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Cânon do AT

Seg, 02 de Agosto de 2010 01:19


Escrito por Tione - www.tioneechkardt.com

Definição

O termo cânon ou qonehvem da língua semítica, ou sumérica (assírio-


babilônica) e significa vara de medir ou régua, especialmente usada
para manter algo em linha reta. Entretanto no grego, dá a idéia de
vara, nível, esquadro, isto é, a meta a ser atingida, a medida infalível,
chegando dessa forma ao criterion. No hebraico a raiz da palavra é
junco ou cana, isto é, uma vara. Estes eram utilizados como
instrumentos para medir.

Em cronologia significava uma tabela de datas e em literatura, uma


lista de obras que podiam ser atribuídas a um certo autor. Os cânones
literários são importantes porque só as obras genuínas de um autor
podem revelar o seu pensamento.

Os clássicos gregos usavam o cânon como sentido figurado de regra,


norma ou padrão. Aristóteles chama o homem de bom cânon ou
metronda verdade. A Estátua do Lanceiro, por Policleitos, era
considerada cânon ou padrão de beleza física. Os clássicos eram
chamados cânones ou modelos de excelência. Na gramática era
aplicada às regras da declinação, conjugação e sintaxe. No
calendário os cânones eram as datas mestras, certas e firmes, das
quais se partia para o cálculo dos períodos intermediários.

O termo cânon aparece no NT apenas em II Coríntios 10.13,15 e em


Gálatas 6.16. Este conceito de regra ou padrão que a palavra cânon
tem, dá um caráter de norma e era considerado, até mesmo, em
outras escrituras. O Direito Canônico e a Literatura utilizaram-no como
uma medida diretiva ordenadora.

Com o passar dos tempos o termo cânon passou a designar o corpo


de escritos que dá autoridade normativa para a fé cristã, tendo em
contraste os escritos que não o são, mesmo sendo contemporâneos.

pelo Concílio de Laodicéia (360) e por Atanásio referindo-se aos livros


Somente no século IV é que o conceito cânon foi aplicado à Bíblia

que a Igreja reconhecia serem, oficialmente, o padrão de conduta e


fé.

Sendo assim, cânon são os livros aceitos pela igreja primitiva como
Escrituras divinamente inspiradas. O termo cânon deixou, então, de ser
a vara de medir para se tornar o padrão. Se cânon significa isto,
canonização significa ser oficialmente reconhecido como guia ou
regra autorizada em matéria de fé e prática.

A Canonização do AT

O aparecimento do cânon constitui, antes, um longo processo histórico


no qual se pode distinguir três estágios: a tradição oral que é resultante
da revelação como seu pressuposto, o trabalho de compilação dos
escritos sagrados como uma espécie de pré-história e a formação
propriamente dita do cânon.

A formação do cânon do AT foi o resultado de uma decisão


dogmática que fixou o conjunto das Sagradas Escrituras,

um período definido da revelação (de Moisés até Artaxerxes I). As


determinando-lhe o número e os limites, razão pela qual se postulava

razões para isto estão ligadas à situação histórica. Em certa época


surgiu um movimento apocalíptico com a pretensão de possuir o dom
da inspiração e misturava, de novo, idéias de crenças estranhas com
as próprias, fazendo assim, reviver novamente o perigo do sincretismo
religioso.

Para que tivessem valores, os seus escritos, tinham que suplantar a

antes de Moisés (Adão, Henoc, Noé, os patriarcas), para parecerem


própria Lei. Por isso eram atribuídos as personalidades que viveram

mais antigos do que a Lei de Moisés. Outro que era considerado um


perigo eram os escritos de Qumran, mas o cristianismo, que se sentiu
ameaçado principalmente por haver adotado a tradução grega dos
LXX, começou a fazer uma concorrência com as Escrituras Hebraicas.
Visando não haver um esvaziamento ou uma desagregação interna
ou externa para o judaísmo fiel à Lei.

Os fariseus definiram e impuseram o conceito de cânon, apesar da


resistência dos saduceus que só reconheciam a Torá. Esta corrente

primeira 24 escritos.
distinguia entre a literatura sagrada e a profana, e incluíram na

Nas Escrituras Hebraicas há 39 livros que os judeus aceitaram como


canônicos. Estes são os mesmos que foram aceitos pela Igreja

Romana adicionou 14 outros livros, ou porções de livros que são os


Apostólica e Protestante desde os dias da Reforma. A estes a Igreja

apócrifos e os considera como tendo igual autoridade aos demais.


O Cânon Hebraico

A divisão que consta nas escrituras hebraicas encontra-se em três


partes:

- Lei (Pentateuco): Gênesis (no princípio); Êxodo (estes são os nomes);


Levítico (e chamou); Números (no deserto); Deuteronômio (estas são as
palavras); sempre designados pelas primeiras palavras dos textos.

- Profetas (Nebiûm):

1) anteriores: Josué; Juízes; Samuel; Reis; em ambos os 1ºs e 2ºs estão


reunidos num só.

2) posteriores: Isaías; Jeremias; Ezequiel; os doze profetas, na ordem


retomada pela Vulgata: Oséias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miquéias;
Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.

- Escritos (Kethûbbîmou Hagiógrafos): Salmos; Jó; Provérbios; Rute;


Cantares; Eclesiastes (Coélet); Lamentações; Ester; (estes cinco últimos
são conhecidos como cinco rolos ou Megillath) Daniel; Edras-Neemias;
Crônicas.

A princípio esta coleção continha apenas 24 livros, mas para debater


os apologistas cristãos, que apelavam ao AT na sua polêmica contra o
judaísmo, mudou para esta ordem.

Os Megillath ou cinco rolos, eram destinados a serem lidos nas


principais festas do ano. Desta forma: Cantares para a Festa da
Páscoa; Rute para a Festa das Semanas ou da Colheita; Lamentações

Jerusalém; Eclesiastespara a Festa dos Tabernáculos (cabana de


para a Festa da Celebração do Jejum em memória da Destruição de

folhagem); Ester para a Festa dos Purim.

A LXX

Deuteronômio; Josué; Juízes; Rute; quatro "livros dos Reinos" I, II (Sm), III,
- Legislação e História: Gênesis; Êxodo; Levítico; Números;

IV (Rs); I, II Paralipômenos coisas omitidas - (Cr); I, II Esdras (1º é apócrifo


e o 2º é Ed e Ne juntos); Ester, com fragmentos próprios do grego;
Judite; I, II, III, IV Macabeus (3º e 4º são apócrifos);

- Poetas e Profetas: Salmos; Odes (apócrifo); Provérbios de Salomão;


Eclesiastes; Cântico dos cânticos; Jó; Livro da Sabedoria (Sabedoria de
Salomão - apócrifo); Eclesiástico (Sabedoria de Sirac - apócrifo); Salmos
de Salomão (apócrifo); Doze profetas menores (Dódeka profeton) na
seguinte ordem: Oséias; Amós; Miquéias; Joel; Obadias; Jonas; Naum;

Jeeremias; Baruc (apócrifo); Lamentações; Carta de Jeremias (ou


Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias; e ainda, Isaías;

Baruc 6 - apócrifo); Ezequiel; Susana (que é Dn 13 - apócrifo); Daniel 1-12


(3:24-90 é próprio do grego); Bel e o Dragão (que é Dn 14 - apócrifo).

A edição massorética do AT é diferente em algumas particularidades


da ordem dos livros seguida na LXX e também da ordem das Igrejas
Protestantes. Os compiladores da LXX seguiram um arranjo quase
tópico.

A única diferença na Vulgata para a LXX é que I e II Esdras são iguais a


Esdras e Neemias, e as partes apócrifas III e IV Esdras são colocadas
depois dos livros do NT, como também a Oração de Manassés. E
ainda, os profetas maiores vêm antes dos profetas menores. Já na
Bíblia Protestante segue-se a mesma ordem tópica de arranjo da
Vulgata, omitindo apenas as partes apócrifas, mas o conteúdo segue
o Texto Massorético.

Os Antilegômenos

Antilegômenos são os livros contra os quais se fala. No decorrer do 2º


século d.C. em certos círculos judaicos alguns livros exprimiram dúvidas
quanto à sua canonicidade. São eles:

(doutrina de Epicuro, filósofo materialista grego (341-270 a.C.), e de seus


- Eclesiastes: a crítica baseava-se no seu pessimismo, epicurismo

seguidores, entre os quais se distingue Lucrécio, poeta latino (98-55


a.C.), caracterizada, na física, pelo atomismo, e na moral, pela
identificação do bem soberano com o prazer, o qual, concretamente,
há de ser encontrado na prática da virtude e na cultura do espírito. É
errôneo identificar o epicurismo com o hedonismo) e na sua negação
da vida no porvir;

- Cânticos dos Cânticos: a crítica baseava-se nas passagens que falam


da atração física em expressões idiomáticas fortes e entusiásticas que
chegam à beira do erótico. Entretanto o rabino Hillel identificou
Salomão com Iavé e Sulamita com Israel, mudando assim toda a
interpretação através desta grotesca alegoria;

- Ester: a crítica baseava-se no não aparecimento do nome de Iavé no


livro;
entre o Templo e o ritual dos últimos dias, descritos nos 10 capítulos
- Ezequiel: a crítica baseava-se nas diferenças existentes nos detalhes

finais, e àqueles do Tabernáculo Mosaico e do Templo de Salomão;

contraditórios como em 26.4,5 "Não respondas ao tolo segundo a sua


- Provérbios: a crítica baseava-se em alguns preceitos que parecem ser

estultícia, para que também não te faças semelhante a ele. Responde


ao tolo segundo a sua estultícia, para que ele não seja sábio aos seus
próprios olhos".

O Cânon de Alexandria

Era formado por um grupo de judeus que falava o grego e vivia na


Alexandria e nas proximidades do Egito. Tinha um Templo e produzia
literatura religiosa, seleções com tratados gregos e hebraicos. Apesar
de considerar sagrados todos os livros da Bíblia Hebraica, incluíam
também os livros apócrifos.

O Cânon Palestinense

Na Palestina a maioria dos livros já era aceita pelos judeus.

Depois da destruição de Jerusalém e do Templo em 70 d.C., os eruditos

Escrituras. Em 90 d.C., um concílio de líderes judeus, Concílio de Jâmnia,


judeus mudaram-se para Jâmnia, para o estudo e o ensino das

reconheceu oficialmente os 24 do AT hebraico.


discutiu quais os livros que deveriam ser inclusos no cânon do AT e

Alguns foram contra porque diziam que o concílio não representava o


judaísmo oficialmente, mas este foi o cânon que constituiu a Bíblia
Hebraica e conseqüentemente a evangélica no século XVI.

O cânon alexandrino, também chamado de deuterocanonpossui 24


livros; o palestinense, protocanonpossui 22 livros. Os concílios Florentino
e de Trento tomaram este como obrigatório. Sabe-se que o
palestinense, através da versão dos LXX, tornou-se a base da Vulgata.

O Concílio de Trento enumerou 21 livros históricos, 7 didáticos, 17


proféticos, sendo que 8 destes são chamados pela Igreja católica de
deuterocanônicos, isto é, segundo cânon; os biblistas protestantes os
chamam de escritos apócrifos. Para os católicos estes são escritos
apocalípticos do judaísmo tardio, os quais por sua vez, são chamados
pelos teólogos protestantes de pseudo-epígrafos, já que seus autores
se apresentam sob pseudônimo.
Outras formas de Cânon
O Cânon de IV Esdras

Há uma teoria do cânon de IV Esdras datada de 30 anos após a


destruição de Jerusalém no ano 557 a.C., onde diz que Esdras foi

40 dias os escritos do AT destruídos pelo fogo.


inspirado pelo Espírito e ditou aos seus cinco escribas num espaço de

Foram publicados 24 dos escritos compostos por Esdras, enquanto que


os outros 70 podiam ser somente acessíveis aos sábios de Israel. Este
último grupo designa a literatura apocalíptica, extracanônica, do
judaísmo tardio. Segundo esta teoria os escritos foram compostos num

conseqüentemente, uma santidade particular nos textos (2º século).


simples espaço de tempo, dando ênfase à inspiração divina e

Esta teoria de inspiração foi adotada pelo cristianismo, Igreja da Idade


Média e da Moderna, da mesma forma como pelos exegetas judeus e
protestantes até o iluminismo. Com o iluminismo o que era místico
tornou-se racional e passou a se fazer justiça à realidade histórica.

O Cânon Samaritano

Os samaritanos aceitavam apenas os 5 livros da Torá, Pentateuco,


como canônicos.

De caráter não canônico há uma exposição histórica que vai de Josué


até à Idade Média, passando pelos imperadores romanos e traz, para
o período bíblico, partes consideráveis dos livros históricos do AT. Este é
mais conhecido como livro de Josué. Outro livro não canônico e
importante é a versão samaritana da história de Moisés, que se
encontra na Doutrina de Marqã - Memar Marqã, que apareceu nos
primeiros séculos do cristianismo.

O Cânon Judaísmo Helenístico

É o cânon alexandrino da versão dos LXX.

O Cânon do Cristianismo

A princípio não aceitou a teoria dos fariseus e nem se prendeu a


nenhum cânon, se prendia mais à LXX do que ao cânon hebraico.
Última atualização em Dom, 21 de Agosto de 2011 03:09

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