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Novo Testamento I

Literatura e formação do Cânon


Literatura
 Antes de vermos a literatura escrita, precisamos falar sobre a não escrita.
 TRADIÇÃO ORAL
 A tradição oral teve seus primórdios com a nova ênfase colocada na lei (escribismo) por Esdras, o
escriba, por volta de 458 a.C., no período persa.
 Todavia, os judeus afirmavam que ela remontava ao proprio Moises e que ele a recebeu de Deus
ao mesmo tempo que a lei escrita, mas com instruções para não escrever a lei oral. A lei oral (ou
tradição dos pais) não cresceu da noite para o dia, mas desenvolveu-se através de várias gerações,
à medida que surgiam perguntas acerca da lei escrita
 Apos a destruição de Jerusalém em 70 d.C., os fariseus foram para Jamnia e iniciaram a tarefa de
escrita da tradição dos pais. Esse processo ocorreu entre 70 e 200 d.C.
 Mishnah - A obra acabada.
 Gemarah - um comentário sobre o Mishnah.
 Talmude – os dois combinados em uma obra completa.
 LITERATURA
 Muitos tipos de literatura foram escritos pelos judeus durante a época do período Interbíblico:
história, ficção, sabedoria, gêneros devocional e apocalíptico. A maior parte desses escritos se
perdeu, e o que sobreviveu se fez através de judeus cristãos.
 Agruparam esses escritos em duas classificações, conhecidas como:
 Apócrifos (aqueles juntados com o Velho Testamento, em vários manuscritos da Septuaginta)
 Pseudoepígrafos (aqueles escritos durante o período, mas não juntados à LXX).
 Os cristãos desde o principio reconheceram os "livros de fora" como não sendo parte das
Sagradas Escrituras.
 O Concilio de Trento (1546), ao colocar a tradição em igual autoridade com o cânon aceito do
Novo Testamento, declarou 7 desses "livros de fora" como sendo genuínos.
 HISTÓRICA
 Este material é, historicamente, o mais confiável do período. Há, contudo, tantos erros
gritantes, que foi rejeitada como literatura inspirada.
 I Esdras — Às vezes chamado III Esdras, porque na LXX os livros canônicos de Esdras e
Neemias são chamados Esdras A e B. A Vulgata chama o Esdras canônico, I Esdras,
Neemias, II Esdras e este livro, III Esdras.
 I Macabeus — Esta obra refere-se aos sofrimentos dos judeus sob Antioco (176-171 a.C.)
 II Macabeus – mais extensa e é uma historia dos judeus desde Antioco até a morte de
Simão (175-135 a.C.).
 FICÇÃO
 Estas obras são o que seria denominado hoje ficção histórica. Colocada numa estrutura histórica, era
usada para propósitos didáticos. Eram lições éticas, religiosas e patrióticas.
 Tobias — Escrito no final do terceiro ou inicio do segundo século antes de Cristo, supõe-se que os
eventos ocorreram durante o oitavo século
 Judite — Esta obra retrata o patriotismo e devoção judaicos. Provavelmente foi escrita por volta do
inicio do segundo século antes de Cristo. O cenário é da época dos assírios, com Nabucodonosor
sendo seu rei!
 Epístola de Jeremias (Jeremias) — Teve como finalidade expor a insensatez da idolatria durante a
época da helenizarão dos judeus, tendo sido escrita por volta da mesma época de Tobias (225-175
a.C.).
 III Macabeus — Enfatiza a providencia de Deus durante os tempos da perseguição sob os Ptolomeus
do Egito. Relata como Ptolomeu foi miraculosamente repelido em seu esforço de entrar no Templo.
Foi escrito por um judeu de Alexandria durante o primeiro século antes de Cristo.
 Carta de Aristeas — Supostamente escrita por um gentio que ajudou a iniciar a tradução das
Escrituras hebraicas para o grego. Ele elogia tudo o que é judaico. Foi escrita por volta da mesma
época de III Macabeus.
 GNÔMICA (SABEDORIA)
 Os autores se preocupam com o prático e o concreto. A literatura grega é mais teológica e
está preocupada com ideias. Para o judeu, a sabedoria precisa realizar-se na conduta diária.
Sua origem se encontra na sabedoria de Deus
 Eclesiástico ou A Sabedoria de Jesus, o Filho de Siraque — Um manual de conduta para
promover um viver superior. No prologo e apresentada informação que possibilita datar-se o
livro bem precisamente entre 190-170 a.C. Aproxima-se do livro canônico de Provérbios,
quanto ao seu conteúdo.
 Testamento dos Doze Patriarcas — Hagadaico em seu caráter, foi escrito durante a época
de Joao Hircano I. Há doze seções, uma para cada um dos patriarcas. O interesse principal é
ético e semelhante ao Novo Testamento, em seu tom.
 Sabedoria de Salomão — Refletindo a filosofia alexandrina, este livro foi escrito entre 100
e 50 a.C. Um escrito de grande percepção espiritual, envolvido no conflito entre a realidade
cotidiana e o judaísmo. O proposito do livro parece ser igualmente didático e evangelístico.
 Salmos de Salomão — Uma coletânea de dezoito salmos, refletindo o judaísmo farisaico do
primeiro século antes de Cristo. O mais importante é o decimo sétimo, para o estudo do Novo
Testamento, pois é messiânico. O proposito foi verificar a crescente helenização e corrigir o
judaísmo literal.
 Livro dos Jubileus — Um documento do segundo século a.C., da autoria de um fariseu, para
exaltar a lei. A forma e mirasse-a (comentário corrido) do Velho Testamento.
 Oráculos Sibilinos —fragmentos de ditos supostamente divinos, através de médiuns chamados
sibilos. Reunidos para propaganda judaica de 300 a.C. a 150 d.C. Os elementos judaicos são
encontrados no Livro III e consistem de um resumo da historia judaica, destino dos ímpios,
tempo do fim e o mundo por vir.
 IV Macabeus — Construindo sobre o material contido em II Macabeus, o autor apresenta uma
diatribe contra o imperador romano Calígula, quando ele conduziu uma perseguição dos judeus
em Alexandria.
 Oração de Manassés — Reflete a verdadeira piedade dos fariseus por volta da época de Jonatâ
(150 a.C.). Ênfase sobre valores morais e espirituais reais, e não sobre deveres artificiais ou
legalísticos.
 Livro de Baruque — Às vezes chamado I Baruque, para distingui-lo do Apocalipse de Baruque (ou II
Baruque). Supostamente escrito pelo secretário de Jeremias como uma profecia, lamenta a queda de
Jerusalém após a Guerra Judaico-Romana de 66-70. O livro trata das razões da queda de Jerusalém e da
esperança por sua restauração.
 Assunção de Moisés — Estilo de I Baruque, mas um pouco anterior, 20-25 d.C.
 Adições ao Livro de Daniel — Estas adições ao Daniel canônico são encontradas na Septuaginta e no
Velho Testamento Aramaico. Escritas por volta de 100 a.C., refletem as perseguições dos fariseus desde o
tempo de Antioco Epifânio.
 "A Oração de Azarias e O Cântico das Três Crianças Hebreias" ensinam que Jeová é o campeão particular de
Israel contra seus inimigos. ( Dn 3:24-90 Bíblia católica )
 "Suzana" ilustra a necessidade e o valor do interrogatório contraditório e do castigo das falsas testemunhas.
 "Bel e o Dragão" mostra a unidade e independência de Jeová, o absurdo da idolatria e a supremacia do
monoteísmo.
 Adições ao Livro de Ester — Um produto do farisaísmo judaico da época das adições ao livro de
Daniel. Numa tentativa de tornar o livro canônico mais religioso, o nome de Deus e introduzido no texto,
dando-se detalhes mais precisos no lugar de declarações resumidas
 Gênero Apocalíptico
 O aparecimento da literatura apocalíptica ocorreu quando a escatologia judaica ( conteúdo
da mensagem ) uniu-se ao mito judaico ( forma da mensagem ) durante uma época de
perseguição ( propósito da mensagem ).
 Algumas características:
 Sempre possuía significação histórica;
 Autoria pseudônima;
 Uso liberal de visões;
 Um forte elemento preditivo;
 Altamente simbólico;
 Dramático;
 Defendia radicalmente o povo para o qual escrito.
 Quanto à forma era: pseudônimo, simbólico, mitológico, tinha prerrogativa de inspiração,
cósmico em seu escopo, alegórico e visionário;
 Quanto ao conteúdo era: determinista, escatológico, pessimista acerca da história, dualístico,
transcendental, e continha ensinos éticos e morais;
 Quanto à função era: resposta a perguntas de um povo perseguido, trata da justiça de Deus e
do sofrimento do homem, muito nacionalista em seu escopo, tenta explicar algumas das
passagens obscuras da Escritura Sagrada.
 Esta foi a literatura mais distintiva do judaísmo. Intensamente messiânica e profética.
 Essa literatura tentou responder a perguntas sobre por que o povo de Deus sofre.
 Para proteger tanto o autor como os leitores, a obra era geralmente escrita no nome de um
dos homens famosos do AT.
 O Livro dos Segredos de Enoque – também conhecido como II Enoque, foi escrito
provavelmente entre 30 a.C. e 59 d.C. por um judeu alexandrino. É importante porque
demonstra um tipo de helenizarão do apocalíptico judaico.
 O Segundo Livro de Baruque – reflete o ponto de vista religioso do judaísmo do primeiro
século. Discussão farisaica da queda de Jerusalém em 70 d.C. É a resposta do judaísmo a
Paulo.
 IV Esdras – o autor diz que foi escrito trinta anos após a destruição do Templo de Herodes.
Seguindo-se ao Enoque Etiópico, este é o mais importante para os estudos do Novo
Testamento.
 Os Livros de Adão e Eva – escrito durante o primeiro quarto do primeiro século da era cristã.
Farisaico e nacionalista, prevê a vinda do Messias para breve, quando todo o Israel se
arrependeria. Judas 9 é uma referência a este livro. Reflete o judeu ortodoxo.
O Cânon e o Texto do Novo
Testamento
 II Tm 3:16
 A Bíblia dos primeiros cristãos era o AT em grego, a septuaginta.
 À medida que a igreja crescia, na era apostólica, começou a colecionar certos escritos, que
por fim tornaram-se o NT.
 Como isso aconteceu?
 O que significa Cânon?
 É um empréstimo de uma palavra semítica que significava “junco” e que depois passou a
significar “vara de medir” e, por conseguinte, “regra”, “padrão” ou “norma” e, por último,
passou a receber o sentido formal de “lista” ou “tabela”. Por volta do século IV passou a
designar a lista dos livros que compõem o AT e o NT.
 Os apóstolos, ao escreverem seus textos, não tinham consciência de que seriam considerados
escritos sagrados.
 Os escritores do NT não esperavam morrer. A grande esperança era que o Senhor iria retornar
antes de morrerem.
 As igrejas começaram cedo a colecionar vários escritos que preservavam os ensinos dos
apóstolos; depois começaram a circular essas coleções.
 O processo de agrupamento, guarda e cópia dos escritos iniciaram-se ainda no primeiro século.
Temos uma referência a isso em II Pe 3:15-16.
 Os quatro evangelhos já eram conhecidos, mas não significa que os quatro evangelhos eram
conhecidos de todos.
 Papias ( 130 d.C. ), por exemplo, descreve os evangelhos de Mateus e Marcos, mas não cita
Lucas e João. Já Justino Mártir ( 155 d.C. ) sabia acerca dos evangelhos, mas não menciona
nenhum deles pelo nome.
 Contudo, a coleção de nossos 4 evangelhos ocorreu antes de 170 d.C., pois nesse ano, Tatiano,
discípulo de Justino Mártir, editou seu Diatessaron, uma harmonia da vida de Cristo tirada dos
quatro evangelhos, os quais ele cita pelo nome.
 Marcião, o herege – a primeira coleção de livros que pode ser referida como um esforço
definido no sentido de um Novo Testamento, foi compilada pelo herege Marcião ( 145 d.C. ).
Rejeitando tudo que era judaico e do AT, manteve somente o Evangelho de Lucas ( que mesmo
assim ele retirou ideias incondizentes com sua heresia ) e dez cartas de Paulo: Gl, I e II Co,
Rm, I e II Ts, Ef, Cl, Fp, Fl.
 Foi a reação à essa tentativa herética de Marcião, que as igrejas começaram a unir-se para
definir que livros eram realmente autorizados e quais deveria ser considerados espúrios.
 Alguns pais da igreja, também escreveram, mas não deram às suas obras, autoridade de
Escritura. É o caso de Clemente de Roma ( 95 d.C. ), que escreveu uma carta à igreja de
Corinto, onde cita a primeira de Paulo aos coríntios.
 Por volta de 180 d.C., a igreja de Roma compilou uma relação de livros, conhecidos agora
como Cânon Muratoriano, devido ao fato de ter sido descrito por Muratori, um bibliotecário.
 Três princípios foram utilizados para determinar legitimidade dos escritos: autoria apostólica, a
ortodoxia e a antiguidade.
 Outros grandes expoentes se levantaram para proclamar alguns escritos como aceitos e outros
como espúrios:
 1 – Irineu ( morreu em 190 d.C. ) da Ásia Menor – foi discípulo de Policarpo. Em sua obra “
Contra as heresias”, ele cita todos como sendo autorizados todos os livros do NT, exceto
Filemon, Tiago, II Pedro, II João e Judas. Além de colocar Hebreus como subcanônico. Mas
aceitava “ O Pastor de Hermas” como sagrado.
 2 – Clemente de Alexandria ( morto em 215 d.C. ) – aceitava todos os livros do NT como
canônicos e fazia diferenciação entre os evangelhos e os evangelhos apócrifos. Todavia, aceitou
também como Escritura: I Clemente de Roma aos Coríntios, O Didaquê dos Doze Apóstolos, a
Carta de Barnabé, O Pastor de Hermas, O Apocalipse de Pedro e A Pregação de Pedro.
 3 – Tertuliano ( morto em 220 d.C. ) de Cartago – Cita todos os livros do NT, exceto II Pedro, II
João e Tiago. Ele acreditava que a Carta aos Hebreus foi escrita por Barnabé. Ele usou
extensivamente o latim, porém é sabido que quem terminou a Vulgata Latina foi Jerônimo.
 Durante o terceiro século foi dada mais atenção à seleção dos escritos apostólicos, com a
finalidade de usá-los como doutrina para as igrejas.
 Orígenes de Alexandria e Cesaréia ( 185-254 ) dividiu tudo em três categorias: aceitos,
duvidosos e rejeitados. Ele foi o primeiro a mostrar definidamente um conhecimento de todos
os livros do NT. Ele aceitava todos os livros e ainda incluía os livros de Barnabé, o Didaquê, e
o Pastor de Hermas. Disse que havia dúvida sobre Hebreus, II Pedro, II e III João e Judas. E
todos os outros escritos da época ele considerou como rejeitados.
 Dionísio de Alexandria ( morto em 264 ) foi outra grande figura do terceiro século na
avaliação crítica dos escritos cristãos. Embora não negasse a canonicidade do evangelho de
João e do Apocalipse, negou que o apóstolo pudesse ter escrito ambos. Essa controvérsia
permanece até hoje.
 Eusébio de Cesaréia ( 270-340 ) tinha a maior biblioteca de escritos cristãos do mundo. Ele
foi discípulo de Panfilo ( discípulo de Orígenes ). Eusébio foi o primeiro grande
historiador dos primeiros séculos. O imperador Constantino , em 331, pediu que ele
preparasse 50 cópias dos livros em grego, incluindo aí a Septuaginta.
 Em 367, Atanásio, Bispo de Alexandria, publicou uma Carta de Páscoa às igrejas que
estavam sob sua responsabilidade, que continha uma lista de 27 livros que haviam sido
aprovados para instrução doutrinária. Esta lista coincide com os 27 livros do NT.
 Jamais se convocou um concílio geral das igrejas para definir o NT. Concílios
subsequentes a Atanásio, confirmaram o que pareceu ter sido aceito. Tanto a Vulgata ( de
Jerônimo – 383 ), quanto o concilio de Hipona ( 393 ), quanto o concílio de Cartago ( 397 )
e Agostinho ( 430 ), todos publicaram listas com esses 27 livros da Carta de Atanásio.
Princípios para a seleção
 Eusébio, em sua obra – História Eclesiástica, apresenta alguns desses princípios.
 1 – origem apostólica – Jesus escolhera 12 apóstolos que seriam seus intérpretes após sua
ascensão. Seu testemunho deveria ser aceito como possuindo a autoridade do próprio Jesus.
Embora Paulo não fosse um dos doze, foi reconhecido como um homem singularmente
inspirado pelo Espírito Santo para preencher a posição de um apóstolo.
 E quanto aos livros cuja autoria não é apostólica? Tais como: Marcos, Lucas, Atos, Tiago,
Judas, Hebreus e possivelmente Apocalipse.
 Marcos escreveu sob a direção de Pedro;
 Lucas, sob a direção de Paulo;
 Tiago e Judas eram meio-irmãos de Jesus, e seu testemunho remontaria ao do próprio
Senhor.
 Hebreus, é sugerida a autoria de Barnabé, companheiro de Paulo.
 2 – a segunda consideração é quanto à aceitação desses livros pelas igrejas às quais foram
escritos e seu reconhecimento por um período de tempo longo e contínuo e seu uso pelas
gerações posteriores.
 3 – a consistência doutrinária foi o terceiro elemento na determinação do cânon. Com o
padrão do Velho Testamento e o ensino dos apóstolos, esta foi uma útil consideração.
 Desta forma, os 27 livros foram considerados como tendo autoridade de Escritos
Sagrados.

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