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PREFÁCIO

Mais do que um simples jargão, independente das


interpretações e subestimações acerca da importância do
tema, vemos neste Cântico de Davi a importância do Amor
fraternal para o convívio em sociedade, um amor verdadeiro,
que requer doação, supressão do ego/vaidade, maturidade e
respeito. Meus Iir∴ não é à toa que ele é lido sempre no início
das reuniões, no livro da lei. Fazemos parte de uma seleta
sociedade iniciática e hermética, que precisa de toda
interpretação, hermenêutica, decoro e atenção aos “detalhes”
dos nossos ritos. Ainda mais, deveria ser um guia prático e atual
de como devemos viver em sociedade. O Apóstolo Paulo, por
exemplo, opunha-se a Barnabé, mas estava unido em Cristo
com o mesmo. Transcende, portanto, o simples convívio, e nos
traz à tona o amor fraterno em sua mais pura essência.

INTRODUÇÃO
Toma-se como exemplo o trabalho dos obreiros da A∴ R∴ L∴
S∴ Obreiros da Paz 2909, do Or∴ de Pinhais - SP, no qual
fizeram uma subdivisão interessante.
Em um primeiro momento analisam-se os elementos do
trabalho, como o Livro da Lei, os Salmos e as origens da leitura
do Salmo em Loj∴
Segundamente, faz-se uma análise histórica dos
personagens e locais do conhecido Salmo da Concórdia, entre
eles David, Aarão, Monte Hermon, Monte Sião, além do óleo da
unção. O “Tabernáculo” e a “Arca da Aliança”, que, apesar de
não serem citados nominalmente, são parte do contexto geral
em que se passa este cântico. Comenta-se também a relação
dos “Landmarks” da Franco Maçonaria e a abertura de um
“Livro da Lei”, no nosso caso, a Bíblia Cristã.
A posteriori, faz-se uma reflexão filosófica sobre o tema,
partindo de outras fontes, tais como o trabalho supracitado,
internet, Bíblia cristã, Revista Trolha e boletins do G∴ O∴ P∴,
basicamente. Sem contar na Luz emanada pelo V∴ M∴ e sua
diretoria. Não podemos deixar de citar a egrégora, o principal
fim e meio de uma irmandade coesa e produtiva.

ORIGENS
Acredita-se que a primeira vez em que foi usada a leitura
deste salmo foi perto da metade do século XVIII, em algumas
lojas inglesas do tipo “Yorkshire” (CASTELANI, José). Ou seja,
junto do Iluminismo que inspirou, além da Revolução Francesa,
o desenvolvimento da Maçonaria Especulativa, mais
precisamente em 1789 e 1717, respectivamente. Perde-se por
um tempo este costume e então retoma-se novamente o
costume da abertura do Livro da Lei, só que agora sem leitura
alguma, pelo rito inglês Emulation. Interessante que voltou este
costume em algumas Grandes Lojas dos Estados Unidos da
América, em especial a Grande Loja de Nova Iorque. Isso, no
rito de York, pois o R∴ E∴ A∴ A∴ só é praticado nos graus
filosóficos. E isto foi copiado pelos brasileiros do R∴ E∴ A∴ A∴,
disseminando esta prática pelo país. Lá, diferentemente do
Brasil, é lido o Livro de João, capítulo 1, versículos de 1 a 5. No
Gr∴ Or∴ Paulista vemos a leitura deste livro em algumas Lojas.
Há também Lojas dos EUA e da Inglaterra onde lê-se o Livro de
Ruth IV.
Os Templários, por sua vez, liam o salmo da Concórdia (133)
nas suas iniciações, em 1128, de acordo com Gomes em “A
regra primitiva dos Cavaleiros do Templo”. Os “Cânones do
Ritual da Recepção da Ordem do Templo”, número 678, nos
dizem em francês:
“...Et lê frere chapelain dait lê saume dire que l’on dit, Ecce quam
bonumet quam incubum, /habitare frates in unum...” (E o irmão capelão
deve recitar o salmo que diz. Eis, como é bom, como é bom, como é
delicioso, /viverem os irmãos em boa união).

ABERTURA DO LIVRO SAGRADO


Marca-se, aqui, o início real e formal dos trabalhos Loja, pois
simboliza a presença efetiva do G∴ A∴ D∴ U∴ É o livro da Lei,
pois trata da Lei Magna dos crentes, a Santa Lei de Deus.
Embora estamos em uma Loja predominantemente cristã, a
Palavra de Deus poderia ser o Alcorão, a Torá, entre outras
denominações religiosas. Há aqui no Norte do Paraná, uma Loja
predominantemente islâmica, onde abre-se o Livro Alcorão, por
exemplo. Ateísmo, portanto, não encontra morada na Franco
Maçonaria.

SALMOS
Em Hebraico “psalmus”, são os chamados cânticos poéticos,
religiosos e patrióticos de Israel. Ezequiel e seus discípulos
seriam os responsáveis pela coletânea escrita dos salmos. Este
trabalho continuou após a restauração de Israel através das
gerações, pelos escribas de seu tempo. Este livro presente na
Bíblia Cristã, falam sobre a humanidade, além dos preceitos
Sagrados. Vitória, glória, belicismo, fé, amor, união, patriotismo,
alegria, medo e pecado. Fala de homens iluminados na
Presença Santa do G∴ A∴ D∴ U∴ bem como dos ausentes, que
vivem no pecado e sofrem por conta de seus erros e escolhas.
Justiça é uma característica muito presente nos salmos.
“...bênçãos sobre os jus∴ e punição dos ímpios.”
Bebendo ainda do mesmo trabalho:
Laudatórios – louvam a Deus, à Sua grandeza, Magnificência e
misericórdia.
Deprecatórios – onde o salmista expõe os males e queixas.
Gradulatórios – agradecimento de benefícios ou preces atendidas.
Penitenciais – pedem perdão de pecados pessoais ou do povo.
Históricos – versam sobre a história de Israel.
Messiânicos – referem-se ao futuro Messias.
Fraternidade – refere-se à concórdia entre os irmãos, como o Salmo
133

Os Salmos são atribuídos a David, mesmo não sendo ele o


autor de todos. A Bíblia o define como o cantor dos Cânticos de
Israel, pela habilidade musical (citara) de que era dotado,
entrando assim também à corte do rei Saul.

DAVID
Historiadores não conseguem precisar a quantidade de
Salmos que podem ser atribuídos ao rei. 73 são designados
com a expressão “Le David”, que pode significar tanto como “de
David”, como “a respeito de”. As civilizações tem berço nas
regiões ribeirinhas do Oriente Médio entre 2.800 e 400 a. C. da
era vulgar. São povos da antiguidade oriental, que se
espalharam por cinco áreas interligadas geograficamente e
culturalmente: Mesopotâmia (atual Iraque), Egito, Fenícia
(região do Líbano), Pérsia (Irã) e Palestina. Dois séculos após o
êxodo, meados de 1050 a. C. do calendário gregoriano, houve
muitas guerras contra cananeus e filisteus. Após Moisés, Josué
reuniu os vários clãs em 12 tribos, as famosas tribos de Judá.
Os povos inimigos (cananeus e filisteus) tornavam
imprescindível a união das tribos, tanto política como religiosa,
crendo em um Deus único, Yaweh. Entre várias vitórias, por
exemplo a famosa história do Rei Davi contra o gigante Golias,
sob os comandos do vitorioso Davi, a unificação das 12 tribos
bem como a independência do Reino de Israel, transformando
Jerusalém em sua Capital, era cada vez mais consolidada. A
partir daí, Davi força a união de seu povo, através de um
preceito lógico, mas que nós na atualidade não seguimos: a
união dá invulnerabilidade, facilidade e harmonia. Em palavras
populares: a união faz a força. Davi então levou para Jerusalém
(Sião) a Arca da Aliança, nomeou os chefes do Sanctum
Regnum (sacerdotes das Altas Ciências/Religião) e lutou pelo
seu culto.

AARÃO E SUAS VESTES


Bisneto de Levi, irmão mais velho de Moisés e filho
primogênito de Amrao e Jacobed, daí diz-se que era da “casa
de Levi”, era irmão mais velho de Moisés. Teve papel principal
da libertação dos hebreus do Egito, Foi intérprete entre o faraó
do Egito e os anciãos de Israel. Fontes nos trazem que foi o
fundador do sacerdócio hebraico, sendo o patriarca da classe.
Após a libertação, os primogênitos foram “eleitos” para o
sacerdócio do Senhor, “tornando-se uma instituição definitiva
que vai ser ratificada com a construção do Templo.” Vemos aqui
o primeiro “mago” em palavras comuns. O detentor das Chaves
para o Santo Reino, a Magia. Eram, portanto, interlocutores da
Palavra de Deus, tornando-os diferenciados com relação ao
povo israelita. Aarão e seus irmãos já gozavam desta
diferenciação, pois eram da casa de Levi, a quem Deus deu a
missão de daí saírem Seus sacerdotes.
Em Ex: 28-4, diz o Senhor a Moisés:
“Farás a teu irmão Aarão vestes sagradas em sinal de dignidade, de
ornato... de sorte que ele seja consagrado ao meu sacerdócio. Eis as
vestes que deverão fazer: um peitoral, um efod, um manto, uma túnica
bordada, uma mitra, um cinto, deverão usar fios de lã azul púrpura e
vermelha, fios de ouro de linho puro... farás também o peitoral... e
encherás de pedras de engate... e serão aquelas pedras os nomes das
doze tribos de israel”
Na sequência, até o versículo 29, todo detalhamento das
vestes de Aarão e de seus irmãos se faz presente, que deviam
ser imprescindíveis, onde na falta da indumentária correta,
poderiam além de pecar, também morrer,

O ÓLEO DA UNÇÃO
O óleo em que são ungidos personalidade bíblicas e até
mesmo locais é um objeto bem frequente no Livro da Lei. No
salmo em questão, o 133, se faz presente sendo derramado
pela barba e roupa de Aarão. Este óleo é especificado pela
Palavra Sagrada em Ex: 30; 22-33:
“O Senhor disse a Moisés, escolhe os mais preciosos aromas: 500 ciclos
de mirra... 250 ciclos de junco odorífero, 500 ciclos de cássia e um ‘hin’
de azeite de oliveira. Será este o óleo para a sagrada unção, este será
para mim, o óleo da unção sagrada, de geração em geração.”

O MONTE HERMON
Na cordilheira antilibana (ao norte de Israel) encontra-se o
Monte Líbano, famoso por seus cedros, entre outras. Dentro
desta cordilheira, fazendo divisa entre Israel, Líbano e a Síria,
encontra-se o Monte Hermon. Considerado sagrado por vários
povos, encontra-se hoje ainda vários templos e capelas que
foram recentemente descobertos por arqueólogos. Castelani
diz que era sem dúvidas na antiguidade a mais famosa e
importante montanha da região, por várias características,
incluindo o seu orvalho que era considerado precioso, pois
descia pelo monte, irrigando o pasto e as plantações, sobre
toda a Palestina. Seu degelo é a principal fonte de água do Rio
Jordão, consequentemente do lago da Galiléia e toda a região
da Palestina.

O MONTE SIÃO
Segundo a enciclopédia Delta Larousse, Sião, em árabe
Djabal Sahyun, é uma das colinas sobre as quais Jerusalém foi
construída. Situa-se entre os vales de Cedron e Tyropocon, é
também uma elevação de cerca de 800m. Tyropocon, segundo
a Bíblia, foi onde David conquistou os Jebuseus em 1000 a. C.
aproximadamente, passando a se chamar a Cidade de David,
pois para ali mudou-se, levando a Arca da Aliança. Chamada
pela Bíblia por outros nomes, tais como Sião, cidade de Judá,
cidade Santa, cidade de Deus, cidade da Justiça, cidade do
Grande Rei, Aelia Capitolina (no tempo do Imperador Adriano) e
El-Kuds (“a santa”) nome dado pelos árabes. Passou a ser o
nome simbólico de Jerusalém, Sião ou então, Sion, o nome da
Terra Prometida, da cidade de Davi. Daí vem o termo
“sionismo”.
A ARCA DA ALIANÇA
Segundo as escrituras sagradas, Moisés recebeu as
instruções divinas que o povo hebreu deveria cumprir, no Monte
Horeb, durante o Êxodo. Entre estas instruções, estavam as
Tábuas da Lei do Senhor, bem como o projeto minucioso da
construção da Arca da Aliança, basicamente feito de ouro e
acácia (alguns teóricos afirmam que era uma garrafa de
Leyden), para guardar as tábulas dos mandamentos, o Pote de
Maná e a vara de Aarão, e também usada como arma. E mais,
Moisés também trouxe instruções de como construir um
tabernáculo (espécie de santuário nômade, portátil) para
abrigar a Arca (que posteriormente foi transferida para o
Templo (Sanctus Sancturum) de Salomão, Shlomo, filho de
David).

ANÁLISE INTERPRETATIVA
Fazendo um rápido raciocínio, vemos a necessidade de
levarmos em conta não só o tempo das escrituras, mas também
a sua cultura, os contextos históricos, políticos e espirituais
deste povo. Além disto, a forma literária predominante usada
na poesia dos salmos chama-se “paralelismo”, que é a
repetição de uma idéia em várias linhas (ou na mesma) com
palavras diferentes. A poesia hebraica deve ser lida, estudada
dentro desta ótica. Portanto, o salmo 133:
“Ecce quam bonum et Quam iucundumhabitare frates in unum
Sicut unguentum in capite
Quod descendit in barbam barbam Aaron
Quod descendit in ora vestimenti
Eius Sicut ros Hermon quod descendit lin montem Sion
Quoniam illic mandavit Dominus Benedictionem et vitam usque in
saeculum”

Traduzindo e interpretando
“Oh! Quão bom e suave é que os irmãos vivam em união.
Percebe-se a alegria, o regozijo, a vitória que é a união dos
irmãos, mesmo sem se conhecer, de tribos diferentes, mas que
comungam de uma mesma família, um mesmo Pai, um só
Deus.
É como o óleo precioso sobre a cabeça.
Ora, vimos que o óleo da unção sagrada é relativa a uma
bênção, usada somente em reis e sacerdotes, inclusive Cristo
em Seu Santo Nascimento, trazida pelos Reis Magos como
presente (Eliphas Levi nos diz em Dogma e Ritual da Alta Magia
que “Rei Mago” seria o mesmo que sacerdotes de Deus,
portadores das chaves do Sanctum Regnum Dei). Em alusão,
podemos interpretar que é bendito aquele que carrega a
fraternidade consigo. Maldito o segregador, o sectarista, o
antagonista. Toda divisão, por mais que muitas vezes
necessária, enfraquece um grupo em sua totalidade.
Que desce sobre a barba, a barba de Aarão, e que desce à orla de suas
vestes.
Bênçãos em abundância. As escrituras nos diz que a união
é abundância em Deus. Atentar contra seu próximo é atentar
contra si, contra Deus. Em contrapartida, unir, respeitando os
posicionamentos, mesmo que contrários, é bênção e em
abundância do G∴ A∴ D∴ U∴ Na tradução da Bíblia vulgata,
entende-se como “cabeça” todos os cinco sentidos. É a benção
de Deus sendo derramada na essência do ser.
Como vimos anteriormente, as vestes são sagradas
(sacerdotes), são o emblema da honestidade, de especial
significado litúrgico e ritualístico. Seriam como, para nós Mm∴
o avental, as luvas e os paramentos de uma forma geral. Nota-
se a benção de forma integral no ser, em todos os seus
arquétipos, físico, astral, espiritual, social, etc.
É como o orvalho de Hermon que desce sobre Sião;
Sem preconceitos, pudores, sectarismo, todos são
abençoados. Não somente alguns membros, mas sim todos
aqueles que fazem parte da unidade. O monte Hermon como
vimos fazia divisas com vários países, integrava o território de
vários povos, E era importantíssimo para a sobrevivência do seu
Povo. Na visão de David, isso era o que tinham de mais rico e
precioso. Portanto, vê-se a correlação e a importância da união
dos irmãos para a sobrevivência dos mesmos. Não só isso, mas
chama a atenção da responsabilidade dos mais experientes e
antigos para a não desunião, uma vez que todos seremos
afetados com cisões e repartições. É imperativo que se crie e
fomente a união, mas também a exigência por parte de todos
os membros.
Porque ali o Senhor ordenou a bênção e a vida para sempre”
Este era um lugar Santo. Mostra que tudo o que se passou
durante o salmo é vontade de Deus. Já diz a máxima “Ai
daquele que vai contra a vontade do Senhor”. Relembrando um
pouco a numerologia, tanto cabalística, como pitagórica, vemos
que a dualidade nos traz a dúvida, a separação, a polaridade,
representando o inimigo, ou seja, “shaitan” o oposto
equivalente de Deus.

Um grande exemplo que podemos citar dentro da Maçonaria,


na nossa realidade, são os Grandes Orientes. Que há pouco
proibiam inter visitações. Hoje, além da visita dos irmãos em
diferente Orientes, está a reunião conjunta, mostrando-nos a
força da União dos irmãos em detrimento das políticas e do jogo
de poder.

CONCLUSÃO
Sábios, poetas, os Ensinamentos diretos de Yaweh nos diz
para lutarmos pela união dos irmãos e mesmo assim é difícil,
até mesmo dentro de uma família de sangue, mantermo-nos
unidos e coesos de acordo com a vontade Divina. Problemas
sempre teremos, o que fará a diferença é como faremos para
resolvê-los ou então respeitarmos as diferenças em prol de um
bem comum: a Santa Vontade de Deus. Opor-se a um irmão é
opor-se a si mesmo. Não concorde com tudo, mas respeite a
opinião de todos. E mais, olhe sinceramente para si mesmo e
reflita sobre seus erros, acertos e atitudes. Todos ganham, é Lei
divina, está nos principais livros religiosos e se pararmos para
pensar somente um pouco, veremos que faz muito sentido.

“O Equilíbrio é a chave do Universo”


Éliphas Lévi

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