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O PENTATEUCO: QUESTÕES INTRODUTÓRIAS
OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
COMEÇANDO A CONVERSA
Neste curso começaremos a estudar a Bíblia hebraica eu diria “pelo começo”. Sim, pois
aqui vamos aos seus primeiros cinco livros: o Pentateuco; sua formação e conteúdo. Para os
judeus essa é parte mais importante de seus escritos, aquilo que eles chamam “Torah”
(ensinamento, instrução). Geralmente se traduz essa palavra por “lei” (Mt 5.17; Lc 16.17; At
7.53; 1Co 9.8), porém “ensinamento”, “instrução” é uma tradução mais precisa1, pois esses
livros não contém somente leis, mas muito outros assuntos com o objetivo de instruir o leitor.
Em nossa caminhada iremos conhecer as questões que envolvem a formação desse
bloco de livros e as teorias quanto a sua autoria. Avaliaremos estes métodos dando uma
resposta conservadora aos pressupostos críticos quanto a construção desses textos. A partir
daí, no desenvolvimento das aulas, analisaremos todos os livros do Pentateuco; veremos seu
autor, conteúdo, questões de contexto, texto e estrutura e divisões principais. Em cada escrito
procuraremos trazer algumas coisas que ele tem de atemporal e que podem ser aplicadas aos
nossos dias. O objetivo é além de conhecermos esta literatura nos beneficiarmos com ela de
forma prática.
Mas, antes, precisamos estabelecer as bases desta parte da Bíblia que chamamos Antigo
Testamento. É para sua formação que nos voltamos agora.
I. 1- A tradição oral
1
SCHNIEDEWIND, Wiliam. Como a Bíblia tornou-se um livro: a textualização do antigo Israel (São Paulo:
Loyola, 2011), p. 163.
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Deus; os nossos antepassados nos contaram os feitos Conceituando: Bíblia: Esta palavra vem do
que realizaste no tempo deles, nos dias da
grego βίβλος (bíblos), isto por causa da cidade
antiguidade (Sl 44.1, NVI). fenícia chamada Biblos, que era um importante
É um fato que muitas palavras faladas por centro de produção dos rolos de papiros
Deus a pessoas como: Adão, Enoque (que andou usados para fazer os livros na antiguidade. A
com Deus, Gn 5.18-24), Noé, Abraão, palavra significava a fibra interna do papiro,
Melquesedeque (que era sacerdote de Deus em depois passou a significar o livro em si. Ela
Salém, Gn 14.18-20), não foram colocadas por aparece em Lc 3.4, significando um livro sagrado
escrito, e nós não as conhecemos. Só mais tarde é determinado; em Ap 3.5 significando o livro da
que Deus comissionou pessoas para colocarem por
vida; em At 19.19, livros de magia; e em Mt 1.1,
escrito a revelação.
significando a lista da genealogia de Jesus.
Bíblia é a forma plural da palavra biblos, pois
I. 2- Preparo, divisões e classificação do AT
as Escrituras Sagradas não é um livro só, mas
uma coleção de livros.
a) O material de preparo - A forma primitiva dos _________________________
livros bíblicos era a de rolos (Jr 36.2; Ap 5.1). __________________
Estes rolos eram feitos de papiro ou pergaminho. MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. A
Bíblia e sua história: o surgimento e o impacto da
Bíblia (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil,
1- Papiro – é uma espécie de junco (planta aquática) 2006), p. 14.
que crescia nos rios e lagos de pouca
profundidade, no Egito e Síria. As tiras da
entrecasca eram colocadas lado a lado e coladas umas às outras, formando assim uma página
para a escrita, de vários tamanhos (Jó 8.11; Is 18.2).
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classificação dos livros no cânon hebraico é diferente. Veremos isso mais abaixo.
I. 3- A formação do AT
a) A Bíblia não surgiu completa como a temos hoje, ela foi crescendo devagar. Wayne
GRUDEM coloca os 10 mandamentos, que segundo Êxodo 31.18, foram escritos pelo
próprio Deus e colocados na Arca da Aliança (Dt 10.5), como o começo de um cânon,
regular do AT.2 Agora vamos explicar esta palavrinha estranha. Preste atenção.
❖ A palavra cânon vem do grego (em hebraico qaneh) que significava primitivamente
vara ou régua, especialmente usada para manter algo em linha reta (uma espécie de prumo),
como a linha ou a régua dos pedreiros e carpinteiros. Os clássicos gregos usavam esta
palavra no sentido figurado de regra, norma, padrão. No NT, a palavra aparece em Gálatas
6.14, no sentido da regra moral, ou lei, e em 2Coríntios 10.13,15-16, no sentido de medida,
limite. Com o passar do tempo a palavra passou a significar o cânon da Igreja, as regras
de doutrina e prática. No 4º século d.C. os autores patrísticos (primeiros escritores cristãos
após os apóstolos) aplicaram o termo pela primeira vez para a Bíblia, para diferenciá-la
como coleção de escritos reconhecidos como autorizados e divinos pelos cristãos.3
b) Estas palavras dos dez mandamentos logo receberam o acréscimo de outras, escritas pelo
próprio Moisés, que são todos os cinco primeiros livros da Bíblia, nosso objeto de estudo
nesse curso. Pode-se obter a informação de Moisés, como o escritor do Pentateuco em
textos como: Êx 17.14; 24.4; 34.24-27; Nm 33.2; Dt 31.22-26. Além do que autores de outros
livros bíblicos testemunham que a Lei foi escrita por Moisés (1Rs 2.3; 2Cr 23.18; Ne 8.1; Lc
2.22; Jo 1.17; 1Co 9.9; Hb 9.19-22). Ainda temos o importante testemunho de Jesus, Ele
muitas vezes cita o partes do Pentateuco e atribui a Moisés: Mc 12.26; Lc 5.14; Jo 7.23. É
claro que existiram editores posteriores a Moisés que escreveram também, pois ele não
relatou sua própria morte, alguém escreveu esse fato (Dt 34). Quando estudarmos os livros
individualmente veremos isso com detalhes. Mas, o autor geral foi Moisés.
c) Logo após Moisés, Josué amplia a coleção das palavras divinas (Js 24.26). Temos também
o registro de que Samuel escreveu (1Sm 10.25; ICr 29.29); os sábios de Israel escreveram
(Pv 30.30); Isaías (2Cr 26.22; 32.32); Jeremias (Jr 30.2); e muitos outros deram sua
contribuição para o crescimento do cânon do AT.
2
Teologia Sistemática: segunda edição revisada e ampliada (São Paulo: Vida Nova, 2022), p. 78-79.
3
BITTENCOURT, P. B. O Novo Testamento: canon, lingua e texto. 3 ed. (Rio de Janeiro: JUERP, 1993), p. 23-
24.
4
Há a opinião entre historiadores de que este estabelecimento tenha se dado ou no séc. XV ou XIII a.C.
Falaremos disso ao estudarmos o Êxodo.
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em 586 a.C. (Leia isso em 2Rs 17.1-23; 24.10; 25.22). É deste período conturbado da história
de Israel a maioria dos livros históricos, poéticos e proféticos.
e) Deus fez o povo Israelita voltar do seu cativeiro no período persa. Esdras 1-6 relata o
retorno do primeiro grupo, em 538/37 a.C., nesse período Esdras e Neemias escreveram
seus livros. Por este tempo já se tinha quase todo o AT concluído, faltando talvez: Ageu,
Zacarias e Malaquias. Estes livros teriam sido escritos justamente durante esta libertação
e volta do cativeiro, para a reestruturação de Jerusalém (Ed 5.1). É com esses eventos que
a história de Israel no AT termina.
f) Segundo os dados históricos Esdras foi para Jerusalém em 458 a.C., e Neemias esteve ali
entre 445-433 a.C. 5 Desse modo, desde aproximadamente 435 a.C. não houve mais
acréscimos ao A.T., estando ele concluído. Ainda deve-se notar que por volta desta época,
século V a.C., o povo judeu desenvolveu a crença de que o Espírito Santo não estava mais
na terra, e assim não havia mais profetas.6 Os livros religiosos que surgiram neste período
e aparecem em algumas bíblias são chamados de Apócrifos ou Deuterocanônicos. Um
destes textos testemunha claramente esta crença de que no seu tempo o período dos
profetas já havia acabado.
Reinou então em Israel uma opressão como não houvera outra desde o final dos tempos
dos profetas (1Macabeus 9.27).
h) O prologo do Sirácida (ou Eclasiástico), livro apócrifo que consta nas edições Católicas
Romanas e que foi escrito por volta do séc. II a. C.,7 já aponta esse cânon do AT com suas
três partes delimitadas na sua época. Observe:
“Recebemos muitos e profundos ensinamentos da Lei, dos Profetas e dos Escritos que
vieram depois deles. Por tudo isso, deve-se louvar Israel como povo instruído e sábio.
Não basta que os leitores aprendam, mas também sejam capazes de ajudar os de fora, à
viva voz e por escrito. Por isso, meu avô Jesus, depois de se dedicar intensamente à
leitura da Lei, dos Profetas e dos outros Livros de nossos antepassados e tendo
adquirido um bom domínio sobre eles, decidiu escrever alguma coisa na linha da
5
Para a questão das datas veja: DILLARD, Raymond D. e LONGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo
Testamento (São Paulo: Vida Nova, 2006), p. 173.
6
Sobre isso veja: GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: segunda edição revisada e ampliada, p. 82; ROST,
L. Introdução aos Livros apócrifos e pseudepígrafos e aos manuscritos de Qunrã (São Paulo: Paulinas, 1980),
p. 17; LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento, 2 ed. (Rio de Janeiro: JUERP, 1984), p. 324.
7
MILLER, John W. As origens da Bíblia: repensando a história canônica (São Paulo: Loyola, 2004), p. 27-
31.
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instrução e sabedoria. Desse modo, os que desejam aprender podem familiarizar-se
com isso e progredir sempre mais na conduta segundo a Lei.
Vocês, portanto, estão convidados a ler com atenção e benevolência, perdoando
se, apesar do esforço, não consegui traduzir bem algumas expressões. De fato,
as coisas expressas originalmente em hebraico não têm a mesma força quando
traduzidas para outra língua. Isso acontece também com a Lei, os Profetas e os
outros Livros: são muito diferentes na língua original (Prólogo ao Livro do
Eclesiástico, Bíblia Edição Pastoral, destaques meus).
I. 4 – A preservação do AT
Muitos perguntam: será que a Bíblia como a temos hoje merece confiança? E esses que
dizem que a Bíblia passou muito tempo no poder da Igreja Romana, que ela mutilou seus
textos, deixando só o que lhe interessava? E os que dizem que durante o passar dos anos
muitos acrescentaram coisas a Bíblia e tiraram partes? Eles não têm razão? Podemos provar
que a Bíblia é confiável? A resposta a esta questão deve ser um sonoro sim. Hoje, temos muitos
testemunhos diretos e indiretos que demonstram as Escrituras como o documento antigo mais
bem atestado do mundo. Nenhum escrito antigo tem mais testemunhos preservados e em
melhor qualidade do que a Bíblia. Se a Bíblia for posta em dúvida nenhum outro documento
antigo tem autoridade, pois nenhum se compara a ela em provas.
1) Testemunhos diretos.
a) A Geniza do Cairo - Até o fim do século XIX, os mais antigos manuscritos hebraicos
conhecidos não eram mais antigos que o século X d.C., mas, em 1896, na Geniza (depósito
de livros fora de uso) da sinagoga do velho Cairo (Egito), foram descobertos mais de
duzentos mil fragmentos, e dentre eles, dezenas de milhares referem-se ao texto bíblico do
AT. Estes documentos remontam ao século IX.8
b) O texto massorético- Até o século I a.C. o texto hebraico do AT ainda não tinha sido fixado
de forma uniformizada. Então, desde este tempo havia a exigência de uma unificação e
fixação dele. Assim, entre os séculos VIII-X d.C., formou-se o que hoje se chama de Texto
Massorético (TM). Chamou-se assim por causa dos Massoretas, nome dado aos sábios
judeus que padronizaram e fixaram este texto.
8
Para este e outros assuntos sobre manuscritos bíblicos veja: MAINVILLE, Odette. A Bíblia à luz da história
(São Paulo: Paulinas, 1999), p. 24-35. Vademecum para o estudo da Bíblia (São Paulo: Paulinas, 2000), p.
171.
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❖ O códice de Reuchlin (c. 1015 d. C.).9
c) Os manuscritos de Qunrã - A partir de 1947, foram encontrados
em onze cavernas de uma localidade chamada Qunrã, na Palestina,
cerca de 800 manuscritos bíblicos fora os fragmentos que são
milhares. Todos os livros bíblicos, com exceção de Éster estão
representados, pelo menos em fragmentos nestes achados. Existem
também várias cópias de alguns livros completos: Habacuque,
Deuteronômio, Isaías e Salmos. As datas destes textos remontam
ao século II a.C. Especial atenção merece uma cópia completa do
livro de Isaías, que data de 150 a. C.10 Este texto achado quando
comparado com o livro de Isaias que temos em nossas Bíblias, é
igual.
2) Testemunhos Indiretos.
a) A Septuaginta (LXX), tradução do AT para a língua grega no séc. III a. C. Desta tradução
temos os códices Sinaítico (séc. IV d. C.); o Vaticano (séc. IV d. C.); e o Alexandrino (séc.
V d. C.).
c) A Vulgata - Foi uma tradução da bíblia para o latim, feita por Jerônimo entre os anos de
390 e 405 d. C., valendo-se de diversos textos hebraicos, gregos e outros.14
9
Vademecum para o Estudo da Bíblia, p. 172; MAINVILLE, Odette. A Bíblia à luz da história, p. 17-22;
RIENECKER, Fritz. Evangelho de Mateus (Curitiba: Editora Evangélica Esperança), p. 13-14.
10
MAINVILLE, Odette. A Bíblia à luz da história, p. 23-24.
11
Ibid., p. 24.
12
SCHNIEDEWIND, Wiliam. Como a Bíblia tornou-se um livro: a textualização do antigo Israel, p. 145-146.
13
Veja para o assunto: MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história: o surgimento e o
impacto da Bíblia (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006), p. 90-91.
14
FISCHER, Achilles Fisher. O texto do Antigo Testamento: edição reformulada da Introdução a Bíblia
Hebraica de Ernst Würthwein (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013), p. 136-141.
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DIVISÃO NOMES
PORTUGUÊS HEBRAICO
Gênesis אשית
ִׁ = בְּ ֵרNo começo
Êxodo = שֵ מֹותNomes
Instrução / Lei Levítico = ַויִׁקְּ ָראE chamou
Números = בְּ ִׁמדְּ בַ רNo deserto
Deuteronômio = דְּ בָ ִׁריםPalavras
Josué ְּהֹוש ַַע
ֻׁ֣ = יJosué
Juízes = ֹֽׁשפְּ ִׁ ִ֑טיםJuízes
Profetas anteriores e Samuel (um só livro) מּואל
ֵ ֵ֔ = ְּשSamuel
Reis (um só livro) ַ = ְּמלָכִׁ יםReis
Posteriores Isaías ְּשעְּ יָ ֻׁ֣הּו
ֹֽׁ ַ = יIsaías
Jeremias = י ְִּׁר ְּמיָ ָ֖הּוJeremias
Ezequiel = ְּיחֶ ז ֵ֨ ְֵּקאלEzequiel
עשר תרי = Os Doze
Os Doze (compreende os profetas
menores)
Salmos = ְּתהִׁ לִׁ יםSalmos
Provérbios = ִׁמ ְּשלֵיProvérbios
Os Escritos Jó = ִׁאיֹובJó
Cântico dos Cânticos ( ִׁשיר הַ ִׁש ִׁיריםlido na Páscoa)
(Cântico dos Cânticos, Rute ( רּותlido em Shavuot)
Rute, Lamentações, Lamentações ( אֵ יכָהlido no Grande Jejum)
Eclesiastes e Ester Eclesiastes ( קהֶ לֶתlido em Sukkot)
chamam-se os cinco Ester ( אֶ סְּ תֵ רlido no Purim)
rolos e são lidos em Daniel = דָ נִׁ יֵאלDaniel
festas especiais) Esdras ( ֶעז ְָּראinclui Neemias = )נְּ חֶ ְּמיָ ָ֖ה
Crônicas (um só livro) = דִׁ בְּ ֵרי הַ י ִָׁמיםEventos dos dias
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II - O PENTATEUCO DEFINIÇÃO
Bem, tendo visto um pouco sobre a formação do AT vamos nos deter agora no
Pentateuco. Uma boa definição para nosso objeto de estudo é a seguinte:
O vocábulo Pentateuco vem do grego Pente “cinco” e teúchos “livro”, “rolo” ... A
referência é aos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, formadores de uma
unidade básica – os livros de Moisés. O vocábulo foi aplicado a princípio, a esses livros,
no século II D. C.; e posteriormente, foi empregado por Orígenes e a partir daí, se tornou
uma designação comum para os livros em apreço.15
O primeiro autor a usar essa palavra que se tem notícia foi Orígenes (185-253 d.C.).
Abaixo temos os livros que perfazem o Pentateuco e seus nomes em português e na Bíblia
Hebraica.
15
CHAMPLIN, Ph. D. R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia & filosofia, 11 ed. 5 vols. (São Paulo: Hagnos,
2013), p. 195.
16
Isso pode ser visto nos escritos de Filo, Josefo, na Mixná e em Eclesiástico 24.23.
17
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova,
2006), p. 38.
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1- Ele recebe ordens de Deus para escrever os fatos históricos que encontramos no
Pentateuco (Êx 17.14; Nm 33.1-2), leis (Êx 24.4; 34.27ss) e até poema (Dt 31.22; ver tb. Êx
24.4-8; Dt 31.9,22);
2- Muitos outros livros do AT fazem referência a Moisés e a sua atividade literária (Js 1.7-
8; 8.31-32; 1Rs 2.3; 2Rs 14.6; Ne 13.1; Dn 9.11-13; Ml 4.4);
Assim, a evidência interna é sem dúvida em prol de uma autoria mosaica. Não aceitar a
autoria mosaica do Pentateuco é o mesmo que dizer que todas essas passagens não contém a
verdade, o Pentateuco se transformaria numa grande fraude literária.
V- TEOLOGIA NO PENTATEUCO
18
MCDOWELL, Josh. Novas evidências que demandam um veredito I e II (São Paulo: Hagnos, 2013), p. 724-
725.
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Escrituras. Como exemplo temos o relato da criação. Esta é a base para a doutrina cristã. Sem
o relato da criação como está em Gênesis a teologia cristã perde seu sentido.
Tudo o que o NT fala sobre a salvação perde seu significado sem Gênesis 3 e o restante
do Pentateuco, com sua revelação progressiva de Deus. ... O apóstolo Paulo deixa claro
em Gálatas 3 e Romanos 4 que o Evangelho cristão está baseado na história da aliança
encontrada no Pentateuco. A fé cristã é a mesma fé de Abraão, e a mesma fé dos
israelitas que guardaram a aliança com Deus e usaram as instituições religiosas que
Moisés estabeleceu do modo que Deus pretendia que elas fossem usadas. Estas mesmas
instituições religiosas apontaram e prepararam de modo crescente para o Cristo por
vir.19
É ali no Pentateuco que Deus mostra como realizaria a salvação do ser humano (os
sacrifícios) e como queria que esse seu povo vivesse (suas leis universais). O amor, a graça, a
misericórdia, a justiça, a sabedoria, a grandeza do Senhor, junto ao restante de seus atributos,
é possível encontrar no Pentateuco. É um grande compendio de temas teológicos que precisa
ser prontamente conhecido por quem se diz cristão ainda mais por quem se propõe a ensinar
as Escrituras. 20
Bem, até aqui estudamos a posição conservadora sobre o Pentateuco sua formação,
propósito e autoria, todavia a crítica bíblica não o entende assim.
I- História21
19
TENNEY, Merril C. (org. geral). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, vols. 4 (São Paulo: Cultura Cristã,
2008), p. 912.
20
Para uma boa introdução aos temas do Pentateuco veja: ALEXANDER, T. Desmond. Do paraíso à terra
prometida: uma introdução aos temas principais do Pentateuco (São Paulo: Shedd Publicações), 2010. Para
quem quer uma obra de referência a melhor é: ALEXANDER, T. Desmond e BAKER, David W. (editores).
Diccionario del Antiguo Testamento: Pentateuco (Barcelona: CLIE, 2012).
21
Sigo de perto aqui a Umberto Cassuto. La hipótese domentaria, p. 4-5.
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22
https://de.wikipedia.org/wiki/Henning_Bernhard_Witter
23
“Seu objetivo era apologético. Para defender a autenticidade mosaica do Pentateuco, Astruc postulava
que Moisés teria tido à sua disposição dois documentos principais, a “memória A, que utilizava o nome
divino Elohim, e cujo início se situava em Gênesis 1, e a “memória B”, caracterizada pela utilização de
Yhwh e que teria desfechado em Gn 2,4” (RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe
(orgs.). Antigo Testamento: história, escritura e teologia (São Paulo: Loyola, 2010), p. 87.
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• Na primeira metade do séc. XIX, alguns críticos postularam o que ficou conhecido como
hipótese suplementar. Para eles, havia a princípio um documento básico que gerações
posteriores completaram gradualmente mediante adições e redações diversas.
• Essa forma não durou muito tempo, Hermann HUPFELD (1796-1866) com seus estudos
publicados em 1853, Die Quellen der Genesis und die Art ihrer Zusammensetzung von neuen
untersucht, consolidou e renovou a hipótese documental.
• E por fim, com os estudos de Karl GRAF (1815-1869)
Julius WELLHAUSEN (1844-1918) essa hipótese
chegou a sua maior “perfeição”. Ele postulou que o
Penteuco era o resultado editado de quatro fontes
básicas: J (Javista), E (Eloista), P (Sacerdotal) e D
(Deuteronomista). 24 Wellhausen não contribuiu com
nada novo para teoria, seu mérito foi ter redefinido
tudo com perícia e poder de persuasão,
1- J (Javista) – Essa fonte iria de Gn 2 a Nm 24 para alguns, mas não se engane, existem
tantas variações quanto as cabeças dos críticos, e dá preferência ao nome Javé (YHWH)
para Deus. Teria sido compilada em Judá (Reino do Sul) entre 950-850 a. C. O destaque
nessa fonte é a proximidade com Deus, muitas vezes Deus é descrito em linguagem
antropomórfica. Destaca a continuidade do propósito de Deus desde a criação e o papel
de Israel como seu povo. Isso leva ao estabelecimento da monarquia davídica. Tem
interesse em reflexões éticas e pouco interesse em sacrifício ritual. No tempo de
Wellhausen essa era considerada a mais antiga, depois mudaram.
2- E (Eloista) – Essa fonte segundo seus proponentes teria sido originada em Israel (Reino
do Norte). Em suas características essa fonte dá preferência ao nome Elohim ao se
24
Foi demitido da faculdade de Teologia de Göttingen por essas ideias. (RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-
Daniel; NIHAN, Christophe (orgs.). Antigo Testamento: história, escritura e teologia, p. 91.
25
ARCHER JR, Gleason L. Panorama do Antigo Testamento, 4 ed. (São Paulo: Vida Nova, 2012), p. 97.
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referir a Deus até a revelação do nome YHWH a Moisés (Êx 3.6), depois passa a
empregar as duas formas. Os seus defensores pensavam que ela começava em Gn 15,
mas adiaram para Gn 20, e iria até Nm 32. Seu ambiente seria o Norte de Israel, pois
uma atenção especial é dada ao santuário de Betel, a Siquém e as tribos de José, Efraim
e Manassés. Enfoca mais preocupações religiosas e moralistas. Sua data estaria entre
750-700 a. C. Para o crítico Martin NOTH é quase impossível recuperar essa fonte
completamente por causa de uma mistura feita por redatores entre as fontes J e E.26
Como ele sabe disso, ninguém sabe. Hoje em dia seu status de fonte independente é
cada mais questionado.
4- P (Sacerdotal, do alemão Priester = sacerdote) – Essa fonte seria uma narrativa histórica
expandida com textos legais e outros materiais. Destaca dias especiais relacionados ao
culto, alianças, leis relacionadas ao culto, procedimentos de sacrifícios e cerimônias.
Ressalta a santidade e a transcendência de Deus e o estabelecimento do verdadeiro
culto liderado pelos sacerdotes. A fonte básica desse documento é muitas vezes datada
do meio do exílio (c. 550 a. C) e a redação final do séc. V a. C. A fonte pode ser vista de
Gn até Nm e alguns versos do Dt. Para os críticos seus textos podem ficar lado a lado
com outras fontes. Assim Gn 1.1-2.4a seria P, Gn 2.4b – 25 seria J. Podem aparecer
também entrelaçados.
A construção teria se dado com J e E sendo combinados primeiro, depois D teria sido
anexado, e por fim, P dando um aspecto legalista e sacerdotal ao Pentateuco.28
26
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederick W. Introdução ao Antigo Testamento, p. 11.
27
HAMILTON, Victor P. Manual do pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio (Rio de
Janeiro: CPAD, 2015), p. 424.
28
TENNEY, Merril C. (org. geral). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, vol. 4, p. 566.
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1- Os usos dos nomes divinos YHWH (fonte J) e Elohim (fonte E) para Deus;
2- A existências de narrativas duplas. Exs.: esposa feita irmã (Gn 12.10-20; 20; 26), ou
relatos distintos, mas que serviriam ao mesmo propósito. Exs.: as estrelas e os feixes na
história de José (Gn 37.5-11); e relatos paralelos (P. ex.: Gn 1 e 2).
3- O uso de dois nomes para designar a mesma pessoa, tribo ou lugar. Exs.: Reuel//Jetro;
Horebe//Sinai; Jacó//Israel; Ismaelitas//Midianitas;
4- Teologias diferentes. Exs.: a fonte J teria como característica retratar Deus
antropomorficamente; já a fonte D (deuteronomista) apresenta uma forma de teologia
da retribuição. A fonte P (sacerdotal) está cheia de preocupações sacerdotais e
enfatizaria a transcendência de Deus.
O famoso teólogo do AT Gerhard VON RAD foi quem deus os contornos finais a teoria e é
a partir de seus estudos que ela está em voga atualmente.
• Mas, o que antes parecia ser algo muito bem fundamentado, hoje já é considerado
ultrapassado em muitos lugares. Certo autor escreve:
No fim do século XIX foi elaborada uma teoria que propunha um modelo global para a
formação da Torá, teoria recebida depois como uma verdadeira evidência. Faz uns vinte
anos que essa evidência desmoronou para a maioria dos exegetas, e os diferentes
questionamentos do velho consenso obrigaram a pesquisa bíblica científica a se
renovar, mas também a se perguntar sobre seus pressupostos ideológicos. 30
Isso porque
Entre os exegetas que adotaram esse modelo, pode-se notar desde o começo até meados
do século XX, certa tendência a abusar desse método. Assim, o Javista foi desde logo
subdividido em J1, J2 etc., depois ainda em L (fonte “leiga”) e em N (fonte “nômade”).
E P conheceu destinos comparáveis. A proliferação das camadas tornava impossível o
consenso sobre o detalhe. 31
29
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento, p. 40.
30
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (orgs.). Antigo Testamento: história,
escritura e teologia, p. 85.
31
Ibid., p. 91.
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• Rolf RENDTORFF foi quem de uma grande
importância para as mudanças atuais quanto a
teoria. “... porque ele expõe de maneira implacável,
e com muita ironia, as incoerências e as fraquezas da
hipótese dos quatro documentos”. 32 Vendo a
falibilidade dos antigos pressupostos hoje é fácil
encontrar na academia:
Assim, o pouco consenso que um dia houve se esvaiu. Muitos estudos a partir de 1975
têm surgido mostrando cada vez mais as falhas da teoria.34
Bem, depois de conhecermos os pressupostos básicos da Teoria Documental, abaixo
vamos analisá-los com mais detalhes.
Será que essa teoria realmente é consistente? Ou ela tem problemas intransponíveis
que nos levam a ficar com a crença ortodoxa da inspiração divina da Bíblia e a da autoria
mosaica do Pentateuco?
32
Ibid., p. 101.
33
Ibid., p. 101-105.
34
Para um breve apanhado do estado da pesquisa veja: MONTEIRO, Sérgio Henrique Soares. O pentateuco
no século 21: retrospecto e perspectivas (Kerygma, Engenheiro Coelho, SP, volume 13, número 2, P. 23-45,
2º semestre de 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.19141/1809-2454.kerygma.v13.n2.p23-45).
Acesso 12/02/2022.
35
ARCHER JR, Gleason L. Panorama do Antigo Testamento, p. 103.
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divisão de fontes. O que temos hoje no
TM em termos do uso da língua
hebraica não quer dizer que era o
mesmo que se tinha à época da escrita
do Pentateuco. E o Dr. Umberto
CASSUTO, rabino e erudito judeu,
mostrou que a Torá não usa os nomes
de Deus de forma indiscriminada, como
alguém faria colando fontes diferentes.
O autor do Pentateuco usa os nomes de
Deus de forma planejada, o uso de um
ou de outro é intencional.
...as variações no uso dos Nomes Divinos, e um estudo detalhado do tema nos levou a
ver que estas trocas dependiam da significação primária dos Nomes e das regras que
governavam seu uso na vida e na literatura, regras que se mostram em todo corpo da
literatura hebraica e inclusive nos escritos hebraicos pós-bíblicos. Estas regras estão
arraigadas nas tradições literárias comuns aos povos do antigo Oriente. 36
YHWH ELOHIM
Foi escolhido o nome YHWH quando o texto O nome Elohim é preferido quando a
reflete o conceito israelita de Deus passagem dá a entender a ideia abstrata da
incorporado na imagem mental de Israel divindade, predominante nos círculos
sobre YHWH que acha expressão nas
internacionais dos “sábios” – Deus é então
qualidades que tradicionalmente lhe são
concebido como o criador do universo físico,
atribuídas por Israel, sobretudo seu caráter
ético. como o que rege a natureza como a fonte da
vida.
YHWH é usado quando se busca exprimir a O nome Elohim surge quando se quer
noção direta e intuitiva de Deus, que transmitir o conceito de pensadores que
caracteriza a fé simples das multidões ou o meditam sobre os elevados problemas
ardor do espírito profético.
relacionados à existência do mundo e da
humanidade.
O nome YHWH ocorre quando o contexto Elohim é usado quando a imagem
retrata os atributos divinos em termos transmitida é mais geral, mais superficial e
reMlativamente lúcidos e, por assim dizer,
36
La hipótesis documentaria y la redacción del Pentateuco: ocho conferencias (Barcelona: SEDIN, s/d), p.
60. Nas pgs. 9-24 o Dr. Cassuto detalha como o AT usa os nomes divinos YHWH e Elohim.
37
O quadro pode ser visto em: MCDOWELL, Josh. Novas evidências que demandam um veredito I e II, p.
855-856.
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palpáveis, quando se transmite um quadro indistinta, que nos dá a impressão de ideias
claro. pouco nítidas.
YHWH é o nome empregado quando a Torá Elohim é usado quando se deseja mencionar
procura despertar na alma do leitor ou Deus de maneira comum ou quando a
ouvinte o sendo da sublimidade da Presença expressão ou pensamento, por motivos de
de Deus em toda a sua majestade e glória.
reverência, não podem ser diretamente
associados ao nome mais santo.
O nome de YHWH é empregado quando Elohim é empregado quando se alude à
Deus nos é apresentado em seu caráter divindade como um ser transcendental, que
pessoal e em relação direta com as pessoas existe completamente fora e acima do
ou com a natureza.
universo físico.
YHWH aparece quando se refere ao Deus de Elhim é empregado quando se alude a Deus
Israel em relação a seu povo ou aos em relação a alguém que não é membro do
antepassados de seu povo. povo escolhido;
YHWH é mencionado quando o tema Elohim é usado quando o assunto diz
abordado diz respeito a tradição de Israel. respeito a tradições universais.
• Fora esse apanhado linguístico existem mais coisas a considerar sobre os usos dos nomes
de Deus no Pentateuco. Algo importante é que é normal essa alternância. Gleason ARCHER
JR. é preciso aqui. Ele diz:
• Até no Alcorão, que ninguém duvida que tenha sido composto por um único autor, se
encontra multiplicidade de nomes, mostrando que isso é estilo e não implica autoria
diferente.39 Além do que: “o principal problema é que a divisão em documentos nestas bases
não é consistente. O documento J usa frequentemente Elohim e o documento E usa YAHWEH
38
ARCHER JR, Gleason L. Panorama do Antigo Testamento, p. 134-135.
39
Ibid., p. 135.
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... na realidade esta inconsistência destrói a validade do uso dos nomes divinos como padrão
objetivo para dividir o texto em documentos ...”40
Está claro que estas duas seções diferem consideravelmente quanto a seu caráter. Não
há dúvida alguma disso. A divergência é óbvia se abordarmos o texto sem nenhum
preconceito. Na primeira seção temos uma visão sublime da totalidade da criação,
apresentada com um grande poder de síntese, que unifica em uma ordem clara e
compreensível todas as categorias incessantemente mutáveis da existência .... Por outro
lado, a segunda seção contém uma gráfica e dramática narração que cativa o coração
com os detalhes que a impregnam com todos os detalhes mágicos da imaginação
oriental, e trata de inculcar ensinos religiosos e éticos revestidos de eventos reais,
dirigindo-se mais aos sentimentos que ao intelecto do leitor. 42
Nenhum relato antigo da criação omitiria o fato da criação da terra, do sol, da lua, das
estrelas, dos mares, como encontramos em Gn 2. Logo, aqui não temos uma descrição da
criação, mas um complemento ao cap. 1.
B-1- Com respeito aos relatos paralelos o que fica demonstrado não é uma autoria
diversa, mas a engenhosidade da autoria do Pentateuco e sua unidade com o resto da história
de Israel. Temos um autor genial que tem um plano de escrita, ele seleciona escreve os fatos
que têm ligações diretas com a história hebraica. Veja o plano do autor:
a- Fome na terra, Abraão desce ao Egito (Gn 12.10); fome na terra, os irmãos de José descem
ao Egito (Gn 43.1-2); fome na terra, Israel vai ao Egito (Gn 47.4);
40
TENNEY, Merril C. (org. geral). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, vols. 4, p. 896.
41
Ibid., p. 143.
42
CASSUTO, Umberto. La hipótesis documentaria, p. 43.
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b- Abraão teme que os egípcios lhe matem e fiquem com sua esposa (Gn 12.2); o Faraó do
Egito manda matar os israelitas (Êx 1.15-22);
c- Sara foi conduzida ao palácio de Faraó para ser uma de suas servas (Gn 12.14-15); os
filhos de Israel são feitos servos de Faraó (Êx 1.8-14);
d- O Senhor ouve o clamor de seus servos e envia praga ao Egito (Gn 12.17); o Senhor ouve
o clamor de seus servos e envia pragas ao Egito (Êx 11.1);
e- Na libertação o Faraó chamou Abraão e lhe falou (Gn 12.18); na libertação dos israelitas
o Faraó chamou Moisés e Aarão e lhes falou (Êx 12.31);
f- Abraão sai do Egito com riquezas (Gn 13.2); os israelitas saem do Egito com riquezas (Êx
13.2);
g- Saindo do Egito Abraão vai ao Negueb (Gn 13.1); saindo do Egito Moisés mandou os
espias ao Negueb (Nm 13.17,22).
É evidente que isto não é mera coincidência. Sem dúvida, a Torá faz ressaltar estes
paralelos de forma intencional. Para compreender o propósito da Torá, temos também
que prestar atenção entre a ... narração (Gn 12.1-9) que descreve como Abraão subiu
desde o norte e atravessou toda a terra de Canaã em três etapas. A primeira jornada o
levou a Siquém, onde edificou um altar ao Senhor, um símbolo, por assim dizer, da
conquista ideal da terra em nome do Senhor (vv. 6-7). Depois a segunda jornada
alcançou um lugar a oeste de Betel onde levantou armou sua tenda, tendo Betel ao
ocidente e Ai ao oriente. De novo edificou ali um altar ao Senhor, um símbolo adicional
da conquista da terra em nome do seu Deus (v. 8). Na terceira fase seguiu viajando e foi
ao Neguebe (v. 9). Em Hebrom adquiriu o campo de Macpela e a cova que abriu ali (Gn
23.17-20).43
Agora veja que de forma similar Jacó quando voltou a Padã-Arã fez o trajeto igual.
Chegou a Siquém e comprou um campo armando sua tenda ali. Também edificou um altar ao
Deus de Israel (Gn 33.18-20). Antes de partir dali mandou toda sua casa lançar fora os deuses falsos
e colocaram as imagens junto a Siquém (35.2-4). Depois, chegando a Betel edificou um altar e
prosseguiu para o Neguebe e chegou a Hebrom (35.7,27).
• Isso tudo que acabamos de ver (viagens de Abraão e Jacó) tem um paralelo direto com a
conquista de Canaã nos dias de Josué. A primeira cidade tomada foi Ai, ao oeste de Betel (Js
7.2) e os filhos de Israel que se preparavam para toma-la estavam situados entre Betel e Ai (Js
8.2,9). Depois da conquista de Ai Josué edificou um altar junto a Siquém (monte Ebal Js 8.30).
Isso quer dizer que tinha o controle da seção central da terra, entre Ai e Betel ao sul e Siquém ao
norte. Isso corresponde a fase central das viagens de Abraão e Jacó. Dali os filhos de Israel se
estenderam para as duas regiões restantes, ao sul de Ai e Betel (Js 10), e ao norte de Siquém (Js
11). E em Siquém ele mandou o povo lançar fora os deuses falsos, como Jacó havia feito antes no
mesmo lugar (Js 24.23).
43
Ibid., p. 49.
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Todos esses paralelos não são coincidência. A repetição das expressões que se havia
usado antes nas narrações de Abraão e Jacó demonstra de maneira conclusiva que as
citações são feitas com intenção clara. O propósito é, sem dúvida, ensinar-nos que os
atos dos pais são um sinal para os filhos, que a conquista da terra já havia acontecido,
por assim dizer, de forma simbólica na época dos Patriarcas.44
Longe de serem provas de diferentes fontes estes relatos paralelos mostram a condução
divina da escrita do Pentateuco e sua unidade.
Assim, uma leitura atenta mostra que são relatos distintos de acontecimentos
semelhantes que incidiram nas vidas dos patriarcas.
44
Ibid., p. 50.
45
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento, p. 45.
46
WALTKE, Bruce. Gênesis (São Paulo: Cultura Cristã, 2010), p. 255.
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estrangeiros dificilmente podiam distingui-los, especialmente quando apareciam como
mercadores árabes e não como tribos, tal como se descreve aqui....47
b- Quanto as questão de o mesmo monte se chamar Sinai e Horebe (Êx 19.18; Dt 4.10)
também tem elucidação. Primeiro que um lugar conhecido com dois nome não é problema, e
depois ao que tudo indica o Sinai não é o monte propriamente dito, mas a região (veja que o
texto de Êxodo coloca “deserto do Sinai” - 19.18), e Horebe seria a parte maciça do monte. É
provável que Sinai marcasse a cadeia completa de montanhas e Horebe fizesse referência a um
único cume. Nada de estranho.
c- Para o problema de o sogro de Moisés ser chamado por nomes diferentes (Êx 2.18;
3.1; Nm 10.29) Victor P. HAMILTON tem uma resposta muito provável:
Uma possibilidade é que Hobabe e Jetro sejam a mesma pessoa, e que Reuel seja o seu
pai (Nm 10.29). Se isso for verdade, então “filhas”, no versículo 16, significaria “netas”,
e “pai”, no versículo 18, deve ser entendido como “avô”. Casos semelhantes a esse são
o uso de “filho” e “neto” em Gênesis 29.5 e o uso de “pai” e “avô” em Gênesis 32.9[10]. 49
E R. Alan COLE explica que o homem bem que poderia ser conhecido por mais de
um nome:
Evidentemente não há problemas em supor que ele tivesse dois (ou mais) nomes, já que
nomes duplos são conhecidos de fontes da Arábia Meridional. Em tais casos o editor
bíblico às vezes especifica ambos os nomes, como em “ Jerubaal (que é Gideão)” (Jz 7:1):
às vezes porém, os dois são usados independentemente no espaço de uns poucos versos
(Jz 8:29). O assunto não tem importância teológica e é melhor presumir que o nome
significava tão pouco para Israel que tal incerteza era possível. A tradição, contudo, é
unânime em afirmar que Moisés se casou com a filha de um sacerdote semita da região
desértica oriental, e lá viveu por período consideravelmente longo. 50
Assim, mesmo textos difíceis como esses não exigem o uso de muitas fontes para serem
esclarecidos.
47
KEIL & DELITZSCH. Comentario al texto hebreo del Antiguo Testamento: Pentateuco e Históricos, p. 227.
48
Gênesis, p. 623.
49
Êxodo (São Paulo: Cultura Cristã, 2018), p. 78.
50
Êxodo: introdução e comentário, 2 ed. (São Paulo: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação
Religiosa Editora Mundo Cristão, 1981), p. 59.
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b- Como exemplo, dizem que Êxodo 20 admite mais de um lugar de adoração, já o livro
de Deuteronômio (12) restringiria tudo a Jerusalém e Lv e Nm admitem isso. Mas,
olhando bem Dt 12 mostra que essa centralização não era imediata, mas entraria em
vigor quando o Senhor desse descanso ao seu povo de seus inimigos (Dt 12.8-12), e isso
só aconteceu no tempo de Davi (2Sm 7.1). Até aquele tempo a lei de Êx 20 estava
valendo e regulava a construção de múltiplos altares.
• Fora tudo isso arqueologia também tem a cada dia mostrado a antiguidade do Pentateuco
e desmanchado pressupostos que os críticos criaram para fazer dele um documento recente.
Com as descobertas que apareceram após a formação da teoria muita coisa que era usada para
desacreditar o Pentateuco teve que ser deixada de lado. Agora se sabe que o uso da escrita é
mais antigo que o tempo de Moisés e que muita coisa das quais tratam o Pentateuco, só poderia
descrever uma testemunha ocular. A Torá trabalha com termos que na época do exílio (tempo
que para os críticos o Pentateuco foi finalizado, nem se usava mais.
Ao estudarmos todas essas explicações devemos desconfiar de todo método que só observe
um lado da história. Nenhum estudioso ou método se for sério deve descartar outras
explicações de fatos, se forem coerentes, mesmo se estiverem contra suas preferências. Mesmo
se a explicação for sobrenatural. A crítica bíblica erra justamente nesse quesito. Olhando o
Pentateuco apenas pelo prisma humano racional ela não é científica.
51
Umberto Cassuto discute com detalhes estes pontos em . La hipótesis documentaria, p. 33-40.
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Uma das evidências mais marcantes da autoria mosaica do Pentateuco é a sua unidade.
Muitas vezes essa unidade é vista no recontar das histórias do povo hebreu seguindo
justamente a sequência do Pentateuco. Observe como isso acontece:
(1) Deus escolheu Abraão e seus descendentes (At 13.7; Js 24.3) e lhes prometeu
a terra de Canaã (Dt 6.23).
(2) Israel desceu ao Egito (At 13.17; Js 24.2) e caiu na escravidão (Dt 6.21; 26.5),
da qual o Senhor os livrou (At 13.17; Js 24.5-7; Dt 6.21; 26.8).
(3) Deus conduziu Israel a Canaã conforme prometera (At 13.19; Js 25.11-13; Dt
6.23; 25.9).53
Toda essa história recebe significado teológico a partir de sua relação com Gn 1-11 o
chamado “prólogo primevo”. Essa parte tem uma perspectiva geral e volta-se para a
fundamentação do afastamento de Deus com respeito ao homem e a mulher. “O Pentateuco,
portanto, possui duas divisões principais: Gênesis 1-11 e Gênesis 12 - Deuteronômio 34. A
relação entre ambas é de pergunta e resposta, problema e solução”. 54 Até os críticos
reconhecem uma estrutura unida nesse bloco de livros. Eles dizem que foi alguém que pegou
os textos depois e deu uma forma bem estruturada.55 A desculpa é péssima, mas só comprova
o fato.
A estrutura é tão bem montada que o livro do Levítico aparece como o centro da Torá,
e no Levítico o ritual da expiação de Yom Kippur (Lv 16) é central. Também é possível notar
que Gênesis e Deuteronômio foram concebidos em paralelo no quadro geral.
52
YOUNG, Edward J. Una introducción al Antiguo Testamento (Grand Rapids: T. E. L. L., 1977), p. 14.
53
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederick W. Introdução ao Antigo Testamento (São
Paulo: Vida Nova, 2002), p. 4. Veja também: PAGÁN, Samuel. Introducción a la Biblia hebrea (Barcelona:
CLIE, 2012), p. 131.
54
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederick W. Introdução ao Antigo Testamento, p. 6.
55
RÖMER, Thomas; MACCHI, Jean-Daniel; NIHAN, Christophe (orgs.). Antigo Testamento: história,
escritura e teologia, p. 81.
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Dt 33 Moisés) e que morrem imediatamente depois. Por fim, o último discurso de
YHWH a Moisés em Deuteronômio 34,4 é uma citação literal da primeira promessa
divina feita a Abraão em Gênesis 12,7.56
Gênesis Deuteronômio
Gênesis 12.7 – primeira promessa Deuteronômio 34.4 – última promessa
Gênesis 49 – bênção de Jacó Deuteronômio 33 – bênção de Moisés
Êxodo Números
Êxodo – deserto – Sinai Sinai – deserto – Moabe
Êxodo 12 – Páscoa Números 9 – Páscoa
Êxodo 15-17 – murmurações Números 11-20 – murmurações
Êxodo 25-40 – o santuário Números 1-9 – o campo
Levítico
Levítico 1-15 – sacrifícios e prescrições
Levítico 16 – o ritual do grande perdão (yom
kippur)
Levítico 17-26 – prescrições e sacrifícios
• Esta unidade é clara na sequência lógica quando se divide a grande história que o
Pentateuco compila. Veja:
56
Ibid., p. 81-82.
57
Ibid., p. 82.
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Números. O relato da jornada é concluído em Deuteronômio, com o povo situado nas
campinas de Moabe, a leste do rio Jordão. De maneira similar, a figura de Moisés une
grande parte do Pentateuco, os capítulos iniciais de Êxodo descrevem seu nascimento
e o capítulo final de Deuteronômio registra sua morte. ... Na forma presente o
Pentateuco mostra-se uma obra unificada.58
• Agora isso não quer dizer que ele foi o originador de cada passagem do Pentateuco ou
tenha deixado o texto na forma final como o temos hoje. É muito provável que ele tenha
usado muitas fontes, documentos que tinha a sua disposição no trabalho de pesquisa que teve
(Ex.: Nm 21.14, o Livro das Guerras de YHWH) e que editores tenham, na história da transmissão
do texto, dado a sua forma atual.
Mesmo quem atribui a autoria do Pentateuco a Moisés, como eu, deve estar ciente de que
houve adições pós-mosaicas ao texto. “O mais óbvio dos assim chamados pós-mosaicos é
Deuteronômio 34, a narrativa da morte de moisés”. 59 O leitor atento vai notar diversos
pequenos acréscimos ao texto à medida que faz a leitura. Exemplos:
58
ALEXANDER, T. Desmond. Do paraíso à terra prometida: uma introdução aos temas principais do
Pentateuco, p. 29-30.
59
LONGMAN III, Tremper; DILLARD, Raymond B. Introdução ao Antigo Testamento, p. 38
60
Para uma lista extensa de exemplos veja: ANDERSON, Steven D. Introduccíon al pentateuco: serie guía
interpretativa para la Bíblia, tomo 2. Disponível em < https://www.bible.truthonly.com/espa%C3%B1ol>
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Sabendo disso a tradição hebraica coloca Esdras, o escriba (Ed 7.6), como o redator
final da Torah.61
*********
O Pentateuco, então, foi completado pelo grande homem Moisés sob a influência da
inspiração divina, com a assistência de homens fiéis que registraram as palavras de
Moisés e ajudaram-no a colocar em forma escrita as grandes partes da composição
literária que constituem hoje o Pentateuco. Deve-se admitir alguma modernização
posterior do texto, de acordo com a tradição judaica, da qual a maioria data da época
de Esdras, e explica alguns anacronismos e comentários existentes no texto. 62
O Pentateuco é sim obra de Moisés, nada lhe desabona para o fato (At 7.22), e os detalhes
apresentados no texto acima (como atualizações de nomes) deve-se as edições pelas quais o
texto passou em sua transmissão.
Pois bem, após essa primeira jornada introdutória, vamos entrar nos livros que
compõem a Torá propriamente ditos. Venha que está apenas começando.
61
LASOR, William S.; HUBBARD, David A.; BUSH, Frederick W. Introdução ao Antigo Testamento, p. 10.
62
TENNEY, Merril C. (org. geral). Enciclopédia da Bíblia Cultura Cristã, vols. 4, p. 904.
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9- Existem muitos versos que demonstram atualização na transmissão do texto do
Pentateuco;
10- A autoria mosaica do Pentateuco pode enfim ser aceita com provas substanciais.
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de 19 de fevereiro de 1998