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LIÇÃO 11 VIDA DE ADORAÇÃO
TEXTO BASE: “também vós mesmos, como pedras que
vivem, sois edificados casa espiritual para serdes
sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus
Cristo” (1Pe 2.5).

A água é o componente presente em maior abundância no corpo


humano. Uma pessoa adulta precisa de 2 a 2,5 litros de água por dia, isto
é, 35ml/kg de peso corporal.
O corpo humano não possui reservas de água e por isso ela deve
ser reposta a cada 24 horas para manter a saúde e as funções básicas do
organismo. Sede é a sensação que se tem quando o organismo está com
falta de água.
Todo cristão verdadeiro sente uma sede por Deus e pela Sua
presença. Não é sede por ritual, ou por religiosidade, mas um profundo
anseio pelo ser divino (Sl 42:1- 2). Na satisfação desta sede acontece a
adoração.
Na lição de hoje, veremos que na adoração a Deus temos outro alimento
para a nossa dieta de crescimento espiritual.

❶ O QUE É ADORAR?
O vocabulário bíblico define culto como “serviço prestado a
Deus”, pelo povo ou individualmente (Êx 3:12; Dt 6:13; Mt 4:10; At 13:2;
Rm 12:1; 15:16; Fp 2:17). Este serviço é prestado em reconhecimento à
pessoa de Deus (quem Ele é) e por tudo que Ele faz (Sl 107:1; 146).
Adorar a Deus é a nossa razão de ser como cristão e igreja. Pedro
declara esta verdade em 1Pe 2:5. Encontramos neste versículo cinco
princípios essenciais:
1º Cada crente é uma “pedra que vive”, por causa de sua união pessoal
com Cristo, que é a “Pedra Viva” (Mt 21:42; 1Co 10:4;1Pe 2:4). Todos os
crentes formam uma residência espiritual, uma casa habitada pelo
Espírito Santo (2Co 6:16; Ef 2:19-22). E a igreja existe para adorar.

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2º Cada crente é um sacerdote, alguém que existe para prestar adoração
a Deus. Juntos os crentes formam uma nação de sacerdotes (Ap 1:5-6).
Todos os crentes têm acesso a presença de Deus, por meio de Jesus Cristo
(Hb 10:19-25).
3º A natureza do culto ou do sacrifício que o crente oferece para Deus, é
espiritual (Hb 10:9-18; 13:15-16).
4º O objetivo do culto é agradar a Deus, em primeiro lugar (Gn 4:1-7; Hb
12:28). A adoração bíblica é centrada em Deus. Apocalipse justifica isto
explicando que no céu existe um trono. Deus está assentado neste trono
e dali Ele exerce o Seu governo soberano. Por isso, toda criatura deve
adorar dizendo: “Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o
louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos (Ap
5:13).
5º Jesus é o mediador da nossa adoração (Hb 10:19-22; 13:15). O nosso
culto chega a Deus por intermédio de Jesus Cristo.

❷ A ABRANGÊNCIA DA ADORAÇÃO
Entendemos que o conceito de adoração na bíblia envolve a vida
do adorador e não apenas o momento do culto. A vida é o culto e o culto é
a vida (Dt 10:12-13).
O culto envolve a vida do crente, tudo que ele é, tem e faz (1Co 10:31; Cl
3:17).
O culto é a vida do cristão (Cl 3:24). Muitas vezes achamos que
quando entramos no templo “entramos na presença do Senhor” e que
quando deixamos o templo “saímos da presença do Senhor”. Não! O
templo é a casa do Senhor, mas a Sua presença enche toda a terra (Hb
2:20).
Por causa da onipresença e onisciência de Deus, a vida do crente
não pode ser dividida em sagrada e profana (1Co 6:19-20). Você adora a
Deus na igreja, no lar, no trabalho, ou em qualquer outro lugar onde você
estiver.

❸ TIPOS DE ADORAÇÃO
Há na bíblia três tipos de adoração:
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ADORAÇÃO INDIVIDUAL – Dn 6:10; Mt 6:5-8
Trata-se do culto que envolve o encontro entre uma pessoa e
Deus, de maneira informal. Geralmente este culto é marcado pela leitura
bíblica e oração.
ADORAÇÃO DOMÉSTICA – Dt 6:6-9; Lc 10:38-42
Trata-se da forma básica de adoração. Para o judeu e o cristão, o
conhecimento de Deus é algo que se aprende ou experimenta em casa. É
no culto doméstico que se aprende a adorar coletivamente.
ADORAÇÃO COMUNITÁRIA – Sl 134; At 20:7
É quando o povo de Deus se reúne coletivamente, geralmente no
dia “do Senhor”, num local especifico (Monte, tabernáculo, tempo, etc.).
trata-se de um culto solene e que obedece a uma ordem litúrgica.
Para crescermos espiritualmente precisamos adora a Deus.
Necessitamos tirar um tempo diário para leitura da bíblia e para a oração.
As famílias precisam também realizar o culto doméstico. E todos
precisam ir ao templo para o culto comunitário.

❹ OS RESULTADOS DA ADORAÇÃO
O objetivo da adoração é agradar a Deus. Quando o adoramos da
maneira que Ele manda, somos também beneficiados espiritualmente.
Muitas vezes vamos a igreja, participamos de um culto, e saímos como se
nada tivesse acontecido. Mas será que a culpa está em Deus, ou no
dirigente do culto, ou em mim? Esta é uma pergunta que gera muitas
discussões.
O certo e seguro é, que se o culto for agradável a Deus, Deus
torna-se agradável ao adorador: “Agrada-te do Senhor e Ele satisfará os
desejos do teu coração” (Sl 37:4). Olhando para os exemplos de culto na
bíblia, podemos relacionar alguns resultados da adoração verdadeira:
 cresce o nosso conhecimento e a nossa admiração por Deus (1Rs
8:23; Sl 27:4; Lc 5:9; 8:25; Ap 1:9-20)
 Percebemos e sentimos a presença real de Deus em nosso meio e na
nossa vida (Êx 40:34-38; 2Cr 7:1-3)
 Tomamos consciência da nossa fraqueza e da nossa dependência da
graça divina (Is 6:1-3; Lc 18:9-14)
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 Somos instruídos e orientados por Deus, por meio da palavra (Ed 8:1-
12; 2Rs 23:1-3)
 Recebemos salvação e libertação (2Cr 20; Mt 15:21-28; At 12)
 Somos motivados a santificação e a consagração (Gn 28:18-22; At
13:1-3)
 Sentimos a necessidade de testemunhar e falar de Jesus (At 4:23-31)

CONCLUSÃO
Frederick W. Robertson afirma: “Repito, o homem não tem opção
para ser ou não ser um adorador. Um adorador ele não pode deixar de ser
– a única questão é decidir o que ele vai adorar. Todo homem adora – pois
é um adorador nato”.
A nossa maior necessidade é adorar a Deus! O nosso grande
privilégio é podermos acessar a Sua presença . não abra mão de adorar ao
Senhor.

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LIÇÃO 12 EXERCÍCIO DO JEJUM
TEXTO BASE: “Quando jejuardes, não vos mostreis
contristados como os hipócritas; porque desfiguram o
rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em
verdade vos digo que eles já receberam a
recompensa.Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça
e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens
que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que
vê em secreto, te recompensará” (Mt 6.16-18).

Quando o assunto é o jejum espiritual observamos sempre posições


extremadas: algumas pessoas exaltam o jejum religioso elevando-o além
das escrituras e da razão; e outras o têm menosprezado por completo.
Quem exalta, afirma que o mesmo é uma ordenação bíblica tal como a
oração, a esmola e o dízimo. Quem menospreza, diz que o mesmo é uma
pratica da antiga aliança, portanto, legalista e ascética. O resultado é que
o jejum é pouco praticado pelos cristãos hoje.
A lição de hoje é sobre a importância do jejum para a vida espiritual
do crente e da igreja.

❶ O JEJUM NA BÍBLIA
Jejuar é abster-se de qualquer tipo de comida, durante um
período limitado. Na bíblia, o jejum espiritual refere-se à abstenção de
alimentos para finalidades espirituais, diferente a greve de fome e a dieta
alimentar. Os meios normais de jejuar envolviam a abstinência de
qualquer alimento, sólido ou liquido, excetuando-se a água (Lc 4:2; Dn
10:3). Há também o jejum chamado de absoluto ou extraordinário (Êx
34:28; Dt 9:9,18; 1Rs 19:8; At 9:9).
1.1 CLASSIFICAÇÃO
Na bíblia, podemos classificar o jejum de três maneiras:
● INDIVIDUAL (Ed 10:6; Ne 1:4) ou COLETIVO (2Cr 20:1-4; Et 4:16);
● CONVOCADO (Lv 23:27; Jl 2:15) ou ESPONTÂNEO (Dn 9:3; Mt 4:1)
● EXIGÊNCIA LEGAL (Lv 23:27) e JEJUM REGULAR (Zc 9:19; Mc
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2:18;Lc 18:12)
● OCASIÃO: Na bíblia, o jejum é observado sempre em ocasiões:
● JUÍZOS DE DEUS (Jl 1:14; 2:12)
● CALAMIDADES PÚBLICAS (2Sm 1:12)
● AFLIÇÕES DA IGREJA (Lc 5:35)
● AFLIÇÕES PESSOAIS E ALHEIAS (Sl 35:13; Dn 6:18; 2Sm 12:16)
● ELEIÇÃO E ORDENAÇÂO DE MINISTROS (At 13:3; 14:23)
TENTAÇÃO ESPIRITUAL (Mt 4:2)
ACOMPANHAMETO: Na bíblia, o jejum é sempre acompanhado por:
● ORAÇÕES (Mt 17:21)
● CONFISSÃO DE PECADO (1Sm 7:6; Ne 9:1-2)
● SERVIÇO (At 13:2-3; Lc 2:36-37)
● HUMILHAÇÃO e LAMENTO (Dt 9:18; Ne 9:1; Jl 2:12)

❷ O JEJUM HOJE
É o jejum hoje uma prática obrigatória para os cristãos?
No Antigo Testamento o jejum era obrigatório apenas “no dia da
expiação”, relacionado com o arrependimento (Lv 13:31; 23:37; Is 58:5).
Não existindo mais o dia da expiação, o jejum deixou de ser uma pratica
obrigatória (Cl 2:14).
O fato de não ser obrigatório, não quer dizer que o jejum não seja
necessário e importante. Em Mateus 6:16-18 lemos “Quando
jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque
desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em
verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém,
quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não
parecer aos homens que jejuais, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu
Pai, que vê em secreto, te recompensará”.
Primeiro: As palavras de Jesus não constituem uma ordem, mas
instruções sobre o exercício apropriado de uma prática comum do seu
tempo. O cristão, ao jejuar, não deve fazê-lo com com exibição de
espiritualidade. As expressões “quando jejuardes” (v.16); e “tu,
porém, quando jejuares”, reforçam a ideia de que Jesus via o jejum
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como uma prática devocional do cristão, tal como a oferta e a oração.
Jesus praticou o jejum (Mt 4:2).
O jejum é uma prática cristã. Gordon Cove diz: “No início da
história da igreja, o jejum era considerado uma das colunas da religião
cristã. Quando a igreja tinha poder, o jejum era uma parte essencial da fé.
Jejum não era mera abstinência de alimentos ou de qualquer outro
prazer, por si mesma. É abstinência com propósito. Jejum significa que
você chegou a um lugar de desespero espiritual. Significa que está
determinado agora a colocar Deus em primeiro lugar a qualquer custo.
Há momentos quando devemos virar as costas a tudo no mundo, até
mesmo a nossa alimentação, para buscar a face de Deus. Jejum significa
que estamos determinados a buscar a face de Deus e a ter respostas para
nossas orações. Significa simplesmente que colocamos Deus primeiro,
antes de tudo, inclusive do alimento”.
Segundo: Jesus nos ensina que o jejum deve ser para Deus (Zc
7:5). “Usar boas coisas para nossos próprios fins é sempre sinal de falsa
religião” R. Foster. O jejum pode ser mal praticado, como uma forma de
expressar soberba espiritual (Lc 18:11- 12). O jejum também não é uma
prática ascética que busca espiritualidade pela mortificação do corpo (Cl
2:8; 20-23). Jejum é colocar Deus em primeiro lugar (Jo 4:34). “Então
jejuar significa colocar realmente em primeiro lugar quando se ora,
desejar Deus mais do que se deseja comer, mais do que dormir, mais do
que ter comunhão com outros, mais do que correr atrás de negócios.
Como um cristão pode saber se Deus está em primeiro lugar na sua vida,
se em algumas épocas ele não deixa todas as outras obrigações e
prazeres para se separar inteiramente para buscar a face de Deus?
(Gordon Cove).
Terceiro: o jejum reflete a necessidade espiritual de quem o
pratica (Mt 9:14- 15). Jesus faz o anúncio prévio sobre a experiência
amarga que os discípulos enfrentariam. Jesus indica que o espírito triste
acompanha o ato de jejuar.

❸ QUANDO DEVEMOS JEJUAR?


Fomos ensinados desde pequenos, que o jejum coletivo deve ser
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proclamado em casos muito excepcionais de calamidades públicas, como
guerras, epidemias, terremotos, etc. Observamos que tal ensinamento
baseia-se no livro do profeta Joel. Três vezes nos primeiros dois capítulos
de Joel, Deus ordena o jejum (Jl 1:14; 2:12,15). Joel afirma que quando o
momento é de desespero e de calamidade, Deus mesmo exorta seu povo
a buscar o auxilio do alto (Jl 1:14; 2:12). Isto nos mostra claramente que é
certo nestes momentos difíceis marcar um dia para que todos jejuem em
conjunto.
Sabemos, também, que o jejum acompanhado da oração é uma
prática que visa a santificação e o crescimento espiritual (2Cr 7:14; Ef
5:18). Se desejamos crescer espiritualmente precisamos orar e jejuar.
David Cloud apresenta dez momentos quando devemos orar e
jejuar:
1. Quando estiver fortemente tentado (Mt 42);
2. Quando a sabedoria é ansiosamente desejada (Dn 9:3);
3. Quando a ajuda e a proteção são necessárias (Ed 8:21-23; 2Cr 20:3);
4. Quando é desejada a vitória sobre espíritos demoníacos (Mt 17:21);
5. Quando estiver enfrentando situações que parecem impossíveis (Et
4:10-17; 9:31; Ne 1:4);
6. Quando algo é ansiosamente desejado de Deus e a resposta não veio
só pela oração (Is 1:6-7);
7. Quando lamentando por entes queridos ou pela defesa do povo de
Deus (2Sm 1:12);
8. Quando novos ministros forem consagrados, e quando os homens
saem a proclamar a palavra de Deus, e contra os inimigos espirituais
(At 13:2-3; 14:23);
9. Quando envolvido em ministério espiritual (2Co 6:5; 11:27);
10. Durante períodos de arrependimento especial, confissão e
reavivamento (Jl 1:14; 2:12;15; Ne 9:1-2)

CONCLUSÃO
Encerramos essa lição com três lições básicas:

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1ª O jejum não é uma prática obrigatória ao cristão, conforme a
interpretação bíblica.
2ª O fato do jejum não ser obrigatório, não nega a sua importância. O
cristão poderá ou não praticar o jejum. Ao praticá-lo, deve fazê-lo como
expressão de humildade e sem ostentação.
3ª Ore e jejue com o objetivo de colocar Deus em primeiro lugar em sua
vida. A decisão de jejuar é pessoal e está ligada a necessidade do coração.

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